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CLAUDIA GIANNETTI
TRADUÇÃO
APRESENTAÇÃO 11
INTRODUÇÃO 13
Estética R a c i o n a l 37
Estética Informaciona l 38
Estética Cibernética 47
Arte Cibernética: alguns exemplos 49
Estética da Percepção S3
Estética Cerativa e Estética Participativa 54
A c o m u n i c a ç ã o , os meios e a cultura 60
A c o m u n i c a ç ã o , a interação e os sistemas 64
EPÍLOGO
GLOSSÁRIO
REFERÊNCIAS
Livros 213
Nestas breves linhas não seria pertinente nos determos em questões tais
c o m o a teoria da informação, os processos de inteligência artificial ou os desen-
volvimentos da C i b e r n é t i c a , abordadas por Giannett i c o m clareza e abran-
g ê n c i a . Considero imprescindível, no entanto, destacar duas idéias matrizes
entrelaçadas, presentes no seu discurso, c o m as quais compartilho totalmente.
A primeira consiste em que não existe uma medida estética baseada em uma
suposta informação imanente, c o m independência do contexto e/ou do obser-
vador que assume a "significação". C o m outras palavras, não existe significação
independente do observador. A segunda indica que a significação estética (pelo
mesmo motivo citado "na primeira") provém da construção contínua, na qual é
considerável a importância da emocionalidade, função subjetiva que ainda é
um projeto incipiente nas construções das tecnologias da informação. Fator
importante, sobre o qual Claudia Giannetti já tinha escrito c o m anterioridade. 1
1 Ver Algunos mitos dei final dei milênio. Contra Ia trivialización de Ia tecnocultura. Buenos Aires:
Libros dei Rojas, 2001.
c o n s u m o . S e esse p r o c e s s o j á foi i n i c i a d o p e l a s m a n i f e s t a ç õ e s artísticas d o
s é c u l o XX (arte c o n c e i t u a i , arte participativa, antiarte...), c o m as t e c n o l o g i a s da
i n f o r m a ç ã o , o objeto c o m o tal, do ponto de vista da idiossincrasia definida por
G i a n n e t t i , é situado fora do e s p a ç o dos debates. P e l o m e n o s de m o m e n t o .
Margarita Schuitz
Faculdade de Artes/Universidade do Chile
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Introdução
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ou m e i o s n ã o t e c n o l ó g i c o s para lograr a inter-relação do o b s e r v a d o r c o m a
obra, serão denominadas arte participativa.
Estética Digital - 15
duas que consideramos fundamentais: a Cibernética e a Inteligência Artificial.
Os aspectos estritamente científicos ou técnicos desses âmbitos não corres-
p o n d e m ao nosso domínio, portanto nos centramos no estudo do modo c o m o
essas disciplinas influenciaram algumas tendências da arte e da teoria estética,
tema do segundo capítulo.
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O diálogo entre obra e espectador se estabelece não só sobre a base da linguagem
ou da reflexão, mas, sobretudo, de u m a maneir a prática e intuitiva, no sentido
c i r c u l a r da c o m u n i c a ç ã o , na m e d i d a em q u e se estimula a própria a ç ã o do
p ú b l i c o no entorno da obra. O r e c o n h e c i m e n t o da p o s i ç ã o central e ativa q u e
o c u p a o o b s e r v a d o r é o requisito básico q ue nos permite dilatar as fronteiras da
teoria estética para a idéia de Endoestética. Esse tema - tratado no último capí-
tulo - pretende oferecer um m a r c o teórico relevante para o e n t e n d i m e n t o da
natureza da arte e dos seus m o d e l o s baseados em sistemas interativos.
3 Cf. Ernst Põppel. "Radikale Syntopie an der Schnittstelle von C e h i r n und Computer", in: Christa M a a r ;
Ernst Põppel; T h o m a s Christaller (Eds.). Die Technik auf dem Weg zur Seele. Reinbek, Hamburgo:
Rowohlt Verlag, 1996, p.12-13.
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CAPÍTULO 1
Arte, ciência e técnica
Breve percurso
¹ A antigüidade clássica empregava dois termos para designar o que atualmente se engloba dentro do
amplo conceito de arte. Por um lado, o termo tékne significava a atividade de produção manual de
objetos a partir do conhecimento, habilidade e posse dos instrumentos necessários. Escultura e pintura
eram consideradas, então, produtos da tékne, assim c o m o outras atividades que, hoje em dia, conside-
ramos artesanato. Por outro lado, atividades c o m o a música, a dança ou a poesia não se incluíam nesse
conceito, mas se reuniam sob o termo mousiké. A distinção básica da tékne consistia no fato de q u e
esta implicava certa manualidade, o domínio de uma técnica e suas ferramentas de produção, enquanto
q u e a poesia e a música, c o m o se pode entrever no diálogo platônico, pertenciam a uma categoria de
c o n h e c i m e n to superior, considerada de inspiração divina. Por outro lado, não se estabelecia uma dife-
rença entre algumas disciplinas científicas e artísticas. Ao mesmo c a m p o da música pertenciam tanto a
gramática, a retórica e a dialética, c o m o a matemática e a astronomia.
W a l t e r B e n j a m i n continuava considerando a imagem fotográfica o motivo da
crise da pintura: " N o momento em que Daguerre conseguiu fixar as imagens da
câmara escura, os técnicos substituíram os pintores." 2
Contrários a essa visão nostálgica, artistas pertencentes às correntes
vanguardistas (Futurismo, Dada, Suprematismo, Construtivismo, Bauhaus) apoiam
a interdisciplinaridade e a assimilação das novas técnicas, e defendem sua
inserção no mundo da cultura e da arte. Sabe-se que as seqüências fotográficas
de Eadweard Muybridge e as cronofotografias de Jules-Etienne Marey foram utili-
zadas por vários artistas em suas investigações sobre o movimento e a relação
espaço-tempo, c o m o pelo grupo de Paris-Puteaux (incluindo Frank Kupka e
M a r c e l D u c h a m p ) , pelos futuristas italianos e a vanguarda russa. No "Manifesto
Técnico da Pintura Futurista", de 1910, está implícita a referência à cronofotografia:
" U m cavalo correndo não tem quatro patas, mas 20, e seus movimentos são trian-
gulares". Em 1923, Kasimir Malevic h estima que "na arte, na ciência e na técnica
mudaram a forma de representação. A realidade muda com o movimento e deixa
novos rastros. A nova arte conseguiu novas percepções da mesma aparência
através do fenômeno do movimento e se transformou, assim, em uma nova arte." 3
O artista húngaro Lászó Moholy-Nagy, uma das figuras centrais da Bauhaus,
propõe o emprego das ferramentas técnicas para conseguir a convergência entre
as artes: arquitetura, cinema, fotografia, artes plásticas e desenho. Entre as soluções
formais que elabora, M o h o l y - N a gy postula o "sistema potencial dinâmico-cons-
trutivo" c o m o solução para a criação de esculturas que flutuem livres no espaço
da mesma maneira que os filmes, que são movimento espacial projetado. C o m
essa c o n c e p ç ã o original de o c u p a ç ã o do espaço mediante a utilização de novas
técnicas, M o h o l y - N a g y instaura as bases da instalação, c o m suas implicações
interdisciplinares e multimídias. A pergunta do futuro, segundo M o h o l y - N a g y ,
não estaria relacionada c o m a o p ç ã o excludente entre pintura ou cinema, mas
" c o m a assimilação da construção ótica em todos os aspectos possíveis hoje em
dia. Esses são, atualmente, a fotografia e o cinema, assim c o m o a pintura abstra-
ta e o jogo cromático da luz." 4 A idéia central para uma inter-relação entre as
disciplinas é, por conseguinte, a c o n v i v ê n c ia não excludente entre as artes e
entre essas e as técnicas que possam ser empregadas.
T o m a n d o a devida precaução de não cair no determinismo tecnológico,
podemos constatar que as mudanças na técnica tiveram conseqüências relevantes
para a linguagem artística. Desde o emprego da camera obscura no Renascimento,
que possibilitou um novo enfoque óptico da realidade, até a utilização do compu-
tador, que transforma de maneira radical o próprio fazer artístico, as tecnologias
progressivamente assimiladas pela arte incidem não somente na linguagem, mas na
própria aparência estética das obras. No século X X , a aceitação desse processo
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c o n d u z , sobretudo a partir dos anos 1950, às pesquisas realizadas por artistas
ou por grupos de artistas no q u e c o n c e r n e à u t i l i z a ç ã o das c h a m a d a s n o v a s
tecnologias, gerando, assim, o a p a r e c i m e n t o da arte e l e t r ô n i c a ou media art.
5 W e r n e r Heisenberg. Physik und Erkenntnis, in: Obras completas, Tomo ill. Munique: Piper Verlag, 1985.
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i m p l i c a c o m p a r a r a c i ê n c i a e a arte c o m o métodos. A c i ê n c i a caracteriza-se por
seu caráter m e t o d o l ó g i c o , p o r é m - c o m o constata W e i b e l - n ã o se c o s t u m a
c o n s i d e r a r a arte c o m o um m é t o d o .
A a r g u m e n t a ç ã o de F e y e r a b e n d reflete o característico c e t i c i s m o q u e v a i
s e f o r m a n d o e m torno das idéias q u e m a r c a r a m tão p r o f u n d a m e n t e a s c i ê n c i a s
e a cultura o c i d e n t a i s até o s é c u l o X X . C o m o já h a v í a m o s m e n c i o n a d o , as ques-
tões sobre a v e r d a d e , a realidade, a razão e o c o n h e c i m e n t o são centrais no
7 I b i d e m , p.51.
8 Ibidem.
9 Cf. P a u l F e y e r a b e n d . Adeus à razão. Lisboa: E d i ç õ e s 70, 1991.
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debate entre o r a c i o n a l i s m o e o relativismo, um debate que, a l é m da c i ê n c i a ,
afeta d i r e t a m e n t e a arte. Jorge W a g e n s b e r g argumenta que, se a essência da
c i ê n c i a fosse a investigação a partir de um m é t o d o q u e unisse os três p r i n c í p i o s
da realidade, da inteligibilidad e e da dialética, ao observar rigorosamente a
c o m p l e x i d a d e dos objetos, c o m o a da própria mente, e buscar identificar neles
esses três princípios, seria possível perceber q u e o objeto se o p õ e ao m é t o d o .
N ã o resta, portanto, outra saída q u e o p r o c e d i m e n t o de " a b r a n d a r o m é t o d o " ,
por m e i o do q u a l "a c i ê n c i a deriva até a i d e o l o g i a " .
U m a n o v a r e l a ç ã o entre c i ê n c i a e arte i m p l i c a r e c o n h e c e r q u e a m b a s
possuem caráter gerativo, na m e d i d a em q u e se c a r a c t e r i z a m pela c r i a ç ã o de
m u n d o s ou visões de m u n d o s . Por conseguinte, "o m u n d o da arte e o m u n d o da
c i ê n c i a já não estão i d e o l o g i c a m e n te enfrentados", c o m o constata llya Prigogine,
"a m u l t i p l i c i d a d e de significados, a o p a c i d a d e f u n d a m e n t a l do m u n d o estão
refletidas por n o v a s linguagens e novos formalismos." 1 1
A r e v o l u ç ã o t e c n o l ó g i c a r e c e b e seu p r i m e i r o i m p u l s o d a R e v o l u ç ã o
Industrial do s é c u l o X I X , q u e a b r e as portas ao processo de m e c a n i z a ç ã o e
p r o v o c a o q u e o especialista em c o m u n i c a ç ã o J a m e s B e n i g e r c h a m a de " c r i s e
do c o n t r o l e ' " 2 . C o m o a u m e n t o i m p e r a t i v o da v e l o c i d a d e de p r o c e s s a m e n to da
i n f o r m a ç ã o , a m e c a n i z a ç ã o a c a r r e t o u a n e c e s s i d a d e de s i n c r o n i z a r o progres-
s i v o a u m e n t o d a p r o d u ç ã o m e d i a n t e sistemas d e controle. E m v i r t u d e dessa
crise do controle, as investigações centraram-se na busca de s o l u ç õ e s baseadas
nas t e c n o l o g i a s da r e t r o a l i m e n t a ç ã o , do c o n t r o l e a u t o m á t i c o e do processa-
mento de informação.
10 Jorge Wagensberg. "Las regias del juego", in: Wagensberg, Jorge (Ed.), Proceso al Azar. Barcelona:
Tusquets Editores, 1986, p.13.
¹¹ llya Prigogine. "Enfrentándose con Io irracional", in: Wagensberg, Jorge (Ed.), Proceso al Azar, op.
cit., p . l 58.
12 James Beniger. The Control Revolution. Technological and Economic Origins of the Information
Society. Cambridge: Harvar d University Press, 1986.
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Em 1 868, Clerk M a x w e l l escreveu seu estudo, titulado On governors, no
qual realiza uma análise teórica dos mecanismos de controle e informação.
M a x w e l l não só identificou exatamente os principais problemas, mas propôs
soluções para as questões mais prementes. Sua contribuição é básica para o
advento da profunda mudança que Beniger denomina " r e v o l u ç ão do controle".
Assim, nas últimas décadas do século XIX se desenvolve uma série de procedi-
mentos e inventos técnicos que servem de fundamento, a partir do final dos
anos 1940, para a c o n c e p ç ã o de uma nova teoria: a Cibernética. 1 3
¹³ Cf. J o c h e n Schulte-Sasse. " V o n der schriftlichen zur elektronischen Kultur: Über neuere W e c h s e l b e -
ziehungen zwischen Mediengeschichte und Kulturgeschichte", in: Hans U l r i c h G u m b r e c h t / Ludwig
Pfeiffer (Eds.). Materialitãt der Kommunikation. Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1988, p.429-453.
14 Cf. J o c h e n Schulte-Sasse, op. cit., p.433.
15 Norbert W i e n e r . Cibernética y Sociedad. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1958, p.16.
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máquinas. No ensaio "Computing machinery and intelligence", publicado na
revista Mind, Turing parte de uma pergunta básica: " P o d e uma m á q u i n a pensar?"
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sentido, W i e n e r analisa os parâmetros e os limites da c o m u n i c a ç ã o entre os
i n d i v í d u o s e as m á q u i n a s . Ao observar certas analogias entre m á q u i n a s e orga-
nismos vivos, o m a t e m á t i c o constata q u e n ã o há n e n h u m a razão para q u e as
p r i m e i r a s n ã o se a s s e m e l h e m aos seres h u m a n o s , pois " a m b o s r e p r e s e n t a m
b o l s õ e s d e e n t r o p i a d e c r e s c e n t e " , o q u e significa q u e são e x e m p l o s d e fenô-
m e n o s locai s antientrópicos.
T u r i n g t a m b é m d á prioridad e a o tema d a c o m u n i c a ç ã o , i n c l u s i v e a l é m
da questão estratégica da construção material da m á q u i n a "discreta" inteligente.
Na proposta de seu c o n h e c i d o e x p e r i m e n t o - o " j o g o da i m i t a ç ã o " , c o m o ele o
d e n o m i n a , ou a " p r o v a de T u r i n g " , c o m o é c o n h e c i d a - para a v e r i f i c a ç ã o da
inteligência de um c o m p u t a d o r digital (imaginário), Turing n ã o aborda a possível
c o n s t r u ç ã o m e c â n i c a de u m a m á q u i n a dessas características, mas se p r e o c u p a
mais c o m o processo de s i m u l a ç ã o da c o m u n i c a ç ã o entre pessoas e m á q u i n a s .
Nisto T u r i n g segue a tradição q u e aspira valoriza r a c a p a c i d a d e de r a c i o c í n i o
segundo a c a p a c i d a d e de uso da linguagem, da semântica h u m a n a . Esse método
já h a v i a sido sugerido, por e x e m p l o , por Descartes, q u e i n d i c a v a c o m o signo
distintivo dos seres pensantes a utilização significativa ou lógica da linguagem.
O d o m í n i o da s e m â n t i c a c o n t i n u a r á sendo, por muito t e m p o , o p r o b l e m a fun-
d a m e n t a l da IA.
20 N o r b e r t W i e n e r , o p . cit., p . l 7-18.
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Isto significa q u e , para q u e u m a c o m u n i c a ç ã o seja efetiva, o funda-
m e n t a l n ã o é a q u a n t i d a d e de i n f o r m a ç ã o q u e possa circular, mas a p r o p o r ç ã o
dela q u e possa c h e g a r a fazer parte da c o m u n i c a ç ã o .
De a c o r d o c o m a C i b e r n é t i c a , a i n f o r m a ç ã o significativa é a q u e conse-
gue passar através dos "filtros", e não a t o t a l i d a d e da i n f o r m a ç ã o transmitida.
W i e n e r nos c o l o c a u m e x e m p l o claro: q u a n d o uma pessoa o u v e u m fragmento
de música , a m a i o r parte do som chega a seus sentidos e ao cérebro. Se a pessoa
c a r e c e da p e r c e p ç ã o e da e d u c a ç ã o necessárias para o e n t e n d i m e n t o estético
da estrutura m e l ó d i c a , essa i n f o r m a ç ã o se e n c o n t r a r á c o m um o b s t á c u l o (o
" f i l t r o " ) . P o r é m , se se trata de um m ú s i c o p r e p a r a d o , essa partitura e n c o n t r a r á
u m a o r g a n i z a ç ã o interpretativa plena de significado, p o d e n d o c o n d u z i r a u m a
a p r e c i a ç ã o estética e a um e n t e n d i m e n t o ulterior. "A i n f o r m a ç ã o semantica-
mente significativa, na m á q u i n a ou no ser h u m a n o , é a q u e c h e g a a um meca-
nismo a t i v a d or do sistema q u e a recebe. (...) Do ponto de vista da C i b e r n é t i c a , a
s e m â n t i c a d e f i n e a q u a n t i d a d e de significado e regula sua perda nos sistemas de
comunicações."21
I n d e p e n d e n t e m e n t e d e A l a n Turing, W i e n e r questiona a v i a b i l i d a d e d e
realizar s i m u l a c r o s eletrônicos do cérebro por m e i o de m á q u i n a s digitais. Se a
C i b e r n é t i c a c o n s i d e r a a estrutura de u m a m á q u i n a ou de um o r g a n i s m o c o m o
um i n d í c i o do q u e se p o d e esperar dela, e n t ã o " t e o r i c a m e n t e , se p u d é s s e m o s
construir u m a m á q u i n a q u e imitasse a fisiologia h u m a n a , sua c a p a c i d a d e inte-
lectual e q ü i v a l e r i a à do h o m e m . " 2 3 S e g u n d o W i e n e r - a partir de um sistema de
r e t r o a l i m e n t a ç ã o - " s e a i n f o r m a ç ã o q u e p r o c e d e dos m e s m o s atos da m á q u i n a
p o d e m u d a r os m é t o d o s gerais e a forma de atividade, temos um f e n ô m e n o q u e
p o d e chamar-se d e a p r e n d i z a g e m . " 2 4
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No e n s a i o de T u r i n g t a m b é m e n c o n t r a m o s referências claras à necessi-
d a d e de criar sistemas q u e p e r m i t am a c o m u n i c a ç ã o entre pessoas e m á q u i n a s .
Turing, c o m o W i e n e r , d e d i c a u m c a p í t u l o a o tem a d a a p r e n d i z a g e m a p l i c a d a
ao c o m p u t a d o r . S e u s e n f o q u e s e c o n c l u s õ e s , p o r é m , são e s s e n c i a l m e n t e dis-
tintos. Partindo do p r i n c í p i o de q u e "a e d u c a ç ã o p o d e se efetuar s e m p r e q u e a
c o m u n i c a ç ã o em ambas às direções, quer dizer, entre professor e aluno, se estabe-
leça por a l g u m m e i o " , sua teoria deixa clara a n e c e s s i d a de de criar sistemas q u e
a s s e g u r e m essa c o m u n i c a ç ã o b i d i r e c i o n a l . 2 5 P a r a e l e , deve-se c o n t a r c o m
c a n a i s d e c o m u n i c a ç ã o " n ã o e m o c i o n a i s " , m e d i a n t e o s quais seria " p o s s í v e l
ensinar u m a m á q u i n a (...) a o b e d e c e r a ordens dadas em a l g u m a linguagem, por
e x e m p l o , u m a linguagem s i m b ó l i c a . " 2 6
P o r c o n s e g u i n t e , a idéi a de T u r i n g a p o n t a para a c o n c e p ç ã o do q u e
c h a m a m o s a t u a l m e n t e de " i n t e r f a c e " entre pessoas e c o m p u t a d o r e s digitais.
Esse e l e m e n t o " i n t e r m e d i á r i o " se basearia em um " t r a d u t o r " ou um programa
q u e transformaria as i n f o r m a ç õ e s transmitidas através de u m a l i n g u a g e m simbó-
lica na l i n g u a g e m do c o m p u t a d o r , o c ó d i g o binário. Pode-se então dizer q u e a
interface abre um v e r d a d e i r o c a n a l de c o m u n i c a ç ã o entre a m b o s os sistemas,
h u m a n o e eletrônico.
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Para A l a n Turing, ao contrário, existem diferenças entre o c o m p o r t a m e n t o
d o sistema n e r v o s o h u m a n o , n o q u al " o s f e n ô m e n o s q u í m i c o s são t ã o impor-
tantes q u a n t o os elétricos", 2 9 e as c a p a c i d a d e s de u m a m á q u i n a de tipo discreto.
M á q u i n a s d e estado discreto q u e f u n c i o n a m m e d i a n t e saltos repentinos para
passar de um estado a outro, "estritamente f a l a n d o , n ã o existem (...), já q u e em
realidade tudo se m o v e de maneira contínua". 3 0 Por conseguinte, " u m a m á q u i n a
d e e s t a d o d i s c r e t o d e v e ser diferente d e u m a m á q u i n a c o n t í n u a " . 3 1 Essa sepa-
r a ç ã o é a que, por um lado, impediria a c o n e x ã o direta entre seres h u m a n o s e
m á q u i n a s e, por outro, r e i v i n d i c a r i a o d e s e n v o l v i m e n t o de um " c a n a l " - u m a
interface - q u e permitisse essa c o m u n i c a ç ã o . 3 2 A proposta de T u r i n g significa,
portanto, um passo substancial em d i r e ç ã o ao d e s e n v o l v i m e n t o das interfaces
eletrônicas q u e t o r n e m possível a c o m u n i c a ç ã o entre pessoas e m á q u i n a s e,
portanto, a c r i a ç ã o dos sistemas digitais interativos.
A l a n T u r i n g define a c o m p u t a ç ã o c o m o o m a n e j o formal de s í m b o l o s
(não interpretados) m e d i a n t e a a p l i c a ç ã o de regras formais. 3 6 "A idéia q u e está
por trás dos c o m p u t a d o r e s digitais pode-se e x p l i c a r d i z e n d o q u e se trata de
m á q u i n a s c u j o o b j e t i v o é executar q u a l q u e r o p e r a ç ã o q u e possa ser r e a l i z a da
Estética Digital - 29
por um c o m p u t a d o r h u m a n o " , afirma Turing. 37 Seria necessário, assim, intro-
duzir uma variante da pergunta inicial (Podem as máquinas pensar?), que se
relacionasse c o m o processo que permitiria a simulação de tais operações por
meio de uma máquina universal. A questão é sabermos se seria possível criar
um programa apropriado para essa simulação e se uma máquina dotada desse
programa poderia desempenhar adequadamente sua função. M e s m o que possam
existir máquinas discretas que superem a prova de Turing, não o fariam por
serem réplicas exatas do sistema nervoso humano, mas porque estariam dotadas
de um programa apropriado. Portanto, c o m o afirma o próprio Turing, o problema
é principalmente de programação.
De fato, não foi necessário esperar os 50 anos previstos por Turing para
que fosse possível "programar computadores com uma capacidade de armazena-
mento em torno de 109 para que tomem parte perfeitamente no jogo da imitação". 38
Esses programas já foram criados e superaram a prova de Turing c o m um alto
grau de interatividade. Conseqüentemente, poderíamos concluir que o problema
não se limita à indagação sobre as possibilidades da IA, já que é mais complexo
do que sugere a interpretação literal de sua possível definição. 3 9 Por isso, deve-
ríamos nos colocar, antes de tudo, c o m o propõe o próprio A l a n Turing, as ques-
tões: O que entendemos por inteligência? C o m o definimos o significado dos
termos " m á q u i n a " e "pensar"?
38 Ibidem, p.62.
39 Cf. M. B o d e n , op . cit., p.17.
41 Cf. J o h n R. Searle. Minds, Brains, and Science. Londres: B B C Publications, 1984 (trad, port.: Mente,
Cérebro e Ciência. Lisboa: E d i ç õ e s 70,1984); H u b e r t L. Dreyfus. What Computers Can't Do: The Limits
of Artificial Intelligence, 2 ed. N o v a Y o r k : H a r p e r & R o w , 1979.
30 - CLAUDIA GIANNETTI
f u n c i o n a l m e n t e - de m a n e i r a a n á l o g a a u m a m á q u i n a -, ou seja, o d i a g r a m a
deste processo se evidencia na máquina. Assim, a máquina é, também, uma mostra
do próprio p e n s a m e n t o " . 4 2 B a r u z z i atribui à ferramenta, c o m o produto h u m a n o ,
em virtude da a n a l o g i a q u e ela estabelece entre ser h u m a n o e m á q u i n a , a cono-
t a ç ã o de "sujeito c r i a t i v o " : "O p e n s a m e n t o sub spezie machinae remonta a um
sujeito m e c â n i c o , q u e experimenta sua réplica nos produtos h u m a n o s . " 4 3
O u t r o p i o n e i r o da C i b e r n é t i c a , H e r m a n n S c h m i d t , c o n f i r m a esse caráter
construtivo d a disciplina , m e s m o q u e lhe d ê outra d i m e n s ã o . S c h m i d t c o n f e r e
um significado a n t r o p o l ó g i c o à C i b e r n é t i c a , na m e d i d a em q u e c o l o c a o desen-
v o l v i m e n t o t é c n i c o a serviço das transformações no âmbito h u m a n o . "A primeira
a u t o d e t e r m i n a ç ã o universal do ser h u m a n o na natureza a i n d a n ã o atingida pela
t é c n i c a baseia-se na o b j e t i v a ç ã o da idéia, do simples pensar. Da mesma maneira,
a segunda a u t o d e t e r m i n a ç ã o universal do ser h u m a n o no m u n d o t é c n i c o se
f u n d a m e n t a na objetivação do pensamento e na atuação, q u e nos une ao trabalho
c o m o n o v o m u n d o artificial da técnica." 4 4 Em Schmidt, a progressiva introdução
do m u n d o t é c n i c o na esfera do h u m a n o não tem um caráter opressor, mas, ao
contrário, a s s u m e um sentido de " l i b e r a ç ã o do espírito h u m a n o " , já q u e a vida
o r g â n i c a c o n s e g u e sua liberdad e e c o n s c i ê n c i a na m e d i d a em q u e entra no
processo de d e s s u b j e t i v a ç ã o por m e i o da m e c a n i z a ç ã o . S e u e n s a i o sobr e a
t é c n i c a d o c o n t r o l e , p u b l i c a d o e m 1941, c o n f e r e a o autor u m a d e s t a c a d a
p o s i ç ã o c o m o u m dos f u n d a d o r e s d a teoria cibernética. 4 5 N o entanto, S c h m i d t
d i v e r g e e m alguns pontos d a corrente d e f e n d i d a por N o r b e r t W i e n e r . E n q u a n t o
W i e n e r n ã o a b r a n g e o m u n d o da p e r c e p ç ã o e do p e n s a m e n t o , isto é, o m u n d o
s u b j e t i v o d o p r o c e s s a m e n t o d a i n f o r m a ç ã o , S c h m i d t d e f e n d e q u e a s circuns-
t â n c i a s ou os estados subjetivos constituem a temática científica original da
C i b e r n é t i c a A n t r o p o l ó g i c a . Essa corrente humanista dentro da C i b e r n é t i c a será
a p o i a d a por u m a série de seguidores, cujas teorias a b a r c a m os c a m p o s da Psico-
logia da I n f o r m a ç ã o , da C i ê n c i a C i b e r n é t i c a da L i n g u a g e m e da S o c i o l o g i a
C i b e r n é t i c a , entre outros.
42 Arno Baruzzi. Mensch und Maschine. Das Denken sub spezie machinae. Munique, 1973, p.58.
Citado por Reiner Matzker em: Das Medium der Phanomenalitât. Wahrnehmungs- und erkenntnistheo-
retische Aspekte der Medientheorie und Filmgeschichte. M u n i q u e : W i l h e l m Fink, 1993, p.147.
4 3 Ibidem, p,148.
44 Hermann Schmidt. Die anthropologische Bedeutung der Kybemetik. Reproduktion dreier Texte aus
denjahren 1941, 1953 und 1954. Quickborn, 1965, p.5 e segs. Citado por Reiner Matzker, op. cit.,
p.151.
4S Hermann Schmidt. Denkschrift zur Cründung eines instituis fur Regelungstechnik. Berlim: Verein
Deutscher Ingenieure, 1941.
Estética Digital - 31
A tecnologia da informação, ao propor uma automatização dos processos mentais,
incide direta ou indiretamente nas disciplinas relacionadas c o m a cognição e a
criatividade humanas.
Douglas R. Hofstadter aborda, no seu c o n h e c i d o livro Códel, Escher,
Bach: um entrelaçamento de gênios brilhantes, essa estreita relação entre o
funcionamento dos sistemas formais e informais (biológicos ou técnicos) e a
criatividade ou a estética. 46 Hofstadter, c o m o anteriormente Turing, parte de
uma questão básica: as palavras e os pensamentos estão regidos, ou não, por
regras formais? Sabemos que a formulação do Teorema da Incompletude, de
Kurt G õ d e l (1931) 47 - um ponto de inflexão para a lógica, a matemática e a
filosofia -, c o l o c o u em evidência a distância, até então inadvertida, entre racio-
cínio h u m a n o e raciocínio m e c â n i co ou, c o m o observa Hofstadter, a diferença
existente entre a noção de verdade e a noção de demonstrabilidade. 4 8
Isso significa que os processos que se atêm a raciocínios estritamente
dedutivos poderiam ser programados (e programáveis) tecnicamente num só
nível. Os processos da imaginação e do pensamento exigem, no entanto, diversas
camadas ou níveis, que impedem o uso de qualquer linguagem formal direta,
porque não admitem uma correspondência clara c o m elementos da realidade.
Criatividade, ficção e imaginação não seriam informatizáveis, pois se apoiam
em certos conhecimentos ou manifestações não interpretáveis.
46 D o u g l a s R. Hofstadter. Gódel, Escher, Bach: An Eternal Golden Braid. Basic Books Inc., 1 979 (trad,
port.: Gôdel, Escher, Bach: um entrelaçamento de gênios brilhantes. S ã o Paulo: Imprensa O f i c i a l SP,
2001).
47 Kurt G õ d e l . " Ü b e r Formal Unentscheidbare Satze der Principia Mathematica und Verwandter Systeme
I". Monatshefte für Mathematik und Physik, 38, 1931, p.1/3-198.
48 D o u g l a s R. Hofstadter, op. cit., p.98.
32 - CLAUDIA GIANNETTI
CAPÍTULO 2
Estética e comunicação cibernética
2 Cf. Sybille Kramer. Symbolische Maschinen - Die Idee der Formalisierung in geschichtlichem Abrili.
Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1988, p.87.
via às primeiras considerações sobre a possibilidade de que uma máquina realize
esse processo. Sã o essas premissas que nos permitem entrever um c a m i n h o que
vai da Idade M é d i a - e sua proposta de m e c a n i z a ç ão formal - até o século X X ,
c o m a técnica heurística empregada em sistemas de IA.
Figura 1 - D i a g r a m a de R a m ó n Llull
34 - CLAUDIA GIANNETTI
A partir de Hull, a lógica deix a de ser um ars demonstrandi e transfor-
ma-se em ars inveniendi, um instrumento heurístico para chegar a p r o p o s i ç õ e s
verdadeiras e universais por m e i o de o p e r a ç õ e s lógicas. O processo q u e utiliza
baseia-se na c o m b i n a ç ã o formal dos elementos, o p e r a ç ã o que, por seu caráter
m e c â n i c o , p o d e r i a ser, a p r i n c í p i o , r e a l i z a d a por u m a m á q u i n a . E m outras
p a l a v r a s , afirmar a c a l c u l a b i l i d a d e dos problema s significa considerar a possi-
b i l i d a d e de q u e sejam resolvidos por u m a m á q u i n a , isto e q ü i v a l e a presumir
u m a analogia entre o f u n c i o n a m e n t o lógico do cérebro h u m a n o e o de u m a
m á q u i n a lógica. S u p õ e q u e o r a c i o c í n i o h u m a n o é b a s e a d o em regras, q u e
f u n c i o n a m - assim c o m o a lógica - de forma i n d e p e n d e n t e do c o n t e ú d o da
i n f o r m a ç ã o q u e m a n i p u l a m . O processo se transforma, então, n u m " j o g o de
s í m b o l o s " , q u e e s t a b e l e c e r e l a ç õ e s entre os e l e m e n t o s o b j e t i v o s (os t e r m o s
básicos), livres de contexto ou significado, sobre a base de princípios ou regras
abstratas p u r a m e n t e formais. 3
É p r e c i s o e n t e n d e r q u e o f o r m a l i s m o , da m e s m a m a n e i r a q u e nosso
f u n d a m e n t o c u l t u r a l e social, é um sistema artificial. O p r i m e i r o " m u n d o arti-
f i c i a l " foi c r i a d o c o m a s t é c n i c a s d e r e p r e s e n t a ç ã o plástica d o e n t o r n o ( c o m o
a arte rupestre). O u t r o s m u n d o s artificiais foram gerados a partir da instauração
da l i n g u a g e m por m e i o do alfabeto e da escrita. Ao l o n g o da história da huma-
n i d a d e c o n c e b e r a m - s e , c o n t i n u a m e n t e , n o v o s níveis e processos de artificiali-
d a d e , os q u a i s r e s p o n d i a m às necessidades , impostas em c a d a é p o c a , relacio-
n a d a s c o m a c r i a ç ã o d e sistemas d e c o m u n i c a ç ã o a d e q u a d o s .
3 O "aparelho de discos" lluliano constitui, assim, uma aproximação da lógica e da técnica, método
que será abordado, posteriormente, por Descartes e Leibniz.
Estética Digital - 35
E n c o n t r a m o s um b o m e x e m p l o para a tentativa de elabora r um sistema
lógico de c o m u n i c a ç ã o na teoria geral da c o m u n i c a ç ã o , d e s e n v o l v i d a por C l a u d e
E. S h a n n o n e W a r r e n W e a v e r , a partir de 1948. S h a n n o n dedica-se a investigar,
de m a n e i r a o b j e t i v a , os c a r a c t e r e s físicos das m e n s a g e n s e suas respectiva s
p r o p r i e d a d e s estatísticas. Trata-se d e u m a p r o p o s i ç ã o d e f o r m a l i z a ç ã o a n á l o g a
à da lógica ou das c i ê n c i a s físicas. O m o d e l o de c o m u n i c a ç ã o de S h a n n o n e
W e a v e r baseia-se, segundo eles, na seguinte questão:
Figura 2 - C l a u d e E. S h a n n o n . Sistema de c o m u n i c a ç ã o
4 Claude Shannon e Warren Weaver. The mathematical theory of communication. U r b a n a , 1949, p.31
( " T h e f u n d a m e n t a l p r o b l e m of c o m m u n i c a t i o n is that of r e p r o d u c i n g at o n e point either exactl y or
a p r o x i m a t e l y a message selected at another point. Frequently the messages h a v e m e a n i n g ; that is they
refer to or are correlated a c c o r d i n g to s o m e system w i t h certain p h y s i c a l or c o n c e p t u a l entities. T h e s e
s e m a n t i c aspects of c o m m u n i c a t i o n are irrelevant to the e n g i n e e r i ng p r o b l e m . T h e significant aspect is
that the actual message is o n e selected from a set of possible messages. T h e system must be designed to
operate for e a c h possible selection, not just the o n e w h i c h w i l l actually be c h o s e n s i n c e this is unkno-
wn at the t i m e of design.")
36 - CLAUDIA GIANNETTI
C o m o S h a n n o n frisa, no processo " t é c n i c o " de c o m u n i c a ç ã o , a i n f o r m a ç ã o n ã o
denota significado, mas se refere à quantidad e de sinais ( signals ) q u e pode haver
n u m a m e n s a g e m . Portanto, para S h a n n o n e W e a v e r , o p r o b l e m a p r i n c i p a l da
t é c n i c a de c o m u n i c a ç ã o - por e x e m p l o , a m e d i ç ã o da q u a n t i d a d e de informa-
ç ã o ou da c a p a c i d a d e do c a n a l - encontra-se no â m b i t o da m a t e m á t i c a e da
física, sendo i n d e p e n d e n t e dos sinais ou dos códigos, ou de se os emissores ou
receptores são m á q u i n a s ou seres h u m a n o s .
Estética Racional
O passo i n i c i a l para c o n s e g u i r a f o r m u l a ç ã o de p r o p o s i ç õ e s e n o r m a s
de p r o c e d i m e n t o e v a l o r a ç ã o para u m a estética centrada no c o n c e i t o de men-
sagem consiste em adaptar a teoria da informação à estética. C o m outras palavras,
f o r m a l i z a r a l i n g u a g em e os parâmetros estéticos. A primeira proposta neste
sentido parte do matemático norte-americano G e o r g e D a v i d Birkhoff. A obsessão
em encontrar regras c o n f i á v e is e objetivas para a legitimação estética da obra
de arte leva Birkhoff, em seu estudo titulado Aesthetic measure (1 933), a propor
uma f ó r m u la para a m e d i d a estética, na qual ' O ' seria a m e d i d a da o r d e m e ' C ' ,
a m e d i d a do gasto de material ' M ' . A m e d i d a estética seria representada por
M=0/C.
5 Cf. A b r a h a m A. M o l e s . "A abordagem informacional", in: Mikel Dufrenne (Ed.). A estética e as ciên-
cias da arte. Lisboa: Livraria Bertrand, 1982, p.300.
Estética Digital - 37
Da mesma maneira que W i e n e r , inspirado por Gibbs, insistia na impor-
tância da estatística aplicada à ciência, Birkhoff introduz, em sua teoria estética,
métodos puramente estatísticos para obter uma quantificação da análise da obra.
Trata-se da constituição de uma Estética Racional, que se desvia, notoriamente,
dos modelos estéticos da tradição idealista e romântica.
Podemos entender esse momento c o m o o ponto de cisão da teoria esté-
tica e o de formação das duas principais correntes, que marcam os campos da
investigação estética a partir da segunda metade dos anos 1930. M e s m o que o
objetivo de ambas as correntes seja c o m u m - vincular a legitimação da arte a
fundamentos estéticos confiáveis -, seus discursos seguem caminhos opostos.
Para uma das correntes, que se fundamenta no método, a reflexão sobre a arte só
tem valor enquanto se apóia num procedimento cientificamente válido, capaz
de obter resultados objetivos. Para a outra, na qual os princípios se atêm à idéia
de verdade da arte, a experiência estética, ao não se limitar a uma relação causai
e objetiva, não eqüivale aos conhecimentos alcançados pelas ciências exatas, mas
se baseia em outro tipo de conhecimento subjetivo, em um valor gnosiológico.
Estética Informacional
38 - CLAUDIA GIANNETTI
p r o v e n i e n t e s da c i ê n c i a e largamente utilizados por N o r b e r t W i e n e r . 7 S e g u n d o
Bense, a arte, principalment e a arte moderna, já não pode ser definida em termos
de proporções, simetrias ou h a r m o n i a s c o m o a arte clássica, já q u e enfatiza a
divergência, a evasão da norma. O processo estético tende a uma direção contrária
à do m u n d o físico. A m b o s são, por d e f i n i ç ã o, distintos, u m a v e z q u e o m u n d o
da Física é um m u n d o d a d o , e n q u a n t o q u e o m u n d o da estética é um m u n d o
construído. Falta, segundo Bense, u m a teoria q u e possa valorar o b j e t i v a m e n t e
esse c a m p o e oferecer u m a " p r o g r a m a ç ã o da b e l e z a " .
Bense cria uma clara distinção entre os "materiais" (por exemplo, o pigmento)
e a " s i t u a ç ã o estética" ( o r d e n a ç ã o da cor e da forma na superfície). O " s i g n o " ,
termo q u e resgata da semiótica, i n d i ca u m a c o n s t r u ç ão tridimensional q u e pos-
sui três graus de liberdade: sintática, semântica e pragmática. Estes p e r m i t e m
q u e os signos t e n h a m pesos diversos em diferentes épocas , q u e sejam ambí-
guos. O c o n j u n t o de signos ou a q u a n t i d a d e de e l e m e n t o s materiais constitue m
o repertório. P o r é m , esses e l e m e n t o s n ã o g u a r d a m r e l a ç ã o direta c o m objetos já
existentes, de m o d o que, em u m a a n á l i s e s e m â n t i c a , os signos só f a z e m refe-
r ê n c i a a eles mesmos, isto é, são auto-reflexivos. Por outro lado, B e n s e considera
q u e os signos são inseparáveis do significado e, portanto, são i n f o r m a ç õ e s no
sentido implícito. Essa c o n c e p ç ã o é f u n d a m e n t a l , na m e d i d a em q u e interpreta
7 De acordo com a visão cibernética, a ordem se expressa por meio da redundância, enquanto a trans-
formação procede da inovação.
8 As primeiras propostas de uma interpretação da estética como ciência da arte são formuladas no
século XIX, no círculo positivista de raiz sociológica, como nas obras de Hippolyte Taine ou Jean-Marie
G u y a u , que tentam transferir os princípios das ciências da natureza aos das ciências do espírito. No
entanto, enquanto os positivistas destacam a noção de contexto e a função representativa da arte, a
Estética Racional de Bense se apóia no estudo analítico da própria estrutura da obra, em sua função
"metalingüística" (Roman Jakobson). Bense manifesta, em seu livro Representation unciFundierung der
Realitãten, seu reconhecimento às contribuições fundamentais de Charles S. Peirce e Birkhoff. " O s
conceitos de 'medida formal' (Birkhoff) e de 'classe de signos' (Peirce) formam a pedra angular de uma
ampla e crítica teoria da 'Realidade Estética' (Bense), que se incorporou, progressivamente, à 'Estética
Informacional' (Moles, Bense, Frank, Gunzenhãuser, Maser, Nake, entre outros), criada a partir da
Teoria da Informação ( W i e n e r , Shannon, entre outros)." Cf. M a x Bense, op. cit., p.97.
9 O termo "Estética G e r a t i v a " foi empregado por Max Bense no ensaio entitulado "Projekte generativer
Àsthetik", publicado na revista Rot 19 e também na parte V de seu livro Aesthetica. Texto citado por
Erwin Steller em: Computer und Kunst. M a n n h e i m : BI Wissenschaft Verlag, 1992, p.198.
Estética Digital - 39
o processo estético c o m o um processo i n f o r m a c i o n a l , a c e n t u a n d o a natureza
n ã o e x c l u s i v a m e n t e física do o b j e t o estético.
11 Max Bense, "Àsthetische Kommunikation", in: Semiotik. Allgemeine Theorie der Zeichen. Baden-
B a d e n : Agis-Verlag, 1967, p.18-25.
40 - CLAUDIA GIANNETTI
c u j a m e d i a ç ã o baseia-se na c o m u n i c a ç ã o , é construída por " s i g n o s " . B e n s e pro-
põe no livro Repràsentation und Fundierung der Realitãten (Representação e
fundamento das realidades), u m a b r e v e revisão histórica do processo de desen-
v o l v i m e n t o de u m a teoria estética " m o d e r n a " , q u e o autor relaciona , de manei-
ra intrínseca, c o m u m a teoria não-metafísica, q u e se manifesta na teoria da "Re-
a l i d a d e Estética" o u das " S i t u a ç õ e s Estéticas".
Estética Digital - 41
M e s m o que ambos partam dos mesmos fundamentos - a Cibernética de
W i e n e r , a Teoria da informação de Shannon e a Semiótica de Peirce diferem
no propósito final.
J.-F. Lyotard. La condición posmoderna. M a d r i : Cátedra, 1989, p.11 (Ver t a m b é m A condição pós-
moderna. R i o de J a n e i r o : J o s é O l y m p i o , 1998).
42 - CLAUDIA GIANNETTI
jogos nos q u a i s a pertinênci a não é n e m a v e r d a d e i r a , n e m a justa, n e m a bela,
mas a eficiente". 1 6
S e g u i n d o a teoria de M o l e s , se as m á q u i n a s d e v e m simular, de m a n e i r a
efetiva, a c r i a ç ã o intelectual, então o centro de a t e n ç ã o d e v e ser a simulação de
obras de arte, p e l o seu v a l o r n ã o determinista e sua estrutura p o u c o h i e r á r q u i c a .
Para ele, é necessário d e s e n v o l v e r um ou vários programas e pensar, d e s d e o
início, sobre o p a p e l q u e d e s e m p e n h a r á o artista nesse processo. A n o v a f u n ç ã o
q u e assume o criador em r e l a ç ã o a u m a obra gerada a partir do c o m p u t a d o r é,
segundo M o l e s , por um lado a do esteta e, por outro, a do programador. Esteta
no sentido de q u e e l e d e v e estabelecer todos os critérios artísticos da obra q u e
será produzida pelo programa, enquant o q u e sua f u n ç ã o prática é a de realizar o
algoritmo q u e abranja esse leque estético, t r a d u z i n d o as necessidades criativas
para a l i n g u a g e m binária da m á q u i n a . A idéia de tradução c o m o a ç ã o artística é
p a r t i c u l a r m e n t e sugestiva e u m a mostra da p e c u l i a r c o n t r i b u i ç ã o de M o l e s -
n e m s e m p r e r e c o n h e c i d a - para a teoria da estética digital, p r i n c i p a l m e n t e em
r e l a ç ã o à a n á l i s e do papel do artista e da c o m u n i c a ç ã o h u m a n o - m á q u i n a na
c r i a ç ã o da obra eletrônica. V o l t a r e m o s a esse c o n c e i t o ao nos referir à interface.
Estética Digital - 43
e l a b o r a d a s à mão , o o b j e t i v o é c h e g a r a u m a pintura de elétrons, em forma de
i m a g e m e m m o v i m e n t o . P o r é m , a tentativa d e montar u m f i l m e c o m imagens
pintadas à m ã o mostra-se c o m o u m a tarefa d e m a s i a d o trabalhosa. C õ t z c a l c u l a
q u e seriam necessários 40 anos para se produzir, desta forma, um f i l m e de d e z
m i n u t o s . S e u o b j e t i v o s ó seria p o s s í v e l s e e m p r e g a s s e , para isto, u m c o m p u -
t a d o r de g r a n d e potência, o que, nesta é p o c a , n ã o era acessível.
T o m a n d o esse fato c o m o e x e m p l o , M o l e s p r o p õ e q u e d e t e r m i n a d a s
m á q u i n a s d e v a m f u n c i o n a r c o m o um Amplificador de capacidade, c o m o assis-
tentes q u e f o r n e ç a m a j u d a ao criador, facilitando, assim, o laborioso processa-
m e n t o de i n f o r m a ç ã o e possibilitando a e x e c u ç ã o de idéias c o m p l e x a s .
44 - CLAUDIA GIANNETTI
se baseia). Na etapa sintética, se s e l e c i o n a um dos símbolos ou estilos, definidos
segundo critérios da i m a g i n a ç ã o ou do acaso, e se cria, por m e i o de processos
c o n t í n u o s de busca ou seleção, u m a obra q u e se a d a p t e às premissas estéticas
e s t a b e l e c i d a s p e l o artista. O p a p e l do artista limita-se, a s s i m , à d e f i n i ç ã o
dos parâmetro s artísticos ou estilísticos q u e d e v e seguir o programa, q u e criará
outras obras s e g u n d o esse m o d e l o . O responsável pela e x e c u ç ã o da obra final
já n ã o é o artista, mas a m á q u i n a .
Estética Digital - 45
corresponderá a uma necessidade, a uma exigência de medida. Nós passamos
da arte da espontaneidade criativa à arte de consumo: a arte mecânica dá bons
resultados na concepção de novas produções culturais que abastecem o meio
social através da ingerência dos meios de comunicação de massas; somente esta
arte é capaz de levar a cabo a combinatória, ou de investigar o campo de possi-
bilidades definido a partir de uma base de originalidade. 22
E m r e l a ç ã o a o observador, M o l e s p r e v ê o a p a r e c i m e n t o d e u m a n o v a
"enfermidade" v i n c u l a d a ao mund o da tecnologia: a " a l i e n a ç ã o cultural".23
S e g u n d o M o l e s , o i n d i v í d u o c o n s u m i d o r perdeu, c o m o resultado de seu distan-
c i a m e n t o do i n d i v í d u o criador, todo acesso à e s p o n t a n e i d a d e . Na cultura de
tipo m o s a i c o , baseada no excesso de e l e m e n t o s díspares, formam-se, do ponto
de vista cultural, duas sociedades diferenciadas: u m a constituída quase exclusi-
v a m e n t e por consumidore s culturais ou de produtos elaborados por máquinas;
outra f o r m a d a por intelectuais e artistas, c a p a z e s de certo ascetismo, q u e se
a p ó i a na arte permutacional para, assim, recuperar o jogo original e a espontanei-
d a d e q u e e r a m inerentes à arte desde o princípio. Essa s e p a r a ç ã o entre o m u n d o
da arte e o da s o c i e d a d e de massas seria, segundo M o l e s , o q u e permitiria ao
artista manter sua liberdade, i n c l u s i v e em m e i o à " i n v a s ã o das m á q u i n a s " .
22 M o l e s , o p . cit., p . 3 3 0.
46 - CLAUDIA GIANNETTI
c r i a n d o simples "letrismos"; no estágio seguinte, passa a processar fonemas e pro-
duzir poesia "ultraletrista"; o próximo passo consiste na c r i a ç ã o de frases q u e
c o n d u z a m a u m a "literatura p e r m u t a c i o n a l " ; e no último nível escreve todo um
"livro permutacional" . "A idéia do programa se apresenta c o m o o próprio algoritmo
do espírito. Esse método significa u m a f o r m a l i z a ç ão das etapas do pensamento." 2 5
Se o artista transforma-se em programador, se os valores estéticos estão
predeterminados por um sistema o p e r a c i o n a l e se a obra segue os métodos de
criação estabelecidos, então nos resta averiguar qual seria, nesse contexto, a função
do esteta. Ou será q u e não haveria mais a possibilidade de um j u í z o estético?
Estética Cibernética
25 O princípio mais parecido ao da teoria informacional talvez seja o da doutrina pitagórica, na qual o
número constitui a base de todas as valorações.
26 Moles, op. cit., p.328.
27 Ibidem, p.331.
Estética Digital - 47
Bense, Siegfried Maser e Helmar Frank, dão continuidade à investigação da Esté-
tica Informacional que, no caso de Maser, conduz a uma Estética Numérica (Maser,
1970), e no de Helmar Franke, à Estética Informacional de fundo psicológico. 28
Helmar Frank e Herbert W. Franke tentam obter uma síntese das teorias de
Moles e Bense. Para eles, é especialmente relevante a contribuição de Moles para
a inter-relação entre o estudo da percepção e a teoria da informação. A Psicologia
da Informação, originada dessas proposições, servirá de base para os princípios
estéticos d e s e n v o l v i d os por esses pesquisadores. As principais c o l a b o r a ç õ e s
dessa disciplina consistem em se desvincular da idéia romântica segundo a qual o
observador é um simples "consumidor inerte" de arte e sustentar que, por um
lado, " n ã o existe uma percepção passiva" e, por outro, a "obra de arte é objeto de
c o m u n i c a ç ã o " (Moles). Corrigem, assim, um lapso na teoria de Bense a respeito
da omissão da função partícipe do receptor na obra de arte. Um ponto de vista
que Bense assimila, sem dúvida, da teoria cibernética wieneriana, que tampouco
incluiu o mundo da percepção subjetiva em seu programa de investigação, uma
vez que não considerava esse fenômeno passível de observação estatística.
Em seu artigo "Kunst kontra T e c h n i k " ("Arte contra técnica", Paris, 1978),
Franke destaca a posição central dos processos de p e r c e p ç ã o na prática da
informação estética. 29 Para sua valoração, deve-se recorrer à disciplina ciberné-
tica da Psicologia da Informação, que permite investigar a dimensão do fluxo de
informação assimilável pelos sentidos humanos. Essa informação estética esbarra,
porém, num dilema: espera-se que uma obra de arte produza um efeito dura-
douro no tempo, portanto, que tenha um alto grau de complexidade, mas, ao
mesmo tempo, constata-se que as c a p a c i d a d e s físicas do receptor se circuns-
c r e v e m a determinados limites. 30
28 Cf. A. Moles e Helmar Frank. Crundlagenprobleme der Informationsãsthetik und erste Anwendung
auídie mime pure. Dissertation. Stuttgart: T e c h n i s c h e H o c h s c h u l e , 1959; Kybernetische Analysen sub-
jektiver Sachverhalte. Quickborn/Hamburgo: Verlag Schnelle, 1964; Herbert W. Franke. Phanomen
Kunst. C o l ô n i a : D u M o n t B u c h v e r l a g , 1974 (2. ed.).
48 - CLAUDIA GIANNETTI
disso, p o d e e s t a b e l e c e r inter-relações e n t r e estes estratos, aos q u a i s o espec-
t a d o r poderá se d e d i c a r , em fases posteriores, ao processo de a s s i m i l a ç ã o . " 3 ' O
o b j e t i v o desse m o d e l o c i b e r n é t i c o centra-se na possibilidade de ser a p l i c a d o na
prática, ao contrári o dos discursos filosóficos de outras correntes estéticas.
A C i b e r n é t i c a , c o n s i d e r a da c o m o um c r u z a m e n t o de c i ê n c i a s q u e tenta
inter-relacionar os conhecimentos tratados de forma até então isolada pelas distintas
disciplinas científicas, i m p u l s i o n a a v o c a ç ã o experimental e interdisciplinar a
q u e se refere Franke. T a l v e z sejam esses componentes, o experimental e o pluri-
medial, os q u e mais atraíram a a t e n ç ã o dos vários criadores da é p o c a .
Estética Digital - 49
A partir de m e a d o s dos anos 1 950, artistas influenciados pelos enfoques
e m é t o d o s c i b e r n é t i c o s , c o m o o h ú n g a r o N i c o l a s S c h õ f f e r (1 91 2 - 1 992), e n t ã o
r a d i c a d o na F r a n ç a ; o c o r e a n o N a m J u n e Paik, r a d i c a d o na A l e m a n h a e d e p o i s
nos Estados U n i d o s , e o b r i t â n i c o C u s t a v M e t z g e r , e n t r e outros, c o m e ç a r a m
a c r i a r o b r a s de arte, principalmente environments, b a s e a d o s em sistemas
e l e t r ô n i c o s , e m p r e g a n d o sensores, c é l u l a s f o t o e l é t r i c a s e outras t e c n o l o g i a s
disponíveis na época.
Essas e o u t r a s o b r a s d e S c h õ f f e r d e m o n s t r a m , a l é m d e seu c a r á t e r
i n t e r d i s c i p l i n a r , sua v o n t a d e de integrar o o b j e t o da arte ao e n t o r n o e trans-
f o r m á - l o n u m sistema em constante processo. Essas idéias tornam-se evidente s
em outra s é r ie de obras denominada Cromoclinâmica. As obras, segundo
S c h õ f f e r , d e v e m m u d a r c o m o os seres h u m a n o s e a natureza , portanto, d e v e m
e v i t a r o e s t a d o inerte do o b j e t o . P a r a c o n s e g u i - l o , S c h õ f f e r p r o g r a m a nos
seus p r o j e t o s e l e m e n t o s i n d e t e r m i n i s t a s i n f l u e n c i á v e i s tanto por f e n ô m e n o s
n a t u r a i s - q u e r e s p o n d e m , por m e i o de sensores e l e t r ô n i c o s , às m u d a n ç a s
c l i m á t i c a s ou à p r e s e n ç a de pessoas - c o m o pela a ç ã o de intérpretes - q u e
respondem à m a n i p u l a ç ã o do espectador. Nessa proposição e n c o n t r a m o s os
f u n d a m e n t o s - de s u m a i m p o r t â n c i a no c o n t e x t o da media art - da o b j e ç ã o
ao culto do objeto e da ênfase no processo de criação, c o m o explica Schõffer
em uma entrevista a Douglas Davis:
33 Frank Popper. Arte, acción y participación. Madri: Ediciones Akal, 1989, p.225.
50 - CLAUDIA GIANNETTI
Creio que o elemento essencial na criação artística consiste em ressaltar o efeito
da idéia, mesmo quando se vai além do objeto. A tecnologia me permitiu fazê-lo.
Minhas técnicas cromodinâmicas apontam, justamente, para esta meta. No cinema
convencional, o filme está programado segundo a idéia. Na série Cromodinâmica,
a programação libera o efeito direto e reduz o objeto apresentado a seu sumário
papel. Isto é, na medida em que a programação da idéia foi transferida para a
programação do resultado, o objeto na criação artística encontra-se, irrevogavel-
mente, afetado. Isto demonstra o que sempre se considerou verdade: que a arte não
é feita com as mãos ou com os músculos, mas sim com a imaginação criativa.34
P r o f u n d a m e n t e i n f l u e n c i a d o pelas idéias de J o h n C a g e e da C i b e r n é t i c a ,
Nam J u n e Pai k r e l a c i o n a o c o n c e i t o de liberdade c o m os p r o b l e m a s da comuni -
c a ç ã o na arte. T a n t o suas c o m p o s i ç õ e s c o m o , posteriormente, suas obras de
arte eletrônica p r o p õ e m a c o m u n i c a ç ã o , não c o m o um m o d o de transmissão de
mensagens informativas ou explicativas, mas c o m o uma forma de interação livre
entre p ú b l i c o e obra. S e g u n d o Paik, a forma de indeterminismo pesquisada pelos
músicos sofre, principalmente, de univetorialidade. " N a maioria das peças musicais
indeterministas - afirma P a ik - o compositor atende à possibilidade de d e c i s ã o
ou à liberdad e do intérprete, mas n ã o à do p ú b l i c o . O o u v i n t e só possui uma
liberdade, q u e consiste em escutar ou não a música." 3 3
" Douglas Davis. Vom Experiment zur Idee. Colônia: D u M o n t , 1975, p.145.
35 N a m J u n e Paik. Niederschriften eines Kulturnomaden (Edith Decker, comp.). C o l ô n i a : DuMont
B u c h v e r l a g , 1992, p.100.
Estética Digital - 51
e a c o m p o r sua própria música. Por exemplo, a obra Schallplattenschaschlik
consiste num toca-disco c o m a possibilidade de acumular dez níveis de discos
em movimento, e um braço com um cabo longo, que permite ao visitante escutar
qualquer um dos discos. Em outra obra, Random Access, estão pendurados e
distribuídos aleatoriamente na parede fragmentos de fitas magnéticas. A c a b e ç a
reprodutora do magnetofone foi desmontada, porém continua enviando infor-
m a ç ã o ao aparelho, de maneira que o visitante pode passá-la sobre as fitas e
reproduzir os sons dos fragmentos musicais. Esses e outros objetos sonoros cons-
tituem a série denominada Participation Music.
A parte da exposição dedicada à Electronic Television é formada por 12
televisores, cujos dispositivos de recepção foram manipulados, ou cujos impulsos
de sincronismo do aparelho originam distorções, como formas circulares, manchas,
listras etc., isto é, imagens que, do ponto de vista técnico, não são mais que
defeitos ou ruídos. Alguns dos televisores funcionam c o m o versões visuais de
seus objetos sonoros para intervir, transformando-se em Participation TV. Um
televisor possui um interruptor de pé acoplado que, ao ser a c i o n a d o pelo espec-
tador, provoca uma pequena explosão de luz na tela. O u t r o possui um micro-
fone que transforma as vibrações da voz humana em vibrações visuais. Seguindo
esse mesmo princípio, Paik une a outro televisor um aparelho de rádio conec-
tado, cuja intensidade de transmissão faz c o m que o único ponto de luz, no
centro da tela negra, aumente ou diminua conforme o volume. Participation Music
ou Participation TV são exemplos importantes dessa primeira etapa de desen-
volvimento da arte participativa, na qual se buscam estratégias tanto para incor-
porar processos indeterministas à criação eletrônico-visual, c o m o para propor-
cionar uma nova forma de intervenção do público no funcionamento da obra.
52 - CLAUDIA GIANNETTI
t a m b é m se mostraram sensibilizadas à situação de " i n é r c i a " , tanto da obra de
arte c o m o d o espectador. C o m o d e m o n s t r a m o s e x e m p l o s d e Schõffer o u Paik,
os artistas c o m e ç a r a m a questionar a p o s i ç ã o passiva do espectador frente à
obra de arte e a formular propostas q u e motivassem a p a r t i c i p a ç ã o do p ú b l i c o .
A obra se abriu à informaçã o proveniente do espectador ou do meio, infundindo,
assim, a idéia de u m a c o m u n i c a ç ã o b i d i r e c i o n a l .
Estética da Percepção
Estética Digital - 53
provocar irritação, assim como um nível muito baixo produz sensação de mono-
tonia. A informação transmitida por uma obra de arte deve manter um equilíbrio
quantitativo e, por outro lado, gerar tipos de informação pouco redundantes
(princípio da exceção ou inovação): quando se alcança esse nível, se produz no
espectador a sensação agradável de ter captado algo novo, algo criativo.
A partir da teoria da informação, Frank propõe uma ampliação do pro-
cesso de c o m u n i c a ç ã o . De acordo c o m essa sugestão, a informação estética
não dependeria exclusivamente de um sentido de c o m u n i c a ç ã o unidirecional -
emissor-mensagem-receptor -, mas deveria permitir ao sujeito receptor se trans-
formar em emisor no contexto da obra de arte. N ã o se trata, porém, de uma
c o m u n i c a ç ã o "automática", produto de um reflexo inconsciente. Para Frank, a
criatividade consiste, justamente, na c o n c e p ç ã o consciente de signos comuni-
cativos, e não no emprego dos signos reais. Assim, a criação e a recepção esté-
ticas são valoradas de maneira proporcional ao grau de automatismo que contêm:
quanto mais automatizadas, menos valor estético possuem. A idéia de Frank, neste
sentido, não está muito distante dos conceitos cibernéticos de redundância e
complexidade. Está claro, assim mesmo, que sua postura vai contra a corrente
da Arte Cibernética que pesquisa no c a m p o da indeterminação, do aleatório ou
da randomização, processos originados, basicamente, de forma automática.
M C o m o nas obras de H e r m a n de Vries, Kurt Ingeri, Gerhard von Graevenitz, Peter Struycken e Zdenèk
Sykora.
54 - CLAUDIA GIANNETTI
C a b e a q ui lembrar que, nos anos 1960, se d e s e n v o l v e u m a m e t o d o l o g i a
de a n á l i se em torno da teoria gerativa, centrada, sobretudo, no c a m p o da teoria
da linguagem . N o a m C h o m s k y p r o p õ e m o d e l o s "gerativos e transformativos"
q u e analisam as diferentes estruturas - superficial e profunda - das frases. Trata-se
de m o d e l o s dedutivos, c u j o o b j e t i v o não é analisar os fatos ou produzir frases,
mas sim d e s c r e v e r o processo de p r o d u ç ã o de c a d e i a s abstratas e determinar
um c o n j u n t o de regras " g e r a t i v a s " q u e a b r a n g e m a sintaxe, a s e m â n t i c a inter-
pretativa e a f o n o l o g i a . O r a c i o n a l i s m o de C h o m s k y não está muito distante da
estética racionalista i n f o r m a c i o n a l ou c i b e r n é t i c a . O propósito de vários artistas
q u e t r a b a l h a m c o m o c o m p u t a d o r de gerar a obra a partir do d e s e n v o l v i m e n t o
de um d e t e r m i n a d o processo de s e l e ç ã o de repertório e distribuição estatística
guarda, certamente, relação c o m a proposta da gramática gerativa de considerar
a existência de m e c a n i s m o s de c o n s t r u ç ão gerativos.
40 Frieder Nake. Âsthetikals Informationsverarbeitung, 1974, p.188. Citado por Erwin Steller, Computer
und Kunst. Programmierte Cestaltung: Wurzeln und Tendenzen neuer Âsthetiken. Mannheim:
Wissenschaftsverlag, 1992, p.198.
41 Cf. Erwin Steller. Computer und Kunst, op. cit., p.1 77-178.
Estética Digital - 55
Na C i b e r n é t i c a o c o n c e i t o de r e d u n d â n c i a está i n t i m a m e n t e relacio-
n a d o c o m o de complexidade e ambos devem ser julgados de acordo c o m um
sujeito referente (um observador). A proposta estética de Nees não é diferente.
Q u a n t o mais conhecidos são os modelos ou as formas de um repertório, mais
redundantes e menos complexos serão. Conseqüentemente, diminui o grau de
inovação da obra. A informação estética se fundamenta, portanto, não só nos
conteúdos transmitidos, mas, principalmente , no receptor da m e n s a g e m : o
p ú b l i c o . O artista Manfred Mohr, por exemplo, aplica intencionalmente ele-
mentos que perturbam ou destroem a simetria e o equilíbrio, para conseguir
uma tensão visual e, assim, certo interesse estético. 42
56 - CLAUDIA GIANNETTI
global. " O o b j e t i v o e s p e c í f i c o consiste, por tanto, e m e n c o n t r a r m o d e l o s d e
c o n h e c i m e n t o e de j u í z o estético q u e possam ser a p l i c a d o s a todas as artes." 4 3
Os estetas c i b e r n é t i c os t ê m c o n s c i ê n c i a de q u e isto só é possível traba-
l h a n d o c o m u m grau d e abstração e x t r e m a m e n t e alto. N ã o s e p o d e a l c a n ç a r
essa meta u t i l i z a n d o os p a r a d i g m a s das teorias estéticas " t r a d i c i o n a i s " , u m a v e z
q u e grande parte delas tenta explicar os processos estéticos por m e i o de conceitos
subjetivistas ou de proposições estilísticas. As teorias de fundo subjetivo defendem
a idéia de q u e o j u í z o estético, c o m o j u í z o de gosto, n ã o p o d e ser f o r m u l a d o à
margem do sentimento, reafirmand o a impossibilidad e de c o m u n i c á - l o a partir
de conceitos ou de regras lógicas universais. Ao contrário, os formalistas defendem
a autonomia da forma e um juízo estético baseado em categorias físicas, portanto
no c o n h e c i m e n t o e na a p r e c i a ç ã o dos e l e m e n t o s concreto s da arte, tais c o m o as
formas, as cores, as f r e q ü ê n c i a s etc.
Hoje, deveria haver ampla aceitação do fato de que a arte não é um processo
físico. Desde a criação da Cibernética sabe-se que em nosso mundo, além dos
aspectos materiais e energéticos, existe outro aspecto a partir do qual se pode
chegar à compreensão da estrutura de ação de nosso mundo. Este aspecto é o da
informação. Asseguramos que esta perspectiva adapta-se perfeitamente ao fenô-
meno da arte: toda atividade artística está relacionada com a informação. No ato
criativo se gera a informação; na recepção por parte do público a informação é
processada; e pelo meio a informação é transmitida, o que é, normalmente, deno-
minado comunicação. Assim, partindo da base da Teoria da Informação ou da
Cibernética, abreviamos o caminho até a proposição de um modelo artístico geral.44
" Herbert Franke. " G i b t es eine asthetische Information?", in: Frank e Franke. Àsthetische Information,
op. cit., p.106.
" I b i d e m , p.106-107.
Estética Digital - 57
reduzir a imitação estética à mesma proporção da abstração estética, permi-
tindo, por meio da e m a n c i p a ç ã o do meio estético, a introdução de uma cinética
estética", 45e\e está propondo, em outras palavras, uma ruptura explícita c o m a
teoria estética precedente, que sempre remeteu aos objetos e às formas. A "ciné-
tica" se refere a esse outro modo de conceber a obra, não mais c o m o um objeto
a c a b a d o e inerte, mas c o m o uma estrutura que mantém, de maneira latente, a
possibilidade de transformar-se, converter-se e diversificar-se (como a informação).
Entender a obra c o m o informação significa, conseqüentemente, abrir passo a
esse tipo de c o n c e p ç ã o estética.
58 - CLAUDIA GIANNETTI
CAPITULO 3
Estética e contexto comunicativo
60 - CLAUDIA GIANNETTI
Por exemplo, a nova informação "visão do mundo newtoniana" não saiu da cabeça
de Newton, mas é fruto da computação da mecânica "terrena" (Galiieu) com a
mecânica "celeste" (Kepler). Este tipo de computação chama-se diálogo. Em re-
lação ao exemplo dado: um diálogo entre Galiieu e Kepler. Este tipo de diálogo
pode se dar na memória de uma pessoa, como se deu, por exemplo, na cabeça de
Newton. O diálogo pode ser provocado pelo acaso - como no exemplo acima,
através da queda de uma maçã (si non è vero, è ben trovato). Anteriormente isto era
denominado "inspiração" ou "processo criativo", porém, na atualidade já pode
ser programado pelo computador, o que explica a massa de novas informações que
nos acomete hoje em dia. Este tipo de informações, geradas de forma dialógica,
é transmitida a outras memórias (humanas ou artificiais), onde é armazenada. A
esta transmissão se denomina discurso. Os discursos podem ser classificados segundo
sua estrutura: por exemplo, uma estrutura "emissora" - como a da televisão ou
dos periódicos -, "ramificada" - como nos discursos das ciências ou das artes -
e "aberta" - como nas classes. (...) A estrutura da sociedade pode ser entendida
como uma rede de estruturas discursivas superpostas umas às outras.'
' Vilém Flusser. Die Revolution der Bilder-Der Flusser-Reader zu Kommunikation, Medien und Design.
M a n n h e i m : B o l l m a n n Verlag, 1995, p.17.
Estética Digital - 61
que impede os diálogos, existindo a ameaça de que a estrutura social se desin-
tegre numa massa amorfa." 2
62 - CLAUDIA GIANNETTI
em nossa s o c i e d a d e : a s o c i e d a d e não está f o r m a d a por pessoas, mas por comu -
n i c a ç õ e s . Essa teoria, defendida por N i k l a s L u h m a n n , postula um n o v o e n f o q u e
da T e o r i a de Sistemas na m e d i d a em q u e a b a n d o n a , definitivamente , o m o d e l o
organicista, no q u a l p r e v a l e c i a a p o s i ç ã o central do i n d i v í d u o na r e l a ç ã o parte-
todo. Essa v i a c o n d u z à d e s a n t r o p o m o r f i z a ç ã o da n o ç ã o de organismo e, em
c o n s e q ü ê n c i a , à d e s c e n t r a l i z a ç ã o do sujeito em r e l a ç ã o ao sistema-meio.
Em primeiro lugar, é improvável que alguém compreenda o que outro quer dizer,
tendo em conta o isolamento e a individualização da sua consciência. O sentido
só se pode entender em função do contexto e, para cada um o contexto é, basi-
camente, o que a sua memória lhe faculta. A segunda improbabilidade é a de
aceder aos receptores. É improvável que uma comunicação chegue a mais
pessoas do que as que se encontram presentes numa situação dada. O problema
assenta na extensão espacial e temporal. (...) A terceira improbabilidade é a de
obter o resultado desejado. Nem sequer o fato de uma comunicação ter sido
entendida garante que tenha sido também aceita. Por "resultado desejado"
entendo o fato de que o receptor adote o conteúdo seletivo da comunicação (a
informação) como premissa do seu próprio comportamento, incorporando à
seleção novas seleções e elevando assim o grau de seletividade. 3
Estética Digital - 63
terceiro tipo de meio: os "meios de c o m u n i c a ç ã o simbolicamente generalizados".
Esses s u r g e m n o m o m e n t o e m q u e a s t é c n i c a s d e d i f u s ã o p e r m i t e m a trans-
m i s s ã o de informações para um número d e s c o n h e c i d o de indivíduos "ausentes".
A imprensa, a televisão e, mais recentemente, a Internet d ã o forma e determina m
esse tipo de meio . Sua e f e t i v i d a de deve-se ao longo processo de a p r e n d i z a g e m
no seu m a n e j o e n ã o p o d e ser m e d i d a pelo simples " c o n s u m o " do meio , mas
pela c a p a c i d a d e de usá-lo para assegurar a c o n t i n u i d a d e desse tipo e s p e c í f i c o
de comunicação.
A Teoria de Sistemas recente, tal como a vejo, abandonou a sua perspectiva tradi-
cional introduzindo uma referência explícita ao ambiente. A noção de ambiente
não implica somente que algo mais existe fora do sistema em estudo. Não se trata
de distinguir entre "aqui" e "em qualquer outro lugar". A nova tese, em vez disso,
propõe o seguinte: as estruturas e processos de um sistema só são possíveis em
relação a um ambiente, e só podem ser entendidas se estudadas nesta relação.
Assim é, pois só por referência a um ambiente é possível distinguir (num sistema
dado) algumas funções como um elemento e outras funções como uma relação
entre elementos. Exagerando um pouco, podemos até dizer que um sistema é a sua
relação com o seu ambiente, ou que é a diferença entre sistema e ambiente."
4 N. L u h m a n n , o p. cit., p.99.
64 - CLAUDIA GIANNETTI
c o m o interação. Nesse caso, a interação d e v e ser c o n s i d e r a d a uma c a p a c i d a d e
Inerente ao ser h u m a n o ao atuar c o m o o b s e r v a d or e ser parte integrante de um
contexto específico . Portanto, o observador n ã o p o d e ser e n t e n d i d o indepen-
d e n t e m e n t e do m e i o c o m o q u a l se relaciona . O o b s e r v a d o r p o d e interagir tanto
c o m a e n t i d a d e o b s e r v a d a - i n c l u s i v e q u a n d o se trata do próprio o b s e r v a d o r -,
quanto c o m o seu meio . Q u a n d o L u h m a n n fala d a c o m u n i c a ç ã o c o m o processo
auto-referente dos sistemas e, como tal, autodinâmico e auto-regulador dos
mesmos, refere-se, justamente, a esta c i r c u l a r i d a d e da o r g a n i z a ç ã o dos seres
v i v o s q u e lhes permite estabelecer relações e interações. E, efetivamente, a natu-
reza c i r c u l a r de sua o r g a n i z a ç ã o q u e faz q u e os sistemas v i v o s seja m auto-refe-
renciais. Os seres v i v o s participa m recursivamente, por m e i o de suas interações,
da g e r a ç ã o e r e a l i z a ç ã o de u m a rede de processos que, ao m e s m o t e m p o em
q u e são p r o d u z i d o s e m a n t i d o s por eles, c o n s t i t u e m essa m e s m a r e d e de
processos d e p r o d u ç ã o .
5 Alexander Bogdanov. Tektología. Publicado na Rússia em três volumes entre 1912 e 1917.
' V e r L u d w i g von Bertalaffly. " D e r Organismus ais physikalisches System betrachtet", in: Die Naturwis-
senchaften, vol. 28,1940, p.521 -531; "The Theory of O p e n Systems in Physics and Biology", in: Science,
vol. 111, 1950, p.23-29; General System Theory. N o v a York: Brazilier, 1968.
Estética Digital - 65
de Sistemas) à questão da o r g a n i z a ç ã o . S e g u n d o v o n Foerster, todo sistema v i v o
a u t ô n o m o - " a u t ô n o m o " n o sentido q u e s o b r e v i v e , prospera o u d e s a p a r e c e
sob suas próprias leis - é f e c h a d o do ponto de vista o r g a n i z a c i o n a l , isto é, sua
o r g a n i z a ç ã o é c i r c u l a r , auto-referencial e recursiva. Para ele, a " r e a l i d a d e é
u m a c o n c e p ç ã o interativa, p o r q u e o o b s e r v a d o r e o o b s e r v a d o f o r m a m um par
m u t u a m e n t e d e p e n d e n t e " . A o b j e t i v i d a d e é, c o n s e q ü e n t e m e n t e , u m a ilusão do
sujeito de q u e a o b s e r v a ç ã o p o d e existir sem ele. Isto i m p l i c a q u e a o b s e r v a ç ã o,
se p r o d u z por m e i o do a c o p l a m e n t o entre o b s e r v a d o r e a u n i d a d e do sistema,
no próprio c a m p o no q u a l opera a unidade.
A principal característica que distingue o sistema nervoso é ser uma rede fechada
de neurônios interatuantes, nos quais cada estado de atividade neural gera outros
estados de atividade neurônica. Dado que o sistema nervoso é um subsistema
constituído numa unidade autopoiética, opera gerando estados de relativa atividade
neural que participam na realização da autopoiese do organismo que integra.9
10 I b i d e m , p.226.
66 - CLAUDIA GIANNETTI
de i n t e r a ç ã o e n o v o s instrumentos p o d e m a m p l i a r o d o m í n i o c o g n i t i v o . "A
e x p a n s ã o dos processos cognitivos (atuar e interatuar) no d o m í n i o das simples
relações p e l o sistema nervoso tornou possíveis interações n ã o físicas entre os
organismos e, portanto, a c o m u n i c a ç ã o . " "
Estética Digital - 67
exerce influência sobre a atuação das demais e dá lugar à e v o l u ç ã o e à organi-
z a ç ã o coletiva no sistema. Os braços robóticos reagem, individualmente ou em
grupo, à presença ou movimento do espectador. Essa interação gera evoluções
progressivas em tempo real que também induzem o sistema à auto-organização.
M e i o e observador desempenham, assim, um papel especialmente relevante,
uma vez que interferem no comportamento individual e do grupo como se fossem
seres biológicos. Essa instalação interativa propõe dois níveis de organização: o
processo de organização interna, gerado pela intercomunicação entre os robôs
e dependente do meio, e um sistema de organização dos sensores inteligentes
empregados, q u e permite potencializar as c a p a c i d a d e s do software para pro-
cessar os dados: captar a presença de elementos estranhos e gerar feedback
imediato. Assim, a obra investiga, pela simulação tecnológica de vida artificial,
os mecanismos "orgânicos" da autopoiese, e acentua a interdependência dos
indivíduos, a função do observador e a estreita relação c o m o contexto para a
geração de significado e c o m u n i c a ç ã o .
68 - CLAUDIA GIANNETTI
Se não pudéssemos nos mover no espaço, se nossos sentidos não estivessem
incorporados ao circuito de motricidade, cognição e memória, não poderíamos ver,
ouvir ou pensar em nenhuma realidade, muito menos numa realidade virtual.14
Siegfried Schmidt. " ; C i b e r c o m o oikos? O: Juegos sérios", in: Ars Telematica, op.cit., p.103.
Estética Digital - 69
A p e s a r das tentativas reducionistas da c i ê n c i a ou da filosofia, não
p o d e m o s s e p a r a r , nos seres h u m a n o s , a e m o ç ã o da r a c i o n a l i d a d e . A v i d a
h u m a n a entrelaça-os n u m fluxo i n d i v i s í v e l por m e i o d o q u a l p r o d u z i m o s dife-
rentes d o m í n i o s d e r e a l i d a d e . Explícita o u i m p l i c i t a m e n t e , esses d o m í n i o s s e
r e v e l a m nas nossas i n t e r a ç õ es c o m outros, d e p e n d e n d o d e nossa c a p a c i d a d e
d e nos e m o c i o n a r .
De fato, o que faz de nós, seres humanos, uma classe peculiar de animais, não é
a coerência operacional de nossa racionalidade, que é a coerência operacional
de nossa práxis de viver como sistemas viventes em coordenações de ações, mas
nosso viver dentro da linguagem, no entrelaçamento constitutivo do linguajar e
da emocionalidade. 15
70 - CLAUDIA GIANNETTI
umas às outras, participamos , simultâne a ou sucessivamente , de muitas e dife-
rentes " c o n v e r s a ç õ e s " (ou domínios) .
16 Entre outras, a teoria do "leitor-modelo" de Umberto Eco, que pretende o desenvolvimento de uma
estratégia c o m o objetivo de produzir um possível tipo de leitor ideal.
Estética Digital - 71
fortes reações emocionais adversas na comunidade. A performance Neo-Dada
in der Musik- a destruição do violino - foi uma dessas ameaças. Em verdade, se
olharmos rapidamente as manifestações artísticas do século XX, encontraremos
inumeráveis exemplos deliberadamente polêmicos, que conseguiram expandir o
domínio do conhecimento na medida em que induziram a instituição "arte" a se
autoquestionar.
72 - CLAUDIA GIANNETTI
s o c i a l se d i v i d i r i a em sistemas sociais n o v o s ou se desintegraria, ou as f r a ç õ e s
lutariam entre si para i m p o r seu sistema. D i t o isto, c a b e ressaltar q u e existe m
d u a s v i a s p r i n c i p a i s para a l c a n ç a r a i n t e g r a ç ã o d e o b r a s d e arte o u artistas
no sistema: a s e d u ç ã o (via d i a l ó g i c a ) ou a c a n o n i z a ç ã o (via do c o n t r o l e e
da coação).
N ã o se d e v e m e n o s p r e z ar o papel q u e os meios de t e l e c o m u n i c a ç ã o
d e s e m p e n h a m h o j e na sustentação desse c o m p o r t a m e n t o . Os setores q u e inte-
gram esses m e i o s - a imprensa, o rádio, a televisão e as redes telemática s - são
determinantes do próprio m e i o e parte integrante da rede (de c o m u n i c a ç ã o ) .
D e v e m sua e f e t i v i d a d e ao fato de d e s e n v o l v e r um tipo de i n f o r m a ç ã o e s p e c í f i c o
para esses meios, q u e lhes permite assegurar a c o n t i n u i d a d e de u m a forma esta-
b e l e c i d a de " c o m u n i c a ç ã o " baseada na tática discursiva do c o n t r o l e da infor-
m a ç ã o . De fato, trata-se aqui de r e c o n h e c e r (e explorar) o próprio p o d e r de
Estética Digital - 73
f u n c i o n a m e n t o d a rede c o m o u m sistema a u t o p o i é t i c o d e g e r a ç ã o d e c o m u n i -
c a ç ã o por m e i o d a c o m u n i c a ç ã o . M a s , q u e m d o m i n a esses meios?
Além disso, num mundo cada vez mais saturado de informação, as mensagens
mais efetivas são as mais simples e as mais ambivalentes, as que deixam lugar
para as projeções das pessoas. As imagens são as que melhor se adequam a esta
característica. Os meios audiovisuais são os principais alimentadores das mentes
das pessoas no que diz respeito aos assuntos públicos.23
74 - CLAUDIA GIANNETTI
pela c o m u n i d a d e interessada, q u e são e l e m e n t o s essenciais na c o o r d e n a ç ã o
dos sistemas c o g n i t i v o s e de c o m u n i c a ç ã o .
Estética Digital - 75
valor no mercado e a necessidade de legitimação das coleções (de museus ou
privadas). Com razão, Regis Debray aponta que "não há contradição entre um súbito
aumento dos preços na Sotheby e a multiplicação dos concílios, hagiografias e
encíclicas sobre o sentido último do quadrado branco sobre fundo branco". 2 5
2S Régis Debray. Vida y muerte de Ia imagen. História de la mirada en Occidente. Barcelona: Paidós,
1994, p.209.
76 - CLAUDIA GIANNETTI
e n t e n d i d o no contexto do próprio boom do turismo cultural i n t e r n a c i o n a l de
massas e da n o v a a p r e s e n t a ç ã o da arte nos meio s de c o m u n i c a ç ã o c o m o um
produto inserido no â m b i t o da indústria do e s p e t á c u l o e do entretenimento.
Alguns dos p r i n c i p a i s centros de media art, q u e d e v e m sua i m p o r t â n c i a , princi-
palmente, a suas instalações físicas, utilizam-se da grande atração q u e e x e r c e m
hoje as novas t e c n o l o g i a s - seja por m e i o de exposições e m b l e m á t i c a s ou de
grandes festivais c o m o tática para atrair o turismo cultural de massas, para incre-
mentar o n ú m e r o de visitantes e, servindo-se disso, legitimar sua existência.
Estética Digital - 77
inventou, nos anos 1950, o termo a-literatura para englobar todos os tipos de
manifestações literárias de vanguarda que tentam se libertar dos moldes da esté-
tica tradicional. A idéia de a-literatura poderia ser aplicada, também, a outros
campos, c o m o a-música, a-pintura, a-cinema...
Os exemplos de "a-arte" são diversos. A partir dos anos 1940, J o h n
C a g e c o m e ç a a experimentar c o m os c h a m a d o s pianos preparados. Para ele,
trata-se de a m p l i a r o potencia l da s o n o r i d a d e do instrumento, a m p l i a r as
possibilidades da c o m u n i c a ç ã o acústica. Preparar o instrumento representa
integrar uma série de materiais entre as cordas, dentro do piano, conseguindo
obter, assim, novos sons. O passo seguinte consiste em incluir na música os
sons dos meios. Cage c o m e ç a a utilizar rádios em seus concertos, criando
uma inter-relação entre distintas linguagens provenientes de diferentes meios
de c o m u n i c a ç ã o . T u d o isto c u l m i n a numa obra titulada por C a g e de 4'33",
interpretada pela primeira vez no Festival de W o o d s t o c k , em N o v a York, 1 952.
4'33" consiste numa peça sem sons próprios, na qual o intérprete d e v e estar
quatro minutos e trinta e três segundos diante do piano c o m a tampa fechada.
Essa obra significa o desaparecimento da própria música c o m o c o m p o s i ç ã o
predeterminada pelo autor em favor dos sons indeterminados e potenciais do
entorno: um exemplo de "a-música".
78 - CLAUDIA GIANNETTI
c o m o muitos artistas na é p o c a , na e q u a ç ã o arte=vida, estende a d e n o m i n a ç ã o
" a r t e " à t o t a l i d a de dos seres h u m a n o s , e transforma o c o r p o em ferramenta e
suporte para a arte. A partir dessas e outras experiências, toda e q u a l q u e r tenta-
tiva de estabelecer n o v o s limites ou e s p e c i f i c a ç õ e s para a arte se torna i n e f i c az
e supérflua.
Estética Digital - 79
Tampouco é por acaso que Kuhn questione a eficácia dos modelos lineares
praticamente na mesma época em que a teoria de sistemas dinâmicos (matemá-
ticas da complexidade) c o m e ç a a tratar os fenômenos não-lineares, e que a
teoria da história entre em sua etapa pós-histórica.
Plurimedialidade e interdisciplinaridade
(sobre a arte da instalação audiovisual)
80 - CLAUDIA GIANNETTI
de Ambiente Spaziale, de Lúcio Fontana, na Galleria Del Naviglio, 1948; o
environment c i n é t i c o Homage to New York, de J e a n T i n g u e l y , apresentado nos
jardins do M u s e u of M o d e r n Art de N o v a York, em 1960, e muitas outras. S ã o
obras q u e t e n t a m superar, de certa forma, os limites do objet o ( c o m o a autodes-
truição do environmentem Homage to New York), na medida em q u e investigam
a integração e e x p a n s ã o da obra no e s p a ç o ( c o m o na Exhibition of Surrealism)
ou transformam o próprio e s p a ç o em obra ( c o m o no Merzbau).
Estética Digital - 81
p r o d u ç ã o das obras e para o d e s e n v o l v i m e n t o de formatos e x p a n d i d o s , q u e se
a p r o x i m a v a m da instalação e do environment.
O e m p r e g o das tecnologia s a u d i o v i s u a i s e de t e l e c o m u n i c a ç ã o c o m o
meios para a arte permite dar um passo além. A r e i v i n d i c a ç ã o da televisão c o m o
m e i o artístico a c o n t e c e muito c e d o , já em 1952, no M a n i f e s t o do Movimento
Spaziale per Ia Televisione, escrito p e l o artista a r g e n t i n o L ú c i o F o n t a n a e assi-
n a d o por outros 17 artistas. N e s s e manifesto, Fontana e x p õ e as possibilidades
do rádio e da t e l e v i s ã o c o m o n o v a s fontes de c r i a ç ã o artística. S u a proposta era
radical e, sem d ú v i d a , i n o v a d o r a para a é p o c a .
82 - CLAUDIA GIANNETTI
As experiências iniciais c o m o v í d e o buscam estabelecer formas de inter-
r e l a ç ã o entre este e o c i n e m a experimental ou a performance. Essa intermediação
d e s e m p e n h a um p a p e l relevante na c o n f i g u r a ç ã o do repertório iconográfico, no
d e s e n v o l v i m e n t o de técnicas e processos de tratamento da imagem e sua expansão
no e s p a ç o . C o m o no c i n e m a underground e experimental, t a m b é m no v í d e o
pretende-se, nessa primeira etapa entre os anos 1960 e 70, u m a d e s c o n s t r u ç ã o
da estética " r e a l i s t a " da representação midiátic a da realidade.
O u t r a s manifestações q u e d e s e n v o l v e m c o n c e i t o s s e m e l h a n t e s são as
c r i a ç õ e s do c i n e m a direto ( o n d e os i n d i v í d u o s interpretam seu próprio papel);
as p r o j e ç õ e s múltiplas sobre várias telas ou c ú p u l a s ( c o m o o Movie Drome de
Stan V a n d e r b e e k , em c u j o e s p a ç o os espectadores assistem deitados no chão) ;
environments q u e utilizam dispositivos de circuito f e c h a d o de televisão; e as
diferentes formas de expanded cinema (um formato p r o f u n d a m e n t e híbrido, q u e
pode incluir projeções, environments, performance, ações, participação do
público etc.). Em 1966, o filme Continuous Sound and Image Moments, de
T j e b b e v a n Tijen, dá o i m p u l s o inicial ao expanded cinema; a partir daí, suas
d i f e r e n t e s f o r m a s são d e s e n v o l v i d a s por artistas c o m o Peter W e i b e l , V a l i e
Export, Jeffrey S h a w o Stan V a n d e r b e e k . 3 2
Estética Digital - 83
MovieMovie é considerada uma das obras exemplares dos experimentos
de expanded cinema, que integram materiais e formas em suas instalações, ações,
performances e environments, que servem de base para muitas das futuras insta-
lações interativas: telas móveis e superfícies de projeção semitransparentes que
permitem a formação de um espaço (relação entre imagem, estrutura/arquitetura
e espaço/meio); participação do público de maneira direta, intervindo na forma
da tela, movendo-se no espaço da projeção ou oferecendo seus corpos c o m o
superfície de projeção (feedbackentre imagem e receptor, entre imagem e som);
projeções cinéticas; e processo e tempo c o m o elementos constitutivos da obra. 33
A partir de meados dos anos 1960, nas instalações que empregam siste-
mas de circuito fechado de televisão, o artista já não está presente, mas é o
próprio espectador que assume, consciente ou involuntariamente, a função de
performer diante da câmera. As instalações audiovisuais de D a n G r a h a m , Frank
Gillette ( W y p e Cicle, 1969), Les Levine (iris, 1968), B r u c e N a u m a n (Live/Taped
Video Corridor, 1968/69), Peter Campus ( Interface, 1972) ou Peter W e i b e l ( Der
Traum vom gleichen Bewusstsein aller, 1979) servem de exemplos representa-
tivos para toda uma geração de artistas que exploram as possibilidades do sistema
de circuito fechado, no qual incorporam o fator tempo (como o freqüente uso
do tempo diferido) e integram o espectador na obra.
33 Cf. Peter W e i b e l , "Jeffrey Shaw: Eine Gebrauchsanweisung", in: Anne-Marie Duguet, H. Klotz, P.
W e i b e l (Eds.). Jeffrey Shaw - eine Gebrauchsanweisung. Karlsruhe: ZKM/Cantz Verlag, 1997, p.9.
84 - CLAUDIA GIANNETTI
•a» i
Figura 3 - Peter W e i b e l , Der Traum vom gleichen Bewusstsein aller(0 sonho de uma consciência igual
para todos), 1979
Estética Digital - 85
seus formatos "tradicionais" e ocupar o espaço por meio da projeção. As técnicas
de som eletroacústico, o fax, a fotocopiadora, o laser, o computador, as teleco-
municações, todos esses novos meios começam a ser mesclados aos mais diversos
tipos de eventos e obras.
Ubiqüidade e desmaterialização
86 - CLAUDIA GIANNETTI
uso da Internet. U b i q ü i d a d e na arte c o n t e m p o r â n e a aponta a sua r e i v i n d i c a ç ã o ,
n e c e s s i d a d e e c a p a c i d a d e de expandir os espaços da arte e para a arte, assim
c o m o de dilatar sua d i m e n s ã o temporal . Isto i m p l i c a rejeitar a idéia estética
centrada no o b j e t o de arte, em sua existência material e p e r m a n e n t e . É fácil
constatar o a p a r e c i m e n t o de diferentes manifestações de arte efêmera q u e se
c a r a c t e r i z a m pela sua a d a p t a b i l i d a d e ao e s p a ç o e a possibilidad e de se servir de
q u a l q u e r tipo de material.
34 N a m J u n e Paik. " A u s einem Interview mit Gottfried M i c h a e l Koenig", in: Werke 1946-1976 - Music-
Fluxus-Video, op. cit., 1976, p.51.
Estética Digital - 87
diversidades culturais, as expectativas e a mentalidade das diferentes nações. A
Satellite Art deve extrair o melhor destes fatores, criando uma sinfonia multitem-
poral e multiespacial. 35
A obra que implicitamente define o espaço físico de seu próprio consumo seto-
riza o ambiente, pressupondo uma zona específica para a fruição artística. (...) A
setorização comunicativa e informativa conflita com o caráter interdisciplinar e
integrado da cultura planetária. A utilização de meios eletrônicos pode propor-
cionar uma solução para os problemas comunicativos da arte mediante a utilização
das telecomunicações e dos recursos eletrônicos, que requerem, para otimização
informativa, determinados processamentos da imagem.38
35 N a m J u n e Paik. " L a V i e - Satelliten. Eine Begegnung - Ein Leben", in: Niederschriften eines Kultur-
nomade, op. cit., p.157.
36 A g r a d e ç o a Carlos Fadon V i c e n t e e a Eduardo Kac por me terem facilitado a informação sobre
W a l d e m a r Cordeiro.
37 W a l d e m a r Cordeiro (Ed.). Arteônica - o uso criativo de meios eletrônicos nas artes. São Paulo: Editora
da U n i v e r s i d a d e de São Paulo, 1972, p.3. V e r também: http://www.visgraf.impa.br/Gallery/waldemar/
catalogo/arte.htm.
38 Ibidem, p.4.
88 - CLAUDIA CIANNETTI
r e l a ç ã o entre " a r t e e v i d a " . Este foi o título da e x p o s i ç ã o q u e M u n t a d a s realizou,
no m e s m o ano, em M a d r i , na G a l e r i a Vandrés, e na qual apresentou, entre outras
obras, a instalação Emisión/Recepción. A partir da dupla p r o j e ç ã o de u m a série
de slides q ue reproduziam, numa parte, imagens de programas da T V E ( T e l e v i s ão
E s p a n h o l a ) e, na outra, imagens dos telespectadores situados em bares e em suas
casas, e n u n c i a v a - s e a restrição imposta pela estrutura da c o m u n i c a ç ã o televisiva
q u e se limita ao fluxo de i n f o r m a ç ã o u n i d i r e c i o n a l .
Estética Digital - 89
Esse foi o objetivo do projeto Die Welt in 24 Stunden (O Mundo em 24 Horas),
c o n c e b i d o por Robert Adrian para o festival Ars Electronica' 82 em Linz. Sua
idéia era investigar o "espaço eletrônico" criado a partir do uso de meios de
t e l e c o m u n i c a ç ã o de baixa tecnologia ( low-tech), c o m o o fax, o telefone ou o
slow-scan-television, para a transmissão de propostas artísticas a partir de 15
cidades do mundo. C o m a teletransmissão, essas propostas perdiam o caráter
objetual para transformar-se em "vestígios documentais de uma atividade", segundo
Robert Adrian. M e s m o que o resultado do experimento não tenha obtido muito
êxito, o conceito de estabelecer uma intercomunicação bidirecional entre artistas
localizados em diferentes partes do mundo serviu para incitar à reflexão em
torno das verdadeiras possibilidades do meio e do espírito participativo do grupo.
Em textos posteriores, Adrian r e c o n h e c e que a dificuldade enfrentada pelo
projeto de network não foi causada pelos problemas técnicos, mas pela falta de
consciência, por parte dos colaboradores, da necessidade fundamental, num
projeto de t e l e c o m u n i c a ç ã o e interação, de abandonar os individualismos e
apostar numa criação partilhada. O problema estava, conseqüentemente, na
aceitação (ou compreensão) de que a meta não era conseguir um produto "real"
final (o objeto), mas que a obra era a própria intercomunicação.
39 A g r a d e ç o as informações facilitadas por Carlos Fadon Vicente. Cf. Gilbertto Prado, Arte Telemática:
dos intercâmbios pontuais aos ambientes virtuais multiusuário. São Paulo: itaú Cultural, 2003; E d u a r c :
Kac, Luz & letra: ensaios de arte, literatura e comunicação. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 200-
e Telepresence & bio art: networking humans, rabbits & robots. Annarbor: University of M i c h i g a r
Press, 2005; S i m o n e Osthoff, "From mail art to telepresence: communication at distance in the works ot
Paulo Bruscky and Eduardo Kac", in: Annmari e Chandler and N o r i e N e w m a r k (Ed.). At a distance:
precursors to art and activism on the Internet. Cambridge: M I T Press, 2005.
90 - CLAUDIA GIANNETTI
Esses e x e m p l o s nos p e r m i t e m c o n s t a t a r o d e s e n v o l v i m e n t o d e d u a s
d i r e ç õ e s claras de investigação a respeito das possíveis formas de c o m u n i c a ç ã o
na media art: a c o m u n i c a ç ã o estrita h u m a n o - m á q u i n a (autor-ferramenta, ou
e s p e c t a d o r - m e i o ) , e a c o m u n i c a ç ã o aberta emissor-receptor-meio (autor/es-
espectador/es-meio). Esses d o i s n í v e i s d e c o m u n i c a ç ã o s e p e r f i l a m c o m o
e l e m e n t o s p r i m o r d i a i s para a c o m p r e e n s ã o d a c o m u n i c a ç ã o c o m o processo
artificial, q u e se baseia em modelos, ferramentas e instrumentos. A arte da inter-
c o m u n i c a ç ã o se apresenta, assim, c o m o um processo intersubjetivo e reativo,
u m a v e z q u e a c o m u n i c a ç ã o é e n t e n d i d a c o m o interação q u e encerra um tipo
de transmissão b i d i r e c i o n a l de i n f o r m a ç ã o entre pessoas e m á q u i n a s em um
d e t e r m i n a d o contexto. Em vista disso, os sujeitos n ã o p o d e m ser c o n s i d e r a d o s
i n d e p e n d e n t e m e n t e do m e i o c o m o q u a l interagem.
Estética Digital - 91
de produção de televisão de Ponton), consistiu num projeto realizado durante a
D o c u m e n t a de Kassel (1992), que utilizou o canal de televisão alemão Z D F ,
dois satélites e os estúdios eletrônicos de Ponton, provisoriamente instalados
numa praça de Kassel. Ao longo dos 100 dias que durou o projeto, os telespec-
tadores da cidade e de seus arredores podiam conectar-se a esse canal e participar
através de seus telefones ou modem, visualizando sua atuação ao vivo na televisão
de suas casas. Os estúdios estavam equipados com computadores conectados à
rede, especialmente programados para poder receber chamadas telefônicas ou
informações via Internet, que passavam a fazer parte do sistema instantâneo e
televisivo de boletins eletrônicos ( B B S ) audiovisuais. Deste modo, era o público
que concebia, de forma fluida e interativa, os conteúdos daquele canal.
92 - CLAUDIA CIANNETTI
u m a p r o m e s s a d e b a r b á r i e " . 4 2 O u , c o m o a p o n t a U m b e r t o E c o e m seu livro
Apocalípticos e integrados: " S e a c u l t u r a é um fato aristocrático, c u l t i v o zelo-
so, a s s í d u o e solitário de u m a i n t e r i o r i d a d e refinada q u e se o p õ e à vulgarida-
de da m u l t i d ã o , (...) a mer a idéia de u m a cultura p a r t i l h a d a po r todos, produ-
zida de m o d o q u e se a d a p t e a todos, e e l a b o r a d a a m e d i d a de todos, é um
contra-sentido m o n s t r u o s o . " 4 3
S a b e m o s q u e o m o d e l o de t e l e c o m u n i c a ç ã o aberto e r a m i f i c a d o da rede
p o d e chegar a desestabilizar a estrutura hierárquica ou piramidal de nossa socie-
d a d e e a c o l o c a r em questão o elitismo da-cultura, na m e d i d a em q u e se cons-
titui c o m o um ( c i b e r ) e s p a ço no q u a l os participantes desfrutam, a p r i n c í p i o , do
m e s m o status ( m e s m o q u e sejamos conscientes do p a r a d o x o q u e isso i m p l i c a ,
u m a v e z q u e o acesso à rede é, a i n d a , um privilégio de minorias). M e s m o assim,
p o d e m o s dizer q u e os usuários a s s u m e m u m a dupla f u n ç ã o : são espectadores e,
ao m e s m o t e m p o , participantes e atores. D e s e m p e n h a m um d u p l o p a p e l c o m o
observadores do e s p e t á c u l o q u e a c o n t e c e e c o n s u m i d o r e s da i n f o r m a ç ã o q u e
circula, a l é m de integrantes desse espetáculo e parte da informação. S ã o usuários
e, s i m u l t a n e a m e n t e , criadores da rede.
Estética Digital - 93
partiam de um modelo participativo centralizado, no qual todas as contribuições
chegavam a um mesmo "espaço" (fosse físico ou virtual, no servidor), ou formavam
parte de um mesmo contexto, atualmente detectamos a tendência a um modelo
distribuído ou descentralizado, no qual a obra "viaja", se dispersa, se multiplica e,
inclusive, se "instala" nos múltiplos receptores (computadores), ficando à mercê
dos usuários. Um exemplo é a versão de Z d e 2002, do artista espanhol Antoni
Abad, 44 que consiste em um freeware que, ao ser descarregado pelo usuário no
PC, se instala no seu computador adotando a forma e os comportamentos de uma
mosca. C o m a instalação de Z, o sistema cria uma mosca personalizada e gene-
ticamente única, 45 que faz parte, porém, de uma ampla comunidade de inumeráveis
moscas dispersas por todo o mundo. Isto significa que, por trás de cada mosca, há
uma pessoa que a faz reviver cada vez que se conecta à Internet. Por meio da
tecnologia de P 2P e da interface da mosca, cada pessoa pode comunicar-se c o m
outra mosca (usuário) de qualquer país e lugar através do chat ou correio eletrô-
nico segundo distintos critérios: zona horária, moscas on-line, gráfico de evolução
da comunidade, árvore genealógica do enxame, idioma etc. C o m o afirma Abad,
o objetivo de Zé a criação de uma rede de comunicação distribuída, indepen-
dente de qualquer servidor central. Cada mosca é cliente e servidor ao mesmo
tempo. Ao final do projeto, será distribuído o código-fonte a comunidades horizon-
tais interessadas na construção de redes de comunicação e informação distribuída.
A novidade nesse tipo de obra está na idéia de que o artista, ou sua obra,
já não são os únicos núcleos receptores e emissores, mas que a distribuição do
código em forma de agente transforma os usuários em nós (nodes) de inter-relações
e em multiplicadores, e que as existências dos agentes e dos usuários, enquanto
nós, dependem das c o m u n i c a ç õ e s de uns c o m os outros. Isto aborda a pergunta
sobre o network e o sistema, assim c o m o sobre sua estética, de uma maneira
nova e peculiar, uma vez que a inscreve na reestruturação do modelo de socia-
bilidade, até agora baseado, principalmente,-no individualismo em rede. O novo
modelo fundamenta-se em comunidades auto-organizadas e implica a perda
consciente do controle do artista sobre a obra, já que transfere ao usuário a
responsabilidade de ação e intervenção no sistema. Por outro lado, a continui-
dade da obra depende da intercomunicação entre os usuários e"da progressiva
geração de uma arquitetura flexível de contatos, que expande a plataforma e
cria sempre novas comunidades.
94 - CLAUDIA GIANNETTI
imaterialidade. Os d i s c u r s o s m a i s r e c e n t e s s o b r e a estética da desmateriali-
zação, em particular sobre a estética da desaparição, c o m o os de Jean-Françoi s
Lyotard, J e a n B a u d r i l l a r d , P a u l V i r i l i o , Peter W e i b e l , V i l é m Flusser, entre outros,
apesar de divergir em diversos pontos, se articulam, coincidentemente , em torno
do processo cronocrático (Peter W e i b e l ) v i v i d o pela s o c i e d a de atual, seus efeitos
sobre a p e r c e p ç ã o h u m a n a do tempo, a a c e l e r a ç ã o artificial, a desintegração do
c o r p o e da matéria, e a s i m u l a ç ã o espacial.
46 Lyotard recorda que, em sânscrito, mâtram significa matéria e medida, e sua raiz provém de mât, que
significa "fazer c o m as mãos", medir, construir. Cf. Epreuves d'écriture, catálogo da exposição Les
Immatériaux. Paris: Centre G e o r g e Pompidou, 1985.
Estética Digital - 95
artificial - q u e c o n d u z a u m a transformaçã o radical da própria n o ç ã o de c o r p o
e de sujeito. Essa c o n s t a t a ç ã o está o r i g i n a n d o u m a série de discursos, alguns
s u m a m e n t e especulativos, sobre a "desmaterialização" do corpo. Porém, d e v e m o s
p o n d e r a r q u e n ã o s e trata a q u i d e u m " d e s a p a r e c i m e n t o " d o corpo/sujeito,
a b s o r v i d o pelos meios eletrônicos e telemáticos, mas sim do e c l i p s e de determi-
n a d o s c o n c e i t o s históricos de c o r p o e de sujeito, d e v e d o r e s da v i s ã o espiritua-
lista ou idealista q u e a i n d a sinala, m e s m o q u e de longe, o h o r i z o n te cartesiano.
Já não vivemos somente nas ruas e nas casas, mas também nos fios telefônicos,
nos cabos e redes digitais. Estamos telepresentes num espaço de ausência. Aqui,
onde nos encontramos, estamos ausentes, e onde não estamos, somos onipre-
sentes. A história da arte desde o século XIX até a atualidade mais imediata
proporciona uma série de claros indícios da desaparição do espaço na experiência
do tempo e da telepresença no espaço virtual.
O espaço imaterial da telecomunicação, o espaço virtual desmaterializado da era
tecnológica, não é somente um espaço da ausência, um espaço da falta, mas é tam-
bém um novo espaço da presença, da telepresença, um novo espaço situado além
do visível, que sempre esteve ali, mas que nunca pôde ser visto. O tecnoespaço e
o tecnotempo se situam além da experiência física; são espaços que se tornaram
experimentáveis por meio das máquinas telemáticas, espaços de tempo invisíveis.48
96 - CLAUDIA CIANNETTI
A telemática, por exemplo, permite ao corpo viver na dicotomia entre a telepre-
sença ubíqua sempre e q u a n d o se dá a ausência física. Por m e i o da transformação
tecnológica e das próteses, o corpo, enquanto e l e m e n t o central de c o m p r e e n s ã o
da realidade, afasta-se, paulatinamente, de sua representação histórica. Apesar do
c o r p o na rede ser, do p o n t o de vista físico, s i n ô n i m o de a u s ê n c i a , da perspec-
tiva s i m b ó l i c a e do imaginário, p o d e ser um corpo "presente".
Estética Digital - 97
Figura 4 - Eduardo Kac, diagrama de Rara Avis, 1996
98 - CLAUDIA GIANNETTI
Figura 5 - Eduardo Kac, Rara Avis, ponto de vista da arara robótica
Figura 6 - Eduardo Kac, Rara Avis, arara robótica Figura 7 - Eduardo Kac, estrutura interna do robô
Estética Digital - 99
A metaformance não restringe a importância da referência ao corpo, da
mesma forma que não desvirtua a investigação sobre a relação entre arte e vida.
Porém, altera profundamente a maneira de abordar ambas as questões e amplia
os conteúdos dos e n u n c i a d o s artísticos. Em estreita sintonia c o m as transfor-
m a ç õ e s ocorridas nos mais distintos âmbitos, resultantes da revolução digital e
biotecnológica, o artista assume a difícil tarefa de gerar novas ferramentas con-
ceituais a partir das novas ferramentas técnicas. A m b a s são imprescindíveis para
tratar, criativamente, esses processos de mudança radical experimentados pela
sociedade e o indivíduo contemporâneo.
52 N o s anos 1990, a progressiva tendência à desmaterialização (do objeto, do corpo) provoca não só
respostas que pretendem integrar esses processos na arte (Satellite Art, Arte Telemática, net art etc.),
mas, também, reações adversas, c o m o a reafirmação do corpo c o m o m o d e l o de referência, c o m o
matéria a priori. Na última década, uma corrente que se manifesta nas artes plásticas, na fotografia ou na
performance, volta a insistir (como nos anos 1960 e 70) na presença física, na corporeidade contextuali-
zada: a matéria do corpo constitui uma plataforma de discurso. O corpo, c o m o parte dos mecanismos de
poder, não é neutro. Através do corpo se pretende articular os discursos de gênero, etnia, classe e raça.
53 Um dos objetivos de O r l a n é transformar-se em modelo de beleza ideal, baseando-se em protótipos
das figuras femininas de pinturas famosas, c o m o a Monalisa de Leonardo ou a Vênus de Botticelli.
A o b r a de net art de E v a W o h l g e m u t h é um e x e m p l o c o n t u n d e n t e
dessa p e r d a d e s e n t i d o d a m a t é r i a ( b i o l ó g i c a ) c o m o p a r a d i g m a d a r e a l i d a d e .
Bodyscan54 c o n s i s t e n a i m a g e m d o c o r p o d i g i t a l i z a d o d a artista, q u e c o b r a
" v i d a " n a m e d i d a e m q u e p e r m i t e o a c e s s o l i v r e d o s v i s i t a n t e s a o s e u inte-
rior. A t r a n s f o r m a ç ã o d o c o r p o n u m a z o n a t o p o g r á f i c a v i r t u a l , n u m c a m p o
d e e x p l o r a ç ã o , está e m c o n s o n â n c i a c o m o s e n u n c i a d o s p ó s - b i o l ó g i c o s
p r a t i c a d o s e p r o p o s t o s por d i v e r s o s artistas. S u a s o b r a s e x p õ e m o a l c a n c e
das m u d a n ç a s g e r a d a s p o r m e i o d o s p r o c e s s o s d e i n t e r a ç ã o , u b i q ü i d a d e e
telepresença em relação à " a t u a ç ã o no m u n d o " . Por um lado, os atuais
s i s t e m a s i n f o r m á t i c o s p e r m i t e m a o artista c r i a r u m d u b l ê v i r t u a l , m u d a r sua
forma ou dar v i d a a diferentes personagens c o m os quais p o d e atuar no
c i b e r e s p a ç o . D e s t e m o d o , p o d e t e l e t r a n s p o r t a r seus c l o n e s v i r t u a i s , c o n -
trolá-los à d i s t â n c i a e a n i m á - l o s e m t e m p o real, d e f o r m a q u e r e a l i z e m
suas ciberperformances. Os temas relacionados com o desdobramento de
personalidade e a relação sujeito-corpo ganham uma perspectiva inusitada
c o m a possibilidade do c l o n a d o virtual.
56 Stelarc. " V o n Psycho- zu Cyberstrategien: Prothetik, Robotik und Tele-Existenz", in: Kunstforum
International, n° 132, nov. 1995-jan. 1996, p.74.
57 Stelarc. "Visiones parásitas - experiencias alternantes, íntimas e involuntárias", in: Ars Telematica,
op. cit., p. 133.
1 0 2 - CLAUDIA GIANNETTI
Figura 8 - Stelarc, diagrama de Ping Body
58 W a l t e r Benjamin. "A obra de arte na época de sua reprodutibiiidade técnica", in: Obras escolhidas I
magia e técnica, arte epolítica. São Paulo: Brasiliense, 1 987, p.1 76.
59 Ibidem, p.188.
1 0 4 - CLAUDIA GIANNETTI
A i d e o l o g i a do o r i g i n a l só p o d i a manter-se, deste m o d o , n u m m a r c o
estético m a i s a m p l o , q u e se a p o i a v a , por um lado, na t r a n s c e n d ê n c i a do b e l o e,
por outro, na atitude p u r a m e n t e c o n t e m p l a t i v a do observador. S e g u n d o esse
discurso, a figura do receptor n ã o d e s e m p e n h a r i a n e n h u m papel no m e c a n i s m o
de c o n s t r u ç ã o do mito da originalidade, já q u e esse mito centraria-se, unica-
mente, na essência e existência objetual da obra. Se pensarmo s no a r g u m e n t o
de B e n j a m i n , s e g u n d o o q u al a r e p r o d u ç ã o t é c n i c a atrofia a aura, d i v i s a m o s o
g r a n d e e q u í v o c o e a c o n t r a d i ç ã o de sua hipótese. A " a u r a " é u m a categoria da
p e r c e p ç ã o e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , só p o d e ser gerada no processo de r e c e p ç ã o ,
de m o d o q u e não é inerente à originalidade, autenticidade ou irrepetibilidade da
c r i a ç ã o do objeto, isto é, n ã o está v i n c u l a d a à matéria ou ao m e i o de p r o d u ç ã o ,
mas ao o b s e r v a d o r . O processo de r e c e p ç ã o , a u n i c i d a d e ou m u l t i p l i c i d a d e do
objeto, a p a r e c e c o m o u m a mera questão prática relativa à a c e s s i b i l i d a d e à obra.
É p r e c i s a m e n t e à essa a c e s s i b i l i d a d e q u e se dirige a crítica de B e n j a m i n , o c u l t a
sob a forma de u m a revisão do papel da t é c n i c a no processo de m a s s i f i c a ç ã o da
arte. "A r e p r o d u ç ã o massiva c o r r e s p o n d e em efeito à r e p r o d u ç ã o de massa", 6 0
afirma B e n j a m i n , a p o n t a n d o c o m isso b a s i c a m e n t e para d u a s d e n ú n c i a s : a
d e s i n t e g r a ç ã o do mito da " e x c l u s i v i d a d e " intelectual da arte e, por outro, ao
temor à t r a n s f o r m a ç ã o dos produtos culturais em meios de c o n t r o l e de massas
m a n e j a d o s pelos poderes totalitários.
" V e r os catálogos Harold Cohen: Computer-as-Artist. Pittsburgh: Buhl S c i e n c e Center, 1984; Harold
Cohen. Londres: Tate Gallery, 1983. Cf. Claudia Giannetti, "Estética de la simulación", in: Arte en la
era electrónica, op. cit.
A l g u n s p r o g r a m a s i n f o r m á t i c o s, d e n o m i n a d o s G r a m á t i c a d e Formas,
estão s e n d o c r i a d o s a partir de estudos exaustivos das características formais das
o b r a s d e d e t e r m i n a d o s pintores. A s n o v a s i m a g e n s geradas por c o m p u t a d o r
através d e algoritmos q u e s i m u l a m trabalhos n o estilo d e K a n d i n s k y , d e M i r ó ,
de Piet M o n d r i a n , entre outros. A q u i p o d e r í a m o s voltar a questionar a pseudo-
s i m u l a ç ã o e a s i m u l a ç ã o . U m a obra c r i a d a a partir de um p r o g r a m a q u e simula
o estilo de um artista é u m a obra ou um s i m u l a c r o ? E significativo o fato de que,
para um leigo, seja muitas v e z e s difícil distinguir entre um original do autor e
u m a obra gerada digitalmente.
Não é sequer uma questão de grau, porque não existe um espectro único a partir
do qual possam se situar os casos individuais. (...) Uma idéia pode ser nova só
em relação à mente do indivíduo a qual pertence, ou mesmo, até onde sabemos,
em relação ao conjunto da história da humanidade. 62
62 Margaret A. B o d e n . " C o m p u t i n g and creativity", in: T. B y n u m (Ed.). The Digital Phoenix: How
Computers Are Changing Philosophy. Oxford: Blackwell, 1998 (trad. esp. "Computación y creatividad",
in: Claudia Ciannetti (Ed.). Arte facto & ciência. Madri: Fundación Telefônica, 1999, p.26).
O ponto crucial aqui é que compreendemos tão pouco sobre este sentido parti-
cular da consciência, que apenas sabemos como falar dele e ainda menos como
explicá-lo. Quando dizemos com tanta confiança que temos consciência, não
sabemos o que estamos dizendo. Nestas circunstâncias, não temos condição de
provar que nenhum computador poderia chegar a ser consciente. Enfim, se a
criatividade envolve, mais que a avaliação auto-reflexiva das idéias, a experiência
consciente, e se nenhum computador pode ter experiência consciente, então
nenhum computador poderá "realmente" ser criativo. Porém, este "se" condi-
cional é muito hipotético.65
" M i k h a i l Bakhtin. Estética de Ia creación verbal. M é x i c o : Siglo X X I , 1992, p.168, grifo do autor; ver
t a m b é m Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992; e ainda, A cultura popular na
Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais, trad. Yara Frateschi Vieira. São
Paulo: H u c i t e c; Brasília, Editora da Universidad e de Brasília, 1993.
67 M. Bakhtin. " D e los apuntes de 1970-1971", in: Estética de Ia creación verbal, op. cit., p.370.
1 0 8 - CLAUDIA GIANNETTI
série semântica como semântica? Acaso a totalidade de uma obra literária vem a
ser, no essencial, uma totalidade verbal?
E conclui:
A m e s m a p r e o c u p a ç ã o e n c o n t r a m o s na p r o d u ç ã o artística d o s anos
1960 e 70, c o m o na arte c o n c e i t u a i , na arte c i n é t i c a e p a r t i c i p a t i v a , na
primeira arte c i b e r n é t i c a e, mais a m p l a m e n t e , a posteriori, na media art.
M a i s q u e u m a mera transformaçã o do e n f o q u e da questão, significa uma
substituição p a r a d i g m á t i ca do m o d e l o de p e r c e p ç ã o ( c o m o foi a p l i c a d o na
Minimal Art, na Op Art, entre outros) pelo m o d e l o de linguagem, isto é, de
estruturação semântica de elementos não necessariamente lingüísticos. Isto
p e r m i t e investigar tanto os e l e m e n t os sociais (contexto) c o m o os elemento s
s e m â n t i c o s no " t e x t o " da obra.
1 1 0 - CLAUDIA CIANNETTI
c u j o o b j e t i v o é investigar os efeitos q u e a obra causa no receptor a partir de um
"triplo a v a n ç o d i a l é t i c o do texto, do leitor e da interação q u e a c o n t e c e entre
eles". 7 1 O processo de r e c e p ç ã o é o q u e permite ao objeto ou ao texto conver-
ter-se em obra. V e m o s r e c u p e r a d a , aqui, a idéia de Bakhtin c o m respeito à inte-
ração obra-espectador.
Meta-autor e receptor-partícipe
71 W o l f g a n g Iser. El acto de leer. M a d r i : Taurus, 1987, p.12 (O ato da leitura: uma teoria do efeito
estético. São Paulo: Editora 34, 1999.)
72 Recordamos q u e U m b e r t o Eco fala, a partir da semiótica, de "obra aberta".
73 E c o fala de "elementos não ditos".
74 E c o fala de "leitor m o d e l o " que participa de m o do " c o o p e r a t i v o " na interpretação.
Estética Digital - 1 1 1
aqui interator, 75 além de "atuar" mentalmente no espaço da obra, desempenha
um papel prático f u n d a m e n t a l na sua efetivação. Tanto o processo de inte-
g r a ç ã o ativa do observador c o m o as peculiaridades do sistema digital interativo
dão lugar a novos questionamentos sobre os paradigmas estéticos e incitam a
uma revisão essencial das posturas sobre a relação entre criação e recepção,
sobre a função do receptor e o significado de autor.
U m a a m p l i a ç ão radical de nossos marcos conceituais, c o m o supõe a
media art, implica também mudanças importantes na forma de percepçã o origi-
nada por esse tipo de obras. O artista norte-americano M y r o n Krueger, um dos
precursores da arte interativa, c o m e ç o u seu trabalho nesse c a m p o c o m o obje-
tivo de investigar precisamente as variações na percepção do espectador provo-
cadas pelos sistemas interativos. Krueger partiu de um interesse básico: estudar
o fenômeno da relação entre o ser humano e o computador, fenômeno que ele
considera o mais significativo de nossa época. Depois de estudar ciências eletrô-
nicas, descobriu que, para compreender as potencialidades da interface humano-
máquina, teria que partir de critérios não estritamente técnicos, mas estéticos.
5 Espectador e observador são termos que, do ponto de vista da relação entre receptor e obra, têm uma
..conotação contemplativa e distanciada, portanto, inadequados para expressar o vínculo interativo entre
ambos. A palavra "usuário", empregada comumente, provém da função de "uso" que as pessoas fazem do
computador ou de outro aparato, que não é, necessariamente, uma ação interativa. Assim, propomos o
termo interator para fazer referência àquela pessoa que participa ativamente na obra e interage c o m um
sistema. O termo foi empregado no c a m p o do teatro interativo por Kristi Allik e Robert M u l d e r no texto
"Electronic purgatory", publicado no catálogo Ars Electronica 1992, p.207-208.
As obras que exigem uma ação física põem em funcionamento uma parte do cérebro
desprezada pela cultura ocidental em favor da experiência cerebral puramente
passiva. (...) Porém, é possível imaginar um alto grau de implicação numa expe-
riência que questione algumas hipóteses sobre a realidade e sobre o próprio caráter
da experiência, tanto no momento em que essa se desenvolve como depois.76
76 M y r o n W. Krueger. " U n cuarto de siglo de arte electrónico interactivo", no dossiê Fisiones y fusiones:
arte, cultura y nuevos médios (coord. Claudia Giannetti), n° 53. Madri: Letra Internacional, nov.-dez.
1997, p.55.
77 Douglas Hofstadter. Gódel, Escher, Bach: un eterno ygrácil bucle, S ed. Barcelona: Tusquets Editores
& Conacyt, 1 995, p.673. ( C õ d e l , Escher, Bach: um entrelaçamento de gênios brilhantes. Brasília: Ed.
U n B , 2001.)
1 1 4 - CLAUDIA GIANNETTI
a um sistema qualquer deve estar de acordo com um código preestabelecido.
As instruções devem ser formalmente explícitas, uma vez que a máquina não
sabe interpretar ordens em função de situações específicas ou de contextos gerais
(exceto, naturalmente, se isto tiver sido previsto na sua programação!). 78
78 M i k h a i l Malt. "Reflexiones sobre el acto de c o m p o n e r " , in: Eduardo Reck Miranda (Ed.). Música y
nuevas tecnologias. Perspectivas para el siglo XXI. Barcelona: L'Angelot, 1999, p.66.
79 Ibidem, p.67.
Interatividade
A questão da interface
' Cf. W u l f R. Halbach. Interfaces: Medien - und kommunikationstheoretische Elemente einer Interface-
Theorie. M u n i q u e : W i i h e l m Fink Verlag, 1 994.
As interfaces técnicas ( H u m a n Computer Interfaces) desempenham um
papel semelhante ao dos " m e i o s " que os seres humanos necessitamos para
c o m u n i c a r e facilitam o acoplamento entre diferentes sistemas. Nesse processo,
trata-se tanto de buscar a redução da distância e do tempo de c o m u n i c a ç ã o
c o m o de alcançar a otimização do tempo de reação e da flexibilidade na inter-
relação. Essa o t i m i z a ç ã o implica reconsiderar a c o m p r e e n s ã o das posições
assumidas por cada sistema - sujeito e máquina - q u e intervém no processo
de c o m u n i c a ç ã o : o sujeito deixa de ser o operador que controla consciente e
integralmente uma ferramenta; e a m á q u i n a experimenta um c r e s c i m e n t o pro-
gressivo no grau de independência de seu funcionamento, isto é, já não é uma
"simples" ferramenta "inerte" no sentido tradicional.
2 W i l l i a m Bricken. " A n Interface M o d e l " , texto interno de A T A R I Systems Research, Ms (Draft), 1983,
p.5, citado por W u l f H a l b a c h , op. cit., p.161.
1 1 8 - CLAUDIA GIANNETTI
Figura 11 - W i l l i a m Bricken, modelo de interface, 1983 (2)
3 Niklas Luhmann. Die Cesellschaft der Gesellschaft, vol. 2. Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1997, p.814
" I b i d e m , p.125-126.
5 Cf. Pierre Lévy. As tecnologias da inteligência. São Paulo: Editora 34, 1993.
6 Friedrich A. Kittler, " R e a l T i m e Analysis - T i m e Axis M a n i p u l a t i o n " , in: G e o r g Christoph Tholen;
M i c h a e l O. Scholl (Eds.). Zeit-Zeichen - Aufschübe und Interferenzen zwischen Endzeit und Echtzeit.
W i n h e i m : Acta Humaniora, 1990, p.372. Cf. com W. H a l b a c h , op. cit., p.153.
1 "A parte mais difícil da c o m u n i c a ç ã o são as quatro ultimas polegadas." [N.T.]
C o m o b j e t i v o de p o t e n c i a l i z ar a v i s u a l i z a ç ã o de d a d o s para q u e o obser-
v a d o r pudesse perceber opticament e o processo gerado pela interação h u m a n o -
m á q u i n a , I v an E. S u t h e r l a n d d e s e n v o l v e u , em 1962, o p r o g r a m a de m a n i p u -
l a ç ã o direta d e n o m i n a d o Sketchpad. O uso da c o m p u t a ç ã o gráfica facilitava a
o p e r a ç ã o de acesso à i n f o r m a ç ã o e a p a r t i c i p a ç ã o de forma ativa no sistema.
Esses f o r a m os passos iniciais no sentido de facultar a integração sensorial do
e s p e c t a d o r no e s p a ç o do sistema, apesar de esses primeiros dispositivos terem o
i n c o n v e n i e n t e de manter a distância física entre o o b s e r v a d o r e a tela.
N o s sistemas atuais, o o b s e r v a d or q u e c o l o c a o c a p a c e t e ou os ó c u l o s de
v i s u a l i z a ç ã o e s t e r e o s c ó p i c a participa de um sistema interativo imersivo que, ao
m e s m o t e m p o q u e a u m e n t a seu c o n t r o l e sobre o entorno artificial q u e capta
v i s u a l m e n t e , o distancia do contexto natural (de " s u a " realidade). As infografias
p o d e m estar construídas c o m o " m o d e l o d e m u n d o " , mais c o n h e c i d o por Reali-
d a d e Virtual ( R V ) (apesar de que, do ponto de vista científico, se costum a optar
pela expressão virtual environment). U m a das diferenças básicas entre os sistemas
interativos i m e r s i v o s e não-imersivos está no tipo de interface u t i l i z a d a . No
p r i m e i r o caso, a t e n d ê n c i a é fazer " d e s a p a r e c e r " a presença física da interface,
e n q u a n t o que, no outro caso, o e m p r e g o habitual do t e c l a d o ou do mouse c o m o
e l e m e n t o s intermediários entre o b s e r v a d or e m á q u i n a d e t e r m i n a m u m a forma
de acesso externo à i n f o r m a ç ã o .
8 Edmond Couchot. "Entre lo real y Io virtual: un arte de Ia hibridación", in: Claudia Giannetti (Ed.). Arte en Ia
era electrónica. Perspectivas de una nueva estética, op. cit., p.81.
9 W u l f H a l b a c h , op. cit., p . l 6 6 .
1 2 2 - CLAUDIA GIANNETTI
Interação humano-máquina: entre a comunicação e o controle
" Ver as obras de Hegedüs, The Televirtual Fruit Machine (1993), Between the Words (1995), ou de Sermon,
Telematic Visions (1993). É interessante notar que ambos os artistas criam instalações interativas, nas
quais d e v e sempre haver mais de um interator e a c o m u n i c a ç ã o entre eles não utiliza a linguagem
falada ou escrita, mas formas de c o m u n i c a ç ã o p o u c o usuais, tais c o m o a gestual ou corporal.
12 V e r as obras Portrait One (1990) e Family Portrait fl993).
14 Cf. E d m o n d Couchot, op. cit. V e r também E. Couchot. "A arte pode ainda ser um relógio q u e adianta?
O autor, a obra e o espectador na hora do tempo real", in: Diana Domingues (Ed.). A arte no século XXI
-a humanização das tecnologias. São Paulo: Unesp, 1997, p.135-143.
,s Cf. Peter Krieg, "Versuch über Interaktion und M e d i e n " , in: Georg Hartwagner et. al. (Eds.). Künstliche
Spiele. M u n i q u e : Klaus Boer Verlag, 1993, p.180-181.
1 2 6 - CLAUDIA GIANNETTI
d e fora, c o m o o b s e r v a d o r e x t e r n o , esse e s p a ç o p r o j e t a d o . C a d a m o v i m e n t o ,
cada pressão sobre o solo de madeira p r o v o c a as respectivas o n d u l a ç õ e s
nas i m a g e n s da s u p e r f í c i e da água, sem q u e a teia ou a i m a g e m das o n d a s
s e j a m t o c a d a s . S e n d o a água um sistema d i n â m i c o , pode-se intensificar a on-
d u l a ç ã o até q u e e l a a l c a n c e u m estado c a ó t i c o , o c a s i o n a n d o a a u t o d e s t r u i ç ã o
da i m a g e m (as o n d a s " i n u n d a m " a i m a g e m ) . Portanto, o o b s e r v a d o r faz parte
d a f o n te d e distorção . N a m e d i d a q u e o a m b i e n t e d e p e n d e d o o b s e r v a d o r ,
a m b o s s e c o m p l e m e n t a m para constituir u m sistema i n t e r d e p e n d e n t e .
Essas q u e s t õ e s t o r n a m - s e m a i s e v i d e n t e s e c o m p l e x a s se e x a m i n a m o s ,
por e x e m p l o , o s s i s t e m a s t e l e m á t i c o s q u e u t i l i z a m Internet p a r a a c r i a ç ã o d e
m u n d o s v i r t u a i s (ou c i b e r e s p a ç o s ) interativos, nos q u a i s s e p r o d u z u m des-
d o b r a m e n t o d o s u j e i t o e m interator real e v i r t u a l . ' 6 N o s m e i o s t e l e m á t i c o s ,
joga-se c o m a idéia da p r e s e n ç a do o b s e r v a d o r , a l c a n ç a d a por m e i o de textos,
i m a g e n s e sons. Esses d a d o s g e r a d o s p e l o o b s e r v a d o r e i n t r o d u z i d o s p o r
f o r m a s s i m b ó l i c a s n o sistema p r o d u z e m u m a e x i s t ê n c i a d u a l i s t a : n ã o c o m o
c ó p i a m i m é t i c a d o " E u " , mas c o m o " O u t r o " . A o falar d e sistemas r e t r o a t i v o s
r e l a c i o n a d a s c o m o c o r p o e c o m suas f u n ç õ e s , se c o s t u m a a l u d i r às próteses,
q u e s e r v e m d e a p o i o , p r o l o n g a m e n t o , r e p r o d u ç ã o o u s u b s t i t u i ç ã o d e partes
do c o r p o . No c a s o dos sistemas telemáticos e de telepresença, já n ã o p o d e m o s
m a i s f a l a r d e próteses n o s e n t i d o t r a d i c i o n a l , v i s t o q u e n ã o s e trata d a m e r a
p r o l o n g a ç ã o d o E u ( c o r p o ) d o sujeito, mas d e O u t r a (re)presentação desse
sujeito c o m base e m d a d o s ( m e d i a n t e gráficos, sons, e s c r i t u r a f o n é t i c a , i c o n o-
g r á f i c a o u s i m b ó l i c a etc.).
16 Para potencializar a aparência de " m u n d o " c o m o um possível espaço " r e a l " , a partir de 1994, come-
çaram a se desenvolver interfaces para a World Wide W e b em três dimensões, que adotaram a denomi-
nação V R M L - Virtual Reality Markup Language, cujo objetivo é criar uma linguagem standard especí-
fica para a descrição de ambientes em 3 D , conexões e hiperligações na Internet.
17 V e r terceiro capítulo. Cf. com as teorias de Jean Baudrillard, Paul Virilio, Peter W e i b e l , V i l é m Flusser,
Slavoj Zizek e Peter Zee.
" Cf. Simon Penny. "Automatisiertes kulturelles Spiel", in: Florian Rõtzer, op. cit., p.264-265.
1 2 8 - CLAUDIA GIANNETTI
M y r o n Krueger e D a v i d R o k e b y , assim c o m o os environments ou instalações
interativas b a s e a d o s na t é c n i c a do v i d e o d i s c o .
1 3 0 - CLAUDIA GIANNETTI
das ruas da c i d a d e de Aspen, no Colorado, escolher entre as diferentes estações do
a n o e as direções, e buscar informação sobre determinados lugares ou edifícios. 2 1
21 Em 1985, Jean-Louis Boissier recupera a idéia da viagem virtual na sua instalação interativa Le Bus,
que també m emprega videodisco, apresentada na exposição Les immatériaux, em Paris.
22 Para mais informação ver L. Hershman, "Fantasias sobre el anticuerpo. Lujuria y deseo en el
(ciber)espacio", in: C. Giannetti (Ed.), Arte en Ia era electrónica. Perspectivas de una nueva estética, op.
cit., p.60-71.
23 V a n n e v a r Bush. " A s We M a y Think", in: Atlantic M o n t h l y 176, jul. 1945, p. 101-108. T a m b é m dispo-
nível em: http://www.theatlantic.com/doc/194507/bush.
24 " T h e human mind (...) operates by association. W i t h one item in its grasp, it snaps instantly to the next
that is suggested by the association of thoughts, in a c c o r d a n c e with some intricate w e b of trails carried
by the cells of the brain." V. Bush, "As We M a y Think", op. cit.
25 Douglas C. Engelbart desenvolve, a partir de 1962, sistemas de tratamento de texto, c o m o Augment,
e apresenta, em 1968, na Conferência Fall Joint Computer, a a p l i c a ç ã o técnica do conceito de hiper-
texto - o oN-Line-System ( N L S ) -, que é parte de Augment.
26 Andries van D a m constrói, em 1967, na B r o w n University, o primeiro sistema de hipertexto realmente
funcional, que é empregado de forma ampla. Um de seus colaboradores é Theodor H. Nelson.
27 Versão revisada em 1993.
28 Theodor Nelson. "Literary M a c h i n e s " , citado por George L a n d o w . Hipertexto. Barcelona: Paidós,
1995, p.15.
1 3 2 - CLAUDIA GIANNETTI
O tipo de d e s l o c a m e n t o q u e o leitor/usuário//interator d e v e realizar pel o
hipertexto para acessar os vários níveis de i n f o r m a ç ã o confere à obra um caráter
espacial, t e m p o r a l e d i n â m i c o . P o r é m , a c o n d i ç ã o temporal é c o m p l e t a m e n t e
diferente d a q u e l a da o r g a n i z a ç ã o e d u r a ç ã o das narrativas seqüenciais , visto
q u e os c o n t e ú d o s só existem em forma a r m a z e n a d a (potencial) e em rede. As
v a r i a ç õ e s do t e m p o de leitura e do tipo de trajeto eleito dentro da c o n s t e l a ç ã o
textual significam, igualmente, v a r i a ç õ e s do fio narrativo.
29 Guattari e D e l e u z e fazem distinção entre estruturas estriadas em árvore e estruturas lisas em rizoma.
No hipertexto, as estruturas hierárquicas e lineares são logocêntricas, e as lisas e não-lineares, nôma-
des. V e r G. Deleuze; F. Guattari. Rizoma (Introducción). V a l e n c i a : Pretextos, 1997.
30 Ver M. J o y c e . Afternoon: a story. Cambridge: Eastgate Systems, 1987.
31 Espen J.Aarsetb. " N o linealidad y teoria literaria", in: Georg e P. L a n d ow (Ed.). Teoria del hipertexto,
op. cit., p.84.
32 Para mais informação ver J. Bates, "Computational Drama in O z " , in: Working Notes oftheAAAI-90
- Workshop on Interactive Fiction and Synthetic Realities. Boston, 1990; B. Laurel, Computers as
Theater. Reading: A d d i s o n - W e s i e y Publishing C o m p a n y , 1991; e t a m b é m disponível e m : http://
www.cs.cmu.edu/afs/cs.cmu.edu/project/oz/web/oz.html.
1 3 4 - CLAUDIA GIANNETTI
perguntas m e d i a n t e u m p r i n c í p i o aleatório ( j o g a n do m o e d a s o u palitos), q u e
forma as c o m b i n a ç õ e s binárias a partir das quais o hexagrama é p r o d u z i d o .
Desta m a n e i r a, chega-se a um significado ou sabedoria. V á r i o s autores v ê e m ,
nessa e n g e n h o s a m a n e i r a de incluir o leitor na obra a partir do ritual de formu-
lações e j o g o a l e a t ó r i o , um p a r a l e l i s m o c o m a estrutura não-linear, conside-
r a n d o o livro das mutações c o m o precursor da escritura e da leitura participativa
e hipertextual. N e s s e contexto, v a l e a p e n a lembrar a proposta de R a m ó n H u l l
de a p l i c a r a c o m b i n a t ó r i a c o m o m é t o d o para chegar a e n u n c i a d o s relevantes,
q u e t a m b é m é c o n s i d e r a d a um a n t e c e d e n t e dos sistemas c o m b i n a t ó r i o s digitais.
O trabalho The Erl King, que se apresenta sob a forma de instalação intera-
tiva, está estruturado em diferentes níveis de narração, que formam uma rede
espaço-temporal complexa, cujo fio do discurso é a c a n ç ã o de Schubert Der
Erlkõnig, cantada por Elisabeth Arnold no início da obra. A ela somam-se as refe-
rências ao próprio relato de Goethe, Erlkõnig, e ao texto de Siegmund Freud Traum
1 3 6 - CLAUDIA GIANNETTI
vom brennenden Kind. Através da tela tátil, o p ú b l i c o p o d e eleger esses diferentes
níveis e navegar por eles. Ao contrário da estratégia de c h a m a d a explícita à parti-
c i p a ç ã o do p ú b l i c o , a d o t a da em Lorna por L y n n H e r s h m a n , The Erl King e l u d e
q u a l q u e r tipo d e i n d i c a ç ã o ( c o m o o c o r r e t a m b é m c o m Afternoon, q u e opta pela
i n v i s i b i l i d a d e dos links). Intuitivamente o interator, ao tocar a tela, n ã o só p o d e
m u d a r d e c e n a , c o m o a m p l i a r o u ver ilustrações d a história, q u e s e d e s e n v o l v e
de forma surrealista, tanto por seus questionamento s psicanalíticos, c o m o por
sua própria estruturação temporal. 3 5 A i n d a q u e a dialétic a entre a r e a l i d a d e e a
f i c ç ã o (do s o n h o ou da saga) seja um assunto relevante na p e ç a, o e l e m e n t o
central é, p o r é m , a f o r m a ç ã o da estrutura hipertextual da obra, q u e induz o
interator a m o d i f i c a r seu m é t o d o t r a d i c i o n a l de leitura e visão, na m e d i d a em
q u e a a t u a l i z a ç ã o do leque de possibilidades do relato d e p e n d e de sua iniciativa.
Ficção e RV
38 O s w a l d W i e n e r , o p . cit., p.46.
1 3 8 - CLAUDIA GIANNETTI
P o d e r í a m o s considerar o bio-adaptercomo u m a versão f u n c i o n al d a q u i l o
q u e N i e t z s c h e p r e n u n c i a v a em filosofia: a r e d u ç ã o da r e a l i d a d e h u m a n a a u m a
" f á b u l a " , à diferenç a que, aqui, esta se constitui a partir do exterior por u m a
máquina.
Simulacron-3 p r o p õ e a s i m u l a ç ã o , m e d i a n t e o e m p r e g o de supercompu -
tadores digitais, d e u m a g r a n d e c i d a d e c o m m i l h a r e s d e habitantes virtuais
c o n t r o l a d a por u m a m a c r o e m p r e s a . Os habitantes são i n d u z i d o s a acreditar
q u e v i v e m em um " m u n d o real". O objetivo do experimento é utilizar a p o p u l a ç ã o
s i m u l a d a para testar produtos c o m e r c i a i s antes q u e eles sejam distribuídos no
m e r c a d o real. Os técnicos da empresa se transformam, portanto, em observadores
externos do m u n d o s i m u l a d o. Por sua vez, os habitantes da c i d a d e virtual são
seres tão c o m p l e x o s , q u e p o d e m , eles mesmos, simular m o d e l o s de m u n d o sob
seu c o n t r o l e. Esses outros m u n d o s s i m u l a d o s pelos seres virtuais t a m b é m estão
habitados por i n d i v í d u o s que, c o m o eles, a c r e d i t a m v i v e r em um m u n d o real. A
e x p a n s ã o e m u l t i p l i c a ç ã o gradativa do sistema ( c o m o uma forma fractal q u e se
repete de m a n e i r a idêntica), assim c o m o o grau de v e r a c i d a d e do m e s m o , leva
os e n g e n h e i r os da grande empresa - os considerado s habitantes do m u n d o " r e a l "
- a d u v i d a r da a u t e n t i c i d a d e de sua própria r e a l i d a d e : t a l v e z eles m e s m o s
v i v a m na ilusão de encontrar-se n u m m u n d o a p a r e n t e m e n t e real, já q u e seria
factível q u e fossem, t a m b é m , seres v i r t u a i s c o n t r o l a d o s por o b s e r v a d o r e s ex-
t e r n o s a partir de um sistema superior ao deles. G a l o u y e insinua q u e a suspeita
dos t é c n i c o s é v e r d a d e i r a.
39 Esta obra serviu de roteiro para o filme de Rainer Fassbinder, intitulado Weltam Draht, produzido em
1973, e de Roland Emmerich, The 13th Floor, de 1999. Citada por Otto Rõssler em "Endophysik. Physik
von innen", e no catálogo de Ars Electronica. V i e n a : P V S Verleger, 1992, p.51.
A fim de que o observador possa atuar no espaço virtual de forma semelhante à que faria na realidade,
são necessários esses sistemas de input, que captam os outputs ou informações exteriores (com o o
movimento das pupilas, os gestos ou movimentos corporais, a fala etc.), os processam e geram inputs
sintéticos paralelos, produzindo a sensação de que o cenário artificial acompanha o olhar, a posição
ou os gestos do observador no contexto do sistema (por isso a expressão viewpoint dependent imaging,
c u n h a d a por Scott Fisher, c o m a qual define a tecnologia de RV). Desta maneira, uma parte da
interação se produz de maneira inconsciente, quase automática, já que o sistema se sensores capta os
movimentos naturais do observador (pupila, cabeça, braços, pernas, corpo, deslocamento no espaço
etc.), ou detecta os sinais elétricos emitidos pelos músculos do usuário. Essas ações não são produzidas
c o m o inputs explícitos, c o m o poderia ser o gesto de clicar um mouse ou tocar uma tela tátil.
1 4 0 - CLAUDIA GIANNETTI
b e m c o m o sistemas d e rastreamento o u m a p e a m e n t o ( G P S , serviços d e locali-
z a ç ã o inalábricos, tecnologia s de v i g i l â n c i a ou teledetecção) , a m p l a m e n t e utili-
zadas nos â m b i t o s militares e médicos, p o d e m ser c o n s i d e r a d as instrumentais
de realidade aumentada.
1 4 2 - CLAUDIA GIANNETTI
c o m o " u m a rede de neurônios, o n d e c a d a um deles tem um c o r p o c e l u l a r e
p r o l o n g a m e n t o s . Suas uniões ou sinapses sempre se e n c o n t r a m entre o a x ô n i o
do n e u r ô n i o e o c o r p o celula r de outro neurônio." 4 2 Os p r o b l e m a s principai s
consistem, s e g u n d o os autores, em c a l c u l a r o c o m p o r t a m e n t o de q u a l q u e r rede
e em encontra r u m a q u e se c o m p o r t e de u m a maneir a específica, q u a n d o tal
rede exista.
Para realizar esse cálculo, eles se baseiam nas seguintes suposições físicas:
12 W a r r e n S. M c C u l l o c h e Walter H. Pitts. "A logical calculus of the ideas inmanent in nervous activity",
in: Bulletin of Mathematical Biophysics 5, p.l 1 5-1 33; reeditado em W. S. M c C u l l o c h , Embodiments of
Mind. Cambridge: M I T Press, 1 965, p.l 9-39.
43 M c C u l l o c h e Pitts, op. cit., p.36.
44 Ibidem, p.50.
45 Ibidem.
1 4 4 - CLAUDIA GIANNETTI
ao observador . Em outras palavras, a r e a l i d a d e q u e construímos n ã o p o d e ser
vista c o m o representação d e u m m u n d o o b j e t i v o i n d e p e n d e n t e.
A t r a n s f o r m a ç ã o s u b s t a n c i a l c o n s i s t e no m o d o c o m o se e n f o c a m os
processos cognitivos: à m e d i d a em q u e se rejeita a teoria t r a d i c i o n a l de q u e o
sistema de p e r c e p ç ã o h u m a n o está em contato direto c o m o m u n d o , a pergunta
já n ã o se limita às questões epistemológicas, mas remete, p r i n c i p a l m e n t e ; ao
próprio f u n c i o n a m e n t o dos processos cognitivos, seus efeitos e seus resultados.
46 A Teoria da Relatividade de Albert Einstein, além de propor uma nova dimensão de espaço, tempo e
matéria, q u e perdem seu status absoluto, confere ao observador uma posição de destaque. A Teoria
Q u â n t i c a de M a x Planck, W e r n e r Heisenberg e Erwin Schrõdinger significa mais um passo em direção
à relativização dos objetos físicos e à potencialização do papel do observador.
1 4 6 - CLAUDIA GIANNETTI
( c o m o no caso da observação de um arco-íris); e "ilusões no sentido figurado", q u e
n ã o são c o m p a r t i l h a d a s por outras pessoas e não c o i n c i d e m c o m a realidade. 4 7
47 Cf. Ernst v o n Glasersfeld. "Fiktion und Realitát aus der Perspektive des radikalen Konstruktivismus",
in: F. Rõtzer e P . W e i b e l (Eds.). Strategien des Scheins, M u n i q u e : Bôer Verlag, 1991, p.169-172.
48 Charles Kay O g d e n , Bentham's Theory of Fiction, Londres, 1932.
49 Por e x e m p l o , nos livros Film ais Kunst{\ 932, trad. port. A arte do cinema. Lisboa: E d i ç õ e s 70, 1989)
e Rundfunk ais Horkunst (1936, trad. esp. Estética radiofônica. Barcelona: Gustavo Cili, 1980), Ar-
n h e i m c o m p a r a o c i n e m a e o rádio c o m a pintura, a m ú s i c a, a literatura, isto é, c o m outras formas
artísticas, e n ã o c o m outras " t é c n i c a s " .
1 4 8 - CLAUDIA GIANNETTI
O t e m p o e o e s p a ç o contínuos e assimiláveis (da cultura da imprensa) e sua esté-
tica linear, s e q ü e n c i a l ou histórica, c e d e m e s p a ç o para a c r i a ç ã o de c o n e x õ e s
temporais fragmentadas e simultâneas. Em vista disto, p o d e m os falar de u m a nova
estrutura "narrativa" do m u n d o - tanto no sentido de ficção c o m o de não-ficção -,
q u e já n ã o se atém aos parâmetros de linearidade, f i n a l i d a d e ou discursividade ,
mas aos de i n t e r c o n e x ã o simultânea e a c e l e r a d a de fragmentos (audiovisuais).
50 Cf. Dietmar Kamper. Bildstorungen. Im Orbit des Imaginaren. Stuttgart: Cantz Verlag, 1 994; V i l é m
Flusser, Die Revolution der Bilder. Der Flusser-Reader. M a n n h e i m : B o l l m a n n Verlag, 1995; Gõtz
GroRklaus, Medien-Zeit, Medien-Raum: Zum Wandel der raumzeitlichen Wahrnehmung in der Mo-
derne. Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1995.
51 Cf. J e a n Baudrillard. La guerre du Golfe n'a pas eu lieu. Paris, 1991.
52 J. Baudrillard. Die Illusion des Endes oder Der Streilc der Ereignisse. Berlim: M e r v e Verlag, 1 994,
p,104.
1 5 0 - CLAUDIA GIANNETTI
fiéis assustados, a primeira visão " v i v a " do inferno. 56 O q ue para nós pode parecer,
hoje, u m tanto grotesco, e m m e a d o s d o s é c u l o X V I I seguramente foi m o t i v o d e
g r a n d e espanto e serviu, para muitos cristãos, c o m o argument o p o d e r o s o contra
o pecado. K i r c h e r seguiu a idéia da Bíblia Pauperum. 57 O jesuíta integrou à
c â m a r a escura u m a luz artificial interna e u m a lente (que t i n h a m a f u n ç ã o da
fonte de luz e da lente de um projetor atual), transformando-a em u m a e s p é c i e
de lanterna mágica. Isso lhe permitiu projetar imagens d e s e n h a d a s a u m a dis-
tância de até 150 metros (segundo i n f o r m a ç õ es da é p o c a ) , as quais a p a r e c i a m
p r o p o r c i o n a l m e n t e a m p l i a d a s pelo efeito da lente.
56 Cf. C. Ciannetti. "Estética de la s i m u l a t i o n " , in: Arte en la era electrónica - perspectivas de una
nueva estética, op. cit.
57 U m a tática muito difundida desde a Idade M é d i a para aproximar os fiéis à palavra de Deus por meio
do emprego de imagens, pois a grande maioria das pessoas na época era analfabeta.
1 5 2 - CLAUDIA GIANNETTI
a estrutura social e as ordens simbólicas da cultura proporcionam os modelos
convencionais para a geração de um comportamento típico. Um saber compar-
tilhado de forma coletiva, capaz de orientar uma atuação individual, resultará da
atuação social dos indivíduos e orientará, por sua vez, a atuação social destes.
Assim, as realidades podem ser descritas como resultados de construções sociais
produzidas dentro do indivíduo enquanto lugar empírico desta construção. 58
!8 Siegfried Schmidt. "^Ciber c o m o oikos? O: Juegos sérios", in: C. Ciannetti (Ed.) Ars Telematica -
telecomunicación, internet y ciberespacio, op. cit., p.104.
Apesar desta dispersão, a interface está estruturada de maneira ativa e forte pelo
tempo e pelo espaço. A interface se transforma num campo de experiências,
num encontro multidimensional. A princípio, a linguagem do diálogo é ininteli-
gível, porém se desenvolve à medida em que se continua experimentando e
acumulando práticas. Esta complexa instalação é um circuito baseado em um
rápido feedback, que não é só "negativo" ou "positivo", inibidor ou estimulante.
Ao contrário, o circuito depende de uma transformação constante, da mesma
maneira que observador e computador mudam numa reação mútua. Um aden-
tra-se no outro, até que a idéia de controle desapareça e a relação se transforme
num encontro e numa participação real.60
59 D a v i d Rokeby, " V e r y Nervous System", in: Hastwagner; Iglhaut; Rõtzer. Künstliche Spiele. M u n i q u e :
Bôer Verlag, 1993, p.320.
60 Ibidem, p.320-323.
1 5 4 - CLAUDIA GIANNETTI
cria p r i m e i r o um sistema espaço-temporal, no qual o espectador se transforma
em interator. A i n d a q u e sejam os gestos e os m o v i m e n t o s do o b s e r v a d o r interno
no a m b i e n t e a c ú s t i c o do sistema os q u e c o n f i g u r a m as e x p e r i ê n c i a s sonoras, o
interator não te m u m a c o m p r e e n s ã o geral do sistema q u e lhe permita o c o n t r o l e
absoluto sobre o e s p a ç o virtual. Ele d e v e descobrir, intuitivamente, a "lingua-
g e m " sensório-motora, por m e i o da qual poderá dialogar c o m o c a m p o sonoro
e transformá-lo.
61 Cf. Peter W e i b e l . "Postontologische Kunst; Virtualitãt, Variabilitãt, Viabilitàt", in: Romana Schuler
(Ed.). Peter Weibel Bildwelten 1982-1996. V i e n a: Triton-Verlag, 1996, p.242. V e r também o conceito
de viabilidade em Ernst von Glasersfeld. Einführung in den Konstruktivismus. M u n i q u e, 1985.
62 V e r seu artigo publicado em: Christopher C. Langton (Ed.). Artificial Life: The Proceedings of an
Interdisciplinary Workshop on the Synthesis and Simulation of Living Systems. Los Alamos, Nuevo
M é x i c o : set. 1987. Essa e d i ç ã o recopila os trabalhos da histórica primeira reunião internacional sobre
vida artificial realizada em setembro de 1987, no Laboratório N a c i o n a l de Los Alamos, N o v o M é x i c o -
livro considerado a " b í b l i a " da vida artificial.
63 "A programação de baixo para cima remete ao fato de que nossas proteínas estão 'programadas' de
forma relativamente explícita pelo A D N , porém não há um gene que especifique diretamente a forma
do rosto e o número de dedos. Esta classe de programação contrasta c o m o princípio de programação
na IA. Nesta tenta-se construir máquinas inteligentes por meio de programas feitos de cima para baixo:
se programa o comportamento total a priori, dividindo-o em subseqüências de comportamento estrita-
mente definidas que, por sua vez, se dividem em precisas sub-rotinas, sub-rotinas menos etc., descen-
dendo progressivamente até o mesmo código da máquina. O método de baixo para cima da vida
artificial imita ou simula os processos da natureza que se organizam por si mesmos. Também poderíamos
chamar estes processos de 'auto-organização s i m u l a d a ' . " Claus Emmeche, Vida simulada en el orde-
nador - Ia nueva ciência de Ia inteligência artificial. Barcelona: Gedisa, 1998, p.33.
1 5 6 - CLAUDIA GIANNETTI
vida é constituída mais pela forma desse processo do q u e pela matéria. No c a s o
em q u e se ignore o substrato material, pode-se conseguir abstrair a lógica q u e
g o v e r n a o processo ou as c o n d i ç õ e s sob as quais qualquer coisa p o d e ser consi-
derada v i v a , tanto na v i d a real, c o m o na artificial.
Sugerir que os vírus informáticos sejam entes vivos implica pressupor que parte
de seu entorno - os computadores, os programas ou os sistemas operativos -
representa, também, uma forma de vida artificial. Pode existir vida em um
ecossistema estéril e vazio? Uma definição de "vida" deveria incluir, provavel-
mente, uma menção ao meio no qual esta surgiu.67
Esta nova forma neural de resolução de problemas não utilizava os métodos darwi-
nianos de morte individual ou de intercâmbio genético, mas métodos associados
aos do psicólogo Skinner, isto é, por meio de modificações do comportamento. Em
vez de se armazenar no DNA, o comportamento variável e o reforço seletivo,
obtidos a partir do meio ambiente, se armazenavam em interações seletivas entre
células excitáveis ou neurais que respondiam diretamente ao meio ambiente.68
1 5 8 - CLAUDIA GIANNETTI
Essa teoria nos abre u m a n o v a via de interpretação e de q u e s t i o n a m e n t o
dos algoritmos genéticos ou dos sistemas de V A , q u e seriam processos análogos
à q u e l e s e x p e r i m e n t a d o s pelas c a d e i a s d e D N A p r o c a r i ó t i c o das bactérias. A
questão seguinte seria se esses sistemas de V A , c o m b i n a d o s c o m um sistema de
IA, poderiam chegar a encontrar uma solução equivalente à forma neural humana
de r e s o l u ç ã o de p r o b l e m a s a partir de m o d i f i c a ç õ e s do c o m p o r t a m e n t o .
69 Cf. D a v i d J. Chalmers. " E l problema de la c o n c i e n c i a " , in: Investigador! y ciência. Barcelona: Prensa
Científica, fev. 1996, p. 60-67 (1 ed. em Scientific American, 1996).
1 6 0 - CLAUDIA GIANNETTI
Arte genética, criação robótica e vida artificial
71 A ordenação e a reunião das distintas classificações nas três definições aqui propostas são da autora.
W e i b e l e outros autores sugerem uma classificação de campos mais ampla. Cf. Peter W e i b e l . " Ü b e r
genetische Kunst", in: Ars Electrónica 93. V i e n a : P V S Verleger, 1993, p.420-421.
72 G e o r g e Cessert realiza uma hibridização em diferentes tipos de plantas e documenta o processo;
Eduardo Kac, em Gênesis, investiga a mutação de duas bactérias que m u d a m de cor a partir do contato
entre elas.
73 C o m o os seres zoosistêmicos de Louis B e c dos anos 1970: os seres manipulados de Thomas Crünfeld
ou de Eric Fong.
74 C o m o as obras de Inigo Manglano-Ovalle , que reproduzem os códigos genéticos de seres humanos;
as representações de elementos genéticos em quadros de Kevin M o o r e , Suzanne Anker ou de A n d r e w
Lester.
75 C o m o a utilização de bactérias manipuladas geneticamente nos quadros de D a v i d Kremer; a obra
Micróbios de Kandinsky, de Peter C e r w i n Hoffmann, que utiliza cultura de bactérias provenientes de
um quadro de Kandinsky.
76 C o m o a arte t r a n s g ê n i c a d e E d u a r d o K a c , b a s e a d a n o uso das t é c n i c a s d e e n g e n h a r i a gené-
tica para transferir material de uma e s p é c i e a outra ou para criar organismos v i v o s c o m genes
sintéticos.
77 C o m o os robôs lutadores do artista Mark Pauline, de San Francisco, cujas apresentações ou performances
se convertem em lutas entre os robôs até a autodestruição; ou os robôs do artista C h i c o MacMurtries.
78 C o m o o braço robótico que emprega Stelarc em suas performances c o m um terceiro braço.
79 Karl Sims. " G e n e t i c Images", in: Revue Virtuelle Notebook5. Paris: Centre Georges Pompidou, 1993.
O que faz realmente o autor? Ele reúne informações que encontra em obras já
produzidas, segundo critérios de seu tempo e de sua cultura. A esse acúmulo de
informação adiciona informações que adquiriu em sua própria vida. Nas infor-
mações adquiridas pode haver ruídos, isto é, informações que até então não„
existiam. O conjunto de informações é processado pelo autor, quer dizer, é mo-
dificado e computado, de forma que gera nova informação. Contudo, o autor '
não só trabalha em nível simbólico e processa os códigos, através dos quais ele
recebeu as informações acumuladas. A nova informação sintetizada também tem
que ser aplicada a um certo material para transformar-se em obra. O material,
sua coisificidade, oferece certas resistências a esse processo, e o resultado dessa
disputa dialética é a obra de arte.80
A p o s i ç ã o d e Flusser, a i n d a q u e i n c o r r a e m c e r t o r e d u c i o n i s m o s e
p e n s a r m o s na c o m p l e x i d a d e da c r i a t i v i d a d e h u m a n a , é perfeitamente a p l i c á v e l
ao processo de c r i a ç ã o de sistemas de V A . Os "ruídos", aos quais se refere Flusser,
p o d e r i a m ser as i n t e r v e n ç õ e s dos interatores ( c o m o no caso de Sims), e n q u a n t o
que a "disputa dialética" corresponderia ao processo de seleção. A n d r e w
H o r n e r e D a v i d E. G o l d b e r g , por e x e m p l o , ao d e s c r e v e r o m é t o d o de g e r a ç ã o
m u s i c a l a partir de algoritmos genéticos, f a l a m da existência de um p o n t o inicial
- um primeiro conjunto de informação que determina a melodia " p r i m á r i a " -,
1 6 4 - CLAUDIA GIANNETTI
a partir da q u a l a estrutura artificial e v o l u i até outra m e l o d i a final especifica. 8 1
B r u n o D e g a z i o , por sua vez, ao definir o programa c r i a d o por e l e para investigar
as a p l i c a ç õ e s dos algoritmos genéticos nas c o m p o s i ç õ e s musicais, d e n o m i n a d o
Musical Organism Evolver(MOE), aponta dois c o m p o n e n t e s principais: o sistema
e v o l u t i v o e o c o n v e r s o r . O sistema e v o l u t i v o realiza os processos de e m p a r e l h a -
m e n t o de c r o m o s s o m o s , c r u z a m e n t o e m u t a ç ã o genética, e x e c u t a n d o os traços
essenciais d o processo d e d e s e n v o l v i m e n t o . ( C o m p a r a n d o c o m a c o n c e p ç ã o d e
Flusser, seria o c o n j u n t o de i n f o r m a ç õ e s q u e é p r o c e s s a d o e m o d i f i c a d o de
forma a gerar n o v a i n f o r m a ç ã o . ) O c o n v e r s o r transforma um c r o m o s s o m o , o
q u a l consiste, b a s i c a m e n t e , n u m a série de instruções (ou parâmetros musicais),
n u m a estrutura de d a d o s musicais. O c o n v e r s o r e x a m i n a c a d a gene no cromos-
s o m o em questão e a p l i c a , no grau e s p e c i f i c a d o p e l o c o n t e ú d o deste gene, um
processo de s e l e ç ã o . O uso musical dos algoritmos genéticos só a l c a n ç a seu
v e r d a d e i r o êxito q u a n d o a p l i c a d o às s e q ü ê n c i a s de o p e r a ç õ e s mais longas, isto
é, q u a n d o há a possibilidade de d e s e n v o l v i m e n t o do processo. Neste sentido, o
algoritmo g e n é t i c o se c o n v e r t e n u m a estrutura de c o n t r o l e para u m a macrolin-
g u a g e m m u s i c a l , s u p e r v i s i o n a d a por m e i o d e t é c n i c a s d e p r o g r a m a ç ã o gené-
t i c a . Do p o n t o de vista de D e g a z i o , a i m p o s i ç ã o dessa estrutura resulta mais
importante para o êxito m u s i c a l desse projeto q u e as conquistas do processo de
algoritmos genéticos. 8 2
O p r i m e i r o m o d e l o b i o l ó g i c o de seu zoosistema ( c a m p o c o n f i g u r a d o a
partir da inter-relação entre as c i ê n c i a s da v i d a , a inteligência artificial e a con-
f o r m a ç ã o sistêmica) foi c r i a d o em 1972, em forma escultórica tridimensional,
sendo q u e alguns seres dessa série c h e g a r a m a ter d e z metros de altura. Essas
obras são e x e m p l o s de arte genética. N o s anos 1980, c o m e ç o u a d e s e n v o l v e r
seres de v i d a artificial, c r i a d o s a partir de algoritmos genéticos. D e s d e então,
questiona se os escultores de h o j e n ã o são, realmente, os b i o i n f o r m á t i c o s ou os
construtores de robôs q u e c r i a m esculturas vivas. Para B e c , a maquinalidade d a
v i d a artificial é m a i s u m a situação espiritual q u e u m a causa instrumental. Ele
d e s c r e v e esse f e n ô m e n o c o m o c r i a ç ã o de u m a hipo-zoo-lógica, q u e surge em
forma de a u t ô m a t os celulares, algoritmos genéticos, sistemas vivos, m o d e l a ç ã o
d e inteligência coletiva , robôs etc., q u e estão e m interação c o m u m e n t o r n o
artificial m u t á v e l q u e p o d e ser f a v o r á v e l ou, às vezes, hostil.
1 6 6 - CLAUDIA GIANNETTI
A VA p o d e ser c o n s i d e r a d a , c o n s e q ü e n t e m e n t e , um lugar p r i v i l e g i a d o
no q u a l se o p e r a a transformaçã o dos sistemas de representação. S e g u n d o B e c ,
no processo m a q u i n a i p o d e haver distintas formas de representação do ser vir-
tual: forma b i d i m e n s i o n a l ; forma tridimensional ; representação e m m o v i m e n t o ;
e r e p r e s e n t a ç ã o em processo de transformação . Desta maneira, as p r o d u ç õ e s de
V A a t u a m c o m o o p e r a d o r e s d e u m a m u t a ç ã o estética n o processo e , simultane-
a m e n t e , r e v e l a m suas fases de e v o l u ç ã o . Neste contexto, a a t i v i d a d e artística é
e n t e n d i d a c o m o c a m p o de investigação e de e x p e r i m e n t a ç ã o da p e r c e p ç ã o ,
das e m o ç õ e s , d a m e m ó r i a , d a f o r m a ç ã o d e c o n c e i t o s, d o t e m p o , d o espaço, d o
m o v i m e n t o , das trajetórias, dos processos e das relações entre seres h u m a n o s ,
seres artificiais e m á q u i n a s .
83 Cf. Louis B e c , " D a s T e c h n o b i o m oder die Prãmissen einer zweiten D a r w i n s c h e n Revolution", in:
Erzeugte Realitàten II. Berlim: N e u e Geseilschaft für Biidende Kunst, N G B K , 1994, p.13-32, 40-42;
" P r o l e g o m e n a . Ésthetique et Epistémologie Fabulatoire de la V i e Artificielle", in: Ars Electrónica. Vie-
na, 1993, p.172-180; " Ü b e r das Wiederflottgemachte", in: Rótzer/ W e i b e l (Eds.). Cyberspace. Zum
medialen Cesamtkunstwerk. M u n i q u e : Boer Verlag, 1 993, p.357-365.
Ver outras obras de U. Gabriel, que também incidem na questão do v í n c u l o entre os sistemas bioló-
gicos e artificiais, c o m o Breath (1992) ou Perceptual Arena (1993).
1 6 8 - CLAUDIA CIANNETTI
Estética Digital - 169
© 99, Christa & Laurent
Figura 16 - Christa Sommerer & Laurent Mignonneau, Life Spades II (c), 1999 (desenvolvida no A T R
M I C Labs, Japão)
Em 1997, os artistas a m p l i a r a m o c o n c e i t o do m a n i p u l a d o r g e n é t i c o
GENMA e a p l i c a r a m o p r i n c í p i o de " d e s e n h o a b e r t o " a u m a i n s t a l a ç ã o intera-
tiva e t e l e m á t i c a c h a m a d a Life Spacies. A obra tem uma c o m p o n e n t e física,
instalada n o I C C I n t e r c o m m u n i c a t i o n M u s e u m d e T ó k i o , e u m a vertente virtual
q u e utiliza a rede t e l e m á t i c a . Por m e i o de formas e imagens evolutivas , os visi-
tantes da instalaçã o situada no I C C e os visitantes c o n e c t a d o s à web de Life
Spacies na Internet p o d e m interagir entre eles. Por m e i o de um sistema de codi-
f i c a ç ã o q u e traduz textos em formas ( text-to-form), isto é, em c ó d i g o s genéticos,
q u a l q u e r pessoa p o d e criar sua própria criatura artificial e n v i a n d o um c o r r e i o
e l e t r ô n i c o c o m u m a d e s c r i ç ã o escrita. Assim, forma, figura, c o r e textura das
criaturas são d e t e r m i n a d a s a partir dos parâmetros c o n t i d o s no texto. A multipli-
c i d a d e e v a r i e d a d e dos textos faz c o m q u e as criaturas a d o t e m a p a r ê n c i a s hete-
rogêneas e individuais. A partir da r e c e p ç ã o do e-mail, a criatura é gerada e
c o m e ç a a " v i v e r " no environment situado no museu, o n d e os visitantes locais
p o d e m interagir d i r e t a m e n t e c o m ela. O autor do texto r e c e b e um curriculum
vitae e u m a i m a g e m de " s u a " criatura, sendo informad o de seu t e m p o de v i d a ,
seus d e s c e n d e n t e s e c l o n e s gerados.
D o s e x e m p l o s a n t e r i o r m e n t e citados, desprendem-s e t r a n s f o r m a ç õ e s
p r o f u n d a s , n ã o só no m o d o de c o n c e b e r (produzir) a obra, mas na p r ó p r i a
m a n e i r a de entender a arte e a f u n ç ã o do espectador. A l é m disso, e v i d e n c i a m
q u e esse tipo d e m u d a n ç a s está v i n c u l a d o , forçosamente, a o d e s e n v o l v i m e n t o
de n o v a s tecnologias , s e m as quais seria impossível propor d e t e r m i n a d as ques-
tões estruturais, c o n c e i t u a i s e estéticas. Essas não são, p o r é m, a f i r m a ç õ e s n o v a s
ou recentes. Q u e o uso de d e t e r m i n a d a s t é c n i c a s ou m á q u i n a s i n f l u e n c i a o
p r ó p r i o processo de c r i a ç ã o , já havia sido a d v e r t i d o por N i e t z s c h e , q u e ao usar
sua primeira m á q u i n a de escreve r o b s e r v o u q u e " d a s S c h r e i b z e u g sich in d i e
G e d a n k e n m i t e i n s c h r e i b e " ("a m á q u i n a de escreve r se co-escreve no pensa-
m e n t o " ) . P a u l V a l é r y r e c o n h e c i a , e m p r i n c í p i os d o s é c u l o X X , que, u m a v e z q u e
n e m a matéria, n e m o e s p a ç o, n e m o t e m p o são o q u e e r a m antes, todas as artes
já n ã o p o d e m ser entendida s c o m o em outras é p o c a s, e q u e já n ã o se p o d e mais
evitar os efeitos das c i ê n c i a s e das práxis modernas. Tais i n o v a ç õ e s m o d i f i c a r ã o
a t é c n i c a das artes e c h e g a r ã o a transformar o próprio c o n c e i t o de arte - prog-
nosticava V a l é r y . O u , c o m o dizia R e n é Berger: toda t é c n i c a t e m u m a d i m e n s ã o
estética q u e i n f l u e n c i a tanto nossa s e n s i b i l i d a d e , c o m o nossa i m a g i n a ç ã o e
nossas fantasias.
86 Em 1985, Fred Forest afirmou: "Situar a arte, hoje em dia, nos sistemas dispostos em diversos níveis
de organização da realidade a partir da superação dos estreitos limites das disciplinas, me parece uma
tarefa necessária e inevitável". (Ver Fred Forest, "Manifeste pour une esthétique de la c o m m u n i c a t i o n " ,
in: Pouise Poissant [ed.]. Esthétique des Arts Médiatiques. Q u e b e c : Université du Q u e b e c , 1995, p.36.)
Roy Ascott, no catálogo do Interactive Media Festival, San Francisco, 1995, substitui a noção de arte
pela de sistemas. Cf. Louis B e e e Peter W e i b e l .
1 Ver Fred Forest. Manifeste pour une esthétique de la communication, in: Plus Moins Zéro, n° 43.
Bruxelas, out. 1985. (Reeditado em: Pouise Poissant [Ed.], Esthétique des Arts Médiatiques. op. cit.,
p.25-61.) O u t r o teórico da estética da c o m u n i c a ç ã o é M a r i o Costa.
A expressão estética da comunicação foi empregada no início dos anos 1980, em particular por Fred
Forest, em seu Manifeste pour une esthétique de la communication, em referência aos fenômenos
artísticos q u e empregam diferentes tecnologias (infografia, vídeo, telemática etc.). Para Forest - tam-
bém c o n h e c i d o por sua contribuição ao movimento da arte sociológica a partir dos finais dos anos
1960 -, o artista da c o m u n i c a ç ã o se transforma num tipo de arquiteto da informação, q u e incide na
modificação não só dos hábitos da percepção, mas também das atitudes do espectador, das formas de
sensibilidade e da própria interpretação da arte. A estética da c o m u n i c a ç ã o se constitui c o m o uma
reflexão sobre a natureza, a circularidade e a representabilidade das mensagens no contexto da comu-
n i c a ç ã o social contemporânea. A c o m u n i c a ç ã o é, por si mesma, produtora de realidades; o artista que
trabalha c o m os meios tecnológicos e de t e l e c o m u n i c a ç ã o torna-se um fabricante de realidades; e a
estética da c o m u n i c a ç ã o ambicion a contribuir para a apreensão dessas realidades e favorecer uma
nova c o n c e p ç ã o do mundo.
1 7 6 - CLAUDIA GIANNETTI
V i m o s , t a m b é m , q u e o s sistemas sociais h u m a n o s s e c o n s t i t u e m c o m o
redes d i a l ó g i c a s e, portanto, são sistemas de c o o r d e n a ç õ e s de o p e r a ç õ e s na
linguagem . A arte, ao produzir-se e existir nessa rede d i a l ó g i c a e no d o m í n i o
das interações entre os seres h u m a n o s e entre estes e o meio, não p o d e limitar-se
a ser um tipo " e s p e c i a l " de objeto, n e m i m p l i c a r um significado a u t ô n o m o , n e m
t a m p o u c o ser u m a forma de e x p e r i ê n c i a i n d e p e n d e n t e do observador . T o d o s os
atos da p e r c e p ç ã o encontram-se p r o f u n d a m e n t e unidos à pré-história da expe-
riência i n d i v i d u a l ou c o l e t i v a , isto é, à m e m ó r i a (do o b s e r v a d o r, da s o c i e d a d e ) ,
e são s e m p r e v a l o r a d o s e m o c i o n a l m e n t e pelo sujeito. C a d a ato de p e r c e p ç ã o é,
a l é m disso, um ato de a ç ã o virtual. 2 Esse argument o v a i contra os f u n d a m e n t o s
tanto da estética racionalista c o m o da metafísica, s e g u n d o os quais é possível
encontrar, fora do sujeito e da obra (no m u n d o natural ou real), um critério
o b j e t i v o d e v a l o r estético. 3
C a d a d o m í n i o de e x p l i c a ç õ e s constitui um d o m í n i o de ações q u e
são a c e i t a s c o m o a ç õ e s legítimas n u m d e t e r m i n a d o d o m í n i o d o e n t o r n o d e
um observador ou de uma comunidade. D a d o que cada domínio de ações é um
d o m í n i o d e c o n h e c i m e n t o nesse d o m í n i o , c a d a d o m í n i o d e e x p l i c a ç õ e s espe-
c i f i c a u m d o m í n i o d e c o n h e c i m e n t o . O d o m í n i o d e c o n h e c i m e n t o é , desta
forma, um domínio em processo que se constitui como processo. Assim, todos
os o b s e r v a d o r e s q u e e m p r e g a m o m e s m o critério de v a l i d a ç ã o para suas expli-
c a ç õ e s o p e r a m e m d o m í n i o s c o g n i t i v o s q u e s e e n t r e c r u z a m e c r i a m , portanto,
d o m í n i o s d e e x i s t ê n c i a isomorfos.
2 Cf. Ernst Póppel. " A s estéticas cultivadas pela história da cultura não podem ser valoradas de forma
independente da maneira c o m o experimentamos nossa experiência", in: " W e n n die M a s c h i n e láuft, ist
sie nicht mehr zu reparieren", in: Florian Rõtzer (Ed.), Vom Chaos zur Endophysik. M u n i q u e : Bôer
Verlag, 1994, p.149.
Os princípios da Endofísica
1 7 8 - CLAUDIA GIANNETTI
m o d e l o s , e dos p r i n c í p i o s da o b s e r v a ç ã o externa de m o d e l o s e de sistemas
internos. O centro da questão está no reconhecimento de que nós, seres humanos,
s o m o s parte d o u n i v e r s o e o b s e r v a d o r e s d e nosso m u n d o , d o q u a l s o m o s ,
n e c e s s a r i a m e n t e , partícipes. C o m o tais, n ã o temos acesso direto ao m u n d o , n e m
p o d e m o s observar, de fora, o m u n d o em q u e v i v e m o s , de m a n e i r a q u e o q u e
o b s e r v a m o s , a realidade, sempre incorpora um e l e m e n t o de subjetividade . Para
aproximar-se de forma externa a modelos de mundo, a Endofísica propõe trabalhar
c o m o e x o m o d e l o s (modelos externos) de endossistemas (sistemas internos), utili-
zando, para isto, instrumentos c o m o os c o m p u t a d o r e s .
7 Otto E. Rõssler. Endophysik. Die Weltdes inneren Beobachters. Berlim: M e r v e Verlag, 1992, p.130.
Dito de uma maneira mais precisa, se perfilam duas questões: (1) Existem proprie-
dades externas que são acessíveis de dentro? (Pergunta de Gõdel.) (2) Existem
propriedades internas válidas, que não estão presentes se o mesmo sistema é
observado de fora?"
O mundo, que parece um sistema de realidade virtual no qual não há uma saída
de emergência, só pode ser observado de dentro. Contudo, podem-se gerar mundos
de nível inferior no computador, nos quais a interface entre observador explícito
e o resto de seu mundo pode ser investigada explicitamente. 12
Essa i n v e s t i g a ç ã o s e d e f i n e c o m o meta-experimento, o u e x p e r i m e n t o
n u m a segunda esfera, b a s e a d o inteiramente na d i f e r e n c i a ç ã o entre exo e endo.
O que Bohr provavelmente tinha diante de si era uma vaga visão do princípio de
Gõdel, quatro anos antes que Gõdel. (...) Von Neumann, Popper e Finkelstein
tentaram tirar as primeiras conseqüências disto. O princípio decididamente novo
é o da introdução do observador num modelo de mundo reversível. O observa-
dor generalizado de Bohr - a sociedade cientifica, que se entendia numa lingua-
gem natural, utilizando termos clássicos e evidentes - é substituído pelo obser-
vador individual. (...) Esse é o ponto que diferencia o novo modelo de Física
(aqui) formulado, da antiga Física.13
A r e l a ç ã o t r a d i c i o n a l e n t r e o o b s e r v a d o r e a o b r a de arte b a s e o u - s e
na existência i n d e p e n d e n t e de a m b o s e no p o s i c i o n a m e n t o c o n t e m p l a t i v o do
Figura 18 - Fleischmann, Bohn, Strauss, Liquid Views or The Virtual Mirror of Narcissus, 1993, diagrama
de instalação
1 8 4 - CLAUDIA GIANNETTI
k
Segundo Scott S. Fisher, que junto c o m outros membros do A m e s Research
C e n t e r da N a s a t r a b a l h o u nesse projeto, o o b j e t i v o era criar um n o v o tipo de
interface q u e se aproximass e o m á x i m o possível das c a p a c i d a d e s sensorials e
c o g n i t i v a s dos seres h u m a n o s . O VIEW-System dá um passo importante para a
imersão do e s p e c t a d or nas imagens virtuais tridimensionais geradas pelo com-
putador e seu c o n d i c i o n a m e n t o ao m o v i m e n t o e à v o z do interator. Este p o d e
olhar, em arcos de c i r c u n f e r ê n c i a de 3 6 0 graus, o entorno o r i g i n a d o artificial-
m e n t e e m a n i p u l a r , pelo uso de dispositivos adaptados ao corpo, os objetos
virtuais existentes nesse e s p a ç o sintético. 14 A idéia de participação extrínseca do
p u b l i c o na obra c e d e e s p a ç o ao c o n c e i t o de participação intrínseca ou de intera-
tividade: obra e interator se e n c o n t r a m n u m a r e l a ç ã o de i n t e r d e p e n d ê n c i a .
D e p e n d e n d o do grau de i d e n t i f i c a ç ã o e e n v o l v i m e n t o do interator no
sistema, p o d e se passar de u m a interatividade ou s i m u l a ç ã o débil - c o m o , por
x e x e m p l o , a da i m a g e m fictícia c o m o c o n s t r u ç ã o i n t e n c i o n al de estruturas q u e
tem u m a experiência real limitada, ou a dos jogos, nos quais o interator m a n t é m a
c o n s c i ê n c i a da não-veracidade -, a u m a s i m u l a ç ã o forte ou f i c ç ã o inconsciente,
na q u a l o o b s e r v a d o r n ã o p o d e diferenciar a r e a l i d a d e da f i c ç ã o , e x p e r i ê n c i a
q u e p o d e ser v i v e n c i a d a i s o l a d a m e n te ou ser c o m p a r t i l h a d a por outros observa-
dores q u e s e e n c o n t r e m n o m e s m o e s p a ç o f i c c i o n a l .
14 Cf. Scott S. Fischer. " W e n n das Interface im virtuellen verschwindet", in: Manfred W a f f e n d e r (Ed.).
Cyberspace - Ausfliige in virtuelle Wirklichkeiten. Hamburgo: Rowohlt, 1991.
1 8 6 - CLAUDIA GIANNETTI
Os meios eletrônicos, em seu conjunto, representam a tentativa do ser humano
de simular, no interior de seu universo, uma evasão para fora do universo. Os
mundos mediáticos são mundos artificiais e modelos de mundos criados pelo ser
humano, que deixam claro que este só é um observador interno no mundo, mas
que, nos mundos mediáticos, pode ser um observador interno e externo simulta-
neamente. (...) Neste mundo é possível, pela primeira vez, estabelecer uma
comunicação entre o observador interno e o externo, entre o mundo interno
(endo) e o externo (exo).16
A q u e l e s sistemas o u o b r a s d e R V e I A q u e n ã o a p o s t a r e m nessa s o l u ç ã o
c o n t i n u a r ã o m a i s p r ó x i m o s ( a i n d a q u e t e c n o l o g i c a m e n t e m a i s a v a n ç a d o s ) dos
panoramas, cosmoramas , dioramas, fotoramas, teatroscópios ou cineramas
q u e d o p r e t e n d i d o " c i b e r e s p a ç o " . 1 7 C o n t i n u a r ã o , c o m o seus m o d e l o s prece-
dentes, m a i s p r ó x i m o s da idéia de " v i a g e m c o m os o l h o s " a r e a l i d a d e s exis-
tentes r e p r e s e n t a d a s - c o m o os p a n o r a m a s l o n d r i n o s do s é c u l o X V I I I e X I X e
suas diferentes viagens simuladas 1 8 -, qu e dão a sensação de imersão em outras
16 Peter W e i b e l . " R e a l i d a d Virtual: el endoacceso a Ia electrónica", in: Claudia Ciannetti (Ed.). Media
cultura. Barcelona: A C C 1'Angelot, 1995, p.19.
17 Entre os séculos XVIM e X I X se desenvolveu uma série de espaços de simulação em forma de panora-
mas (Robert Barker, 1787-1791); cosmoramas (Raoul Crimoin-Samson, 1897); dioramas (Daguerre,
1822); stereopticon e fotoramas (Charles A. Chase, 1894; Lumière, 1900); teatroscópios (Alfred Bréard,
1900); ou cineramas (Raoul Crimoin-Samson, 1900).
" Os panoramas ofereciam imagens montadas em forma circular em tamanho real e em perspectiva,
que s i m u l a v a m passeios por paisagens de P l y m o u t h (1 797), Constantinopla (1801), Roma (1803),
Gibraltar (1805), N e p a l (1820) etc.
1 8 8 - CLAUDIA GIANNETTI
Figura 19 - Peter W e i b e l , Die Wand, der Vorhang (Grenze, die), Fachsprachlich Auch: Lascaux
[A Parede, o Telão (Limites, os), em Linguagem Técnica Também: Lascaux], 1994
1 9 0 - CLAUDIA GIANNETTI
suas mensagens v i a Internet -, e que, desta m a n e i r a , se torna m v i r t u a l m e n t e
presentes c o m o agentes no e s p a ç o de dados da instalação. A partir desses dados,
o o b s e r v a d o r interno ou interator cria n o v a s s e q ü ê n c i a s de d a d o s - sucessões
i n f o r m a c i o n a i s - q u e são percebidas c o m o c o m p o s i ç õ e s sonoras no e s p a ç o acús-
tico. Portanto, o b s e r v a d o r interno e participantes externos se e n c o n t r a m n u m
e s p a ç o virtual, no qual intercambiam dados para gerar novas estruturas de comuni-
c a ç ã o , q u e s e c o n v e r t e m nos e l e m e n t o s constitutivos d o m u n d o s i m u l a d o .
A r e a l i d a d e do o b s e r v a d o r e a d e p e n d ê n c i a do o b s e r v a d o r da a p a r ê n c i a
do m u n d o , assim c o m o sua distinção entre os f e n ô m e n o s r e l a c i o n a d o s c o m o
o b s e r v a d o r interno e o o b s e r v a d o r externo, o f e r e c e m importantes pautas de
reflexão para as estéticas da auto-referencial idade, da virtual idade (do caráter
imaterial dos e l e m e n t o s constitutivos do m u n d o virtual), da interatividade (da
s u b o r d i n a ç ã o do sistema ao o b s e r v a d o r ) e da interface (o m u n d o e n t e n d i d o
c o m o u m a questão de interface) q u e c a r a c t e r i z a m a Endoestética.
21 Para mais informação, ver o catálogo monográfico de Peter W e i b e l , Bildwelten, coord. Romana
Schuler. Viena: Triton-Verlag, 1 996; e o ensaio "Virtuelle Realitãt oder der Endo-Zugang zur Elektronik",
in: F. Ròtzer, P. W e i b e l (Eds.). Cyberspace: Zum medialen Gesamtkunstwerk. M u n i q u e : Bôer Verlag,
1993, p.15-46.
22 Osmose é uma instalação de realidade virtual, na qual o interator utiliza um traje de dados e óculos
estereoscópicos. A respiração do usuário determina os parâmetros de deslocamento do interator na
imagem e da transformação da paisagem visualizada.
1 9 4 - CLAUDIA GIANNETTI
As p o t e n c i a l i d a d e s q u e a p a r e c e m c o m as tecnologias digitais e suas apli-
c a ç õ e s no c a m p o da c r i a ç ã o artística transformam, necessariamente, tanto os
instrumentos, a forma e a estruturação das obras de media arte, especificamente,
da arte interativa, c o m o , de m o d o mais profundo, o tipo de linguagem, seus
c o n c e i t o s e sua esfera de investigação. A Endoestética d e v e ser vista c o m o um
m o d e l o teórico que, baseando-se em métodos interdisciplinares, pretende pro-
p o r c i o n a r as n o ç õ e s essenciais para entender e analisar essas m u d a n ç a s e as
p r o d u ç õ e s atuais q u e se s e r v e m das possibilidades criativas oferecidas pelos
n o v o s recursos t e c n o l ó g i c o s interativos.
A r e l a t i v i z a ç ã o de nossa v i s ã o da arte c o m o e n t i d a d e t r a n s c e n d e n t e
e universal implica sua substituição por um delineamento que possibilite sua
compreensão como um domínio plural dentro do sistema social e de comunicação
de um determinado entorno, e m p e n h a do no projeto de dilatação de nossas rea-
lidades (conhecimentos, experiências, sensações, percepções etc.). Da mesma
forma que a teoria pós-moderna persevera em ampliar a definição da arte além
da arte (a e m a n c i p a ç ã o da arte da própria arte), propomos um reposiciona-
mento da teoria estética além da estética.
2 0 0 - CLAUDIA GIANNETTI
indaga n ã o só c o m o é o m u n d o , mas c o m o poderia ser e c o m o p o d e m o s , do
m o d o m a i s e f i c az e c o n v i n c e n t e , criar n o v o s m o d e l o s d e m u n d o por m e i o dos
recursos c o m p u t a c i o n a i s ( c o m o p r o p õ e a Endoestética). A d i l a t a ç ã o de nossas
próprias e x p e r i ê n c i a s de m u n d o s t a l v e z nos a j u d e a c o m p r e e n d e r m e l h o r a
i m p o r t â n c i a e as conseqüências de nossas ações sobre nosso meio, e a assumir,
c o m modéstia e tolerância, nosso papel na c o n s t r u ç ã o de " r e a l i d a d e s " sociais.
Analógico - Representação dos valores mutáveis de uma propriedade por meio do uso de
um indicador que pode variar de forma contínua. O sinal é reproduzido de maneira análoga,
isto é, proporcional à do fenômeno a transmitir. Opõe-se ao digital.
Arte eletrônica - media art - Segmento da arte contemporânea que utiliza as tecnologias
eletrônicas e/ou digitais (audiovisuais, computadorizadas, telemáticas).
Arte genética - Criação de criaturas virtuais por meio de algoritmos genéticos que têm uma
representação bi ou tridimensional. O sistema de algoritmo genético permite intervir nos
processos de crescimento de seres virtuais, na investigação das possíveis mudanças formais
e na simulação de processos biológicos de procriação e reprodução de microorganismos.
Os três processos de reprodução celular artificial especialmente importantes para o funcio-
namento de um algoritmo genético e sua estrutura genético-cromossômica são: a seleção,
o cruzamento e a mutação. Em alguns casos as obras de arte genética estabelecem modelos
de interação com o observador. Denominada também bioarte.
Arte interativa - Segmento da arte contemporânea que utiliza as tecnologias eletrônicas e/ou
digitais (audiovisuais, computadorizadas, telemáticas) interativas baseadas em interfaces
técnicas, que permitem estabelecer relações dialógicas entre o público e a obra ou sistema.
Algumas manifestações artísticas estabeleceram vínculos entre obra e espectador das mais
diversas maneiras, buscando, assim, acentuar o caráter compartilhado da criação. Os hiper-
mídias, os sistemas de realidade virtual, telemáticos e de IA, empregados em diversas
Cibernética - Termo derivado do grego que significa a "arte de conduzir" (em sentido
figurado, os homens na sociedade ou, resumindo, governar). Aplica-se à teoria das mensagens
no campo da comunicação e do controle das máquinas, com objetivo de conseguir a
resolução operacional e a concepção de uma linguagem específica, que permita a comuni-
cação entre os diferentes sistemas, assim como entre indivíduos e máquinas. Seu propósito
é desenvolver sistemas e técnicas que permitam estabelecer um repertório adequado de idéias
e métodos para classificar, por conceitos, suas manifestações particulares. Propõe a substi-
tuição do conceito de energia pelo de informação como parâmetro elementar da comuni-
cação. Um dos pioneiros da Cibernética foi o matemático norte-americano Norbert Wiener.
Data suit - traje de dados - Dispositivos empregados nos sistemas de RV, que permitem ao
usuário mover-se ou deslocar-se no espaço ou cenário virtual.
Expanded cinema - cinema expandido - Formato híbrido que pode incluir projeções de
cinema, environments, performances, ações, participação do público etc. O impulso inicial
foi dado em 1966 com o filme Continuous Sound and Image Moments, de Tjebbe van
Tijen. A partir daí, artistas como Peter Weibel, Valie Export, Jeffrey Shaw ou Stan Vanderbeek,
desenvolveram formas diferentes.
Hipermídia - Sistema de hipertexto que utiliza recursos multimídia (gráficos, vídeo, ani-
mação e som).
Input - entrada - Dado para ser processado. Processo de transferência de dados de uma
memória externa para a memória interna de um computador.
2 0 6 - CLAUDIA GIANNETTI
Interator - Em sistemas interativos, pessoa que não só "atua" mentalmente no espaço da
obra, mas que desempenha um papel ativo e interage com o sistema. Espectador e obser-
vador são termos que, do ponto de vista da relação entre receptor e obra, têm uma conotação
contemplativa e distanciada e, por outro lado, são inadequados para expressar o vínculo
interativo entre ambos. A palavra "usuário", comumente empregada, provém da função de
"uso" que a pessoa faz do computador ou outro aparelho e que não é, necessariamente,
uma ação interativa. O termo foi empregado no campo do teatro interativo por Kristi Allik
e Robert Mulder, em 1992.
Net art - web art - arte telemática - arte em rede - Os diferentes termos definem as obras
artísticas criadas a partir de programas de composição de páginas (aplicativo que reúne
texto, gráficos e som), que utilizam um web site para editar a obra. As principais caracterís-
ticas dessas obras são, entre outras, estar acessível (on-line) por meio da Internet, ser uma
obra realizada e pensada para o meio telemático e dispor de recursos interativos ou hiper-
textuais (ver arte da telecomunicação).
Off-line - sem conexão - Em comunicação de dados significa não estar conectado a outro
computador ou à rede. Utiliza-se, também, para fazer referência ao uso de suportes como
o C D - R O M e o DVD, que trabalham independentes de conexão com a rede.
Realidade Virtual (RV) - Realidade gerada por computador. O sistema pode submergir (pro-
cesso de imersão) o usuário na ilusão de um mundo gerado pelo computador, permitindo-lhe
que este seja livremente percorrido. Para isso, o usuário utiliza interfaces como, por exemplo,
o capacete de dados (head-mounted-display), que mostra imagens estereoscópicas, as luvas
de dados (data glove), ou o traje de dados (data suit), que permitem manejar objetos virtuais
ou deslocar-se no ambiente virtual. Seu campo de aplicação potencial inclui a arquitetura, a
medicina, a arte e o entretenimento, entre outros. A palavra virtual provém de "vis", que quer
dizer "força". De vis derivam "vir", "masculino", "virtus": "virtude", no sentido de qualidade
do masculino, e "virtual". Isto significa que, segundo a etimologia, esse significado não tem
vínculo direto com o sentido de virtual que empregamos hoje em dia. Alguns teóricos sugerem
que, de "virtus", por ter sua origem em "força", provém a idéia de atuação, e a virtualidade,
em sua acepção atual, está relacionada à ação. Da perspectiva ontológica, virtual significa o
que advém do possível e se aproxima da realidade.
Robótica - Termo que descreve a disciplina que estuda, desenha e cria mecanismos e
técnicas de concepção e utilização de robôs e seus componentes, capazes de realizar
tarefas determinadas e adaptar-se ao seu entorno.
Sistema experto - Programa dedicado a resolver problemas e dar conselhos dentro de uma
área de conhecimento especializada, por exemplo, o diagnóstico médico, o desenho de
automóveis, o estilo de um artista etc.
Telerrobótica - Robô móvel controlado por um operador humano por meio de um sistema de
processo de dados que opera em conjunto com sistemas de telecomunicação. Os comandos
são enviados de um local a um robô localizado em outro local e conectado em rede.
Usuário - O usuário final. Pessoa que usa um sistema informático e seus programas de
aplicação para realizar tarefas e produzir resultados. Usuário da rede refere-se a pessoas
que estão conectadas à Internet.
Videoprojeção - Começa a ser utilizada pelos artistas Peter Campus e Bill Viola na segunda
metade dos anos 1970. Entretanto, foi a partir da segunda metade dos anos 1980 que
passou a ser mais comum, pois nessa época os projetores de vídeo foram aperfeiçoados e,
progressivamente, seus preços diminuíram. Também nessa época, com os novos sistemas
de retroprojeção os aparelhos foram eliminados do espaço de exibição. As instalações
expandiram suas dimensões e se desdobraram no espaço, chegando a ocupar macroam-
bientes. Essas manifestações evidenciam uma tendência, uma vontade de fazer evadir a
imagem das limitações do monitor, numa tentativa de potencializar a idéia de imateriali-
dade da obra e, ao mesmo tempo, reforçar as sensações vividas pelo espectador por meio dos
efeitos impactantes e envolventes da macroprojeção. Parte considerável das instalações
com projeções adotam uma forma expandida ao utilizar aparelhos eletrônicos, adentrando
2 1 0 - CLAUDIA GIANNETTI
no campo da instalação multimídia. Essas instalações aproximam-se, também, das insta-
lações fílmicas, que, apesar do menor grau de expansão, têm manifestações importantes
nas obras de artistas como Robert Whitman, Edmund Kuppel e Bill Lundberg (ver instalação
audiovisual).
World Wide Web ( W W W ) - Sistema global de hipertexto que utiliza a Internet como seu
mecanismo de transporte. Criada em 1989, no Laboratório Europeu para Física de Partículas
(CERN), na Suíça, a Web baseia-se no Protocolo de Transporte de Hipertexto (http), um
padrão da Internet que especifica a forma de localizar e adquirir recursos de um aplicativo
armazenado em outro computador na Internet. O protocolo http proporciona um acesso
transparente e sensível na utilização de documentos Web, entre outros. Ao incorporar a
hipermídia, a Web se torna o meio ideal para publicação de informação na Internet.
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E Garcia, Wagner, 90
Carcia-Rossi, Horacio, 81
Eco, Umberto, 71, 93, 111
Garnich, Rolf, 41
Eigen, Manfred, 66
Gerstein, Rosalyn, 130
Einstein, Albert, 69, 145
Gessert, George, 161
Eisenstein, Sergej M., 148
Gibbs, Williard, 25
Emmeche, Claus, 156-157, 180-181 Gillette, Frank, 84
Emmerich, Roland, 139 Ginsberg, Allen, 87
Engelbart, Douglas C., 131
Clasersfeld, Ernst von, 68, 146-147, 155
Export, Valie, 83
Glass, Philip, 87
Gõdel, Kurt, 32, 79, 114, 144, 180, 182
F Goethe, Johann Wolfgang von, 136
Flusser, Vilém, 60-62, 69, 73-74, 89, 95, Grünfeld, Thomas, 161
128, 149, 164-165 Guattari, Felix, 133
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H KICiver, Billy, 81
Knowbotic Research, 190-191
Hahn, Hans, 35
Kosuth, Joseph, 79
Haken, Hermann, 66
Kramer, Sybille, 33
Halbach, Wulf. R., 29, 117-118, 120, 122,
Kremer, David, 161
142
Krieg, Peter, 126
Hartwagner, Ceorg, 126
Krueger, Myron, 112-113,124,129,137,141
Hegedüs, Agnes, 124, 155
Heilig, Morton, 183 Kuhn, Thomas S., 79-80
J Loeffler, Carl, 89
Lovelace, Ada, 29
Jakobson, Roman, 39
Luhmann, Niklas, 63-65, 68, 119
Jauft, Hans Robert, 110
Lumière, Louis Jean, 187
Joyce, Michael, 133
Lyotard, Jean-François, 42-43, 62, 79, 92, 95
K
M
Kac, Eduardo, 88, 90, 97-99, 161
Machado, Arlindo, 90
Kagel, Maurício, 87
Mack, Heinz, 81
Kamper, Dietmar, 149-150
MacMurtries, Chico, 162
Kandinsky, Wassily, 106, 161
Malewitsch, Kasimir, 13, 20
Kant, Immanuel, 37, 46, 71, 104, 144, 147,
Mallarmé, Stéphane, 77
197, 219, 235
Malsburg, Christoph von der, 124
Kircher, Athanasius, 150-151
Mandelbrot, Benoit, 41
Kittler, Friedrich, 120
Manglano-Ovalle, Inigo, 161
Klein, Yves, 78, 96
Manzoni, Piero, 78, 96
Klotz, Heinrich, 84
2 3 6 - C L A U D I A GIANNETTI
Rauschenberg, Robert, 78, 81 Sogabe, Milton, 90
Rõssler, Otto E., 139, 178-182, 185, 188 Strauss, Wolfgang, 1 84, 186
Xenakis, Iannis, 44
z
Zizek, Slavoj, 128
Zuse, Konrad, 25
2 3 8 - CLAUDIA GIANNETTI