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A Postura Perversa é a Impostura

A Postura Perversa é a Impostura1


Cibele Prado Barbieri*

Resumo: O autor trabalha a questão da perversão como forma discursiva, apoiando-se em


três situações que apontam para diferentes momentos da relação do sujeito com o gozo: a
criança, o adolescente e o analista. O autor pretende focalizar os efeitos dos traços perversos
na estrutura do discurso do sujeito.

Palavras-chave: Perversão; Discurso; Castração; Pulsão escópica; Criança; Adolescente;


Psicanalista.

É que a perversão é algo totalmente diferente de uma entidade clínica: ela é um certo modo
de pensar. Um pensamento cuja essência demonstrativa decorre das relações do perverso com a
fantasia e com a Lei. 2 (ANDRÉ, 1995, p. 312)

Serge André (1995) propõe a per- de três situações abordadas anterior-


versão enquanto modalidade discursiva mente, em outro trabalho3 .
e o desmentido como uma forma parti- Essas situações ocorreram num
cular do sujeito de estabelecer sua re- mesmo período de tempo, em 2002. A
lação com a linguagem. Os efeitos des- primeira situação trata de um menino
sa modalidade de relação se expressam trazido ao consultório pelos pais para
como uma ética própria. O autor ino- avaliação; a segunda aborda uma cena
va ao abordar um efeito de denúncia de assédio vivida por uma adolescente
que aparece enquanto um viés da mo- no colégio em que estuda e a terceira
dalidade perversa do discurso. O pre- chegou ao meu conhecimento através
sente artigo inspira-se nesta proposi- de relatos de estudantes que viveram a
ção, partindo dela para fazer uma leitura situação.

1
Trabalho apresentado no XIII Fórum Internacional de Psicanálise, Belo Horizonte, agosto de 2004
* Psicanalista. Membro do Círculo Psicanalítico da Bahia.
2
A Impostura perversa, p. 312.
3
Este trabalho retoma a palestra apresentada na abertura da XIV Jornada do Círculo Psicanalítico da Bahia
sobre “O viés perverso da Sexualidade”, out. 2002. In: Revista Cógito, Salvador, n. 05, p. 11-17, para
focalizar a questão da perversão como discurso.

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A criança feminino, mas que ao longo das entre-


vistas diminuíram gradativamente. A
Atis 4 tem três anos. A queixa que certa altura da primeira sessão, ele cor-
o traz à consulta é um receio dos pais re para o sanitário e lá urina nas rou-
quanto a uma possível homossexuali- pas. Mantém um sorriso ambíguo,
dade do menino. A mãe é executiva como quem se desculpa por não ter
da área de informática e é quem con- podido se conter.
duz a fala do casal durante a entrevis- A sua dificuldade em aceitar limi-
ta. O pai é comerciante. Mostra-se tes, expressa-se assim que lhe digo ser
pouco à vontade durante o atendimen- impossível levar brinquedos do consul-
to e se manifesta apenas quando soli- tório para casa. Diante da minha in-
citado. Enquanto ela remete a queixa terferência, ele rapidamente se refaz.
à ausência do pai e a pouca convivên- Em seqüência à minha fala, acrescen-
cia da criança com figuras masculinas; ta: “só se eu...”. Repetidamente, tenta
o pai associa o fascínio do menino por negociar a impossibilidade. Finalmen-
coisas femininas à admiração apaixo- te, isolamos uma fala muito reveladora:
nada que o menino tem pela irmã Gil- “Complicado é ter pinto. Não ter pinto
da5 de 10 anos. Além disso, atribui a não é.”
Atis um temperamento questionador e
assinala, como signo da masculinidade Um casal de adolescentes
do filho, o gênio autoritário e a rejei-
ção dos limites que lhe são impostos. A cena desenvolve-se em um co-
Segundo os pais, Atis demonstra légio particular de Salvador. Ana6 , uma
fascinação por bonecas de cabelos lon- adolescente de aproximadamente
gos, roupas e objetos femininos. Di- dezesseis anos, séria, comportada e res-
ante disso, ambos decidiram esconder ponsável, segundo sua mãe; e Theo7 ,
as bonecas que pertenciam a Gilda e um rapaz da mesma faixa etária, recém-
explicar ao menino quais são as dife- chegado no colégio, muito cobiçado
renças anatômicas e objetais entre os entre as colegas e, aparentemente, tam-
sexos. bém pela moça em questão.
Durante as entrevistas, Atis mos- Inesperadamente o rapaz a conduz
tra grande desinibição e ausência da a um sanitário vazio, onde passa a
angústia de separação, típica em crian- ameaçá-la e a imobiliza enquanto se
ças da sua idade. Ademais, demonstra desnuda. A aproximação de um inspe-
fluência e desenvoltura verbais tor de alunos interrompe o colóquio e
incomuns para a sua faixa etária. Den- a moça, em pânico, foge para casa. Ela
tre os brinquedos disponíveis no con- não conta nada a ninguém até o dia
sultório, ele escolhe as bonecas. Em seguinte. Ao saber do ocorrido, a mãe
seguida, nota o fato de estarem nuas e dirige-se ao colégio e pede providên-
pergunta pelas suas roupas. cias à diretoria, reivindicando uma
Na primeira sessão, Atis apresen- punição para o rapaz, por tentativa de
tou entonação caricatural, trejeitos e estupro. O colégio questiona a sua in-
interjeições peculiares a encenações do terpretação do fato e ameniza a ocor-
4
Nome fictício, para preservar a identidade da criança.
5
Idem.
6
Idem.
7
idem

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rência abafando o caso. Segundo a mãe, equipado com espelhos através dos
o referido aluno tem relações de ami- quais os estudantes assistem às sessões
zade com a diretoria do colégio. para posterior discussão.
Theo não nega seu ato. Todavia,
como justificativa, alega que Ana ha- Da impostura uma leitura
via feito uso de roupas provocantes du-
rante uma atividade teatral promovida Será que assistimos no caso de Atis
pelo colégio. Ele coloca em dúvida a ao nascimento de um fetiche? Que es-
retidão moral da moça e a acusa de trutura resultará dessa dinâmica Edípica
envolvimento amoroso com professores. que se apresenta em pleno curso?
O fato parece ter desestruturado os Na cena dos adolescentes, poderí-
pais. Eles se mostram bastante confu- amos tomar o ato de Theo como um
sos. O pai, que exige da filha uma rea- ato perverso?
ção ao ataque, desaparece, e, por al- E o analista que, em nome de um
guns dias, fica sem dar notícias. Isso ensino, convida o paciente a partici-
acontece após uma viagem de traba- par de uma cena que envolve a expo-
lho subseqüente ao fato. A relação sição da intimidade terapêutica a ou-
entre os cônjuges transforma-se e fica vidos e olhares indistintos: que desejo
permeada por constantes disputas e o move nessa proposta de escuta assis-
ofensas. A mãe, revoltada com o que tida? Que posição ética justificaria tal
aconteceu à filha e devido ao desapa- ato? Que efeitos podem surgir no paci-
recimento do marido, reage atacando ente - e no analista - que se instala
o marido. Ele, monossilábico, parece numa sala cheia de espelhos, sabendo
muito deprimido e frágil e se defende que é observado por outrem?
dizendo que já está “em análise”. Como nosso tempo é exíguo neste
Ana vem para a entrevista e repe- artigo, tentarei fazer uma leitura des-
te ao pé da letra o relatório feito pela ses discursos, isolando seus efeitos en-
mãe, à exceção do discurso sobre o quanto modalidades perversas que se
poder fálico que esta havia desenvol- expressam na estrutura do discurso do
vido em causa própria durante a pri- sujeito, como propõe Serge André
meira entrevista. Cabe mencionar que, (1995).
essa mãe é uma mulher extremamente Tomemos inicialmente o discurso
altiva e atraente; enquanto o pai é um da criança. Não é permitido levar os
homem franzino e apagado, que se brinquedos do consultório para casa,
mostra arrasado pela situação. digo-lhe. Ao que ela acrescenta na se-
qüência: “Só se eu ...” Que equivaleria
O analista à fórmula: Não existe um pênis na
mulher. Só se eu ... colocar um véu de
Uma faculdade de Psicologia, em longos cabelos onde há o pênis... que
Salvador, propõe aulas práticas de psi- não existe. Podemos perceber aí uma
canálise. A faculdade oferece atendi- estrutura discursiva que permite jogar
mento terapêutico chamado de psica- com a verdade da castração em nome
nalítico. Através de um termo de da verdade subjetiva. Desta forma, evi-
consentimento assinado no início do ta-se a vivência da angústia através de
acompanhamento, o paciente aceita uma argumentação que desmente a
submeter-se à análise num ambiente castração.

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A mãe não tem pênis, mas, ainda Sabemos que o amor é a moldura
assim, ela é fálica. E o véu do fetiche do gozo. Na relação mãe/filho, trata-
sustenta tal verdade como um substi- se do gozo da mãe com o todo do cor-
tuto que cobre a ausência com uma po do filho; e do gozo do filho, com as
presença reiterada: bonecas de cabe- partes do corpo todo da mãe, pois, nesta
los longos, roupas e objetos que cobrem relação, a mãe é “toda”. Ser o falo da
os corpos para iludir a falta fálica. mãe implica sempre uma destituição
Guy Clastres diz que subjetiva e a impossibilidade de obter
um falo próprio (3° tempo do Édipo).
[...] só se desmente a verdade e em Ser, encenar, vestir-se ou fazer-se de falo
nome da verdade [...] O perverso é sustenta a existência da mãe como
aquele que na sua estrutura clínica, fálica, e não a do filho. O condiciona-
de uma parte reconhece a castração mento desta relação pode desembocar
materna e, ao mesmo tempo, funcio- na perversão. No caso de Atis, parece
na no sentido de desmenti-la. Seu ato que ele trata de denunciar, ao mesmo
é sustentado subjetivamente por uma tempo em que, desmente a castração
relação ao desmentido, contraria- feminina – tanto da mãe quanto da
mente ao que se passa no lado neu- irmã – e, assim, proteger-se da própria
rótico. Poder-se-ia dizer que no caso castração.
do desmentido há um NÃO que re- No caso dos adolescentes, nota-
mete, ao mesmo tempo, a um SIM, mos uma estrutura discursiva semelhan-
mas também a um NÃO. 8 te. Tal estrutura, se não corresponde à
(CLASTRES, 1999, p. 32-33). perversão enquanto estrutura clínica,
pode, no mínimo, encontrar corres-
pondência no que chamamos de traço
Diante disto, lembramos o que a cri- de perversão; ou seja, um comporta-
ança nos diz: Complicado é ter pinto. Não mento sexual montado sobre uma fan-
ter pinto, não é. Quem não tem nada, nada tasia que veicula um gozo. Isto pode
tem a perder e não sofre a angústia de ocorrer em qualquer estrutura clínica.
castração. Gerard Pommier articula o Mas, neste episódio em particular, po-
gozo fálico à perversão e ao desejo da mãe: demos extrair pelo menos dois efeitos
compatíveis com o ato perverso. O pri-
Através de cada uma de suas falas, meiro é um efeito de gozo implicado
uma mãe reclama algo cuja signifi- na finalidade do ato, que é de provo-
cação permanece incompreensível, e car a divisão subjetiva do outro. A di-
se o corpo da criança deve responder visão do outro permite ao sujeito go-
a essa demanda, aquilo que ela diz zar, resguardado da angústia de
provocará uma inquietude. O pesa- castração; é o outro que se choca, é o
delo primeiro, a fobia, a angústia de outro que sofre o horror de se consta-
um despedaçamento, se reúnem nes- tar castrado e impotente, enquanto o
se temor de que o corpo seja aprisio- sujeito permanece sem divisão. É o tri-
nado, engolido pelo furo escavado unfo sobre a angústia de castração.
pelas palavras de seu amor [...] 9 O segundo efeito é ético e permeia
(POMMIER, 1987, p. 129). o argumento através do recurso à

8
Ato neurótico e ato perverso. In: Folha, São Paulo, p. 32-33. Publicação da Clínica Freudiana, 1990.
9 Gozo fálico, Perversão. In: A exceção feminina – Os impasses do gozo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987. p. 129.

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moralidade. Tal argumento propõe, no Sabemos que o neurótico se cala so-


estilo do herói sadeano, o direito de bre a sua fantasia, ou que só a entre-
gozar do corpo do outro. A vontade ga, na experiência analítica, com
de gozo fica então instituída como lei extrema dificuldade, como uma con-
natural. E o sujeito – colocando-se em fissão arrancada à vergonha, cercan-
posição de objeto – opera uma inver- do-se de toda sorte de precauções. É
são da relação com o outro, denunci- que, para ele, fazer a fantasia pas-
ando a verdade sobre o seu desejo e a sar da cena privada para a cena
sua falta. O outro é que desejou e pro- pública, confiando-a a um ouvin-
vocou seu ato, não ele. te, equivale, automaticamente, a
Esta impostura se presta ao se apontar como culpado e se ex-
aliciamento do neurótico “incauto” por às censuras do Outro. Não é
que, fisgado, colhido pela ressonância o caso do perverso, pelo menos do
entre esses efeitos de gozo e a sua ver- perverso confesso, que manifesta, ao
dade recalcada, facilmente embarca na contrário, uma tendência a exibir suas
montagem perversa. Participa dela do fantasias, muitas vezes à maneira de
mesmo modo que no chiste, onde um uma provocação. (ANDRÉ, 1995 p.
diz a verdade e os outros dela desfru- 43-44, grifos nossos).
tam. Freud (1938) esclarece que aqui-
lo que o perverso realiza, põe em ato, é Quem alguma vez já se submeteu
o que o neurótico sonha fazer. Ali, à análise e a levou às últimas conse-
onde o neurótico estanca o desejo, o qüências, sabe do que Serge André
perverso, sob a proteção de uma im- está falando. Sabe que, na maioria das
postura, avança em sua vontade de vezes, não se fala da fantasia nem para
gozo. O neurótico deseja e recalca. O si mesmo. A não ser que haja uma in-
perverso quer gozar e avança em dire- tenção de expô-la. Como é possível
ção ao ato. conceber, então, uma análise sob ob-
Sabemos que a fantasia fundamen- servação?
tal é essencialmente perversa em am- Ao longo do seu trabalho, Freud
bos os casos discutidos neste artigo. percebeu que o lugar atribuído ao
Contudo, compete-nos afirmar que, no olhar, a própria relação face-a-face,
discurso do perverso, a fantasia enun- criava obstáculos tanto do lado do
cia-se articulada à lei, tomada como paciente quanto do analista. Com a
direito de gozo e com recurso à moral. adoção do divã, ele buscou minimizar
Sobre isso Serge André argumenta a mobilidade do corpo, a pulsão
que: escópica e seus efeitos sobre o proces-
so de análise.
[...] estou convencido de que existe No Seminário 1110 , Lacan (1964,
uma maneira perversa de enunciar a p. 78) é questionado por Audouard,
fantasia, sobre a qual Sade [...] nos que pergunta: “[...] em que medida é
dá indicações preciosas. A perversão, preciso, na análise, fazer o sujeito sa-
em suma, é uma questão de estilo. ber que o olhamos, quer dizer, que
Com isso quero dizer que é em sua estamos situados como aquele que
própria fala que o perverso começa a olha no sujeito o processo de se
atuar. olhar?”
10
O Seminário, Livro 11, p. 78. Os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise.

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A resposta de Lacan é a seguinte: Nesta lógica, temos o par da fantasia do


[...] o plano da reciprocidade do analista: o analista na posição de sujeito
olhar e do olhado é, mais que nenhum e o analista no lugar de objeto. Este par
outro, propício, para o sujeito, ao áli- nos guia numa leitura possível desta es-
bi. Conviria então para nossas inter- cuta dita analítica: o que quer um ana-
venções na sessão, não fazê-lo estabe- lista que introduz no dispositivo analíti-
lecer-se nesse plano [...] não é por nada co o olhar de terceiros? Esse terceiro,
que a análise não se faz face a face 11 . colocado em posição de espectador da
A esquize entre olhar e visão nos per- cena analítica, vem compor um cenário
mitirá, vocês verão, ajuntar a pulsão que evoca o sonho paradigmático do
escópica à lista das pulsões. Com efei- Homem dos Lobos14 (FREUD, 1918).
to, ela é a que ilude mais completamen- Analista e analisando, colocados no
te o termo da castração. (grifos nossos). centro da cena, assumem a posição de
Para Freud, o olhar é uma das objeto dos olhares de vários outros. Esta
pulsões parciais que o analista deve relação remete ao movimento de retorno
evitar satisfazer na situação analítica. da pulsão escópica – ver, ser visto, ser vis-
O atendimento numa sala de espelhos, to vendo –, que mobiliza nesse contorno
além de instalar, já de saída, o neuróti- um gozo que se desdobra sobre si mesmo.
co numa cena pública, fornece o álibi Se, por outro lado, tomamos a ar-
perfeito para um gozo permitido, livre gumentação de uma transmissão fiel
dos infortúnios da castração. Uma si- dos procedimentos da análise, - de um
tuação que oferece álibi à angústia de ver para crer proposto pela metodologia
castração não pode, então, propiciar o da ciência - descobrimos que sob este
ato analítico, não pode ser concebida argumento jaz uma lógica ao estilo
como tal, mas apenas como manobra sadeano 15 de tudo dizer, tudo mostrar,
que favorece a realização de uma satis- tudo observar, para desmentir a falta.
fação de cunho perverso. Insinua-se aí um desejo de encarnar o
Segundo Serge André (1995, p. mestre detentor do saber fazer, o mo-
41), o desejo do analista não é um de- delo a ser seguido por um aluno toma-
sejo puro e “[...] poderia ser definido do como Coisa, no sentido de Das
como o desejo de um homem preveni- Ding: coisa que olha.
do”12 . Em outras palavras, isto significa Para finalizar, retomamos Serge
que o analista deve tomar seu próprio André (1995, p. 312): “[...] situar o
desejo de se tornar analista como um perverso como o moralista de nosso
desejo eminentemente suspeito, que fa- mundo, entregue às exigências cada dia
talmente intervirá na sua postura. mais desumanas do discurso da ciên-
Lacan 13 (1964) afirma que nesta cia, sem dúvida não seria a descoberta
história existem duas vertentes diferen- menos irônica da psicanálise atual” 16 .
tes: de um lado, o que o analista quer Mais irônico ainda é, sob a égide
fazer do paciente; de outro, o que o de uma didática, fazer da psicanálise
analista quer que o paciente faça dele. mais um modo de gozar.

11
Grifos nossos. p. 78.
12
A Impostura perversa. p. 46.
13
O Seminário. Livro 11, p. 151.
14
História de uma neurose infantil. v. XVII. E.S.B., 1918.
15
Sobre esta questão ver o texto de Lacan Kant com Sade, In: Escritos. p.776
16
A Impostura perversa, p. 312.

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A Postura Perversa é a Impostura

Abstract Recebido em 15/5/2007


The author works pervertion as a kind of
speech, supported by three situations that Endereço para correspondência:
aim for different moments of the relation R. João das Botas 183, s/310 - Canela
between subject and enjoyment: the child, Salvador Bahia
the adolescent and the analyst. The author 40110-160
is going to focus the effects of the perverse Tel: (71) 32456480
lines in the structure of the talk of the e-mail: cibele@circulopsibahia.org.br
subject.

Keywords
Perversion. Speech. Castration. Scopic
instinct. Child. Adolescent. Analyst.

Referências

ANDRÉ, Serge. A Impostura perversa. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1995.
CLASTRES, Guy. Ato neurótico e ato perverso.
In: Folha, Revista da Clínica Freudiana nº 32-
33, Salvador: Ed. Fator, junho/1990.
FREUD, Sigmund. Três Ensaios sobre a teoria
da Sexualidade. v. VII. E.S.B., 1905.
______. Totem e Tabu.. v. XIII. E.S.B., 1912.
______. História de uma neurose infantil. v.
XVII. E.S.B., 1918.
______. Uma criança é espancada. v. XVII, 1919.
______. Análise terminável e interminável. v.
XXIII, cap. 7. E.S.B., 1937.
______.Esboço de Psicanálise. v. XXIII. E.S.B.,
1938.
______. A divisão do ego no processo de defesa.
v. XXIII. E.S.B., 1938.
LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 11. Os
quatro conceitos fundamentais da Psicanálise. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1979.
______. Kant com Sade. In: Escritos. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000.
POMMIER, Gerard. A exceção feminina – Os
impasses do gozo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editora, 1987.

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