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Novo Marco Regulatorio para A Realizacao
Novo Marco Regulatorio para A Realizacao
ARTIGO: Novo Marco Regulatório para a realização de parcerias entre Estado e Organização da Sociedade Civil (OSC). Inovação ou peso do passado?
Nuevo Marco Regulatorio para el establecimiento de alianzas entre el Estado y las Organizaciones de la Sociedad
Civil OSCs: ¿la innovación o el peso del pasado?
Resumo: As parcerias entre Estado e Organização da Sociedade Civil (OSC) são um fenômeno observado em vários países. No Brasil,
esse evento também tem tido uma relevância crescente para a disponibilização de serviços públicos. A regulação desses relaciona-
mentos traz em si uma visão particular do Estado com relação à sociedade civil, tendo impactos na elaboração e execução de políticas
públicas. Este trabalho discute as limitações e os avanços desse processo, com destaque de como foi a mobilização para se chegar
ao novo marco regulatório e a realização da sistematização dos principais pontos de mudança. Argumenta-se que um novo marco
jurídico não é suficiente para, sozinho, modificar a trajetória de uma política pública. O que se observa é uma bagagem cultural e um
legado institucional e normativo que pendem excessivamente para o controle e que têm se exacerbado nos últimos anos por todas
as esferas da Administração Pública.
Apesar da articulação das OSC em torno da agenda do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC) e do retorno
positivo a partir da aprovação da Lei 13.204/15, muitos desafios ainda se impõe para a continuidade desse processo, o que via permitir
que o marco jurídico se torne uma inovação no âmbito da gestão pública.
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 21, n. 68, Jan./Abr. 2016
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Abstract
Partnerships between CSOs and the state are a phenomenon observed in other countries, and in
Brazil they have also become increasingly relevant for the provision of public services. Regulation
of these relationships brings about a particular view by the state of civil society, with impacts on the
design and implementation of public policies.This paper discusses the limitations and advances of this
process, highlights how mobilization occurred to get to the new regulatory framework of partnerships,
and systematizes the main points of change in it. It is argued that a new legal framework alone is
not enough to change the course of public policy, or the absence of it. What is observed is a cultural
background and an institutional and normative legacy that lean excessively towards control and that
have been exacerbated in recent years by all levels of public administration.
Despite the articulation of CSOs around the MROSC agenda, and a positive result being reached with
enactment of Law 13, 204/15, many challenges are still being imposed for the continuity of this process,
which can really enable the new legal framework to produce innovation in public management.
Keywords: Civil Society Organizations; State; partnerships; regulation
Resumen
Las alianzas entre las OSC y el Estado es un fenómeno que se observa en otros países, y Brasil tam-
bién ha tenido una relevancia cada vez mayor a la prestación de servicios públicos. La regulación de
estas relaciones trae consigo una visión particular desde el estado sobre la sociedad civil, con im-
pactos en el diseño e implementación de políticas públicas. Este documento analiza las limitaciones y
avances de este proceso, destacando cómo fue el proceso de movilización para llegar al nuevo marco
regulatorio, y la realización de una sistematización de los principales puntos de cambio. Se argumenta
que un nuevo marco legal por sí solo no es suficiente para cambiar la trayectoria de la política pública,
o falta de ella. Lo que se observa es un bagaje cultural y un legado institucional y normativo excesi-
vamente pendiente de control y que se han agravado en los últimos años por todos los niveles de la
administración pública.
A pesar de la articulación de las OSC en todo el MROSC el orden del día, y un retorno positivo de la
promulgación de la Ley 13.204, muchos retos que aún imponen la continuidad de este proceso para
que, de hecho, el nuevo marco legal se convierta en una innovación en el ámbito de administración
pública.
Palabras clave: Organizaciones de la Sociedad Civil; Estado; Alianzas; regulación
Novo Marco Regulatório para a realização de parcerias entre Estado e Organização da Sociedade Civil (OSC). Inovação ou peso do passado?
A regulação desses relacionamentos traz ção, também foi possível depreender como
em si uma visão particular do Estado com ocorreram as mobilização para a aprovação
relação à sociedade civil, tendo impactos na das Leis envolvidas no novo marco.
elaboração e execução de políticas públi-
cas. Até 2014, não havia um marco regulató- Argumenta-se aqui que um novo marco ju-
rio unificado em nível nacional sobre as par- rídico não é suficiente para modificar a tra-
cerias. O resultado disso foi a consolidação jetória de uma política pública. O que se
de um ambiente de insegurança jurídica que observa é uma bagagem cultural e um le-
trouxe consequências negativas tanto para gado institucional e normativo que pendem
o poder público, quanto para as entidades excessivamente para o controle e que têm
(Junqueira & Figueiredo, 2012; Mendonça & se exacerbado nos últimos anos por todas
Segatto, 2012). as esferas da Administração Pública.
Em 2011, foi criado um grupo de discussão Apesar da articulação das OSCs em torno
sobre o marco regulatório das OSCs, envol- da agenda do MROSC e do retorno positivo
vendo diversas entidades e redes dessas a partir da aprovação da Lei 13.204, mui-
organizações, que se dispuseram em torno tos desafios ainda se impõe na continuida-
da Plataforma Marco Regulatório das OSCs de desse processo para que de fato o novo
(Plataforma OSCs, 2011). O resultado des- marco jurídico se torne uma inovação no
sa mobilização envolve muitas idas e vindas âmbito da gestão pública.
acerca de delicados pontos que vão culmi-
nar na aprovação da Lei 13.019, de maio de 2. A regulação das relações entre Estado
2014, e da Lei 13.240, de dezembro de 2015, e OSC e o peso do passado
modificando a norma anterior, então deno-
minado pelos practioners de novo MROSC A regulação se constitui numa força institu-
(Marco Regulatório das Organizações da cional que delimita os comportamentos dos
Sociedade Civil). atores permitindo, prescrevendo ou proibin-
do categorias de ações específicas (Os-
Este estudo discute as limitações e os avan- trom, 1990). O Estado tem poder de interferir
ços desse processo, com destaque de como no funcionamento das OSCs, por meio da
foi a mobilização para se chegar ao novo criação de barreiras na entrada e limitações
marco regulatório e a sistematização dos para a atividade política e a aquisição de
principais pontos de mudança. Para tanto, recursos econômicos dessas organizações,
as autoras realizaram ampla revisão biblio- criando, por exemplo, medidas que aumen-
gráfica e análise de documentos jurídicos, tem seus custos operacionais e des/incen-
bem como o acompanhamento, entre 2012 e tivem o acesso a recursos de públicos ou
2015, de diversos eventos organizados pelo privados, bem como formas de autogeração
poder público, pelas OSCs e universidades, de receitas.
que puseram em discussão as propostas de
mudança. Nesses eventos, que contaram Mudanças em contextos regulatórios sobre
com os principais especialistas da área, bem as OSCs em diferentes países demonstra-
como atores chave no processo de mobiliza- vam path dependence e predominância de
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mudanças apenas incrementais (Bloodgood ticipação das OSCs nos processos decisó-
et al., 2014). rios governamentais, com destaque para as
legislações específicas sobre conselhos de
A Mesa de Articulação da América Latina e políticas públicas nas três esferas governa-
do Caribe, uma coalizão de OSCs do conti- mentais (Lopes & Abreu, 2014). Verifica-se
nente, num estudo de 2014, destacou que, a partir daí o incremento de espaços e arti-
na região, existe um ambiente regulatório culações voltados à participação em temas
favorável à ação dessas organizações, com ligados ao acesso à informação, à transpa-
claros casos tendendo para mais ou menos rência e também a propostas para os mode-
restrições a depender da área (Viveiros, los de desenvolvimento local (Storto, 2014).
2014).
Há uma série de regulações que se aplicam
As tendências negativas observadas reca- de forma seletiva a diferentes OSCs, de for-
em sobre o excesso de controle burocrático- ma voluntária ou compulsória, como as que
-administrativo e outras restrições, incluin- tratam de imunidades e isenções. E há, por
do a repressão a determinadas classes fim, as regulações, como as aprofundadas
de OSCs. A visão do Estado presente em neste estudo, que se aplicam apenas a um
muitas dessas regulações e que deriva de conjunto ainda menor de OSCs que rece-
pontos de vista específicos sobre modelos bem financiamento estatal.
de desenvolvimento é a de que as OSCs se
restringem a executores de políticas estatais No âmbito federal, Lopes e Abreu (2014)
à margem de deliberações efetivas, criando destacam a percepção dos gestores públi-
incentivos para que apenas um pequeno cos sobre as parcerias com OSCs, desta-
número de OSC ascendam a um espaço de cando como incentivos para sua realização:
“mercado” para acessar recursos públicos internalizar o conhecimento especializado
(Viveiros, 2014). No Brasil, em particular, a dessas organizações, fortalecer a rede de
Constituição Federal (CF) 88 dá destaque atuação de ONGs e aproveitar sua capilari-
ao possível papel complementar das OSCs dade territorial e acesso a populações alvo
em diversas políticas públicas, tais como específicas, além de ampliar a legitimidade
saúde, educação, assistência, desporto, in- da política pública e suprir a falta de quadros
fância e juventude (Campos, 2008). da burocracia para implementação e proxi-
midade das demandas dos beneficiários di-
A Constituição Federal do Brasil reconhece, retos da ação.
em seu art. 5o, a liberdade de reunião pa-
cífica e a liberdade de associação para a Como desvantagens dessas parcerias, Lo-
realização de atividades lícitas, excluindo a pes e Abreu (2014) apontam que há instabili-
ação armada, civil ou militar, como também dade nos quadros das OSCs, tendo em vista
assegura imunidades e isenções tributárias as dificuldades que encontram em angariar
gerais, aplicadas a todas as OSCs (Storto, recursos para contratação e manutenção de
2014). funcionários. O Estado estaria em desvanta-
gem também nos casos em que a totalidade
Outro destaque da CF é a interação e par- ou grande parte de uma política fosse de-
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legada às OSCs, pois perderia expertise e legais distintos para a pluralidade de OSCs
correria o risco de descontinuidade. (Oliveira & Haddad, 2001).
Há também vantagens e desvantagens para Durante esse período, novos marcos institu-
as OSCs. Como principais vantagens estão cionais foram criados: o modelo de Organi-
a possibilidade de influenciar as políticas pú- zação Social (OS) – Lei 9.637/98 – e a Lei
blicas a partir de inovações que produzem, 9.790/99, que qualificou parte das pessoas
contribuindo para a causa e a visibilidade de jurídicas de direito privado sem fins lucrati-
sua atuação como um todo, além da possi- vos como uma Organização da Sociedade
bilidade de acessar recursos. Civil de Interesse Público (OSCIP). Esta últi-
ma, ainda, criou o Termo de Parceria, como
Na realidade, o acesso a recursos públicos proposta de melhoria em relação ao tradi-
tem se mostrado uma “faca de dois gumes” cional convênio (Ferrarezi, 2001, p. 16).
para essas organizações, podendo se con-
verter em uma imensa desvantagem. Este Apesar dessas inovações, não houve a
é um dos pontos que tem sido mais estu- substituição de uma legislação que já estava
dado por pesquisadores em diversos países vigente, que era as dos convênios, apenas
(Anheier, Toepler & Sokolowski, 1997; Sali- instituíram novos modelos que passaram a
nas, 2013; Gronbjerg, 1991, Lipskey & Smi- conviver com outros. Essa convivência de
th, 1990). diferentes normas que vão se acomodando
tem gerado insegurança jurídica, tanto para
3. Contexto recente e mobilizações por os gestores públicos, quanto para as OSCs
um Novo Marco Regulatório (Junqueira & Figueiredo, 2012). O que se
observa é que a falta de clareza deu mar-
Até o início da década de 1990, a Legislação gem à que diferentes práticas de gestão por
que norteava as relações Estado/OSCs da- parte dos órgãos públicos contratantes fos-
tava dos anos de 1930 e necessitava ajustes sem aceitas.
(Comunidade Solidária, 1997). De acordo
com Oliveira e Haddad (2001), a legislação Houve inovações relevantes para as OS-
ultrapassada reunia diferentes normas cons- CIPs em relação à transparência, sendo
truídas a partir do Código Civil de 1916, não obrigadas a submeter anualmente a audito-
existia nenhuma tipologia de OSCs, apenas rias internas e externas, e a tornarem públi-
categorias frouxas, que, de acordo com os cas suas demonstrações financeiras e seus
autores, privilegiavam certas categorias de relatórios de atividades.
organizações.
A adoção desse novo modelo institucio-
Foram iniciadas discussões por meio da nal, conforme demonstraram Alves e Koga
Comunidade Solidária que buscavam rees- (2006), foi objeto de muitas resistências por
truturar as bases institucionais que perme- parte das OSCs. Ainda há um desconheci-
avam as relações governo/OSCs (Alves & mento dos modelos de Organização Social
Koga, 2001). Nessas discussões, começou (OS) e OSCIP e de seus instrumentos jurí-
a ficar clara a necessidade de instrumentos dicos, formas de controle/acompanhamento
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e avaliação (Coutinho et. al. 2008), ou seja, A inércia organizacional é um processo pelo
a criação de outros instrumentos para par- qual as organizações mudam lentamente,
cerias acarretou em problemas tanto para quando confrontadas com mudanças não
os gestores públicos como para as OSCs desejáveis (Stinchcombe, 1965). Uma vez
(Carvalho, 2007). que formatos e modelos já estão estabeleci-
dos, eles tendem a seguir um curso de esta-
A qualificação de OSCIP obteve baixa bilidade, mesmo que as pressões ambientais
adesão por parte das OSCs, que perma- indiquem que o modelo do passado não seja
neceram utilizando os convênios como mais efetivo como costumava ser.
instrumento jurídico para mediar as trans-
ferências de recursos pelo Estado, em vez O que se aponta aqui neste estudo é que a
da possibilidade de utilizar o Termo de Par- inércia organizacional não está apenas atu-
ceria. Entre os motivos que levaram à baixa ando sobre as OSCs, que na primeira leva
adesão das OSCs ao modelo de OSCIPs de mudanças na década de 1990 tiveram um
estão um movimento de resistência ideo- papel forte de resistência à mudança, como
lógica por parte de muitas organizações, apontado por Alves & Koga (2006), mas prin-
que identificam o modelo como um assalto cipalmente sobre o Estado e as práticas dos
neoliberal ao Estado e o risco de perda de gestores públicos.
autonomia das OSCs (Durão 2003; Oliveira
& Haddad, 2001). A diferença entre os dois momentos é jus-
tamente o cenário político e a mudança de
Outros motivos podem ser ainda aponta- posição das OSCs, que passa de resistên-
dos, como ausência de maior detalhamento cia a um processo de mudança regulatória a
normativo, como existe nos convênios, mas, apoiadoras centrais no novo processo.
principalmente, a cultura e resistência dos
gestores públicos, que ainda tem desconhe- Com relação ao cenário político das OSCs,
cimento sobre o Termo de Parceria. Além conforme apontado por Mendonça, Alves &
disso, as procuradorias dos órgãos públicos Nogueira (2013), destacam mudanças na
que avaliam e acompanham a execução arquitetura de financiamento dessas entida-
dos Termos de Parceria são os mesmos des, com a diminuição e redirecionamento
que analisam os convênios, tendendo-se a programático do apoio da cooperação inter-
pautar-se pelos mesmos critérios, seguindo nacional para o desenvolvimento, na emer-
a instrução normativa aplicável aos convê- gência de novos modelos e formatos de sus-
nios. (Barbosa, 2011, & Trezza, 2007). tentabilidade financeira, em parte sustentada
por doações de pessoas físicas e jurídicas;
Alguns dos motivos que levaram a legis- e pela crescente “mercantilização” nas rela-
lação das OSCIPs a “não pegar” parecem ções com o Estado, pela perda de quadros
estar também por trás das dificuldades já para trabalharem nas áreas sociais, cujas
visualizadas com o MROSC. Conforme já políticas públicas incorporaram as próprias
colocado por Alves e Koga (2006), o peso agendas das OSCs, e pela recente onda
do passado tem exercido considerável in- de criminalização das parcerias. Por parte
fluência na mudança regulatória das OSCs. do Estado, aumentam as pressões por mais
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Uma das críticas feitas na Lei 13.019/14 foi provação de capacidade técnica.
a de que, apesar de criar dois instrumen-
tos que priorizam demandas do setor pú- Na Lei 13.019, havia diversas exigências
blico e as demandas das OSCs, a opera- específicas no plano de trabalho, que foram
cionalização de ambos era muito parecida, simplificadas na Lei 13.204. Permanece, no
obedecendo às mesmas exigências, com entanto, um desafio para a gestão pública de
excessiva ênfase na lógica burocrático-for- articular a realização das parcerias com po-
mal de controle (Panunzio, 2014). Ambos líticas, planos e programas governamentais,
propunham a padronização de critérios e não apenas de realizar uma avaliação indi-
indicadores, entretanto isso, na Lei 13.2014, vidual das parcerias. Para isso, é necessário
desaparece, tratando o texto não mais com que o poder público tenha clareza dos obje-
indicadores quantitativos e qualitativos, mas tivos da parceria, o que nem sempre parece
com parâmetros de aferição de resultados. estar claro para os gestores públicos (Lopez
& Abreu, 2014), evidenciando a ausência de
A duas normas prezam pela transparência, visão estratégica sobre as parcerias.
tornando obrigatório o chamamento público,
salvo casos justificáveis de dispensa ou ine- O quadro 2 destaca as principais novidades
xigibilidade. Caem na nova norma exigên- do novo MROSC e compara as Leis 13.019
cias de tempo mínimo de existência e com- e 13.204.
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Definição abrangente de
OSCs que inclui as entidades
Definição de OSCs - religiosas e cooperativas
com atuação em áreas de
interesse público ou social.
Idem
Exclui também convênios e
contratos celebrados pelo
SUS; Termos de compromisso
OS – contratos de gestão
Exclusões cultural (Lei 13.018/14);
OSCIPS – termos de parceria
transferências do FNDE para
o PAED (escolas especiais) e
Programa Dinheiro Direto na
Escola – art. 3o
Reconhecimento de que o Mantido, porém excluindo
Extinção do uso de instrumento do convênio não os repasses do SUS, e
Convênios é compatível para esse tipo de transferências específicas na
parceria. área de educação
Evita distorções de Critérios de exigência de
implementação e gera tempo de existência das
estabilidade nas parcerias. OSCs diferente para União,
Abrangência Nacional –
Pode gerar dificuldades de Estados e Municípios para
artigo 1o
adaptação, principalmente celebração
entre Estado e Municípios Dificuldades de
com realidades e capacidades implementação devem
diferentes. permanecer
Nos artigos 23, 24 e 27 são Simplifica algumas exigências
descritas as diretrizes para – retira exigência de tempo de
Obrigatoriedade do
realização do Chamamento existência mínimo da OSCs e
Chamamento Público
Público. comprovação de experiência
Possibilita a ampla publicidade
e evita irregularidades.
Idem
Extinção da contrapartida Na prática acaba com o
Contrapartidas e financeira e não exigência título de Utilidade Pública
Certificações de as OSCs apresentarem ao ampliar para as OSCs,
certificações ou títulos para definidas na Lei, os
celebração de parcerias. benefícios antes atrelados
com esta titulação – art. 84
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cionamento do poder público. Essa barreira A cultura da gestão pública e seu aparato
cultural se depara com o fato de que o ges- administrativo-jurídico continuam voltados
tor público deve fortalecer sua capacidade para o controle formal de meios. Por esse
de formulação e monitoramento para atuar motivo, ainda permanecem sendo ampla-
com parceiros. Também exige a interação mente utilizados os convênios como ins-
com as OSCs, que muitos gestores públicos trumento de mediação jurídica dessas
desconhecem ou tem pouco contato. parcerias, por ser um modelo conhecido e
praticado pelos gestores públicos em todos
As próprias OSCs também demonstraram os níveis de atuação governamental, mes-
desconhecimento e resistência à adoção do mo quando as parcerias com as OSCs apre-
modelo de OSCIPs. A interação com o Es- sentam diversos problemas.
tado é muitas vezes custosa e complicada
para essas organizações. É necessário lidar É observado no MROSC um movimento
com diversos requisitos administrativos e le- contraditório. Na primeira Lei, houve exces-
gais, tais como a prestação de contas dos siva ênfase na lógica burocrático-formal de
recursos utilizados e dos resultados alcan- controle (Pannunzio, 2014). Já na segunda
çados (Coutinho, 2009). Há também resis- Lei, o reconhecimento da diversidade das
tência de ordem ideológica por parte de al- OSCs e a flexibilização de vários critérios se
gumas entidades, que veem no modelo uma fazem presentes, destacando a autonomia
forma de privatização ou de “patrulhamento” das entidades.
burocrático do Estado (Alves & Koga, 2006).
Os problemas verificados nas OSCIPs e
Por fim, o modelo de OSCIPs teve pouca que se repetem no MRSC são ausência de
disseminação entre os órgãos de controle, coordenação e divisão de papéis e limites
muitos auditores não dominavam completa- para a atuação das diversas instâncias de
mente as especificidades do modelo. Tanto controle envolvidas (auditoria externa, con-
os órgãos de controle quanto os gestores selho fiscal, órgão público, comissão de mo-
públicos apresentaram dificuldade de traba- nitoramento e avaliação, CGU, TCU etc.). A
lhar com o modelo de gestão por resultados questão da coordenação institucional ainda
(Coutinho, 2009). permanece em aberto, fazendo com que os
atores que aplicam e interpretam a legisla-
Ao observar que muitos elementos da Legis- ção continuem tendo comportamentos con-
lação das OSCIPs continuam presentes no traditórios, com base na leitura subjetiva de
MROSC de 2014, tais como controle de re- cada controlador. Esse último ponto fica re-
sultados, por meio de um plano de trabalho forçado com as exclusões de várias modali-
mais detalhado, publicização e regras para dades de parcerias do novo MROSC, o que
realização de chamamento público e regu- mantém a sobreposição de várias normas.
lamento de compras. Observa-se que mui-
tas das barreiras culturais enfrentadas pela 6. Considerações finais
legislação das OSCIPs continuarão presen-
tes no modelo proposto pelo MROSC. Após a análise das parcerias entre Estado/
OSCs sob a perspectiva do MROSC, foram
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levantados alguns pontos em relação ao Dessa forma, o peso do passado atua in-
possível impacto e consequências da le- fluenciando nas próprias mudanças regulató-
gislação quanto a solucionar problemas de rias, mas também nos efeitos que elas terão
insegurança jurídica e propiciar condições nos processos de implementação das políti-
mais favoráveis para a mediação das rela- cas públicas.
ções (Mendonça, Alves & Nogueira, 2013).
Momentos críticos vivenciados ao longo da
Não se negam os grandes avanços que o década de 2000 entre as OSCs e o Estado
novo marco trouxe, como remuneração da vieram a reforçar a trajetória de controle es-
equipe e de custos indiretos (despesas ad- tatal para lidar com as dificuldades causa-
ministrativas), obrigatoriedade do chama- das pela insegurança jurídica e os desvios
mento público, atuação em rede e extinção encontrados nas relações Estado/OSCs. Em
da contrapartida financeira. Legislações an- um primeiro momento de mobilização do
teriores relacionadas às parcerias entre Es- novo MROSC, transparece a visão limitadora
tado e OSCs já traziam em suas premissas do Estado com relação às OSCs, personifi-
questões consideradas agora inovadoras, cando-se na Lei 13.019/14, de caráter bas-
MORSC, como transparência e controle de tante restritivo para as entidades.
resultados.
O caráter restritivo se impôs também ao po-
Os principais pontos negativos se referem às der público, especialmente aos municípios
exclusões de várias modalidades de contra- que reforçam a mobilização das OSCs por
tos de parceria, o que enfraquece o proces- simplificações, forçando não somente dois
so de coordenação institucional e não con- adiamentos para entrada em vigor da Lei,
tribui para garantir a segurança jurídica das como também a produção de uma nova nor-
parcerias. ma, a Lei 13.204/15.
Diversas análises foram realizadas sobre as Essa foi uma mobilização positiva, pois apro-
mudanças regulatórias na década de 1990, ximou gestores públicos, órgãos de controle
demonstrando que considerável inércia or- e universidades para as discussões sobre a
ganizacional recaia sobre as OSCs (Alves & regulação, que extrapolaram para a compre-
Koga, 2006), mas também sobre o próprio ensão mais ampla da diversidade das OSCs
Estado (Barbosa, 2011; Trezza, 2007; Lemos, e seu importante papel como parceiras do
2006; Coutinho, 2009), destacando barreiras Estado.
ideológicas, gerenciais (dificuldade em tra-
balhar com a perspectiva de controle de re- O resultado foi uma “virada de mesa” no
sultados e de atuar de forma mais intensa na MROSC, pois a Lei 13.204/15 trouxe uma
formulação de políticas) e culturais (falta de visão positiva das OSCs, afastando-se do
conhecimento sobre o ambiente regulatório, mero reforço do controle para a promoção
bem como conflitos interpretativos das legis- das parcerias. No espírito do MROSC, per-
lações e falta de conhecimento e prática de maneceram ainda os esforços na promoção
relacionamento com as OSCs). da transparência e do fortalecimento das
OSCs, com a criação do Termo de Fomento.
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Carvalho Neto, A. A. de. (2007). Transferên- Ferrarezi, E. (2002). Saiba o que são Orga-
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