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ESCOLA PLURALISTA

Empédocles de Agrigento (c.450 a.C.)


Anaxágoras de Clazômena (c.500-428 a.C.)
Leucipo de Abdera (m. 370 a.C.)
Demócrito de Abdera (c.460-370 a.C.)

A Escola Pluralista certamente sofreu a influência de seus predecessores e de muitas


de suas tendências. No entanto, os pensadores dessa escola desenvolveram suas teorias
próprias, combinando frequentemente aspectos de diferentes escolas e valorizando uma
concepção do mundo natural como dinâmico.

EMPÉDOCLES DE AGRIGENTO (490 – 435 a.C.)

Agrigento atualmente é uma comuna italiana da região da Sicília, capital da província


homônima, com cerca de 55 000 habitantes. Na época da colonização grega no o sul da Itália
e a Sicília, formava a Magna Grécia.

Empédocles é conhecido por ser o criador da teoria cosmogênica que influenciou o


pensamento ocidental de uma forma ou de outra, tendo grande influência em toda a
Antiguidade, chegando mesmo ao Renascimento e ao início do período moderno.

Qual é a teoria cosmogênica? Se trata da doutrina dos 4 elementos (fogo, água, terra
e ar). Tal concepção busca, de certa forma, sintetizar as doutrinas de pensadores anteriores
sobre os elementos primordiais. Além disso, procura superar a oposição entre a concepção
monista eleata de unidade do real e as concepções monistas e mobilistas.

Conforme Empédocles esses elementos (fogo, água, terra e ar) são vistos como raízes
(rizómata) de todas as coisas, e de sua combinação resulta a pluralidade do mundo natural.
Segundo Aristóteles, Empédocles cria na existência quatro elementos que têm por
característica essencial o fato de não estarem submetidos à mudança, ou seja, eles existem
sempre. Na verdade, são as únicas realidades existentes.

Além da existência dessas quatro realidades elementares, Empédocles agrega duas


forças externas, Amor e Discórdia, que atuam sobre estes quatro elementos. O processo de
agregação e a desagregação desses elementos explicam o movimento. Entretanto, eles
permanecem eternamente, representando aquilo que É, ou seja, o Ser.
Empédocles assim, busca explicar o que não está sujeito ao devir (a mudança), os
quatro elementos, bem como dar conta da mudança que ocorre no mundo. Os elementos
primordiais representam a permanência na multiplicidade.

ANÁXAGORAS DE CLAZÔMENES (500 – 428 a.C.)

Anaxágoras nasceu em Clazômenes, na Jónia. Fundou a primeira escola filosófica de


Atenas, contribuindo para a expansão do pensamento filosófico e científico que era
desenvolvido nas cidades gregas da Ásia.

Em Anáxagoras identificamos o mesmo objetivo de pensamento de Empédocles,


embora mais sofisticado filosoficamente.

Anáxagoras é conhecido como o filósofo das homeomerias. O que são? E qual sua
função?

As homeomerias seriam sementes (spérmata), ou mais precisamente, minúsculas


partículas inumeráveis que geram a realidade que conhecemos e que são divisíveis em partes
sempre iguais. Essas homeomerias se assemelhame aos átomos por sua indivisibilidade
infinita e são partes similares que existem que compõe toda a natureza. Simplício (Física,
155, 23) apresenta essa concepção na seguinte passagem:

“Juntas estavam todas as coisas, infinitas pela multidão e pela pequenez; porquanto
também a pequenez era infinita (ápeiron). Enquanto estavam juntas, nada era claramente
reconhecível, em virtude da pequenez (dos elementos). E o ar e o éter dominam o todo, sendo
ambos infinitos, pois eles são os maiores (elementos), em quantidade e grandeza”.

Anaxágoras, para exemplificar seu raciocínio de que essas sementes estão e são partes
semelhantes de várias coisas, usa o seguinte exemplo: quando comemos carne e nossos
cabelos crescem A matéria que compõe nossos cabelos, portanto, advém da carne. Assim,
aquilo que comemos, seja lá o que for, carrega em si uma quantidade de matéria que explica
o que acontece quando ingerimos um determinado alimento – num elemento, existem outros.

Então, as homeomerias estão em todos os corpos do universo. Tudo que existe no


universo é gerado pela associação das homeomerias, do mesmo modo que a corrupção se dá
pela dissociação das homeomerias, que são as únicas realidades que permanecem.
Dessa maneira, temos a explicação do movimento pela associação e desagregação das
homeomerias, permanecendo estas inalteráveis e não sujeitas à mudança. A agregação e a
dissociação fundamentam o vir a ser, o devir, enquanto as homeomerias são o que é, o Ser.

Noûs
Para Anaxágoras, a totalidade do universo teria sido criada por uma inteligência eterna e divina denominada
“nous”, que foi responsável por iniciar os princípios do cosmos fundamentando tudo o que existe. Essa força
consistia numa mistura de elementos distintos. Conforme mencionado por Daniel W. Graham (2008, p. 244)
“da mistura primordial provém o cosmos, quando a Mente (noûs) cósmica dá início a um movimento
rotatório que separa umas das outras as diferentes coisas”. E o autor complementa (GRAHAM, 2008, p.
244): “Anaxágoras admitia um número infinito de diferentes substâncias como elementos básicos de seu
cosmos”. É interessante notar o quanto a descrição de tal elemento assemelha-se ao átomo visto que ambos
consistem em infinitamente divisíveis. O Nous, portanto, consiste numa força matriz, primária e suprema
que é viva, em si e que transmite movimento à natureza. E para o filósofo, a natureza possui substâncias
fixas que interagem e formam substâncias mistas, sendo que assim, “tudo está inserido em tudo” e, portanto,
“qualquer coisa em tese, pode se transformar em outra coisa” (OSBOURNE, 2013, p. 92). Ou seja, na
natureza, uma substância faz-se presente na outra e pode transformá-la em algo distinto do que ela é.
“Anaxágoras desenvolve uma teoria em que há uma intensa mistura de todas as coisas, a qual se parece
estender ininterruptamente até o nível macroscópico”. (GRAHAM, 2008, p. 226). Uma passagem do próprio
filósofo (Anaxágoras, fragmento 12) nos ajude a compreender tal pensamento:

“A mente é algo infinito e autônomo, que não foi misturada com coisa alguma, mas existe só, por si e para
si. Pois se não existisse por si, mas estivesse misturada com alguma outra coisa, participaria de todas as
coisas, caso estivesse misturada com algumas delas. Pois em tudo quanto há, está presente uma parcela de
tudo, conforme já explicitado por mim anteriormente, e as coisas com ela misturadas a impediram de
controlar o que quer que fosse da maneira como o faz sendo efetivamente só e por si. Pois que ela é a mais
fina de todas as coisas e a mais pura, detentora de todo o conhecimento acerca de tudo e dona da maior das
forças. E tem a mente a faculdade de controlar todas aquelas coisas, tanto grandes quanto pequenas, dotadas
de alma”.
O Nous, ao realizar seu movimento, gera as coisas que conhecemos. E essa ação, por sua vez, se da através
das homeomerias, que são a raiz do mundo. E para Anaxágoras, essa relação e a responsável pela realidade
que conhecemos.
Anáxagoras sustenta um princípio denominado, inteligência pura e simples (Noûs), que atua sobre uma
massa primordial onde todas as coisas estavam conjuntamente, até o momento em que a inteligência as
ordenou, instituindo um movimento sobre esta massa originária, possibilitando a criação de todas as coisas.
O Noûs é o princípio ou arché de todas as coisas. É ele que fornece as leis do pensamento que se sobrepõe
aos sentidos para conhecer e governar o universo. É preciso entender que o pensamento está nas coisas
também, não é algo separado delas. Tudo tem causa e essa é sempre natural, física, ainda que o espírito aqui
seja concebido materialmente.
Por exemplo: em um fio de cabelo, por menor que seja a partícula que o divide, nela contém todos os
elementos do universo. “Tudo está em tudo”, afirmou Anaxágoras. E com isso, o Noûs é a matéria, a
substância que causa tanto a agregação quanto a separação dos elementos que constituem os seres.

Por fim, cada coisa que existe é composta por misturas ordenadas dessas sementes
(homeomerias) movimentadas por uma força inteligente (Noûs) para poder originar a
constituição dos elementos naturais.

ATOMISTAS

Entre os pluralistas podemos destacar os denominados “atomistas”.

Os físicos posteriores procuraram responder o paradoxo representado pelas distintas


posições de Parmênides e Heráclito sobre a realidade, ou não, do movimento. Como
sabemos, Parmênides sustentava, pelos motivos já explicitados, a irrealidade do movimento,
enquanto Heráclito afirmava a inexorabilidade do movimento, ou seja, do devir, ao assumir
que tudo flui, tudo muda, nada permanece.

Os Atomistas (Leucipo e Demócrito) pretenderam dar conta do paradoxo, buscando


mostrar que existem realidades que são, não estando sujeitas à geração e corrupção, ao
mesmo tempo em que explicam que o movimento não é algo de aparente ou ilusório, mas
que realmente existe.
LEUCIPO DE ABDERA (m. 370 a.C.)

É considerado o fundador dessa escola, embora muito pouco se saiba a seu respeito;
aparentemente teria sido discípulo de Zenão e sofrido a influência da escola de Eleia. Seu
pensamento é conhecido sobretudo a partir de seu discípulo Demócrito, que desenvolveu o
atomismo, uma das doutrinas pré-socráticas de maior influência em toda a Antiguidade,
sendo retomada no helenismo pelos epicuristas e no início do pensamento moderno por
Pierre Gassendi (1592-1655).

DEMÓCRITO DE ABDERA (460 – 370 a.C.)

Originário de Abdera, no norte da Grécia, teria viajado pelo Egito, Mesopotâmia e


Pérsia, fixando-se depois em Atenas. Sua doutrina do atomismo tornou-se conhecida
sobretudo pela formulação feita por Epicuro, de grande influência na Antiguidade. Apesar
de Demócrito ter escrito muitas obras, subsistiram poucos fragmentos de seus textos
referentes a essa doutrina.;ç

A doutrina atomista sustenta que a realidade consiste em átomos e no vazio, os átomos


se atraindo e se repelindo, e gerando com isso os fenômenos naturais e o movimento. A
atração e repulsão dos átomos devem-se às suas formas geométricas, sendo que átomos de
formas semelhantes se atraem e os de forma diferente se repelem. Os átomos são
imperceptíveis e existem em número infinito.

Temos, então, os átomos e o vazio (que é a condição do movimento), e o movimento regido pela
necessidade, em forma de turbilhão, ou vórtice, que faz com que os átomos se choquem uns com os
outros, formando as coisas e os mundos: todas as coisas são formadas pelos átomos.
Os átomos são imperceptíveis pela sua pequenez, sólidos, compactos, ilimitados, indivisíveis.

Podemos destacar aí o avanço em relação às teorias anteriores na formulação do átomo


como elemento primordial, sobretudo quanto à noção de partículas imperceptíveis que
compõem os objetos materiais e dão origem aos fenômenos e ao movimento. Isso sem dúvida
antecipa de maneira surpreendente a física atômica contemporânea, que deriva sua noção de
átomo dessa tradição, apesar, é claro, das profundas diferenças existentes entre ambas.

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