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Biogeografia: conceitos e temas

APRESENTAÇÃO

A biogegrafia é a ciência que busca compreender os modelos e composições acerca das formas
de organização e distribuição espacial das espécies de seres vivos da fauna (animais) e da flora
(vegetais) sobre as paisagens do planeta Terra, na atualidade e no passado (geológico).

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer questões que regem a biogeografia, suas
subáreas, conceitos, teorias, principais cientistas, regionalizações e mapeamentos.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Explicar como os organismos vivos se distribuem na superfície da Terra.


• Reconhecer o desenvolvimento histórico do conhecimento biogeográfico.
• Relembrar os estudos fitogeográficos no Brasil.

INFOGRÁFICO

Os parâmetros biogeográficos de organização espacial das espécies consideram os modelos e


arranjos do passado geológico e paleontológico, bem como as interações contemporâneas entre
as espécies e seus impactos ambientais. Desse modo, identificar as subdivisões da
biogeografia é fundamental para diferentes tipos de pesquisa, sejam elas com foco na fauna
e na flora atuais ou do passado.

No Infográfico, veja informações, definições, distinções e exemplos dos principais tipos de


biogeografia (histórica e ecológica).
CONTEÚDO DO LIVRO

A biogeografia se correlaciona de forma multidisciplinar com a geografia, a geologia, a biologia


e a ecologia, pois seu foco é identificar e analisar os padrões distributivos geográficos das
espécies biológicas (quantidade, tipos e características de espécies animais e vegetais), tanto na
contemporaneidade, quanto no passado geológico.

No capítulo Biogeografia: conceitos e temas, base teórica desta Unidade de Aprendizagem,


aprenda mais sobre os fatores que influenciam os arranjos espaciais biogeográficos, os
principais cientistas e os estudos do tema no Brasil.

Boa leitura.
BIOGEOGRAFIA
Biogeografia:
conceitos e temas
Francielly Naves Fagundes

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Explicar como os organismos vivos se distribuem na superfície da Terra.


>> Reconhecer o desenvolvimento histórico do conhecimento biogeográfico.
>> Relembrar os estudos fitogeográficos no Brasil.

Introdução
Neste capítulo, você estudará conceitos e temas que regem a ciência da biogeo-
grafia, a distribuição geográfica das espécies na superfície da Terra e os principais
fatores da natureza ou antrópicos que influenciam a espacialização dos seres
vivos. Além disso, você conhecerá os principais teóricos da ciência biogeográfica,
suas contribuições e estudos fitogeográficos do Brasil.

Distribuição geográfica dos seres vivos


A biogeografia é a ciência que tem como preocupação documentar e com-
preender modelos espaciais de biodiversidade, bem como estudar a distri-
buição dos organismos tanto no passado quanto no presente, verificando
as variações ocorridas na Terra, relacionadas à quantidade e aos seres vivos
(BROWN; LOMOLINO, 2006).
Como ciência, a biogeografia apresenta correlações multidisciplinares
com outras ciências, sobretudo com a biologia (paleontologia, evolução) e
com a geografia (climatologia), mas também com a geologia e a ecologia. Por
2 Biogeografia: conceitos e temas

sua vez, são subáreas da biogeografia a zoogeografia, que estuda os animais


e seres vivos complexos e desenvolvidos; a fitogeografia, que estuda as
plantas vegetais; a biogeografia microbial, que estuda os microrganismos;
a biogeografia ecológica, que estuda a distribuição atual das espécies; e a
biogeografia histórica, que, a partir do passado geológico, procura reconstruir
origem, dispersão e extinção de espécies.
Na biogeografia, a organização e distribuição espacial das espécies da
fauna (animais) e da flora (vegetais) se distinguem e evoluem de formas
diferentes, devido às suas características e interações com as condições
físicas dos ambientes, além de fatores abióticos e bióticos. Os fatores
abióticos, são aqueles ausentes de vida e derivados de aspectos físicos e
químicos advindos do meio ambiente, como a luz solar e o clima (tempe-
ratura, pluviometria, ventos), dentre outros, que exercem influência sobre
os seres vivos e suas formas de organização, interação e reprodução. Já
os fatores bióticos, são todos os fatores causados a partir da atuação de
seres vivos e organismos em um sistema ecológico, a exemplos das intra e
inter-relações ecológicas entre os seres vivos, como predação, parasitismo
e competição de espécies.
Assim, são temas fundamentais para a biogeografia a consideração de
mudanças geográficas (ou obstáculos) que ocorrem em determinada região
do mundo, tais como o avanço do mar, o surgimento de ilhas, especificidades
sobre os continentes e montanhas, pois, nesse contexto, podem ocorrer os
processos descritos a seguir (PETRIM, 2014).

„„ Extinção: os seres vivos se dividem e desaparecem devido a um evento


de extinção que mantém isoladas as populações restantes, de forma
que acabam sofrendo especiação (surge novas espécies).
„„ Dispersão: a partir de um conjunto de processos, os seres vivos se fixam
em um local diferente daquele em que viviam os seus progenitores.
Com isso, pode ocorrer, por meio da colonização de áreas afastadas,
uma especiação por quebra genética.
„„ Vicariância: os seres vivos sofrem um processo de evolução desenca-
deado por um ou mais eventos geológicos em uma área que é habitada
por um determinado grupo. O grupo pode sofrer especiação caso seja
dividido e perca totalmente o contato genético.

Um exemplo de fenômenos biogeográficos é a distribuição geográfica


da espécie dos camelídeos, que surgiram há cerca de 35 milhões de anos na
região da América do Norte, mas que, por um motivo geográfico — fechamento
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do istmo do Panamá e o caminho criado na última glaciação, no estreito de


Bering —, se distribuiu por diversos continentes e acabou dando origem a
outras espécies, como os camelos (Ásia), dromedários (África), lhamas, alpacas
e vicunhas (Américas).

Figura 1. (a) Camelo nos Emirados Árabes Unidos, (b) dromedários em Marrocos e (c) alpacas
no Peru.
Fonte: (a) Herbert Bieser/ Pixabay.com; (b) Wolfgang_Hasselmann/ Pixabay.com; (c) Free-Photos
/ Pixabay.com.

Evolução da ciência biogeográfica


A evolução da ciência biogeográfica no mundo se deu a partir de explorações
e investigações de cientistas e viajantes a partir do século XVIII. Um dos prin-
cipais cientistas da biogeografia foi Alfred Russel Wallace, que, ao descrever
espécies no arquipélago Malaio, desenvolveu a teoria na qual relacionava
espécies do norte a espécies do continente asiático, que, por sua vez, tinha
ligações com espécies do continente oceânico. A partir de sua descoberta,
foi designada as fronteiras zoogeográficas que separam a Ásia da Oceania,
chamada Linha de Wallace, em sua homenagem (SANTIAGO, [20--?]).
Outros cientistas que trouxeram avanços à ciência biogeográfica foram Jo-
seph Cook, que por meio de viagens marítimas pelo mundo, coletou e catalogou
cerca de 3.600 espécies de plantas (sendo a maioria até então desconhecidas);
Johann Foster, que apresentou um dos primeiros zoneamentos sistemáticos glo-
bais de regiões bióticas definidas a partir da flora (plantas), também conhecido
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como zoneamento latitudinal (distribuição das espécies a partir das latitudes


e climas); Karl Wildenow, que elaborou estudos de fitogeografia (geografia das
plantas); Alexander Von Humboldt, o geógrafo que deixou as principais contri-
buições à fitogeografia a partir de seus estudos com a flora; Augustin Candolle,
que constatou que os organismos dependem de fatores como luz, calor e água,
competindo entre si por esses recursos, deixando contribuições para a ecologia
analisando a competição ecológica entre espécies e a luta por sobrevivência.

Os cientistas Johann Foster, Karl Wildenow e Alexander Von Humboldt


destacaram a vegetação e o clima como fundamentais fatores para o
desenvolvimento da biogeografia e sua distribuição da fauna e flora pelo mundo.

No entanto, avanços de biogeografia em questões evolucionista se deram


a partir dos estudos de Charles Darwin sobre a evolução das espécies e da
sua teoria da seleção natural. Colaboraram, também, Joseph Hooker, com seu
estudo sobre a biogeografia histórica causal; Philip Sclater, com a teoria que
indicava que limites de latitude e longitude para a fauna e a flora, a partir
do estudo de distribuição de aves; e o já mencionado Alfred Wallace, com os
conceitos e princípios da zoogeografia.
Além desses, outros cientistas foram importantes para a biogeografia e de-
senvolveram teorias e regras, como a regra de Gloger, que indicava que indivíduos
de habitat mais úmidos tendem a ter cor mais escura do que aqueles de habitat
mais secos; regra de Bergmann, que indicava que invertebrados endotérmicos
se apresentam em áreas de clima frio com um tamanho corporal maior; regra
de Allen, que indica que espécies endotérmicas apresentam membros e outras
extremidades do corpo menores e mais compactadas em climas frios; regra de
Cope, que indica que a evolução de um grupo apresenta tendência em direção
ao aumento do tamanho corporal (BROWN; LOMOLINO, 2006).
Por fim, vale destacar que os avanços nas disciplinas de biologia, ecologia
e paleontologia cooperam com a área de biogeografia e com as constatações
sobre a importância de fatores geográficos e ecológicos do meio ambiente,
condicionando os padrões de distribuição das espécies da fauna e da flora,
suas características morfológicas e padrões evolutivos pelos continentes.

Fitogeografia brasileira
A fitogeografia, também conhecida como “geografia das plantas”, é conside-
rada um ramo da ciência biogeográfica que tem como objetivo estudar as
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plantas em seus aspectos de origem, distribuição, adaptação e associação,


de acordo com a localização geográfica e com a sua evolução. A fitogeografia
teve como precursor os estudos do geógrafo naturalista Alexander Von Hum-
boldt, que, por meio de sua publicação sobre as plantas e sua relação com a
localização geográfica, foi consagrado o “pai da fitogeografia”.
A partir de estudos de fitogeografia é possível identificar e analisar
a influência de fatores como os climáticos (ventos, umidade e tempera-
tura), fisiográficos (altitude, exposição e declividade), de iluminação, para
o crescimento e desenvolvimento das plantas e seus diferentes padrões
distributivos.
No Brasil, devido à sua extensão territorial e diversidade climática (re-
gião equatorial, tropical e subtropical), há uma diversidade fitogeográfica,
no que se refere a tipos de vegetação e especificidades de fauna e flora.
O geógrafo e professor universitário brasileiro, Aziz Ab'Saber, considerado
um dos principais cientistas e pesquisadores de geomorfologia do País,
elaborou e definiu, na década de 1970, um estudo fitogeográfico, que
seria uma forma de regionalização do Brasil, levando em consideração
características de vegetação, relevo, clima, solo, paisagem, biologia e
ecologia, denominado “Classificação dos seis domínios fitogeográficos”,
sendo eles: amazônico, cerrado, mares de morros, caatingas, araucárias
e pradarias (Figura 2).

Figura 2. Espacialização e detalhes dos domínios fitogeográficos a partir de Aziz Ab'Saber.


Fonte: Ab’Sáber (1977, p. 7).
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Essa definição se deu a partir de dados de clima e de geologia que foram


fundamentais para traçar a regionalização e, a partir dela, pôde-se contatar
que: a) cada domínio morfoclimático corresponde a uma ampla área própria
com padrões característicos e específicos de clima, topografia e vegetação;
b) as faixas que separam os domínios apresentam vegetação de tipo inter-
mediário (transição); c) dentro de cada domínio pode haver intromissões de
vegetação característica de outros domínios (AB'SÁBER, 1977).
Portanto, os estudos fitogeográficos no Brasil, sobretudo os desenvol-
vidos pelo geografo brasileiro Aziz Ab'Saber, foram fundamentais pois sua
classificação auxiliou a identificar e análise dos padrões de distribuição de
espécies da fauna e da flora pelas diferentes regiões, além de contribuir para
os estudos e catalogações sobre a diversa biogeografia do país.

Referências
AB’SÁBER, A. Os domínios morfoclimáticos na América do Sul. Geomorfologia, São
Paulo, n. 52, p. 1-22, 1977. 
AB’SÁBER, A. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São
Paulo: Ateliê Editorial, 2012. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.
php/4228238/mod_resource/content/2/Aziz%20AbS%C3%A1ber%20-%202005%20-%20
Dom%C3%ADnios%20paisag%C3%ADsticos%20do%20Brasil.pdf. Acesso em: 3 mar. 2021
BROWN, J.; LOMOLINO, M. Biogeografia. 2 ed. Natal: FUNPEC, 2006.
PETRIM, N. Biogeografia. [S.l.]: Estudo Prático, 2014. Disponível em: https://www.
estudopratico.com.br/biogeografia/. Acesso em: 3 mar. 2021.
SANTIAGO, E. Biogeografia. [S.l.]: InfoEscola, [20--?]. Disponível em: https://www.
infoescola.com/ciencias/biogeografia/. Acesso em: 3 mar. 2021.

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DICA DO PROFESSOR

As regiões biogeográficas compreendem as áreas geográficas do planeta onde estão distribuídos


os seres vivos animais e vegetais com características bióticas similares.

Na Dica do Professor, conheça mais sobre os tipos de regiões biogeográficas, os cientistas que
as estudaram e as representações cartográficas dessas distinções na composição da fauna e da
flora pelo mundo.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

NA PRÁTICA

As unidades de conservação (UCs) são importantes, pois buscam a manutenção da


biodiversidade (diversidade de seres vivos), do ecossistema local e a sustentabilidade dos
recursos naturais ali existentes.

Na Prática, acompanhe uma atividade de biogeografia realizada com alunos de geografia do


ensino fundamental em um trabalho de campo no Parque Estadual de Porto Ferreira,
observando aspectos da vegetação, da fauna, indicadores e problemas ambientais.
SAIBA MAIS

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja a seguir as sugestões do
professor:

Especial Alexander von Humboldt: o alemão que mudou a imagem da América do Sul

Assista à reportagem do canal DW Brasil, programa Camarote.21, sobre o geógrafo, naturalista


e importante cientista que deixou contribuições para a biogeografia, o alemão Alexander von
Humboldt.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Biogeografia e Galápagos | Filosofia das origens

Confira o documentário do canal Origens NT sobre a diversidade biológica animal e vegetal e


sobre questões biogeográficas da remota localidade do Arquipélago de Galápagos, na América
do Sul.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

A evolução da biogeografia no âmbito da ciência geográfica no Brasil

Veja este artigo dos pesquisadores Helmut Troppmair e José Carlos Godoy Camargo, publicado
na revista Geografia, da Unesp, sobre as caraterísticas e impasses no desenvolvimento da
biogeografia em instituições de pesquisa no Brasil.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

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