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CURSO DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

EM ELETROTÉCNICA

MÓDULO II
PROJETOS ELÉTRICOS E MEDIÇÃO DE GRANDEZAS
ELÉTRICAS

MÓDULO III
PROJETOS DE REDES DE DISTRIBUIÇÃO E
MANUTENÇÃO ELETROMECÂNICA

MÁQUINAS ELÉTRICAS

Autores:
James Silveira
João Carlos Martins Lúcio
Marco Antonio Juliatto
CEFET/SC
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE SANTA CATARINA
Av. Mauro Ramos, 950 - Centro - 88.020-300 - Florianópolis - SC
Diretor Geral
Consuelo Aparecida Sielski Santos
Diretor da Unidade de Florianópolis
Anderson Antônio Mattos Martins
Diretor de Relações Empresariais e Comunitárias
Marcelo Carlos da Silva
Gerente Educacional de Eletrotécnica
Carlos Ernani da Veiga
Coordenador Administrativo da Gerência de Eletrotécnica
Eugênio Camison Avello
Coordenador Pedagógico da Gerência de Eletrotécnica
Anésio José Macari

INTEC
INSTITUTO TECNOLÓGICO E CIENTÍFICO
Rua Trajano, 265 sala 1002 – Centro - 88010-010 - Florianópolis / SC
Diretor Presidente
Marcelo Carlos da Silva
Gerente Geral
Lucilene de Souza Maluche

ELETROSUL
ELETROSUL CENTRAIS ELÉTRICAS S.A.
Rua Deputado Antonio Edu Vieira, 999 - Pantanal - 88040-901 - Florianópolis - SC
Diretor Presidente (Interino)
José Drumond Saraiva
Diretor de Gestão Administrativa e Financeira
Antonio Waldir Vituri
Diretor Técnico
Ronaldo dos Santos Custódio
Departamento de Gestão de Pessoas
Antonio Manuel Henriques Martins Tavares
Divisão de Acompanhamento e Desenvolvimento de Pessoas
Sandra da Silva Peres
Coordenação do Projeto Educar
Maristela Marinho da Silva Ribeiro
Nádia Clasen Gagliotti
Rosângela Teske Corrêa
ELETROTÉCNICA

PROJETO DE ENSINO SEMIPRESENCIAL

EQUIPE RESPONSÁVEL

Supervisor Geral
James Silveira

Desenvolvimento Administrativo
Ramon José Rodrigues

Desenvolvimento Pedagógico
Walcir Miot Fernandes

Desenvolvimento Técnico
João Carlos Martins Lúcio

Produção Gráfica
Lex Graf Ltda
Apresentação

Caros alunos,
É hora de um novo desafio!

Após estudar conceitos fundamentais, ao longo de vários eixos temáticos,


vamos conhecer algumas aplicações práticas da Eletricidade e do Eletromagnetismo.
Apesar de não termos a pretensão de esgotar o assunto, ter a possibilidade de
entender como as máquinas elétricas funcionam deve, acima de qualquer coisa, ser
fruto da curiosidade natural de um profissional da nossa área.

Nossa missão é desvendar os princípios que regem o funcionamento e as


finalidades das máquinas elétricas. Iniciaremos pelo transformador, uma máquina
estática que, como veremos, é o grande responsável pela larga utilização da corrente
alternada em sistemas elétricos, passando a seguir para os motores e geradores
elétricos que possibilitam a transformação de energia elétrica em mecânica e vice-
versa.

Como nos eixos temáticos anteriores seu esforço ditará os resultados. Nós,
que estaremos ao seu lado ao longo de todo este trabalho, desejamos um amplo
sucesso em mais esta empreitada.

Sejam bem-vindos a mais esta fascinante viagem no mundo do conhecimento!

Os Autores
SUMÁRIO

1 TRANSFORMADORES ............................................................................................................ 1
1.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 1
1.2 ELEMENTOS CONSTRUTIVOS BÁSICOS .................................................................................... 2
1.2.1. Formas básicas de construção do transformador ...................................................... 2
1.2.2. O núcleo .................................................................................................................... 2
1.2.3. Os enrolamentos ....................................................................................................... 2
1.3 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO ............................................................................................. 3
1.4 RELAÇÃO ENTRE TENSÃO E FLUXO NUMA BOBINA PERCORRIDA POR CORRENTE ALTERNADA ...... 3
1.5 CORRENTE DE MAGNETIZAÇÃO .............................................................................................. 5
1.6 TRANSFORMADOR MONOFÁSICO ........................................................................................... 6
1.6.1. O transformador ideal ................................................................................................ 6
1.6.2. Funcionamento a Vazio ............................................................................................. 6
1.6.3. Diagrama fasorial do trafo ideal a vazio ..................................................................... 7
1.6.4. Funcionamento com carga ........................................................................................ 7
1.6.5. Diagrama fasorial do trafo ideal com carga ............................................................... 9
1.6.6. Transformador real .................................................................................................... 9
1.6.7. Circuito equivalente do transformador real .............................................................. 12
1.6.8. Descrição dos elementos, grandezas e suas influências ........................................ 14
1.6.9. Diagrama fasorial do trafo real com carga ............................................................... 16
1.6.10. Circuito equivalente referido ao primário ............................................................... 19
1.6.11. Fluxo de potência no transformador ...................................................................... 21
1.6.12. Rendimento do transformador ............................................................................... 23
1.6.13. Regulação de tensão do transformador................................................................. 23
1.6.14. Exercícios resolvidos ............................................................................................. 24
1.6.15. Exercícios propostos ............................................................................................. 30
1.7 TRANSFORMADORES TRIFÁSICOS......................................................................................... 32
1.7.1. Banco de transformadores monofásicos ................................................................. 32
1.7.2. Configuração do transformador trifásico .................................................................. 33
1.7.3. Circuito Equivalente ................................................................................................. 33
1.7.4. Ligações mais comuns ............................................................................................ 34
1.7.5. Deslocamento angular ............................................................................................. 35
1.7.6. Polaridade ............................................................................................................... 37
1.7.7. Agrupamento de transformadores em paralelo ....................................................... 38
1.8 AUTOTRANSFORMADOR ...................................................................................................... 40
1.8.1. Funcionamento do autotransformador ..................................................................... 40
1.8.2. Vantagens e desvantagens dos autotransformadores............................................. 41
1.8.3. Relação de tranformação ........................................................................................ 41
1.8.4. Potência dos autotransformadores .......................................................................... 42
1.8.5. Exercícios resolvidos ............................................................................................... 42
1.8.6. Exercícios propostos ............................................................................................... 43
2 MOTOR DE INDUÇÃO ........................................................................................................... 45
2.1 HISTÓRIA DO MOTOR DE INDUÇÃO ....................................................................................... 45
2.2 MOTOR DE INDUÇÃO TRIFÁSICO (MIT) ................................................................................. 47
2.2.1. Principais componentes........................................................................................... 47
2.2.2. Campo magnético girante ........................................................................................ 48
2.3 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DO MOTOR DE INDUÇÃO ........................................................ 51
2.3.1. Velocidade do campo girante .................................................................................. 52
2.3.2. Escorregamento ...................................................................................................... 53
2.3.3. Freqüência das tensões induzidas no rotor ............................................................. 53
2.3.4. Equilíbrio dinâmico do motor de indução ................................................................. 54
2.3.5. Torque no eixo do motor.......................................................................................... 54
2.3.6. Fluxo de potência do motor de indução ................................................................... 54
2.3.7. Rendimento do motor .............................................................................................. 55
2.3.8. Categorias de motores de indução .......................................................................... 55
2.3.9. Partida dos motores de Indução .............................................................................. 56
2.3.10. Circuito equivalente do motor de indução trifásico ................................................ 58
2.4 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS .................................................................................................... 64
2.5 EXERCÍCIOS PROPOSTOS .................................................................................................... 69
2.6 MOTOR DE INDUÇÃO MONOFÁSICO (MIM) ............................................................................. 70
2.6.1. Motor de fase dividida .............................................................................................. 70
2.6.2. Motor com capacitor de partida ............................................................................... 72
2.6.3. Motor com capacitor permanente ............................................................................ 73
2.6.4. Motor com duplo capacitor ...................................................................................... 73
2.7 EXERCÍCIO RESOLVIDO ....................................................................................................... 74
2.8 EXERCÍCIO PROPOSTO ........................................................................................................ 75
3 MÁQUINA SÍNCRONA ........................................................................................................... 78
3.1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 78
3.2 ELEMENTOS CONSTRUTIVOS BÁSICOS ................................................................................. 78
3.2.1. Estator ..................................................................................................................... 78
3.2.2. Rotor ........................................................................................................................ 79
3.3 OPERAÇÃO DA MÁQUINA SÍNCRONA COMO GERADOR ELÉTRICO – ALTERNADOR .................... 79
3.3.1. Princípio de Funcionamento do Alternador .............................................................. 80
3.3.2. Freqüência da Tensão Elétrica Gerada por um Alternador ..................................... 83
3.3.3. Tipos de Excitação .................................................................................................. 83
3.3.4. Tipos de Máquinas Primárias .................................................................................. 85
3.3.5. Circuito Equivalente do Alternador .......................................................................... 86
3.3.6. Operação do Alternador a Vazio e com Carga – Controle da Geração de Energia
Elétrica ................................................................................................................... 87
3.3.7. Potência Elétrica Gerada pelo Alternador ................................................................ 93
3.3.8. Curvas Características do Alternador ...................................................................... 96
3.3.9. Rendimento e Regulação de Tensão do Alternador ................................................ 98
3.3.10. Operação de Alternadores em Paralelo ............................................................... 100
3.3.11. Exercícios Resolvidos .......................................................................................... 102
Exercícios Propostos ....................................................................................................... 104
3.4 OPERAÇÃO DA MÁQUINA SÍNCRONA COMO MOTOR ELÉTRICO – MOTOR SÍNCRONO .............. 105
3.4.1. Partida e Princípio de Funcionamento do Motor Síncrono .................................... 106
3.4.2. Circuito Equivalente do Motor Síncrono ................................................................ 109
3.4.3. Operação do Motor Síncrono a Vazio e com Carga .............................................. 110
3.4.4. Ajuste do fator de Potência do Motor Síncrono ..................................................... 114
3.4.5. Exercícios Resolvidos ........................................................................................... 117
3.4.6. Exercícios Propostos ............................................................................................. 120
4 MÁQUINA DE CORRENTE CONTÍNUA .............................................................................. 122
4.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 122
4.2 ELEMENTOS CONSTRUTIVOS BÁSICOS ................................................................................ 123
4.2.1. Carcaça ................................................................................................................. 124
4.2.2. Rotor ...................................................................................................................... 124
4.3 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DAS MÁQUINAS CC............................................................. 124
4.3.1. Funcionamento do Comutador .............................................................................. 126
4.3.2. Interpolo e enrolamento compensador .................................................................. 128
4.4 CIRCUITO EQUIVALENTE REAL ............................................................................................ 131
4.4.1. Aspectos do circuito elétrico .................................................................................. 134
4.4.2. Controle de velocidade de MCC ............................................................................ 136
4.4.3. Métodos de ajuste de velocidade nos MCC .......................................................... 138
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................ 140

SITES RECOMENDADOS....................................................................................................... 140


Máquinas Elétricas 1

1 Transformadores

Competências e habilidades
Habilitar o educando a analisar os fenômenos que regem o
funcionamento dos motores de indução, bem como equacioná-
los e determinar seus principais parâmetros.

1.1 Introdução

A primeira máquina elétrica que estudaremos será, pela relativa


simplicidade do seu funcionamento, o transformador.
Esse equipamento, que pode diferir muito em forma e quantidade de
acessórios, dependendo basicamente do nível de potência ao qual é destinado,
possui uma característica básica, ele é um equipamento estático, visto que não
possui em seus componentes principais, partes móveis, diferentemente dos
motores e geradores que serão alvo de estudos posteriores.
Tendo como principal objetivo o de modificar os níveis de tensão e
corrente do sistema de energia elétrica, é também um dos grandes
responsáveis pela utilização tão difundida de sistemas de energia em corrente
alternada. Isso ocorre porque os transformadores tornam possível a geração e
a transmissão da energia elétrica na tensão mais econômica, bem como a
utilização dessa energia em níveis de tensão apropriado para o consumo.
Outra área em que os transformadores são amplamente utilizados é a
da eletrônica, em que podemos fazer o casamento de impedâncias,
implementar conversores estáticos e circuitos de controle, isolar circuitos,
dentre outras aplicações.
Na figura 1.1, você poderá observar, de forma simplificada, um sistema
de energia elétrica da geração até o consumo, e os pontos nos quais os
transformadores são inseridos para otimizar os níveis de tensão e corrente.

Figura 1.1 - Ilustração simplificada do sistema de energia elétrica


Máquinas Elétricas 2

1.2 Elementos construtivos básicos

O transformador é constituído basicamente por duas partes: o núcleo e


e os enrolamentos. Essas partes têm finalidades complementares para seu
correto funcionamento. Vamos saber um pouco mais sobre eles.

1.2.1. Formas básicas de construção do transformador

Quanto às características de construção temos dois modelos básicos, o


núcleo envolvido, no qual as bobinas ficam nos braços externos, e o núcleo
envolvente, em que os enrolamentos são colocados no braço interno. Observe
essas formas de construção na figura 1.2.

(a) (b)

Figura 1.2 - Configurações para transformadores: (a) núcleo envolvido; (b) núcleo
envolvente.

1.2.2. O núcleo

Sua função no transformador, bem como em qualquer máquina


elétrica, é a de conduzir da maneira mais eficiente possível o fluxo magnético
pelo caminho desejado. Para que esse objetivo possa ser alcançado, alguns
cuidados na escolha do material e na forma de construção do núcleo devem
ser observados, por conta das perdas nele causadas.

1.2.3. Os enrolamentos

Em um transformador convencional temos os enrolamentos primário e


secundário, sendo o primeiro aquele ligado à rede de alimentação e o segundo
o que alimentará a carga.
O enrolamento primário tem a função de, ao receber a tensão da fonte
de alimentação, criar o campo magnetizante do transformador, possibilitando
ao enrolamento secundário ter em si a indução de tensão, pela ação desse
campo, que é variável em intensidade e polaridade. A ligação entre esses dois
enrolamentos é feita totalmente por meio magnético, através do fluxo
magnético que circula pelo núcleo, não havendo conexão elétrica.
No que se refere às características físicas dos enrolamentos, em
princípio podem ser destacadas:
Máquinas Elétricas 3

Seção nominal dos condutores


Em máquinas elétricas, como o transformador, são usados fios
magnéticos (esmaltados) cuja seção nominal depende da potência nominal, ou
mais especificamente, da corrente elétrica que terá de conduzir. Dessa forma,
quanto maior a amplitude da corrente, maior será a seção nominal do condutor
e vice-versa.
Disposição dos enrolamentos
São várias as formas de alojamento dos enrolamentos, visando
principalmente a um melhor aproveitamento do fluxo magnético na máquina.
Dentre eles, exemplificaremos alguns na figura 1.3.

Figura 1.3 - Exemplos de disposição dos enrolamentos

1.3 Princípio de funcionamento

Quando o primário do transformador é ligado a uma fonte de tensão


alternada, é criado um fluxo magnético variável cuja amplitude dependerá da
tensão aplicada e do número de espiras do primário. Como os enrolamentos
primário e secundário estão conectados magneticamente através do núcleo, no
secundário é induzida uma tensão cujo valor dependerá do número de espiras
do mesmo. Lembre-se que segundo a lei de Faraday-Lenz, todo enrolamento
submetido a uma variação de fluxo tem em si a indução de uma força
eletromotriz (tensão) dada pela equação (1.1).

e( t )   N (1.1)
t
Vejamos a seguir com mais detalhes, como essa indução acontece.

1.4 Relação entre tensão e fluxo numa bobina percorrida por corrente
alternada

Com o auxílio da figura 1.4 vamos entender como acontece a indução


de tensão em um enrolamento, quando percorrido por corrente alternada.
Perceba que os fenômenos que serão descritos estão encadeados, e que tudo
o que você aprendeu sobre os circuitos indutivos é válido.
Procure acompanhar o raciocínio, caso tenha dúvidas não se esqueça
de que existem livros recomendados no final deste material e, principalmente,
não deixe de acompanhar os momentos de tutoria.
Máquinas Elétricas 4

Figura 1.4 - Indução de tensão em um enrolamento

Na figura 1.4, vemos:


v1  tensão da fonte
e1  força contra-eletromotriz induzida no enrolamento
  fluxo magnético
i  corrente de alternada
Quando aplicamos uma tensão alternada v nos terminais do
enrolamento, uma corrente alternada i surge, dando origem a um fluxo  ,
também alternado.

Pela Lei de Faraday-Lenz, vista na equação (1.1), temos:



e1 ( t )   N (1.1)
t
se i ( t )  I max . sen t (1.2)
então:  ( t )   max . sen t (1.3)

Essas formas de onda são mostradas na figura 1.5, na qual podemos


observar que a corrente e o fluxo estão em fase.

im

t

Figura 1.5 - Formas de onda para a corrente e o fluxo

Substituindo (1.3) em (1.1) e resolvendo a equação, temos:

e 1 ( t )  N . . max . cos t (1.4)

A representação dessa tensão induzida no enrolamento, juntamente


com o fluxo que lhe deu origem é mostrada na figura 1.6.
Máquinas Elétricas 5

Observe que a
 tensão está
adiantada de 90o com
e1 relação ao fluxo
(corrente).
Isso já era esperado,
t considerando que o
circuito em análise é
indutivo.

Figura 1.6 - Fluxo e tensão induzida no enrolamento

A equação (1.4) pode ser reescrita da seguinte forma:


e 1 ( t )  N 1 .2. . f . max . cos t  E max . cos t

onde podemos definir : E max  N 1 .2. . f . max


E, para obtermos o valor eficaz de E 1 , basta dividirmos E max por 2:

E 1  4 ,44. f .N 1 . max (1.5)

Se desprezarmos as quedas de tensão, existentes no circuito real,


podemos considerar a força contra-eletromotriz igual a tensão aplicada
( V  E ). Assim, a equação (1.5) pode, então, ser escrita na forma:
E1 V1
 max   (1.6)
4 ,44. f .N 1 4 ,44. f .N 1
O que nos leva à conclusão final que, sendo a freqüência f e o
número de espiras N 1 constantes, o fluxo  que se estabelece no
enrolamento é determinado somente pela tensão aplicada no enrolamento V 1 .
Importante: Guarde bem na memória essa conclusão, pois ela será
usada mais adiante.

1.5 Corrente de magnetização

Até o presente momento falamos apenas da tensão, vamos analisar


então qual será a corrente absorvida pelo enrolamento capaz de garantir todo
esse processo.
Se o enrolamento que estamos analisando estiver imerso no ar, a
corrente necessária para produzir o fluxo será muito elevada, visto que o ar
apresenta baixa permeabilidade magnética. No entanto, se o mesmo
enrolamento estiver colocado sobre um núcleo de material ferromagnético, a
corrente necessária para produzir o mesmo fluxo será relativamente baixa,
pois, como você já sabe, os materiais ferromagnéticos apresentam
permeabilidade magnética muito elevada.
A essa corrente necessária para produzir o fluxo damos o nome de
corrente de magnetização.
Verifique nas figuras 1.5 e 1.6, que o fluxo magnetizante e a corrente
de magnetização i m estão atrasados 90o da tensão de alimentação, v 1 e,
Máquinas Elétricas 6

portanto, a energia necessária para a produção do fluxo é, como em qualquer


indutor, reativa.

1.6 Transformador Monofásico

1.6.1. O transformador ideal

Para melhor compreendermos o funcionamento do transformador, é


conveniente considerarmos inicialmente um transformador ideal, ou seja, sem
perdas de potência ativa e sem consumo de energia reativa. Assim sendo,
esse transformador tem as seguintes características:
 Resistências dos enrolamentos nulas (condutor elétrico perfeito);
 Todo o fluxo está confinado ao núcleo (condutor magnético perfeito);
 Sendo o núcleo um condutor magnético perfeito, as perdas no núcleo
são nulas (desprezamos a histerese magnética e as correntes de
Foucault);
 E, dessa forma, consideramos que a permeabilidade magnética do
núcleo é infinita, ou seja, a corrente de magnetização é nula.

1.6.2. Funcionamento a Vazio

O funcionamento a vazio do transformador é descrito de forma similar


ao seu princípio de funcionamento, porém esteja atento aos detalhes, pois se
entendidos, eles irão facilitar seu estudo até o final desse eixo temático.
Para uma melhor compreensão, apoie-se na figura 1.7, faremos
referência a ela durante todo o desenvolver deste tópico.

Figura 1.7 - Funcionamento a vazio de um trafo ideal

Quando uma tensão senoidal V1 (  E 1 ) for aplicada aos terminais do


enrolamento primário do trafo, surge um fluxo cujo valor máximo é dado pela
equação (1.6), vista anteriormente e que é aqui repetida:
V1
 max  (1.6)
4 ,44. f .N 1
Esse mesmo fluxo alternado  induzirá no secundário uma força
eletromotriz expressa por:
E2  4 ,44. f .N 2 . max (1.7)
Máquinas Elétricas 7

Como estamos inicialmente com o trafo a vazio, o enrolamento


secundário está aberto e temos: E 2  V2 .
Concluímos então que podemos obter uma tensão qualquer no
secundário, escolhendo adequadamente o número de espiras N 2 .
As equações (1.6) e (1.7), podem ser relacionadas, pois o termo
( 4 ,44. f . max ) se repete e então temos:
E1 E
4 ,44. f .N 2 . max   2 (1.8)
N1 N2
A partir da equação (1.8), obtemos a equação (1.9):
V1 E 1 N 1
a   (1.9)
V2 E 2 N 2
Onde “ a " é conhecida como relação de transformação.
V1
Lembre que a relação só é válida porque as quedas de tensão nos
V2
enrolamentos não existem em trafos ideais (condutores perfeitos). Veremos o
porquê disso com maior profundidade mais adiante, ao tratar do transformador
real.

1.6.3. Diagrama fasorial do trafo ideal a vazio

Para facilitar a análise do diagrama fasorial mostrado na figura 1.8,


dividiremos o mesmo em duas partes:

Figura 1.8 - Diagrama fasorial para um trafo ideal sem carga

Voltamos a mencionar que em um transformador ideal não existem


quedas de tensão, portanto as tensões terminais são iguais às tensões
induzidas nos enrolamentos. Além disso, a corrente de magnetização é nula,
visto que o núcleo é perfeito na condução do fluxo magnético (  = ).

1.6.4. Funcionamento com carga

A figura 1.9 mostra o circuito equivalente de um transformador ideal


alimentando uma carga.
Máquinas Elétricas 8

Figura 1.9 - Transformador ideal com carga

Vamos analisar o comportamento do transformador para esta situação,


considerando todos os seus elementos como sendo ideais.

Aplicando uma tensão ( V1  E 1 ) senoidal no primário, surge um fluxo


cujo valor máximo é dado por:
V1
 max 
4 ,44. f .N 1

A corrente I m necessária para produzir esse fluxo é nula para o trafo


ideal (núcleo com permeabilidade infinita).
O fluxo alternado  induzirá no secundário uma força eletromotriz
expressa por:

E2  4 ,44. f .N 2 . max ou,

E1
E2 
a (1.10)

Vamos considerar que uma carga esteja ligada ao secundário, então


uma corrente I 2 e uma força magnetomotriz  2  N 2 .I 2 estão presentes no
secundário, no sentido de produzir um fluxo contrário ao fluxo principal  .

Recordando: Força magnetomotriz é a fonte geradora de fluxo magnético


que, neste caso, é o próprio enrolamento percorrido pela corrente elétrica.

O fluxo  que se estabelece no núcleo não pode ser alterado, uma vez
que ele é imposto pela tensão V 1 . Aparecerão, então, no primário, uma corrente
I 1´ (corrente de reação do primário) e uma força magnetomotriz  1  N 1 .I 1'
para anular o fluxo produzido pela força magnetomotriz  2 , de tal forma que o
fluxo no núcleo não se altere. Assim, temos:
 1   2 ou N 1 .I 1  N 2 .I 2
'

A expressão acima pode ser reescrita como:


Máquinas Elétricas 9

I2 N
a  1 (1.11)
I 1' N 2
Relacionando com a expressão para tensão temos:

I2 E N
a  1  1 (1.12)
I 1' E 2 N 2
Note que para o fluxo  não se alterar, respeitando a Lei de Lenz , o
fluxo  2 produzido pela corrente I 2 deve ser anulado pelo fluxo  1 produzido
pela corrente I 1' . Para que isso aconteça é necessário que essas correntes
estejam em fase, de tal forma que para qualquer instante de tempo os fluxos se
anulem mutuamente. Observe na figura 1.9 que os fluxos  1 e  2 circulam em
sentidos opostos e, por terem a mesma amplitude, anulam-se e, dessa forma, a
resultante de fluxo no núcleo é somente o fluxo principal  .

1.6.5. Diagrama fasorial do trafo ideal com carga

Na figura 1.10, vemos o diagrama do transformador, agora com as


.
grandezas que representam a carga I 2 no secundário (corrente de carga) e
.
I 1´ no primário (corrente de reação do primário), observe:

Figura 1.10 - Diagrama fasorial para um trafo ideal com carga

Lembre que continuamos com um transformador ideal e, assim, não


existem quedas de tensão, visto que os enrolamentos são ideais, portanto as
tensões terminais continuam sendo iguais às tensões induzidas nos
enrolamentos. No entanto, aparecem nesta análise as correntes da carga e de
reação do primário, que estão relacionadas diretamente entre si, fazendo com
que os ângulos  1 e  2 sejam iguais.

1.6.6. Transformador real

Quando analisamos o transformador real existe a necessidade de


considerar toda a dissipação de potência ativa e, também, a energia reativa
Máquinas Elétricas 10

necessária para criar os campos magnéticos. Para tanto, vamos aprofundar um


pouco mais nosso estudo sobre a característica dos elementos que compõem o
transformador.
Resistividade é a
resistência elétrica
a) Resistência elétrica dos enrolamentos inerente aos
Como sabemos, os condutores usados para materiais usados
confeccionar os enrolamentos de um transformador não para conduzir a
são perfeitos, isso porque o cobre e o alumínio, materiais corrente elétrica.
normalmente utilizados, possuem resistividade, que causa
aquecimento e queda de tensão.
b) Fluxo disperso
Assim como os enrolamentos, o núcleo também
possui suas limitações. Sua tarefa é conduzir o fluxo, mas
como não existem materiais com permeabilidade magnética
infinita, parte do fluxo gerado nos enrolamentos circula fora
do núcleo; a essa parcela damos o nome de fluxo disperso.
Observe na figura 1.11, que o fluxo  d 1 é produzido
pela corrente total que circula no primário, porém ele não enlaça o enrolamento
secundário.

Figura 1.11 - Dispersão de fluxo nos enrolamentos

Podemos associar ao fluxo  d 1 uma indutância L1 , que é chamada de


indutância de dispersão do primário. Esse fluxo disperso induz uma força
eletromotriz que se opõe à passagem da corrente no primário, portanto
podemos definir a reatância de dispersão do primário, assim:
X 1   .L1 (1.13)
O fluxo  d 2 é produzido pela corrente que circula no secundário,
porém ele não enlaça o enrolamento primário. Podemos associar ao fluxo  d 2
uma indutância L2 , que é chamada de indutância de dispersão do secundário.
Este fluxo disperso induz uma força eletromotriz que se opõe à passagem da
corrente no secundário, portanto podemos definir a reatância de dispersão do
secundário:
Máquinas Elétricas 11

X 2   .L2 (1.14)

c) Perdas por histerese magnética


A histerese, no estudo das máquinas elétricas, está associada à
dificuldade de alinhamento dos imãs elementares do material que constitui o
núcleo. Como a operação do transformador é feita em corrente alternada,
devemos ter em mente que a cada ciclo da rede de alimentação, os imãs
elementares do núcleo têm que se alinhar em um sentido, no semi-ciclo
positivo da tensão e, no sentido contrário, no semi-ciclo negativo. Dependendo
do material que escolhemos, a energia necessária para essa tarefa pode ser
mínima, ou tão grande que cause a destruição do transformador. Portanto, é
necessário, para um bom funcionamento do transformador, escolher aquele
que provoque a mínima dissipação de energia. Uma maneira simples de fazê-lo
é pela observação do laço de histerese do material, pois há uma relação direta
entre a área do laço e a energia que o material dissipa ao ser atravessado por
um fluxo magnético alternado.
Podemos então concluir que os materiais utilizados para a confecção
dos núcleos de máquinas elétricas, como você já deve estar imaginando, são
do tipo ferromagnético e com laços de histerese de pequena área.
Na figura 1.12, você pode observar os laços de histerese de três
materiais diferentes, sendo o laço "a" mais recomendado para aplicações em
transformadores do que os laços "b" e "c".

Figura 1.12 - Laços de histerese

d) Perdas por correntes parasitas (ou correntes de Foucault)


Outro ponto a ser observado na confecção do núcleo de um
transformador é a energia gasta com as correntes induzidas no mesmo, devido
à variação de fluxo magnético. Essas correntes que se estabelecem no plano
transversal ao sentido de passagem do fluxo podem ser limitadas com a
diminuição dos caminhos por onde elas circulam, e uma forma eficiente de
chegar a esse objetivo consiste em construir o núcleo com um pacote de
chapas finas, ao invés de um bloco maciço.
Cabe lembrar que ao projetarmos um transformador, devemos estar
atentos não só às características técnicas, mas, também, aos fatores
econômicos que envolvem a produção do mesmo. Assim, quando pensamos
em reduzir as perdas causadas por correntes parasitas, devemos buscar uma
espessura de chapa mínima, mas levando em conta que quanto mais fina mais
caro o transformador se torna.
Máquinas Elétricas 12

A figura 1.13 exemplifica a formação de correntes de Foucault e um


segmento de núcleo laminado em que as correntes induzidas tornam-se
mínimas.

Figura 1.13 - Formação de correntes parasitas e núcleo laminado

Como o fluxo varia com o tempo, pela Lei de Faraday-Lenz, aparece


uma força eletromotriz no núcleo, da mesma forma que aparece no
secundário E 2 . As Correntes de Foucalt circulam devido a essa fem num plano
perpendicular às linhas de fluxo (observe na figura 1.13).
Assim, como vimos anteriormente, o fluxo do núcleo não pode ser
alterado. As correntes parasitas, porém, contrariam esse fluxo; aparece então
no primário uma corrente que chamaremos de I p 1 para anular o fluxo
produzido pelas correntes parasitas, ficando o fluxo principal inalterado.
As correntes parasitas formam anéis e podemos imaginá-los como
espiras em curto-circuito (novamente observe na figura 1.13). A única carga
presente seria a própria resistência dessas espiras ou caminhos por onde
circulam essas correntes; em conseqüência, as correntes parasitas estariam
em fase com a força eletromotriz que as induziu. Portanto, I p 1 que deve estar
em fase com as correntes parasitas está, também, em fase com E 1 . Isso
significa que as perdas por correntes de Foucault são de potência ativa, o
que era esperado, pois, ao passar pelo material ferromagnético do núcleo, as
correntes transformam energia elétrica em calor.
Soma-se a essa corrente I p 1 , uma outra parcela I p 2 , para magnetizar
e desmagnetizar os ímãs elementares, a cada ciclo da tensão de alimentação,
como visto no item anterior. Esse esforço para mudança de direção dos ímãs
elementares também produz calor, o que significa, portanto, potência ativa.
A soma das duas correntes I p 1 e I p 2 é conhecida como corrente de
perdas ( I p ) e está em fase com a tensão induzida no enrolamento primário
( E 1 ).
As perdas no ferro podem ser calculadas como: P fe  E 1 .I p

1.6.7. Circuito equivalente do transformador real

Para adicionarmos ao estudo do transformador os fenômenos


discutidos nos itens anteriores, utilizamos um modelo matemático conhecido
como "circuito equivalente".
Máquinas Elétricas 13

Iniciamos essa análise pelo trafo ideal, acrescentando resistências e


indutâncias que representam matematicamente os fenômenos físicos do trafo
real.
Tomando como base a figura 1.14 acompanhe a análise do
comportamento de um transformador real.

Figura 1.14 - Circuito equivalente do transformador real

Observamos que para obter a corrente total do enrolamento primário


I 1 , a corrente de reação do primário I 1' deve ser somada à corrente de
excitação I 0 , e, para isso, devemos usar um circuito em derivação (paralelo)
formado pelos elementos R p e X m .
A potência dissipada no resistor R p refere-se às perdas por correntes
parasitas e histerese, e a potência reativa absorvida em X m está relacionada
com a potência necessária para a produção do fluxo magnético. R p é chamado
de resistência de perdas no ferro e X m , de reatância de magnetização.
Os valores de R p e X m são obtidos através de ensaios em laboratório,
como os que veremos mais adiante.
O efeito das resistências dos enrolamentos é de produzir quedas de
tensão e perdas por efeito Joule no primário e secundário, fazendo com que a
tensão V 1 seja diferente da força eletromotriz E 1 , e a força eletromotriz E 2 da
tensão V 2 .
Vamos simplificar a representação, desenhando circuito equivalente
como na figura 1.15, omitindo-se o núcleo.

Figura 1.15 - Circuito Equivalente do transformador real sem o núcleo


Máquinas Elétricas 14

Com base nesse circuito, podemos escrever as seguintes equações


para o circuito equivalente:
V 1  R1 I 1  jX 1 I 1  E 1 (1.16)

V 2  E 2  R2 I 2  jX 2 I 2 (1.17)
As equações (1.16) e (1.17) mostram a necessidade que temos em
considerar as quedas de tensão causadas pelos elementos R1 , X 1 , R 2 e X 2 ,
que representam a não idealidade dos enrolamentos, visto que os mesmos, ao
serem atravessados pela corrente elétrica, modificam a relação entre as
tensões terminais.

1.6.8. Descrição dos elementos, grandezas e suas influências

a) Elementos do circuito equivalente


R1 – Resistência do enrolamento primário: representa a oposição à
passagem de corrente no enrolamento primário. Através dela podemos exprimir
a dissipação de potência ativa no enrolamento primário, além da queda de
tensão no mesmo, quando percorrido por corrente elétrica.

R 2 – Resistência do enrolamento secundário: representa a oposição à


passagem de corrente no enrolamento secundário. Através dela podemos
exprimir a dissipação de potência ativa no enrolamento secundário, além da
queda de tensão no mesmo, quando percorrido por corrente elétrica.

X 1 – Reatância de dispersão do enrolamento


primário: representa a parcela de fluxo gerada pela Dizemos que o
corrente que circula no enrolamento, mas que não está fluxo está
concatenada com o secundário. Através dela podemos concatenado,
exprimir a parcela de potência reativa que circula no somente quando o
enrolamento primário, que é acrescida à potência reativa mesmo atravessa
necessária para o funcionamento do transformador. A letra igualmente as
“j” que acompanha o X 1 , no circuito equivalente, bobinas primária e
secundária.
representa a natureza reativa do elemento.

X 2 – Reatância de dispersão do enrolamento


secundário: representa a parcela de fluxo gerada pela
corrente que circula no enrolamento, mas que não está
concatenada com o primário. Através dela podemos
exprimir a parcela de potência reativa que circula no
enrolamento secundário devido à dispersão de fluxo.
Novamente a letra “j” que acompanha o X 1 , no circuito
equivalente, representa a natureza reativa do elemento.

R p – Resistência de perdas no núcleo: representa as não idealidades


no material responsável pela condução do fluxo magnético. através dela
podemos dimensionar as perdas por histerese magnética e correntes parasitas
Máquinas Elétricas 15

que provocam aquecimento do núcleo. A resistência de perdas R p nos permite


verificar o acréscimo de corrente para suprir esSas perdas no núcleo.

X m – Reatância de magnetização do núcleo: dimensiona o fluxo que


circula na máquina a fim de transferir energia do primário ao secundário.
Através dessa reatância verificamos a parcela de corrente que o trafo
absorverá da rede para criar o fluxo principal e, como já estudamos, quanto
melhor for o material para a condução do fluxo, menor será a intensidade
dessa corrente.

b) Tensões
V 1 – Tensão de alimentação do transformador: também chamada de
tensão do primário, é aquela que impõe o fluxo principal da máquina; enquanto
ela não muda, o fluxo que circula pelo núcleo também não pode mudar.

E 1 – Tensão induzida no enrolamento primário pelo fluxo que circula


no núcleo. A tensão E 1 existe somente quando o trafo é alimentado em
corrente alternada, pois é dependente da variação do fluxo (reveja a seção
1.4).

E 2 – Tensão induzida no enrolamento secundário pelo fluxo que


circula no núcleo. A tensão E 2 difere da tensão E 1 pela relação de
transformação “ a ”, ou seja, pela relação entre o número de espiras dos dois
enrolamentos (reveja a seção 1.6).

V 2 – Tensão de saída do transformador: é a tensão que efetivamente


será aplicada à carga.

c) Correntes
I 1 – Corrente do primário: juntamente com a tensão do primário,
representa toda a energia absorvida pelo transformador, para criar o fluxo
principal, alimentar a carga e também suprir todas as perdas envolvidas no
processo de transmissão da energia do primário para o secundário.

I p – É a parcela de corrente absorvida pelo enrolamento primário,


responsável pelas perdas no núcleo.
I m – Esta parcela de corrente, também absorvida pelo enrolamento
primário, é responsável por criar o fluxo magnético que transfere, do primário
ao secundário, a energia que é entregue à carga.
I 0 – Chamada de corrente de excitação, é determinada pela soma
vetorial das correntes de perdas no núcleo e de magnetização. Em condições
normais tem amplitude de cerca de 5% (ou mais) da corrente nominal do
transformador.
Máquinas Elétricas 16

I 1' – Corrente de reação do primário, completando o conjunto de


correntes que integram a corrente total do primário, essa corrente é a
responsável pela efetiva transferência de energia da rede para a carga. Dessa
forma, quanto maior for a corrente de carga I 2 , maior será a corrente de
reação do primário I 1' . Lembre-se de que para manter o fluxo principal
inalterado devemos respeitar a relação N 1 .I 1´  N 2 .I 2 .

I 2 – Corrente de carga, ou corrente do secundário: é a corrente que


alimenta a carga conectada aos terminais de saída do transformador.

1.6.9. Diagrama fasorial do trafo real com carga

Na figura 1.16, podemos observar o diagrama fasorial completo do


transformador, agora com todas as grandezas envolvidas (tensões, correntes e
fluxo) em um transformador real, em que existem quedas de tensão nos
enrolamentos, correntes de magnetização e de perdas, além dos parâmetros já
observados anteriormente.

Primário

Secundário

Figura 1.16 - Exemplo de diagrama fasorial para um trafo ideal com carga

Devido à complexidade desse caso vamos a uma análise, passo a


.
passo, iniciando pela tensão da carga V 2 .
Máquinas Elétricas 17

.
 A tensão induzida no secundário corresponde a E 2 , e servirá como
referência, portanto sua representação fasorial está localizada na origem
(ângulo de 0o);
.
 Como exemplo de carga, indicamos uma corrente I 2 atrasada da tensão
.
V 2 de um ângulo  2 (portanto, carga indutiva);
.
 Quando esta corrente I 2 (corrente de carga) circula pelo enrolamento
.
secundário, provoca uma queda de tensão na resistência R2 ( V R 2 ), e
.
também na reatância de dispersão X 2 ( V jX 2 ), como mostrado no
diagrama da Figura 1.16. Perceba que a queda de tensão na resistência
.
tem o mesmo ângulo da corrente I 2 enquanto que a provocada na
reatância está defasada de 90º Veja o porquê:
. .
V R 2  R2 . I 2  R2 . I 2  2  V R 2  2 (1.18)

Traduzindo: como a resistência é um elemento


representado com ângulo zero em circuitos elétricos, na
multiplicação da resistência pela corrente (representada
pelo seu fasor – módulo e ângulo), temos a soma de  2
com zero, que é o próprio  2 . Dessa forma, os fasores
. .
V R 2 e I 2 têm o mesmo ângulo.

. .
V jX 2  jX 2 . I 2  X 2 90 0 . I 2  2  VR 2  2  90 o (1.19)

Traduzindo: como a reatância é um elemento


representado com ângulo de noventa graus em circuitos
elétricos, pois é um elemento reativo indutivo, na
multiplicação da reatância pela corrente (representada
pelo seu fasor – módulo e ângulo), temos a soma de  2
com 90 o , que resulta  2  90 o . Dessa forma, o fasor
. .
V jX 2 está 90 o adiantado com relação a I 2 .
.
 Para chegarmos à tensão de saída V 2 , devemos subtrair da tensão
. . .
induzida E 2 , as quedas de tensão V R 2 e V jX 2 ; essa operação é
mostrada no diagrama da figura 1.16.
 Está encerrado o diagrama fasorial, no que diz respeito ao secundário, e
passamos ao primário.
Máquinas Elétricas 18

 Iniciamos a análise do diagrama fasorial pela tensão induzida no primário


.
.
E1
E 1 , que é determinada através da relação de transformação a  .
.
E2
Note que a tensão induzida no primário também está na referência,
isso ocorre porque o fluxo que as induz é o mesmo.
.
 Para chegarmos à tensão terminal V 1 , temos que somar as quedas de
.
tensão que ocorrem entre ela e a tensão induzida E 1 .
 Como as quedas de tensão na resistência R1 e na reatância de dispersão
.
X 1 do enrolamento primário dependem da corrente I 1 , precisamos
determiná-la antes de prosseguir.
.
A corrente do primário I 1 é dada pela soma da corrente de reação do
. .
primário I 1´ , que depende da carga, e da corrente de excitação I 0 ,
dependente por sua vez das características do núcleo do transformador. Essa
. .
corrente I0 é, ainda, composta pelas correntes de perdas Ip e de
. . . . . . .
magnetização I m . Essas somas ( I 0  I p  I m ) e ( I 1  I 1´  I 0 ) são
apresentadas, na forma fasorial, no diagrama da figura 1.16.
.
 De posse da corrente I 1 que circula pelo enrolamento primário,
determinamos as quedas de tensão provocadas nesse enrolamento, que
. .
são V R 1 na resistência R1 e V jX 1 na reatância X 1 .
. .
V R1  R1 . I 1  R1 . I 1  1  V R1  1 (1.20)

Traduzindo: como a resistência é um elemento representado com ângulo


zero em circuitos elétricos, na multiplicação da resistência pela corrente
(representada pelo seu fasor – módulo e ângulo), temos a soma de  1
. .
com zero, que é o próprio  1 . Dessa forma, os fasores V R 1 e I 1 têm o
mesmo ângulo.

. .
V jX 1  jX 1 . I 1  X 1 90 0 . I 1  1  VR1  1  90 o (1.21)

Traduzindo: como a reatância é um elemento representado com ângulo de


noventa graus em circuitos elétricos, pois é um elemento reativo indutivo, na
multiplicação da reatância pela corrente (representada pelo seu fasor –
módulo e ângulo), temos a soma de  1 com 90 o , que resulta  1  90 o .
. .
Dessa forma, o fasor V jX 1 está 90 o adiantado com relação à I 2 .
Máquinas Elétricas 19

Procedendo, finalmente, a soma fasorial da tensão induzida no enrolamento


. . .
primário E 1 , com as quedas de tensão V R 1 e V jX 1 , chegamos à tensão do
primário V1 .
Importante: Reveja
todos os passos
com atenção.

1.6.10. Circuito equivalente referido ao primário

O transformador pode ser representado


por um circuito mais simples, transferindo os
elementos de um lado para o outro, como é
mostrado nas figuras 1.17 e 1.18.
Vejamos a seguir como podemos fazer
essa modificação, sem alterar as características
que os elementos têm de representar.

Figura 1.17 - Circuito original do transformador ideal

Figura 1.18 - Circuito equivalente referido ao primário do trafo ideal

Perceba que ao eliminarmos o transformador, restará somente a fonte


e a carga. Isso ocorre porque o transformador é ideal e está no circuito com a
única função de modificar os níveis de tensão e corrente (ou seja, determinar a
relação de transformação). Vejamos a seguir como podemos alterar o valor de
Rc, que está originalmente no secundário, para um valor Rc´, localizado no
Máquinas Elétricas 20

primário; tornando, dessa maneira, dispensável a utilização do transformador,


na representação do circuito. Siga o raciocínio:
Dos circuitos mostrados nas figuras 1.17 e 1.18 podemos escrever:
PC  RC .I 2 PC '  RC '.I 1
2 2
e
Para que os circuitos apresentados sejam equivalentes temos que ter:
P2  P2 '

2
I 
2
I2
RC .I 2  RC '.I 1  RC '  RC .  RC . 2 
2 2
Então: 2
I1  I1 
I2
Como: a , temos: RC '  RC .a 2
I1

Dessa forma, chegamos à conclusão que quando fazemos um circuito


equivalente referido ao primário, devemos levar os elementos do secundário
para o primário, multiplicando seu valor pela relação de transformação ao
quadrado, e as demais grandezas (tensões e correntes) são referidas através
das relações já estabelecidas.
Com isso podemos montar o circuito equivalente completo do
transformador real, como mostrado na figura 1.19.

Figura 1.19 - Circuito equivalente do trafo real referido ao primário

Onde: R2 '  R2 .a 2 X 2 '  X 2 .a 2

I2
V2 '  V2 .a I 2'   I 1´
a

Um circuito equivalente referido ao secundário, mostrado na figura


1.20, pode ser obtido de forma análoga. Assim, chegamos à conclusão que, ao
passar um elemento do primário para o secundário, devemos dividir o seu valor
pela relação de transformação ao quadrado, e as demais grandezas (tensões e
correntes) são referidas através das relações já estabelecidas.
Máquinas Elétricas 21

Figura 1.20 - Circuito equivalente do trafo real referido ao secundário

No circuito mostrado na figura 1.20, temos:


R1 X1
R1´  X 1´  I 1´  I 1 .a
a2 a2

I p´  I p .a I m´  I m .a I 0´  I 0 .a

V1 Rp Xm
V1´  R p´  X m´ 
a a2 a2

1.6.11. Fluxo de potência no transformador

Ao alimentarmos um transformador, o ideal seria que ele transferisse a


potência absorvida da rede integralmente para a carga, sem perdas. Porém,
como já vimos, existem perdas associadas ao funcionamento da máquina. A
figura 1.21 mostra todo o fluxo de potência no transformador, desde a rede até
a carga.
Máquinas Elétricas 22

Figura 1.21 - Fluxo de potência no transformador

Descrição do fluxo de potência:


Faremos a descrição do fluxo de potência no sentido inverso, visto que
o importante é que a carga seja alimentada corretamente para, dessa forma,
garantir que a energia absorvida pela máquina seja suficiente para a carga e as
perdas do próprio transformador. Vejamos:

P2 - É a potência requerida pela carga, que deve estar dentro da


capacidade estipulada no projeto do transformador, e pode ser calculada por:
P2  V2 .I 2 . cos  2 (1.22)
PR 2 - Perda Joule (aquecimento) causada pela resistência do condutor
que constitui o enrolamento secundário, dada por:
PR 2  R2 .I 2
2
(1.23)
PR 1 - Perda Joule (aquecimento) causada pela resistência do condutor
que constitui o enrolamento, dada por:
PR1  R1 .I 1
2
(1.24)
PRp - Perda Joule (aquecimento) causada pelas correntes induzidas no
núcleo (correntes parasitas) e pela histerese magnética, também utilizamos a
notação P fe , referenciando à perda Joule no ferro, sendo:

PRp  P fe  R p .I p
2
(1.25)
2
E1
ou ainda: PRp  P fe  (1.26)
Rp
Máquinas Elétricas 23

P1 - É a potência requerida pelo transformador, da rede que o


alimenta. Esta potência ativa total é a soma de todas as vistas anteriormente,
ou seja:
P1  P2  PJ 1  PJ 2  P fe

ou: P1  V1 .I 1 . cos  1 (1.27)

1.6.12. Rendimento do transformador

O rendimento é definido pela quantidade percentual de energia


entregue à carga com relação ao que a máquina ou equipamento tem que
absorver da fonte alimentadora. Assim sendo, pode ser determinado pela
relação entre a potência ativa entregue à carga e à potência ativa absorvida da
rede de alimentação, como mostrado na equação (1.28):

Pc arg a P2
%   100%  %   100% (1.28)
Pentrada P1

1.6.13. Regulação de tensão do transformador

Assim como podemos definir uma relação entre as potências para


determinar a eficiência na alimentação da carga, podemos também estabelecer
uma relação entre os níveis de tensão. Essa relação mostra o percentual de
queda de tensão causada por influência de uma carga conectada no
secundário e que, idealmente, deveria ser nula.
Na prática, fazemos a relação entre a tensão de saída a vazio (igual à
tensão induzida no secundário) e a tensão de saída para a situação de carga a
ser analisado.
Teoricamente podemos nos valer dos circuitos equivalentes, referidos
ao primário ou ao secundário, comparando a tensão na carga (em módulo), e a
tensão induzida no enrolamento secundário, resultando nas equações (1.29) e
(1.30), como mostrado a seguir:

Para o circuito equivalente referido ao primário:


. .
E 1  V 2´
%  .
x 100% (1.29)
V 2´

Para o circuito equivalente referido ao secundário:


. .
E2  V 2
%  .
x 100% (1.30)
V2
Máquinas Elétricas 24

Importante: Em casos reais, ao projetar o transformador


já é feita uma correção no número de espiras para que a
queda de tensão seja compensada para plena carga.
Essa medida resulta em um nível correto de tensão
nesta situação de plena carga; porém, se trabalhamos
com o transformador com carga inferior, teremos
sobretensão na saída (normalmente de pequena
amplitude e sem causar danos à carga).
Outro fator que influencia significativamente na
regulação de tensão é a característica de fator de
potência da carga, ou seja, se a carga é resistiva,
indutiva ou capacitiva.
Na prática, a regulação de tensão é
determinada pela relação entre a tensão de saída a
vazio, e a tensão de saída na situação de carga a ser
analisada.

1.6.14. Exercícios resolvidos

1) Considere um transformador (ideal) que tenha a relação de transformação


igual a ½. Qual a tensão que deve ser aplicada ao primário para que a
carga seja alimentada em 220V?

V1 1
a   V1  a .V 2  .220  110 V
V2 2

Como o transformador é considerado ideal, não haverá quedas de


tensão e, portanto, a relação de transformação define a relação entre as
tensões terminais.

2) Um transformador isolador (220/220V) de 2KVA alimenta carga nominal,


sabendo que as perdas totalizam 130W, determine o rendimento para as
seguintes condições:
a) O fator de potência da carga é unitário;
b) O fator de potência da carga é 0,8 indutivo.

Resolução:
a) O rendimento é a relação entre a potência entregue à carga e a potência
absorvida da rede. Dessa forma, devemos calcular as potências de saída
(entregue à carga), e a de entrada, que nada mais é do que a potência
entregue à carga somada às perdas, assim:
P2  S 2 . cos   2000 .1  2000 W
P1  P2  Perdas  2000  130  2130 W
P 2000
%  2 x 100%  x 100%
P1 2130
Máquinas Elétricas 25

%  93 ,90%
b) P2  S 2 . cos   2000 .0 ,8  1600 W
P1  P2  Perdas  1600  130  1730 W
P 1600
%  2 x 100%  x 100%
P1 1730
%  92 ,48%

Observe no item “b” que, como o fator de potência baixou, as perdas


tornaram-se mais significativas com relação à potência ativa de saída e,
portanto, o rendimento reduz.

3) Um transformador com N 1  1000 espiras e N 2  100 espiras tem tensão


primária de 2200V e secundária de 215V, ao alimentar uma carga indutiva.
Considerando essas informações, determine o que acontecerá com a
regulação deste trafo quando a carga diminuir?

Resolução:
a) Se a carga diminuir, a corrente que circula nos enrolamentos também
diminuirá e, conseqüentemente, as quedas de tensão. O resultado é uma
diminuição do valor da regulação, que idealmente deveria ser zero.

4) Para o transformador ideal mostrado na figura 1.22 determine:


a) A relação de transformação;
b) A tensão sobre a carga, sabendo que a tensão do primário é de 220V;
c) A corrente no primário e no secundário, sabendo que a carga é de
440VA, com fator de potência unitário ( cos   1 ).

Figura 1.22 - Circuito do transformador ideal para o exercício resolvido 4

Resolução:
N1
a) A relação de transformação é definida por: a  , então:
N2
1000
a  10
100
Máquinas Elétricas 26

V1
b) Em um trafo ideal, a relação de transformação a  é válida,
V2
220 220
logo: 10   V2 
 22V
V2 10
c) A corrente de carga pode ser calculada através de: S 2  V2 .I 2 ,
portanto:

S 2 440
I2    20 A
V2 22
I 20
E, como: a  2 , temos: I 1   2A
I1 10
Obs: Perceba que como o transformador é ideal não haverá perdas e,
portanto, a potência da carga será igual à potência de entrada, então:
Potência na carga: P2  V2 .I 2 . cos   22.20.1  440W
Potência de entrada: P1  V1 .I 1 . cos   220.2.1  440W

5) Resolva o exercício anterior para a mesma carga de 400VA, só que com o


fator de potência 0,8 indutivo.

Os itens "a" e "b" permanecem inalterados, então:


N
A relação de transformação é definida por: a  1 , então:
N2
1000
a  10
100
.
V1
Em um trafo ideal, a relação de transformação a  .
é válida, logo:
V2
220 0 o .
220 0 o
10  .
 V2   220 o V
10
V2
A corrente de carga continua sendo calculada através de: S 2  V2 .I 2 ,
portanto:
S 2 440
I2    20 A (módulo da corrente de carga)
V2 22
O ângulo da corrente de carga é definido pelo fator de potência da
própria carga, ou seja:
  cos 1 (cos  )  cos 1 ( 0 ,8 )  36 ,87 o
Além disso, sabemos que o ângulo da corrente em uma carga indutiva
está em atraso com relação à tensão, portanto:
I 2  20  36 ,87 o A
Máquinas Elétricas 27

I2 20   36 ,87 o
E, como: a  , temos: I 1   2  36 ,87 o A
I1 10
Obs: Perceba novamente que como o transformador é ideal não haverá
perdas e, portanto, a potência da carga será igual à potência de entrada;
porém, como o fator de potência mudou, a potência ativa também é alterada.
Observe:
Potência na carga: P2  V2 .I 2 . cos   22.20.0 ,8  352W

Potência de entrada: P1  V1 .I 1 . cos   220.2.0 ,8  352W

6) Para um transformador real, 2200/220V, cujo circuito equivalente é


mostrado na figura 1.23, que alimenta uma carga de 22kVA com fator de
potência 0,92 indutivo, em 220V. Determine:
a) A corrente na carga;
b) A queda de tensão no enrolamento secundário;
c) A tensão induzida no enrolamento primário;
d) A tensão induzida no enrolamento secundário;
e) A queda de tensão no enrolamento primário;
f) A tensão de entrada aplicada ao trafo;
g) A potência ativa entregue a carga;
h) A perda no enrolamento secundário;
i) A perda no enrolamento primário;
j) A perda no núcleo;
k) A potência absorvida da rede de alimentação;
l) O rendimento do transformador;
m) A regulação de tensão, considerando que a tensão do secundário a
vazio medida foi medida e que resultou em 221V.

Figura 1.23 - Circuito equivalente original do trafo

O circuito mostrado na figura 1.22 tem como parâmetros:

R1  1,0 X 1  2 ,0 R2  0 ,01


X 2  0 ,02 R p  4000 X m  3000
Máquinas Elétricas 28

Resolução:

Esse exercício tem como objetivo mostrar que a tensão a ser aplicada
no primário de um transformador, caso suas quedas de tensão não sejam
compensadas, será superior ao valor definido pela relação de transformação.
Mostra, também, que existem perdas internas que inflenciam no rendimento
final da máquina.
E, finalmente, queremos mostrar que uma máquina pode ser
equacionada, com razoável nível de precisão, através de um circuito elétrico
convencional.
Para iniciar a resolução do problema, podemos referir todo o circuito
equivalente para o primário. Dessa forma temos:

N 1 1000
a   10 V2 '  V2 .a  220.10  2200 V
N2 100
R2 '  R2 .a 2  0 ,01.10 2  1,0 

X 2 '  X 2 .a 2  0 ,02.10 2  2 ,0 
Montamos então o circuito equivalente referido ao primário (figura
1.24):

Figura 1.24 - Circuito equivalente do trafo referido ao primário

Passamos agora aos itens solicitados no exercício:

S 2 22000
a) I2    100 A
V2 220
 2  cos 1 ( 0 ,92 )  23 ,07 o

Como a carga é indutiva, escrevemos a corrente de carga como:


.
I 2  100   23 ,07 o A
Aproveitamos para calcular a corrente de reação do primário:
I2 I 100   23 ,07 o
a  I 1'  2   10   23 ,07 o 
I 1' a 10
Máquinas Elétricas 29

I 1'  9 ,20  j 3 ,92 A

b) Agora que conhecemos a corrente que circula pela impedância


referente ao secundário ( R2 '  jX 2 ' ), podemos determinar a queda de tensão,
então:
V2 '  Z 2 '.I 1'  ( R2 '  jX 2 ' ).I 1'
V2 '  ( 1,0  2 ,0 ).10  23 ,07 o  2 ,2463 ,43 o .10  23 ,07 o
V2 '  22 ,4040 ,36 o   17 ,07  j 14 ,51 

c) Observando o circuito da figura 1.24 percebemos que a tensão


induzida E 1 é a soma da tensão de carga com a queda de tensão V 2 ' , assim:

E 1  V2 ' V2 '  2200  j0  17 ,07  j 14 ,51


E 1  2217 ,07  j 14 ,51   2217 ,120 ,37 o

d) Para determinar a tensão induzida no secundário usamos a relação


E
de transformação a  1 , então:
E2

E 1 2217 ,120 ,37 o


E2    221 ,710 ,37 o
a 10

e) Para determinar a queda de tensão no enrolamento primário,


representado pela impedância ( R1  jX 1 ), precisamos inicialmente calcular a
corrente que passa neste enrolamento:

. E 1 2217 ,120 ,37 o


Ip    0 ,530 ,37 A  0 ,53  j0 ,003 A
o

Rp 4000
. E1 2217 ,120 ,37 o
Im      A  0.004  j0 ,71 A
o
0 ,
71 89 ,67
jX m 3000 90 o
. . .
I0  I p Im
.
I 0  0 ,53  j0 ,003  0.004  j0 ,71
.
I 0  0 ,534  j0 ,713 A  0 ,89  53 ,17 o A
. . .
I 1  I 1'  I 0
.
I 1  9 ,20  j 3 ,92  0 ,534  j0 ,713
.
I 1  9 ,734  j 4 ,633 A  10 ,78  25 ,45 o A
Então, a queda de tensão no enrolamento primário é:
. . .
 V 1  Z 1 . I 1  ( R1  jX 1 ). I 1  ( 1,0  j 2 ,0 ).10 ,78  25 ,45 o
.
 V 1  2 ,2463 ,43 o .10 ,78  25 ,45 o  24 ,1537 ,98 o V
Máquinas Elétricas 30

.
 V 1  19 ,04  j 14 ,86 V

f) A tensão que deverá alimentar o transformador, para que a carga


receba tensão nominal é então:
. . .
V 1  E 1   V 1  2217 ,07  j 14 ,51  19 ,04  j 14 ,86  2236 ,11  j 29 ,37 V
.
V 1  2236 ,30 0 ,75 o V

g) A potência entregue a carga é dada por: P2  V2 .I 2 . cos  2


P2  220.100.0 ,92  20240 W

h) A perda no enrolamento secundário é determinada por:


PJ 2  R2 '.I 1' 2  1,0.10 2  100 W

i) A perda no enrolamento primário é determinada por:


PJ 1  R2 '.I 1' 2  1,0.11,64 2  116 ,21 W

j) A perda no ferro pode ser determinada por:


2
E
P fe  1  R p .I p  4000.0 ,53 2  1123 ,60 W
2

Rp

k) A potência absorvida da rede é:


P1  P2  PJ 1  PJ 2  P fe

P1  20240  100  116 ,21  1123 ,60  21579 ,81 W

l) O rendimento é dado pela relação entre P2 e P1 , assim:


P2 20240
%  x 100%  x 100%  93 ,79%
P1 21579 ,81

m) E, finalmente, a regulação de tensão é dada por:

E 2  V2 221  220
%  x 100%  x 100%  0 ,45%
V2 220

1.6.15. Exercícios propostos

1) Considere um transformador (ideal) que tenha a relação de transformação


igual a 2. Qual a tensão que deve ser aplicada ao primário para que a carga
seja alimentada em 220V?
Máquinas Elétricas 31

2) Um transformador isolador (220/220V) de 4KVA alimenta carga nominal,


sabendo que a perdas totalizam 180W, determine o rendimento para as
seguintes condições:
a) O fator de potência da carga é unitário;
b) O fator de potência da carga é 0,8 capacitivo.

3) Um transformador com N 1  2000 espiras e N 2  100 espiras tem tensão


primária de 2200V e secundária de 105V. Considerando essas informações
determine:
a) A regulação de tensão;
b) O que acontecerá com a regulação deste trafo quando a carga
aumentar?

4) Para o transformador ideal mostrado na figura 1.25 determine:


a) A relação de transformação;
b) A tensão sobre a carga, sabendo que a tensão do primário é de 2200V;
c) A corrente no primário e no secundário, sabendo que a carga é de
440VA, com fator de potência dado por cos   0 ,92 indutivo .

Figura 1.25 - Circuito do transformador ideal para o exercício proposto 4

5) Resolva o exercício anterior para a mesma carga de 440VA, só que com o


fator de potência 0,8 capacitivo.

6) Para um transformador real, 2400/440V, cujo circuito equivalente é


mostrado na figura 1.26, que alimenta uma carga de 15kVA com fator de
potência 0,92 indutivo, determine:
a) A corrente na carga;
b) A queda de tensão no enrolamento secundário;
c) A tensão induzida no enrolamento primário;
d) A tensão induzida no enrolamento secundário;
e) A queda de tensão no enrolamento primário;
f) A tensão de entrada aplicada ao trafo;
g) A potência ativa entregue a carga;
h) A perda no enrolamento secundário;
i) A perda no enrolamento primário;
j) A perda no núcleo;
k) A potência absorvida da rede de alimentação;
l) O rendimento do transformador;
Máquinas Elétricas 32

m) A regulação de tensão (para tanto, determine o valor de E 2 , quando o


trafo opera a vazio.

Figura 1.26 - Circuito equivalente para o exercício 6

O circuito mostrado na figura 1.26 tem como parâmetros:


R1  1,0 X 1  2 ,0 R2  0 ,01

1.7 Transformadores trifásicos

Os sistemas elétricos trifásicos possibilitam geração, transmissão e


distribuição de blocos de energia maiores que em sistemas monofásicos
Quanto aos princípios que regem o seu funcionamento, verificamos
que são os mesmos apresentados para o transformador monofásico, e que
podem inclusive ser representados por um conjunto de três transformadores
monofásicos, associados convenientemente.

1.7.1. Banco de transformadores monofásicos

Um transformador trifásico pode ser constituído a partir de três


monofásicos, como mostra a figura 1.27, em que é realizada uma ligação
trifásica Y/, usando um banco de transformadores monofásicos.

Observe que o
transformador está
ligado em Y no
primário, e em  no
secundário.

Figura 1.27 - Banco de trafos monofásicos

Veja que para essa formação ser possível, sem


que haja desequilíbrio, devemos ter três transformadores
idênticos. Consideramos transformadores idênticos, os que
Máquinas Elétricas 33

possuem mesma relação de transformação e mesma impedância interna.


O conjunto dos transformadores possibilita uma potência trifásica
nominal, dada pela soma das três potências nominais dos transformadores
monofásicos.

1.7.2. Configuração do transformador trifásico

A figura 1.28 mostra a configuração básica de um transformador


trifásico, perceba que com este formato o núcleo oferece caminhos diferente
para os fluxos criados nos enrolamentos.

Figura 1.28 - Transformador trifásico

O fluxo criado pelo enrolamento da fase “A” circulará pelos ramos das
fases “B” e “C”, ou seja, um caminho curto e outro longo, o fluxo criado na fase
“C” percorre caminhos equivalentes, já o fluxo criado na fase “B” percorrerá
dois caminhos curtos. Essa análise nos leva à conclusão que a corrente de
excitação da fase central é ligeiramente inferior à das outras fases, visto que a
relutância dos caminhos percorridos pelo fluxo criado é menor.

1.7.3. Circuito Equivalente

O transformador trifásico é representado pelo mesmo circuito


equivalente do transformador monofásico, no qual seus elementos são dados
em (/fase), visto que somente uma fase é representada. Apresenta-se
novamente na figura 1.29 a configuração desse circuito equivalente, já
mostrada no primeiro capítulo.
A análise feita através desse circuito é idêntica à feita para o
monofásico e, assim sendo, podemos determinar o rendimento e a regulação
de tensão por fase, que corresponderá aos valores do transformador trifásico.
Esses cálculos são semelhantes aos mostrados para o transformador
monofásico e, por isso, não serão repetidos.
Máquinas Elétricas 34

Figura 1.29 - Circuito equivalente por fase referido ao primário do transformador


trifásico

1.7.4. Ligações mais comuns

Apesar de haver outras possibilidades de ligações, as mais comuns em


transformadores trifásicos são as variações de  e Y, ou seja, /, Y/Y, /Y e
Y/.
Ligação /
É o esquema mais econômico para altas potências e baixas tensões.

Vantagens:
 Reduz naturalmente a corrente de fase em 3 vezes com relação à
corrente de linha.
 No caso de faltar uma fase, as duas restantes poderão operar em "delta
aberto", fornecendo potência trifásica, limitada em 58% da potência
original.

Desvantagens:
 No caso de faltar uma fase, cada fase deixa de fornecer um terço (33,3%)
da potência trifásica e passa a fornecer 58%, o que implica sobrecarga nas
fases em operação.
 Não existem neutros disponíveis, portanto não há a possibilidade de
aterramento.
 Para tensões elevadas, o custo de construção dos enrolamentos torna-se
elevado.

Ligação Y/Y
É o esquema mais econômico para baixas potências e altas tensões.

Vantagens:
 Possibilita a redução da tensão na fase em 3 vezes com relação à tensão
de linha.
 Possibilidade de aterramento no primário e no secundário.
 Equilíbrio nas tensões.
Máquinas Elétricas 35

 As correntes de desequilíbrio fluem para a terra.


 Na falta de uma fase, as fases restantes podem fornecer uma potência
monofásica equivalente a 58% da potência trifásica.

Desvantagens:
 Se os neutros não forem solidamente aterrados, teremos desequilíbrio das
tensões.
 A falta de uma fase torna o transformador incapaz de fornecer potência
trifásica.
 Para correntes de linha muito elevadas, o custo de construção dos
enrolamentos também é elevado.
Ligação Y/
É o melhor esquema para transformadores abaixadores e de alta
potência.

Vantagens:
 O neutro do primário pode ser aterrado.
 As tensões do secundário são equilibradas.
 A corrente de desequilíbrio da carga flui pelo delta do secundário.

Desvantagens:
 Não há neutro no secundário para aterrar a carga.
 A falta de uma fase torna o transformador inoperante.

Ligação /Y
É o melhor esquema para transformadores elevadores e de alta
potência.

Vantagens:
 O neutro do secundário pode ser aterrado, fazendo com que as tensões
sejam equilibradas.
 Cargas equilibradas e desequilibradas podem ser ligadas simultaneamente
(a quatro fios).

Desvantagem:
 A falta de uma fase torna o transformador inoperante.

1.7.5. Deslocamento angular

Damos a denominação de deslocamento angular, à defasagem que


pode ocorrer, em algumas ligações, entre as tensões de linha, primária e
secundária. Vejamos para as ligações mais comuns quando e porquê isso
ocorre.
Máquinas Elétricas 36

Ligação /
Perceba na figura 1.30 que as tensões estão em fase, e como as
tensões de fase são iguais às de linha na ligação delta, também não existirá
defasagem entre as tensões de linha. Portanto, a defasagem é zero.

Figura 1.30 - Tensões primárias e secundárias na ligação /

Ligação Y/Y
Observe na figura 1.31 que as tensões de linha não são iguais às de
fase na ligação estrela, devemos então determiná-las através da soma vetorial
das tensões de fase. Assim, verificamos que, como as ligações são iguais em
ambos os lados, as tensões de linha do primário e secundário também não
possuem defasagem e, portanto, a defasagem é novamente zero.

Figura 1.31 - Tensões primárias e secundárias na ligação Y/Y

Ligação /Y
Este esquema de ligação reúne os dois tipos analisados anteriormente,
e ao observarmos os diagramas fasoriais (figura 1.32), percebemos que existe
Máquinas Elétricas 37

uma defasagem de 30 graus entre as tensões de linha do primário e do


secundário. Portanto, a defasagem é de 30o.

Figura 1.32 - Tensões primárias e secundárias na ligação /Y

Ligação Y/
Este esquema de ligação reúne novamente os dois tipos analisados
nos primeiros casos e verificamos, através do diagrama mostrado na figura
1.33, a existência de uma defasagem também de 30 graus entre as tensões de
linha do primário e do secundário, só que em sentido inverso. Conclui-se então
que a defasagem é de 30o.

Figura 1.33 - Tensões primárias e secundárias na ligação Y/

1.7.6. Polaridade

Diferente dos transformadores monofásicos, que podem ter polaridade


aditiva ou subtrativa, os trifásicos, por norma, só podem ter polaridade
subtrativa. Apresentando, dessa forma, a configuração da figura 1.34.
Máquinas Elétricas 38

Figura 1.34 - Marcação dos terminais de um trafo trifásico ligado em /Y (AT/BT)

Obs: O índice zero é utilizado para indicar o neutro, sendo o terminal


posicionado esquerda.

1.7.7. Agrupamento de transformadores em paralelo

Quando a potência a ser fornecida para a carga excede a potência


nominal do transformador, podemos supri-la com o agrupamento de outro
transformador que complemente a potência requerida.
Este agrupamento será possível se os transformadores satisfizerem
algumas exigências, quais sejam:
 Mesma relação de transformação;
 Mesma tensão nominal;
 Mesma tensão de curto-circuito;
 Mesmo deslocamento angular.

A tensão nominal deverá ser igual para que não haja troca de corrente
entre os transformadores ligados em paralelo.
A tensão de curto-circuito indica o nível de queda de tensão interna
que, se for diferente, provocará tensões secundárias diferentes nos dois trafos,
o que faz circular correntes entre os transformadores.
Cabe também ressaltar que a relação entre as impedâncias internas
dos transformadores ligados em paralelo é inversamente proporcional à
distribuição da potência entre os mesmos. Assim, quanto maior a impedância
interna, menor será a contribuição para potência requerida pela carga, o que
pode significar sobrecarga para o outro transformador.
O deslocamento angular, visto anteriormente, deve ser respeitado e,
dessa forma, devemos estar atentos para as configurações do primário e do
secundário.
A figura 1.35 mostra dois transformadores trifásicos, com primário e
secundário ligados em delta, ligados em paralelo.
Máquinas Elétricas 39

Figura 1.35 - Ligação de transformadores 3 em paralelo


Máquinas Elétricas 40

1.8 Autotransformador

Chamamos de autotransformadores aqueles transformadores que


possuem apenas um enrolamento, que serve ao primário e ao secundário.

Observe na figura 1.36, que nesse tipo de transformador os


enrolamentos primário e secundário não são isolados eletricamente.

(a) (b)
Figura 1.36 - Representação do autotransformador abaixador (a) e elevador (b)

1.8.1. Funcionamento do autotransformador

a) Funcionamento a vazio
A vazio, o auto-transformandor absorve uma corrente de excitação I 0 ,
cujo componente de magnetização gera um fluxo no núcleo, induzindo as
f.e.m.s. E 1 e E 2 , proporcionais ao número de espiras dos enrolamentos
primário N 1 e secundário N 2 (semelhante ao transformador convencional).

Figura 1.37 - Indução de tensão no autotransformador


Máquinas Elétricas 41

b) Funcionamento com carga


Sob carga, o autotrafo absorve da rede uma corrente I 1 , que é a
soma da corrente de excitação e a corrente de reação do primário, tal como
estudado anteriormente para o transformador monofásico. Essa segunda
parcela depende diretamente da carga e da relação de transformação do
transformador.

Figura 1.38 - Autotransformadores abaixador e elevador sob carga

1.8.2. Vantagens e desvantagens dos autotransformadores

a) Vantagens em relação aos convencionais:


a) Menor seção do condutor no enrolamento de baixa tensão.
b) Menor comprimento do condutor (um só enrolamento para primário
e secundário).
c) Núcleo com menores dimensões.
d) Menor tanque.
e) Melhor rendimento.

b) Desvantagens:
a) A principal desvantagem é a ligação elétrica existente entre primário
e secundária.
b) Ainda os autotransformadores não são empregados para relação de
transformadores superior a 3:1.

1.8.3. Relação de tranformação

A relação de transformação é a mesma que para os transformadores


convencionais, ou seja, a relação entre o número de espiras do primário e o
número de espiras do secundário.
N1
a
N2
Máquinas Elétricas 42

1.8.4. Potência dos autotransformadores

O autotransformador transfere energia do primário ao secundário, parte


condutivamente e parte magneticamente. Acompanhe a dedução e observe
nas figuras 1.39 e 1.40.

Figura 1.39 - Potência transformada no autotransformador

Figura 1.40 - Potência transformada no autotransformador

1.8.5. Exercícios resolvidos

1) Um autotrafo 220/110V alimenta uma carga de 2,2kVA, com fator de


potência de 0,8 indutivo. Determine as correntes do primário e do secundário.

Resolução

Para uma carga de 2,2kVA, tensão de 220V no secundário, com fator


de potência 0,8 indutivo, temos:
S 2200
I2  2   10 A   cos 1 (cos  )  cos 1 ( 0 ,8 )    36 ,87 o
V2 220
.
I 2  10   36 ,87 o A
Máquinas Elétricas 43

.
I . I 2 10   36 ,87 o
a 2  I1    5   36 ,87 o
I1 a 2

2) Um autotrafo 110/220V, alimenta uma carga indutiva, com fator de potência


0,92, que consome uma corrente I 2  8 A , com fator de potência de 0,8
indutivo ( cos   0 ,8 indutivo ). Determine:
a) A corrente do primário;
b) A potência transformada;
c) A corrente indicada por I 3 .

Resolução

I 2  8  36 ,87 o A
I 8  36 ,87 o
I1  2   16   36 ,87 o A
a 0 ,5

S t  ( V2  V1 ).I 2  ( 220  110 ).8  880 VA

I 3  I 1  I 2  16   36 ,87 o  8  36 ,87 o

I 3  8  36 ,87 o A

Comentários:
I2
a) A corrente I 1 é determinada através da relação de transformação a  ;
I1
b) A potência transformada é definida pela parte do enrolamento que pertence
somente ao secundário, que tem a tensão igual a do secundário V 2 , menos
a do primário V 1 , e é atravessada pela corrente I 2 ;
c) A corrente I 3 é a diferença entre a corrente I 1 e a corrente I 2 . Perceba
que a corrente I 3 flui no sentido indicado, visto que a corrente I 1 que entra
no nó é de maior intensidade que a corrente I 2 que sai, pois, no lado de
tensão menor; a corrente é proporcionalmente maior, para que a potência
se mantenha igual.

1.8.6. Exercícios propostos

1) Um autotrafo 220/440V, alimenta uma carga de 440VA, com fator de


potência de 0,92 indutivo. Determine as correntes do primário e do secundário.
Máquinas Elétricas 44

2) Um autotrafo 220/110V alimenta uma carga indutiva, com fator de


potência 0,92, que consome uma corrente I 2  10 A , com fator de potência de
0,92 indutivo ( cos   0 ,92 indutivo ). Determine:
a) A corrente do primário;
b) A potência transformada;
c) A corrente indicada por I 3 .

Consulte outras referências: páginas da Internet, livros,


revistas, catálogos, etc. Na referência bibliográfica
deste material você encontrará sugestões, mas, se
possível, vá além.

Registre aqui suas dúvidas:


Máquinas Elétricas 45

2 Motor de Indução

Competências e habilidades
Habilitar o educando a analisar os fenômenos que regem o
funcionamento dos motores de indução, bem como
equacioná-los e determinar seus principais parâmetros.

2.1 História do Motor de Indução

Vamos conhecer um pouco da história de como surgiram os motores


elétricos os quais possibilitaram toda esta evolução que podemos observar nos
tempos atuais.
Em 1825, Arago observou que um disco de cobre em movimento
rotativo provocava a rotação de uma agulha magnética.
Esse fenômeno pôde ser observado por meio de um aparelho similar
aos apresentados na figura 2.1. No entanto, constata-se que o fenômeno varia
muito com o material do disco; o efeito é nulo com materiais isolantes e
pronunciado com materiais condutores.

Figura 2.1 - Equipamentos similares ao utilizado por Arago

Foi Faraday, que em 1832, com a ajuda de um Lembre-se das


galvanômetro, estabeleceu que a força que faz rodar a correntes parasitas,
agulha é devida a correntes elétricas, que surgem no que surgem no
disco, por influência da própria agulha magnética. interior dos materiais
que conduzem o
Em 1825, C. Babage e J. Herschel fluxo magnético.
estabeleceram o efeito contrário: a rotação de um ímã
em forma de ferradura sobre um disco de cobre
provocava a rotação do disco.
Em 1872, W. Baily apresentava um modo de
produzir rotações de Arago com quatro eletroímãs
fixos, que eram excitados consecutivamente e com o
disco rodando sobre um pivô, por cima dos pólos
variáveis criados pelos eletroímãs.
Máquinas Elétricas 46

Figura 2.2 - Configurações dos eletroímãs da experiência de Baily

Criava-se, assim, uma rotação intermitente do campo magnético,


acompanhado pelo disco
Em 1883, Marcel Deprez apresentou um teorema que provava
matematicamente a criação de um campo magnético girante pela combinação
da ação de duas correntes alternadas defasadas de 90o no tempo. Surgia a
idéia do motor bifásico.
Sem o conhecimento do trabalho de Baily ou de Deprez, em 1885
Galileo Ferraris propôs a produção da rotação de um condutor (um cilindro de
cobre oco) por intermédio das correntes de Foucault ("correntes parasitas")
nele provocadas pelo deslocamento progressivo de um campo magnético.
Propôs, também, criar esse campo móvel, como um campo girante, pela
combinação de duas correntes defasadas de 90o no tempo e dois conjuntos de
bobinas formando ângulos retos entre elas. Dessa forma, construiu, para
demonstração nas aulas, o motor de indução (tipo em campânula)
representado na figura 2.3.

Figura 2.3 - Motor de indução de Galileo Ferraris

Galileu Ferraris não atribui valor comercial ao seu invento, e foi Nikola
Tesla que, nesses anos, estudava os problemas dos sistemas polifásicos
(bifásicos) de corrente alternada, quem apresentou um conjunto de patentes e
uma comunicação ao AIEE (em 16 de Maio de 1888) em que apresentou o
desenho de um motor elétrico bifásico.

O motor era formado por um anel folheado, com quatro bobinas ligadas
duas a duas a cada fase de um alternador bifásico. O induzido é um disco de
ferro, que pode ser cortado de forma "a fazer passar de um lado ao outro a
Máquinas Elétricas 47

maior quantidade de fluxo" (o que não é essencial para o funcionamento).


Trata-se de um motor síncrono (de relutância).

Figura 2.4 - Esquema elétrico do motor patenteado em 16 de Maio de 1888 por Tesla

Alguns meses depois, Tesla verificou que podia utilizar o deslocamento


dos pólos de um campo indutor para desenvolver correntes elétricas numa
espira, mantida sob a influência deste, dando origem a um campo de reação
(campo induzido). A interação entre os campos, indutor e induzido provocava a
rotação da espira. Estava apresentado um motor de indução.

2.2 Motor de Indução Trifásico (MIT)

2.2.1. Principais componentes

Assim como fizemos para o transformador, vamos analisar somente os


dois principais componentes do motor de indução, que são o estator e o rotor.
As demais partes que compõe o motor serão, quando necessário, apenas
mencionadas.
Estator
Esta parte do motor é caracterizada pela ausência de movimento, daí o
nome estator. Construído com material ferromagnético de alta permeabilidade,
tem como funções básicas:
 Alojar em suas ranhuras os enrolamentos estatóricos;
 Compor o circuito magnético, facilitando o estabelecimento e a
circulação do campo magnético.
Rotor
Esta é a parte móvel do motor, também é construído com material
ferromagnético de alta permeabilidade, e tem como funções básicas:
 Alojar em suas ranhuras os enrolamentos rotóricos, quando o
motor tem rotor bobinado, ou a gaiola nos motores com rotor do
tipo gaiola de esquilos;
 Ajudar a compor o circuito magnético, facilitando o estabelecimento
e a circulação do campo magnético.
Máquinas Elétricas 48

Quanto aos tipos de rotor podemos dividi-lo em:

Tipo gaiola
Esse nome é uma referência ao seu formato que se assemelha a uma
gaiola de esquilos.

Características:
 Construção simples e grande robustez, conferindo aos motores com
este tipo de rotor um baixo índice de manutenção.
 Problemas na partida, ou seja, ao ligar o motor é provocado um
nível de corrente elevado, fazendo com que em algumas situações
seja necessário o seu controle através de mecanismos auxiliares.

Utilização:
 Ambientes com muita poeira e/ou materiais abrasivos;
 Motores instalados em locais de difícil acesso.

Tipo Bobinado
O motor de indução trifásico pode ter sua massa rotórica envolvida por
enrolamentos trifásicos, geralmente ligados em Y. Os terminais restantes dos
enrolamentos são conectados a anéis condutores dispostos no eixo da
máquina.

Características:
 Construção mais complexa e de maior custo;
 Maior necessidade de manutenção que o do tipo gaiola;
 Uma grande vantagem é a de possibilitar o controle da corrente de partida e
velocidade de maneira simples.

Utilização:
 Em aplicações nas quais necessitamos do controle da velocidade
do motor;
 Quando a partida do motor é feita sob carga.

2.2.2. Campo magnético girante

Para que possamos entender mais facilmente o funcionamento de um


MIT, devemos inicialmente recordar alguns conceitos apresentados
anteriormente.
O primeiro deles é o que trata da indução eletromagnética, que nos
mostra a geração de tensão, através da variação de fluxo no tempo, descrito

matematicamente pela lei de Faraday-Lenz ( E   ).
t
Máquinas Elétricas 49

O segundo diz respeito à criação de um campo magnético por uma


bobina, quando alimentada por corrente elétrica.
Com o terceiro, vamos recordar que um campo elétrico criado por uma
corrente induzida é sempre contrário à variação do campo principal. Esse
conceito é o que conhecemos como a “Lei de Lenz”.
Aliado a esses conceitos, já abordados na disciplina de
eletromagnetismo, vamos introduzir outros referentes à formação de campos
girantes, que são:
Uma bobina percorrida por corrente alternada senoidal cria uma campo
pulsante, que varia entre um valor máximo num sentido e o mesmo valor
máximo no sentido contrário, dependendo do sentido da corrente.

Figura 2.5 - Campo pulsante em bobinas com alimentação CA (esquemático)

Quando colocamos duas bobinas idênticas, defasadas de 90o no


espaço, e percorridas por correntes de mesma forma e amplitude, defasadas
de 90o no tempo (sistema bifásico equilibrado), obtemos um campo pulsante
em cada bobina, como no caso anterior; porém o campo resultante da soma
desses dois campos individuais, que estão defasados, não é mais pulsante e
sim, girante. Além de girante, é, também, uniforme, ou seja, tem a mesma
intensidade em todo momento analisado Observe o esquema de ligação na
figura 2.6.

Sendo:

V1  Vmax . sen t

V2  Vmax . sen( t  90 o )

  é a velocidade
angular do campo
Figura 2.6 - Campo girante no sistema bifásico (esquemático)

Assim como no sistema bifásico, em um sistema trifásico também é


possível criar um campo magnético girante. É o que acontece em um motor de
indução trifásico, em que três enrolamentos defasados de 120 graus no espaço
recebem as tensões trifásicas da rede elétrica.
As correntes equlibradas que circulam pelos enrolamentos do estator
geram três campos pulsantes, e a combinação dos mesmos produz um campo
Máquinas Elétricas 50

magnético girante uniforme. A figura 2.7 ilustra a produção do campo girante


em um motor trifásico. Observe que a cada instante de tempo analisado, o
campo girante se desenvolve sobre o eixo magnético do enrolamento
percorrido pela corrente de maior intensidade.
Observe também que o sentido de circulação das correntes está de
acordo com a polaridade do campo girante a cada instante, e podemos analisá-
lo como sendo produzido por uma bibina equivalente (observe no vídeo esta
análise).

Figura 2.7 - Campo girante criado por sistema trifásico

Observações:
 Nos dois casos anteriores, podemos obter campos girantes, mesmo
que as amplitudes das correntes, bem como as defasagens física
das bobinas e temporal das correntes sejam inferiores às definidas,
porém o campo criado dessa forma não será uniforme, ou seja,
haverá momentos de grande intensidade, com relação a outros.
 Para simplificar a análise, mostramos o campo girante criado com
apenas um par de pólos; porém, se aumentamos o número de
bobinas que compõe cada fase do motor, e dispondo-as
Máquinas Elétricas 51

convenientemente no estator, poderemos criar um número maior de


par de pólos (4, 6, 8, ...). Como consequência dessas formações
diferenciadas teremos uma variação na velocidade e no torque da
máquina, ou seja, quanto maior for o número de pólos, menor será
a velocidade do campo girante e maior será o torque
eletromagnético da máquina.

Agora vimos que é possível gerar


um campo girante, através de
enrolamentos convenientemente
dispostos; no estator da máquina,
por exemplo, passamos a pensar
de que forma podemos aproveitá-
lo para girar o eixo do motor.

2.3 Princípio de funcionamento do motor de indução

Como o próprio nome determina, esse motor trabalha sob o princípio


da indução magnética. O campo, ao girar, provoca uma variação de fluxo sobre
as barras (ou bobinas) curto-circuitadas dispostas no rotor da máquina. Com
essa variação de fluxo, forças eletromotrizes (tensões) são induzidas no
circuito do rotor, fazendo com que circulem as correntes responsáveis pelo
torque do motor. Esse torque é resultado da interação entre os campos
presentes no motor, o campo girante e o campo criado pelas correntes
induzidas no rotor.
Como o campo criado pelas correntes induzidas, segundo a Lei de
Lenz, é contrário ao campo que lhe deu origem (campo girante), haverá a
tentativa, por parte do rotor, de parar o campo girante, porém como este é
imposto pela rede, e o rotor está livre para girar, o segundo é obrigado a
acompanhar o movimento.
Perceba pelo exposto, que quanto maior a variação de fluxo, maior
será a indução de tensão, aumentando a intensidade das correntes induzidas,
resultando no aumento do torque do motor e sua capacidade de acionar carga.
Assim, quanto maior a carga, maior será a diferença de velocidade entre o rotor
e o campo girante
É necessário entendermos que a indução no circuito do rotor é
provocada pela variação do fluxo (campo girante), e que esta variação está
ligada ao movimento relativo desse fluxo com o próprio rotor. Portanto,
enquanto houver diferença de velocidade entre o campo girante e o rotor,
haverá torque na máquina. Na prática o MIT tem sua velocidade variando
conforme a carga que é conectada ao eixo; para uma carga maior, maior será a
diferença de velocidade, portanto mais lento será o rotor. Com isso, maior será
a variação de fluxo no rotor, maior será a corrente induzida e,
conseqüentemente, maior será o torque da máquina.
Máquinas Elétricas 52

Resumindo: O motor de indução opera baseado na


indução eletromagnética provocada pelo campo girante
criado no estator, sobre o rotor (gaiola ou enrolamentos
curto-circuitados). Essa indução dá origem às correntes
rotóricas que proporcionam ao rotor força para girar e
acionar a carga.

2.3.1. Velocidade do campo girante

O campo girante de um motor de indução tem sua velocidade definida


pelo número de pólos e pela freqüência da rede elétrica que o alimenta.
Quantitativamente podemos determinar a velocidade do campo girante através
da equação (2.1):
120. f
Ns  (2.1)
p
Onde:
N S - Velocidade do campo girante (síncrona) [rpm]
f - freqüência da rede de alimentação [Hz]
p - número de pólos do motor
Dessa forma, podemos concluir que o controle de velocidade da
máquina pode ser feito através da variação do número de pólos e da
freqüência da rede. Existe, porém, uma diferença básica entre as duas formas
de controle, vejamos:

 O controle pelo número de pólos, sabendo que os pólos só existem


aos pares, é feito de forma discreta, ou seja, em valores pré-
definidos. Por exemplo, para 60Hz, teremos:

No de Pólos Ns (rpm)
2 3600
4 1800
6 1200
8 900

 No controle pela variação da freqüência podemos fazer a variação


contínua da freqüência, através de um sistema eletrônico.

Importante:
 Lembre-se de que para haver indução no rotor, ele não pode girar
na mesma velocidade do campo girante.
 Não se esqueça de que quanto maior a carga do motor, menor a
velocidade com que ele opera, pois isso lhe confere mais torque.
Máquinas Elétricas 53

2.3.2. Escorregamento

Visto que o rotor não pode girar na mesma velocidade do campo


girante, surge um novo conceito chamado escorregamento, que é a diferença
percentual de velocidade entre o campo girante e o rotor. A equação (2.2)
mostra o cálculo do escorregamento do motor.
NS  NR
s%  100% (2.2)
NR
Onde:
s - escorregamento
N S - velocidade do campo girante (rpm)
N R - velocidade do rotor (rpm)

Manipulando a equação (2.2), podemos chegar à equação (2.3) e


determinar a velocidade do eixo, quando conhecermos o valor do
escorregamento e a velocidade do campo girante.
N R  ( 1  s ).N S (2.3)

O escorregamento teoricamente pode variar


entre zero, quando o motor está a vazio e
desprezamos todas as perdas, e 100%
quando o rotor do motor está parado; mas,
em operação normal a plena carga, esse
escorregamento fica por volta de 1 a 5%.

2.3.3. Freqüência das tensões induzidas no rotor

As tensões induzidas nas barras ou enrolamentos do rotor, dependem


da diferença de velocidade entre o campo girante e a velocidade do próprio
rotor que, como já vimos, é definida como escorregamento. Portanto, a
freqüência dessas tensões será diretamente proporcional ao escorregamento,
como podemos constatar através da equação (2.4), mostrada a seguir.
f R  f .s (2.4)
Observações:
 A vazio a velocidade do rotor é praticamente igual à do campo
girante, portanto o escorregamento " s " é muito próximo de zero,
assim como f R .
 Com o rotor parado, o escorregamento é máximo (igual a 1 ou
100%) , e assim, f R  f  60 Hz .
Máquinas Elétricas 54

2.3.4. Equilíbrio dinâmico do motor de indução

Após termos visto os conceitos que orientam o funcionamento do motor


de indução trifásico, vamos analisar mais detalhadamente suas características
de operação.
Quando o motor de indução está em funcionamento, a velocidade com
que o rotor gira é tal, que as forças eletromagnéticas geradas pela interação
entre o campo girante e o campo criado no rotor igualam-se à força resistente
imposta ao eixo pela carga.
Quando a carga aumenta, a velocidade do rotor diminui, pois as forças
eletromagnéticas tornam-se insuficientes para acionar a carga na velocidade
anterior. Com a redução da velocidade do rotor, aumentam as tensões nele
induzidas, fazendo circular mais corrente com isso aumentando o torque do
motor e voltando ao equilíbrio.
Por outro lado, se a carga é reduzida, o rotor acelera (aumenta a
velocidade), diminuindo as forças eletromagnéticas até chegar novamente ao
equilíbrio.

2.3.5. Torque no eixo do motor

O torque eletromagnético é a relação entre a potência entregue ao eixo


do motor e a velocidade angular do mesmo.
Inicialmente vamos determinar a velocidade angular com a equação
(2.5), que transforma a velocidade do rotor em rpm (rotações por minuto) em
rad/s (radianos por segundo):
2
R  NR . (2. 5)
60

2
S  NS . (2. 6)
60
Com essa velocidade determinada, passamos ao cálculo do torque:
Pmi
 (2.7)
R

2.3.6. Fluxo de potência do motor de indução

Vejamos, de forma esquemática, como se distribui a potência, desde a


que é absorvida pelo motor até à carga. O diagrama da figura 2.8, representa
os fatores de redução de rendimento de um motor. Quanto menores forem as
parcelas desviadas antes de chegar à carga, maior será o rendimento da
máquina e, portanto, mais eficiente ela será na tarefa de converter energia
elétrica em energia mecânica.
Máquinas Elétricas 55

Figura 2.8 - Diagr

Figura 2.8 - Diagrama do fluxo de potêmcia do motor de indução

2.3.7. Rendimento do motor

O rendimento do motor é, assim como nas demais máquinas,


determinado pela relação entre a potência entregue à carga e a absorvida da
rede de alimentação. A equação (2.8) mostra essa relação que define o
rendimento.
Putil
%  100% (2.8)
P1

2.3.8. Categorias de motores de indução

Os motores de indução são divididos em três categorias, de acordo


com suas características de torque. Passaremos a mostrá-las, de forma bem
resumida, nos itens a seguir.
Categoria N
Motores com as seguintes características:
 Baixa resistência rotórica;
 Baixo torque de partida;
 Pouca variação de velocidade.

Os motores dessa categoria são usados em bombas, máquinas


operatrizes, dentre outras aplicações.

Categoria H
Motores com as seguintes características:
 Maior resistência rotórica que os da categoria anterior;
 Maior torque de partida que os da categoria anterior;
 Pouca variação de velocidade.

Os motores dessa categoria são usados para acionamento de cargas


com alta inércia.
Máquinas Elétricas 56

Categoria D
Motores com as seguintes características:
 Rotor com elevada resistência rotórica;
 Elevado torque de partida (máximo);
 Maior variação de velocidade.

Os motores dessa categoria são usados para acionamento de cargas


que apresentam partidas sucessivas e que necessitam de elevado torque de
partida como, por exemplo, motores de moinho.
Na figura 2.9 vemos como se comportam os torques nos motores das
três categorias.

Figura 2.9 - Curva do torque para as categorias N, H e D

Pode-se demostrar que as


características, descritas
anteriormente, são obtidas por
conta da variação na
resistência elétrica do rotor.

2.3.9. Partida dos motores de Indução

As formas de partida de um motor de indução são abordadas mais


profundamente na disciplina de Comandos Industriais; porém, por ser um dos
maiores problemas do motor de indução, vamos ressaltar o problema que
ocorre no momento da partida, que é a elevação da corrente.
Podemos atribuir esse problema ao fato de que o campo girante
produzido pelo estator se estabelece instantaneamente após ligado o motor e
que o rotor, por sua inércia mecânica, demora um pouco até atingir sua
velocidade de equilíbrio. Nesse instante inicial em que o rotor ainda não partiu,
Máquinas Elétricas 57

ele se comporta como se estivesse travado, levando a elevadas correntes de


partida que, em geral, ficam entre 6 a 10 vezes a corrente nominal.
Para motores de pequeno porte, com relação à rede que o alimenta,
esse fato não causa problemas significativos, porém no caso de motores
maiores, esse pico de corrente no momento em que o motor é ligado pode
provocar quedas de tensão excessivas ao sistema, prejudicando outros
equipamentos ligados a ele.
Dentre os métodos usados para controle da corrente de partida nos
motores de indução, destacam-se:
a) Chave estrela-triângulo Y/
Nesse método o motor parte ligado em Y, fazendo com que a tensão
sobre os enrolamentos do estator seja reduzida em 3 vezes (57,74% da
tensão nominal). Com a redução da tensão, temos também a redução da
corrente que passa a um terço da original, porém o torque, que depende do
quadrado da tensão (   k T .V1 ), sofre uma significativa redução, passando
2

também a cerca de um terço do original. Após a partida do motor, faz-se a


comutação para a ligação delta (cerca de 90% da velocidade nominal). Outra
desvantagem da chave Y/ é que ela somente se aplica a motores com seis
terminais.

Tente responder às seguintes questões:


 Por que são necessários seis terminais?
 Por que após a partida em Y devemos comutar para delta?

b) Chave compensadora
Esse método baseia-se na utilização de um autotransformador, que
possibilita a aplicação de tensões reduzidas, através da seleção, manual ou
automática, de taps, com percentuais da tensão nominal (por ex., 50%, 65%,
80% e 100%). A medida que o motor vai acelerando, tensões mais elevadas
vão sendo aplicadas, de maneira que a máquina adquira suas características
nominais.
Apesar de mais volumosa e mais cara, com relação à chave Y/, a
chave compensadora tem a vantagem de possibilitar a escolha do tap mais
conveniente ao torque desejado, além de não provocar oscilações tão bruscas
durante as comutações de uma tensão à outra.
c) Soft start
É um sistema eletrônico de controle, que possibilita o controle da
corrente de partida, além de controlar também o torque da máquina. Assim
como outros sistemas eletrônicos, sua grande eficiência, aliada à redução do
preço desse tipo de chave, vem fazendo com que conquiste muito espaço
dentro da indústria.
Máquinas Elétricas 58

2.3.10. Circuito equivalente do motor de indução trifásico

Quando estudamos o transformador, montamos um circuito


equivalente, que o representava quantitativa, uma vez que dimensionava seus
parâmetros, grandezas, além das não idealidades encontradas naquela
máquina. Esse circuito, se recordarmos o capítulo um, é determinado pelos
ensaios a vazio e em curto-circuito e pode ser representado na alta e na baixa
tensão. Para o motor de indução trifásico também estabelecemos um circuito,
que o representará, porém ele será sempre referido ao estator, visto que não
temos acesso elétrico ao rotor. Sua representação é feita por fase, como
mostrada na figura 2.10.

Figura 2.10 - Circuito equivalente referido ao estator

Os elementos do circuito equivalente são:

R1  Resistência do enrolamento do estator.


X1  Reatância do enrolamento do estator.
Rp  Resistência de perdas no núcleo.
Xm  Reatância de magnetização da máquina.
R2 e  Resistência do enrolamento (ou barras) do rotor, referida ao
estator.
X 2e  Reatância do enrolamento (ou barras) do rotor referidas ao
estator.
1 s Resistência de carga (representa a carga mecânica
R2 e .  
 s  acoplada ao eixo).

Esses elementos, se considerarmos o estator como o primário do


motor e o rotor como o secundário, representam os mesmos fenômenos já
descritos no capítulo um. Somente o elemento que representa a carga nos traz
algo novo, que é a representação da variação de carga através do
escorregamento.
Note que quando a carga é muito grande, o escorregamento também o
será e, com isso, a resistência de carga terá um valor muito baixo,
conseqüentemente a corrente absorvida será muito elevada. Ao contrário, para
cargas muito pequenas, o escorregamento também o será e a resistência de
carga resulta em um valor muito grande, tendo como conseqüência uma
corrente de carga muito baixa.
Na seqüência, faremos a análise do fluxo de
potência do motor, desde a rede de alimentação, até a
Máquinas Elétricas 59

potência entregue no eixo, iniciando pela resolução do circuito equivalente.

Resolução do circuito equivalente

1o Passo:
Primeiramente vamos reunir todos os elementos de cada ramo, que
representam a impedância do estator Z 1 , a impedância do rotor referida ao
estator Z 2 e , e, finalmente, a impedância referente ao núcleo Z fe , como mostra
a figura 2.11.

Figura 2.11 - Primeiro passo para determinação da impedância equivalente do MIT

Onde temos:

Z 1  R1  jX 1 (2.9)

Rp0 o .Xm90 o
Z fe  R p // jX m  (2.10)
R p  jX m

1 s R
Z R  R2 e  R2 e .   jX 2 e  2 e  jX 2 e (2.11)
 s  s
Em seguida, vamos agrupar os dois ramos em paralelo, ou seja, o que
representa o núcleo Z fe e o que representa o rotor Z 2 e , observe a figura 2.12.

Figura 2.12 - Segundo passo para determinação da impedância equivalente do MIT

Nesse passo o agrupamento em questão é equacionado por:


. .
Z .Z R
Z f R  Zfe // ZR 
fe
. .
(2.12)
Z fe  Z R
Máquinas Elétricas 60

Importante:

 Não esqueça que o cálculo em número complexo é facilitado se realizado


na forma polar para multiplicação e divisão e na forma retangular para soma
e subtração.

 Como a indução de corrente no rotor depende da velocidade relativa entre o


campo girante e o rotor, explica-se o fato de que, na partida, o motor de
indução tem uma corrente muito maior que a nominal. Como nesse
momento a diferença de velocidade é máxima, uma vez que o campo
girante se estabelece instantaneamente e o rotor, por sua inércia mecânica,
leva um certo tempo para chegar à velocidade normal, tem-se uma indução
máxima e conseqüentemente um pico de corrente Após a partida, a
corrente tende ao valor normal.

3o Passo:
Finalmente fazemos o cálculo da impedância equivalente total do
circuito. Acompanhe o desenvolvimento dessa etapa, observando a figura
2.13.

Figura 2.13 - Terceiro passo para determinação da impedância equivalente do MIT

. . .
Onde: Z eq  Z 1  Z fR (2.13)

Com base nos passos mostrados anteriormente, vamos então


descrever o fluxo de potência do MIT.

Força eletromotriz induzida nos enrolamentos do estator

Com o intuito de viabilizar cálculos posteriores, vamos fazer a análise


da forçca eletromotriz induzida nos enrolamentos do estator, identificada nas
.
figuras anteriores como E 1 . Acompanhe o desenvolvimento a seguir.
Máquinas Elétricas 61

Figura 2.14 - Circuito para determinação da fem induzida nos enrolamentos do estator

Observe que, na malha formada, existe uma queda de tensão V1


.
entre a tensão de entrada V 1 e a fem E 1 . Essa queda de tensão ocorre no
enrolamento do estator e seu valor é dado pela multiplicação da impedância
que o representa pela corrente que por ele passa. Assim:
. . . . .
E 1  V 1   V 1  V 1  ( R1  jX 1 ). I 1 (2.14)

Determinação das correntes do circuito


Com os dados de entrada, as impedâncias e tendo determinado a força
.
eletromotriz E 1 , temos totais condições de obter as correntes que circulam no
circuito equivalente. Para tanto, vamos utilizar um conceito bem conhecido, que
nos diz que a corrente que circula por um elemento é dada pela razão entre a
. . .
tensão aplicada e a impedância do mesmo, ou seja, I  V / Z . Acompanhe
todas as deduções baseando-se nos circuitos equivalentes apresentados.

. . .
Figura 2.15 - Circuito para cálculo das correntes I 1 , I 2 e e I 0

V1
Corrente de entrada: I1  (2.15)
Z eq

.
.
E1
Corrente de excitação: I0  .
(2.16)
Z fe

.
.
E1
Corrente do rotor: I 2e  .
(2.17)
ZR
Máquinas Elétricas 62

As outras correntes ( I p e I m ) podem ser calculadas através de um


divisor de corrente aplicado à corrente I 0 , ou mais facilmente como segue:
.
.
E1
Corrente de perda: Ip  (2.18)
Rp

.
.
E1
Corrente de magnetização: Im  (2.19)
jX m
De posse dessas correntes, passamos efetivamente ao fluxo de
potência.

Fluxo de potência do MIT


Vamos entender nesse item como se distribui a
potência absorvida pelo motor, desde a rede até à carga.

1 – Potência absorvida da rede


Podemos determinar a potência ativa absorvida pelo motor, através
dos seus dados de entrada, V 1 , I 1 fator de potência, definido aqui como
sendo o coseno do ângulo de defasagem entre a tesão e a corrente de entrada.
Observe nas equações (2.20) e (2.21), como podemos determinar a potência
ativa de entrada.
P1  3.V1F .I 1 F . cos  (2.20)
ou
P1  3 .V1 L .I 1 L . cos  (2.21)

2 – Perda Joule no núcleo


A perda no núcleo pode ser calculada de duas formas, que levam ao
mesmo valor, e representa o aquecimento causado no núcleo de ferro, pela
passagem do fluxo magnético (perdas por histerese magnética e correntes
parasitas).
P fe  3.R p .I p
2
(2.22)

ou
2
E
P fe  3. 1 (2.23)
Rp
Obs: O "3" que aparece nas fórmulas deve-se ao fato de
representarmos um circuito trifásico através de uma única fase.
3 – Perda Joule nos enrolamentos
As perdas Joule causadas nos enrolamentos do estator e do rotor são
provocada pela passagem de corrente e, como as correntes são dependentes
Máquinas Elétricas 63

da carga acoplada ao eixo, as perdas também o serão. As equações (2.24) e


(2.25), mostram como determinar essas perdas, no estator e no rotor
respectivamente.
PJE  3.R1 .I 1
2
(2.24)

PJR  3.R2 e .I 2 e
2
(2.25)

4 – Potência elétrica entregue pelo estator ao rotor


A potência entregue ao rotor, com relação à absorvida pelo estator da
rede, tem um pequeno decréscimo, visto que como mostramos anteriormente
perdas ocorrem no estator e no núcleo. Para determinarmos qual o valor da
potência que chega ao rotor, podemos proceder de duas formas, como
mostramos nas equações (2.26) e (2.27):
R2 e
Pg  3.
2
.I 2 e (2.26)
s

Pg  P1  ( P fe  PJE  PJR ) (2.27)

Ou seja, podemos calcular diretamente no circuito equivalente, usando


a equação (2.26), ou usar as potências de entrada e de perdas, já
determinadas em cálculos anteriores (equação 2.27). Usamos a terminologia
Pg , para essa potência, por ser a mais freqüentemente encontrada na literatura
específica desta área.
5 – Potência elétrica convertida potência mecânica
A potência entregue ao eixo, através da interação dos campos
magnéticos, é a que efetivamente será convertida em potência mecânica,
capaz de suprir as perdas mecânicas e o acionamento da carga acoplada ao
eixo. As perdas aqui citadas dizem respeito ao atrito, à ventilação, dentre
outros fatores, e serão chamadas unicamente de perdas mecânicas adicionais
e as representaremos por Pmec .
A potência entregue ao eixo é determinada sobre o elemento que
representa a carga, como mostra a equação (2.28).
1 s
Pmi  3.R2 e   .I 2 e
2
(2.28)
 s 
Novamente adotamos a terminologia mais freqüentemente utilizada,
onde Pmi refere-se à potência mecânica interna e quantifica a potência
efetivamente tranferida ao eixo.
6 – Potência útil
A potência útil representa a potência disponível para acionar carga no
eixo, livre de todas as perdas, elétricas ou mecânicas. A forma de ser calculada
é mostrada a seguir e também pode ser determinada de mais de uma maneira.
Mostramos duas delas nas equações (2.29) e (2.30).
Putil  Pmi  Pmec (2.29)
Máquinas Elétricas 64

Putil  P1  ( P fe  PJE  PJR  Pmec ) (2.30)

2.4 Exercícios resolvidos

1) Para um motor de 4 pólos, 60Hz, operando na velocidade


de 1780rpm, determine:
a) Qual o escorregamento?
b) Qual a freqüência das tensões induzidas no rotor?
c) Se a carga aumentasse o que aconteceria com o escorregamento? Por
quê?

Resolução

a) O escorregamento é a diferença relativa entre a velocidade do campo


girante e do rotor, portanto primeiramente devemos determinar a velocidade
do campo girante e, depois, encontrar o valor do escorregamento para essa
situação de carga.

120. f 120.60
Ns    1800 rpm
p 4

Ns  Nr 1800  1780
s% x 100%  x 100%  1 ,11%
Ns 1800
b) A freqüência das tensões induzidas dependem diretamente do
escorregamento, portanto:
f R  f .s  60.0 ,0111  0 ,67 Hz
c) Se a carga aumentasse haveria uma redução na velocidade do motor,
fazendo com que mais tensão fosse induzida no rotor. Tendo tensão maior,
circularia mais corrente e, conseqüentemente, o motor teria mais torque,
para continuar acionando a carga. Lembre que o aumento excessivo de
carga pode levar o motor a travar e consequentemente a sofrer danos.

2) Para um MIT de 5Hp, que possui um rendimento de 89%, determine:


a) A potência absorvida da rede;
b) As perdas totais do motor.

Resolução

a) Sabendo que o rendimento é a relação entre a potência ativa que é


fornecida à carga e a potência absorvida da rede, fazemos:
Pc arg a Pmi 5.745 3725
    0 ,89  P 1   4185 ,39W
Pentrada P1 P1 0 ,89
Máquinas Elétricas 65

b) As perdas totais do motor são a diferença entre o que é absorvido da rede e


o que é entregue à carga. Então:

Pperdas  P1  Pc arg a  4185 ,39  3725  460 ,39W

3) Um motor de indução trifásico, 6 pólos, 60Hz, ligado em Y, tensão de linha


de 220V, opera a vazio, com o circuito equivalente, dado na figura 2.16.
Usando a aproximação que o escorregamento é nulo, determine a corrente
absorvida da rede.

Figura 2.16 - Circuito equivalente do motor para o exercício 3

Resolução:
Com o escorregamento igual a zero o circuito do rotor comporta-se
como uma impedância infinita, podemos então reduzir o circuito equivalente
para:

Figura 2.17 - Circuito equivalente aproximado do motor a vazio

Perceba que nesse caso a corrente de entrada é a própria corrente de


excitação, e que a impedância equivalente é dada pela soma de Z 1 e Z fe .
Vamos, então, determinar o valor da impedância equivalente:

Z 1  R1  jX 1  0 ,294  j0 ,503  0 ,5859 ,69 o 

250 0 o .100 90 o 25000 90 o


Z fe  R p // jX m  
250  j 100 269 ,26 21 ,80 o
Máquinas Elétricas 66

Z fe  92 ,8568 ,20 o  34 ,48  j 86 ,21

Z eq  Z 1  Z fe  0 ,294  j0 ,503  34 ,48  j 86 ,21

Z eq  34 ,77  j 86 ,71  93 ,4268 ,15 o 

Chegamos então à corrente de entrada por fase:


.
. .
V1 127 ,020 o
I1  I0    1 ,36   68 ,15 o A
Z eq 93 ,4268 ,15 o

4) Um motor de indução trifásico, 6 pólos, 60Hz, 220V de linha, ligado em Y,


opera a uma velocidade de 1176rpm, com o circuito equivalente dado na
figura 2.16, e sabendo que suas perdas mecânicas totalizam 80W,
determine:
a) A corrente de entrada;
b) A força eletromotriz induzida no enrolamento do estator;
c) A corrente de excitação;
d) A corrente de perdas no núcleo;
e) A corrente de magnetização do motor;
f) A corrente no rotor referida ao estator;
g) A potência absorvida da rede;
h) A perda Joule no enrolamento do estator
i) A perda Joule no enrolamento do rotor;
j) A perda no núcleo do motor;
k) A potência entregue ao rotor;
l) A potência disponível no eixo;
m) A potência útil;
n) O torque no eixo do motor;
o) O rendimento.
Resolução:
a) Para que possamos determinar a corrente de entrada temos que encontrar
a impedância equivalente do motor, o que faremos usando o roteiro de
cálculos apresentado no item 2.2.16 (resolução do circuito equivalente).
Escorregamento:
1200  1176 1200  1176
s  0 ,02 ou s% x 100%  2%
1200 1200
Valor da resistência de carga:
1 s 1  0 ,02
Rc  R 2 e .  0 ,144.  7 ,06 
s 0 ,02
Impedância do estator:
Z 1  R1  jX 1  0 ,294  j0 ,503  0 ,5859 ,69 o 
Máquinas Elétricas 67

Impedância do rotor:
1 s  1  0 ,02 
Z R  R2 e  R2 e .   jX 2 e  0 ,144  0 ,144.   j0 ,209
 s   0 ,02 

Z R  7 ,20  j0 ,209  7 ,201,66 o 


Impedância do núcleo:
250 0 o .100 90 o 25000 90 o
Z fe  R p // jX m  
250  j 100 269 ,26 21 ,80 o

Z fe  92 ,8568 ,20 o  34 ,48  j 86 ,21


Impedância do núcleo em paralelo com a do rotor:
. .
Z fe . Z R 92 ,85 68 ,20 o .7 ,20 1 ,66 o
Z f R  Zfe // ZR  
. .
7 ,20  j0 ,209  34 ,48  j 86 ,21
Z fe  Z R

668 ,5269 ,86 o


ZfR   6 ,97 5 ,61 o  6 ,94  j0 ,68
95 ,95 64 ,25 o

Impedância equivalente do motor:


. . .
Z eq  Z 1  Z fR  0 ,294  j0 ,503  6 ,94  j0 ,68

.
Z eq 7 ,23  j 1,18  7 ,33 9,27 o 
Cálculo da corrente de entrada:
.
. V1 127 ,020 o
I1    17 ,33  9 ,27 o A
Z eq 7 ,339 ,27 o

b) Passamos a determinar a queda de tensão no enrolamento primário, para


em seguida calcular a força eletromotriz induzida.
. .
 V 1  Z 1 . I 1  0 ,5859 ,69 o .17 ,33  9 ,27 o  10 ,0550 ,42 o V
.
 V 1  10 ,0550 ,42 o  6 ,40  j7 ,75 V

. . .
E 1  V 1   V 1  127 ,02  ( 6 ,40  j7 ,75 )  120 ,62  j7 ,75 V

.
E 1  120 ,62  j7 ,75  120 ,87   3 ,68 o V

As correntes dos itens posteriores serão todas determinadas com base


na força eletromotriz calculada, visto que ela é aplicada aos ramos.
Máquinas Elétricas 68

c) Corrente de excitação:
.
.
E1 120 ,87   3 ,68 o Com as correntes
I0    1 ,30   71 ,88 o A
Z fe
.
92 ,85 68 ,20 o determinadas até o
item " f ", nossa
d) Corrente de perdas no núcleo: tarefa passa a ser o
. cálculo do fluxo de
.
E 1 120 ,87   3 ,68 o potência do motor,
Ip    0 ,48  3 ,68 o A
Rp 250 0 o desde a entrada até
a entregue à carga.
e) Corrente de magnetização do motor:
.
.
E1 120 ,87   3 ,68 o
Im    1 ,21  93 ,68 o A
jX m 100 90 o

f) Corrente do rotor referida ao estator:


.
.
E 1 120 ,87   3 ,68 o
I 2e    16 ,79  5 ,34 o A
ZR 7 ,20 1 ,66 o

g) Potência absorvida da rede:


P1  3.V1 .I 1 . cos   3.127 ,02.17 ,33. cos 9 ,27 o  6516 ,53 W

h) Potência dissipada por efeito Joule (aquecimento) no enrolamento do


estator:
PJE  3.R1 .I 1  3.0 ,294.17 ,33 2  264 ,89 W
2

i) Potência dissipada por efeito Joule (aquecimento) no enrolamento do rotor:


PJE  3.R2 e .I 2 e  3.0 ,144.16 ,79 2  121,78 W
2

j) Potência dissipada por efeito Joule (aquecimento) no núcleo:


PJE  3.R p .I p  3.250.0 ,48 2  172 ,8 W
2

k) Potência elétrica entregue ao rotor:


R2 e 0 ,144
PJE  3. .I 2 e  3. .16 ,79 2  6089 ,13 W
2

s 0 ,02
l) Potência disponível no eixo:
1 s 0 ,98
Pmi  3.R2 e . .I 2 e  3.0 ,144. .16 ,79 2  5967 ,35 W
2

s 0 ,02
m) Potência útil:
Pútil  Pmi  Pmec  5967 ,35  80  5887 ,35 W
Máquinas Elétricas 69

n) Torque no eixo do motor:


Para determinar o torque, temos antes que calcular a velocidade do
rotor em rad/s. Então:
2 2
R  NR .  1176.  123 ,15 rad / s
60 60

Pmi 5967 ,35


   48 ,46 Nm
WR 123 ,15
o) Rendimento do motor:
Finalmente chegamos ao cálculo que determina o nível de eficiência do
motor, na tarefa da conversão de energia elétrica em mecânica.
Pútil 5887 ,35
%   x 100%  90 ,33%
P1 6517 ,53

2.5 Exercícios propostos

1) Para um motor de 4 pólos, 60Hz, operando na velocidade


de 1750rpm, determine:
a) Qual o escorregamento?
b) Qual a freqüência das tensões induzidas no rotor?
c) Se a carga aumentasse o que aconteceria com o escorregamento?
Porquê?

2) Para um MIT de 10Hp, que possui um rendimento de 92%, determine:


a) A potência absorvida da rede;
b) As perdas totais do motor.

3) Um motor de indução trifásico, 4 pólos, 60Hz, 220V de linha, ligado em ,


opera a vazio, com o circuito equivalente dado na figura 2.18. Usando a
aproximação que o escorregamento é nulo, determine a corrente absorvida
da rede.

Figura 2.18 - Circuito equivalente do motor para o exercício 3


Máquinas Elétricas 70

4) Um motor de indução trifásico, 6 pólos, 60Hz, 220V de linha, ligado em ,


opera a uma velocidade de 1120rpm, com o circuito equivalente dado na
figura 2.16, e sabendo que suas perdas mecânicas totalizam 50W,
determine:
a) A corrente de entrada;
b) A força eletromotriz induzida no enrolamento do estator;
c) A corrente de excitação;
d) A corrente de perdas no núcleo;
e) A corrente de magnetização do motor;
f) A corrente no rotor referida ao estator;
g) A potência absorvida da rede;
h) A perda Joule no enrolamento do estator
i) A perda Joule no enrolamento do rotor;
j) A perda no núcleo do motor;
k) A potência entregue ao rotor;
l) A potência disponível no eixo;
m) A potência útil;
n) O torque no eixo do motor;
o) O rendimento.

2.6 Motor de indução monofásico (MIM)

É obvio que sistemas de alimentação monofásicos não permitem a


utilização de motores trifásicos, e também já sabemos que uma única fase
alimentada em corrente alternada cria um campo pulsante e não girante,
portanto devemos desenvolver formas de contornar essas adversidades que
impedem a partida dos motores monofásicos.
De modo geral, procedemos da seguinte forma:
 Criamos um segundo enrolamento, defasado de 90 graus no
espaço, com relação ao enrolamento principal;
 Definimos uma forma de defasar no tempo, a corrente do
enrolamento auxiliar com relação ao principal.

Obs: Os motores monofásicos, após a partida, permanecem


funcionando mesmo sem a presença do enrolamento auxiliar.

Passamos agora aos tipos de motores de indução monofásicos com


fase auxiliar.

2.6.1. Motor de fase dividida

Nesse modelo, obtemos a defasagem entre as correntes dos


enrolamentos, principal e auxiliar, por conta das diferenças nas impedâncias
dos próprios enrolamentos.
A fase auxiliar é construída com poucas espiras de condutor de
pequena seção transversal, fazendo com que o enrolamento tenha uma alta
resistência e baixa reatância. Já o enrolamento principal é projetado com
condutor de bitola maior e com um número maior de espiras, o que lhe confere
baixa resistência e elevada reatância. A conseqüência disso é que ao serem
Máquinas Elétricas 71

alimentadas pela mesma tensão, as correntes percorrem os enrolamentos com


defasagens definidas pelas impedâncias dos mesmos.
O motor de fase dividida conta ainda com uma chave centrífuga, que
tem a função de desligar o enrolamento auxiliar após a partida, pois, como ele
é construído com fio fino, sofreria danos caso permanecesse alimentado
durante muito tempo.
Observe na figura 2.19, o esquema de ligação desse tipo de motor.

Figura 2.19 - Circuito elétrico do MIM de fase dividida e seu diagrama fasorial

Do circuito mostrado na figura 2.19 podemos concluir que:


.
.
V1
Ip  .
onde: Z p  R p  jX p (2.31)
Zp

.
.
V1
Ia  .
onde: Z a  Ra  jX a (2.32)
Za
As equações (2.31) e (2.32) mostram que a defasagem entre as
correntes I p e I a depende unicamente das impedâncias de cada ramo.
Portanto, sabendo que o torque máximo é obtido para uma defasagem de 90
graus, devemos tornar os ângulos das impedâncias o mais distante possível.
Essa defasagem na prática é algo em torno de 20 a 30 graus, fazendo com que
este tipo de motor tenha baixo torque de partida, como esboçado na figura
2.20.

Figura 2.20 - Curva de torque para um MIM com fase dividida


Máquinas Elétricas 72

A quebra que existe na curva representa a atuação da chave


centrífuga, em que sai de operação o enrolamento auxiliar.

2.6.2. Motor com capacitor de partida

Nesse modelo, obtemos a defasagem entre as correntes dos


enrolamentos, principal e auxiliar, por conta da inserção de um capacitor, do
tipo eletrolítico, no circuito auxiliar. Esse tipo de capacitor não pode
permanecer no circuito, portanto a chave centrífuga é novamente necessária.
Observe na figura 2.21, o esquema de ligação desse tipo de motor.

Figura 2.21 - Circuito elétrico do MIM capacitor de partida e seu diagrama fasorial

Do circuito mostrado na Figura 4.18 podemos concluir que:


.
.
V1
Ip  .
onde: Z p  R p  jX p (2.33)
Zp

.
.
V1
Ia  .
onde: Z a  Ra  jX a  jX c (2.34)
Za
As equações (2.33) e (2.34) mostram que a defasagem entre as
correntes I p e I a depende, novamente, das impedâncias de cada ramo.
Nesse caso, porém, a utilização do capacitor possibilita uma defasagem maior
para a corrente do enrolamento auxiliar, podendo chegar aos 90 graus, e
fazendo com que esse tipo de motor tenha alto torque de partida, como mostra
a figura 2.22.

Figura 2.22 - Curva de torque para o MIM com capacitor de partida


Máquinas Elétricas 73

2.6.3. Motor com capacitor permanente

Voltamos a obter a defasagem entre as correntes dos enrolamentos,


principal e auxiliar, por conta da inserção de um capacitor no circuito auxiliar,
porém este é do tipo a óleo, que embora seja de menor valor, pode ser usado
durante todo o período de trabalho do motor e não somente na partida. A
permanência do capacitor faz com que o torque seja mais regular durante o
funcionamento. Uma grande vantagem desse modelo é a ausência da chave
centrífuga, que é um componente que requer manutenção periódica.
Observe na figura 2.23, o esquema de ligação desse tipo de motor.

Figura 2.23 - Circuito elétrico do MIM capacitor permanente e seu diagrama fasorial

Como o capacitor permanente possibilita uma defasagem maior que a


obtida no motor com fase dividida, embora, geralmente não chegamos aos 90
graus que o motor de capacitor de partida possibilita, o torque de partida fica
entre os dos modelos vistos anteriormente. Observe sua configuração na figura
2.24.

Figura 2.24 - Curva de torque para um MIM com capacitor permanente

2.6.4. Motor com duplo capacitor

Esse tipo de motor reúne as principais virtudes dos motores com


capacitor de partida e do motor com permanente, aliando alto torque de partida,
torque de operação mais regular, além da melhora no fator de potência. O
preço e a presença da chave centrífuga constituem desvantagens desse
modelo.
Observe na figura 2.25, o esquema de ligação deste tipo de motor.
Máquinas Elétricas 74

Figura 2.25 - Circuito elétrico do MIM com duplo capacitor e seu diagrama fasorial

O capacitor permanente possibilita uma defasagem maior que a obtida


no motor com fase dividida, embora, geralmente não chegamos aos 90 graus
que o capacitor de partida possibilita. O torque de partida fica entre os dos
modelos vistos anteriormente. Observe na figura 2.26 que o comportamento do
torque, para um motor que parte com os dois capacitores e que,
posteriormente, a partida desconecta um deles, pela ação da chave centrífuga.

Figura 2.26 - Curva de torque para um MIM com duplo capacitor

2.7 Exercício resolvido

1) Um motor de indução monofásico, 4 pólos, 60Hz, opera a uma velocidade


de 1746rpm, com o circuito elétrico mostrado na figura 2.27, determine:
a) A velocidade do campo girante;
b) O escorregamento;
c) A defasagem entre as correntes do enrolamento principal e auxiliar;
d) O valor do capacitor de partida para que essa defasagem passe para 90º

Figura 2.27 - Motor monofásico para o exercício resolvido


Máquinas Elétricas 75

Resolução:

A velocidade do campo girante:


120. f 120.60
Ns    1800 rpm
p 4
O escorregamento:
N  NR 1800  1746
s%  s x 100%  x 100%  3%
Ns 1800
O ângulo de defasagem entre as correntes I p e I a :
Para esse cálculo vamos determinar o ângulo da impedãncia de cada
enrolamento:
Z p  R p  jX p  4  j 4  5 ,77 45 o 

Z a  Ra  jX a  9  j 3  9 ,49 18 ,43 o 


então, o ângulo de defasagem será:
   p   a  45 o  18 ,43 o  26 ,57 o
Passamos a determinação do capacitor usado para elevar o ângulo de
defasagem entre as correntes I p e I a , para 90 o :

 a   p  90 o  45 o  90 o  45 o

X c  X a  Ra .tg a  3  9.tg ( 45 o )  12


Finalmente:
1 1
C   221F
2. . f .X c 2. .60.12
Na prática o capacitor usado seria o de 250F, o que resultaria em:
1 1
Xc    10 ,61
2. . f .C 2. .60.250.10 6

Z a  9  j 3  j 10 ,61  11,79   40 ,22 o 


Portanto:
   p   a  45 o  ( 40 ,22 o )  85 ,22 o

2.8 Exercício proposto

1) Um motor de indução monofásico, 8 pólos, 60Hz, opera a uma velocidade


de 876rpm, com o circuito elétrico mostrado na figura 2.28, determine:
a) A velocidade do campo girante;
b) O escorregamento;
c) A defasagem entre as correntes do enrolamento principal e auxiliar;
Máquinas Elétricas 76

d) O valor do capacitor de partida para que essa defasagem passe para 90º

Figura 2.28 - Motor monofásico para o exercício proposto

Consulte outras referências: páginas da Internet, livros,


revistas, catálogos, etc. Na referência bibliográfica
deste material você encontrará sugestões, mas se
possível vá além.
Máquinas Elétricas 77

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Máquinas Elétricas 78

3 Máquina Síncrona

Competências e habilidades

 Identificar os elementos de conversão, transformação,


transporte e distribuição de energia, aplicando-os nos trabalhos
de implantação e manutenção do processo produtivo.
 Conhecer os tipos e características de máquinas e
equipamentos utilizados nas instalações elétricas.
 Conhecer os fenômenos que regem o funcionamento dos
alternadores e dos motores síncronos.

3.1 Introdução

Assim como a máquina de indução, a máquina síncrona pode também


executar o processo de conversão de energia em ambos os sentidos, ou seja,
ora convertendo energia mecânica em energia elétrica (gerador elétrico), ora
convertendo energia elétrica em energia mecânica (motor elétrico).
Do ponto vista de aplicabilidade, verificamos atualmente uma maior
utilização da máquina operando na produção de energia elétrica. Por esse
motivo, neste capítulo a operação da máquina como gerador será vista com um
maior grau de detalhamento.

3.2 Elementos Construtivos Básicos

Serão apresentados aqui os elementos construtivos básicos da


máquina síncrona de armadura fixa e campo rotativo, conforme a seguir:

Uma segunda possibilidade de construção seria a do tipo campo


fixo e armadura rotativa. No entanto, a máquina síncrona construída dessa
forma apresenta problemas de isolamento entre fases, para potências
elevadas.
3.2.1. Estator

É semelhante ao da máquina de indução, contém em suas ranhuras os


enrolamentos estatóricos ou de armadura, conectados de forma conveniente,
para formar um sistema trifásico equilibrado.

Neste ponto sugerimos uma consulta


aos capítulos 6 e 7 da apostila de
Circuitos Elétricos, em que é tratada
toda a teoria de análise de circuitos
trifásicos.
Máquinas Elétricas 79

3.2.2. Rotor

A parte girante da máquina síncrona comporta o enrolamento de


campo ou de excitação, energizado em corrente contínua através de
um sistema de anéis coletores e escovas de carvão. Em função dessa
característica operativa, a máquina síncrona é classificada como uma
máquina elétrica duplamente excitada.
A figura 3.1 a seguir ilustra em corte transversal, os elementos
construtivos básicos da máquina síncrona. É importante se ter uma
correta interpretação da representação abaixo, já que a mesma será
utilizada outras vezes para o entendimento do funcionamento da
máquina.

Figura 3.1 - Elementos básicos da máquina síncrona: (a) máquina síncrona com rotor
de pólos salientes bipolar; (b) rotor de pólos salientes tetrapolar.

Estamos agora em condições de analisar a operação da


máquina síncrona, considerando os dois sentidos do fluxo
de conversão de energia (gerador e motor elétrico).
Fique atento!!! Agora teremos a possibilidade de
identificar a função dos enrolamentos de excitação e de (b)
armadura, para cada modo de operação da máquina.

3.3 Operação da Máquina Síncrona como Gerador Elétrico – Alternador

O diagrama abaixo representa, de forma esquemática, o processo de


conversão de energia mecânica em energia elétrica, em que o alternador
desempenha papel de destaque.
Máquinas Elétricas 80

3.3.1. Princípio de Funcionamento do Alternador

A figura 3.2, mostrada a seguir, ilustra as condições necessárias para


o funcionamento do alternador.
O que se vê na figura ao lado ???
Lembrando o que foi visto na
disciplina de Eletromagnetismo,
verificamos, na figura ao lado, o
movimento relativo entre um
campo magnético (excitação) e
três enrolamentos (armadura).
Que fenômeno eletromagnético
resulta desse fato ?

Figura 3.2 - Máquina síncrona com rotor em movimento e enrolamento de


excitação energizado.

O movimento do campo magnético do rotor, devido à ação da máquina


primária, induz forças eletromotrizes sobre os enrolamentos de armadura.
Essas forças eletromotrizes induzidas aparecem como diferença de potencial
nos terminais desses enrolamentos, caracterizando a conversão de energia
mecânica em energia elétrica.

Você consegue compreender a origem das forças eletromotrizes


induzidas nos enrolamentos de armadura ???

Vamos tomar como referência na figura 3.2, o enrolamento da fase a,


conforme a seguir.

Análise semelhante a que será feita aqui, aparece na seção 4.4 da


apostila de Eletromagnetismo, em que se fala da força eletromotriz induzida em
uma espira situada dentro de um campo magnético. Vale a pena consultar essa
referência e identificar as semelhanças e diferenças existentes entre aquela
situação e a situação descrita a seguir!!!
Com o movimento rotativo do rotor, o fluxo total que atravessa o
enrolamento de armadura varia (maior ou menor quantidade de linhas de fluxo
atravessando o enrolamento). O fluxo do rotor é então visto pelo enrolamento
de armadura como um fluxo magnético variável e a força eletromotriz induzida
nesse enrolamento surge no sentido de se opor a essa variação.
Máquinas Elétricas 81

A seqüência de ilustrações a seguir mostra a variação


de fluxo da forma como é descrita acima. Note que o fluxo do
rotor é representado de maneira bastante simplificada, através
de uma linha reta orientada de acordo com a sua polaridade !!!

Consulte também o vídeo de Máquinas Elétricas, nele esta análise é


feita de forma animada.

Figura 3.3 - Variação do posicionamento do campo magnético do rotor, com relação


ao enrolamento de armadura.

Posição 1: o fluxo magnético que atravessa o enrolamento da fase a é


nulo e por isso a força eletromotriz induzida apresenta valor máximo.
Posição 2: é uma posição intermediária entre os valores nulo e
máximo do fluxo magnético (45° de giro com relação à posição 1) e por isso a
força eletromotriz induzida apresenta um valor intermediário entre o máximo e
o nulo.
Posição 3: nessa posição o fluxo magnético é máximo, forçando a
força eletromotriz induzida a apresentar valor nulo.
Considerações adicionais:
A representação dos enrolamentos de armadura vista nas figuras
anteriores, como enrolamentos concentrados (uma única bobina para cada
fase), não representa a realidade construtiva da máquina. Na prática, os
enrolamentos de armadura são compostos por grupos de bobinas
adequadamente distribuídos pelas ranhuras do estator.
A análise feita acima, para três posições do fluxo do rotor com relação
ao enrolamento da fase a, corresponde a ¼ (um quarto) de ciclo de variação da
força eletromotriz induzida e da tensão de saída da máquina. Observe que se
inicia a análise com valor máximo para a tensão induzida, passando por um
valor intermediário, até se chegar no valor nulo.
Dando prosseguimento à análise, fazendo com que o rotor e o campo
magnético gerado efetuem um giro completo de 360°, tem-se um clclo
completo de variação da tensão.
Máquinas Elétricas 82

Para um campo magnético de


dois pólos, um ciclo de variação
do fluxo e da tensão induzida
corresponde a uma volta
completa do rotor.
E para um campo de quatro
pólos ?
Uma volta completa do rotor
corresponde a quantos ciclos de
variação do fluxo ?

Figura 3.4 - Ciclos completos de variação do fluxo magnético do rotor e da força


eletromotriz induzida na armadura.

Para alternadores trifásicos, as ranhuras do estator são ocupadas


também pelas bobinas que formam as duas fases restantes da armadura. A
distribuição adequada dos três grupos de bobinas resulta em um defasamento
mecânico (espacial) de 120° entre os eixos magnéticos das três fases e em um
defasamento elétrico de 120° entre as tensões geradas.
Podemos mostrar, a partir da aplicação da Lei de Faraday, que o valor
eficaz das forças eletromotrizes induzidas em cada fase da armadura de um
alternador é dado pela equação (3.1).
E f  4 ,44  N a  f   f (3.1)

onde:
E f – valor eficaz da força eletromotriz induzida em cada fase da
armadura [V];
N a – número de espiras em cada fase da armadura;
f – freqüência da força eletromotriz induzida [Hz];
 f – fluxo magnético gerado pelo enrolamento de excitação [Wb].

Faça agora um exercício de memória !!!


Você se lembra de ter visto algo parecido com o
que foi descrito anteriormente, em alguma outra
disciplina do curso ?
É isso mesmo !!!
Na apostila de Eletromagnetismo, capítulo 4,
seção 4.2, ilustra-se a experiência realizada por Michael
Faraday sobre a geração de força eletromotriz.
Procure agora associar tal experiência ao
princípio de funcionamento do alternador.
Notamos que um princípio tão simples de ser
demonstrado e explicado é a base do funcionamento de
um dos elementos mais importantes na operação de um
sistema de energia elétrica.
Você concorda ?
Máquinas Elétricas 83

3.3.2. Freqüência da Tensão Elétrica Gerada por um Alternador

Podemos demonstrar a relação existente entre a freqüência de


variação da tensão gerada nos terminais da armadura de um alternador
(tensão de saída), a velocidade de rotação imposta pela máquina primária e o
número de pólos do alternador. Matematicamente temos:
Ns  p
f  (3.2)
120
onde: f - freqüência da tensão de saída [Hz];
Ns - velocidade de rotação [rpm];
p - número de pólos.
Assim, para a freqüência de operação dos sistemas de energia elétrica
em corrente alternada no Brasil (60 Hz), temos:

Nº de pólos Velocidade [rpm]


2 3600
4 1800
6 1200
8 900
10 720

3.3.3. Tipos de Excitação

Na geração comercial de energia elétrica, ou seja, nas usinas


geradoras hidrelétricas e termelétricas, existem sistemas padronizados para o
fornecimento da tensão contínua necessária à alimentação do enrolamento de
excitação.

a) Excitação axial:
O enrolamento de excitação do alternador é alimentado por um gerador
de corrente contínua (excitatriz) conectado mecanicamente ao seu próprio eixo,
conforme figura 3.5.

Figura 3.5 - Representação esquemática – excitação axial.

A excitação axial não é indicada em usinas geradoras que possuam um


número significativo de alternadores, como é o caso das usinas hidrelétricas.
Tente justificar a afirmativa acima !!!
Máquinas Elétricas 84

No caso de usinas hidrelétricas, opções mais viáveis de excitação são


mostradas a seguir.

b) Excitação Separada:
Uma única excitatriz alimenta os enrolamentos de excitação de todos
os alternadores, através de um barramento de corrente contínua.

Figura 3.6 - Representação esquemática – excitação separada.

Na excitação separada, o barramento cc pode ser utilizado para o


fornecimento de energia elétrica para o consumo interno nas instalações da
usina.
Verificamos também a necessidade de uma excitatriz reserva para
garantir a continuidade de operação da usina.

c) Auto-excitação:
Parte da energia elétrica gerada pelo próprio alternador é utilizada para
alimentar o enrolamento de excitação, através de um circuito retificador.

Figura 3.7 - Representação esquemática – auto-excitação.

O desenvolvimento da Eletrônica de Potência nas últimas décadas tornou a


auto-excitação bastante difundida na geração comercial de energia elétrica,
por permitir o projeto e a implementação de circuitos retificadores bastante
eficientes.
Máquinas Elétricas 85

Com a próxima seção estaremos encerrando a


primeira etapa do estudo dos alternadores, que tem
por objetivo básico apresentar as informações gerais
referentes à máquina em estudo, sem detalhar suas
características operativas. As informações aqui
apresentadas complementam o que já foi visto na
disciplina de Sistemas de Potência I, sobre geração de
energia elétrica.
Vale a pena consultar aquela apostila !!!

3.3.4. Tipos de Máquinas Primárias

A máquina primária, de acordo com a representação esquemática do


processo de geração de energia elétrica, vista na seção 1.3, é a responsável
pela produção da energia mecânica a ser convertida em energia elétrica.
Observamos que as características operativas da máquina primária, no que diz
respeito à velocidade de rotação, têm influência direta sobre as características
construtivas do alternador, conforme se vê a seguir.

a) Usinas Hidrelétricas:
 Tipo de máquina primária: turbina hidráulica.
 Característica de operação: baixa rotação.
 Tipo de rotor para o alternador: pólos salientes com elevado
número de pólos.

b) Usinas Termelétricas:
 Tipo de máquina primária: turbina térmica.
 Característica de operação: alta rotação.
 Tipo de rotor para o alternador: pólos lisos com reduzido número
de pólos.
Consulta adicional
Consulte o site www.weg.com.br, entre outros, para obter
informações a respeito do gerador BRUSHLESS.
Procure identificar as características de operação desse
tipo de gerador, no que diz respeito ao tipo de excitação.
Procure listar as vantagens e as desvantagens desse tipo
de excitação quando comparado com os tipos apresentados
anteriormente.
Faça também uma pesquisa no sentido de obter as
principais informações técnicas sobre os geradores da UHE Itaipú,
tais como potência, tensão, corrente e velocidade nominais, nº de
pólos, tipo de rotor e sistema de excitação.
Máquinas Elétricas 86

3.3.5. Circuito Equivalente do Alternador

O circuito equivalente é o modelo utilizado na análise matemática do


comportamento do alternador, para diversas situações de operação. Desse
modo, sua configuração deve conter os elementos representativos dos
fenômenos eletromagnéticos nos quais se baseia o funcionamento da máquina.

O circuito equivalente do alternador é mostrado na figura 3.8.

Figura 3.8 - Circuito equivalente do alternador.

Onde:
E f - força eletromotriz induzida na armadura devido ao movimento rotativo do
rotor [V];
V a - tensão de saída, por fase [V];

I a - corrente de armadura, por fase [A];


Ra - resistência elétrica do enrolamento de armadura [/fase];
X s - Reatância síncrona [ohms/fase].

A reatância síncrona X s representa a reação do enrolamento de


armadura à variação da corrente nesse enrolamento, combinada com o efeito
do fluxo magnético disperso.
A equação (3.3) relaciona matematicamente os elementos que
compõem o circuito equivalente do alternador:
Va  E f  Ra  jX s  I a (3.3)

Observe que a equação acima é fasorial, ou seja, todos


os parâmetros são representados como números
complexos. Além disso, está implícito nessa equação o
“equilíbrio energético” da máquina, ou seja, o balanço
entre energia fornecida ao alternador, o consumo interno
de energia e a energia fornecida à carga.
Você deve estar pensando. Puxa vida que bom trabalhar
novamente com números complexos !!! Afinal de contas,
isso já foi feito nas disciplinas de Matemática e Circuitos
Elétricos.
Por isso, que tal agora dar uma olhada nas apostilas
dessas duas disciplinas ???
Máquinas Elétricas 87

O circuito equivalente mostrado acima pode sofrer uma simplificação,


que depende essencialmente da potência nominal da máquina que está sendo
representada. Para máquinas de potência elevada, verificamos que o valor
numérico da resistência elétrica do enrolamento de armadura é bem menor que
o valor da reatância síncrona. Por isso, o circuito equivalente pode ser
redesenhado como mostrado na figura 3.9.

Figura 3.9 - Circuito equivalente simplificado.

Para o circuito equivalente simplificado, temos também uma equação


simplificada (3.4).
Va  E f  jX s  I a (3.4)

3.3.6. Operação do Alternador a Vazio e com Carga – Controle da


Geração de Energia Elétrica

Os requisitos básicos associados à operação de todo sistema elétrico


são a segurança, a economia e a qualidade na geração, transmissão e
distribuição da energia elétrica. No que diz respeito à qualidade, o objetivo é
manter elevados níveis de continuidade no fornecimento da energia, atendendo
à demanda e preservando os valores de tensão e freqüência dentro da faixa de
variação aceitável.
O controle dos níveis de qualidade, inicia-se já nas usinas geradoras, a
partir das chamadas variáveis de entrada ou de controle dos geradores, que
têm influência direta nas variáveis de saída, conforme mostrado abaixo.

Figura 3.10 - Representação das variáveis de controle e de saída do alternador.

Variáveis de Controle
I exc – corrente de excitação
 mec - torque mecânico (máq. Primária)
Variáveis de Saída
V a – Tensão de saída (valor eficaz)
Máquinas Elétricas 88

f – freqüência da tensão de saída


P – potência ativa gerada
Q – potência reativa gerada

Na análise a seguir, será verificada a relação existente entre os dois


conjuntos de variáveis descritos acima. Em outras palavras, será identificada
que variável de controle age sobre cada uma das variáveis de saída.
a) Operação a Vazio
Nessas condições de operação, o circuito de armadura está aberto,
com corrente de armadura nula; verificamos, portanto, a igualdade entre as
tensões E f e V a .
A operação do alternador, como circuito magnético, pode ser
representada como na figura 3.2, vista anteriormente e, matematicamente,
como no diagrama fasorial mostrado na figura 3.11. Verificamos que apenas o
campo magnético (fluxo magnético) gerado através do enrolamento de
excitação (  f ) está presente no sentido de magnetizar o alternador.

Figura 3.11 - Diagrama fasorial para a operação a vazio.

Considerações sobre o diagrama fasorial anterior:


 O fluxo magnético  f estará sempre defasado de 90° com relação à força
eletromotriz induzida. Esse fato já foi analisado na disciplina de
Eletromagnetismo.
 Partindo da operação a vazio para a análise da operação com carga, o valor
eficaz da tensão de saída será mantido constante, ou seja, em todos os
diagramas fasoriais a tensão V a será traçada sempre com a mesma
magnitude.
 Na operação a vazio supomos ainda que a tensão de saída e a freqüência
da tensão de saída foram ajustadas nos seus valores nominais.

De que forma são conseguidas as


condições de operação citadas acima ?
Máquinas Elétricas 89

b) Operação com Carga


Agora, com o acréscimo de carga, o comportamento da máquina como
circuito magnético tende a se modificar, modificando as condições operativas
observadas no funcionamento a vazio (tensão e freqüência nominais) e
comprometendo a qualidade na operação do sistema. Será interessante
observar que as características da carga resultam em efeitos distintos sobre
essas condições operativas e que em função desse fato, as ações a serem
tomadas no sentido de garantir as condições ideais de operação serão
diferentes.
A circulação de corrente pelos enrolamentos de armadura resulta no
aparecimento de um campo magnético girante, semelhante ao do motor de
indução. Os efeitos desse campo girante gerado através da armadura serão
demonstrados a seguir, para cargas com características distintas.

b.1) Operação com carga resistiva pura (fator de potência unitário)


No diagrama fasorial (figura 3.12) representamos as condições de
operação do alternador para carga resistiva pura.

Figura 3.12 - Diagrama fasorial para operação com carga resistiva pura.

O fluxo  a é chamado de fluxo de reação da armadura e é o


resultado da circulação de corrente por esse enrolamento. Na figura 3.13, que
é parte do diagrama fasorial apresentado anteriormente, podemos identificar
que efeitos tal fluxo exerce sobre as condições de operação do alternador.
Basta para isso decompor esse fluxo em duas componentes, defasadas de 90°
e 180° com relação ao fluxo gerado através do enrolamento de excitação  f .
Observamos na figura 3.13 os efeitos freante (componente defasada
de 90° do fluxo  f ) e desmagnetizante (componente defasada de 180° do fluxo
 f do fluxo de reação de armadura).
Máquinas Elétricas 90

Figura 3.13 - Componentes desmagnetizante e freante do fluxo de reação da


armadura para carga resistiva pura.

Analisando o alternador após o acréscimo de carga resistiva pura e


considerando as polaridades dos campos magnéticos representados na figura
anterior, verificamos que a componente freante age no sentido de reduzir a
velocidade da máquina, reduzindo também a freqüência da tensão gerada. Já a
componente desmagnetizante age no sentido de reduzir o fluxo magnético
produzido no rotor, reduzindo a força eletromotriz induzida e o valor da tensão
de saída.

Temos aí o fluxo de reação da armadura


comprometendo a qualidade da energia
elétrica gerada pelo alternador.
Devemos permitir que isso aconteça ?
O que devemos fazer para restabelecer
os valores de tensão e freqüência ?

As formas de compensarmos as componentes do fluxo de reação da


armadura são:
1º) O efeito freante é compensado aumentando-se o torque mecânico
produzido pela máquina primária, o que restabelece o equilíbrio dinâmico
inicial, restabelecendo também a velocidade e a freqüência da tensão de saída.
2°) O efeito desmagnetizante é compensado pelo aumento da corrente
de excitação da máquina, o que mantém o nível de magnetização, mantendo
também a tensão de saída dentro da faixa aceitável de variação.

b.2) Operação com carga RL (fator de potência indutivo)


As condições de operação do alternador para carga RL são
representadas na figura 3.14.
Máquinas Elétricas 91

Figura 3.14 - Diagrama fasorial para operação com carga RL.

Como visto para a carga resistiva pura, destacamos novamente as


duas componentes do fluxo de reação da armadura.
Os efeitos do fluxo de reação da armadura são idênticos aos vistos
para a operação com carga resistiva pura. Observamos um maior efeito
desmagnetizante (comparar os dois diagramas fasoriais), o que requer para a
carga RL, uma maior corrente de excitação para manter a tensão de saída
dentro dos valores aceitáveis.

Figura 3.15 - Componentes desmagnetizante e freante do fluxo de reação da


armadura para carga RL.

b.3) Operação com carga RC (fator de potência capacitivo)

Para operação com carga RC, a representação em forma de diagrama


fasorial é mostrada na figura 3.16.
Máquinas Elétricas 92

Figura 3.16 - Diagrama fasorial para operação com carga RC.

Para carga RC, continua existindo o efeito freante, que deve ser
compensado com o aumento do torque mecânico produzido pela máquina
primária. No entanto, conforme se vê abaixo, o efeito desmagnetizante é
substituído agora pelo efeito magnetizante do fluxo de reação da armadura
(uma das componentes desse fluxo está agora em fase com o fluxo  f , ou
seja, possui mesma polaridade).

Figura 3.17 - Componentes magnetizante e freante do fluxo de reação da armadura


para operação com carga RC.

A operação com carga RC requer o mesmo controle de torque


mecânico (de velocidade e de freqüência) já vistos para a carga resistiva pura e
para a carga RL. Do ponto de vista de controle da tensão de saída, verificamos
a necessidade de ações contrárias às vistas anteriormente, pois agora o fluxo
de reação da armadura exerce o efeito de aumentar o nível de magnetização
da máquina, com o conseqüente aumento da tensão.
Torna-se necessário, então, reduzir a corrente de excitação, após um
acréscimo de carga capacitiva, compensando o efeito magnetizante e
mantendo o nível adequado de tensão nos terminais da armadura do
alternador.

Acabamos de analisar o
comportamento do alternador para três
situações distintas de carregamento. Dessa
análise resultou a identificação dos
procedimentos necessários à manutenção das
condições ideais de operação da máquina, sob
o ponto de vista do valor e da freqüência da
tensão de saída.
Máquinas Elétricas 93

Que considerações podemos fazer agora, com relação às condições


reais de operação de um alternador, ou seja, na geração comercial de energia
elétrica, que tipo de carga é alimentada pelos alternadores instalados nas mais
diversas usinas geradoras?
Considerando as características das máquinas e equipamentos eletro-
eletrônicos componentes das instalações elétricas residenciais, comerciais e
industriais, podemos dizer que a operação com carga RL é a que representa
de forma mais efetiva as condições de operação de um alternador.
Podemos considerar, no entanto, uma situação característica da
operação de um sistema de energia elétrica. Em sistemas de transmissão
radiais e com linhas de transmissão longas, existe a possibilidade de elevação
dos níveis de tensão de operação, nos períodos de carga leve, devido ao efeito
capacitivo dessas linhas, o que pode caracterizar um comportamento
capacitivo da carga. Nessas situações, torna-se necessário reduzir a corrente
de excitação das máquinas, para compensar o efeito magnetizante já descrito
anteriormente.

3.3.7. Potência Elétrica Gerada pelo Alternador

a) Potência nominal do alternador


A potência nominal de um alternador pode ser definida
matematicamente como apresentado na equação (3.5).
S n  3 V fn  I fn  3 Vln  I ln (3.5)

onde o sub-índice fn é utilizado para a representação dos valores de tensão e


corrente nominais de fase e o sub-índice ln para a representação dos valores
de tensão e corrente nominais de linha.
Observamos que a potência nominal da máquina é definida em termos
de potência aparente (VA, kVA, MVA).

Devemos lembrar que para


máquinas elétricas trifásicas, os valores de
tensão e corrente nominais contidos na
placa de identificação ou nos manuais de
fabricantes, em geral referem-se aos
valores de linha.

A potência nominal de um alternador é determinada na fase de projeto da


máquina, a partir da definição das seguintes grandezas:
 Seção transversal do condutor do enrolamento de armadura (define a
corrente nominal da máquina);
 Número de espiras do enrolamento de armadura;
 Características do circuito magnético (dimensões do material
ferromagnético e capacidade de condução de corrente do enrolamento de
excitação).
Esses dois últimos parâmetros definem a tensão nominal do alternador.
Máquinas Elétricas 94

b) Controle da potência gerada pelo alternador


Em condições normais de operação, as potências ativa ( W ) e reativa
( VAr ) fornecidas por um alternador, para um determinado regime de operação,
podem ser determinadas como a seguir.
Potência ativa gerada por um alternador

 Va  E f 
P  3     sen 

(3.6)
 Xs 

Potência reativa gerada por um alternador

 Va2  Va  E f  cos  
Q  3  (3.7)
 Xs 
 

Todas as grandezas que aparecem nas duas expressões anteriores já


foram definidas, com exceção do ângulo  . Esse ângulo é chamado de ângulo
de carga do alternador e é definido como a defasagem angular entre as
tensões E f e V a ,conforme visto nos diagramas fasoriais da seção 1.3.6.
b.1) Controle de geração de potência ativa:
Partindo da operação a vazio, já analisada na seção anterior,
verificamos que um aumento do torque mecânico, produzido pela máquina
primária, resulta em aumento da potência ativa gerada pela máquina.
Agora as coisas ficam bem mais claras !!!
Vimos anteriormente que o aumento do torque mecânico produzido
pela máquina primária tem como objetivo compensar o efeito freante do fluxo
de reação da armadura. Lembra-se ???
Podemos então raciocinar da seguinte forma:
Se acrescentamos carga a um alternador inicialmente operando a
vazio, devemos aumentar o torque mecânico produzido pela máquina primária.
Essa ação de controle, além de compensar o efeito freante da carga, mantendo
constante a freqüência da tensão de saída, aumenta a potência mecânica
fornecida ao alternador, ou seja, temos mais potência mecânica para ser
convertida em potência elétrica útil(potência ativa), já que torque e potência
mecânica são duas grandezas diretamente proporcionais (   Pmecânica  r ).
Matematicamente, o que se verifica é um aumento do ângulo de carga
da máquina, em função da aceleração momentânea do rotor, com o
conseqüente aumento da potência ativa fornecida à carga.
Procure observar, na seção anterior, a transição entre a operação a
vazio e a operação com carga resistiva, onde o ângulo de carga deixa de ser
nulo e assume um valor correspondente à potência ativa gerada pela máquina.
Devemos observar também que o aumento do torque mecânico,
fazendo com que a máquina possa gerar potência ativa, é acompanhado de um
aumento da corrente de excitação, para compensar o efeito desmagnetizante
que também estará presente.
Máquinas Elétricas 95

b.2) Controle de geração de potência reativa:

A partir do procedimento para a geração de potência ativa, visto


anteriormente, podemos agora iniciar a geração de potência reativa.

Pense bem !!!


 Que variável de controle deve ser ajustada para a
geração de potência reativa ???
 Quase que intuitivamente, podemos afirmar que o
controle de geração de potência reativa é feito a partir do
ajuste da corrente de excitação.
 Você concorda ??? Vamos então buscar a resposta !!!

Vamos supor que o diagrama fasorial abaixo represente um alternador


alimentando uma carga RL, como já visto anteriormente, na figura 3.14.

Figura 3.18 - Diagrama fasorial para operação com carga RL.

Para as condições de operação acima, um certo montante de potência


reativa está sendo fornecido à carga. Observamos também, que a combinação
dos fluxos magnéticos  f e  a gera um fluxo magnético resultante, como
mostrado a seguir.

Figura 3.19 - Fluxo magnético resultante no alternador.


Máquinas Elétricas 96

O que se verifica é que, pelo princípio da conservação de energia, o


fluxo magnético resultante deve sempre ser mantido constante. Observamos
então que qualquer alteração, processada no fluxo gerado através do
enrolamento de excitação, deve ser acompanhada por uma mudança no
comportamento da corrente de armadura e do fluxo de reação da armadura, no
sentido de manter inalterado o nível de magnetização da máquina.
Considerando o exposto acima, concluímos que um aumento da
corrente de excitação, com o conseqüente aumento do fluxo f , resulta em um
maior atraso da corrente de armadura e do fluxo de reação da armadura, com
relação à tensão de saída, evidenciando um aumento da componente reativa
da corrente e da potência reativa gerada.
O efeito da variação da corrente de excitação para o controle de
geração da potência reativa é mostrado no diagrama fasorial da figura 3.20
(compare com o diagrama da figura 3.18).

Figura 3.20 - Efeito do aumento da corrente de excitação – aumento da geração de


potência reativa.

3.3.8. Curvas Características do Alternador

As curvas características representam graficamente o comportamento


de algumas grandezas representativas das condições de operação do
alternador.
Essas curvas podem ser obtidas a partir de procedimentos
experimentais (ensaios de rotina), a serem abordados em material
complementar que irá orientar o estudo prático da operação do alternador.

a) Característica a Vazio (curva de magnetização)


Representa a variação da força eletromotriz gerada na armadura do
alternador, em função da variação da corrente de excitação.
Máquinas Elétricas 97

b) Característica de Curto-Circuito
Representa a variação da corrente de armadura do alternador, em
função da variação da corrente de excitação.

Figura 3.21 - Características a vazio e de curto-circuito do alternador.

Considerações a respeito da característica a vazio:


- O ponto correspondente ao valor nulo de corrente de excitação
evidencia a presença de magnetismo residual, ou seja, um pequeno valor de
fluxo magnético proveniente das magnetizações anteriores da máquina, já é
capaz de induzir força eletromotriz na armadura, quando o alternador é
acionado pela máquina primária.
- O trecho inicial da característica a vazio mostra uma variação
aproximadamente linear da tensão induzida em função da corrente de
excitação.
- A partir de um certo valor de corrente de excitação, as variações de
tensão induzida deixam de ser significativas, evidenciando a saturação do
circuito magnético do alternador.
- No controle da operação de um alternador, a característica a vazio
pode ser utilizada no controle da tensão de saída da máquina.

Considerações a respeito da característica de curto-circuito:


- Também fica evidente o magnetismo residual.
- O trecho linear da curva se prolonga a valores de corrente de
excitação superiores aos vistos na característica a vazio, ou seja, a saturação
do circuito magnético ocorre para correntes de excitação mais elevadas.
- A característica de curto-circuito é utilizada, juntamente com a
característica a vazio, na obtenção da impedância síncrona do alternador,
como será visto quando dos ensaios de rotina com a máquina.
c) Característica Externa
Representa a variação da tensão de saída do alternador, em função da
corrente de armadura. Em outras palavras, a característica externa mostra o
comportamento da tensão nos terminais dos enrolamentos de armadura, para
diversas situações de carregamento.
Com base na análise feita na seção 1.3.6, concluímos que,
dependendo do fator de potência da carga, a tensão nos terminais da armadura
Máquinas Elétricas 98

vai apresentar um comportamento específico. Dessa forma, apresentamos a


seguir, as curvas que representam a operação da máquina com carga resistiva
pura, RL e RC.

Va

Carga RC

Vn
Carga resistiva pura

Carga RL

Ia
Figura 3.22 - Características externas do alternador.

d) Característica de Regulação
Representa a corrente de excitação necessária para manter o valor
nominal de tensão nos terminais da armadura, para diversas situações de
carregamento da máquina.
Da mesma forma que para a característica externa, temos também
uma característica de regulação para cada tipo de carga (resistiva pura, RL e
RC), uma vez que as necessidades de ajustes na corrente de excitação da
máquina dependem do fator de potência da mesma.

I exc I
Carga RL
f
Carga resistiva pura

Carga RC

Ia

Figura 3.23 - Características de regulação do alternador.

3.3.9. Rendimento e Regulação de Tensão do Alternador

Na análise de desempenho de um alternador, o rendimento e a


regulação de tensão são duas grandezas bastante significativas no sentido de
verificar se um determinado regime de carregamento está contido dentro da
faixa de operação para a qual a máquina foi projetada.
Máquinas Elétricas 99

Devemos observar que a atuação de um alternador fora das suas


condições normais de operação compromete tanto a vida útil da máquina quanto
a qualidade no suprimento da carga.
Uma estimativa de rendimento percentual e regulação de tensão pode
ser obtida matematicamente, a partir da análise do circuito equivalente do
alternador ou de forma experimental, com a realização do ensaio de carga.
Rendimento Percentual: Indica, para um determinado regime de
carregamento, o percentual da potência mecânica de entrada que efetivamente
é convertido em potência elétrica para a alimentação da carga.
O diagrama a seguir ilustra, de forma simplificada, o fluxo de potência
em um alternador, mostrando as grandezas envolvidas na determinação do
rendimento da máquina.

Matematicamente, definimos rendimento percentual como apresentado


na equação (3.8):

P 
 %   elétrica   100 (3.8)
 Pmeânica 
onde:
Pelétrica - Potência elétrica de saída [W];
Pmecânica – Potência mecânica de entrada [W].

Desde que a diferença entre a potência mecânica de entrada e a


potência elétrica de saída representa as perdas associadas à operação do
alternador, as equações (3.9) e (3.10), apresentadas a seguir, podem também
ser utilizadas na determinação do rendimento.

 P 
 %   elétrica
  100 (3.9)
 elétrica
P  perdas 

 Pmecânica  perdas 
 %     100 (3.10)
 Pmecânica 

As perdas associadas à operação do alternador são compostas pelas


seguintes parcelas:
Máquinas Elétricas 100

Perdas joule nos enrolamentos de armadura ( P ja ): são as perdas


variáveis em função do regime de carregamento da máquina, conforme a
equação (3.11).
P ja  3  Ra  I a2 (3.11)

Perdas joule no enrolamento de excitação ( P jf ): só devem ser


consideradas no cálculo do rendimento, quando o alternador for auto-excitado,
veja equação (3.12).
P jf  R f  I 2f (3.12)

Perdas no ferro ( P fe ): denominadas também de perdas magnéticas,


estão associadas à histerese e às correntes parasitas.

Isso já foi visto quando


estudamos os transformadores.
Está lembrado ???

Perdas mecânicas ( Pm ): são perdas associadas à operação de


máquinas elétricas rotativas e correspondem à parcela de potência mecânica
necessária para suprir o atrito nos mancais e a auto-ventilação.
Regulação de Tensão (  ): Indica, para um determinado regime de
operação, a diferença percentual entre a tensão de saída a vazio e a tensão
de saída na armadura de um alternador com carga.
Lembrando do que foi exposto na seção 3.3.6, a regulação de tensão
depende não somente da queda de tensão interna na armadura, mas também
dos efeitos desmagnetizante ou magnetizante do fluxo de reação da armadura,
conforme o fator de potência da carga.

Matematicamente, a regulação de tensão é obtida da equação (3.13):

 E f  Va 
 %     100
 (3.13)
 Va 

3.3.10. Operação de Alternadores em Paralelo

Encerramos nessa seção, o estudo dos alternadores, mostrando a


importância da operação de diversos alternadores, dividindo a responsabilidade
pela geração comercial de energia elétrica nas usinas geradoras.
O objetivo inicial é fazer um comparativo entre os dois esquemas de
suprimento de carga ilustrados a seguir e, em seguida, apresentar o
Máquinas Elétricas 101

procedimento para a sincronização de alternadores ao barramento de uma


usina geradora.

(a) (b)

Figura 3.24 - Esquemas de suprimento de carga: (a) com um único alternador;


(b) com dois ou mais alternadores em paralelo.

Vantagens da operação em paralelo


 Aumento gradativo da capacidade de suprimento das usinas;
 Operação dentro da faixa ideal de rendimento das máquinas;
 Maior confiabilidade na operação da usina;
 Maior flexibilidade na programação da manutenção das máquinas.

Sincronização de Alternadores
A figura abaixo ilustra a situação em que um novo alternador deve ser
sincronizado ao barramento de saída de uma usina geradora.

Figura 3.25 - Sincronização de alternador ao barramento de uma usina.

O objetivo final é fazer com que o alternador adicionado ao sistema


contribua com o suprimento de potência ativa e reativa à carga e, para isso, o
passo inicial é realizar a sincronização do mesmo ao barramento da usina.
A sincronização é feita a partir do ajuste da corrente de excitação do
alternador e da velocidade da máquina primária, até que se obtenha a
igualdade, em valor e freqüência, entre a tensão gerada na armadura e a
tensão do barramento de saída da usina. Essa tensão é imposta pelo sistema
elétrico do qual a usina faz parte.
Máquinas Elétricas 102

Após a sincronização, pode-se iniciar a geração de energia ativa e


reativa, a partir dos procedimentos descritos na seção 1.3.7.
Encerraremos o estudo dos alternadores com uma série de exercícios
resolvidos e propostos. Trabalharemos com o circuito equivalente da máquina
realizando a análise matemática do desempenho da mesma, para diversas
condições de operação.

ATENÇÃO !!!
Tão importante quanto saber resolver os exercícios
é saber interpretar os resultados obtidos. Com
certeza esses resultados nos darão informações
valiosas com relação às características de operação
da máquina em análise.
E então, vamos ao trabalho ?

3.3.11. Exercícios Resolvidos

1) Um alternador trifásico, 380 V, 2 kVA, possui uma reatância síncrona igual a


23 ohms e está ligado em estrela. Determinar a corrente de armadura, a
força eletromotriz induzida, o rendimento percentual para perdas totais
iguais a 150 W e a regulação de tensão, quando a máquina alimenta uma
carga resistiva pura, com 75 % da carga nominal.

Resolução:
Este exercício deve ser resolvido com o auxílio do circuito equivalente do
alternador e das equações a seguir:

S c arg a S c arg a
Ia    cálculo da corrente de armadura
3  Va 3 Vl

.
E f  Va  jX s . I a  cálculo da força eletromotriz induzida

 P 
%   elétrica   100  cálculo do rendimento percentual
 Pmeânica 

 E f  Va 
 %     100
  cálculo da regulação de tensão
 Va 
Máquinas Elétricas 103

Iniciamos então com a corrente de armadura:


1.500
Ia   2 ,3 A
3  220
Para a determinação da força eletromotriz induzida, devemos observar
que a equação 2 é fasorial e, por isso, as grandezas envolvidas devem ser
trabalhadas como números complexos. Além disso, uma das grandezas cujo
valor é conhecido deve ser escolhida como fasor de referência, ou seja,
devemos atribuir para essa grandeza o ângulo de 0°. Em geral, em exercícios
como esse, adotamos a tensão de saída (aplicada à carga) como fasor de
referência.
Você sabe por que estamos utilizando o valor de
220 V e não 380 V para a tensão aplicada à
Assim: carga ?
Va  2200 V  Pois é. Quando se trabalha com o circuito
equivalente devemos considerar tensões e
correntes de fase, ok ???

Agora para o cálculo da tensão induzida teremos:


Outra questão a ser observada.
E f  2200  j 23  2 ,30  226 ,313 ,5 V  Por que o ângulo da corrente é
igual também a 0° ?

Com a estimativa de perdas totais de 150 W, o rendimento percentual


pode ser determinado como:
 1.500 
%     100  90 ,9%
 1.500  150 
Finalmente a regulação de tensão pode ser calculada:
 226 ,3  220 
%     100  2 ,9%
 220 
Considerações sobre os resultados obtidos acima:
- Como visto anteriormente, a operação com carga resistiva pura
requer o ajuste da corrente de excitação da máquina, que resulte em tensões
induzidas maiores que o valor da tensão de saída, para que se compense o
efeito desmagnetizante do fluxo de reação da armadura.
- Com o circuito equivalente simplificado, as perdas por efeito joule nos
enrolamentos de armadura foram definidas de forma estimada. Para valores
não nulos de resistência de armadura, as perdas joule devem ser calculadas
como na seção 3.3.9.
2) Repetir o exercício anterior, só que agora, com o alternador alimentando
carga RL, com fator de potência 0,8.
Resolução:
Não é dificil perceber que os cálculos a serem efetuados são os
mesmos. A única alteração a ser observada diz respeito ao ângulo de
defasagem da corrente de armadura com relação à tensão aplicada à carga.
Máquinas Elétricas 104

Esse ângulo deixa de ser igual a 0°, ou seja, a corrente deixa de estar em fase
com a tensão.
Como o fator de potência agora é igual a 0,8., verificamos um novo
valor para a defasagem entre tensão e corrente de armadura, conforme a
seguir:
cos   0 ,8    cos 1 0 ,8   36 ,9
Assim para o cálculo da força eletromotriz induzida Ef , temos agora:
E f  2200  j 23  2 ,3  36 ,9  255 ,39 ,5

Observe que o ângulo da corrente é negativo.


Tente explicar por quê !!!
O rendimento percentual é calculado por:
 1.200 
%     100  88 ,9%
 1.200  150 
E a regulação de tensão:
 255 ,3  220 
%     100  16%
 220 
Considerações sobre os resultados obtidos:
 O efeito desmagnetizante do fluxo de reação da armadura é agora mais
intenso que no caso da carga resistiva pura e, por isso, uma maior corrente
de excitação é necessária para manter a tensão aplicada à carga no valor
nominal. Esse fato aparece no valor da força eletromotriz induzida (maior
que no exercício 1) e no aumento do valor da regulação de tensão.
 O rendimento diminui, pois para um mesmo valor de corrente de armadura,
a potência ativa fornecida à carga é menor.

3.3.12. Exercícios Propostos

1) Na UHE de Itaipu temos geradores operando na


freqüência de 60 Hz para o Brasil e na freqüência de 50
Hz para o Paraguai. Esses geradores possuem 78 pólos
(para 60 Hz) e 66 pólos (para 50 Hz). Determinar as
velocidades nominais dos geradores.
2) Um alternador trifásico ligado em triângulo alimenta uma carga RL com fator
de potência 0,8, também ligada em triângulo. Calcular a corrente de linha e
a corrente em cada fase da carga, quando a potência fornecida for igual a
150 kVA, com uma tensão de 2.200 V.
3) Um alternador trifásico ligado em estrela, 100 kVA, 4.600 V, possui
resistência de armadura de 2 ohms e reatância síncrona de 20 ohms.
Calcular a força eletromotriz induzida necessária para manter a tensão
nominal aplicada à carga, para as seguintes condições de operação:
a) Plena carga com fator de potência unitário
b) Plena carga com fator de potência 0,75 indutivo
Máquinas Elétricas 105

4) Repetir o exercício resolvido 1 para carga RC, com fator de potência 0,8.
5) Repetir o exercício resolvido 1 para os seguintes percentuais de carga:
a) 25 % b) 50 % c)100 % d)125 %
6) Procure esboçar as seguintes curvas, referentes ao exercício anterior:
(Ef x Ia) e (% x Ia)
a) A força eletromotriz Ef se mantém constante ? Justifique sua resposta.
b) O rendimento percentual se mantém constante ? Justifique sua resposta.

3.4 Operação da Máquina Síncrona como Motor Elétrico – Motor Síncrono

Nesse ponto invertemos o sentido do processo de conversão de


energia e a mesma máquina síncrona, estudada até agora, passa a converter
energia elétrica em energia mecânica.

Atenção !!!
Trabalharemos com a mesma máquina síncrona cujas
características construtivas foram apresentadas no início
deste capítulo. No entanto, devemos estar atentos ao
seguinte fato:
o torque, que na operação como gerador é uma variável
de entrada, passa agora a ser uma variável de saída,
assume características eletromagnéticas e não mais
mecânicas. A tensão de armadura Va , está associada à
potência elétrica fornecida à máquina, deixando de ser
também uma variável de saída, para ser variável de
entrada.

Como motivação para o estudo do motor síncrono, devemos lembrar o


fato de estarmos diante de uma máquina elétrica duplamente excitada, ou seja,
tensão contínua aplicada ao enrolamento de excitação (como já foi visto para o
alternador) e tensão alternada (tensão da rede) aplicada aos enrolamentos de
armadura. A dupla excitação possibilita ao motor síncrono duas características
operativas que não se verificam na operação dos motores de indução:
- operação com velocidade constante para ampla faixa de
carregamento;
- ajuste do fator de potência com melhoria do rendimento.

Isso tudo pode parecer um grande mistério !!!

No entanto, sob a luz do Eletromagnetismo, tudo


ficará mais claro. É só esperar !!!
Máquinas Elétricas 106

3.4.1. Partida e Princípio de Funcionamento do Motor Síncrono

Nesta seção analisamos as condições que caracterizam o motor


síncrono no instante do início do seu movimento rotativo. Descrevemos o
procedimento a ser utilizado para que se produza um torque eletromagnético
que permita a partida, até o ponto em que a máquina consegue reunir
condições para sustentar esse movimento rotativo, com velocidade constante.
Na análise a seguir, iniciamos com o motor síncrono em repouso e
com enrolamentos de excitação e de armadura energizados. Com a circulação
de corrente alternada pelos enrolamentos de armadura, é criado um campo
magnético girante semelhante ao do motor de indução (o estator do motor
síncrono é semelhante ao do motor de indução) que vai interagir com o campo
criado através do enrolamento de excitação.
A figura 3.26, ilustra a situação em que os dois campos magnéticos
citados acima agem sobre o circuito do alternador.

Figura 3.26 - Circuito magnético do motor síncrono sob a influência do campo girante e
do campo do rotor.

Com um campo girante se deslocando no sentido horário e com o rotor


magnetizado, conforme ilustrado, verificamos uma tendência de deslocamento
do mesmo, acompanhando o sentido de rotação do campo girante (atração de
pólos magnéticos opostos).

O campo girante utilizado nesta análise possui dois pólos e, em função


desse fato, se desloca a uma velocidade de 3.600 rpm. Uma simples
operação matemática nos mostra que este mesmo campo girante leva
aproximadamente 8,3 milésimos de segundo para completar meia volta
(180° de giro).

Considerando então um giro de 180°, aproximadamente 8 milésimos de


segundo após a posição anterior, teremos a situação vista na figura 3.27:
Máquinas Elétricas 107

Figura 3.27 - Circuito magnético do motor síncrono sob a influência do campo girante e
do campo do rotor, após um giro de 180° do campo girante.

A mudança do posicionamento dos pólos magnéticos do campo girante


com relação aos pólos magnéticos do campo do rotor ilustra a tendência de
deslocamento do mesmo, agora no sentido anti-horário, contrário ao que foi
visto no instante inicial (figura 3.26).

Vamos raciocinar um pouco !!!


Da análise feita acima, o que podemos concluir sobre as
condições de partida do motor síncrono ???
Devemos ter em mente que todo motor elétrico, para iniciar o
seu movimento rotativo, deve vencer a inércia (o que é
mesmo inércia ?) e parte do atrito nos mancais, o que faz com
que a partida da máquina não seja instantânea.

Não deve ser difícil imaginar que, sob as condições descritas


anteriormente, ou seja, com o rotor inicialmente em repouso e com
enrolamentos de armadura e de excitação energizados, a máquina não terá
tempo suficiente para iniciar o seu movimento rotativo em um determinado
sentido. Em outras palavras, estamos diante de um motor elétrico com torque
de partida nulo.
Fica então uma questão a ser respondida:

Como efetuar a partida do motor síncrono ?

Em aplicações práticas, o que se quer é que um motor elétrico tenha


condições de iniciar o seu movimento rotativo com recursos próprios, ou seja,
sem precisar de nenhuma “ajuda externa”.
Vimos que a dificuldade para a partida do motor síncrono está
associada ao fato de que o rotor se encontra inicialmente em repouso, o que
Máquinas Elétricas 108

obriga um esforço inicial para vencer a inércia e parte do atrito nos mancais.
Observamos então que, estando o rotor inicialmente girando em um
determinado sentido, a máquina terá condições de sustentar esse movimento
rotativo através da interação entre os campos magnéticos gerados.
De forma mais clara, vamos supor que na situação ilustrada na figura
3.26, o rotor já se encontre girando a uma velocidade razoável, no sentido
horário. Nessas condições, certamente esse movimento rotativo terá
prosseguimento, já que a atração dos pólos magnéticos dos dois campos
favorece a rotação nesse sentido.

Surge aí uma nova questão:

De que forma se pode vencer a inércia e parte do atrito


para que a máquina possa sustentar seu movimento
rotativo em um determinado sentido ?

A solução encontrada para isso consiste na utilização do chamado


enrolamento amortecedor, conforme visto a seguir.

(a) (b)

Figura 3.28 - Enrolamento amortecedor do motor síncrono. (a) rotor de gaiola aberta;
(b) rotor de gaiola fechada.

O princípio de utilização do enrolamento amortecedor é de fácil


entendimento. Sendo o estator do motor síncrono semelhante ao estator do
Máquinas Elétricas 109

motor de indução, ou seja, havendo a criação de um campo magnético girante


quando da aplicação das tensões trifásicas da rede aos enrolamentos de
armadura, a partida da máquina pode ser efetuada utilizando o enrolamento
amortecedor como uma espécie de gaiola-de-esquilo.
Dessa forma, podemos descrever a partida do motor síncrono como
abaixo:

1) Com o enrolamento de excitação desenergizado, aplicamos as tensões da


rede aos enrolamentos de armadura, criando o campo magnético girante.
2) O campo girante criado induz tensões e correntes no enrolamento
amortecedor e a máquina parte da mesma forma que um motor de indução,
pela ação de forças eletromagnéticas sobre as barras desse enrolamento.
3) Iniciado o movimento rotativo do rotor, no mesmo sentido que o campo
girante, porém com velocidade inferior (lembre que a máquina ainda se
comporta como um motor de indução), o enrolamento de excitação é então
energizado e a interação entre os dois campos magnéticos faz com que a
máquina tenha condições de, a partir de um processo de aceleração adicional,
atingir uma velocidade igual a do campo girante, entrando finalmente em
SINCRONISMO.
4) A partir desse momento, o enrolamento amortecedor deixa de ter qualquer
efeito eletromagnético e só volta a operar quando da ocorrência de variações
de carga mecânica (isso será visto mais adiante).

Fato importante a se destacar é que o sincronismo da


máquina, ou seja, a operação com velocidade
constante e igual a do campo girante, é garantido pela
força de alinhamento entre os campos magnéticos
existentes. Resta saber até que ponto a máquina terá
condições de sustentar esse sincronismo !!!

Uma forma alternativa de se efetuar a partida do motor síncrono


consiste da utilização de uma máquina auxiliar, responsável pelo início do
movimento rotativo, em substituição ao enrolamento amortecedor. Essa prática
é indicada para motores de grande porte (elevada inércia) e nas situações em
que a máquina deve partir com carga de elevada inércia.

3.4.2. Circuito Equivalente do Motor Síncrono

O circuito equivalente do motor síncrono é mostrado na figura 3.29, já na


sua forma simplificada.

Figura 3.29 - Circuito equivalente simplificado do motor síncrono.


Máquinas Elétricas 110

Podemos observar a semelhança existente com relação ao circuito


equivalente do alternador. A força eletromotriz Ef continua sendo resultado do
movimento rotativo do rotor e conseqüentemente do campo magnético
produzido através do enrolamento de excitação.
Devemos apenas reforçar o que foi dito anteriormente a respeito da
tensão Va, que aparece agora no circuito equivalente, como uma variável de
entrada. A equação (3.14) mostra a malha do circuito equivalente apresentado
na figura 3.29:
Va  E f  jX s  I a (3.14)

Nas análises que se seguem, todos os diagramas fasoriais a serem


traçados, devem obedecer à equação acima, que representa o equilíbrio
energético da máquina.

3.4.3. Operação do Motor Síncrono a Vazio e com Carga

O motor síncrono já está em movimento. Iniciamos agora uma análise


mais detalhada das suas condições de funcionamento, desde a operação a
vazio até a condição mais crítica de operação, que chega a comprometer a
vida útil da máquina.
a) Operação a vazio:
As condições de operação do motor síncrono a vazio podem ser
representadas como na figura 3.30 e no diagrama fasorial da figura 3.31 seguir:

Figura 3.30 - Motor síncrono em sincronismo e operando a vazio.

Observamos claramente na figura anterior, um adiantamento do


campo girante com relação ao rotor. Como podemos explicar isso ?
Esse adiantamento é representado pelo ângulo mecânico  min.
Algumas considerações sobre o valor desse ângulo podem ser feitas:
Esse defasamento mecânico está diretamente associado à intensidade
do elo entre os dois campos magnéticos existentes.
Máquinas Elétricas 111

Acréscimos de carga mecânica farão com que esse defasamento


aumente, enfraquecendo o elo entre os dois campos.
A esse defasamento mecânico está associado um defasamento elétrico
(no tempo) entre a tensão aplicada aos enrolamentos de armadura e a tensão
induzida pelo campo magnético do rotor . Em outras palavras, podemos dizer
que, nos diagramas fasoriais representativos das condições operativas da
máquina, a tensão induzida E f estará sempre atrasada com relação à tensão
de entrada V a .

O diagrama fasorial para a operação a vazio é mostrado a seguir, na


figura 3.31.

Figura 3.31 - Diagrama fasorial para a operação do motor síncrono a vazio.

Na operação a vazio o motor síncrono desenvolve um torque suficiente


apenas para vencer o atrito nos mancais e manter a auto-ventilação da
máquina. Podemos afirmar também que é nessa situação de operação que o
defasamento entre os campos magnéticos apresenta seu valor mínimo (  min ).
Isso está claro ???
Adicionalmente, de acordo com o equilíbrio energético, verificamos na
operação a vazio, a absorção de um valor mínimo de potência ativa, função do
pouco esforço mecânico ao qual a máquina está sendo submetida. Esse fato
fica evidente também pela análise da equação (3.15), considerando que o
ângulo de carga  apresenta também valor mínimo (  min ).

 Va  E f 
P  3     sen 

(3.15)
 Xs 

Figura 3.32 - Potência absorvida da rede na operação a vazio.

b) Operação com Carga


Partindo da operação a vazio, um acréscimo de carga mecânica é
acompanhado por uma desaceleração momentânea do rotor. Essa
desaceleração resulta no aumento da defasagem entre os campos magnéticos
(entre campo girante e rotor), conforme a figura 3.33.
Máquinas Elétricas 112

Figura 3.33 - Motor síncrono em sincronismo após acréscimo de carga.

A defasagem elétrica entre tensão de entrada e tensão induzida na


armadura também aumenta (maior ângulo de carga), resultando no aumento do
valor da corrente de armadura e em uma maior absorção de potência ativa da
rede.

O diagrama fasorial da figura 3.34 ilustra a condição de operação com


carga.

Figura 3.34 - Diagrama fasorial para operação com carga.

O aumento da potência ativa absorvida da rede é representado pelo


aumento do ângulo de carga, conforme a seguir.

Figura 3.35 - Potência absorvida da rede para operação com carga.


Máquinas Elétricas 113

Foi dito no início dessa análise, que a desaceleração do rotor é apenas


momentânea. Isso significa dizer que, após o acréscimo de carga, a máquina
recupera a velocidade síncrona, ou seja, recupera o sincronismo.

A questão a ser discutida é:


Como o sincronismo é recuperado ???

Falamos anteriormente a respeito do emprego do enrolamento


amortecedor na partida do motor síncrono. Observamos agora uma segunda
função do mesmo, no sentido de criar as condições necessárias para que o
rotor atinja novamente a velocidade síncrona após uma variação de carga.
O que acontece com a desaceleração momentânea do rotor (ou
aceleração, no caso de uma retirada de carga), é que a diferença de
velocidade provoca a indução de forças eletromotrizes e correntes sobre o
enrolamento amortecedor, gerando forças eletromagnéticas que aceleram (ou
desaceleram, no caso de uma retirada de carga) a máquina fazendo-a
recuperar o sincronismo após algumas oscilações. Você está de acordo ???

a) Perda de Sincronismo do Motor Síncrono


Verificamos acima a reação do motor síncrono frente a um acréscimo
de carga. Como acontece com todo motor elétrico, a sua capacidade de
realização de esforço mecânico é limitada, considerando já um certo percentual
de sobrecarga admissível, dado pelo fator de serviço.
Para o motor síncrono, os acréscimos de carga são acompanhados por
aumentos da defasagem mecânica entre os campos magnéticos, o que
enfraquece o elo entre os mesmos. Após uma série de acréscimos de carga ou
um acréscimo único de grande intensidade, o campo magnético girante passa
a não ter condições de “arrastar” consigo o rotor.

Diante dessa situação, o rotor passa a sofrer sucessivas


desacelerações, até parar, ou até mesmo, sofrer uma parada brusca,
quando da ocorrência de um acréscimo de carga muito intenso. Devemos
destacar que durante todo o processo de perda de sincronismo, os
condutores do enrolamento amortecedor sofrem sucessivos picos de
corrente, no sentido de fazer a máquina recuperar o sincronismo, o que
resulta em aquecimento excessivo, podendo comprometer a integridade da
máquina.

Finalmente, observamos que a perda de sincronismo está diretamente


relacionada com um valor limite para o ângulo de defasagem entre o campo
girante e o rotor. Uma vez ultrapassado esse limite, o enfraquecimento do elo
entre os campos magnéticos impossibilita a manutenção do movimento rotativo
do rotor.
Como sabemos, a esse defasamento mecânico está associado um
defasamento elétrico entre as tensões do circuito equivalente, é o já conhecido
Máquinas Elétricas 114

ângulo de carga. A figura 3.32 mostra que o valor limite para o ângulo de carga
(valor crítico) é 90° e para um motor síncrono de dois pólos esse valor
corresponde a um defasamento mecânico máximo também de 90°. No caso de
uma máquina de quatro pólos, o valor crítico para o ângulo de carga continua
sendo 90°, no entanto o defasamento mecânico máximo passa a ser de 45°.
Podemos relacionar o ângulo de carga com o defasamento mecânico
entre campo girante e rotor, como apresentado na equação (3.16):

 (3.16)
P

onde:
 - defasamento mecânico entre campo girante e rotor [graus];
 - ângulo de carga [graus];
P – número de pares de pólos da máquina.

3.4.4. Ajuste do fator de Potência do Motor Síncrono

Uma característica operativa importante do motor síncrono diz respeito à


possibilidade de ajuste do fator de potência da máquina, mediante ajustes
realizados na corrente de excitação.
Máquinas e equipamentos elétricos funcionando com baixo fator de
potência sobrecarregam os circuitos alimentadores, reduzindo a eficiência na
operação da instalação, devido às perdas excessivas (isso fica mais evidente
em instalações industriais). A utilização do motor síncrono possibilita minimizar
os problemas de baixo fator de potência em instalações industriais, já que a
correção feita na máquina permite a correção de um grupo de máquinas (um
certo número de motores de indução, alimentados por um mesmo centro de
comando, por exemplo).
Serão apresentadas a seguir, três condições operativas para o motor
síncrono, que demonstram as possibilidades de ajuste do fator de potência da
máquina. Ao contrário do que foi feito na seção anterior, em que a corrente de
excitação foi mantida constante e trabalhou-se com variações na carga
mecânica acoplada ao eixo, na análise a seguir, a carga é mantida constante e o
ajuste do fator de potência da máquina será feito em função de variações na
corrente de excitação.

a) Motor síncrono subexcitado


Nessa condição de operação, a corrente de excitação é ajustada para
que a tensão induzida E f seja menor que a tensão de entrada V a .
O diagrama fasorial da figura 3.36, ilustra o motor síncrono operando
subexcitado.

Você se lembra da relação existente entre corrente de excitação e tensão


induzida ???
A característica a vazio lhe diz alguma coisa ?
Máquinas Elétricas 115

Figura 3.36 - Diagrama fasorial para o motor síncrono subexcitado.

Considerações sobre a operação do motor síncrono subexcitado:


Observmos a composição dos campos magnéticos girante (  a ) e do
rotor (  f ), produzindo um campo magnético resultante (  r ). Isso já foi
observado antes !!! Você lembra ???
Pelo princípio da conservação de energia, todos os fenômenos
eletromagnéticos que ocorrerem na máquina devem garantir que o campo
resultante seja mantido constante.
De acordo com o equilíbrio energético, representado pela equação do
circuito equivalente, vista na seção 1.4.2, a corrente de armadura deve estar
atrasada com relação à tensão de entrada, o que caracteriza o motor síncrono
como uma carga indutiva (fator de potência atrasado).
Para que se mantenha o fluxo magnético resultante e o equilíbrio
energético, espera-se uma reação da própria máquina a qualquer variação na
corrente de excitação. Podemos imaginar então, que se aumentarmos a
corrente de excitação e, por conseqüência, o fluxo  f , a amplitude e a
defasagem da corrente de armadura com relação à tensão de entrada, devem
se alterar, no sentido de manter o fluxo resultante constante.
Sucessivos aumentos na corrente de excitação resultam na condição
de operação descrita a seguir.

b) Motor síncrono com excitação normal


Aumentos sucessivos da corrente de excitação resultam na melhoria
do fator de potência da máquina, para que o fluxo resultante se mantenha
constante. Para um determinado valor de corrente de excitação, podemos
considerar que a tensão induzida E f é igual à tensão de entrada V a , sendo o
fator de potência da máquina igual à unidade.
Para essa condição de operação, a corrente de armadura estará em
fase com a tensão de entrada, apresentando componente reativa nula, ou seja,
o motor síncrono tem comportamento característico de uma carga resistiva
pura, absorvendo da rede somente potência ativa. Nessa situação, mantendo
constante a carga acoplada ao eixo, conseguimos reduzir a intensidade da
Máquinas Elétricas 116

corrente de armadura (eliminação da componente reativa), reduzindo as perdas


por efeito joule e maximizando o rendimento da máquina.

Figura 3.37 - Diagrama fasorial para o motor síncrono com excitação normal.

c) Motor síncrono sobrexcitado


Da situação descrita acima, podemos prosseguir aumentando a
corrente de excitação, até que a tensão induzida E f seja maior que a tensão
de entrada V a . A máquina estará operando agora na condição de
sobrexcitação e, de acordo com o que foi visto anteriormente, o circuito de
armadura continua reagindo ao aumento da corrente de excitação, para manter
constante o fluxo resultante.
O diagrama fasorial da figura 3.38, mostrada a seguir, ilustra a
operação de um motor síncrono sobrexcitado, com corrente de armadura agora
adiantada com relação à tensão de entrada, caracterizando a máquina como
uma carga capacitiva (fator de potência adiantado).

Figura 3.38 - Diagrama fasorial para o motor síncrono sobrexcitado.

Estamos agora, diante de uma situação para a qual o motor síncrono


pode cumprir uma função adicional dentro de uma instalação industrial. Um
motor síncrono sobrexcitado pode operar como capacitor síncrono, corrigindo
o fator de potência da instalação.
Máquinas Elétricas 117

Essa possibilidade é utilizada com freqüência também, em sistemas de


energia elétrica, para a correção do perfil de tensão ao longo dos sistemas de
transmissão.
A comparação dos três diagramas fasoriais anteriores ilustra também o
fato de que o aumento da corrente de excitação do motor síncrono, mantendo-
se constante a carga, além de melhorar o fator de potência da máquina, reduz
o ângulo de carga, reduzindo a probabilidade de perda de sincronismo.

d) Curva em “V” do Motor Síncrono


A curva em “V”, mostrada na figura 3.38, é uma representação gráfica
do processo de ajuste do fator de potência do motor síncrono, visto
anteriormente. Representaremos a variação da corrente de armadura em
função da variação da corrente de excitação, evidenciando a transição do fator
de potência da máquina (indutivo  unitário  capacitivo).

Figura 3.39 - Curvas em “V” do motor síncrono.

Considerações sobre as curvas em “V”:


Para operação a vazio, a corrente de armadura referente ao fator de
potência unitário não é nula devido à necessidade de produção de potência
mecânica para o suprimento das perdas mecânicas.
O aumento da carga exige um aumento da corrente de excitação,
necessária para manter o fator de potência unitário.

3.4.5. Exercícios Resolvidos

1) Um motor síncrono de 2 cv, 230 V, 1800 rpm, ligado em estrela, tem sua
tensão induzida ajustada em 120 V (valor de fase). A reatância síncrona é
igual a 21 ohms.
Máquinas Elétricas 118

Desprezando as perdas, determine a corrente de armadura, as


potências ativa e reativa absorvidas da rede, o fator de potência da máquina
e traçe o diagrama fasorial para operação com carga nominal.

Resolução:

As grandezas solicitadas podem ser obtidas pelas seguintes equações:


Va  E f
1) I a   cálculo da corrente de armadura
jX s

V  E f 
2) P  3   a   sen   cálculo da potência ativa absorvida da rede
 X 
 s 

 Va2  Va  E f  cos  
3) Q  3     cálculo da potência reativa absorvida da rede
 Xs 
 

P P
4) cos     cálculo do fator de potência
3  Va  I a 3  Vl  I l
Se estamos desprezando as perdas, podemos afirmar que toda a
potência ativa absorvida da rede é integralmente injetada no eixo. Para
operação com carga nominal, temos 2 cv de potência injetada no eixo e basta
converter esse valor para watts (W), para se obter a potência ativa absorvida.
Logo:
P  2 735 ,5  1.471 W (não foi necessário utilizar a equação 2 para o
cálculo).
Para o cálculo da corrente de armadura (equação 1), precisamos
determinar os ângulos dos fasores V a e E f . Podemos definir a tensão de
entrada V a como o fasor de referência, atribuíndo para a mesma, um ângulo de
0°. Essa tensão fica então representada como Va  132 ,80 o (lembre que no
circuito equivalente trabalhamos com tensões e correntes de fase).
Se a tensão V a é adotada como fasor de referência, verificamos que o
ângulo da tensão E f corresponde ao ângulo de carga  1 conforme o
diagrama fasorial da figura 3.34. O ângulo de carga  pode ser determinado
utilizando a equação 2, como a seguir:

P 1.471
sen     sen   0 ,65
 Va  E f   132 ,8  120 
3    3 
  21 
 Xs 

  sen 1 0 ,65   40 ,5


Assim:
Máquinas Elétricas 119

132 ,80  120   40 ,5


Ia   4 ,2  28 ,1 A (observe que o ângulo de Ef é negativo).
j 21

A potência reativa é obtida da equação 3:

 132 ,8 2  132 ,8  120  cos 40 ,5 


Q  3     788 ,3 VAr
 21 
Finalmente calculamos o fator de potência da máquina (equação 4):
1.471
cos    0 ,88
3  132 ,8  4 ,2

2) Suponha que o motor do exercício anterior opera com um rendimento de


97% e determine a potência elétrica absorvida da rede e as perdas totais.

Resolução:

As equações da seção 1.3.9 podem ser tomadas como referência para


a resolução desse exercício. Só temos que observar que o fluxo de conversão
de energia se inverte, logo:
P 
 %   mecânica   100
 Pelétrica 
Manipulando a equação acima temos:
P 
Pelétrica   mecânica   100
 % 

 1.471 
Pelétrica     100  1.516 ,5 W
 97 
As perdas totais podem então ser obtidas da diferença entre potência
elétrica de entrada e potência mecânica de saída:
perdas  Pelétrica  Pmecânica  1.516 ,5  1.471  45 ,5 W

Repeta o exercício 1, considerando que o motor opera na situação de


excitação normal.

Resolução:

Para excitação normal, a tensão induzida Ef vale 132,8 V. Da mesma


forma que no exercício 1, temos:
P 1.471
sen     0 ,58
 Va  E f   132 ,8  132 ,8 
3    3 
  21 
 Xs 
Máquinas Elétricas 120

O novo valor de corrente de armadura é obtido a seguir:


132 ,80  132 ,8  35 ,5
Ia   3 ,9  17 ,8 A
j 21
Calculando a potência reativa e o fator de potência:
 132 ,8 2  132 ,8  132 ,8  cos 35 ,5 
Q  3     468 ,3 VAr
 21 

1.471
cos    0 ,95
3  132 ,8  3 ,9

Os resultados acima comprovam a análise feita na seção 3.4.4. O


aumento da corrente de excitação melhora o fator de potência do motor
síncrono, melhorando conseqüentemente o rendimento (embora isso não seja
mostrado nesse exercício) e reduz o risco de perda de sincronismo devido à
redução do ângulo de carga da máquina.

3.4.6. Exercícios Propostos

1) Repita o exercício resolvido 1, para enrolamentos de


armadura ligados em triângulo.

2) Um motor síncrono ligado em estrela é representado pelo circuito


equivalente abaixo:

Os dados de placa da máquina


são os seguintes:

Potência nominal: 5 cv
Tensão nominal: 380 V
Velocidade nominal: 1.800 rpm

Para operação com carga nominal e força eletromotriz induzida Ef


igual a 195 -42° V, determine:

a) As potências ativa e reativa absorvidas da rede.


b) A corrente de armadura (módulo e ângulo).
c) O rendimento percentual e o fator de potência da máquina.
d) O torque eletromagnético desenvolvido pelo motor.
e) As perdas por efeito joule totais nos enrolamentos de armadura.

3) Repita o exercício 2 para operação com 25 % da carga nominal. Compare


cada uma das grandezas calculadas com as obtidas no exercício anterior e
tire suas conclusões.

4) Repita o exercício 2 para uma força eletromotriz induzida igual a 260 -28° V.
Máquinas Elétricas 121

Concluímos aqui o estudo do motor síncrono, considerado por muitos


anos, um concorrente direto do motor de indução trifásico, em
aplicações industriais.
Sabemos que hoje a realidade é outra e o motor de indução satisfaz
amplamente as necessidades de robustez, controle de partida,
aceleração e velocidade.
Como fechamento desse estudo deixamos aqui um exercício de
reflexão:
Procure listar as razões que fizeram diminuir o grau de aplicabilidade
do motor síncrono nas instalações industriais.
Que vantagem(ns) o motor síncrono apresentam ainda sobre o motor
de indução e que justificaria(m) a sua utilização nos dias de hoje ?

Registre aqui suas dúvidas


Máquinas Elétricas 122

4 Máquina de corrente contínua

Competências e habilidades
Reconhecer características associadas às Máquinas de Corrente
Contínua identificando suas partes construtivas, princípio de
funcionamento, comportamento quanto ao torque e velocidade e,
por fim, características de operações a vazio e com carga.

4.1 Introdução

Assim como na máquina síncrona, a máquina de corrente contínua


(máquina CC) pode operar como motor de corrente contínua (MCC) ou como
gerador de corrente contínua (dínamo).
Vamos nos ater exclusivamente às máquinas de corrente contínua com
comutador. Vale lembrar também que as máquinas de um modo geral, mesmo
podendo operar como gerador ou como motor, acabam por ter uma dessas
possibilidades como a mais usual. Lembre-se das máquinas assíncronas de
indução (motores de indução), que são mais utilizadas como motor e das
máquinas síncronas que são mais utilizadas como gerador. No caso dessa
máquina em estudo, sua principal utilização é como motor.
Isso se deve principalmente ao fato de ter ocorrido um barateamento e
melhor desempenho dos componentes de retificação estática de tensão
alternada (diodos, transistores, tiristores,...), que convertem corrente alternada
em contínua, que acabaram por substituir o dínamo nessa função. Por outro
lado, o aperfeiçoamento desses componentes de retificação facilitaram o
controle de tensões contínuas possibilitando um maior uso dos MCC, dadas as
características de controle de velocidade e torque, como já citamos, e, que
substituíram outras formas de controle eletromecânico utilizados pela industria
até os idos de 1960.
Por curiosidade, o uso da máquina CC como dínamo, foi muito
divulgado nos anos de 1865 a 1875, principalmente por Thomas Alvas Edson.
Foi utilizado como gerador de corrente direta (corrente contínua) para alimentar
a primeira rede de iluminação com energia elétrica dos Estados Unidos,
levando iluminação pública a 85 postes da principal avenida de Nova Iorque
(1882), aproveitando para divulgar a recém inventada lâmpada incandescente,
do próprio “Thomas Edson”.
Muitas prefeituras da época encomendaram Dínamos e sistemas de
iluminação incandescente das fábricas da General Eletric e do próprio Sr.
Edson.
Os dínamos passaram a perder espaço quando Sr. Nicola Tesla e Sr.
George Westinghouse provaram ser mais econômico e seguro gerar energia
elétrica em corrente alternativa, como era dito naquela época para geração de
corrente alternada, por meio do gerador síncrono.
Máquinas Elétricas 123

Como motor de corrente contínua (MCC), devido as suas principais


características de torque e velocidade, foi largamente utilizado como o principal
motor em máquinas e equipamentos industriais, que precisassem de variação e
controle de velocidade com um excelente torque, nas décadas de 60, 70 e 80,
antes do advento dos variadores de freqüência.
Os MCC são utilizados em todas as faixas de potência, desde os
micromotores em dispositivos eletrônicos (gravadores, vídeo cassetes,
winchester, vibradores de celulares,...), aos motores de potência fracionária
(eletrodomésticos e ferramentas elétricas), em pequenas, médias e grandes
potências, como no caso dos motores que movimentam cada roda dos
gigantes caminhões utilizados em canteiros de obras de usinas hidrelétricas.

4.2 Elementos construtivos básicos

Como trataremos na seqüência dos comportamentos distintos como


dínamo e MCC, abordaremos de forma geral a construção da máquina de CC,
definindo suas principais partes componentes e suas funções apresentadas
nas figuras 4.1a e 4.1b.

Observação:
Ao contrário da máquina
síncrona, estudada no capítulo
anterior, a máquina de corrente
contínua (máquina CC) possuí
campo fixo (excitação no
estator) e armadura rotativa
(enrolamentos de armadura no
rotor), conforme veremos com
mais detalhes nos itens
seguintes.

Figura 4.1 - Cortes esquemáticos de uma máquina de CC de 4 pólos, (a) transversal,


(b) longitudinal. (FALCONE)
Máquinas Elétricas 124

4.2.1. Carcaça

Responsável por alojar as peças polares principais, nas quais são


colocadas as bobinas de excitação principal (estator ou indutor), a carcaça,
também fixa o interpolo e o porta-escovas.

O interpolo responsável pela diminuição do faiscamento que ocorre


durante a comutação é composto de um conjunto de bobinas de fio grosso,
com poucas espiras e colocado entre os pólos principais da máquina.
Veremos seu papel quando falarmos sobre força magnetomotriz de reação
de armadura.

O porta-escovas, fixo em relação ao estator, é responsável por


alojar as escovas elétricas, normalmente de carvão, grafite ou liga de cobre
com grafite. As escovas são responsáveis por estabelecer a conexão
elétrica entre o enrolamento de armadura e o circuito externo. Falaremos
mais sobre o assunto no transcorrer deste estudo.
O indutor de máquinas de CC, utilizado em laboratórios para ensaios,
apresenta duas configurações possíveis: um conjunto de bobinas com muitas
espiras de fio magnético fino, chamado de campo derivação (paralelo ou
“shunt”), e um conjunto de bobinas de fio magnético grosso com poucas
espiras, chamado de campo série. As formas de utilização desses dois campos
serão vistas adiante quando falarmos sobre tipos de excitação.

4.2.2. Rotor

O rotor, chamado de enrolamento de armadura, devido ao fato de ali


circular a maior corrente da máquina, também aloja o comutador.
A armadura é composta de um conjunto de bobinas que formam o
mesmo número de pólos do estator. Sua construção é muito semelhante à de
um rotor bobinado de uma máquina assíncrona de indução (motor de anéis),
não sendo, entretanto, configurada uma ligação trifásica. Além disso, as
bobinas são conectadas a um conjunto de lâminas de cobre, separadas umas
das outras pelo isolante “mica” e que, agrupadas ao redor do eixo do rotor,
configuram o que chamamos de coletor comutador ou simplesmente
comutador. Entenderemos melhor a inter-relação desses principais
componentes, estudando o princípio de funcionamento das máquinas CC.

4.3 Princípio de funcionamento das máquinas CC

A operação da maioria das máquinas elétricas baseia-se na interação


que ocorre entre condutores percorridos por correntes elétricas e campos
eletromagnéticos. Em particular, a ação geradora fundamenta-se na Lei de
Faraday-Lenz (revisar o entendimento dessa Lei na apostila de
Eletromagnetismo).
Máquinas Elétricas 125

A máquina CC possui dupla excitação, ou seja, o indutor ou campo,


alimentado em corrente contínua está no estator e a armadura, que pode
receber ou gerar tensão contínua, está no rotor.

Para facilitar o entendimento da


máquina CC, explicaremos apenas o
funcionamento como gerador, deixando
para entender o funcionamento dos
MCC quando formos abordar
especificamente o assunto.

A Lei de Faraday-Lenz afirma que uma tensão ( fem ou e ) será


induzida num condutor que corte linhas de fluxo magnético. A palavra cortar
refere-se ao movimento relativo entre o condutor e as linhas de fluxo e deve
estabelecer um ângulo reto. A expressão que nos remete a essa tensão gerada
é a seguinte:
e  B  l  v (4.1)

Isto é, uma tensão “e” é induzida num condutor de comprimento “ l ”,


cuja componente de velocidade perpendicular a um campo uniforme “ B " é “v”
(v perpendicular). Logo, a tensão “e” em uma bobina de “ N ” espiras com “ I ”
de comprimento e “ r ” de raio, girando a uma velocidade angular constante “  ”
num campo “ B ", será dada por:
e  2  B  N  l  r    sent  B  N  A    sent (4.2)

A segunda parte da equação aplica-se para uma bobina plana,


arbitrária, de área “ A ”. Essa tensão é disponível nas escovas, como mostrado
na figura 4.2.

Figura 4.2 - Forma da tensão disponível entre escovas no comutador (NASAR)


Máquinas Elétricas 126

O sentido da tensão induzida é determinado pela regra da mão-direita,


como mostrada na figura 4.3.

Está com dúvidas?


Se estiver, reveja o material
de eletromagnetismo.

Figura 4.3 - Regra da Mão-direita para determinar o sentido da tensão induzida

Pela aplicação da regra da mão-direita, verifica-se que o sistema


escovas-comutador resulta em possuir as escovas com polaridade definida,
correspondendo a uma tensão de saída com a forma de onda da figura 4.2
(b). Assim o valor médio da tensão de saída é não-nulo e nós obtemos uma
saída, nas escovas, em corrente contínua.

Para entendermos melhor como se processa a geração de tensão


contínua precisamos conhecer o funcionamento do comutador.
4.3.1. Funcionamento do Comutador

Analisemos com atenção as figuras 4.4a e 4.4b para podermos


compreender como são feitas as ligações das bobinas em um rotor (armadura)
de uma máquina de CC.

Para as. figuras 4.4a e 4.4b valem as seguintes observações:


- As ligações das bobinas aos comutadores são mostradas pelos arcos
circulares e, como exemplo, observe que nas ranhuras 1 e 7 as ligações
na parte de traz do rotor são mostradas tracejadas e, na parte da frente,
pelos arcos circulares em traço cheio.
- Todas as bobinas são idênticas e as ligações na parte de traz do rotor
não foram mostradas para não sobrecarregar o desenho.
- Cada bobina tem um lado na posição externa de uma ranhura e o outro
na posição interna da ranhura diametralmente oposta.

Analisemos inicialmente a figura 4a, entendendo que se trata de um


gerador de corrente contínua, para vermos mais adiante como fica o sinal da
tensão gerada.

- Uma corrente entrando na lamela número 1 do coletor tem dois caminhos a


percorrer, até chegar na lamela 7, diametralmente oposta, e as correntes
Máquinas Elétricas 127

nas bobinas têm os sentidos indicados na figura para facilitar a análise. Isso
você deve conferir, neste momento, para facilitar seu entendimento nas
explicações seguintes.
- Se você observar que temos cruzes nos topos das bobinas para indicar
corrente entrando e pontos para indicar corrente saindo, poderemos
perceber que o efeito resultante sobre o rotor é idêntico ao de uma única
bobina enrolada ao redor do rotor, com seu eixo magnético em quadratura
com o eixo do campo, de modo a resultar um conjugado eletromagnético no
sentido horário sobre a armadura, tendendo a alinhar os dois campos. Só
para deixar um lembrete, na operação como motor esse conjugado agirá no
mesmo sentido da rotação e, como gerador, o conjugado se oporá ao
movimento.

Neste momento
você deve
analisar com
muita atenção os
passos que
estão sendo
descritos,
reportando-se
sempre a essas
duas Figuras.

Figura 4.4 - a e b – Enrolamento de armadura de máquinas de CC com comutador e


escovas. Direções das correntes para as duas posições (FITZGERALD)

Analisando agora a figura 4.4b, poderemos observar que a máquina foi


girada de meia lamela (lâmina do comutador), no sentido anti-horário,
funcionando como gerador, sendo assim poderemos observar que:
Máquinas Elétricas 128

- As lamelas 1 e 2 e as lamelas 7 e 8 estão sendo curto-circuitadas


pelas escovas e, conseqüentemente, as bobinas nas ranhuras 1 e 7 estão
curto-circuitadas e temporariamente removidas do circuito, sendo nesta figura
indicadas as correntes das demais bobinas, de onde se conclui que o campo
magnético da armadura permanece em quadratura.
- Se a rotação avançar mais meia lamela as ranhuras 1 e 7 terão
ocupado a posição das ranhuras 12 e 6 na figura 4.4a, retornando-se à
configuração das correntes apresentadas na mesma, só que as correntes nas
bobinas das ranhuras 1 e 7 estarão invertidas, entretanto o campo magnético
da armadura permanece em quadratura.
Podemos fazer algumas considerações finais a cerca da geração de
tensão contínua:
- As correntes nas bobinas sob comutação deveriam, num caso ideal,
inverter-se linearmente com o tempo. Como isso não ocorre, haverá
faiscamento. Isso ocorre basicamente devido ao efeito de reação da armadura
que estudaremos adiante;
- Conforme a armadura gira, as ligações das bobinas ao circuito
externo são mudadas através do comutador, de modo que o campo da
armadura esteja sempre perpendicular ao do enrolamento do campo, chamado
de eixo direto, resultando num conjugado unidirecional contínuo;
Na figura 4.5, podemos observar que quanto maior o número de
ranhuras e de lamelas, menor será o “ripple”, ou seja, a ondulação entre os
picos;
A representação esquemática para a máquina de CC é composta de
armadura e campo e será vista nos diagramas dos MCC.
A forma de onda da tensão de saída é mostrada na figura 4.5.

Figura 4.5 - Forma da tensão entre as escovas elétricas ligadas ao comutador.

4.3.2. Interpolo e enrolamento compensador

Se observarmos as figura 4.4a e 4.4b, perceberemos que existem dois


eixos ali mencionados. O eixo magnético do campo, também chamado de eixo
direto, e que normalmente se alinha às escovas, e o eixo magnético da
armadura, também chamado de eixo em quadratura, local por onde estão
passando os condutores no momento em que suas extremidades estão sob as
escovas.
Máquinas Elétricas 129

Para que exista uma perfeita comutação, ou seja, menor faiscamento


para aumentar a vida útil das escovas e do comutador, é necessário que a
comutação se dê sobre os condutores que se encontram no eixo quadratura.
Nessa região, onde ocorre a inversão do sentido de corrente nas
bobinas, a fem deve ser aproximadamente nula, com exceção do efeito indutivo
que tende a manter a circulação de corrente, sob as escovas, nas bobinas
curto-circuitadas. Essa região também é conhecida como “zona neutra” ou
“linha neutra”.
Entretanto, essa simetria entre o eixo direto e em quadratura somente
existe a vazio. Quando se está trabalhando com carga, ocorre uma distorção
do equilíbrio entre as linhas de campo do estator e as linhas de campo do rotor,
chamadas de força contra eletromotriz de reação de armadura. Esse
desequilíbrio provoca o deslocamento da linha neutra, fazendo com que os
condutores que estão sendo curto-circuitados, o sejam com uma fem diferente
de nula.
Não é necessário dizer que se curto-circuitarmos condutores ainda sob
tensão, ocorrerá um faiscamento e, como conseqüência, um desgaste e
superaquecimento indesejáveis para os componentes da comutação.
Para se resolver o problema foi introduzido no
motor um enrolamento chamado de enrolamento de Volte a esta figura
comutação ou simplesmente “interpolo”. Vejamos a para localizar o
figura 4.6 para localizarmos os enrolamentos principais interpolo e o
da discussão, já apresentando também, o enrolamento enrolamento
compensador. compensador após
a compreensão de
seus significados.

Figura 4.6 - Enrolamentos presentes nas Máquinas de CC.

Os interpolos são construídos para produzirem força-magneto-motriz e,


conseqüentemente, distribuição de indução magnética (B), confinadas às
imediações dos eixos quadratura, e com tal intensidade que, além de anular o
efeito da distorção da distribuição de B em carga, ainda provoquem nos
condutores comutados, fens iguais e contrárias às fens devidas às inversões
de corrente nas bobinas.
Ainda nos dias de hoje, a boa comutação é mais uma arte empírica do
que uma técnica quantitativa. Os fenômenos relacionados ao processo são
não-lineares e, logo, de difícil controle na prática. Se analisarmos a forma de
onda dos fluxos presentes na Máquina de CC da figura 4.7, fica mais fácil a
compreensão da dificuldade de controle do faiscamento, principalmente
quando a máquina está em regime de sobre-carga, devido à distorção
Máquinas Elétricas 130

provocada pela forma de onda da força magnetomotriz (fmm) de reação de


armadura.
Na condição de fortes sobrecargas ou em variações bruscas de carga,
um importante problema pode aparecer nas Máquinas CC. No exato instante
em que uma bobina da armadura estiver localizada no pico de uma onda
fortemente distorcida, a tensão de bobina pode ser suficiente para romper o
isolamento entre as lamelas e provocar um curto-circuito entre duas ou mais
lamelas do comutador.
Tal fato seria danoso para a máquina e acabaria por danificar o
comutador e as escovas. Como solução para essa situação, foram projetados
os enrolamentos compensadores, localizados na superfície da face da sapata
polar do enrolamento principal da máquina. São colocados de forma que dêem
origem a campos com polaridade contrária aos da armadura adjacente,
diminuindo, dessa forma, a tensão induzida nesses processos de sobrecarga.
A principal desvantagem do enrolamento de compensação é o custo.

Para melhor
compreensão destas
curvas é necessária
uma leitura
complementar em
uma das bibliografias
recomendadas, para
que fique claro que os
fenômenos presentes
nas máquinas CC são
de natureza contínua
e também variável.

Figura 4.7 - a) diagrama planificado de uma máquina CC de dois pólos; b) distribuição


da densidade de fluxo devido à fmm do campo somente; c) distribuição da densidade
de fluxo devido à fmm da armadura somente e d) distribuição da densidade de fluxo
resultante, todas com as escovas na posição neutra (NASAR).
Máquinas Elétricas 131

A forma de onda do fluxo no campo, na armadura e na resultante


entre a iteração dos dois, é muito distorcida. Nas experiências que
realizaremos no laboratório de Ensaio de Máquina Elétricas do Cefet/SC,
poderemos perceber que comutar bobinas com este perfil de onda provoca
faiscamento e não se dá de forma idêntica durante todo o transcorrer do
ensaio.

Tanto o interpolo quanto o enrolamento de compensação são


percorridos pela corrente de armadura “ I a ”, permitindo que seus efeitos de
compensar os fenômenos elétricos e magnéticos, que aparecem durante o
processo de comutação em regime de carga, possam ser proporcionais ao
valor de “ I a ”.

4.4 Circuito equivalente real

Neste momento podemos começar a apresentar as diferenças no


comportamento como Dínamo e como MCC. Para tanto, precisamos olhar com
atenção o circuito elétrico equivalente da figura 4.8, que se refere ao de um
Dínamo, mas que usualmente utilizamos para analisar os comportamentos do
torque e velocidade quando funcionando como MCC, simplesmente invertendo
o sentido das correntes no circuito série ( I a , I S e I L ).

Figura 4.8 - Diagrama da máquina de CC, ligação composta derivação curta,


funcionamento como Dínamo.

Os símbolos usados no diagrama têm o seguinte significado:


 E a – fem induzida na armadura;

 V t – tensão terminal da máquina;

 V ta – tensão terminal da armadura;

 I a – corrente de armadura;

 I L – corrente de linha;
Máquinas Elétricas 132

 I s – corrente de campo série;

 I f – corrente de campo derivação;

 Ra – resistência da armadura (normalmente engloba resistência interna


aos enrolamentos de armadura, resistência nas escovas elétricas e as
resistências dos enrolamentos de interpolo e de compensação);
 R s – resistência associada ao campo série;

 R f – resistência associada ao campo derivação.

Do circuito equivalente podem-se estabelecer as seguintes equações:

Vta  Ea  Ra  I a (4.3)

Vt  Ea  ( Ra  Rs )  I a (4.4)

I L  Ia  I f (4.5)

Na figura 4.8 são mostrados dois circuitos de excitação. Um em série


com a corrente de armadura ( I a ), chamado de campo série, e outro em
paralelo com a tensão terminal de armadura ( V ta ), chamado de campo
derivação.

O sinal mais (+) nas equações é usado para a Máquina CC operando


como MCC e o sinal menos (-) para operação como Dínamo.

Até o momento, tratávamos do campo principal como se fosse um


único enrolamento de campo, entretanto, pela análise da figura 4.8,
percebemos que pode ser composto de dois enrolamentos.
Isso de fato ocorre, porém é mais comum em Máquinas CC fabricadas
para laboratórios de testes e ensaios. O normal é que se encomende a
Máquina CC específica para a aplicação desejada, contendo, nesses casos,
apenas um enrolamento.

Como nosso objetivo é mostrar os comportamentos distintos para


tipos diferentes de excitação, falaremos da Máquina CC com os dois
enrolamentos de campo: o campo série e o campo derivação.

O campo série possui por obrigação elétrica uma baixa resistência, que
é conseguida formatando-a por poucas espiras de fio grosso. Já o campo
derivação, por ficar em paralelo com a tensão de armadura, possui uma alta
resistência, que é obtida sendo construído de muitas espiras de fio fino.
Esses dois enrolamentos podem operar isoladamente ou juntos,
podendo configurar várias formas de ligação da Máquina CC. A figura 4.9 nos
mostra algumas das principais possibilidades de conexão dessas bobinas.
Os terminais dos enrolamentos estão enumerados conforme a norma
ABNT, entretanto, em diversas publicações, é encontrada a nomenclatura da
IEC.
Máquinas Elétricas 133

Para os terminais de armadura temos R1 e R2 (ABNT) ou A e B (IEC),


para o interpolo temos A1 e A2 (ABNT) ou G e H (IEC), para o campo derivação
temos F1 e F2 (ABNT) ou C e D (IEC) e para o campo série temos S1 e S2
(ABNT) ou E e F (IEC).
Tanto o campo derivação quanto o campo série podem ser formados
por mais de um grupo de bobinas. Nesse caso, a nomenclatura das letras
permanece, sendo incrementada apenas por mais números.

Os tipos de ligação que são apresentados a seguir são válidos tanto


para a operação da máquina CC como Dínamo, quanto para operação
como Motores de Corrente Contínua (MCC).
Na operação como MCC, que é a mais usual para as máquinas CC,
são acrescentados dispositivos de partida e controle, conforme os
esquemas elétricos que serão utilizados nos roteiros das aulas práticas de
laboratório.
Ficará faltando na figura 4.9 a configuração da máquina CC com
excitação independente, que é a mais utilizada e que será apresentada nas
figuras 4.15a e 4.15b (seção 4.4.3).

Figura 4.9 - Tipos de ligação para Máquina CC


Máquinas Elétricas 134

4.4.1. Aspectos do circuito elétrico

As equações básicas para a análise de Máquinas CC referem-se ao


torque e à velocidade no MCC ou tensão gerada no Dínamo e são
representadas pelas equações (4.6) e (4.7):

T  K a d I a (4.6)
A equação (4.6) refere-se ao torque ou conjugado eletromagnético,
onde  d é o fluxo do entreferro na linha direta e I a é a corrente de armadura.

Ea
m  (4.7)
K a d

A equação (4.7) refere-se à velocidade do motor em rad/s, ou isolando-


P Za
se E a temos a tensão gerada no Dínamo, onde temos K a  (P é o
2 a
número de pólos da máquina, Z a é o número total de condutores no
enrolamento da armadura, 2 é o período completo e a representa o número
de caminhos paralelos do enrolamento) logo, K a é uma constante fixada pelo
projeto do enrolamento.

Com base nessas duas equações, podemos compreender as curvas de


torque e velocidade que são obtidas para as diferentes ligações da Máquina
CC, operando como MCC. Nas figuras 4.10 e 4.11 são apresentados os
comportamentos do MCC para torque e velocidade nos diferentes tipos de
excitação.

Figura 4.10 - Características do torque eletromagnético dos MCC


Máquinas Elétricas 135

Figura 4.11 - Características da velocidade dos MCC

Devido ao fato de o torque eletromagnético estar intrinsecamente


ligado ao  d (fluxo do entreferro), podemos analisar seu comportamento para
as diferentes ligações e percebermos que, devido ao comportamento quase
linear, as ligações tipo derivação e composta aditiva apresentam torque
crescente proporcional a corrente de armadura, com pequena diminuição de
velocidade. Isso faz com que sejam os motores preferidos para processos
industriais em que necessitamos de torques proporcionais à carga sem
diminuição de velocidade.
Já a ligação série demonstra excelente torque para elevadas cargas
associadas a baixas velocidades, fazendo dessas características suas maiores
vantagens para uso em bondes elétricos e metrôs.
O comportamento da velocidade, que pela equação mostra ser
inversamente proporcional ao  d , apresenta para a ligação tipo série um
perigo, pois se ocorrer perda de carga ou falta de campo, o motor acelera
quase instantaneamente, podendo chegar à velocidade destrutiva por força
centrífuga e por curto-circuito entre lamelas. Quando esse fenômeno ocorre,
dizemos que o MCC disparou.

As figuras 4.12 e 4.13


apresentam os balanços de
potência para Dínamos e MCC,
respectivamente, com
enrolamentos de campo série e
derivação.
Máquinas Elétricas 136

Figura 4.12 - Balanço de potência de um Dínamo (Fitzgerald, adaptado)

Figura 4.13 - Balanço de potência de um MCC (Fitzgerald, adaptado)

Como se fosse uma caixa d’água, e a ela estivessem ligados vários


registros, por onde são retiradas quantidades de água para representar as
diversas perdas que temos em sistemas hidráulicos, como gotejamentos de
torneiras, junções com vazamento, infiltração na caixa, evaporação, ...
podemos associar as saídas existentes nas figuras 4.12 e 4.13 com as várias
saídas de perdas que ocorrem na operação das Máquinas CC, operando como
Dínamo ou MCC, e perceber que ao final do processo podemos obter
rendimentos de 74 a 93%.

4.4.2. Controle de velocidade de MCC

Analisando as figuras 4.10 e 4.11 podemos conhecer o comportamento


do torque e da velocidade em função da variação de I a (corrente de
armadura). Admitindo que o torque é uma resposta à solicitação da carga,
vamos nos ater ao controle de velocidade, pois sobre ela podemos atuar.
Máquinas Elétricas 137

Os diferentes tipos de ligação do MCC apresentam alimentação em


tensão contínua em dois enrolamentos: o de campo e o de armadura. Logo,
podemos controlar a velocidade do MCC através do controle dessas duas
tensões. As figuras 4.14a e 4.14b nos mostram o comportamento do torque ou
conjugado e da potência mecânica, ambos em função da variação da
velocidade com controle combinado da tensão de armadura e de campo.

Figura 4.14 a – Configuração do torque por controle combinadode tensão de armadura


e tensão de campo.

Neste momento você


deve analisar com
atenção os
comentários sobre
controle de velocidade
reportando-se sempre
a estas duas figuras.

Figura 4.14 - b – Configuração da Potência Mecânica por


controle combinado de tensão de armadura e tensão de
campo.

Com o controle combinado ou controle duplo, a velocidade de Base


pode ser definida como a velocidade na tensão de armadura nominal e campo
máximo no MCC.
Velocidades acima da velocidade Base são obtidas pelo controle da
tensão de campo do motor e as velocidades abaixo da velocidade Base são
obtidas pelo controle da tensão de armadura.
Percebemos que com o controle por tensão de campo, a faixa acima
da velocidade Base é a de um motor de Potência Mecânica constante e a faixa
abaixo da velocidade Base, em que o controle é feito por tensão de armadura,
é a de um motor com torque constante.
A característica de torque constante é bastante apropriada para muitas
aplicações nas indústrias de máquina operatrizes, onde muitas cargas
precisam principalmente vencer o atrito de partes móveis e, portanto,
necessitam de torque constante.
Máquinas Elétricas 138

4.4.3. Métodos de ajuste de velocidade nos MCC

Como já vimos, os MCC possuem dois enrolamentos sobre os quais


podemos atuar para controle de velocidade e, dependendo do tipo de ligação,
sua resposta modifica-se em velocidade para uma dada carga.
Para apresentarmos os dois métodos, tomaremos como estudo o MCC
tipo derivação com excitação independente, não apresentado na figura 4.9, que
agora detalharemos através das figuras 4.15a e 4.15b.

Figura 4.15 - a – Ajuste de velocidade do MCC com excitação independente, por


tensão de armadura.

Figura 4.15 - b – Ajuste de velocidade do MCC com excitação independente, por


tensão de campo.

Se observarmos a equação da velocidade, perceberemos que quando


a controlamos por tensão de armadura, essa variação é diretamente
proporcional.
Máquinas Elétricas 139

O controle por tensão de campo, que é o mais comumente utilizado


e constitui uma das vantagens da excitação derivação independente,
apresenta-nos que a velocidade mais baixa é obtida com campo pleno, ou
seja, máxima corrente de campo. Quando operamos com campo fraco sua
velocidade pode chegar a 8 vezes o valor nominal, entretanto com
comutação insatisfatória provocando instabilidade no motor. Com a inclusão
dos enrolamentos compensadores e interpolo, essa variação torna-se mais
confiável.

Entretanto, se controlarmos por tensão de campo essa variação é


inversamente proporcional.

O controle por tensão de armadura utiliza o fato de que uma


mudança na tensão terminal de armadura de um MCC com excitação
independente é acompanhada, em regime permanente, por uma mudança
substancialmente igual na fcem e, com fluxo constante, uma mudança
proporcional na velocidade do motor.

As figuras 4.15a e 4.15b representam didaticamente o controle de


velocidade por dispositivos retificadores de tensão alternada, estudados nos
conteúdos de Eletrônica. Hoje, o controle de velocidade dessas máquinas é
feito por conversores CA/CC. Estes, por sua vez, estão cada vez com melhor
tecnologia, podendo oferecer uma série de vantagens que permitem um
controle completo de todos os parâmetros da máquina e do acionamento.
Nosso objetivo não é apresentar esses equipamentos de controle, pois se você
conhecer os princípios de funcionamento aqui mostrados, o entendimento dos
conversores passa a ser apenas de caráter eletrônico.
Realizaremos ensaios de carga para melhor entendimento destes
conceitos e comportamentos nos MCC tipo derivação auto-excitado e tipo
série, nas aulas práticas em nossos laboratórios. Nessas experiências
utilizaremos fontes retificadoras e reostatos de controle de corrente,
semelhantes às apresentadas até o momento, deixando o uso dos conversores
para as experiências em eletrônica.

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Máquinas Elétricas 140

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] FITZGERALD, A.E. Máquinas Elétricas. Mc Graw-Hill, São Paulo, 1978.


[2] KOSOW, Irving L. Máquinas Elétricas e Transformadores. Editora Globo,
Porto Alegre, 1979.
[3] MARTIGNONI, Alfonso. Transformadores. Porto Alegre. Globo, 1971.
[4] SIMONE, Gilio Aluisio. Máquinas de Indução Trifásicas - Teoria e
Exercícios, Editora Érica
[5] FILIPPO FILHO, Guilherme. Motor de Indução
[6] SIMONE , Gilio Aluisio e CREPPE, Renato Crivellari. Conversão
Eletromecânica de Energia, Editora Érica
[7] PONTES, José Carlos – Sistemas Trifásicos – Apostila de Medidas Elétricas
- CEFESC.
[8] Apostila – Introdução à Subestação – CEFET/SC.
[9] STOUT, Melville B. – Curso Básico de Medidas Elétricas, São Paulo.
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[10] FALCONE, Aurio Gilberto, Eletromecânica, São Paulo. Editora Edgard
Blücher Ltda, 1985 – Vol. 2.
[11] SIMONE, Gilio Aluisio. Máquinas de Corrente Contínua - Teoria e
Exercícios, Editora Érica
[12] SEIP, Günter G. – Instalações Elétricas. São Paulo, 1a Edição – Vol. 2.
[13] DEL TORO, Vincent. Máquinas Elétricas, PHB.
[14] NASAR, Syed. Máquinas Elétricas, Coleção Schaum -
McGraw-Hill

SITES RECOMENDADOS

http://www.weg.com.br
http://www.siemens.com.br
http://www.walter-fendt.de/hp11br
http://www.md.cefetpr.br/tocadofisch
http://www.geocities.com/SiliconValley/Circuit/1858/faradmot.htm
http://www.fe.up.pt/mmiwww/resh07.htm
http://www.tiscali.co.uk/reference/encyclopaedia/hutchinson/m0001235.html
http://pirt.asu.edu/

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