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Inovações para Mobilidade Pública
Inovações para Mobilidade Pública
1 INTRODUÇÃO
A mobilidade urbana constitui-se em um tema fundamental quando se discute
desenvolvimento urbano e qualidade de vida da população. As condições de
deslocamentos das pessoas e das mercadorias nos centros urbanos impactam
toda a sociedade pela geração de externalidades negativas, como acidentes,
poluição e congestionamentos, afetando especialmente a vida dos mais pobres,
que geralmente moram em regiões mais distantes das oportunidades urbanas.
Sistemas de mobilidade ineficientes pioram as desigualdades socioespaciais,
prejudicando os mais pobres, em termos de impactos sobre a renda,
oportunidades de emprego, estudo, lazer e condições de tratamento de saúde,
além de pressionar as frágeis condições de equilíbrio ambiental no espaço urbano.
Assim, os gestores públicos são demandados cada vez mais a adotar políticas públicas
alinhadas com o objetivo maior de se construir uma mobilidade urbana sustentável
do ponto de vista econômico, social e ambiental.
Diante da importância do tema, este capítulo aborda as interfaces existentes
entre o desenvolvimento urbano acelerado e desordenado ocorrido no país e as
dificuldades de planejamento da mobilidade nesse contexto. Assim, a seção 2 trata
dos avanços legislativos ocorridos com a implantação do Estatuto da Cidade e a
Lei da Mobilidade Urbana. As seções 3 e 4 discorrem sobre o desenvolvimento
urbano e os reflexos sobre a mobilidade, além das tendências recentes de crescimento
do transporte individual. Por fim, as seções 5 e 6 procuram discutir os grandes
desafios dos agentes públicos e privados para melhoria das condições de mobilidade
urbana no Brasil, com algumas proposições para uma Nova Agenda Urbana na área.
1. Técnico de planejamento e pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur) do Ipea.
E-mail: <carlos.carvalho@ipea.gov.br>.
O Estatuto da Cidade e a Habitat III: um balanço de quinze anos
346 da política urbana no Brasil e a Nova Agenda Urbana
2. Direito ao poder público à compra de imóveis de seu interesse. Isso é importante para viabilização projetos de
equipamentos urbanos de mobilidade como estações e terminais.
Mobilidade Urbana: avanços, desafios e perspectivas 347
TABELA 1
Brasil: taxas de crescimento da população e taxa de urbanização (1940-2010)
Crescimento da Crescimento da Cidades² com
Décadas Taxa¹ de urbanização
população total (%) população urbana (%) população > 500 mil
Fonte: IBGE.
Notas: ¹ Percentual de habitantes morando em área urbana no início da década considerada.
² Quantidade de cidades com população superior a 500 mil habitantes no início da década.
4. As primeiras RMs no Brasil foram criadas em 1973, por meio da Lei Complementar no 14/1973, que, por sua vez,
obedecia à Constituição de 1967. A partir da Constituição de 1988, a responsabilidade pela criação e organização das
RMs foi transferida do governo federal para os estados.
Mobilidade Urbana: avanços, desafios e perspectivas 351
GRÁFICO 1
Distribuição relativa dos deslocamentos urbanos motorizados do Rio de Janeiro (1950 e 2005)
(Em %)
70
60 59,4
50 47,9
44,5
40
30
19,0 19,8
20
10 7,6
0,0 1,8
0
Bondes Trens Ônibus Automóvel
1950 2005
5. O metrô de São Paulo, por exemplo, iniciou sua construção no mesmo ano do metrô da Cidade do México, sendo que
atualmente a malha ferroviária desta última é cerca de três vezes maior.
6. Belo Horizonte e Brasília, por exemplo, implementaram políticas de concentração das atividades de governo em áreas periféricas
das capitais, com a inauguração de novos centros administrativos estaduais, o que atraiu novos investimentos naquelas áreas.
Mobilidade Urbana: avanços, desafios e perspectivas 353
TABELA 2
Taxas de crescimento populacional: RMs e capitais (2000-2010)
(Em % a.a.)
Taxas de crescimento
RM
Média da RM Capital da RM
GRÁFICO 2
Índice de vendas de veículos automotores no mercado nacional (1999-2013)
(Índice de vendas de veículos em 1999 = 1)
5
Motos
4 10% a.a.
Caminhões
3 8% a.a.
Carros
2 7% a.a.
0
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Carros Caminhões Moto
Outro fator que contribuiu para a expansão das vendas de veículos automotores
nos últimos dez anos foi o aumento de renda das famílias, principalmente das
mais pobres, o que permitiu que parte destas famílias tivesse acesso a esse bem durável.
Some-se a isso a forte expansão do crédito que ocorreu na última década, resul-
tando que a tendência recente é de forte crescimento da taxa de motorização da
população brasileira. De 2008 para 2012, por exemplo, o percentual de domicí-
lios que possuíam automóvel ou motocicleta subiu 9 pontos percentuais (p.p.) –
45%, em 2008, para 54% de posse, em 2012 –, sendo que as classes de renda mais
baixas tiveram os maiores crescimentos da taxa de posse de veículos privados (tabela 3),
principalmente pela aquisição de motocicletas.
TABELA 3
Domicílios com posse de veículos privados (automóveis e motocicletas) por faixa de renda
per capita (2008-2012)
(Em %)
Posse de veículos Posse de veículos Posse de veículo Variação 2008/2012
Renda per capita
(2008) (2009) (2012) (p.p.)
Fonte: Pnad/IBGE.
Elaboração do autor.
Obs.: SM = salário mínimo.
TABELA 4
Variação dos preços das tarifas de ônibus e metrô e insumos do transporte privado
(Em %)
Peças e
Tarifa Tarifa Preço Preço
Período IPCA acessó- Pneu Gasolina
ônibus metrô carro moto
rios
Jan./2002 a jun./2006 42,0 62,0 41,3 20,3 46,0 81,5 22,9 44,8
Jul./2006 a dez./2011 32,2 38,7 34,3 -7,9 24,0 15,2 -7,7 9,6
Jan./2012 a mar./2014 14,5 7,3 3,4 -0,5 8,5 8,1 -1,0 7,5
Acumulado jan./2002 a mar./2014 115,1 141,0 96,3 10,2 96,5 126,1 12,3 70,5
Fonte: IPCA/IBGE.
7. Aumento geral dos preços das passagens para cobertura dos custos com as gratuidades, já que não há recursos externos
para financiá-las.
O Estatuto da Cidade e a Habitat III: um balanço de quinze anos
356 da política urbana no Brasil e a Nova Agenda Urbana
GRÁFICO 3
Quantidade de tarifas de ônibus urbanos que se compra com o valor de 10 litros de gasolina:
metrópoles brasileiras (2005 e 2013)
25
Passagens/10 litros de gasolina
21,6
20
15,7 15,7
15 13,7 14,1 14,9 14,7
13,6
13,2 13,2 13,0 12,8 12,1
10,2 11,0 10,4 10,3 10,9
10,1 9,5
10
0
Belém/PA
Belo Horizonte/MG
Brasília/DF
Curitiba/PR
Fortaleza/CE
Porto Alegre/RS
Recife/PE
Rio de Janeiro/RJ
Salvador/BA
São Paulo/SP
Jun./2005 Abr./2013
8. Belo Horizonte, Maceió, Recife, João Pessoa e Natal, tendo também participação no de Porto Alegre.
9. Sistemas de ônibus operando em corredores exclusivos, com embarque em nível e cobrança externa. Em uma definição
mais simplista, seria ônibus operando como metrôs.
10. Disponível em: <http://goo.gl/cbniN7>.
O Estatuto da Cidade e a Habitat III: um balanço de quinze anos
358 da política urbana no Brasil e a Nova Agenda Urbana
TABELA 5
Projetos do PAC-Mobilidade com foco nas capitais-sedes da Copa do Mundo Fifa de 2014
Valor do Valor do
Número de
Cidade Projetos investimento financiamento
empreendimentos
(R$ milhões) (R$ milhões)
brasileiras com sistemas de transporte sobre trilhos, deveria haver uma expansão
de cerca de 300 quilômetros da malha ferroviária para atingir o nível de densidade
do metrô da Cidade do México, que é uma realidade próxima da nossa, apesar de
apresentar densidade bem inferior dos sistemas de trilhos europeus. São investi-
mentos superiores a R$ 60 bilhões, considerando um custo quilométrico médio
superior a R$ 200 milhões. Somados aos investimentos em outros sistemas de alta
e média capacidades, as necessidades de investimentos chegam a cifras próximas
de R$ 100 bilhões no país. Considerando três ciclos de Planos Plurianuais (PPAs)
(nove anos), pode-se imaginar recursos na ordem de R$ 10,00 bilhões
anuais de investimentos para que os grandes centros tenham seus passivos de
infraestrutura cobertos, o que significa um esforço fiscal considerável – cerca de
1,7% de investimento do produto interno bruto (PIB) anual.
O grande desafio para os próximos anos é justamente viabilizar os investimentos
necessários para que o país continue a avançar na melhoria dos sistemas de transporte
público e não motorizados. Aliado às políticas de investimentos, seria importante
também avançar nas políticas compensatórias focadas no transporte público,
de forma a o tornar mais atrativo economicamente e operacionalmente em relação ao
transporte individual. Políticas de redução das tarifas públicas, com a incorporação
de novas fontes de financiamento focadas no transporte privado individual e outros
segmentos que se beneficiam da estrutura de mobilidade, mas pouco contribuem para
o seu financiamento, além da melhoria da gestão e da regulamentação dos sistemas,
seriam importantes nesse caminho. Entretanto, políticas sociais focadas na mobilidade
dos mais pobres também são importantes, na medida em que diminuiria a exclusão
existente hoje no acesso dos mais pobres aos equipamentos sociais urbanos e também
aos empregos formais ofertados.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os artigos 182 e
183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 2001.
______. Lei no 12.597, de 21 de março de 2012. Dispõe sobre a prestação de
auxílio financeiro pela União aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios,
no exercício de 2011, com o objetivo de fomentar as exportações do país; altera o
Mobilidade Urbana: avanços, desafios e perspectivas 361
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BRASIL. Câmara dos Deputados. Estatuto da Cidade: guia para implementação
pelos municípios e cidadãos. Brasília: Câmara dos Deputados, 2002.
______. Ministério das Cidades. Apresentação das Semob. In: CONFERÊNCIA
DAS CIDADES, 13., 2013, Brasília. Anais... Brasília: MCidades; Câmara dos
Deputados, 2013. Disponível em: <http://goo.gl/CgFyKt>.
IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. A nova lei
de diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Brasília: Ipea, 2012.
(Comunicado do Ipea, n. 128).
Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
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