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Equações Diferenciais Ordinárias - 2020/1

Professor Marlon Ramos

Introdução às UERJ - Resende


Equações Diferenciais
1 Modelagem Matemática
Exemplo 1: Modelo de crescimento populacional de Malthus

• t: tempo, variável independente


• N(t): número de indivíduos no tempo t.
hipótese: a taxa de variação da população é proporcional ao número
de indivíduos naquele instante

dN dN
∝N ou = rN
dt dt

• r: taxa de crescimento
Modelagem Matemática: modelo de Malthus

• Solução para o modelo de Malthus: dN


= rN
rt dt
N(t) = Ce

Determinação da constante C:
rt
N(0) = N0 ⇒ N(0) = C = N0 ⇒ N(t) = N0e

• O modelo de Malthus é muito simplificado, mas pode descrever o


comportamento de populações em períodos curtos de tempo.
Modelagem Matemática: modelo de Malthus

rt
• Solução do modelo
100 N(t) = 10e
de Malthus:
80

60
N(t)

rt
N(t) = N0e
40 r = 0.1/dia
r = 0.2/dia
20 r = 0.4/dia

0
0 5 10 15 20
t
Modelagem Matemática: modelo de Verhust
Exemplo 2: Modelo de crescimento populacional de Verhust
• Modelo mais elaborado; inclui limitação de recursos do ambiente
• Equação de Verhust

( K)
dN N
= rN 1 −
dt
K: capacidade de suporte
Considerando que r > 0, temos que:

dN dN
• se N < K, então >0 • se N > K, então <0
dt dt
Modelagem Matemática: modelo de Verhust

• Solução do modelo 16 et
de Verhust: 14
N(t) = 10N0 ×
(10 − N0 ) + N0 e t

12
rt
e 10
N(t) = N0K

N(t)
(K − N0) + N0e rt 8
6 N0 = 15
4 N0 = 6
N0 = 1
• Na figura temos: 2

K = 10 e r = 1/ dia 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
t
Modelagem Matemática: objeto em queda
Exemplo 3: objeto em queda
• v(t): velocidade do objeto no tempo t

Diagrama de forças: • Forças (em módulo):

Far ⃗
P = mg Far = γv
F = mg − γv
m dv
• 2ª Lei de Newton: F = ma = m
dt
h P⃗
dv
⇒ m = mg − γv
dt
Modelagem Matemática: objeto em queda

Caso particular: queda livre (γ = 0)


50
dv v (t) = v0 + 9.81t
m = mg 40
dt

v (t) (m/s)
30
Solução geral: v(t) = gt + C
20
v0 = 5 m/s
a constante C é determinada pela v0 = 10 m/s
10
condição inicial: v(0) = v0 v0 = 20 m/s

0
⇒ v(t) = v0 + gt 0.0 1.0 2.0 3.0 4.0
t (segundos)
Modelagem Matemática

modelar Modelo matemático


Situação Real
(equação diferencial)

aprimorar resolver

interpretar Soluções
Conclusões
(equações, gráficos)
2 Elementos básicos & classificação de E.D.

• Definição uma equação diferencial é uma equação que define uma


relação entre uma função incógnita e suas derivadas

• Exemplos:

( K)
dN N dv
= rN 1 − m = mg − γv
dt dt

• 2.1 Elementos básicos:


- Variável independente: t
- Função incognita: N, v
- Parâmetros: r, K, γ, g, m
Elementos básicos & classificação de E.D.
• Sistemas de Equações diferenciais: é um conjunto com duas ou mais
equações envolvendo duas ou mais variáveis dependentes de uma única
variável independente.
Exemplos:

a) sistema com 2 EDOs

dx - variável independente: t
= f(x, y, t),
dt
- variáveis dependentes: x e y
dy
= g(x, y, t)
dt
Elementos básicos & classificação de E.D.
• Sistemas de Equações diferenciais: é um conjunto com duas ou mais
equações envolvendo duas ou mais variáveis dependentes de uma única
variável independente.
Exemplos:
b) modelo epidemiológico SIR
dS SI
=−β , - variável independente: t
dt n
9
dI SI - S(t): número de suscetíveis =
= β − γI, variáveis
dt n - I(t): número de infectados ; dependentes
dR
- R(t): número de recuperados <latexit sha1_base64="qufgYsnKrImhwLx486e0SbLqqzw=">AAACuniclVFNi9swEJXdr637le321otoXOjJ2Amp19DDQi973EKzuxCHIMuyIyLLRhp38Rr3f/beH1L5g9KUXjogeLyZeaN5k1SCa/D9H5b94OGjx09OnjrPnr94+Wp2+vpal7WibE1LUarbhGgmuGRr4CDYbaUYKRLBbpLD5z5/840pzUv5FZqKbQuSS55xSsBQu9l313ViwTLwHGwiTljOZUuUIk3XCtEN7JCp9kRCWbReh+P4P+hRl8l0UnVixfM94LhzXHc3m/teFH4MlivcgyiKwh5Ey+UqxIHnDzFHU1ztTi03TktaF0wCFUTrTeBXsDXawKlgRr3WrCL0QHK2MVCSgultOxjV4feGSXFWKvMk4IH9s6MlhdZNkZjKgsBe/53ryX/lNjVk59uWy6oGJuk4KKsFhhL3ruOUK0ZBNAYQqrj5K6Z7oggFc5ujKcAP9+MWPRI8UUQ1bcpoqYaTaa8y0xWrBKFc5kcLt0UtgKvyrht8Df1VEAV4BKE/gfPFb1+vF17ge8GXxfzicnL4BL1F79AHFKAQXaBLdIXWiKKflmOdWW/sT3Zic/swltrW1HOGjsKGXxTN0pU=</latexit>

= γI
dt
Elementos básicos & classificação de E.D.
• 2.2 Classificação (tipo, ordem e linearidade)
a) Classificação por tipo
- ordinárias contém somente derivadas ordinárias; há somente
uma variável independente. Exemplos:
2
dy x d y dy
+ 5y = e − + 6y = 0
dx dt 2 dt
- parciais contém derivadas parciais; há duas, ou mais, variáveis
independentes
2 2 2
∂ y(x, t) 1 ∂ y(x, t) ∂ϕ(x, t) ∂ ϕ(x, t)
− = 0 −D = 0
∂x 2 c 2 ∂t 2 ∂t ∂x 2
equação da onda equação de difusão
Elementos básicos & classificação de E.D.

b) Classificação por ordem: a ordem de uma E. D. é a ordem da maior derivada

Exemplos:
2
d f
− 3f + e x
= 0 ⇒ 2ª ordem
dx 2
4 2
∂u ∂u
+ = 0 ⇒ 4ª ordem
∂x 4 ∂t 2

( dx )
2
dg
−g=0 ⇒ 1ª ordem
Elementos básicos & classificação de E.D.
• Observação: uma EDO de ordem n pode ser expressa na forma
(n)
F(x, y, y′, y′′, . . . , y ) = 0

• Assumiremos que sempre será possível resolver univocamente a eq.


acima para a maior derivada, ou seja:

(n) (n−1)
y = f(x, y, y′, y′′, . . . , y ) ⇒ Forma normal

• A forma normal evita ambiguidades na definição das EDOs


Elementos básicos & classificação de E.D.

Exemplo de ambiguidade na definição da EDO:

dg
a) = g

( dx )
dg
2 dx
−g=0 ⇒
dg
b) =− g
dx

A equação à esquerda dá origem às equações (a) e (b)!


Elementos básicos & classificação de E.D.
c) Classificação por linearidade: uma EDO é linear quando:

(i) a variável dependente y e suas derivadas são de 1º grau, ou seja,


a potência de cada termo envolvendo y é um.
(ii) os coeficientes que multiplicam y e as suas derivadas são funções
apenas da variável dependente x

• Uma EDO linear terá a forma:


n n−1 n−2
d y d y d y
an(x) n + an−1(x) n−1 + an−2(x) n−2 + . . . + a0(x)y(x) = g(x)
dx dx dx

• Uma ED que não obedece as condições (i) e (ii) é chamada


de ED não-linear
Elementos básicos & classificação de E.D.
• Exemplos de EDOs lineares:
dy
- (y − x)dx + 4xdy = 0⇒ 4x + y = x
dx
3
d y dy x
- + x − 5y = e
dx 3 dx

• Exemplos de EDOs não lineares:


2
x d y
- (1 − y)y′ + 2y = e - + y 2
= 0
dx 2 ⏟
viola a condição (ii) viola a condição (i)
Elementos básicos & classificação de E.D.

- Equação do pêndulo simples: θ l


2
d θ g
+ sin(θ) = 0
dt 2 l
viola a condição (i)
P = mg

• Linearização processo de aproximar uma ED não-linear por uma ED linear


Exemplo: pêndulo simples. Se θ é pequeno, então sin(θ) ≈ θ e eq. acima fica:
2 g
d θ g
+ θ = 0 ⇒ θ(t) = θ0 cos(ωt) onde ω = (frequência angular)
dt 2 l l
Equações Diferenciais Ordinárias - 2020/1
Professor Marlon Ramos

Introdução às Equações UERJ - Resende


Diferenciais - Parte 2
3 Soluções de uma Equação Diferencial

Qualquer função ϕ, definida em um certo intervalo I em que é contínua


e possui n derivadas contínuas, que quando substituídas na EDO a reduz
a uma identidade é chamada de solução nesse intervalo

• O intervalo I é chamado de intervalo de definição


Matematicamente, temos que, a EDO
n
F(x, y, y′, y′′, . . . , y ) = 0

tem como solução no intervalo I uma função ϕ que satisfaz


n
F(x, ϕ, ϕ′, ϕ′′, . . . , ϕ ) = 0, para todo x neste intervalo

• Observação: vamos considerar que ϕ seja uma função real


Soluções de uma Equação Diferencial

x
• Exemplo: verifique que y = xe é solução da EDO y′′ − 2y′ + y = 0 em
(−∞, ∞)
Cálculo das derivadas:
x x x x
y′ = e + xe , y′′ = 2e + xe
Substituindo na EDO:
x x
y′′ − 2y′ + y = (2e + xe ) − 2 (e + xe ) + xe x x x

y′′ y′ y

x x x x
= 2e + 2xe − 2e − 2xe = 0 c.q.d. ✌
Soluções de uma Equação Diferencial

• Observações x
(Considere o exemplo anterior: y′′ − 2y′ + y = 0; y = xe )

x
- Veja que y = xe é uma função contínua e possui pelo menos 2
x
derivadas no em (−∞, ∞). Logo y = xe é solução da EDO no
intervalo considerado

- Note que y = 0 também é solução da EDO em (−∞, ∞)

Uma solução que é identicamente nula em I é chamada de solução


trivial
Soluções de uma Equação Diferencial
• 3.1 Intervalo de definição (intervalo de validade, ou domínio da solução)
- O domínio de uma função ϕ é diferente do intervalo de definição da solução ϕ
1
Exemplo: seja y =
4.0 y
x
y = 1/x
2.0
- O domínio da função y = 1/x é (−∞,0) ∪ (0,∞)
- Veja que y = 1/x também a solução
x
0.0 da EDO xy′ + y = 0 em qualquer
-4.0 -2.0 0.0 2.0 4.0
intervalo que não inclua a origem
-2.0 como (−3, − 1), (0,1/2), (0,∞)

- Usualmente escolhemos o maior intervalo


-4.0
possível, ou seja, (−∞,0) ou (0,∞)
Soluções de uma Equação Diferencial
• 3.2 Soluções explícitas e implícitas
- Solução explícita caso em que a variável dependente y pode ser escrita
em função da variável independente x e constantes, ou seja, tem a forma
y = f(x)

Exemplos:
1 x
a) xy′ + y = 0 ⇒ solução: y = b) y′′ − 2y′ + y = 0 ⇒ solução: y = xe
x
- Solução implícita é uma relação do tipo G(x, y) = 0 que define uma ou
mais soluções no intervalo I para a EDO

De outra forma: existe pelo menos uma função ϕ que satisfaz G(x, ϕ(x)) e
a EDO simultaneamente
Soluções de uma Equação Diferencial
dy x
• Exemplo 1: verifique que x + y = 25 é solução da EDO
2 2
=−
dx y
- 1ª maneira: explicitando y = y(x)
2
y1 = 25 − x
2 2
x + y = 25 ⇒
2
y2 = − 25 − x

2 2 dy x
Temos duas soluções que satisfazem x + y = 25 e =−
dx y
Soluções de uma Equação Diferencial
dy x
• Exemplo 1: verifique que x + y = 25 é solução da EDO
2 2
=−
dx y
Verificando para y1 = 2
25 − x
y
y (x) = y1
dy1 1 2 −1/2
5.0
= ⋅ (25 − x ) ⋅ (−2x)
dx 2
−x x 2.5
= =−
(25 − x 2)1/2 y1
0.0
dy1 x -5.0 -2.5 0.0 2.5 5.0
⇒ − = 0 c.q.d ✌ x
dx y1
- intervalo de definição I = (−5,5)
Soluções de uma Equação Diferencial
dy x
• Exemplo 1: verifique que x + y = 25 é solução da EDO
2 2
=−
dx y
- 2ª maneira: utilizando derivação implícita
d 2 2 d dy
(x + y ) = 25 ⇒ 2x + 2y ⋅ =0
dx dx dx

dy x
⇒ =−
dx y

- Como recuperamos a EDO concluímos que x + y = 25


2 2

é, de fato, uma solução!


Soluções de uma Equação Diferencial
• 3.3 Família de Soluções
Ao resolver uma equação diferencial de ordem n esperamos encontrar uma
família de soluções
G(x, y, c1, c2, ⋯, cn)=0
com n parâmetros (constantes arbitrárias)
C
- Exemplo 1: a função y = x
satisfaz a EDO xy′ + y = 0 para qualquer valor de C

C
(ou seja G(x, y, c) = y− x = 0 define uma família de soluções com um parâmetro)
x x
- Exemplo 2: y = c1e + c2xe satisfaz y′′ − 2y′ + y = 0 para qualquer valor
de c1 e c2 Verifique!
Soluções de uma Equação Diferencial

• Solução particular é uma solução que não tem parâmetros arbitrários


Podem ser encontradas atribuindo-se um valor particular para as
constantes da família de soluções

• Solução singular não pode ser obtida especificando-se os parâmetros da


família de soluções

(4 )
2
dy 1/2 1 2
Exemplo: a EDO = xy possui a família de soluções y = x +C
dx
Veja que a solução trivial y = 0 não pode ser obtida por nenhuma
escolha da constante C!

Logo, y = 0 é uma solução singular!


4 Problemas de Valor Inicial

• Definição um problema de valor inicial (PVI) consiste em resolver a EDO


n
d y n−1
= f(x, y, y′, y′′, . . . , y )
dx n
sujeita às condições:
n−1
y(x0) = y0, y′(x0) = y1, ⋯, y (x0) = yn−1
em um intervalo I que contém o ponto x0

- As condições acima são chamadas de condições iniciais


Problemas de Valor Inicial
Interpretação Geométrica
- PVI de 1ª ordem: - PVI de 2ª ordem:
Encontrar a solução para Encontrar a solução para y′′ = f(x, y, y′) no
y′ = f(x, y) no intervalo I e que intervalo I, que passe por (x0, y0) e que
passe por (x0, y0) tenha inclinação m = y1 nesse ponto

soluções da ED
soluções da ED y
y

m = y1
(x0, y0)
(x0, y0)

x x
I I
Problemas de Valor Inicial
x
• Exemplo 1: sabendo que y = Ce é uma família de soluções da EDO
y′ − y = 0, encontre a solução para os PVIs abaixo

a) y′ − y = 0; y(1) = − 2
1 −1
⇒ y(1) = Ce = − 2 ⇒ C = − 2e
−1 x x−1
⇒ y = − 2e e ⇒ y = − 2e

b) y′ − y = 0; y(0) = 3

x
y = 3e
Problemas de Valor Inicial
• Exemplo 2: sabendo que y(x) = c1 cos(4x) + c2 sin(4x) é uma família de
soluções da EDO y′′ + 16y = 0, encontre a solução para o PVI abaixo
y′′ + 16y = 0; y(π/2) = − 2; y′(π/2) = 1
- utilizando y(π/2) = − 2:
y(π/2) = c1 ⋅ cos(2π) + c2 ⋅ sin(2π) = − 2 ⇒ c1 = − 2

- para utilizar y′(π/2) = 1 precisamos de y′(x)


y′(x) = − 2 ⋅ −1 ⋅ 4 ⋅ sin(4x) + c2 ⋅ 4 ⋅ cos(4x) = 8 sin(4x) + 4c2 cos(4x)
⇒ y′(π/2) = 8 sin(2π) + 4c2 cos(2π) = 1 ⇒ c2 = 1/4

Logo, a solução para o PVI é y(x) = − 2 cos(4x) + 1/4 sin(4x)


Problemas de Valor Inicial

Observações:
1. O intervalo de definição de um PVI deve sempre incluir o ponto inicial
Nos exemplos anteriores o intervalo de definição é (−∞, ∞)

2. O nome condições iniciais derivam de um problema físico em que t é a


variável independente e
y(t0) = y0 e y′(t0) = y1
representam a posição inicial e a velocidade inicial de um objeto,
respectivamente

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