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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE

LONDRINA - UEL

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS

GEOGRAFIA EM ESCALA LOCAL:


UM ESTUDO DE CASO DO MUNICÍPIO DE SERTANÓPÓLIS

MARIA SOLANGE FERREIRA

Londrina
2008
MARIA SOLANGE FERREIRA
2

GEOGRAFIA EM ESCALA LOCAL:


UM ESTUDO DE CASO DO MUNICÍPIO DE SERTANÓPOLIS

Artigo desenvolvido através do curso do Programa


de Desenvolvimento Educacional - PDE, na área de
Geografia, com o tema de estudo da intervenção:
Geografia em Escala Local.

Orientadora: Profª. Drª. Rosely Sampaio Archela

Londrina
2008
3

Geografia em escala local: um estudo de caso do município de Sertanópolis

Maria Solange Ferreira1


Rosely Sampaio Archela2

Resumo- este artigo tem o propósito de evidenciar a importância do


conhecimento geográfico local e regional na prática educacional. Na primeira
parte apresentamos dados que justificam essa prática em sala de aula em
seguida relatamos atividades com uso do material desenvolvido durante a
preparação da proposta de intervenção englobando os objetivos, metodologia,
desenvolvimento e resultados das atividades.
Palavras-chave: ensino, geografia, metodologia, Sertanópolis.

Abstract- this article has the purpose to show up the importance of the local
geography and regional knowledge in education practice. In the first part we
present data that justify this practice in classroom next we report activities with use
of the material developed during the preparation of the proposal of intervention
including the objectives, methodology, development and results of the activities.
key words: teaching, geography, methodology, Sertanópolis.

Introdução
Ensinar geografia constitui-se num desafio para os educadores da educação
básica devido à dificuldade de compreensão, por parte dos educandos, do
significado das disciplinas escolares no processo de aprendizagem, uma vez que
o conhecimento científico é produzido para toda a sociedade. Assim, criar
condições de realização de leitura das paisagens locais com raciocínio geográfico
remeterá os educandos ao entendimento do significado de seu espaço de
vivência, e conseqüentemente da geografia.

1
Professora PDE da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná – solange.f@brturbo.com.br
2
Professora Dra. Rosely Archela Departamento de Geociências Universidade Estadual de Londrina
4

Entendemos que a articulação dos conteúdos nacionais e gerais com a realidade


local, permite ao educando maior compreensão de seu mundo e cria novas
formas de interferências no mundo conhecido. Os conteúdos com dados locais
permitem a construção de novas interpretações de espaço.
Partindo dos elementos locais da paisagem podemos produzir imagens e
linguagens com significados, e assim construir os conhecimentos imprescindíveis
à construção da cidadania.
A produção e aplicação de conhecimentos locais auxiliados por meios modernos
de comunicação, facilitam o desenvolvimento do trabalho assim como a
disponibilização dos conhecimentos a outros educadores ligados ao ensino de
geografia.
Superar barreiras com a adoção de novas metodologias é o grande desafio
lançado aos educadores, pois, é diante da diversidade de problemas e da
necessidade de elaboração de soluções que o homem se move e constrói
conhecimentos. Com essa perspectiva, a pesquisa e a produção de material local,
para ser utilizado em sala de aula, é a ação pedagógica proposta neste artigo.

Ensino de Geografia em escala local


No Brasil, e particularmente no ensino de geografia, é relevante a preocupação
com a reflexão e investigação em torno da prática pedagógica dos docentes em
todos os níveis de ensino. Diversos autores dedicam-se a tarefa de produzir
conhecimentos e produzem novas metodologias. A ciência geográfica, em muitos
momentos, procurou fortalecer a concepção de seu objeto de estudo apoiando-se
na investigação e compreensão do desenvolvimento e dinâmica histórico-cultural
da sociedade e sua repercussão na organização do espaço geográfico.
No século XXI nos deparamos com a intervenção e a dinâmica informacional
própria desse estágio do capitalismo, na reorganização do espaço geográfico e
das formas de produção, consumo, circulação de mercadorias, pessoas e idéias.
Por meio da educação escolar promovem-se a aquisição de conhecimentos com
a responsabilidade de auxiliar na formação humana, proporcionando instrumentos
para que o aluno compreenda o mundo que vive e seja capaz de atuar sobre o
mesmo de modo a transformá-lo. De acordo com Cavalcante (1998, p.124) a
escola tem a possibilidade de contribuir para emancipar o homem, torná-lo
cidadão autônomo, consciente, participativo e capaz de conduzir sua própria vida
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no cotidiano, isto porque, enfatiza essa autora, na escola convivem uma grande
diversidade de valores, modos de pensar e conhecimentos. Além de atender aos
interesses da classe dominante, da reprodução, da obediência e das práticas
alienantes, ou cumprir o papel a favor da formação consciente que revele aos
indivíduos a complexidade do mundo, é mister que o professor faça uma reflexão
das suas teorias e das suas práticas em sala de aula.
Alcançar esses objetivos remete-nos a melhoria da qualidade da educação
formal, tendo como eixo norteador de nossos trabalhos uma reflexão constante
sobre novas propostas pedagógicas, para desenvolver uma prática docente que
leve em conta as políticas públicas e o contexto em que são estabelecidas e
articuladas dentro da estrutura econômico-social orientada pela lógica capitalista.
Geralmente, a sociedade vê na escola um caminho para a formação do indivíduo
capaz de compreender e dar significado próprio à realidade. Entretanto, se faz
necessária uma pausa para refletir sobre os rumos que a educação vem
desempenhando na construção dos conhecimentos nas últimas décadas, uma
vez que a luta pela existência exige cada vez mais habilidades neste mundo
globalizado.
É importante observar que os conteúdos e saberes geográficos no debate
educacional estão voltados ao trabalho pedagógico que dê novo significado a
concepção de educação e de construção de conhecimentos geográficos. Isso nos
faz entender que mesmo sendo a realidade uma totalidade, como professores de
geografia, podemos fazer a leitura da realidade a partir do olhar geográfico, dando
sentido à espacialidade dos fenômenos, o que por si só é uma tarefa bastante
árdua, como o desvendamento da espacialidade dos fenômenos, saber em que
lugar as coisas estão localizadas deve ser considerado apenas o ponto de
partida. (DIAMANTINO, 2003, p. 13),
Cavalcante (1998, p.135), afirma que o ensino de geografia tem a função de lidar
com a espacialidade e com o conhecimento geográfico de cada um para provocar
neles (sic) alterações no sentido de uma ampliação. Para o desenvolvimento da
prática de ensino no processo de produção e reprodução do conhecimento
geográfico, faz-se necessário a utilização de recursos que auxiliem esta prática. E
enfatiza que essas alterações são possíveis pela reflexão e pelo exercício de
abstração propiciado com o tratamento de conhecimentos científicos.
6

Por outro lado, os recursos produzidos para o desenvolvimento deste trabalho


podem ser elaborados por um profissional ligado ao ensino da geografia no
sentido de promover a ampliação do conhecimento dos alunos a respeito de
temas cuja relevância é de inquestionável valor para a sociedade atual. Neste
sentido, os materiais didáticos são fundamentais no trabalho do professor.
O produtor dos recursos, quando inserido no processo fazendo o papel de agente
produtor, e, ao mesmo tempo, como usuário do material, possui maior percepção
das necessidades dos alunos e dos professores, já que o trabalho do professor de
geografia precisa ser ancorado por uma ampla variedade de materiais que
possibilitem planejar boas situações didáticas, buscando a articulação de
conteúdos (FURLAN, 2002, p.2).
Levando em consideração esse argumento, justificamos a produção de material
didático elaborado por educadores inseridos na parte prática mais direta no
ensino, fazendo-se presente na produção e, ao mesmo tempo, na aplicação
desses materiais em seu trabalho em sala de aula com o aluno, pois os materiais
escolhidos pelos professores para o trabalho didático podem, também, dar ênfase
aos temas que possibilitam a criação de projetos que envolvem mudanças de
atitudes e discussão dos valores dos próprios alunos.
A partir da disponibilidade de produções científicas voltadas para o ensino, é
possível buscar informações a respeito de vários lugares em diferentes escalas
espaciais. Segundo Racine, Raffestin e Ruffy (1980, s.p.) é altamente desejável
estudar os “indivíduos” com referência ao contexto coletivo e caracterizado pelas
propriedades aos grupos aos quais eles pertencem, dessa forma a ação passa a
ser mais concreta numa escala geográfica local, pois é nela que os indivíduos têm
suas principais relações com o meio. Qualquer que seja sua atitude, como
resultado da mudança de comportamento advinda de um processo educacional,
dar-se-á primeiramente no local de vivência. É possível dizer que toda a
apreensão da realidade geográfica pelo sujeito geográfico passa por uma
problemática intencional” (RACINE; RAFFESTIN; RUFFY, 1980, s.p.), isso
significa que as várias atitudes somadas de vários indivíduos de diferentes
lugares, resultarão numa mudança coletiva a partir das singularidades.
Experiências vivenciadas por pesquisadores como SCHIMDT e GARCIA (2006, p.
82-85) também apontam como possibilidade de superação desta dificuldade a
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“aproximação da realidade”, cujo significado é o de realizar o processo ensino-


aprendizagem a partir da realidade local
Por outro lado, quando se valoriza a escala global como ponto de partida, é
dificultada a percepção do indivíduo sobre a importância de suas individualidades
no processo de mudanças coletivas visando ao benefício de todos. Racine,
Raffestin e Ruffy (1980, s.p.) também afirmam que há uma relação entre
elementos percebidos e elementos efetivamente memorizados e mobilizáveis num
determinado momento. É evidente que o problema vivenciado pelo indivíduo
passa a ter mais significado do que o problema vivenciado por outras sociedades.
A construção de conceitos é uma habilidade fundamental para a vida cotidiana,
uma vez que possibilita à pessoa organizar a realidade, estabelecer classe de
objetos e trocar experiência com o outro (CAVALCANTE, 1998, p. 139).
Mostra-se uma necessidade de sistematização e organização das informações
locais em materiais didáticos, contribuindo para maior compreensão da
organização do espaço local como ponto de partida na busca de elementos para
a associação de suas ações com as de sociedades distantes, percebendo que
todos fazem parte de um só espaço geográfico. Bertanini (1985, p. 118), ressalta
que estudar o espaço vivido significa superar a dimensão do espaço extensão, ou
espaço suporte das atividades, para acolher a noção de representação do
espaço, como espaço construído através do olhar das pessoas que o vivem-
habitam.
Lembramos, ainda, que o papel básico do ensino de geografia é proporcionar
várias ferramentas para alfabetizar o aluno espacialmente em suas diversas
escalas, dando-lhe a capacitação para entender noções de espaço, paisagem,
natureza, Estado e sociedade.
Segundo Cavalcante (1998, p. 128) a função da geografia é formar uma
consciência espacial, um raciocínio geográfico, levando a compreensão da
espacialidade das práticas sociais para poder intervir no seu cotidiano de uma
forma mais autônoma. A compreensão de como a realidade local relaciona-se
com o contexto global é um trabalho a ser desenvolvido durante toda
escolaridade, de modo cada vez mais abrangente, com o cuidado de não cair
numa análise simplista do lugar até chegar ao global de forma linear, pois as
relações destas escalas são mais complexas. É imprescindível que se supere a
idéia dos círculos concêntricos, partindo do próximo e supostamente mais simples
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para o mais distante e que seria mais complexo (CASTROGIOVANNI, 2000,


p.108).
Para este trabalho faz-se importante a utilização de recursos e meios disponíveis,
como a informática e os meios de comunicação e transmissão do conhecimento.
Partindo dessa análise, propomos a construção de um material didático
digitalizado, usando principalmente o computador na sua produção e aplicação.
Chaves (apud RUSSO; GARCIA, 2001, p.164) define multimídia como uma
tecnologia digital que, associada ao computador, permite a incorporação,
combinação e uso simultâneo de recursos.
Fica claro que a utilização do computador no processo da prática escolar,
favorece o uso simultâneo dos sentidos sensoriais através do manuseio dessa
ferramenta, fazendo a interação dessas informações, estimulando a participação
no processo de construção do conhecimento, considerando a rapidez, variedade
e quantidade de novas informações.
Para Almeida, Scaramello e Santos (sd, p. 5), com a introdução da informática na
educação, os educadores em geral e, em particular, os educadores de geografia
passaram a contar com maior número de artefatos tecnológicos para auxiliá-los
nas práticas pedagógicas. Como o computador está presente na maior parte dos
segmentos da sociedade, seu uso pela escola aproxima o educando da realidade
e desenvolve a agilidade na busca de informações, principalmente da
diversificação da linguagem. As linguagens amplificam nossa capacidade de ver,
apreender e compreender as geograficidades, pois, cada uma delas, nos
apresenta as formas espaciais dos entes no mundo a partir de suas
especificidades (KATUTA, 2005, p.1).
É importante ressaltar que, ao trabalhar a geografia, é necessário explorar as
diversas linguagens como: mapas, fotografias, ilustrações, vídeos, melhora a
compreensão do espaço geográfico, pois conforme Katuta (2005, p.2), apesar da
riqueza da linguagem escrita, existem aspectos da geograficidade dos entes que
somente podem ser capturados e apresentados por imagens. Assim, é de grande
importância a utilização de várias linguagens na produção de material didático, já
que a linguagem é um pressuposto que norteia todo o processo de construção do
conhecimento que construímos ao longo de nossas vidas (KATUTA, 2005, p.1).
Até o século XIX a geografia aparentemente, sem compromisso político, foi um
instrumento para o descobrimento de novas terras e seus mapas foram,
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sobretudo, um meio para a ação política dos espaços representados (ARCHELA,


2002, p.5).
Esse processo induziu a necessidade de representar espacialmente as
construções humanas e os elementos naturais através dos signos das
representações cartográficas, essas representações facilitam a compreensão de
fatos e acontecimentos de uma sociedade sobre o espaço em que ela vive. O
atlas escolar serve como apoio ao ensino nas aulas de geografia e no
desenvolvimento do trabalho (LE SANN; ALMEIDA, 2003, p.1).
Assim mostra-se pertinente o papel da cartografia como extensão do
conhecimento e construção do espaço geográfico, sendo possível expressar
pelos mapas a dinâmica social sobre o território. Os atlas digitais dinamizam o
processo leitor/usuário colocando-se em vantagem quando comparado aos atlas
impressos, pois permitem maior manipulação e superposições de mapas
(ALMEIDA; SCARAMELLO; SANTOS, p.6). Fazendo-se uma junção entre
cartografia e informática é possível o desenvolvimento de um material de grande
importância no processo de produção do conhecimento acerca do espaço
geográfico em suas várias dimensões.
Sabemos que há muitas formas de apresentar um mesmo conceito ou conteúdo e
isso não se deve perder de vista, para abranger a todos os tipos de aluno. É na
relação sociedade e natureza que vamos construir nosso conhecimento
geográfico e este é construído através do espaço/tempo. Assim, cabe ao
professor ser mediador, aquele que, através de estratégias dinâmicas e
conteúdos significativos, proporcionará uma educação de qualidade
Entendemos que esse posicionamento oferece valiosas indicações para a
realização de um trabalho que possa, de fato, contribuir com uma reflexão voltada
para uma educação escolar que prime por seus conteúdos concretos e não por
produzir indivíduos adaptados às variações súbitas e necessidades do mercado
globalizado e, por esse viés, enriquecer e dar maior significado aos conteúdos e
representações próprias da ciência geográfica.
Por esta razão lembramos a tese defendida por Duarte (2001, p.147) na qual a
educação escolar deve ser vista não de forma unilateral, não como um processo
de satisfação das necessidades espontâneas dos indivíduos, mas sim como um
processo que produza necessidades cada vez mais elevadas nos indivíduos,
cada vez mais enriquecedoras, em suas análises e críticas à educação em geral e
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também à educação escolar. Sua tese é bastante apropriada neste momento que
acreditamos em possibilidades de mudanças e transformações da realidade
escolar.

O desenvolvimento da proposta
Este trabalho é o resultado do material didático produzido por professores de
geografia da rede estadual, com o tema ”Geografia em escala local: um estudo de
caso do município”, participantes do programa instituído pelo governo do estado
do Paraná, como política educacional de formação continuada dos professores da
rede pública estadual: o PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional), cujas
atividades foram planejadas passo-a-passo (FERREIRA, 2008).
Os objetivos específicos dos três eixos desta proposta foram o de delimitar divisas
e fronteiras, áreas e extensões do município; identificar as características físicas
do município; distinguir aspectos ambientais do município em sua inter-relação
com as atividades humanas; compreender a estrutura fundiária e as relações de
produção no campo; reconhecer a estrutura urbana, analisando o uso e ocupação
do solo a partir da distinção entre as várias formas de uso do solo urbano;
diagnosticar as características pretéritas e presentes do povoamento, analisar a
estrutura populacional.
As atividades foram desenvolvidas com alunos das três séries do Ensino Médio
do Colégio Estadual Machado e Assis – Ensino Médio – do município de
Sertanópolis. Até o momento nem todas as atividades planejadas foram
aplicadas, porém, os alunos das três séries do ensino médio dos períodos
matutino e vespertino participaram de uma ou mais das atividades.
A metodologia adotada para o desenvolvimento do primeiro tema desenvolvido
(Limites - perímetro urbano, vegetação, relevo, solo, hidrografia e clima do
município) envolveu as seguintes etapas: estudo detalhado das variáveis e
decodificação dos signos sob o ponto de vista local/global para dar sentido à
realidade. Em relação ao desenvolvimento dos conteúdos considerou-se que no
espaço da sociedade há limites em tudo, que eles representam controles
impostos ao espaço, por determinações históricas, econômicas, sociais, políticas
e culturais e que sua organização e sua relação com o espaço ocorrem com
valores e culturas diferentes, buscando a compreensão do espaço vivenciado
pela nossa sociedade. Além disso, os conteúdos têm o objetivo de levar a
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perceber quem somos e o papel que efetivamente temos no cotidiano, entender


quando o mundo esta presente em nossas ações e pensamentos e quando aquilo
que vivenciamos se transformam em realidade única.
A primeira etapa foi desenvolvida com alunos da primeira série do ensino médio.
Para a avaliação, realizada durante a aplicação do material, considerou-se a
elaboração dos conceitos de limite para o lugar-território, com a exploração das
visões globais, nacionais, estaduais até chegar ao singular, e relações com o
processo histórico do lugar.
Os alunos foram orientados e auxiliados durante o uso do material. Ficou evidente
o interesse dos alunos na observação das imagens relacionadas ao seu cotidiano,
o objetivo principal dessa etapa do trabalho consistiu em delimitar divisas e
fronteiras, áreas e extensões do município. Praticamente todos os alunos
conseguiram delimitar a área do município e os demais limites, quando analisados
os conceitos de limites, território e formas de apropriação do espaço, assim como
a diferenciação das escalas espaciais de análise, a maioria teve êxito. A
resolução das atividades não apresentou dificuldades.
Outra etapa do trabalho, também com alunos da primeira série do Ensino Médio,
consistiu na identificação das áreas físicas do município, até o presente momento
(outubro de 2008) trabalhou-se a altimetria do território do município de
Sertanópolis, além das atividades contidas no material planejado (FERREIRA,
2008) foi desenvolvida uma atividade de construção do mapa altimétrico
coroplético. O resultado obtido com esta atividade foi muito bom, pois além da
questão física pode-se discutir questões relacionadas ao uso do solo em função
da visualização da altitude representada a partir de curvas de nível. Nesta etapa
foram trabalhados vários conceitos relacionados à altimetria tais como: cotas
altimétricas, curvas de nível, declividade, orientação cartográfica etc.
Com o objetivo de refletir sobre os aspectos ambientais e sua inter-relação com
as atividades humanas foi desenvolvida uma atividade com a terceira série do
Ensino Fundamental. O trabalho consistiu no mapeamento de todas as árvores
presentes no espaço público e terrenos vazios da área central do espaço urbano
de Sertanópolis, foram excluídas as áreas mais recentes de expansão urbana. Os
alunos foram distribuídos em equipes com a tarefa de mapear nove quadras por
equipe. A partir da junção do levantamento de todas as equipes foi construído um
mapa único com todas essas informações. A finalização do trabalho confirmou o
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que muitos moradores já constataram, a baixa ocorrência de árvores nas vias


públicas. Com as informações expressas na planta ficou fácil perceber que além
de insuficiente, a área de maior carência é o centro da cidade onde está
localizada a maior atividade comercial e de serviços urbanos, ou seja, o espaço
de maior circulação de pessoas.
Para trabalhar os conceitos de estrutura fundiária e as relações de produção no
campo foram escolhidas turmas de segunda série do Ensino Médio. Essa tarefa
consistiu na análise de mapas, tabelas, gráficos e textos contidos no material
desenvolvido pelos professores do grupo. Todos os conceitos foram trabalhados a
partir de dados locais. Do conjunto de atividades planejadas no projeto inicial
(FERREIRA 2008) esta foi a que apresentou menor resultado. Quanto à parte de
leitura houve grande aproveitamento, entretanto, as questões que exigiam maior
percepção e análise apresentaram respostas abaixo da expectativa.
Quanto ao conteúdo relacionado à estrutura, análise, uso e ocupação do solo
urbano a partir da distinção entre as várias formas de uso, foram realizadas
algumas atividades, entre elas a construção de um mapa da evolução urbana da
cidade de Sertanópolis, posteriormente desenvolvida a análise dos vetores de
maior e menor crescimento e dos fatores ligados ao atual zoneamento urbano. O
resultado foi excelente, poucos alunos tiveram dificuldades de realizá-lo,
acreditamos que pela familiaridade com o espaço estudado, ao longo do
desenvolvimento da atividade, localizavam quadras em que residiam, praças,
colégios, etc. Os alunos que participaram dessa etapa foram os da segunda série
do Ensino Médio.

Conclusões
A realização deste trabalho possibilitou iniciar entre os educandos a construção
de uma postura investigativa a partir das informações locais possibilitando assim
uma forma diferente de relacionar informações locais com conhecimento
científico.
A participação dos alunos ocorreu de forma intensa, principalmente porque os
mesmos tiveram a oportunidade de ter contato com conhecimentos e informações
presentes em seu cotidiano e que até então não haviam sido relacionadas aos
conteúdos escolares.
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A utilização do material constitui-se, ainda, em uma forma de desenvolvimento da


autonomia do aluno, onde o contato com fatos familiares despertou maior
interesse. Estas atividades promoveram maior reflexão acerca do mundo em que
vivemos, seja local ou global, contribuindo para a construção e reconstrução da
compreensão e inserção na sociedade.
A concretização da proposta desenvolvida no Programa de Desenvolvimento
Educacional não foi apenas mais trabalho informativo de fatos, mas sim uma
metodologia a ser usada e melhorada com a prática.
Vale salientar, que o trabalho foi realizado com a preocupação de ampliar o
horizonte de expectativas dos alunos quanto à construção e evolução crítica do
pensamento, ou seja, a partir do conhecimento em escala local, possibilitar
melhor compreensão de nossas relações com o mundo.
O trabalho com conhecimentos locais em sala apresentou resultados satisfatórios
ao mesmo tempo em que ajudou a aplicar uma metodologia não muito freqüente
em nosso trabalho docente, e resultou num maior conhecimento dos nossos
alunos. Possibilitou, também, ouvir seu posicionamento, seu entendimento do
conteúdo trabalhado, suas conclusões e principalmente suas dificuldades.

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