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Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica

IDENTIFICAÇÃO DE COMPONENTES
Veio da caixa de velocidades de um automóvel

Amauri Joel Simão Couto


Gabriel Marques Mascarenhas
Gustavo do Ó Catão Bongiovi

Materiais Metálicos, 2º ano

Prof. Albertino Arteiro

Porto, 20 de maio de 2020


Materiais Metálicos Identificação de componentes

Resumo
O presente relatório foi-nos pedido no âmbito da unidade curricular de
Materiais Metálicos, cujo objetivo é a identificação de um dado aço, escolhido por
nós.
Sendo assim, neste relatório iremos descrever o trabalho realizado para a
identificação de componentes de um provete de aço, retirado de um veio da caixa
de velocidades de um automóvel do grupo Fiat Auto.
Começou-se por fazer uma recolha bibliográfica da peça em análise, de forma
a entender melhor o seu modo de funcionamento, os tipos de aços normalmente
utilizados no seu fabrico e as suas propriedades mecânicas. Com isto, conseguimos
reunir alguns aços que poderiam, potencialmente, ter sido os utilizados para o
fabrico do veio.
De seguida procedeu-se ao corte do veio em várias amostras para realizar-se
o estudo do material fornecido, onde se procedeu a uma previsão da microestrutura
e dureza, com posterior confirmação experimental.
A partir do ensaio dilatométrico, idealizamos os tratamentos térmicos a que
poderia ter sido sujeito o material em estudo, prevendo também a microestrutura e
dureza obtidas em consequência dos mesmos. Após realização dos diferentes
tratamentos térmicos feitos, passou-se também ao registo da dureza e
microestrutura experimentalmente obtidas.
Finalmente, tendo em conta os resultados experimentais e analisando as
características dos vários aços possíveis listados inicialmente, chegamos a uma
conclusão em relação ao aço em estudo.

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Materiais Metálicos Identificação de componentes

Índice
1. Introdução...............................................................................................5
2. Revisão bibliográfica.............................................................................6
2.1. Veio de transmissão........................................................................6
2.1.1. Amostra em estudo......................................................................7
2.2. Potenciais aços................................................................................8
3. Trabalho experimental.........................................................................12
3.1. Corte................................................................................................12
3.2. Resina.............................................................................................12
3.3. Polimento........................................................................................12
3.4. Ataque com reagente químico.....................................................12
3.5. Ensaio de dureza...........................................................................13
4. Estudo do material fornecido..............................................................14
4.1. Previsão da microestrutura e dureza..........................................14
4.2. Microestrutura e dureza obtidas experimentalmente................15
4.3. Ensaio dilatométrico......................................................................15
5. Estudo dos tratamentos térmicos......................................................17
5.1. Definição do ciclo térmico............................................................17
5.1.1. Tempera com arrefecimento ao ar...........................................17
5.1.2. Têmpera com arrefecimento na água......................................19
5.1.3. Revenido.....................................................................................21
6. Conclusão acerca do aço do veio......................................................23
7. Conclusão.............................................................................................25
8. Bibliografia............................................................................................26

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Materiais Metálicos Identificação de componentes

Índice de figuras
Figura 1 - Montagem de um veio de caixa de velocidades 6
Figura 2 - Tipos de veios de caixas de velocidades 7
Figura 3 - Veio de transmissão do Grupo Fiat Auto 7
Figura 4 - Influência da percentagem de carbono sobre as características de tenacidade ao choque 14
Figura 5 - Estrutura microscópica do aço no estado fornecido, com uma escala de 20 µm 15
Figura 6 - Ensaio dilatométrico do aço no estado fornecido 16
Figura 7 - Processo de arrefecimento ao ar 17
Figura 8 - Estrutura microscópica do aço após uma têmpera ao ar, com uma escala de 20 µm 18
Figura 9 – Processo de arrefecimento em água 19
Figura 10 - Estrutura microscópica do aço após uma têmpera em água, com uma escala de 20 µm 20
Figura 11 - Diferentes diagramas mostrando a mudança da microestrutura da martensite para diferentes
percentagens de Carbono 20
Figura 12 - Dependência da dureza da martensite com o teor de carbono 21
Figura 13 - Processo de revenido 21
Figura 14 - Relação de dureza com a temperatura de aquecimento 22
Figura 15 - Diagrama TRC do DIN 31CrMoV9 24

Índice de tabelas
Tabela 1 - Composição química aproximada do AISI 1045 8
Tabela 2 - Temperaturas críticas de transformação aproximadas do AISI 1045 8
Tabela 3 - Composição química aproximada do AISI 4340 8
Tabela 4 - Temperaturas críticas de transformação aproximadas do AISI 4340 9
Tabela 5 - Composição química aproximada do AISI 4140 9
Tabela 6 - Temperaturas críticas de transformação aproximadas do AISI 4140 9
Tabela 7 - Composição química aproximada do AISI 4337 9
Tabela 8 - Temperaturas críticas de transformação aproximadas do AISI 4337 9
Tabela 9 - Composição química aproximada do DIN 31CrMoV9 10
Tabela 10 - Temperaturas críticas de transformação do DIN 31CrMoV9 10
Tabela 11 - Composição química aproximada do AISI 8620 10
Tabela 12 - Temperaturas críticas de transformação do AISI 8620 10
Tabela 13 - Composição química aproximada do AISI 4620 10
Tabela 14 - Temperaturas críticas de transformação do AISI 4620 10
Tabela 15 - Composição química aproximada do AISI 5140 11
Tabela 16 - Temperaturas críticas de transformação do AISI 5140 11
Tabela 17 - - Temperaturas críticas de transformação aproximadas do aço em análise 16
Tabela 18 - Durezas obtidas após arrefecimento ao ar 18
Tabela 19 - Durezas obtidas após arrefecimento em água 20
Tabela 20 - Durezas obtidas após revenido 22
Tabela 21 - Comparação entre o aço em estudo e os potenciais aços referidos na secção 2.2 23

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Materiais Metálicos Identificação de componentes

1. Introdução
O uso de materiais metálicos está presente na sociedade desde os seus
primórdios, em o ser humano os utilizava para facilitar tarefas do seu dia a dia,
graças a maior resistência e outras propriedades oferecidas por tais instrumentos.
Na atualidade, o recurso dos aços mantém a sua importância como sendo
utilizado nos mais diversos setores, desde a construção civil até a sua aplicação no
setor automóvel. No nosso trabalho decidimos realizar o estudo de um Veio de
saída da caixa de velocidades de um automóvel do grupo Fiat Auto.
Os veios deste tipo são dispositivos feitos em aço, responsáveis por transferir
potência e binário de um local para outro. Assim, atuam-se nestes elevados
esforços, pelo que garantir a sua resistência e boas propriedades mecânicas no
geral são essenciais para o desempenho da sua função no seu local de
funcionamento.
O estudo do nosso veio de transmissão começou com a sua divisão em
algumas amostras, sendo as mesmas utilizadas para análise do aço em discussão
através da realização de um ensaio dilatométrico, três tratamentos térmicos distintos
e ensaios de dureza.
Cada uma destas amostras foi banhada em resina, de forma a facilitar o seu
polimento e observação ao microscópio ótico, para análise da microestrutura.
Os tratamentos térmicos e ensaios do nosso veio seguiram uma ordem lógica
e bem orientada. Começou-se com a obtenção das temperaturas de transformação
austenítica (Ac1 e Ac3) a partir do ensaio dilatométrico, essenciais para as
posteriores têmperas efetuadas que nos permitiram chegar a uma estimativa do teor
em carbono da amostra.
Por fim, considerando as várias curvas de arrefecimento nos diferentes meios
– ar e água – e os digramas TRC, comparando estes com os nossos resultados
experimentais e os valores teóricos de cada aço listado de início, conseguimos
chegar a uma conclusão relativamente ao aço utilizado no nosso componente.

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Materiais Metálicos Identificação de componentes

2. Revisão bibliográfica
2.1. Veio de transmissão
Os veios da caixa de velocidades são componentes importantes da
transmissão de um veículo automóvel que podem ser sólidos ou ocos, apoiados por
rolamentos para que haja uma redução da presença de atrito e com objetivo de
transferir potência e binário de um local para outro. A caixa de velocidades tem a
função de controlar a distribuição da potência do veículo através da variação do
binário e da velocidade de rotação das peças.[1]
Na prática, este é um mecanismo complexo tendo uma grande variedade no
seu formato, no tipo de juntas, na existência e formato de dentes e principalmente
no material utilizado, sendo o processo de seleção feito consoante a sua finalidade.
Os vários tipos de veios, no setor automotivo, são originalmente fabricados pelas
indústrias para carros específicos.

Figura 1 - Montagem de um veio de caixa de velocidades

O veio de entrada da caixa de velocidades é ligado diretamente ao motor e a


sua velocidade de rotação é definida por este. Este veio provoca o acionamento da
caixa de velocidades e suporta o momento de torção gerado pelas rodas dentadas
ligadas ao mesmo.
O veio de saída, por outro lado, é acionado pelo de entrada através das rodas
da engrenagem, mas opera com uma velocidade de rotação diferente, sendo que
esta depende da relação de transmissão, ou seja, da razão entre as velocidades de
rotação da primeira e da última roda da engrenagem. Este veio tem a finalidade de
efetuar a ligação entre a caixa de velocidades e o diferencial.

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Materiais Metálicos Identificação de componentes

Figura 2 - Tipos de veios de caixas de velocidades

O fabrico dos veios varia conforme a aplicação a que se destinam, e a fatores


atmosféricos como a temperatura e humidade a que estes estarão sujeitos, contudo,
são geralmente fabricados em aço através do processo de maquinagem.

2.1.1.Amostra em estudo
O objeto escolhido para ser estudado neste trabalho foi um veio de saída da
caixa de velocidades de um automóvel pertencente ao grupo Fiat Auto. A amostra
para a realização da identificação de componentes foi retirada da secção indicada
abaixo.

Figura 3 - Veio de transmissão do Grupo Fiat Auto

2.2. Potenciais aços


De um modo geral, os veios de transmissão ordinários são feitos de Aços
hipoeutectóides com uma percentagem de carbono entre 0.15% e 0.40, e com boa
maquinabilidade, também conhecidos como aços de construção. Para aplicações

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Materiais Metálicos Identificação de componentes

que requerem maior dureza, leveza ou propriedades mecânicas superiores, utilizam-


se aços de alto carbono, aços Maranging ou aços ligados.
Os veios de caixas de velocidades de automóveis são peças sujeitas a
grandes esforços, pelo que devem ser fabricados com materiais com boas
características mecânicas, nomeadamente, boa rigidez, maquinabilidade e boa
resistência à fadiga e ao desgaste [5]. Sendo assim, prevemos que o aço em análise
seja um aço de construção ligado, ou seja, ao qual foram adicionados, em
quantidade suficiente, um ou mais elementos, tais como o níquel, o crómio e o
molibdénio.
Sendo assim, os principais aços que prevemos, nesta altura, que possam ser
o presente no objeto em análise são os seguintes:

 AISI 1045

Aço utilizado para órgãos de máquinas e peças para metalomecânica que


pode ser utilizado no estado natural ou tratado através da têmpera ou
carbonitruração.
Tabela 1 - Composição química aproximada do AISI 1045

%C %Si %Mn %P %S
0.42-0.50 ≥0.40 0.50-0.80 ≤0.035 ≤0.035

Tabela 2 - Temperaturas críticas de transformação aproximadas do AISI 1045

Ac1 Ac3
723ºC 782ºC

 AISI 4340

Aço ligado crómio-níquel-molibdénio. Apresenta boa temperabilidade,


tenacidade e resistência à fadiga e é utilizado no fabrico de discos de travão, rodas
dentadas, veios, entre outros.

Tabela 3 - Composição química aproximada do AISI 4340

%C %Si %Mn %P %S %Cr %Ni %Mo

0.38-0.43 0.15-0.35 0.60-0.80 ≤0.035 ≤0.0 0.70-0.90 1.65-2.00 0.20-0.30


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Tabela 4 - Temperaturas críticas de transformação aproximadas do AISI 4340

Ac1 Ac3
732ºC 774ºC

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Materiais Metálicos Identificação de componentes

 AISI 4140

Aço ligado ao crómio-molibdénio utilizado no fabrico de peças que requerem


boa resistência mecânica e tenacidade tal como veios, cambotas e engrenagens.
Tabela 5 - Composição química aproximada do AISI 4140

%C %Si %Mn %P %S %Cr %Mo


0.38-0.43 0.15-0.35 0.75-1.00 ≤0.035 ≤0.04 0.80-1.10 0.15-0.25

Tabela 6 - Temperaturas críticas de transformação aproximadas do AISI 4140

Ac1 Ac3
749ºC 793ºC

 AISI 4337

Aço ligado ao crómio-níquel-molibdénio utilizado para aplicações de esforço


superior aos aços de construção ao carbono. Este é geralmente nitrurado, de forma
a melhorar significativamente a sua resistência ao desgaste e fadiga. Utilizado em
veios, parafusos, semieixos, entre outros.
Tabela 7 - Composição química aproximada do AISI 4337

%C %Si %Mn %P %S %Cr %Mo %Ni


0.30- ≤0.40 0.50- ≤0.025 ≤0.035 1.30- 0.15- 1.30-1.70
0.38 0.80 1.70 0.30

Tabela 8 - Temperaturas críticas de transformação aproximadas do AISI 4337

Ac1 Ac3
715ºC 770ºC

 DIN 31CrMoV9

Aço ligado utilizado principalmente no setor automóvel e para o fabrico de


peças estruturais que requerem uma dureza superficial elevada como hastes de
pistões, veios, entre outros.

Tabela 9 - Composição química aproximada do DIN 31CrMoV9

%C %Si %Mn %Cr %Mo %V


0.31 ≤0.40 0.55 2.50 0.20 0.15

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Materiais Metálicos Identificação de componentes

Tabela 10 - Temperaturas críticas de transformação do DIN 31CrMoV9

Ac1 Ac3
720ºC 800ºC

 AISI 8620

Aço ligado ao Crómio-Níquel-Molibdénio frequentemente utilizado na


produção de componentes de transmissão.

Tabela 11 - Composição química aproximada do AISI 8620

%C %Ni %Mn %Cr %Mo


0.20 0.55 0.80 0.50 0.20

Tabela 12 - Temperaturas críticas de transformação do AISI 8620

Ac1 Ac3
732ºC 829ºC

 AISI 4620

Aço ligado ao níquel-molibdénio utilizado para fabricar engrenagens de


transmissão, pinos de correntes, eixos, e esferas de rolamentos.
Tabela 13 - Composição química aproximada do AISI 4620

%C %Si %Ni %Mn %Mo


0.20 0.20 1.83 0.55 0.25

Tabela 14 - Temperaturas críticas de transformação do AISI 4620

Ac1 Ac3
704ºC 810ºC

 AISI 5140

Aço ao Crómio para fabrico de órgãos de transmissão de automóveis.

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Materiais Metálicos Identificação de componentes

Tabela 15 - Composição química aproximada do AISI 5140

%C %Si %Cr %Mn


0.40 0.20 0.80 0.80

Tabela 16 - Temperaturas críticas de transformação do AISI 5140

Ac1 Ac3
738ºC 788ºC

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Materiais Metálicos Identificação de componentes

3. Trabalho experimental
De modo a ser possível o estudo da microestrutura do veio em análise através
da sua observação ao microscópio ótico, este teve de ser previamente submetido a
uma série de processos, os quais passaremos a descrever em seguida.

3.1. Corte
Inicialmente, o veio foi cortado em várias partes, de forma a se ficar com
vários provetes do mesmo e, deste modo, poder submetê-los a estudos em
diferentes estados. Para este processo foi utilizada uma máquina de corte com um
disco de silício e carbono e refrigeração abundante, de modo a evitar o aquecimento
da peça e uma consequente alteração da sua dureza.

3.2. Resina
Após a obtenção das diferentes partes do objeto de estudo e sujeitá-las às
condições pretendidas, cada uma delas foi banhada em resina, de modo a facilitar o
seu manuseamento adequando-as ao polimento. A aplicação da resina é feita por
meio de uma prensa hidrostática que, através da aplicação de pressão e calor, leva
ao endurecimento da mesma.
Em seguida, as amostras foram montadas numa prensa em um
termoplástico, de forma a facilitar o manuseamento da mesma.

3.3. Polimento
Esta etapa foi separada em duas partes:
[1] Pré-Polimento da amostra
Também conhecido como lixamento, consistiu em passar a amostra
por quatro lixas de SiC de diferentes tamanhos de grão, do mais grosso para
o mais fino (grão #80, grão #180, grão #320 e grão #800) de forma a que a
superfície fique o mais plana possível.

[2] Polimento da amostra


Consistiu em passar a amostra por 3 feltros/panos diferentes, com
abrasivos igualmente diferentes, alumina e diamante. No final do processo, a
amostra apresentou uma superfície espelhada e brilhante.

3.4. Ataque com reagente químico


Após o polimento, a superfície da amostra reflete luz de forma homogénea,
impedindo a observação da sua microestrutura ao microscópio.
Para que tal fosse possível, foi necessário efetuar um ataque químico de
forma a criar um efeito de relevo na superfície da amostra que permite distinguir os

11
Materiais Metálicos Identificação de componentes

constituintes metalográficos presentes ao observá-la ao microscópio ótico. Foi


utilizada uma solução de Nital 2% (Álcool + ácido nítrico) que é a mais utilizada em
ligas ferrosas.
O ataque químico consistiu em mergulhar a amostra no Nital 2% durante
cerca de 30 segundos e parar o ataque, ou seja, passar a amostra por água. De
seguida secá-la e visualizá-la ao microscópio ótico.

3.5. Ensaio de dureza


Após análise da amostra ao microscópio, foram realizados três ensaios de
dureza Vickers na mesma. Este método de medição da dureza é aplicável a
qualquer material, uma vez que é realizado com um penetrador de diamante, o que
leva também a que tenha uma grande precisão de medida, dada a deformação nula
do material[11].
A dureza (HV) é obtida pela razão entre a força aplicada aquando da
compressão do material (F) e a área da impressão (A), isto é:
F
HV =
A

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Materiais Metálicos Identificação de componentes

4. Estudo do material fornecido


4.1. Previsão da microestrutura e dureza

Os veios de caixas de velocidades são peças que geralmente estão sujeitas a


grandes esforços e transferências de energia. Assim sendo, é necessário que
tenham elevada dureza, evitando assim o desgaste prematuro e aumentando o seu
tempo de vida útil, tal como boa resistência ao choque, de forma a evitar fraturas
após vários impactos. A tenacidade que é de esperar para o elemento em análise
de forma a evitar uma fácil rotura, leva a acreditar que o teor de carbono do aço não
seja demasiado elevado, tratando-se assim de um aço hipoeutectóide.

Figura 4 - Influência da percentagem de carbono sobre as características de tenacidade ao choque

É de se esperar também que o material tenha sofrido tratamentos térmicos de


endurecimento como a têmpera, seguida de um revenido e cementação, de forma a
garantir as propriedades referidas acima. A cementação consiste no depósito de
elevadas quantidades de carbono na superfície do componente em questão de
forma a que quando esta for temperada se obtenha uma martensite à superfície. Os
outros tratamentos térmicos referidos encontram-se definidos na secção 5.
Assim sendo, a microestrutura no núcleo irá depender do meio de arrefecimento
após a têmpera, podendo ser provocado o aparecimento de perlite, bainite ou
martensite, embora esta última seja pouco provável, uma vez que os veios como
este devem apresentar tenacidade no seu interior. Quanto à superfície, esta
apresentará uma martensite de elevada dureza, característica da cementação.
No que diz respeito à dureza, se as previsões realizadas estiverem corretas,
esta será maior à superfície do que no núcleo do veio.

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Materiais Metálicos Identificação de componentes

4.2. Microestrutura e dureza obtidas experimentalmente


Observando a figura abaixo verificamos a existência de uma estrutura
endurecida através de tratamentos térmicos, como o revenido e a têmpera. Na
imagem é possível ver a presença da ferrite bem definida.

Figura 5 - Estrutura microscópica do aço no estado fornecido, com uma escala de 20 µm

Quanto à dureza do material, foram realizados três ensaios de dureza (HV


100g), tendo-se obtido em cada um dos casos a mesma dureza de 303HV. Apesar
da suspeita de que o componente em estudo possa ter sofrido uma cementação,
resultando numa dureza à superfície superior da do núcleo, esta suspeita não
poderá ser comprovada, uma vez que as medições foram todas efetuadas longe da
superfície, onde os efeitos da cementação já não se fazem sentir.

4.3. Ensaio dilatométrico


Este ensaio é utilizado para o estudo das transições de fases dos aços com
base na variação do volume em resposta à variação da temperatura. No nosso
estudo, para a realização do teste dilatométrico, foi escolhida como temperatura
máxima a de 950ºC. Com base nos possíveis aços pesquisados, pudemos concluir
que a temperatura de transformação Ac 3 deverá rondar os 800-900ºC. Sendo assim,
a margem de +50ºC garantiu a completa austenitização do aço.

14
Materiais Metálicos Identificação de componentes

Figura 6 - Ensaio dilatométrico do aço no estado fornecido

Com base nos dados resultantes do ensaio dilatométrico representados


1
no Figura 6 , foi possível concluir que as temperaturas críticas de transição são
aproximadamente:

Tabela 17 - - Temperaturas críticas de transformação aproximadas do aço em análise

Ac1 Ac3
742ºC 831ºC

1
Por convenção, considerou-se apenas os valores referentes ao aquecimento.

15
Materiais Metálicos Identificação de componentes

5. Estudo dos tratamentos térmicos


5.1. Definição do ciclo térmico
Para realizar um tratamento térmico, o primeiro passo será aquecer o aço até
este sofrer uma austenitização completa, ou seja, transformar o aço inteiramente em
Ferrite, homogeneizando os grãos, e para tal é necessário aquecer o aço até cerca
de Ac3 + 50ºC, mantê-lo durante um determinado tempo a essa temperatura e, de
seguida, arrefecê-lo num determinado meio a uma dada velocidade, sendo esta
determinante no que diz respeito aos resultados obtidos. As diferentes velocidades
de arrefecimento são responsáveis por garantir variadas estruturas cristalinas como
resultado. No caso de arrefecimentos mais lentos, como o ar, os átomos de carbono
(e elementos de liga) formam carbonetos, de forma a diminuir a sua concentração
na solução sólida abaixo da concentração de saturação. Nos meios de
arrefecimentos mais rápidos, como é o caso da água e do óleo, esta difusão não
tem tempo de ocorrer, provocando a retenção dos átomos de carbono na malha de
ferro, criando uma solução saturada de carbono em ferro, a Martensite.

5.1.1.Tempera com arrefecimento ao ar


5.1.1.1. Previsão da microestrutura e dureza

Sendo o arrefecimento ao ar relativamente lento, é esperada a formação de


carbonetos, nomeadamente a Fe3C (cementite), e também uma fase de solução
sólida de carbono em ferro, Ferrite. Estas duas fases estarão combinadas, em um
ou dois componentes, sendo que como se trata de um aço hipoeutectóide, serão de
esperar principalmente os constituintes Ferrite e Perlite, sendo o segundo
constituinte formado por lamelas de Ferrite e Cementite. Existe também a
possibilidade de aparecimento de bainite. A dureza será mais difícil de prever, pois
não conseguimos prever com certeza satisfatória a percentagem de Ferrite e Perlite,
sabendo apenas que a dureza estará entre as durezas destes.

Figura 7 - Processo de arrefecimento ao ar

16
Materiais Metálicos Identificação de componentes

5.1.1.2. Microestrutura e dureza experimentais


A microestrutura obtida vai de encontro ao que foi previsto, sendo possível
observar, na Error: Reference source not found, os constituintes previstos: Ferrite
(com um tom claro), Perlite (com um tom escuro) e também a presença da bainite,
estruturada pelas pequenas porções lamelares, aparentando o primeiro se encontrar
em maior quantidade. Após um ensaio de microdureza (em HV 100g) obteve-se, no
centro da amostra uma dureza de 259 HV.

Figura 8 - Estrutura microscópica do aço após uma têmpera ao ar, com uma escala de 20 µm

Quanto à dureza, verificamos o seu decréscimo comparativamente ao estado


fornecido. Tal diminuição está provavelmente relacionada ao facto de a nossa peça
ter sido submetida, na sua confeção, a outros tratamentos térmicos de
endurecimento, como referido anteriormente.

Tabela 18 - Durezas obtidas após arrefecimento ao ar

1º ensaio 2º ensaio 3º ensaio Dureza

Dureza após Arrefecimento ao Ar 264 HV  262 HV 250 HV 259 HV 

5.1.2.Têmpera com arrefecimento na água


5.1.2.1. Previsão da microestrutura e dureza

17
Materiais Metálicos Identificação de componentes

Na têmpera em água, uma vez que nesse meio de arrefecimento é onde se


verificam as maiores velocidades de arrefecimento, esperamos uma composição
maioritariamente de martensite. A dureza aqui também terá de ser a mais elevada,
uma vez que esta é a fase mais dura.

Figura 9 – Processo de arrefecimento em água

18
Materiais Metálicos Identificação de componentes

5.1.2.2. Microestrutura e dureza experimentais

Observando a Error: Reference source not found11, verificamos que foi


obtida uma microestrutura com uma elevada percentagem de martensite,
componente laminar acastanhado, bem como alguns vestígios de bainite. Estes
resultados vão de encontro ao que foi previsto.

Figura 10 - Estrutura microscópica do aço após uma têmpera em água, com uma escala de 20 µm

Quanto a dureza, verificamos um aumento significativo, que está relacionado


à formação da estrutura martensítica, visto esta ser a fase mais dura.
Tabela 19 - Durezas obtidas após arrefecimento em água

1º ensaio 2º ensaio 3º ensaio Dureza

Dureza após Têmpera em Água 571 HV  569 HV 571 HV 570

Diante da Figura 11 e da microestrutura na Figura 12, podemos afirmar que a


mesma mais se aproxima de uma percentagem de Carbono entre 0.3% e 0.4%

19
Materiais Metálicos Identificação de componentes

Figura 11 - Diferentes diagramas mostrando a mudança da microestrutura da martensite para


diferentes percentagens de Carbono

Resultante do ensaio Vickers (100g) efetuado, a dureza registada no centro


da amostra foi de 570 HV. Recorrendo à Figura 12, após ser feita a devida
conversão da dureza para Rockwell C [14], e admitindo uma percentagem de
martensite entre 95% e 99.9%, confirma-se o teor de carbono de aproximadamente
entre 0.35% e 0.40%.

Figura 12 - Dependência da dureza da martensite com o teor de carbono

20
Materiais Metálicos Identificação de componentes

5.1.3. Revenido
5.1.3.1. Previsão da dureza

Este tratamento térmico tem a finalidade de corrigir eventuais inconvenientes


que apareçam após a realização das temperas. [5] Durante o revenido, a martensite
perde o excesso de carbono em solução e o seu reticulado cristalino torna-se mais
próximo do da ferrita, sem distorção e sem acúmulo de tensões mecânicas. Quanto
mais alta a temperatura de revenido, menor é distorção do reticulado, logo menor é
a dureza e maior é a tenacidade do aço.

Figura 13 - Processo de revenido

5.1.3.2. Dureza experimental

De acordo com o previsto, o provete submetido à tempera com arrefecimento


na água sofreu uma diminuição da sua dureza de 570HV para 399HV, assim
diminuindo as tensões internas e fazendo também com que a estrutura fique mais
homogénea.

Tabela 20 - Durezas obtidas após revenido

1º ensaio 2º ensaio 3º ensaio Dureza

Dureza após Revenido 412 HV 386 HV 399 HV 399 HV

A partir da figura 15, e após conversão da dureza para Rockwell C [4],


verificamos que de facto à temperatura de revenido de 400 oC, a percentagem de
Carbono estará entre 0.3% e 0.4%, indo de encontro com o que foi descrito nos
outros tratamentos térmicos.

21
Materiais Metálicos Identificação de componentes

Figura 14 - Relação de dureza com a temperatura de aquecimento

Por análise da figura 14, podemos ver que à medida que a temperatura de revenido
for maior, menor será a dureza de acordo com o que foi previsto. Logo, se o
revenido fosse feito a uma temperatura maior se aproximaria aos 303HV da dureza
do estado fornecido. Contudo, por questões práticas, não foi possível realizar outro
tratamento do revenido.

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6. Conclusão acerca do aço do veio


Após análise dos estudos efetuados ao aço no estado fornecido e após os
tratamentos térmicos, nomeadamente os resultados das durezas obtidos após as
têmperas com arrefecimento ao ar e na água, concluímos que de entre os aços
destacados na secção 2.2, o que mais se assemelha ao aço em estudo é o DIN
31CrMoV9.
Os resultados relevantes para a chegada a esta conclusão encontram-se
representados na tabela 21, sendo que t1 corresponde à têmpera ao ar e t2
corresponde à tempera em água.

Tabela 21 - Comparação entre o aço em estudo e os potenciais aços referidos na secção 2.2

Aço Ac1(ºC) Ac3 (ºC) Dureza Dureza


após t1 após t2
(HV) (HV)
Em estudo 742 831 259 570
AISI 1045 723 782 209 709
AISI 4340 732 774 593 709
AISI 4140 749 793 357 702
AISI 4337 715 770 554 674
DIN 31CrMoV9 720 800 439 578
AISI 8620 732 829 218 438
AISI 4620 704 810 215 434
AISI 5140 738 788 250 685

Os valores das durezas obtidos na tabela acima foram obtidos a partir de


https://steelnavigator.ovako.com/heat-treatment-guide/calculate, para uma amostra
de aproximadamente 25mm e, apesar de não serem exatos e apenas uma
estimativa, servem para nos aproximar do aço que mais provavelmente será o
presente no veio de estudo. Sendo assim, identificamos como esse aço o DIN
31CrMoV9. Para além de este apresentar os valores das temperaturas críticas de
transição relativamente próximas das do aço em estudo, apresenta também a
dureza após têmpera na água mais próxima e o seu teor em carbono (0.31%)
enquadra-se bem nas previsões feitas.
Apesar das semelhanças, a dureza após tempera ao ar obtida levanta algumas
dúvidas. Contudo, após análise do diagrama TRC do aço em questão apresentado
na figura 15, verificamos que as durezas após as têmperas descritas irão rondar, de
facto, os valores da amostra em estudo, dependendo do tempo de arrefecimento
após tempera no ar. Além disso, é verificada também uma compatibilidade em
termos de microestrutura, considerando que a curva a vermelho representa a
têmpera com arrefecimento na água e a curva a azul representa a têmpera com
arrefecimento no ar.

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Figura 15 - Diagrama TRC do DIN 31CrMoV9

Alguma divergência encontrada em termos de microestrutura e dureza do aço


em estudo em relação ao diagrama TRC apresentado poderão dever-se à
composição química do aço do diagrama diferir ligeiramente do analisado; a uma
possível descarbonização do aço em estudo durante a realização dos tratamentos
térmicos; a uma possível difusão do carbono da superfície para o núcleo ou ao facto
de a temperatura utilizada nas têmperas ter sido ligeiramente superior à temperatura
ideal de austenitização do aço em análise, não podendo, assim, ser garantida a
homogeneização da temperatura na amostra.

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Materiais Metálicos Identificação de componentes

7. Conclusão
Os ensaios laboratoriais que foram realizados ao longo deste trabalho
permitiram-nos atingir o nosso objetivo principal de identificar o componente
presente no veio de saída da caixa de velocidades.
A maior parte das previsões efetuadas antes de cada um dos tratamentos
térmicos vieram a se confirmar, tendo havido alguns desvios devido a erros que não
pudemos controlar.
Chegamos então à conclusão de que o aço analisado será o DIN 31CrMoV9, o
qual terá sofrido uma têmpera seguida de revenido antes de ter sido maquinado
para formar o veio que apresentamos.
As maiores dificuldades sentidas ao longo da realização do trabalho foram
provocadas pela falta de contacto direto com os ensaios experimentais e pela
comunicação condicionada com os docentes da unidade curricular para efeitos de
esclarecimento de dúvidas, apesar de estes terem sempre feito um esforço enorme
para nos tentar ajudar, na medida do possível, com o que fosse preciso.
Apesar do DIN 31CrMoV9 ser o melhor candidato de entre os aços listados
inicialmente, este não apresenta uma correspondência completa com o analisado, e
ter-se-iam de realizar ensaios laboratoriais adicionais para confirmar com a
totalidade de certeza, qual o aço presente no componente estudado.

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8. Bibliografia
[1] https://www.ondrivesus.com/shafts-dowel-pins/gearbox-shafts (acedido a

18/4/2020)

[2] https://www.indaroad.com/7403-sincronizzatore-fiat-brava-bravo-marea-

multipla-punto-156-libra.html (acedido a 18/4/2020)

[3] https://www.studocu.com/pt/document/universidade-de-aveiro/sistemas-

mecanicos/resumos/veios-de-transmissao/2129617/view (acedido a

18/4/2020)

[4] Ghimire, Arjun. Basic principles of engineering, 2013:

https://books.google.pt/books?

id=UPg6DwAAQBAJ&pg=PA148&lpg=PA148&dq=#v=onepage&q&f=false

(acedido a 20/4/2020)

[5] Davis, Joseph. Gear material, properties and manufacture. ASM

international: https://books.google.pt/books?

id=x17JAPZnDvQC&pg=PA246&lpg=PA246&dq=#v=onepage&q&f=false

(acedido a 20/4/2020)

[6] http://www.acerosotero.cl/pdf/catalogo_aceros_otero-2015.pdf (acedido a

25/4/2020)

[7] https://www.ramada.pt/pt/aplicacoes/acos-ligas_/industria-

automovel/componentes-mecanicos/veios.html (acedido a 25/4/2020)

[8] https://www.ramada.pt/pt/produtos/acos/aa-os-de-construa-ao-ligados.html

(acedido a 25/4/2020)

[9] http://www.timkensteel.com/Practical-Data-For-Metallurgists-

TimkenSteel_20170126.pdf (acedido a 25/4/2020)

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Materiais Metálicos Identificação de componentes

[10] Alves, Jorge. “Experimental classes of metallic materials”, 2016

[11] https://www.britannica.com/science/Vickers-hardness (acedido a

1/5/2020)

[12] https://www.machinedesign.com/materials/article/21837236/how-to-

determine-the-best-heat-treatment-for-your-parts (acedido a 10/5/2020)

[13] https://www.sciencedirect.com/topics/materials-science/dilatometry

(acedido a 10/5/2020)

[14] https://www.ramada.pt/pt/?op=conversor (acedido a 10/5/2020)

[15] https://www.researchgate.net/figure/Figura-2-Microestrutura-do-metal-

de-base-do-aco-API-5L-X70QS-na-regiao-central-da-parede_fig1_326334114

(acedido a 12/5/2020)

[16] https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4354027/mod_resource/conte

nt/3/Aula%2 0%20Tratamentos%20T%C3%A9rmicos.pdf (acedido a

12/5/2020)

[17] https://steelnavigator.ovako.com/heat-treatment-guide/calculate

(acedido a 14/5/2020)

[18] https://steelselector.sij.si/data/pdf/PO735.pdf (acedido a 14/5/2020)

[19] Soares, Pinto. Aços. Publindústria, 2010.

[20] Lucas Filipe Martins da Silva. Materiais de Construção. Publindústria,

2013.

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