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1º PERÍODO
❖ PROBLEMATIZAÇÃO INICIAL
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa;
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
O poema O Bicho, escrito pelo autor brasileiro Manuel Bandeira (1886-1968), tece
uma dura crítica social da realidade brasileira dos anos quarenta. Conciso, O Bicho é
preciso ao fazer um registro da miséria humana. Esse poema escandaliza a nós pela sua
construção que nos deixa em suspense e depois pela triste constatação da circunstância
social que impõe a degradação do ser humano. A expressão "meu Deus", já no final do
poema, vem carregada de espanto e revela um misto de surpresa e horror.
Esse poema, nos leva a fazer vários questionamentos acerca das nossas ações
sociais, tanto no campo coletivo quanto individual:
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❖ Que sociedade e mundo estamos produzindo por meio de nossas relações com os
outros e com o ambiente? Uma sociedade de direitos? Igualitária? Sustentável?
Solidária?
❖ Que papel temos desempenhado na produção dessa sociedade? Estamos
satisfeitos com a realidade social? Temos questionado? Problematizado?
❖ Que ações temos realizado para produzir um mundo melhor? Temos nos afirmado
como sujeitos de direitos? O que temos feito nesse sentido?
❖ Ou ao contrário, temos nos conformados diante da negação de nossos direitos, nos
conformados com as desigualdades produzidas histórica e socialmente, como se
estas fossem naturais? Temos contribuído para a naturalização e perpetuação das
desigualdades sociais? Estamos convencidos de que a miséria e a pobreza são
naturais?
Levar à consciência os mecanismos que tornam a vida dolorosa, inviável até, não é
neutralizá-los; explicar as contradições não é resolvê-las. Mas, por mais cético que se
possa ser sobre a eficácia social da mensagem sociológica, não se pode anular o efeito
que ela pode exercer ao permitir aos que sofrem que descubram a possibilidade de
atribuir seu sofrimento às causas sociais e assim se sentirem desculpados; e fazendo
conhecer amplamente a origem social, coletivamente oculta, da infelicidade sob todas
as suas formas, inclusive as mais íntimas e as mais secretas. BOURDIEU, Pierre (coord.). A
miséria do mundo.
Petrópolis: Vozes, 1997. p. 735. Disponível em: http://meloideias.blogspot.com/2011/07/sociologia-e-
miseria-humana.html
1. INICIANDO O DIÁLOGO
Certamente, você já ouviu frases como estas: “antigamente era
diferente”, “naquele tempo era melhor”, “a gente construía os próprios
brinquedos”, “os vizinhos conversavam mais”, e tantos outros ditos.
De fato, vivemos em um mundo diferente, que se modifica em uma
velocidade antes inimaginável. Além das mudanças aceleradas nas
últimas décadas, as sociedades deparam com desafios e problemas
de grandes dimensões, muitos dos quais criados pelos seres
humanos em sua convivência com os outros e com o ambiente.
Apesar das mudanças, há coisas que permanecem, e uma delas
é o próprio fato de as sociedades continuarem existindo, de as pessoas criarem laços entre
si, tecerem planos e os executarem.
O que faço e como vivo, meu comportamento e estilo de vida fazem parte da minha
individualidade, que foi construída nos processos de interação e socialização pelos quais
passei. Essa convivência na família, na escola, no grupo de amigos também tem relação
com os processos históricos, econômicos, políticos, sociais e culturais mais amplos.
Assim, somos produtores da sociedade e também somos produzidos por ela; nossas
atitudes modelam e modificam o mundo social, ao mesmo tempo, que são modeladas e
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modificadas por ele. Investigar essas conexões entre o que a sociedade faz de nós e o que
fazemos de nós mesmos é justamente um dos trabalhos da Sociologia, segundo o
sociólogo Anthony Giddens.
Estudar a vida social humana é o objeto das Ciências Sociais. Entrar em contato com
elas, no entanto, pode nos tirar do nosso ponto de vista habitual, desacomodando nossas
ideias e provocando nossa ação. O pensar das Ciências Sociais nos convida a ir além das
aparências daquilo que nos é familiar; questiona-nos quanto ao que tomamos como natural
e inevitável na vida em sociedade. Diferentemente do senso comum (um conhecimento
prático, do cotidiano), a Antropologia, a Ciência Política e a Sociologia nos possibilitam sair
do nosso mundo particular e apreender as múltiplas dimensões da política, da economia,
da cultura, da sociedade propriamente dita.
2. MAS QUAL É O CAMPO DE ESTUDO ESPECÍFICO DA SOCIOLOGIA?
Ciência ocupada com o seu tempo, a Sociologia tem como tarefa central mostrar que
fenômenos como as desigualdades, a pobreza e a estratificação social não são “naturais”,
e sim sociais. Ao desnaturalizar os fenômenos, procura explicá-los, desvendando os
mecanismos de dominação social.
Para entender os elementos essenciais da sociedade em que vivemos, os sociólogos
procuram dar respostas a questões como estas:
A Sociologia nos ajuda a entender melhor essas e outras questões que envolvem nosso
cotidiano, sejam elas de caráter pessoal, grupal, ou, ainda, relativas à sociedade à qual
pertencemos ou a todas as sociedades. Mas o fundamental da Sociologia é fornecer-nos
conceitos e outras ferramentas para analisar as questões sociais e individuais de um modo
mais sistemático e consistente, indo além do senso comum. Para Pierre Bourdieu,
sociólogo francês (1930-2002), a Sociologia, quando se coloca numa posição crítica,
incomoda muito, porque, como outras ciências humanas, revela aspectos da sociedade que
certos indivíduos ou grupos se empenham em ocultar. Se esses indivíduos ou grupos
procuram impedir que determinados atos e fenômenos sejam conhecidos do público, de
alguma forma o esclarecimento de tais fatos pode derrubar seus interesses ou mesmo
concepções, explicações e convicções.
2º PERÍODO
A Sociologia não pretende ser um método para nos ensinar a conviver com os outros,
mas é uma ciência que quer descobrir como e por que convivemos, desvendando forças
que nos conectam uns aos outros. Tais forças surgem a partir de redes de interdependência
que não foram criadas por nós, mas nas quais nos enredamos desde que nascemos.
A Sociologia é uma investigação sistemática sobre aquilo que já fazemos na prática,
uma reflexão construída a partir de teorias, questionamentos, métodos, conceitos e muita
imaginação.
A tarefa da Sociologia é investigar aquilo que somos, fazemos e pensamos, algo que
pode ser bastante incômodo e desconfortável. Geralmente temos receio de nos defrontar
com ideias que questionem o que acreditamos, que possam nos lançar à dúvida e até
mesmo causar estranhamento, por exemplo, descobrir como atuam certas estruturas
sociais que geram injustiça e sofrimento, e que são difíceis de modificar.
A frase “queremos ter razão ou ser felizes?”, que foi dita pelo poeta Ferreira Gullar,
mostra um dilema muito comum. Afinal, vale a pena conhecer a realidade das coisas, partir
em busca de níveis mais profundos de significado a respeito de nossas vidas (alguns chama
de buscar a “verdade”), ainda que isso possa gerar preocupação e sensação de
impotência? Ou é melhor permanecer acomodado em nossos valores conhecidos, mesmo
que isso seja pura ilusão?
Não há uma resposta definitiva para essa questão, mas o convite à Sociologia
demarca um caminho a ser percorrido; compreender o mundo que nos cerca, pelo prazer
e satisfação em entendê-lo, desvendá-lo, e com isso exercer nossa realidade de
pensamento. Isso pode, ou não, nos levar a tentar transformar essa realidade, assim como
pode gerar satisfação e, por vezes, descontentamento.
Há bons motivos para defender a importância de aprender Sociologia. Vamos nos
concentrar em quatro deles.
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➢ Indagação Sociológica 1
Leia os seguintes pensamentos sobre o trabalho.
“O ser humano se faz pelo trabalho, porque ao mesmo tempo que produz coisas torna-se
humano.” (Maria Lúcia de A. Aranha et all. Filosofando)
a) é um castigo de Deus.
b) dignifica o homem.
c) é um processo escravo.
d) conduz o homem ao tédio.
e) é uma produção inventiva.
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3º PERÍODO
Tendemos a explicar o que ocorre à nossa volta como o resultado da ação proposital
de pessoas e de instituições que conhecemos. Baseamo-nos em nosso próprio mundo
cotidiano para explicar o que acontece. Mas, quando expandimos nosso olhar para a vida
social mais ampla, percebemos que há uma enorme variedade de condições de vida e
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experiências individuais que se dão em espaços e tempos diferentes do nosso que podem
ou não ter influência em nossa vida e que, portanto, nossa própria experiência será sempre
parcial e insuficiente para entender o que acontece com o “outro”.
Quando comparo minha época com o passado, consigo perceber que aquilo que
hoje existe nem sempre foi igual ou existiu, o que ajuda a desconstruir a naturalidade do
mundo tal qual eu conheço, e também ajuda a perceber que a vida social é dinâmica e está
em constante transformação. Essas mudanças são, muitas vezes, imperceptíveis durante
meu tempo de existência individual no mundo. Para entender mais profundamente o mundo
atual, é necessário conhecer as conexões que ele tem com outras épocas históricas e
outros espaços, e por isso o conhecimento histórico é fundamental para exercitar o
pensamento sociológico. Por que existe preconceito no Brasil? Por que existem palavras
“estrangeiras” em nosso vocabulário?
Esse aspecto se torna mais importante tendo em vista que vivemos num mundo cada
vez mais globalizado, isto é, conectado no que diz respeito a trocas econômicas, sociais e
culturais, criando uma interdependência enorme entre os países de todo o globo.
4º PERÍODO
O senso comum é um
“saber de experiência feito”,
escreveu Paulo Freire,
importante educador brasileiro.
O senso comum corresponde
àqueles conhecimentos práticos
que obtemos no dia a dia,
acertando e errando, tentando
resolver problemas e fazer
melhor as coisas cotidianas.
São conhecimentos importantes
para a vida de qualquer pessoa.
A maioria das ciências busca se definir em contraste com o senso comum, mas é
difícil sustentar essa posição em relação à Sociologia, pois é fato que ela estabelece uma
relação muito próxima com o senso comum, sendo os conhecimentos práticos das pessoas
uma de suas principais matérias primas. No entanto, a Sociologia cria algo novo a partir do
questionamento e análise do senso comum.
A Sociologia elabora suas análises com base em conceitos e teorias e na construção
de um discurso que é submetido a regras rigorosas. Suas explicações precisam ser
debatidas e confirmadas por uma comunidade de cientistas. Além disso, a Sociologia não
se limita à intenção ou ação dos indivíduos isolados (àquilo que eles fazem, sabem ou
querem), mas busca relacionar suas ações aos processos sociais mais amplos, o que só
pode ser alcançado por meio de métodos sistemáticos.
A sociologia como disciplina científica surgiu no início do século XIX, como uma resposta
acadêmica para o novo desafio da modernidade: o mundo estava se tornando cada vez
menor e mais integrado, a consciência das pessoas sobre o mundo estava aumentando e
dispersando. Os sociólogos não só esperavam entender o que mantinha os grupos sociais
unidos, mas desenvolver um “antídoto” para a desintegração social. A sociologia, ciência
que tenta explicar a vida social, nasceu de uma mudança radical da sociedade, resultando
no surgimento do capitalismo.
Na Revolução Francesa,
encontram-se filósofos a fim de
transformar a sociedade, os
iluministas, que também
objetivavam demonstrar a
irracionalidade e as injustiças de
algumas instituições, pregando a
liberdade e a igualdade dos
indivíduos que, na verdade,
descobriu-se mais tarde que
esses eram falsos dogmas. Esse
cenário leva à constituição de um
estudo científico da sociedade.
Contra a revolução,
pensadores tentam reorganizar a
sociedade, estabelecendo ordem,
conhecendo as leis que regem os
fatos sociais. Era o positivismo
surgindo e, com ele, a instituição
da ciência da sociedade. Tal
movimento revalorizou certas
instituições que a revolução
francesa tentou destruir e criou
uma "física social", criada por
Comte, "pai da sociologia". Outro pensador positivista, Durkheim, tornou-se um grande
teórico desta nova ciência, se esforçando para emancipa-la como disciplina científica.
Foi dentro desse contexto que surgiu a Sociologia, ciência que, mesmo antes de ser
considerada como tal, estimulou a reflexão da sociedade moderna colocando como "objeto
de estudo" a própria sociedade, tendo como principais articuladores Auguste Comte e Émile
Durkheim.
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1. Leia o texto abaixo e analise a charge ao lado para responder à questão. (1,0)
As sociedades
humanas sofrem
constantes
modificações ao longo
do tempo, que podem
ocorrer de forma rápida
ou lenta. Isso significa
que a humanidade se
caracteriza não pela
estabilidade social, e
sim por sua capacidade
de mudar
constantemente. Esse
processo é conhecido
como mudança social
que é “toda
transformação,
observável no tempo,
que afeta a estrutura ou o funcionamento da organização social de dada coletividade e
modifica o curso de sua história”. São diversos os fatores que contribuem para a mudança
social, podendo-se destacar: os geográficos, os culturais, os socioeconômicos, os
biológicos, os tecnológicos e os políticos. (DIAS, R. Introdução à sociologia. 2 ed. São
Paulo, Pearson Prentice Hall)
• (UEMA – 2018) Com base no texto, pode-se afirmar que a mudança social
retratada na charge é explicada, principalmente, pelo fator:
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1. Analise a Tirinha abaixo e responda por que se pode afirmar que a concepção de
pobreza da personagem está baseada no senso comum. (1,0)
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a) Um de seus pioneiros foi Max Weber que defendeu a criação de uma “física social”.
b) Ciência que não via possibilidade de conciliar progresso e manutenção da ordem.
c) Ciência que tinha como objeto de estudo a Física.
d) A sociologia como disciplina científica surgiu no início do século XIX.
e) Ciência que nasceu da preservação da Sociedade Feudal.