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ANALÍSE DA CAUSA BÁSICA DA MORTALIDADE MATERNA

Francisca Miriane de Araújo Batista1

Zenira Martins Silva2

1
Centro de Inteligência em Agravos Tropicais Emergentes e Negligenciado - CIATEN. Universidade Federal
do Piauí. Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0351-8994. E-mail:
mirianearaujo@hotmail.com.
2
Secretaria de Estado da Saúde do Piauí, Coordenação de Análise, Divulgação de Situação e Tendência em
Saúde (CADSTS), Teresina, PI, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5141-3265 E-mail:
zeniramartins@hotmail.com

A mortalidade materna é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), na 10ª


revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), como:
morte de uma mulher durante a gestação ou dentro de um período de 42
dias após o término da gravidez, independentemente da duração ou da localização
da gravidez, devida a qualquer causa relacionada ou agravada pela gravidez ou por
medidas tomadas em relação a ela, porém não devida a causas acidentais ou
incidentais (BRASIL, 2020).

As causas da mortalidade materna, segundo definição da CID-10, dividem-se em:

• causas obstétricas diretas: são resultantes de complicações da gravidez, parto ou


puerpério devidas a intervenções, omissões, tratamento incorreto ou à cadeia de
eventos resultante de qualquer uma dessas causas mencionadas. As causas mais
frequentes são as doenças hipertensivas (incluindo eclampsia, síndrome HELLP,
hemorragias e infecção puerperal;
• causas obstétricas indiretas: são as que resultam de doença prévia da mãe ou
desenvolvida durante a gravidez, não devidas a causas obstétricas diretas, mas
agravadas pelos efeitos fisiológicos da gravidez. As causas mais frequentes são:
diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares (BRASIL,2020).

É importante destacar que quase todas as causas diretas são passíveis de prevenção pois
são consideradas evitáveis. Quanto às causas indiretas, é importante observar que estão ligadas
às mulheres já portadoras de doenças e devem, portanto, ser consideradas, de início, como
gestantes de risco e acompanhadas com mais cuidados (DIAS, et al., 2015).

Independentemente das possíveis razões para sua ocorrência, a mortalidade materna é


uma das mais graves violações dos direitos humanos das mulheres, por ser uma tragédia evitável
em mais de 90% dos casos e por ocorrer com mais frequência principalmente nos países em
desenvolvimento. A redução da mortalidade materna no mudo foi meta da Agenda 2030 onde
o Brasil está incluído, mas continua um grande desafio para os serviços de saúde e a sociedade
como um todo (BRASIL, 2009).

Estima-se que mais de 500.000 mulheres morram de complicações gestacionais e do


parto no mundo. Pelo menos sete milhões de mulheres que sobrevivem a essas complicações
sofrem sérios problemas de saúde e quase 50 milhões sofrem eventos adversos à saúde
consequentes ao parto. A maioria dessas doenças e complicações ocorre nos países em
desenvolvimento (OMS,2006).
A Tabela 1 apresenta. por região, a causa básica da mortalidade materna apresentando
o perfil da mortalidade materna, por causa básica, segundo dados do Brasil no período de 2016
a 2019. Os dados demonstram que as principais causas dos óbitos maternos no Brasil foram as
causas obstétricas diretas (67,4%), com predominância de hipertensão (28,8%), seguido de
hemorragias (19,1%), infecções puerperais (8,1%).

Tabela 1: Perfil da mortalidade por causa básica segundo dados do Brasil no período de
2016 a 2019.
Indicador 2016 2017 2018 2019* Total %
Morte materna declarados com causas
obstétricas diretas 1.120 1.167 1.114 1.025 4.426 67,4
Com causas obstétricas diretas - abortos 56 68 68 46 238 5,4
Com causas obstétricas diretas - hemorragia 209 229 225 183 846 19,1
Com causas obstétricas diretas - hipertensão 321 332 313 310 1.276 28,8
Com causas obstétricas diretas - infecção
puerperal 98 86 106 70 360 8,1
Morte Materna declarados com causas
obstétricas indiretas 496 489 489 434 1.908 29,1
Com causas obstétricas indiretas - aids 17 17 17 12 63 3,3
Com causas obstétricas indiretas - doenças
do aparelho circulatório complicando a
gravidez, o parto e o puerpério 132 134 141 116 523 27,4
Morte materna declarados com causas
obstétricas não especificadas 50 60 55 64 229 3,5
Total de Morte Materno declarado 1.666 1.716 1.658 1.523 6.563
Fonte: SIM/* dados preliminares sujeito as alterações.

A tabela 2 apresenta os dados que permitem comparar a causa básica na Região Nordeste.
A tabela mostra que as causas obstétricas diretas representam 70,1% dos óbitos da região
nordeste, com destaque as causas de hipertensão (31,2%), hemorragia (16,8%) e infecção
puerperal (8,6%). Os dados orientam possíveis intervenções na situação, com vistas à melhoria
dos valores desse indicador.

Tabela 2: Perfil da mortalidade segunda a causa básica – Região Nordeste 2016 a 2019*
Indicador 2016 2017 2018 2019* Total %
Com causas obstétricas diretas 366 384 347 351 1448 70,1
Com causas obstétricas diretas - abortos 12 19 16 12 59 4,1
Com causas obstétricas diretas - hemorragia 60 72 62 49 243 16,8
Com causas obstétricas diretas - hipertensão 110 116 107 119 452 31,2
Com causas obstétricas diretas - infecção
puerperal 35 24 38 27 124 8,6
Com causas obstétricas indiretas 151 140 163 107 561 27,2
Com causas obstétricas indiretas - aids 2 2 6 3 13 2,3
Com causas obstétricas indiretas - doenças
do aparelho circulatório complicando a
gravidez, o parto e o puerpério 45 40 48 28 161 28,7
Com causas obstétricas não especificadas 21 14 15 6 56 10,0
Total de Morte Maternos declarados 538 538 525 464 2065
Fonte: SIM/* dados preliminares sujeito as alterações.
A Tabela 3 segue a mesma tendência do Brasil e das Regiões Nordestes ao analisar as
principais causa básica dos óbitos maternos ao longo no período estudado, com destaque para
as causas obstétricas diretas representam um percentual bem maior de 82,7%, com
predominância de hipertensão (27,1%), seguido de hemorragias (15,5%), infecções puerperais
(14,7 %) no estado do Piauí.
Tabela 3. Perfil da mortalidade segunda a causa básica – Piauí 2016 a 2019*

Indicador 2016 2017 2018 2019* Total %


Com causas obstétricas diretas 33 30 31 35 129 82,7
Com causas obstétricas diretas - abortos 1 0 2 0 3 2,3
Com causas obstétricas diretas - hemorragia 6 5 6 3 20 15,5
Com causas obstétricas diretas - hipertensão 7 10 6 12 35 27,1
Com causas obstétricas diretas - infecção puerperal 4 4 5 6 19 14,7
Com causas obstétricas indiretas 4 5 7 6 22 14,1
Com causas obstétricas indiretas - aids 0 0 0 0 0 0,0
Com causas obstétricas indiretas - doenças do
aparelho circulatório complicando a gravidez, o
parto e o puerpério 1 2 2 3 8 36,4
Com causas obstétricas não especificadas 1 0 4 0 5 3,9
Total de Morte Maternos declarados 38 35 42 41 156
Fonte: SIM/* dados preliminares sujeito as alterações.

Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Manual dos Comitês de Mortalidade Materna. 3ª ed. Brasília:
Ministério da Saúde;2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: princípios
e diretrizes. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas.
Brasília: Ministério da Saúde, 2011. Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicações/politica_nacional_mulher_principios_diretrizes.pdf >. Acesso: fevereiro. 2019

BRASIL. DATASUS. Painel de Mortalidade Materna, Infantil e Fetal: 2020. Disponível em


http://svs.aids.gov.br/dantps/centrais-de-conteudos/paineis-de-
monitoramento/mortalidade/materna/Acesso em: julho de 2020.

World Health Organization. Managing eclampsia. Educational Material for teachers of midwifery
Department of Making Pregnancy Safer. Family and Community Health. Geneva: World Health
Organization; 2006.

Plano Estadual de Ação para Redução da Mortalidade Materna e na Infância 2019 a 2023
Secretaria Estadual da Saúde do Piauí/ Diretoria de Vigilância e Atenção à Saúde: setembro/2019

BRASIL.MINISTÉRIO DA SAÚDE ..Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos


Estratégicos em Saúde Departamento de Ciência e Tecnologia Síntese de evidências
.Site: www.brasil.evipnet.org, 2020

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