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Marcelo E. K. Buzato*
Resumo
*
Instituto de Estudos da Linguagem / UNICAMP.
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Revista Crop – 12/2007
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Abstract
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Introdução
1
Não estou sugerindo que a emergência de um meio como a Internet, bem como qualquer
outro, "cause" transformações sociais por força de suas características técnico-estruturais, mas
apenas admitindo, com Mozarela (2004), que as relações sociais e histórias institucionais são
indissociáveis das possibilidades e coerções oferecidas pelos meios através dos quais essas
relações e histórias se produzem e reproduzem.
2
No meu percurso pessoal de reflexão a respeito dos letramentos digitais (Buzato, 2001),
utilizei temporariamente a noção de um continuum de letramentos entre um pólo impresso e
outro digital, que agora critico, para tentar explicar o processo de aquisição de letramentos
digitais por uma professora pouco familiarizada com computadores. O presente artigo cumpre,
em parte, a função de socializar os pressupostos e análises posteriores que me levaram, desde
então, a descartar tal postura teórica.
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Ver Warschauer (2003) para uma crítica detalhada do modelo da brecha digital.
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Modelos de Letramento
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Observa-se que, de certa forma, o mesmo problema se aplica em relação à
convivência entre o que poderíamos chamar de linguagens naturais ou sociais e as linguagens
técnicas ou artificiais que constituem o meio digital. Embora essa não seja uma questão central
deste trabalho, é importante sinalizar aqui que boa parte dos estudos sobre letramento digital
simplesmente ignoram o papel das linguagens de computador nos letramentos digitais, ou
concebem-nas como mecanismos puramente "técnicos", fora da linguagem e inertes do ponto
de vista sócio-cultural. Felizmente, alguns poucos autores (Walton, 2004 e O'Hear. & Sefton-
Green, 2004, por exemplo) já começam a examinar os processos de hibridização entre tais
conjuntos de linguagens que caracterizam tanto as concepções discursivas quanto os
mecanismos de produção, circulação e recepção do texto digital.
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linguagem, este já não é um texto mas um fenômeno das ciências naturais (...)"
(ibidem, p. 309).
O que Bakhtin não poderia prever, mas que constitui um dado central
nos novos letramentos, é que nas novas formas de mediação do texto,
lingüístico ou não-lingüístico, todos os sistemas semióticos são, em última
instância, representados internamente por meio de um sistema binário comum,
sua natureza "material" sendo, em sentido estrito, igualmente "elétrica" ou
"magnética" em todos os casos.
Bakhtin (2003, p.309) já sinalizara que o texto não se esgota no verbal:
"É claro, todo texto (seja ele oral ou escrito) compreende um numero
considerável de elementos naturais diversos, desprovidos de
qualquer configuração semiótica, que vão além dos limites da
investigação humanística (lingüística, filológica, etc.) mas são
por esta levados em conta (...) Não há nem pode haver textos puros.
Além disso, em cada texto existe uma série de elementos que podem
ser chamados de técnicos (aspecto técnico do gráfico, da obra,
etc.)".
"Todo sistema de signos (isto é, qualquer língua), por mais que sua
convenção se apóie em uma coletividade estreita, em princípio
sempre pode ser decodificado, isto é, traduzido para outros sistemas
de signos (outras linguagens); conseqüentemente, existe uma lógica
geral dos sistemas de signos, uma potencial linguagem das
linguagens única (que evidentemente, nunca pode vir a ser uma
linguagem única concreta, uma das linguagens). No entanto, o texto
(à diferença da linguagem como sistema de meios) nunca pode ser
traduzido até o fim, pois não existe um potencial texto único dos
textos".
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Hibridismo e Multimodalidade
É Jay Lemke quem tem, a meu ver, feito de forma mais interessante a
transição dos pressupostos bakhtinianos para a análise das novas formas de
textualidade e novas práticas de significação associadas às TIC. Retomando e
enfatizando o conceito, fundamental pra Bakhtin, de signo como um fenômeno
do mundo exterior cuja realidade é totalmente objetiva, o autor tem procurado
descrever o funcionamento da "potencial linguagem das linguagens" de que
falava Bakhtin com base nos pressupostos da Semiótica Social (Hodge &
Kress, 1988) e da Gramática Sistêmico-funcional de Halliday (1978).
Tal como Bakhtin (1988) postulara para o romance, Lemke (2002) vê o
texto hipermodal5 como um sistema de gêneros e linguagens submetidas a
processos de estilização e hibridização, que formam uma unidade superior, a
qual não pode ser identificada com ou subordinada a nenhuma das suas
unidades constitutivas. Nesse novo sistema, contudo, Lemke ressalta o diálogo
não apenas entre os discursos e vozes sociais expressas verbalmente, mas
entre signos e discursos de qualquer natureza (visuais, sonoros, musicais,
etc.). Fundamentalmente, isto quer dizer que o autor privilegia o hibridismo
radical que caracteriza não apenas o verbal, mas todas as linguagens e que,
5
Lemke (2002, p.300) utiliza o termo "hipermodalidade" para descrever as novas interações
entre os sentidos expressos pela palavra, pela imagem e pelo som nos sistemas de hipermídia
tais como a WWW.
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Minha tradução para esse e todos os demais excertos de Lemke (2002) aqui citados.
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e exemplifica:
"Se eu falar em voz alta, você pode interpretar os sons acústicos que
eu faço como itens lexicais sendo apresentados através do sistema
lingüístico, organizados de acordo com uma gramática lingüística, etc.
Mas você também pode interpretá-los com índices da minha
identidade pessoal, pertencimento a uma categoria social, estado de
saúde ou emocional. (…) Se eu decidir escrever minhas palavras,
eliminando as possibilidades expressivas do discurso vocal que dão
vazão ao potencial supralingüístico de sentido, mesmo assim eu
necessariamente criarei signos materiais os quais novamente vão
disponibilizar outras possibilidades de sentido: na caligrafia há
diversas nuances indiciais, no texto impresso há as escolhas de tipo
gráfico e fonte, layout da página, cabeçalhos e rodapés, títulos e
barras laterais, etc.".
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Adotarei a nomenclatura em português para as metafunções descritas por Lemke (2002)
seguindo Braga (2004). A autora, por sua vez, utiliza a tradução dos termos "presentational",
"orientational" e "organizational" sugerida pelo professor Lynn Mario Meneses de Sousa (USP-
São Paulo)
8
Enxerga -se aí, claramente, a possibilidade de uma ponte, via Halliday (1978), com a visão
bakhtiniana (2003, 270-306) da comunicação dialógica centrada na noção de enunciação que
congrega um foco temático/objetal, uma forma composicional (gênero) e o posicionamento do
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falante com relação àquele conteúdo objetal e aos demais participantes (presentes, passados
ou projetados) da comunicação discursiva.
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No campo da Matemática, a expressão "de baixa dimensão" (low-dimensional) refere-se ao
estudo das variedades geométricas/topológicas de dimensão inferior ou igual a quatro.
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Experimentando o modelo
A tarefa escolar
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Figura 1 - Atividade escolar utilizada por uma menina de cinco anos em fase de alfabetização
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O jogo da Barbie
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http://barbie.everythinggirl.com/activities/fashion/, consultado em 12/05/2004
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O que o(s) autore(s) objetivam é um tanto quanto obscuro (pode ir desde a promoção de
uma marca de bonecas até a construção de uma comunidade virtual de consumo), mas, pare
efeito de análise, podemos dizer que o objetivo é "encantar", fortalecer um desejo de consumo,
agregar ou intensificar um componente afetivo, uma certa identificação subjetiva da criança
com a boneca, por meio da transposição de uma prática cultural usual do "mundo real" (brincar
de trocar a roupa da boneca) para uma prática digital (brincar de trocar a roupa digital da
boneca digital) que também vem se tornando usual naquele grupo social.
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Refiro-me aqui à maneira típica como as imagens digitais são produzidas ou modificadas em
programas de edição usuais tais como Photoshop, que Manovich (2001) chama de
compositing.
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Em verdade, uma consulta ao código fonte do jogo provavelmente mostrará que, mesmo do
ponto de vista técnico, esses elementos são híbridos, isto é, são arquivos que o programa de
navegação reconhece e "enuncia" como imagens, mas que o leitor/jogador alfabetizado pode
interpretar como palavras.
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texto não é só o que se escreve, mas qualquer coisa que se combina num todo
que faça sentido para alguém.
Isso nos leva de volta ao potencial semiótico infinito das
representações multimodais de que nos fala Lemke (2002). Mesmo ali onde o
gênero "planta baixa" pretende um sentido organizacional, podemos ler
importantes significados aparentes e performativos. Vimos que no desenho que
a menina fez na escola, os participantes e circurstâncias representados e a
forma da composição revelavam traços ideológicos que caracterizavam sua
subjetividade. Aqui também vemos traços ideológicos que saturam uma
representação visual: a casa da Barbie não tem cozinha nem banheiro. O
tamanho do guarda-roupas é praticamente igual ao do quarto de brincar. O
shopping center (mall) é um local próximo, pequeno, familiar, quase uma
extensão da casa.
Se o indiozinho não tinha bote, mas tinha casa e escola porque a
menina o via como "menino" e não como "índio", no sentido esteriotipado com
que aparecia na canção, a casa da Barbie não tem cozinha ou banheiro
porque os autores do site/jogo a vêem como mulheres que não cozinham –
aliás, idealmente não comem – nem deixam transparecer as vicissitudes do
corpo. O guarda-roupas é do tamanho do quarto de brincar porque sua
aparência é tão importante quanto o que gostam ou são capazes de fazer. O
shopping center é uma extensão da casa porque consumir é para ela uma
atividade básica, quase indispensável tal qual dormir ou brincar.
Conclusão
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Bibliografia
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Nota Biográfica
Marcelo E. K. Buzato é doutor em Lingüística Aplicada pelo IEL/UNICAMP.
Endereço:
Rua Florineia, 138, Ap. 61 Água Fria – São Paulo / SP, 02334-050
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