Você está na página 1de 364

INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS

DA SAÚDE I
FICHA TÉCNICA

Preparação de Conteúdo:
Professor César Souza

Formatação e Normalização (ABNT):


Ediane Souza

Revisão Gramatical, Semântica e Estilística:


Ediane Souza

Capas:
Aporte Comunicação
Folhas de Rosto: Thomas Arraes

Editoração e Revisão Técnica/Final:


Ediane Souza

Diagramação:
Ediane Souza

Impressão:
Provisual Gráfica e Editora

Avenida Conde da Boa Vista, 1209


Soledade – Recife/PE – Brasil
CEP: 50060-003
Telefone: (81) 4062-9222
www.grautecnico.com.br

Este material é exclusivo para uso do aluno Grau Técnico.


Para dúvidas ou sugestões, envie-nos um e-mail:
contato@grautecnico.com.br

Módulo 1 Técnico em Farmácia


5

REGULAMENTO INTERNO – VERSÃO 20181

Caro(a) aluno(a),

Seja bem-vindo(a)! Para que possamos desenvolver as atividades de formação técnica com
profissionalismo e excelência, se faz necessário o cumprimento de algumas normas, as quais estão
descritas a seguir.

1 MATRÍCULA
1.1 O(a) aluno(a) deverá, no ato da matrícula, fazer a leitura do regulamento interno e do contrato de
prestação de serviços com bastante atenção, para que possa conhecer seus direitos e deveres no
decorrer do curso.

2 DIAS/HORÁRIOS
2.1 Turmas de segunda, quarta e sexta-feira, nos turnos da manhã, tarde e noite.
2.2 Turmas de terça e quinta-feira, nos turmas da manhã e noite, e aos sábados, pela manhã e
tarde.
2.3 O curso de Enfermagem, exclusivamente, tem turmas de segunda à sexta, nos turnos da manhã,
tarde e noite. Em breve, terá o formato de três dias, assim como os demais cursos.
2.4 A pontualidade e a assiduidade, bem como a postura pessoal serão pontuadas como indicadores
do processo de avaliação.
Atenção: observe em seu contrato os dias e horários das aulas.

3 ATIVIDADES COMPLEMENTARES
3.1 As atividades extraclasses (palestras, seminários, Visitas Pedagógicas Orientadas (VPOs) serão
obrigatórias para o complemento da carga horária, sendo realizados nos mesmos horários das
aulas, em dias alternados ou de acordo com a disponibilidade da escola ou da empresa (no caso
das VOPs).
3.2 As visitas pedagógicas orientadas acontecerão de acordo com a disponibilidade da escola e das
empresas parceiras. Cabe ao aluno interessado realizar o pagamento da taxa de transporte na
secretaria, se houver.
3.3 O uso do fardamento é obrigatório para todas as visitas e aulas práticas (dentro e fora da
instituição).

4 CERTIFICAÇÃO
4.1 A frequência nas aulas deve ser igual ou superior a 75% (setenta e cinco por cento) em cada
disciplina.
4.2 A média em cada disciplina deve ser igual ou superior a 7,0 (sete).
4.3 O(a) aluno(a) que for reprovado(a) em alguma das disciplinas deverá pagar o valor de uma
parcela para cursar novamente a disciplina, a fim de obter frequência e nota necessárias para a
aprovação e para o recebimento do certificado.
4.4 Estar com todas as parcelas pagas.
4.5 Estar com toda documentação exigida pela Secretaria Estadual de Educação, conforme
orientado no ato da matrícula.
4.6 Solicitar, por escrito, a emissão do diploma. O prazo de entrega, após solicitação, será de até 60
(sessenta) dias.
4.7 Os cursos que possuem estágio obrigatório terão os seus diplomas entregues após o

1
O regimento em vigor será sempre a última versão, informada no título deste documento.

Técnico em Farmácia Módulo 1


6

cumprimento da carga horária total, incluindo estágio.

5 REPOSIÇÃO DE AULA
5.1 Em caso de falta justificada, o(a) aluno(a) terá o direito de realizar a aula ou atividade perdida
em outra turma, de acordo com a disponibilidade da escola, sem custo adicional.
5.2 A falta só poderá ser justificada perante atestado médico ou documento comprovando o motivo
da ausência.
5.3 Em caso de falta sem justificativa, o(a) aluno(a) poderá requerer na secretaria a reposição da
aula ou atividade, efetuando o pagamento referente à taxa do serviço.
5.4 Observa-se que a justificativa não anula a falta, apenas faz valer o direito de reposição da aula
ou atividade.

6 CONSERVAÇÃO
6.1 No caso de danos ao espaço da escola ou a equipamentos pertencentes à mesma, o(a) aluno(a)
ou seu representante legal será responsabilizado pelos gastos com o reparo, bem como, se
necessário, submetido(a) às medidas disciplinares quando for cabível.
6.2 Ao término de cada aula, teórica ou prática, a sala ou laboratório utilizado deverá ser deixado
organizado para a próxima turma.

7 SAÚDE E BEM-ESTAR GERAL


7.1 Não será permitida a utilização de aparelhos celulares ou fones de ouvido na sala de aula.
7.2 Não será permitida a permanência de pessoas em salas de aula e dependências internas da
escola, a não ser alunos, instrutores ou funcionários em seus respectivos horários.
7.3 Não será permitida a entrada de alimentos ou bebidas nas salas de aula, laboratórios ou
biblioteca.
7.4 Deve-se manter a limpeza, organização e conservação da escola como um todo. Devem-se
utilizar os cestos de lixo disponibilizados em cada ambiente.
7.5 A escola não se responsabilizará por perdas ou danos de pertences dos alunos.
7.6 É obrigatório tratar os demais alunos, docentes e funcionários com respeito e civilidade, sob
pena de aplicação de medida disciplinar de advertência, suspensão ou expulsão, a depender da
gravidade da infração.
7.7 Temos câmeras sendo utilizadas em toda escola, a fim de proporcionar maior segurança aos
nossos alunos.

8 BIBLIOTECA/ACESSO À INTERNET
8.1 A utilização da biblioteca será mediante agendamento com a coordenação pedagógica, fora do
horário normal, com apresentação de documento para uso de livros.
8.2 O uso desta sala é exclusivo para estudo e pesquisa, portanto deverá ser mantido o silêncio e a
disciplina, para não interferir na concentração dos demais alunos.
8.3 O uso dos computadores para pesquisa tem o tempo máximo de 30 minutos.
8.4 Não é permitida a retirada de livros para empréstimo.

9 AVALIAÇÃO
9.1 As provas serão realizadas durante o turno que o aluno estuda e sempre na última aula da
disciplina, tendo a duração média de 1h30.
9.2 O(a) aluno(a) que faltar à prova deverá comparecer à coordenação pedagógica da escola para
requerer a avaliação em segunda chamada, agendar uma data para a realização desta, bem
como efetuar o pagamento da taxa na secretaria.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


7

9.3 As provas de recuperação ou segunda chamada acontecem na última semana de cada mês,
conforme informado pela coordenação, no site e nos quadros de avisos.

10 CANCELAMENTO DO CONTRATO
10.1 O cancelamento do contrato poderá ocorrer a qualquer momento, sob autorização da diretoria
da escola, em caso de indisciplina por parte do(a) aluno(a). Quanto a sua defesa, caberá aos
dispositivos legais vigentes.
10.2 O cancelamento por parte do(a) aluno(a) deverá ser feito na coordenação da escola, mediante
requerimento e pagamento da multa de cancelamento, conforme contrato de prestação de
serviços.
10.3 O(a) aluno(a) que cancelar e desejar retornar ao curso poderá reverter sua multa em
pagamentos de parcelas, sendo o valor descontado das últimas parcelas restantes.
10.4 Para o(a) aluno(a) retornar, deverá ser efetuado o pagamento do valor de uma parcela.
10.5 O aluno que for cancelado por motivo de indisciplina não poderá voltar a estudar no Grau
Técnico.

11 PORTAL ACADÊMICO
11.1 Todos os informativos, notas, oportunidades e materiais extras serão disponibilizados Portal
Acadêmico, no Website do Grau Técnico.
11.2 O acesso ao portal acadêmico é por meio do endereço eletrônico: www.grautecnico.com.br, no
qual o(a) aluno(a) colocará o seu número de matrícula tanto no campo ‘usuário’, como naquele
referente à ‘senha’.
11.3 Para a solicitação de declarações, deve-se respeitar o prazo de até 05 dias.

12 TRANSFERÊNCIA DE TURMA/SALA/INSTRUTOR/UNIDADES
12.1 A transferência de turma estará sujeita à disponibilidade de vagas nas turmas em andamento.
12.2 A transferência de Unidade terá o valor de uma parcela com desconto. Para tanto, o(a) aluno(a)
tem que estar com as parcelas em dia, bem como a transferência deverá estar condicionada à
confirmação da unidade destino, conforme disposição nas turmas.
12.3 O (a) aluno(a) que requerer transferência de Unidade sem nunca ter cursado na unidade de
origem e desejar outro curso adiantará uma parcela com desconto na Unidade de origem e
efetuará matrícula na unidade destino, se adequando ao plano de pagamento desta.
12.4 Para a otimização do espaço e aproveitamento das turmas, o Grau Técnico poderá mudar de
sala durante o decorrer do curso, bem como unir duas ou mais turmas.
12.5 Durante o decorrer do curso, pode haver mudança de instrutor. Tendo em vista que os nossos
cursos seguem um plano de aula, os alunos não terão nenhum prejuízo em relação ao
aprendizado.

13 DIAS E HORÁRIOS DE RECEBIMENTO DA ESCOLA


13.1 As parcelas do curso terão descontos de pontualidade, para os pagamentos efetuados até a data
de vencimento. Para pagamentos após o vencimento, será cobrado o valor integral, mais multa
acrescida de juros.
13.2 O desconto de pontualidade só será válido para pagamentos em espécie. Para todo tipo de
cartão, a parcela será cobrada em valor integral.
13.3 A solicitação de declarações, diploma e histórico escolar é gratuita para a primeira via. As
emissões extras destes documentos devem ser feitas mediante o pagamento de taxa de
serviços, cujo valor será informado na secretaria da escola.
13.4 No ato da matrícula, será impresso o primeiro boleto do seu curso. Os demais deverão ser
impressos a partir do portal acadêmico, no site www.grautecnico.com.br, acessando-o com o
seu login e senha, no item financeiro, no link ‘Impressão de Boletos’, ou solicitando a sua

Técnico em Farmácia Módulo 1


8

impressão na secretaria da escola. O pagamento do boleto poderá ser realizado em qualquer


banco ou caixa de pagamentos diversos.

14 AGÊNCIA DE ENCAMINHAMENTO GRAU TÉCNICO


14.1 Os alunos do Grau Técnico dispõem de uma Agência de Encaminhamento Profissional, que tem
como objetivo realizar parceria com empresas para disponibilizar vagas de estágio e/ou
emprego. Para participar, basta estar dentro do seguinte regulamento: apresentar nota igual
ou superior a 7,0 (sete), ter frequência nas aulas igual ou superior a 75%, ter idade superior a
16 anos, ter concluído o primeiro módulo, estar em dia com as parcelas e participar e, no
mínimo, 50% do ciclo de palestras disponibilizadas pela agência de encaminhamento.
14.2 O compromisso de encaminhamento profissional não é garantia de emprego ou de estágio,
visto que a decisão da contratação é da empresa contratante e não do Grau Técnico.
14.3 Para os cursos de estágio não obrigatório, os alunos terão acesso às vagas disponíveis por
meio da coordenação e por agências de integração entre empresa e escola. O estágio deverá
ser feito fora do horário no qual o aluno esteja estudando.
14.4 Para os cursos de estágio obrigatório, os alunos deverão seguir o planejamento, conforme
orientado pela coordenação pedagógica.

15 ENFERMAGEM/RADIOLOGIA/ANÁLISES CLÍNICAS
15.1 O estágio é obrigatório para os cursos de Enfermagem e Radiologia, podendo ser realizado
no decorrer ou ao final do curso, em qualquer turno (manhã, tarde e noite), ocorrendo de
acordo com a disponibilidade das unidades de saúde em dias e horários diferentes
(hospitais, postos de saúde, clínicas, UPA, etc.), ficando o aluno ciente que não há garantia
quanto ao turno e local onde serão ministrados os estágios, podendo ocorrer, inclusive,
dentro da região metropolitana ou em municípios circunvizinhos, haja vista que as vagas
disponíveis dependem de terceiros (hospitais, clínicas, UPAs, etc.).
15.2 Caso o aluno não conclua a disciplina do estágio, deverá realizar o pagamento de uma taxa
referente a uma parcela, para poder refazer a disciplina.
15.3 É vedado ao aluno exigir que sejam ministrados nos estágios conteúdo pedagógico diverso
daquele que foi ofertado pela instituição responsável.
15.4 O estágio para Análises Clínicas atenderá à regulamentação local vigente.
15.5 Materiais imprescindíveis para as aulas práticas (laboratório) – sob total responsabilidade do
aluno:
 No caso de Enfermagem: luvas de procedimento, luvas estéreis, seringas, agulhas, gazes,
esparadrapo, máscaras, toucas, gorros, jelco calibre 22, scalp calibre 21 (verde), estetoscópio,
tensiômetro, garrote, termômetro (digital).
 No caso de Análises Clínicas: luvas de procedimento, luvas estéreis, seringas, agulhas, gazes,
esparadrapo, máscaras, toucas, gorros, jelco calibre 22, scalp calibre 21 (verde), garrote.
15.6 Materiais Necessários para os estágios curriculares:
 No caso de Enfermagem: todo e qualquer material necessário às atividades práticas serão de
responsabilidade do aluno e deverão ser entregues antecipadamente para garantia dos
campos, tais como: luvas de procedimento, máscaras, propés, toucas, gorros, capote
descartável, toalhas de papel, sabão ou sabonete líquido, ou quaisquer outros materiais
solicitados pela instituição de saúde.
 No caso de Radiologia: dosímetro (disponibilizado pela escola, mas, em caso de perda, será
de responsabilidade do aluno).

Módulo 1 Técnico em Farmácia


9

16 ELETROTÉCNICA/ELETRÔNICA/INFORMÁTICA/MANUTENÇÃO E SUPORTE DE INFORMÁTICA/REDE


DE COMPUTADORES
16.1 Materiais imprescindíveis para as aulas práticas (laboratório) – sob total responsabilidade do
aluno:
 No caso de Eletrotécnica: chave de fenda (8x200mm), chave Phlips (8x200mm), alicate de corte;
alicate de bico; alicate universal; alicate desencapador, chave teste e 1 rolo de fita isolante.
 No caso de Eletrônica: protoboard 1x, resistores 5 de cada(100R,220R, 330R, 1k, 2k, 100k de 1/4W),
capacitores 2 de cada(470uF, 10uF, 1uF, 1nF de 50V), jumpers 20 macho-macho, Leds 3x (alta
potência: verde, amarelo, vermelho e baixa potência: verde, amarelo, vermelho), Botão 3 push
button, diodo silício 5x 1N14007, multímetro 1x e potenciômetro 2 de cada (10k, 100k).
 No caso de Informática, Manutenção e Suporte de Informática e Rede de Computadores: 1 chave
Phillips nº2, 1 alicate de crimpagem, 20 conectores RJ-45, 1 multímetro digital, 10 DVDs virgens e 1
pen drive.

Ciente e de acordo.

_____________________________________________
Aluno(a)/Responsável

Para sugestões e informações, enviar e-mail para: contato@grautecnico.com.br

SEJA BEM-VINDO(A)!

Atenciosamente,
A Direção.

Técnico em Farmácia Módulo 1


10

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11

2 OBJETIVO DO CURSO................................................................................................. 11

3 TÉCNICO EM FARMÁCIA - MÓDULO 1 ...................................................................... 13

4 INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS FARMACÊUTICOS ....................................................... 17

5 ANATOMIA E FISIOLOGIA .......................................................................................... 45

6 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL.................................................................................. 159

7 BIOSSEGURANÇA ..................................................................................................... 191

8 SAÚDE COLETIVA ..................................................................................................... 223

9 QUÍMICA.................................................................................................................. 303

Módulo 1 Técnico em Farmácia


11

1 INTRODUÇÃO

O avanço tecnológico é inevitável. No mundo todo, ele vem quebrando fronteiras


econômicas, sociais e culturais, trazendo consigo toda uma facilidade no acesso à
informação, à liberdade de expressão e à inclusão social. Ao mesmo tempo, também se lida
com certa desintegração dos valores humanos, com o consumo desenfreado, a
marginalização social e a agressão ao meio ambiente.

É necessário despertar o ser humano para a importância do conhecimento técnico e


suas consequências. Também é preciso conscientizá-lo para a solidariedade, o respeito a si
mesmo e ao outro e o trabalho em equipe.

A atuação do Grau Técnico, portanto, é abrir caminho para oportunidades que


beneficiem tanto o indivíduo, quanto o coletivo. É orientar para a realização profissional e
inserção social, por meio de uma educação estimuladora e operadora de inovações na
sociedade.

2 OBJETIVO DO CURSO

O Curso de Técnico em Farmácia do Centro de Ensino Grau Técnico tem como


objetivo geral formar profissionais técnicos em Farmácia, com capacidade técnica para atuar
em equipe multidisciplinar, supervisionados por um profissional farmacêutico por meio de
conhecimentos teóricos e práticos voltados para à assistência farmacêutica, promoção em
saúde, controle de estoque e armazenamento de produtos e insumos farmacêuticos,
preparação de produtos farmacêuticos e afins, de acordo com as Boas Práticas de Fabricação
e Controle, pautados pelos princípios da ética, da qualidade, humanização, desenvolvendo
suas atividades baseadas em competências e habilidades, atendendo ao contexto das ações
da farmácia de manipulação; drogarias; postos de saúde e de medicamentos; indústrias
farmacêuticas; unidades básicas de saúde; hospitais; distribuidoras de medicamentos,
insumos e correlatos. Pautados nestas ações, atenderão também às necessidades da
clientela em um mercado de trabalho dinâmico e competitivo.

Além disso, em seus objetivos específicos, o curso propicia ao aluno: formação


sólida que assegure o domínio dos conteúdos, correspondendo às exigências do mundo do
trabalho; condições para desempenhar o seu papel de agente, tanto para a promoção
individual, como para a transformação social; uma ação educativa, capaz de conectar teoria
e prática voltadas para a percepção das relações entre os contextos, social, econômico,
político e cultural; a sensibilidade para a execução de atividades que atendam às normas de
segurança, proteção ao meio ambiente, saúde, agindo de acordo com os preceitos éticos e
profissionais; a preparação para a correta aplicação da legislação que regulamenta as
atividades pertinentes à área de atuação; a avaliação, o reconhecimento e a certificação de

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


12

conhecimentos adquiridos profissionalmente na área da saúde, para fins de prosseguimento


e conclusão de estudos.

APROVEITE BEM O CURSO E TRANSFORME O CONHECIMENTO ADQUIRIDO NAS AULAS EM


OPORTUNIDADES DE TRABALHO!

Atenciosamente,

Ruy Maurício Loureiro Porto Carreiro Filho


Diretor Geral

Módulo 1 Técnico em Farmácia


13

3 TÉCNICO EM FARMÁCIA - MÓDULO 1

O primeiro módulo do curso de técnico em Farmácia propõe enriquecer e


aprimorar o conhecimento geral, preparando o aluno para os módulos subsequentes. É pré-
requisito para o Módulo II, e não tem caráter de terminalidade.

3.1 Competências

 Identificar a diferença entre os estabelecimentos farmacêuticos;


 Reconhecer a história da Farmácia;
 Distinguir os tipos de estabelecimentos farmacêuticos;
 Relacionar a história do medicamento com conceitos básicos e evolução;
 Compreender a constituição e o funcionamento do corpo humano;
 Identificar as estruturas anatômicas que compõe o aparelho locomotor,
cardiovascular, respiratório, urinário, digestivo, reprodutor, nervoso, sensorial,
endócrino, imunológico e sanguíneo;
 Compreender o princípio de anatomia e fisiologia do corpo humano,
correlacionando-os com os princípios científicos do exercício da prática
profissional;
 Compreender os processos de comunicação;
 Linguagem e língua;
 Conhecer as funções da linguagem;
 Conhecer a língua oral e língua escrita. As variantes linguísticas;
 Identificar a tipologia e gêneros textuais. A adequação do texto à finalidade
comunicativa;
 Identificar a produção textual: (in)textualidade, coerência e coesão textual;
 Utilizar a redação técnica. A adequação vocabular;
 Conhecer textos técnicos e suas funções: relatório, ofício, requerimento, ata,
memorando, comunicação interna;
 O texto publicitário e suas especificidades;
 Ter consciência de autoproteção, aplicando as medidas de prevenção dentro de
um ambiente farmacêutico;
 Trabalhar seguindo normas e leis relacionadas à prática da biossegurança;
 Aplicar o plano de gerenciamento de resíduos;
 Conhecer a Política Nacional de Atenção Básica;
 Identificar a abordagem coletiva como modelo de atenção à saúde prioritária;
 Conhecer os programas desenvolvidos na estratégia saúde da família;
 Compreender as atividades de educação em saúde;
 Compreender a atenção básica;
 Avaliar instrumentos de notificação de agravos e morbidades e realizar
notificação;
 Conhecer e discutir o Programa Nacional de Imunizações;
 Executar aplicação das vacinas obrigatórias do calendário vacinal em todas as
faixas etárias, conhecendo suas respectivas vias de administração e dosagens;
 Conhecer a rede de armazenamento e preservação de imunobiológicos (rede de
frios);

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


14

 Conhecer os Programas de Hanseníase e Tuberculose, Hipertensão e Diabetes,


Atenção integral à Saúde da Mulher, Atenção integral à Saúde da Criança, Atenção
à Saúde do Adolescente, DST/AIDS, assistência a População Negra, assistência à
saúde do Idoso, Saúde Mental, atenção à Saúde do Homem, e doenças e agravos
não transmissíveis;
 Conhecer a dinâmica de funcionamento da Unidade de Saúde da família e as
relações com outros profissionais;
 Aplicar os conceitos gerais e princípios da química, as reações químicas e os tipos
de ligações químicas;
 Compreender a preparação de soluções;
 Analisar as propriedades periódicas dos elementos químicos;
 Aplicar a formulação e nomenclatura dos compostos inorgânicos de acordo com as
regras da União Internacional de Química Pura e Aplicada-IUPAC;
 Identificar a ocorrência de reações químicas;
 Aplicar as relações estequiométricas entre reagentes e produtos numa reação
química.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS
FARMACÊUTICOS
17

4 INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS FARMACÊUTICOS

4.1 História da Farmácia e da profissão Farmacêutica

Como observado por Dias (2005), citando Folch; Suñé; Valverde (198), as práticas
voltadas aos estudos farmacêuticos datam desde 2500 a.C., a partir de produtos naturais
(minerais, vegetais e animais), tendo sido iniciadas na China. Os gregos e egípcios, conforme
autores (Op. cit.), foram os primeiros que desenvolveram os métodos para a cura de
doenças, a partir do uso da botânica, associando-a a elementos místicos e religiosos. A
Figura 1 ilustra como eram as farmácias em décadas passadas.

Figura 1- Antiga farmácia europeia

Fonte: http://isabelsilvaphotography.blogspot.com.br/2014/02/dubrovnik-farmacia-mais-antiga-da-
europa.html (Acesso em 13/12/2017)

As primeiras sociedades com escrita surgiram a partir do 4º milênio a.C., de acordo


com Pandit (2008). Os conceitos terapêuticos estavam embasados no entendimento de que
todos os fenômenos, fossem eles terrenos ou cósmicos, se uniam de forma estreita, estando
subordinados à vontade dos deuses. As doenças, assim como suas curas, eram explicadas
mediante complexa relação entre deuses, gênios benéficos e/ou maléficos, que partilhavam
os seus segredos entre si, como ilustra a Figura 2.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


18

Figura 2- Segredos médicos partilhados na antiguidade

Fonte: http://nova-acropole.pt/a_segredos_medicos_antiguidade.html (Acesso em


13/12/2017)

Galeno (200 – 131 a.C.), ilustrado pela Figura 3, é considerado o Pai da Farmácia. Ele
combatia as doenças por meio de substâncias ou compostos que se opunham diretamente
aos sinais e sintomas das enfermidades, tendo sido o precursor da alopatia (PANDIT, 2008).

Figura 3- Galeno, o pai da Farmácia

Fonte: http://www.ahistoria.com.br/galeno/. (Acesso em 13/12/2017).

Galeno estudou e escreveu bastante acerca de farmácia e medicamentos. Suas


obras contemplam quatro centenas e meia de referências a fármacos, como observado por
Dias (2005). Ele criou uma lista de remédios vegetais, aos quais denominou de "galênicos",
sendo a maioria deles composta com vinho. Como estudioso, observador e metódico que
era, Galeno classificou e usou as ervas de forma magistral, fazendo uso de preparações

Módulo 1 Técnico em Farmácia


19

denominadas "teriagas", que eram feitas com vinho e ervas (DIAS, 2005).

A primeira escola de farmácia data do século I, que deu início, inclusive, à legislação
para o exercício da profissão. No século X, de acordo com Folch; Suñé; Valverde (1986 apud
DIAS, 2005), foram criadas as primeiras boticas, assim chamadas há época, em países da
Europa, como Espanha e França. São consideradas as precursoras das farmácias atuais. Aos
boticários, os farmacêuticos da época, eram responsáveis por conhecer e curar as doenças,
devendo cumprir, para o exercício da profissão uma série de requisitos e ter local e
equipamentos adequados para a feitura e guarda dos remédios.

Os autores (Op. cit.) observaram também que no século XVI, o estudo dos remédios
ganhou impulso notável, com a pesquisa sistemática dos princípios ativos das plantas e dos
minerais capazes de curar doenças. No século XVII, os mercadores de drogas, plantas
medicinais e outros produtos propiciavam os ingredientes necessários ao boticário para a
preparação das suas formulações.

Com o advento das especialidades farmacêuticas industrializadas, que datam do


início do século XX, o mercado passou a ser mais estruturado e economicamente
interessante, uma vez que abriu espaço para que novas empresas fossem surgindo, de forma
organizada. As décadas que se seguiram trouxeram um número crescente de especialidades
farmacêuticas, crescimento do consumo de medicamentos e, finalmente, a extensão da
segurança social a toda a população, como observa Dias (2005).

4.2 A História da Farmácia no Brasil

Como observa Pandit (2008), os primeiros povoadores, náufragos, degredados,


aventureiros e colonos deixados por Martim Afonso se valeram de recursos da natureza para
combater as doenças, curar ferimentos e neutralizar picadas de insetos. Como forma de
combater a agressividade do ambiente e a hostilidade de algumas tribos indígenas, os
primeiros europeus tiveram de contornar a adversidade com amabilidade, e foram
aprendendo com os pajés a preparar os remédios da terra para tratar seus próprios males.

Quando surgiam os remédios da "civilização", como assim chamavam, isto se dava


quando expedições portuguesas, francesas ou espanholas apareciam com suas esquadras, e
nelas sempre havia um cirurgião barbeiro ou algum tripulante com uma botica portátil,
composta por drogas e medicamentos.

Àquela época, a coroa portuguesa resolveu instituir no Brasil o governo geral,


nomeando governador Thomé de Souza, que veio para a colônia com uma armada de três
naus, trazendo ao todo aproximadamente mil pessoas que se instalaram na Bahia.

O corpo sanitário da grande armada era composto apenas de um boticário, Diogo


de Castro, com função oficial e com salário. Não havia nesta armada, porém, nenhum físico,
denominação de médico na época. O físico-mor, só viria a ser instituído no segundo governo
de Duarte da Costa, como observou Dias (2005).

Dentre os irmãos destinados ao sul do País estava José de Anchieta, que logo

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


20

tratou, junto com os demais jesuítas, de instituir enfermarias e boticas em seus colégios,
colocando um irmão para cuidar dos doentes e outro para preparar remédios. José de
Anchieta, Figura 4, foi o responsável por São Paulo, sendo considerado o primeiro boticário
de Piratininga.

Figura 4- Padre José de Anchieta

Fonte:https://marcoaureliofarma.blogspot.com.br/2014/04/jose-de-anchieta-um-santo-
boticario.html (Acesso em 13/12/2017)

Em princípio, como Pandit (2008) observou em seus estudos, os medicamentos


vinham do reino já preparados. Entretanto, a pirataria do século XVI e as dificuldades da
navegação impediam com frequência a vinda de navios de Portugal, sendo necessário
reservar grandes provisões, como acontecia com São Vicente e São Paulo. Por estas razões,
os jesuítas foram considerados os primeiros boticários da nova terra, e nos seus colégios as
primeiras boticas onde o povo encontrava drogas e medicamentos vindos da metrópole bem
como, remédios preparados com plantas medicinais nativas por meio da terapêutica dos
pajés.

As mais importantes boticas sob a direção dos jesuítas se localizaram na Bahia,


Olinda, Recife, Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo. No Maranhão, a botica era flutuante,
como observou Pandit (2008):

Por muito tempo, diz o padre Serafim Leite, as farmácias da companhia


foram as únicas existentes em algumas cidades. E quando se estabeleceram
outras, as dos padres, pela sua notável experiência e longa tradição,
mantiveram a primazia. O colégio do Maranhão possuía uma farmácia
flutuante, a Botica do Mar, bem provida, que abastecia de medicamentos
os lugares da costa, desde o Maranhão até Belém do Pará.

A botica mais importante dos jesuítas foi a da Bahia, que se tornou um centro
distribuidor de medicamentos para as demais boticas dos vários colégios de Norte a Sul do
País. Como a Bahia mantivesse maiores contatos com a metrópole, os padres conservavam a
botica bem sortida e aparelhada para o preparo de medicamentos, iniciando-se nela,
inclusive, o aproveitamento das matérias-primas indígenas.

Os jesuítas possuíam um receituário particular, nos quais se podiam observar não só


as fórmulas dos medicamentos como seus processos de preparação. Além disso, dispunham

Módulo 1 Técnico em Farmácia


21

também método de obtenção de certos produtos químicos, como a pedra infernal (nitrato
de prata), como observou Dias (2005)

Os jesuítas chamavam de Tríaga Brasílica a penicilina da época. Eles conservavam


secreta a sua forma de manipulação, usando-a contra mordidas de animais peçonhentos,
além de várias doenças febris e, de modo especial, como antídoto contra venenos, à exceção
dos corrosivos, como descrevem Folch; Suñé; Valverde (1986 apud DIAS, 2005). Considerada
tão boa quanto aquela utilizada em Veneza, agia de forma rápida e eficaz, tendo ainda a
vantagem de ser composta por várias drogas nacionais, de eficiência já comprovada.

O colégio dos jesuítas da Bahia sofreu um terrível saque em meados de 1760, se


imaginava encontrar algumas receitas particulares, dentre elas a famosa Tríaga Brazílica.
Entretanto, tal receita não fora encontrada, tendo este feito ocorrido tempos mais tarde,
quando do achado de uma coleção de várias receitas, incluindo os segredos particulares das
principais boticas da companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil, compostas e
experimentadas pelos melhores médicos e boticários mais célebres (FOLCH; SUÑÉ;
VALVERDE, 1986 apud DIAS, 2005).

4.3 As Boticas do Brasil

Pandit (2008) observou que a partir de 1640 as boticas tiveram o seu


funcionamento autorizado, enquanto comércio. Naquele mesmo período, a sangria foi
legalizada, resultando em competição entre os cirurgiões-barbeiros e os escravos
sangradores.

Uma vez tendo o seu funcionamento comercial autorizado, as boticas se


multiplicaram, de Norte a Sul, sendo dirigidas por boticários aprovados em Coimbra pelo
físico-mor, ou por seu delegado comissário na capital do Brasil, Salvador. Estes boticários
obtinham com a máxima facilidade a sua "carta de aprovação". Tratava-se de profissionais
empíricos, às vezes analfabetos, as que possuíam conhecimento de medicamentos
corriqueiros. Pandit (2008), acerca disto, traz a seguinte ressalva:

Por causa de toda essa "facilidade", muitas vezes lavadores de vidros ou


simples ajudantes de botica requeriam exame perante o físico-mor ou seu
delgado e, uma vez aprovados, o que geralmente acontecia, arvoravam-se
em boticários, estabelecendo-se por conta própria ou associando-se a um
capitalista ou comerciante, normalmente do ramo de secos e molhados,
que alimentava a expectativa dos bons lucros no novo negócio.

As primeiras farmácias no Brasil se configuravam conforme ilustra a Figura 5 a


seguir.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


22

Figura 5- Configuração das primeiras farmácias brasileiras

Fonte: http://portalhistoriadafarmacia.com.br/a-farmacia-no-Brasil Acesso em (13/12/2017)

Em todas as cidades do Brasil, desde os primeiros tempos da colonização, os


comerciantes de secos e molhados negociavam com drogas e medicamentos, não só para
uso humano como para tratamento dos animais domésticos, aos cuidados dos alveitares,
como eram chamados os veterinários da época. Raras eram as boticas legalmente
estabelecidas, como advoga Pandit (2008), que diz:

O comércio das drogas e medicamentos era privativo dos boticários,


segundo o que estava nas "Ordenações", conjunto de leis portuguesas que
regeram o Brasil durante todo o período colonial, reformada por D. Manuel
e em vigor desde o princípio do século XVI, bem como por leis e decretos
complementares. Foi com base nesta legislação que o físico-mor do reino,
por intermédio de seu comissário de São Paulo, ordenou o cumprimento
integral do regimento baixado em maio de 1744.

Neste sentido a fiscalização do exercício dessa profissão passou a ser intensificada,


uma vez que o regimento proibia terminantemente o comércio ilegal das drogas e
medicamentos, estabelecendo pesadas multas e sequestro dos respectivos estoques.
“Houve, busca e apreensões das mercadorias proibidas, que foram depositadas nas boticas
locais. Foi um Deus nos acuda", assim afirma Pandit (2008).

O referido regimento foi crido a partir de uma ordem do Conselho Ultramarino, cuja
ordem fora dada ao Dr. Cypriano de Pinna Pestana, físico-mor do reino. Conforme a ordem,
ele não deveria dar comissão a pessoa alguma, que no Brasil servisse por ele, devendo esta
comissão ser dada a um médico formado pela Universidade de Coimbra. Deu-se ordem
também para que se fizesse um regimento para os Boticários do dito estado, com atenção às
distâncias, que ficavam as terras litorâneas, advertendo que tanto os ganhos dos seus
comissários como os preços dos medicamentos nunca deveriam exceder o dobro dos preços
praticados no reino e que, uma vez o regimento fosse elaborado, o mesmo deveria ser

Módulo 1 Técnico em Farmácia


23

remetido ao Conselho.

Tudo se faria de acordo com o regimento, desde o exame prestado pelos


candidatos a boticários, bem como a inutilização das drogas eventualmente deterioradas,
desde a sua chegada aos portos, e a fiscalização das boticas, até a legalização do profissional
responsável, existência de balança, pesos e medidas, estado de conservação das drogas
vegetais, principalmente as importadas, medicamentos galênicos, produtos químicos,
vasilhames e, bem como, ocasionalmente, a existência de alguns livros. As inspeções das
boticas seriam rigorosas, devendo ser realizadas a cada três anos. Este regimento foi
considerado um modelo para a sua época.

Apesar disto, os boticários de Portugal e das colônias portuguesas viviam em


completo atraso e carência de reparo, tendo como guia a obsoleta Farmacopeia
Ulissiponense Galênica e Química, de Joan Vigier, datada de 1716. Só em 1735 surgiu a
Farmacopeia Tubalense Química Galênica, teórica e prática, de Manoel Rodrigues Coelho,
boticário da corte, que visava ter seu trabalho autorizado pelo governo, o que, entretanto,
não conseguiu.

No ano de 1772 surgiu a obra de Frei João de Jesus Maria, monge beneditino e
boticário do convento, sendo finalmente publicada por ordem de D. Maria I. Em 7 de abril de
1794 foi mandada adotar a Farmacopeia Geral para o Reino de Portugal e Domínios, de
autoria de Francisco Tavares, professor da Universidade de Coimbra, obra cujos preceitos
não eram lícitos ao profissional se afastar, mesmo quando o próprio autor a reconheceu
insuficiente, sendo por isso, o mesmo autor, levado a escrever uma Farmacologia, de acordo
com o que observou Pandit (2008).

A cidade de São Paulo, no ano de 1765 tinha três boticários, Francisco Coelho Aires,
estabelecimento e moradia na Rua Direita, Sebastião Teixeira de Miranda na atual Rua
Álvares Penteado e José Antônio de Lacerda, hoje a Praça da Sé.

A Real Botica de São Paulo estava instalada onde hoje está o Vale do Anhangabaú,
mais precisamente, onde hoje está o prédio central dos Correios e Telégrafos. O prédio para
instalar esta primeira farmácia oficial da cidade foi construído em 1796 e demolido em 1916,
como afirma Pandit (2008). Pandit afirma ainda que (2008):

No tempo da Real Botica os remédios eram, na sua grande maioria, plantas


medicinais, porém desde 1730 o brasileiro usava o mercúrio e o arsênico
importados da Europa. O ópio, a escamoneia, a rosa, o sene, o manacá e a
ipeca já faziam parte dos remédios necessários para funcionamento de uma
botica. Pomadas e linimentos tinham grande consumo, aliás, o produto
mais consumido era a pomada alvíssima, além do bálsamo católico, de
Copaíba, e a Água Vienense, que só entrou em desuso no começo do século
XX.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


24

Na Figura 6 a seguir, podemos observar a Botica Real Militar, que foi criada por dom
João VI em 1808, e atendia aos exércitos da Coroa. (Foto: Acervo Exército)

Figura 6- Botica Real Militar

Fonte: Acervo do Exército. Disponível em: https://agencia.fiocruz.br/pesquisadoras-recuperam-


história-do-surgimento-do-farmacêutico-no-século-19 Acesso em 20/08/2018

As Boticas do Rio de Janeiro, conforme Dias (2005), apresentavam um estilo de


muito bom gosto, em relação ao comércio da época. Em vez de balcão, tinham bem no meio
uma espécie de altar, com a frente ornamentada com pinturas e dourados. Era comum
trazer na pintura alguma paisagem, um naufrágio ou um simples ramalhete de flores. Acima,
no altar, a balança, os pesos, dois ou três livros velhos, oráculos, sem dúvida, da arte de
curar.

4.4 Os Estudos de Farmácia

De acordo com Pandit, quando a família real portuguesa rumou para a colônia não
havia ainda o País qualquer avanço científico, ao contrário de países como Alemanha, França
e Itália. Não havia faculdades e as ciências de uma maneira geral eram privilégios daqueles
que podiam ir estudar em Lisboa, Paris ou Londres.

Com a vinda da família real, em 1803, o País, que ainda era colônia, adquiriu o
direito de acompanhar os movimentos culturais e científicos que aconteciam no Velho
Continente há mais de um século. “O primeiro passo largo rumo à modernidade foi
encabeçado pelo príncipe regente D. João VI, que admirava os estudos de história natural,
bem como o trabalho dos naturalistas” (PANDIT, 2008). Fazendo uma linha do tempo, Pandit
(2008) destaca:

 1808: Foram instituídos os estudos médicos no Hospital Militar da Bahia, por


sugestão do cirurgião-mor do reino, Dr. José Correia Pincanço, futuro Barão de
Goiana, com ensino de anatomia e cirurgia, porém o ensino de farmácia só se
iniciou em 1824.
 1809: com a intenção de formar médicos e cirurgiões para o Exército e Marinha,
onde se concentrava a elite econômica da época, D. João VI instituiu o curso de
medicina no Rio de Janeiro, composto pelas cadeiras de Medicina, Química,

Módulo 1 Técnico em Farmácia


25

Matéria Médica e Farmácia.


 1814: publicação do primeiro livro oriundo do curso supracitado, escrito por José
Maria Bontempo, primeiro professor de farmácia do Brasil, denominado
"Compêndios de Matéria Médica".
 1818: o farmacêutico português instalado no Rio de Janeiro, José Caetano de
Barros abriu o ensino gratuito, voltado para médicos, boticários e estudantes no
laboratório de sua farmácia.
 1832: foi criada a Faculdade de Medicina, regularizando-se o ensino de farmácia.
 1835: mediante decreto imperial, sancionado em 8 de maio, a Sociedade de
Medicina foi transformada em Academia Imperial, e nela ficou instituída a seção
de farmácia, o que elevou a classe farmacêutica à hierarquia científica, colocando-
a em igualdade aos demais ramos das ciências médicas.
 1839: a Assembleia Legislativa de Minas Gerais decretou a lei nº 140, sancionada
pelo então conselheiro Bernardo Jacinto da Veiga, criando duas Escolas de
Farmácia, uma em Ouro Preto (Figura 7) e outra em São João Del Rei, destinada ao
ensino de farmácia e da matéria médica brasileira.
 1925: consolidação do ensino de farmácia, quando o curso passou a ser Faculdade
de Farmácia, filiando-se à Universidade do Rio de Janeiro.

Figura 7- Escola de Farmácia de Ouro Preto

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Farm%C3%A1cia_de_Ouro_Preto (Acesso em


13/12/2017)

4.5 De Boticário a Farmacêutico

Apesar da criação de diversas instituições de ensino de farmácia no País, vale


ressaltar que, no século passado, a passagem do comércio de botica para farmácia, não foi
nada fácil, sobretudo em função do hábito advindo da cultura popular, que criava
dificuldades em relação às mudanças que se estabeleciam.

Pandit (2008) observa que a própria lei que regulamentava o efetivo exercício da
profissão persistia em chamar os farmacêuticos de boticários.
O Regimento da Junta de Higiene Pública, aprovado pelo decreto imperial
número 829, de 29 de setembro de 1851, documento que regulamentava a
profissão, fazia menção ao técnico da preparação dos medicamentos por
meio da palavra "boticário", e não se pense que a expressão dissesse

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


26

respeito a profissionais sem diploma, pois o artigo 28 do referido regimento


é claro: "os médicos, cirurgiões, boticários, dentistas e parteiras
apresentarão seus diplomas..." (PANDIT, 2008).

Esta confusão entre as nomenclaturas, farmacêuticos e boticários, teve o seu fim,


quando surgiu o Decreto 2055, de dezembro de 1857, que estabelecia as condições para que
os farmacêuticos, não habilitados, tivessem licença para continuar a ter suas boticas.

A partir da segunda metade do século XIX, as boticas começam a ceder seu lugar às
farmácias. As farmácias significavam a introdução de um novo padrão para o exercício dessa
atividade, com espaços mais modernos, nos quais o cliente supunha uma formação
acadêmica para o farmacêutico, como explana Pandit (2008).

As maiores transformaões, no entanto, se deram entre o final do século XIX e o


século XX, a partir do reconhecimento legal da profissão de farmacêutico, da especialização
do saber com a criação das quatro primeiras escolas de farmácia mineiras – Ouro Preto, Juiz
de Fora, Belo Horizonte, Alfenas, além da interação desta atividade com a pesquisa e com a
indústria química.

Até a década de 1930, a indústria nacional de medicamentos era em sua maioria de


reduzidas dimensões, de origem familiar. Baseava-se no emprego de matérias-primas de
origem vegetal e mineral, apresentando condições adequadas ao suprimento do mercado
existente, àquela época bastante reduzidas.

4.6 Criação dos Conselhos

A criação do Conselho de Farmácia foi uma ordem dos farmacêuticos após a 2ª


Semana de Farmácia em São Paulo, ocorrida em 1936. Já em 1957 foi encaminhado um
projeto ao governo e em 11 de novembro de 1960 foram criados os Conselhos Federal de
Farmácia (CFF) e o Conselho Regional de Farmácia (CRF). No ano de 1969, houve a reforma
universitária com implantação do currículo mínimo.

4.6.1 O Símbolo da Farmácia

Como se pode observar na Figura, 8, a taça com a serpente nela enrolada é


internacionalmente conhecida como símbolo da profissão farmacêutica. Sua origem
remonta à antiguidade, sendo parte das histórias da mitologia grega. De acordo com as
literaturas antigas, assim observou Pandit (2008), o símbolo da Farmácia ilustra o poder
(cobra) da cura (taça).

Módulo 1 Técnico em Farmácia


27

Figura 8- Símbolo de farmácia

Fonte: http://pharmaceuticoemfoco.blogspot.com.br/2011/10/significado-do-simbolo-da-
farmacia.html (Acesso em 13/12/2017)

4.7 Conceitos Importantes

Nesta seção tomaremos conhecimento acerca de alguns conceitos importantes


fomentaram os estudos de farmácia.

4.7.1 Plantas Medicinais

Gomes e Reis (2003) observaram em seus estudos que a primeira forma de uso dos
medicamentos efetuada pelo homem foi feita a partir da manipulação de plantas medicinais.
Certamente que muitas descobertas foram feitas durante a procura por novas fontes de
alimentos, mas, provavelmente, um número significativo foi devido à curiosidade e desejo
natural de investigação, que é inerente ao ser humano.

Algumas plantas foram reconhecidas como venenos, outras passaram a ter uso
medicinal e outras para fins recreacionais (uva do vinho). Dentre os estudiosos da
antiguidade, devemos destacar Galeno, que se aprofundou no estudo das plantas
medicinais, escrevendo vários livros sobre farmácia e farmacologia clínica. Na Figura 9 a
seguir, podemos observar as plantas medicinais nativas da Amazônia

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


28

Figura 9- Plantas medicinais da Amazônia

Fonte: https://www.vix.com/pt/bdm/medicina-alternativa/2257/plantas-medicinais-da-amazonia-e-
seus-beneficios (Acesso em 13/12/2017)

Na atualidade, as plantas mais consumidas no mundo são:

 Coffea arabica = café;


 Nicotiana tabacu = tabaco;
 Cola acuminata= bebidas tipo cola (Coca Cola, Pepsi, etc.).

No Brasil:

 Paulinia cupana = guaraná;


 Ilex paraguariensis = mate.

De acordo com Gomes e Reis (2003), existem cerca de 127 mil espécies diferentes
de plantas no Brasil, sendo um grande número delas usadas com fins medicinais.
Imaginando um rendimento de 0,001% na descoberta de novos remédios a partir de plantas
brasileiras, se pode imaginar o surgimento de mais de 100 medicamentos genuinamente
nacionais. São exemplos de plantas medicinais: camomila, boldo-do-chile, alecrim, alho,
arnica, carqueja, erva-cidreira, malva, e sálvia.

4.7.2 Medicamentos

Os medicamentos (Figura 10) são produtos especiais, elaborados com a finalidade


de diagnosticar, prevenir, curar doenças ou aliviar seus sintomas, sendo produzidos com
rigoroso controle técnico, para atender às especificações determinadas pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Módulo 1 Técnico em Farmácia


29

Figura 10- Medicamentos

Fonte: http://www.hipolabor.com.br/blog/2014/12/19/hipolabor-explica-qual-diferenca-entre-
remedios-e-medicamentos/ (Acesso em 13/12/2017)

Como observam Gomes e Reis (2003), o efeito do medicamento está atrelado a uma
ou mais substâncias ativas com propriedades terapêuticas, que são reconhecidas
cientificamente, fazendo parte da composição do produto, denominadas fármacos, drogas
ou princípios ativos. Para tanto, são seguidas normas rígidas, de modo que os medicamentos
sejam utilizados, desde a sua pesquisa e desenvolvimento, até a sua produção e
comercialização.

 Finalidade dos medicamentos:

Os medicamentos têm como finalidade o alívio dos sintomas, a cura e prevenção


das doenças, além do diagnóstico, conforme observaremos a seguir.

No que diz respeito ao alívio dos sintomas, os medicamentos têm a função de


diminuir ou até eliminar os sintomas, tais como: dor, febre, inflamação, tosse, coriza,
vômitos, náuseas, ansiedade, insônia, etc., embora não atuem nas causas. Uma vez os
sintomas sejam aliviados, o medicamento pode mascarar a doença, dando a falsa impressão
de cura. Neste sentido, é importante que o médico seja consultado, bem como o
farmacêutico.

Quanto à cura das doenças, os medicamentos têm como função eliminar a causa de
determinadas enfermidades, como infecções e infestações. São exemplos destes
medicamentos os antibióticos, antihelmínticos (medicamentos contra vermes),
antiprotozoários (medicamentos contra malária, giardíase e amebíase). Além disso, os
medicamentos podem corrigir a função corporal deficiente, a partir de suplementos
hormonais, vitamínicos, minerais e enzimáticos, etc.

Os medicamentos atuam também na prevenção das doenças, auxiliando o


organismo a se proteger de determinadas doenças. Alguns exemplos são: soros, vacinas,
antissépticos, complementos vitamínicos, minerais e enzimáticos, profiláticos da cárie, etc.

No que tange ao diagnóstico, os medicamentos auxiliam na detecção de


determinadas doenças, além de avaliar o funcionamento de órgãos. Neste grupo estão os
contrastes radiológicos, por exemplo.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


30

4.7.3 Diferenças entre Remédio e Medicamento

Nos estudos de Bresolin e Cechinel Filho (2010), observamos que no dia a dia é
comum confundir as nomenclaturas remédio e medicamento, como se fossem sinônimas.
No entanto, elas não significam a mesma coisa.

Como afirmam os autores (Op. cit.), a ideia de remédio está associada a todo e
qualquer tipo de cuidado utilizado para curar ou aliviar doenças, sintomas, desconforto e
mal-estar. São chamados de remédios: banho quente ou massagem para diminuir as
tensões; chás caseiros e repouso, em caso de resfriado; hábitos alimentares saudáveis e
prática de atividades físicas, para evitar o desenvolvimento de doenças crônicas não
transmissíveis; medicamentos para curar doenças, entre outros.

Denominam-se medicamentos as preparações tecnicamente elaboradas em


farmácias (medicamentos manipulados) ou indústrias (medicamentos industriais), que
devem seguir determinações legais de qualidade, segurança e eficácia.

Resumindo, um preparado caseiro com plantas medicinais pode ser um remédio,


mas ainda não é um medicamento. Este, por sua vez, deve atender uma série de exigências
do Ministério da Saúde, visando garantir a segurança dos consumidores.

4.7.4 Como é Desenvolvido um Medicamento Atualmente?

Bresolin e Cechinel Filho (2010) nos fazem lembrar de que antigamente, os


medicamentos eram provenientes da natureza, em especial das plantas. Quanto a sua
eficácia, só se poderia saber após o uso. Uma vez não eram testados cientificamente, nem
sempre se podia ter certeza quanto a esta eficácia.

Alguns medicamentos são empregados há muitos anos, como o ácido salicílico, por
exemplo, extraído da casca do salgueiro, que é até hoje utilizado como esfoliante
dermatológico. No final do século XIX, serviu como base para o desenvolvimento de outros
fármacos, como o ácido acetilsalicílico (a aspirina). Este e outros medicamentos não
passaram por processos e testes para verificar sua atividade, mas são respaldados pela
tradição do seu uso e o seu “passado” (BRESOLIN; CECHINEL FILHO, 2010).

Entretanto, se observa a importância de assegurar que sua fabricação seja feita com
qualidade, além de continuar observando seu uso pela população, para ver se ocorrem
efeitos indesejáveis ou perigosos nas pessoas. Atualmente, os medicamentos surgem em
função de novas doenças ou de novas formas de combater aquelas já conhecidas. Acerca do
seu uso, os autores observaram.

Como foram introduzidos em uma época de maior desenvolvimento


tecnológico, temos capacidade técnica para garantir que sejam seguros e
eficazes. Assim, usá-los será mais vantajoso do que não usá-los. No século
XX, a partir de meados dos anos 50, métodos específicos de pesquisa e
avaliação de medicamentos começaram a ser desenvolvidos para atestar

Módulo 1 Técnico em Farmácia


31

propriedades fundamentais, como segurança, eficácia e qualidade


(BRESOLIN; CECHINEL FILHO, 2010).

Todo e qualquer medicamento, seja novo ou antigo, tem que ser:

(1) Seguro, isto é, ter níveis aceitáveis de toxicidade; ser incapaz de representar
uma ameaça ao usuário, porque a possibilidade de causar efeitos tóxicos
injustificados é pequena;
(2) Eficaz, isto é, que atinge os efeitos propostos;
(3) De qualidade: esta é uma característica que precisamos conhecer e entender
melhor.

4.8 Formas Farmacêuticas (FF)

A forma como um fármaco ou princípio ativo se apresenta como medicamento, é


chamada de forma farmacêutica. Esta leva o fármaco até o organismo. Nas formas
farmacêuticas, os fármacos e os auxiliares de formulação podem ser escolhidos e
combinados de várias maneiras, podendo fornecer o melhor resultado. Muitas são as
possibilidades de classificar as formas farmacêuticas, conforme será observado a seguir
(Figura 11).

 Sólidas:

 Comprimidos, drágeas, cápsulas, pós e pílulas são formas orais;


 Supositórios são formas para administração retal, ou seja, pelo ânus;
 Óvulos devem ser introduzidos na vagina;
 Existem ainda formas sólidas, que podem ser implantadas sob a pele, como
alguns hormônios contraceptivos.

 Semissólidas:

 Unguentos, pomadas, cremes e pastas para aplicar na superfície do corpo.

 Líquidas:

 Soluções, xaropes e suspensões (via oral);


 Emulsões e loções para a pele;
 Colírios para os olhos;
 Líquidos para injeção (devem ser estéreis).

 Gases:

 Líquidos inalatórios, que dão origem às formas gasosas, como alguns anestésicos,
e gases medicinais (o oxigênio, por exemplo).

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


32

Figura 11- Formas farmacêuticas (FF)

Fonte: https://falecomofarmaceutico.wordpress.com/2015/01/03/formas-farmaceuticas-por-que-
existem-medicamentos-em-forma-de-capsulas-suspensao-cremes-e-tantas-outras/ (Acesso em
13/12/2017)

 As diferentes formas existem para:

 Para facilitar a administração;


 Garantir a precisão da dose;
 Proteger a substância durante o percurso pelo organismo;
 Garantir a presença no local de ação; e,
 Facilitar a ingestão da substância ativa.

Em alguns casos, as formas farmacêuticas servem para facilitar a administração de


medicamentos por pacientes de faixas etárias diferentes ou em condições especiais. Para
uma criança, por exemplo, é mais fácil engolir gotas em um pouco de água do que engolir
um comprimido, assim observaram Bresolin e Cechinel Filho (2010).

4.9 Vias de administração

A via de administração é a maneira como o medicamento entra em contato com o


organismo, é a porta de entrada, podendo ser via oral (boca), retal (ânus), parenteral
(injetável), dermatológica (pele), nasal (nariz), oftálmica (olhos), sublingual (embaixo da
língua), dentre outras, como ilustra a Figura 12.

Cada via é indicada para uma situação específica, e apresenta vantagens e


desvantagens. Uma injeção, por exemplo, é sempre incômoda e muitas vezes dolorosa, mas,
por outro lado, apresenta efeito mais rápido (BRESOLIN; CECHINEL FILHO, 2010).

Módulo 1 Técnico em Farmácia


33

Figura 12- Vias de administração

Fonte: Elaborado pelo autor (2018)

4.9.1 Tipos de Medicamentos

Bresolin e Cechinel Filho (2010) estudaram os tipos de medicamentos, tais como


alopatas, homeopatas, fitoterápicos, e suas diferentes funções e aplicações, conforme
observaremos a seguir.

 Alopatia:

A Alopatia é a medicina tradicional, que consiste em utilizar medicamentos que vão


produzir no organismo do doente uma reação contrária aos sintomas que ele apresenta, a
fim de diminuí-los ou neutralizá-los. Observa-se, por exemplo, que se o paciente tem febre,
o médico receita um remédio que faz baixar a temperatura. Em caso de dor, um analgésico.
Os principais problemas dos medicamentos alopáticos são os seus efeitos colaterais e a sua
toxicidade.

 Homeopatia:

A Homeopatia é uma palavra de origem grega, que significa Doença ou Sofrimento


Semelhante. Trata-se de um método científico para tratamento e prevenção de doenças
agudas e crônicas, no qual a cura se dá por meio de medicamentos não agressivos que
estimulam o organismo a reagir e fortalecem seus mecanismos de defesa naturais.

Os medicamentos homeopáticos (Figura 13) podem ser utilizados com segurança


em qualquer idade, até mesmo em recém-nascidos ou pessoas com idade avançada, desde
que com acompanhamento do clínico homeopata. Os medicamentos homeopáticos são
preparados a partir de substâncias extraídas da natureza, que são provenientes dos reinos:
mineral, vegetal ou animal.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


34

Figura 13- Medicamentos homeopáticos

Fonte: http://www.renascerhomeopathia.com.br/Tira-duvidas/homeopatia-e-o-mesmo-que-
fitoterapia.html (Acesso em 13/12/2017)

A homeopatia é um método de tratamento criado pelo médico alemão Samuel


Hahnemann, em 1796, com base na Lei dos Semelhantes, citada pelo Pai da Medicina,
Hipócrates no ano 450 a.C. De acordo com esta lei, os semelhantes se curam pelos
semelhantes, isto é, para tratar um indivíduo que está doente, é necessário aplicar um
medicamento que apresente (quando experimentado no homem sadio) os mesmos
sintomas que o doente apresenta. Por exemplo, se uma pessoa sã ingerir doses tóxicas de
certa substância, irá apresentar sintomas como dores gástricas, vômitos e diarreia.

Contudo, se, por outro lado, for administrada essa mesma substância, preparada
homeopaticamente, ao enfermo que apresenta dores gástricas, vômitos e diarreia, com
características semelhantes àquelas causadas pela substância em questão, obtém-se, como
resultado, a cura desses sintomas.

 Fitoterapia:

Fitoterapia vem do grego e quer dizer tratamento das doenças por meio das
plantas. É uma cultura já conhecida e praticada desde as antigas civilizações. Alicerça-se no
conhecimento e na experiência. Sabe-se que as plantas têm a capacidade de curar diversas
doenças, em especial por conter princípios ativos.

O medicamento fitoterápico é obtido empregando-se exclusivamente matérias-


primas ativas vegetais. Caracteriza-se pelo conhecimento da espécie vegetal, de sua eficácia
e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade.

Bresolin e Cechinel Filho (2010) chamam a atenção para o fato de que “não se
considera medicamento fitoterápico aquele que, em sua composição, inclua substâncias
ativas isoladas, ou seja, princípios ativos, de qualquer origem, nem as associações dessas
com extratos vegetais”.

Os medicamentos fitoterápicos apresentam efeitos terapêuticos, superiores aos


medicamentos convencionais, mas com efeitos colaterais minimizados. A Valeriana
(Valeriana officinalis), por exemplo, vem sendo usada no tratamento da insônia e depressão
Módulo 1 Técnico em Farmácia
35

leve e, ao contrário dos medicamentos convencionais, não provoca dependência e


tolerância. No entanto, se ingerida em grandes quantidades e por tempo prolongado, pode
ser tóxica para o fígado, donde se pode concluir que o fato de ser natural que não quer dizer
que não possa fazer mal.

4.9.2 Medicamentos de Referência, Genéricos, Similares e Manipulados

A seguir, trataremos dos medicamentos denominados de referência, genéricos e


similares, conforme estudos de Bresolin e Cechinel Filho (2010).

 Medicamento de referência:

Diz-se dos medicamentos de referência:

[...] produto inovador, registrado no órgão federal responsável pela


vigilância sanitária e comercializado no País, cuja eficácia, segurança e
qualidade foram comprovadas cientificamente junto ao órgão federal
competente, por ocasião do registro, conforme a definição do inciso XXII,
artigo 3º, da Lei n. 6.360, de 1976 (com redação dada pela Lei nº 9.787 de
10 de fevereiro de 1999. Disponível em: http://e-
legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=245).

A inclusão de um produto farmacêutico na Lista de Medicamentos de Referência é


uma forma de qualificá-lo como parâmetro de eficácia, segurança e qualidade para os
registros de medicamentos genéricos e similares no Brasil, mediante a utilização deste
produto como comparador nos testes de equivalência farmacêutica e/ou bioequivalência
quando aplicáveis.

Existem listas de medicamentos de referência que a Anvisa disponibiliza no seu


endereço eletrônico, classificadas em A e B, como se observa a seguir.

 A Lista A contém medicamentos de referência para fármacos isolados. Disponível


em:
http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/2c937f0041bd09b69645d79d63c1a
945/Lista+A+F%C3%A1rmacos+Isolados+05-11-2013.pdf?MOD=AJPERES,
atualizada em 05/11/2013.

 A Lista B relaciona os medicamentos de referência para as associações. Disponível


em
http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/f60f400041bd0a59964ed79d63c1a
945/Lista+B+Associa%C3%A7%C3%B5es+05-11-2013.pdf?MOD=AJPERES,
atualizada em 05/11/2013.

São os medicamentos que, geralmente, se encontram há bastante tempo no


mercado e têm uma marca comercial conhecida, como, por exemplo, a Novalgina®, que é o
medicamento de referência para o genérico Dipirona.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


36

 Medicamento genérico:

O medicamento genérico tem como principais características:

 É igual ao medicamento de referência e possui qualidade, eficácia terapêutica e


segurança comprovadas através de testes científicos;
 Não possui nome de marca, somente a denominação química de acordo com a
Denominação Comum Brasileira (DCB);
 Pode ser substituído pelo medicamento de referência pelo profissional
farmacêutico ou vice-versa.

De acordo com Bresolin e Cechinel Filho (2010), os genéricos podem ser produzidos
a partir da renúncia da patente, que são concedidas por até 20 anos. Vencida a patente, essa
tecnologia passa a ser de domínio público, quando poderão ser registrados medicamentos
genéricos. Os autores afirmam ainda:

A intercambialidade, ou seja, a segura substituição do medicamento de


referência pelo seu genérico é assegurada por testes de bioequivalência
realizados em seres humanos (o que garantem que serão absorvidos na
mesma concentração e velocidade que os medicamentos de referência) e
equivalência farmacêutica (que garantem que a composição do produto é
idêntica ao do medicamento inovador que lhe deu origem). Essa
intercambialidade somente poderá ser realizada pelo farmacêutico
responsável, pela farmácia ou drogaria e deverá ser registrada na receita
médica.

Graças a estes testes, os medicamentos genéricos são intercambiáveis. Ou seja,


acobertados pela lei, podem substituir os medicamentos de referência indicados nas
prescrições médicas. A troca, quando o médico não prescrever diretamente o genérico, pode
ser recomendada pelo farmacêutico responsável, nas drogarias, com absoluta segurança
para o consumidor.

Os medicamentos genéricos são identificados por uma grande letra "G" azul
impressa sobre uma tarja amarela e, pela frase "Medicamento Genérico - Lei nº 9.787, de
1999" logo abaixo do nome do princípio ativo que os identifica, como ilustra a Figura 14,
podem. Os genéricos são, em média, 40% mais baratos que os medicamentos de Referência
(ou inovadores), basicamente porque os fabricantes de medicamentos genéricos não
necessitam fazer investimentos em pesquisas para o seu desenvolvimento, visto que as
formulações já estão definidas pelos medicamentos de referência.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


37

Figura 14- Medicamento genérico

Fonte: http://www.farmaceuticas.com.br/medicamentos-genericos-similares-intercambiaveis-e-
referencia-confuso/ (Acesso em 13/12/2017)

Outro motivo para os preços reduzidos dos genéricos diz respeito ao marketing uma
vez que os seus fabricantes não necessitam fazer propaganda, já que não há marca a ser
divulgada. O programa de medicamentos genéricos foi criado no Brasil em 1999, com a
promulgação da Lei 9.787, formulada com o objetivo de implementar uma política
consistente de auxílio ao acesso a tratamentos medicamentosos no País. Com preços no
mínimo 35% menores que os medicamentos de marca, os genéricos já estão colaborando
para que muitos brasileiros encontrem uma alternativa viável e segura para seguir as
prescrições médicas corretamente.

É importante ressaltar que as aquisições de medicamentos e as prescrições médicas


e odontológicas de medicamentos, no que tange ao Sistema Único de Saúde (SUS), adotarão
obrigatoriamente a Denominação Comum Brasileira (DCB), ou seja, pelo nome do princípio
ativo.

Por outro lado, na rede privada de saúde, a prescrição fica a critério do médico
responsável, podendo ser realizada sob nome genérico ou comercial. Caso o prescritor tenha
ressalvas quanto à substituição de medicamentos, deve explicitá-las na própria prescrição,
de próprio punho, de forma clara, legível e inequívoca.

 Medicamento similar:

O medicamento similar possui as características descritas a seguir:

 São produzidos após vencer a patente dos medicamentos de referência, sendo


identificados por um nome de marca;
 Possuem eficácia, segurança e qualidade comprovadas a partir de testes
científicos;
 São registrados pela Anvisa.

Os produtos similares são aqueles que têm apenas equivalência farmacêutica com
os produtos inovadores. Por lei, são obrigados a apresentar testes que comparam a sua

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


38

biodisponibilidade com a biodisponibilidade dos inovadores, mas sem a exigência de que


sejam estatisticamente iguais. Eles possuem o mesmo fármaco e indicação terapêutica do
medicamento de referência, entretanto podem diferir em características relativas ao
tamanho e forma do produto, prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e
veículos.

Os medicamentos similares não podem ser substituídos pelo medicamento de


referência nem pelo medicamento genérico. Comparando o exemplo anterior, o similar da
NOVALGINA® pode ser, por exemplo, Anador, Dipigina, Nevraldor, Magnopyrol, etc.

 Medicamento manipulado:

São aqueles produzidos mediante apresentação de receita médica, com dose e


quantidade adequadas evitando que o paciente tome várias cápsulas ao mesmo tempo
(Figura 15). Observam-se a seguir as suas principais características (Figura 16):

 As doses são individualizadas;


 Além de ter um custo mais acessível, é prescrito na quantidade e doses exatas
para o tratamento, evitando perdas;
 Propicia o uso de medicamentos não disponibilizados pela indústria farmacêutica;
 Associa, quando viável, princípios ativos diferentes em uma mesma fórmula,
evitando que o paciente utilize vários medicamentos.

Figura 15- Medicamento manipulado

Fonte: https://goldmedicamentos.wordpress.com/ (Acesso em 13/12/2017)

Módulo 1 Técnico em Farmácia


39

Figura 16- Características dos medicamentos manipulados

Fonte: Elaborada pelo autor (2018)

4.9.3 Farmácias e Drogarias

Como observaram Gomes e Reis (2003), os medicamentos, por serem produtos que
necessitam de uso especial, possuem uma Lei Federal que determina que somente devam
ser comercializados em locais específicos, ou seja, farmácias e drogarias, que são
considerados estabelecimentos de saúde, devendo possuir um farmacêutico como
responsável técnico, com autorização da Vigilância Sanitária e do Conselho de Farmácia.

 Diferença entre Farmácias e Drogarias:

 Farmácias: estabelecimentos de saúde que comercializam e orientam sobre o


uso de medicamentos manipulados.
 Drogarias: estabelecimentos de saúde que comercializam e orientam sobre o uso
de medicamentos industriais.

 Serviços farmacêuticos que podem ser prestados nas farmácias e drogarias:

 Orientação sobre o uso do medicamento;


 Administração de medicamentos (nebulização, aplicação de injetáveis e uso
oral);
 Acompanhamento da pressão arterial e temperatura;
 Monitoramento da glicemia capilar por meio de autoteste.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


40

REFERÊNCIAS

BRESOLIN, T.M.B.; CECHINEL FILHO, V. (Organizadores). Fármacos e medicamentos: uma


abordagem multidisciplinar. São Paulo: Santos, 2010.

DIAS, J. P. S. A farmácia e a história uma introdução à história da farmácia, da farmacologia


e da terapêutica. História e sociologia da farmácia. Lisboa: Faculdade de Farmácia da
Universidade de Lisboa, 2005.

GOMES, M. J. V. M.; REIS, A. M. M. Ciências farmacêuticas: uma abordagem em farmácia


hospitalar. São Paulo: Atheneu, 2003.

PANDIT, N. K. Introdução às ciências farmacêuticas. Porto Alegre: Artmed, 2008.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


41

ANOTAÇÕES: _____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


42

________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

Módulo 1 Técnico em Farmácia


ANATOMIA E FISIOLOGIA
45

5 ANATOMIA E FISIOLOGIA

A Anatomia pode ser considerada uma ciência que estuda macroscopicamente a


constituição do corpo humano pela dissecação de peças de cadáveres já fixadas com
soluções apropriadas. A palavra é de origem grega, que significa ana = em partes; tomein –
cortar.

Os sistemas que, em conjunto, compõem o organismo do indivíduo são os


seguintes: Sistema tegumentar, sistema esquelético (ossos, músculos e articulações), o
sistema digestivo, sistema respiratório, circulatório, sanguíneo, urinário, genital feminino e
masculino, nervoso, sensorial e endócrino.

5.1 Composição do Organismo

De acordo com Thibodeau; Patton (2002), o organismo humano consiste em um


complexo conjunto de órgãos agrupados em aparelhos ou sistemas. Os órgãos são formados
por pequenas unidades vivas chamadas células. Todas as células do organismo humano
necessitam de um suprimento de oxigênio e outros nutrientes para obter energia, para
manter sua integridade estrutural e para sintetizar as substâncias essenciais a sua função e a
do organismo. A produção de energia, a regulação da atividade celular e a síntese de
substâncias são realizadas mediante reações químicas, e o conjunto destas reações químicas
que ocorrem no organismo é chamado de metabolismo.

As reações químicas intracelulares produzem substâncias (resíduos ou catabólicos),


entre as quais o dióxido de carbono, que necessitam ser eliminados porque o seu acúmulo
leva à disfunção celular e finalmente à morte celular. Tanto o suprimento de oxigênio e
nutrientes quanto à retirada dos resíduos é feita pelo sangue. O sangue se abastece de
oxigênio e se desfaz do dióxido de carbono nos pulmões e se abastece de nutrientes por
meio da absorção de alimentos digeridos no tubo digestivo.

Certas células são mais dependentes de um suprimento contínuo de oxigênio do


que outras: as fibras musculares cardíacas toleram apenas alguns segundos sem oxigênio,
enquanto os neurônios cerebrais podem suportar de 4 a 6 minutos. Algumas outras células
podem passar períodos maiores sem oxigênio e ainda assim sobreviverem como as células
musculares e da pele, por exemplo. A falta de oxigênio por um tempo acima do tolerável
leva à morte celular que, por conseguinte leva à morte de órgãos e finalmente à morte do
organismo.

5.2 Divisão do Corpo Humano

De acordo com Lacerda (2009), o corpo humano divide-se em cabeça, tronco e


membros, como ilustra a Figura 1 a seguir.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


46

Figura 1 - Esqueleto humano

Fonte: Brasil (2003a)

 Cabeça:

A cabeça é dividida em duas partes: crânio e face. Como preconiza Lacerda (2009),
uma linha imaginária passando pelo topo das orelhas e dos olhos é o limite aproximado
entre estas duas regiões. O crânio contém o encéfalo no seu interior, na cavidade craniana.
A face é a sede dos órgãos dos sentidos da visão, audição, olfato e paladar e abriga as
aberturas externas do aparelho respiratório e digestivo.

 Tronco:

O tronco é dividido em pescoço, tórax e abdome, conforme descrito a seguir.

 Pescoço:

O pescoço contém várias estruturas importantes. É suportado pela coluna cervical


que abriga no seu interior a porção cervical da medula espinhal. As porções superiores do
trato respiratório e digestivo passam pelo pescoço em direção ao tórax e abdome. O
pescoço contém, ainda, vasos sanguíneos calibrosos, que são responsáveis pela irrigação da
cabeça.

 Tórax:

Quanto ao tórax, o seu interior, na chamada cavidade torácica, contempla a parte


inferior do trato respiratório (vias aéreas inferiores), os pulmões, o esôfago, o coração e os
grandes vasos sanguíneos, que chegam ou saem do coração. É sustentado por uma estrutura
Módulo 1 Técnico em Farmácia
47

óssea da qual fazem parte a coluna vertebral torácica, as costelas, o esterno, as clavículas e a
escápula.

 Abdome:

O abdome está separado internamente do tórax pelo músculo diafragma e contém


basicamente órgãos do aparelho digestivo e urinário. Possui grandes vasos no seu interior,
que irrigam as vísceras abdominais e os membros inferiores.

 Membros:

Dos membros, dois são superiores ou torácicos e dois são inferiores ou pélvicos.
Possuem uma raiz, que se une ao tronco e uma parte livre. A raiz do membro superior
corresponde ao ombro e a parte livre divide-se em: braço, antebraço e mão, a parte anterior
da mão é o dorso e a posterior a palma. A raiz do membro inferior é chamada quadril e a
parte livre divide-se em coxa, perna e pé, onde se encontra a planta e o dorso do pé.

5.3 Variação Anatômica e Normal

Uma vez que anatomia utiliza como material de estudo o corpo do animal e, no
caso da anatomia humana, o homem, torna-se necessário fazer alguns comentários sobre
este material. A simples observação de um grupamento humano evidencia, de imediato,
diferenças morfológicas entre os elementos que compõem o grupo. Estas diferenças
morfológicas são denominadas variações anatômicas e podem apresentar-se externamente
ou em qualquer dos sistemas do organismo, sem que isso traga prejuízo funcional para o
indivíduo.

5.3.1 Fatores Gerais de Variação Anatômica

As variações anatômicas individuais são acrescentadas a alguns fatores decorrentes


da idade, do sexo, da raça, do biótipo, e da evolução humana (PIRES, 2012).

a) idade: notáveis modificações anatômicas ocorrem desde a fase intrauterina até a


fase senil. Exemplo: o timo, que atinge seu máximo na vida fetal e com o
progredir da idade regride, até desaparecer na vida adulta;
b) sexo: é o caráter do masculino ou feminino. Mesmo os órgãos que são comuns a
ambos os sexos podem apresentar variações. Por exemplo, a disposição de
tecido gorduroso subcutâneo, habitualmente mais frequente no sexo feminino;
c) raça: cada agrupamento humano possui caracteres físicos comuns, externa e
internamente relacionados às raças branca, negra e amarela. Um exemplo é a
vascularização do coração que é muito mais abundante no negro do que no
branco;
d) biótipo: é o resultado da soma dos caracteres herdados e dos caracteres
adquiridos por influência do meio e da sua inter-relação. Distinguem-se os
grupos chamados de longilíneos, mediolíneos e brevelíneos;
e) evolução: sugere o aparecimento de diferenças morfológicas, no decorrer dos
tempos.
TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1
48

5.3.2 Anomalias e Monstruosidade

Quando a modificação do padrão anatômico causa prejuízo funcional, no entanto


permite a continuidade da vida do indivíduo, diz-se que se trata de uma anomalia. Se esta
for acentuada, de modo a deformar profundamente a construção do corpo do indivíduo,
sendo, em geral, incompatível com a vida, denomina-se monstruosidade. Como exemplo de
monstruosidade tem-se a agenesia, que quer dizer a não formação do encéfalo. O estudo
deste assunto é feito em Teratologia.

5.3.3 Posição Anatômica

Para evitar o uso de termos diferentes nas descrições anatômicas, considerando-se


que a posição pode ser variável, optou-se por uma posição padrão, denominada posição de
descrição anatômica, conforme ilustra a Figura 2 a seguir.

Figura 2 - Posição anatômica

Fonte: Pires (2012)

5.3.4 Planos Anatômicos

Para efeitos de estudo, utilizam-se vários planos de divisão do corpo, os chamados


planos anatômicos, como ilustra a Figura 3 abaixo.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


49

Figura 3 - Planos anatômicos

Fonte: Brasil (2003a)

 Plano sagital mediano:

É um plano imaginário que passa longitudinalmente pelo corpo e o divide em


metades direita e esquerda. O plano sagital mediano atravessa as superfícies ventral e dorsal
do corpo nas chamadas linhas medianas ou médias anteriores e linhas medianas ou médias
posteriores, respectivamente.

 Plano frontal ou coronal:

É todo plano que intercepta o plano sagital mediano em um ângulo reto e divide o
corpo em metades anterior e posterior.

 Plano transversal ou horizontal:

É todo plano que divide o corpo em metades superior e inferior.

Vários termos são utilizados para se descrever as posições dos elementos


anatômicos. O termo medial significa mais próximo à linha mediana, e lateral o mais
afastado dele. Como exemplos: na mão, o polegar é lateral ao dedo mínimo, enquanto que
no pé, o hálux (dedo grande) é medial ao dedo mínimo. Na perna, a face correspondente à
tíbia é a face medial e a correspondente à fíbula a face lateral;

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


50

O termo proximal significa mais próximo da raiz do membro ou origem do órgão e


distal o mais afastado. Assim, no membro superior, onde o ombro é a raiz, tem-se como
exemplo o cotovelo e o punho, sendo o cotovelo mais proximal da raiz em relação ao punho,
e este seria mais distal. O termo superior significa o mais próximo da extremidade superior e
inferior o mais próximo da extremidade inferior. Assim, tem-se o lábio superior e o inferior;
a pálpebra superior e a inferior.

5.3.5 Eixos Imaginários

O corpo humano também é dividido em três eixos imaginários, os quais serão


ilustrados pela Figura 4 e descritos a seguir.

Figura 4 - Eixos imaginários

Fonte: Elaborada pelo autor (2014)

 Eixo vertical ou longitudinal: une a cabeça aos pés, classificado como heteropolar.
Na posição de pé, situa-se em ângulo reto em relação ao solo.

 Eixo de profundidade ou anteroposterior: une o ventre ao dorso, classificado


como heteropolar. Dispõe-se em ângulo reto em relação ao eixo longitudinal.

 Eixo de largura ou transversal: une o lado direito ao lado esquerdo, classificado


como homopolar. Forma um ângulo reto com ambos os eixos, anteriormente
mencionados.

Os termos aferente e eferente indicam direção e são usados em anatomia para


vasos e nervos. Aferente significa que impulsos nervosos ou o sangue são conduzidos da
periferia para o centro, enquanto que eferente se refere à condução do centro para a
periferia.

5.4 Anatomia e Fisiologia do Sistema Ósseo

O termo osteologia significa o estudo dos ossos. Apesar de sua aparência simples, o
osso é um tecido vivo, complexo e dinâmico, formado por um conjunto de tecidos distintos e
Módulo 1 Técnico em Farmácia
51

especializados que contribuem para seu arranjo final. Entre eles destacam-se o tecido ósseo,
cartilaginoso, epitelial, tecidos formadores de sangue, nervoso e adiposo. Por esta razão,
cada osso individual é um órgão. Partindo-se do princípio que um conjunto de órgãos que
atuam com o mesmo objetivo funcional constitui um sistema, conclui-se que o conjunto
formado por ossos e cartilagens dará origem ao Sistema Ósseo.

As funções do sistema ósseo são:

a) sustentação do organismo (apoio para o corpo);


b) proteção de estruturas vitais (coração, pulmões, cérebro);
c) base mecânica para o movimento;
d) armazenamento de sais (cálcio, por exemplo);
e) hematopoiese (produção de novas células sanguíneas).

Os ossos podem ser classificados, de acordo com o formato, em quatro tipos:

a) longos: comprimento maior que a largura e a espessura. Possuem uma parte


média longa, chamada de diáfise e extremidades chamadas de epífise. Nas
crianças existe uma camada entre a epífise e a diáfise chamada de placa
epifisária, que é responsável pelo crescimento em comprimento do osso.
Exemplos: fêmur, rádio, ulna e falanges;
b) curtos: comprimento, largura e espessura que são aproximadamente iguais:
Exemplo: ossos do carpo;
c) chatos: comprimento e largura, que se equivalem e predominam sobre a
espessura. Exemplos: escápula;
d) irregulares: são ossos que não equivalem nem em comprimento, nem em largura
e nem em espessura. Exemplos: ossos da base do crânio.

5.4.1 Divisão do Esqueleto

O esqueleto é dividido em axial, que é composto pelos ossos da cabeça, pescoço e


tronco, constituindo um total de 74 ossos (22 ossos do crânio, 26 da coluna vertebral, 1 osso
hioide, e 25 das costelas e esterno); e apendicular, que é composto pelos membros
superiores e inferiores, constituindo um total de 64 132 ossos (64 ossos dos membros
superiores, 62 dos membros inferiores e 6 ossos dos ossículos da orelha). A união do
esqueleto axial com o apendicular se faz mediante cinturas escapular e pélvica. Diante do
exposto, afirma-se que o corpo humano é constituído por, aproximadamente, 206 ossos
(BRASIL, 2003).

A seguir apresenta-se a descrição da composição do esqueleto axial.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


52

 Cabeça:

Figura 5 - Ossos da cabeça

Fonte: Brasil (2003a)

Como ilustrado pela Figura 5 acima, a cabeça é formada pela face e crânio. O crânio
é uma caixa óssea rígida que dá proteção ao encéfalo e possui orifícios de saída para os
nervos cranianos e para a medula espinhal, além de fornecer abrigo para órgãos dos
sentidos. É composto de vários ossos que formam junturas imóveis. Sua parte superior é
convexa e recebe a denominação de calvária, enquanto que sua parte inferior é denominada
base do crânio. Seus ossos pares são: parietais e temporais e os ímpares são: frontal,
occipital, etmoide e esfenoide.

Figura 6 - Esqueleto da face

Fonte: Brasil (2003a)

A face, como demonstra a Figura 6, é a parte anterior da cabeça, da fronte até ao


mento, e de uma orelha externa até à outra. O formato básico da face é determinado pelos
ossos subjacentes. Seus ossos estão basicamente fundidos e o único osso móvel da cabeça é
a mandíbula, que é responsável pela mastigação.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


53

Localizam-se na face as cavidades onde se abrigam os órgãos dos sentidos do


paladar, do olfato e da visão (em conjunto com o crânio). As cavidades nas quais se abrigam
os olhos são chamadas de órbitas e são formadas por partes de vários ossos do crânio e da
face. O nariz é formado pelos ossos nasais e na sua maior parte por tecido cartilaginoso. Os
dentes se implantam no maxilar e na mandíbula. Os ossos pares da face são: nasais,
lacrimais, cornetos, zigomáticos, palatinos, maxilas e os ímpares são: o vômer e a mandíbula.

 Tronco:

No tronco estão a coluna vertebral e a caixa torácica. A coluna vertebral é


constituída pela superposição de uma série de ossos isolados denominados vértebras.
Superiormente, se articula com o osso occipital (crânio); inferiormente, articula-se com o
osso do quadril (Ilíaco).

Figura 7 - Coluna vertebral

Fonte: Brasil (2003a)

Como ilustra a Figura 7, a coluna vertebral (Figura 7) é dividida em cinco regiões:


Cervical, Torácica, Lombar, Sacral e Coccígea. São 7 vértebras cervicais, sendo as duas
primeiras denominadas Atlas e Axis, respectivamente, 12 orácicas, 5 lombares, 5 sacrais e
cerca de 4 coccígeas. Cada vértebra possui um espaço no centro, conhecido como forâmen
vertebral, como ilustra a Figura 8. O posicionamento das vértebras, umas sobre as outras,
permite a formação do canal vertebral, por onde passa a medula espinhal.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


54

Figura 8 - Forâmen vertebral

Fonte: Brasil (2003a)

A Figura 9 a seguir ilustra a caixa torácica, que é composta por vinte e quatro
costelas, além do osso esterno. As costelas têm forma chata e alongada e o espaço entre
elas é chamado de intercostal. Na sua maioria, fixa-se posteriormente nas vértebras da
região torácica ou dorsal e anteriormente no osso esterno - osso achatado composto pelo
manúbrio (parte superior), corpo (parte mediana) e apêndice xifoide (parte inferior).

Figura 9 - Caixa torácica

Fonte: Brasil (2003a)

Aquelas diretamente articuladas ao osso esterno são denominadas costelas


verdadeiras (da 1ª a 7ª); as costelas falsas (da 8ª a 10ª) são aquelas que se articulam com as

Módulo 1 Técnico em Farmácia


55

cartilagens do osso esterno, e não diretamente a ele. Já as costelas flutuantes (11ª e 12ª)
são aquelas que não têm contato com o osso esterno, sendo fixadas nas vértebras da região
dorsal.

A caixa torácica óssea, além das costelas e esterno, inclui as vértebras torácicas e
seus discos intervertebrais, formando um arcabouço ósteo-cartilaginoso que protege o
coração, pulmões e alguns órgãos abdominais, como o fígado, por exemplo.

A seguir, apresentam-se os estudos acerca da composição do esqueleto


apendicular, os membros superiores e inferiores.

O esqueleto dos membros superiores é composto pela cintura escapular (cíngulo


peitoral) e pelos ossos dos braços e mãos. A cintura escapular une-se anteriormente ao
manúbrio esternal e é formada pelas clavículas e escápulas. Embora seja muito móvel, a
cintura escapular é sustentada e estabilizada por músculos inseridos nas costelas, esterno e
vértebras.

A região do braço inicia-se no ombro ou cintura escapular, de onde parte a clavícula


– osso longo e fino, situado na parte anterior do corpo. A escápula, de forma achatada e
triangular, localiza-se na sua parte posterior. O úmero, que é osso do braço situado na
porção proximal, apresenta forma longa e tem uma das extremidades encaixada na escápula
– gerando a articulação que permite a realização de movimentos diferenciados em várias
direções.

O antebraço (porção distal), por sua vez, é composto por dois ossos denominados
rádio e ulna, que se articulam com o úmero em uma de suas extremidades, formando o
cotovelo. Para se distinguir os ossos do antebraço, basta esticar o braço com a palma da mão
voltada para cima e observar que o osso do mesmo lado do dedo polegar é o rádio; o outro,
na direção do dedo mínimo, é a ulna. Estes dois ossos possuem forma longa, porém são mais
finos quando comparados ao úmero, como se pode observar na Figura 10 a seguir.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


56

Figura 10 - Ossos dos membros superiores

Fonte: Brasil (2003a)

Nas mãos, como ilustra a Figura 11, encontram-se três diferentes grupos de ossos.
O punho ou carpo é formado por oito pequenos ossos. Na palma da mão ou metacarpo,
somam-se cinco ossos pequeninos. Os dedos compõem-se de três ossículos denominados
falange proximal, falange medial e falange distal – exceto o polegar, formado por apenas
dois ossículos (não há falange medial).

Figura 11 - Ossos da mão

Fonte: Brasil (2003a)

O quadril ou cintura pélvica, como se observa na Figura 12 abaixo, é considerado


parte integrante do esqueleto dos membros inferiores. É formado por três ossos - ilíaco,
ísquio e púbis – que, juntamente, com o sacro e o cóccix, constituem a bacia ou pelve. O íleo
é o maior osso do quadril e situa-se na parte superior lateral da pelve, oferecendo suporte
para as vísceras abdominais. Forma a parte superior do acetábulo (depressão côncava) na

Módulo 1 Técnico em Farmácia


57

face lateral do osso do quadril, onde se articula com a cabeça do fêmur. Sua parte superior é
conhecida como crista ilíaca. O ísquio forma a parte póstero-inferior da pelve e é o principal
ponto de apoio quando a pessoa está sentada. O púbis situa-se na parte anterior da pelve e
liga-se ao ílio e ao ísquio, originando o que se denomina sínfise púbica.

Figura 12 - Ossos da cintura pélvica

Fonte: Brasil (2003a)

Na coxa, encontra-se o fêmur, o mais longo osso do corpo humano, que tem uma
de suas extremidades articuladas com o quadril e a outra, com o joelho. A patela fica
localizada no joelho, o qual une a coxa com a perna. A tíbia localiza-se na parte anterior da
perna; a fíbula, na parte posterior. Podem ser diferenciadas pela espessura: a primeira é
mais grossa que a segunda (também conhecida como osso da canela). A extremidade distal
da fíbula forma o maléolo externo, chamado de osso do tornozelo, como ilustra a Figura 13 a
seguir.

Figura 13 - Ossos dos membros inferiores

Fonte: Thais Arraes (2016)

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


58

Os pés, principais pontos de apoio de todo o esqueleto, são compostos por três
divisões distintas: tarso, metatarso e falange. Tarso (com sete ossos) é a parte articulada
com a perna, onde também se encontra o calcanhar; o metatarso (com cinco ossos) é a
região mediana do peito do pé; a falange (com quatorze ossos) é a extremidade do corpo e
divide-se em proximal, média e distal. O hálux só possui a falange proximal e distal. Em um
pé, totalizam-se 26 ossos, conforme ilustra a Figura 14.

Figura 14 - Ossos do pé

Fonte: Brasil (2003a)

5.5 Anatomia e Fisiologia do Sistema Articular

Articulação ou juntura é a união entre duas peças (ossos ou cartilagens), que agem
como alavancas na movimentação óssea, promovendo o crescimento de ossos longos,
formando elementos que amortecem o movimento, entre outras funções. Embora as
articulações apresentem diferenças significativas entre si, é possível classificá-las de diversas
formas, como quanto ao tipo de movimento que elas promovem, o tipo de tecido que
interpõe as peças articuláveis, a dependência dos antímeros para a articulação e também de
acordo com os componentes da articulação.

5.5.1 Classificação das Articulações

De acordo com o tecido que interpõe as peças articuláveis, podem-se classificar as


articulações em três grandes grupos: as articulações fibrosas, cartilagíneas e sinoviais,
conforme descrito a seguir.

 Fibrosas:

Unidas por tecido fibroso, possui pequeno grau de mobilidade. São do tipo:

a) suturas: são junturas fibrosas onde os ossos estão próximos. São encontradas
nos ossos do crânio. Podem ser do tipo plana, quando as margens dos ossos são
planas (ossos frontais); denteada ou serrátil, quando as margens dos ossos são
em forma de dente de serra (a maioria das junturas dos ossos da cabeça); e

Módulo 1 Técnico em Farmácia


59

escamosa, quando as margens dos ossos são em forma de escama (osso parietal
e osso temporal);
b) sindesmoses: são junturas cuja união dos ossos ocorre por uma longa faixa de
tecido fibroso, formando, assim, ligamentos ou membranas interósseas.
Apresenta baixo grau de movimentação. Um dos exemplos é a membrana
interóssea entre o osso rádio e a ulna;
c) gonfose: este tipo de articulação fibrosa é específico da ligação entre os dentes e
os alvéolos dentários, e tem a função precípua de firmar o dente no seu
receptáculo. É uma articulação imóvel, e caso haja movimentos maiores que
0,5mm, consideram-se patológicos;
d) esquindelese: é uma articulação fibrosa na qual uma parte a se articular forma
uma calha e a outra parte uma crista, fazendo, assim, a articulação. Ela é
exemplificada pela articulação vômero-esfenoidal.

 Cartilagíneas:

As articulações cartilaginosas são caracterizadas pela interposição de tecido


cartilaginoso, seja fibrocartilagem, cartilagem hialina ou ambas. A seguir, seguem exemplos
deste tipo de articulação.

a) sincondroses: os ossos de uma articulação do tipo sincondrose estão unidos por


uma cartilagem hialina. Muitas sincondroses são articulações temporárias, com a
cartilagem sendo substituída por osso com o passar do tempo (isso ocorre em
ossos longos e entre alguns ossos do crânio). As articulações entre as dez
primeiras costelas e as cartilagens costais são sincondroses permanentes;
b) sínfises: as superfícies articulares dos ossos unidos por sínfises estão cobertas
por uma camada de fibrocartilagem. Entre os ossos da articulação há um disco
fibrocartilaginoso (é característica distintiva da sínfise). Esses discos, por serem
compressíveis, permitem que a sínfise absorva impactos. A articulação entre os
ossos púbicos e a articulação entre os corpos vertebrais são exemplos de sínfises.
Outros exemplos: manúbrio-esternal; intervertebrais; sacrais; púbica; do mento.

 Sinoviais:

As articulações sinoviais são unidas por cartilagem com uma membrana sinovial que
circunda a cavidade articular. Para a obtenção de um desempenho adequado e sem atritos,
a maioria dessas articulações possui um lubrificante denominado líquido sinovial, razão de
seu nome. Ressalta-se que as articulações sinoviais são as mais comuns e proporcionam o
movimento livre entre os ossos que une, caracterizando-se pela presença em quase todas as
articulações dos membros.

Na composição dessas articulações encontra-se a cartilagem articular que reveste


as superfícies articulares dos ossos. A união dos ossos ocorre por meio da cápsula articular e
dos ligamentos. Na cápsula articular é encontrado o líquido sinovial (sinóvia), que ocupa a
cavidade articular e lubrifica a juntura.

Este tipo de articulação também apresenta componentes chamados de acessórios,

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


60

ou seja, não estão presentes em todas as articulações sinoviais. Um deles são os discos e
meniscos, que tem como função reduzir os impactos mecânicos na articulação. Os lábios ou
orlas aumentam a profundidade da cavidade articular, permitindo melhor contato entre as
superfícies que irão se articular.

Bolsas sinoviais são estruturas saculares que contêm líquido similar ao sinovial, e
estão situadas entre a pele e os ossos, tendão e osso, músculo e osso e ligamento e osso,
cuja função é aliviar o atrito em algumas articulações como joelho e ombro. As bainhas dos
tendões são estruturas tubulares que envolvem os tendões nas regiões onde o atrito é
maior, como se pode observar na Figura 15 a seguir.

Figura 15 - Componentes da articulação sinovial

Fonte: Thais Arraes (2016)

5.5.2 Movimentos Articulares

Os principais movimentos articulares serão descritos a seguir e ilustrados pela


Figura 16.

 Flexão:

Movimento no plano sagital, em que dois segmentos do corpo (proximal e distal)


aproximam-se um do outro.

 Extensão:

Movimento no plano sagital, em que dois segmentos do corpo (proximal e distal)


afastam-se um do outro. Quando este movimento ultrapassa a posição anatômica é
chamada de Hiperextensão.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


61

 Abdução:

Movimento no plano frontal, quando um segmento move-se para longe da linha


central (média) do corpo.

 Adução:

Movimento no plano frontal, a partir de uma posição de abdução de volta à posição


anatômica, podendo até ultrapassá-la – Adução além da linha média.

 Circundução:

Movimento circular de um membro que descreve um cone, combinando os


movimentos de flexão, extensão, abdução e adução.

 Rotação externa:

Movimento no plano horizontal, em que a face anterior volta-se para o plano


mediano do corpo.

 Rotação interna:

Movimento no plano horizontal, em que a face anterior volta-se para o plano lateral
do corpo.

Figura 16 - Movimentos articulares

Fonte: Brasil (2003a)

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


62

Para classificar as articulações quanto à funcionalidade, leva-se em consideração se


a movimentação é feita em um, dois ou três eixos, chamados de articulação monoaxial,
biaxial ou triaxial.

 Articulação monoaxial:

Considera-se monoaxial quando uma articulação realiza movimentos apenas em


torno de um eixo (1 grau de liberdade). As articulações que só permitem a flexão e extensão,
como a do cotovelo, são monoaxiais. As principais variações monoaxiais são:

a) gínglimo ou articulação em dobradiça, quando as superfícies articulares


permitem movimento em um só plano. As articulações são mantidas por fortes
ligamentos colaterais. Por exemplo: articulações interfalangeanas e úmero-ulnar;
e,
b) trocoide ou articulação em pivô, quando o movimento é exclusivamente de
rotação. A articulação é formada por um processo em forma de pivô, rodando
dentro de um anel ou um anel sobre um pivô. Por exemplo: articulação rádio-
ulnar proximal e atlanto-axial.

 Articulação biaxial:

Diz-se biaxial, quando uma articulação realiza movimentos em torno de dois eixos
(2 graus de liberdade). As articulações que realizam extensão, flexão, adução e abdução,
como a rádio-cárpica (articulação do punho) são biaxiais. Algumas variações das articulações
biaxiais são:

a) condilar, quando uma superfície articular ovoide ou condilar é recebida em uma


cavidade elíptica, de modo a permitir os movimentos de flexão e extensão,
adução e abdução e circundação, ou seja, todos os movimentos articulares,
menos a rotação axial. Por exemplo: articulação do pulso; e,
b) selar, quando as faces ósseas são reciprocamente côncavo-convexas. Permitem
os mesmos movimentos das articulações condilares. Por exemplo: carpo-
metacárpicas do polegar.

 Articulação triaxial:

Quando uma articulação realiza movimentos em torno de três eixos (3 graus de


liberdade). As articulações, que além de flexão, extensão, abdução e adução, permitem
também a rotação, são ditas triaxiais, cujos exemplos típicos são as articulações do ombro e
do quadril. Há uma variedade onde o movimento é poliaxial, chamada articulação esferoide
ou enartrose, que é uma forma de articulação na qual o osso distal é capaz de movimentar-
se em torno de vários eixos, que tem um centro comum.

Existe ainda outro tipo de articulação chamada articulação plana, que permite
apenas movimentos deslizantes. Exemplos: articulações dos corpos vertebrais e em algumas
articulações do carpo e do tarso.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


63

5.6 Anatomia e Fisiologia do Sistema Muscular

As células musculares, chamadas de fibras musculares, são especializadas em


realizar a contração e o relaxamento. Estas fibras se unem em feixes para formar músculos,
os quais se encontram fixados por suas extremidades. Assim, músculos são estruturas que
movem os segmentos do corpo por encurtamento da distância que existe entre suas
extremidades fixadas, ou seja, por contração. Dentro do aparelho locomotor, os músculos
são elementos ativos do movimento. Porém, a musculatura não assegura só a dinâmica, mas
também a estática do corpo humano, pois mantém unida as peças ósseas determinando a
posição e a postura do esqueleto.

O músculo, constituído por fibras, possui forma alongada. A parte central é


alargada, conhecida como ventre (porção carnosa contrátil) e as extremidades são
afuniladas e se fixam aos ossos ou órgãos por meio de tendões (cordões fibrosos) ou
aponeuroses (lâminas fibrosas). Tanto tendões quanto aponeuroses são esbranquiçados e
brilhantes, muito resistentes, e praticamente inextensíveis, constituídos por tecido
conjuntivo denso, rico em fibras colágenas.

Ainda existe a fáscia muscular, que é uma lâmina de tecido conjuntivo que envolve
cada músculo. Sua espessura pode variar de acordo com a função desempenhada. A função
da fáscia é promover proteção e contenção durante os movimentos de tração, além de
facilitar o deslizamento dos músculos entre si. Cada fibra muscular é uma célula longa e fina,
com vários núcleos e filamentos microscópicos a preencher seu citoplasma. O conjunto de
fibras constitui o feixe muscular e cada músculo possui numerosos feixes. Existem três tipos
de músculos no corpo humano: músculos esqueléticos, músculos lisos e músculo cardíaco.
Cada tipo tem características próprias e desempenha funções distintas.

 Músculos esqueléticos:

São chamados de esqueléticos porque estão ligados aos ossos do esqueleto, como
ilustra a Figura 17. Podem ser denominados de músculos voluntários por serem responsáveis
pelos movimentos voluntários e de estriados, porque apresentam estriações quando vistos
ao microscópio.

Figura 17 - Músculo esquelético

Fonte: Brasil (2003a)

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


64

Estão sob o controle do sistema nervoso central. Áreas específicas do cérebro


enviam suas ordens por meio de estímulos nervosos que seguem pela medula espinhal e
pelos nervos periféricos até chegarem ao músculo, que se contrai ou relaxa dependendo do
tipo de movimento desejado. Todos os movimentos corporais resultam da contração ou
relaxamento dos músculos esqueléticos. Certos movimentos mais complexos envolvem a
ação de vários músculos simultaneamente.

 Músculos lisos:

São chamados de lisos por não apresentarem estriações à microscopia. Estão sob o
controle do sistema nervoso autônomo, o que os caracteriza por músculos involuntários,
visto que sua atividade independe de comando central consciente. A Figura 18 a seguir
apresenta um exemplo de músculo liso.

Figura 18 - Músculo liso

Fonte: Brasil (2003a)

Os músculos lisos são encontrados na parede da maioria dos órgãos tubulares do


organismo, como os do tubo digestivo, aparelho urinário, vasos sanguíneos e brônquios. A
contração e o relaxamento destes músculos alteram o calibre dos órgãos tubulares influindo,
assim, no fluxo de substâncias por meio da sua luz (parte oca do órgão). São responsáveis,
por exemplo, pela vasoconstrição e vasodilatação dos vasos sanguíneos, como também da
motilidade gastrointestinal que promove a progressão do bolo alimentar a partir do tubo
digestivo.

 Músculo cardíaco:

Tipo de músculo especial que possui estriações à microscopia, como ilustra a Figura
19, mas que é involuntário. Está presente apenas no coração. A massa muscular cardíaca
recebe o nome de miocárdio e é responsável pela função de bombeamento do coração.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


65

Figura 19 - Músculo cardíaco

Fonte: Brasil (2003a)

5.6.1 Principais Músculos do Corpo

Os principais músculos do corpo humano são aqueles da face e pescoço, e os


músculos dos membros superiores e inferiores.

 Músculos da face e pescoço:

Os músculos da face, ilustrados pela Figura 20, contraem-se e relaxam-se inúmeras


vezes, o que os permite expressar sensações como sorrir, chorar, espantar-se, sentir dor,
raiva, etc. Cada uma dessas expressões envolve movimentos de diversos músculos faciais,
também conhecidos como mímicos.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


66

Figura 20 - Músculos da face e do pescoço

Fonte: Brasil (2003a)

Os principais músculos da face e do pescoço são: frontal, músculo do supercilio,


orbicular dos olhos, músculo do nariz, bucinador, masseter, orbicular dos lábios, músculo
depressor do lábio inferior e músculos platisma e esternocleidomastoides, conforme
descrito a seguir.

a) frontal: situa-se na testa e forma rugas quando elevado;


b) músculo do supercílio: realiza os movimentos de elevação e aproximação das
sobrancelhas;
c) orbicular dos olhos: localiza-se em torno das pálpebras e realiza os movimentos
de abrir e fechar os olhos;
d) músculo do nariz: responsável pelo movimento de franzir o nariz;
e) bucinador: situa-se na bochecha e atua nos movimentos de inflar e contrair;
f) masseter: localiza-se nos lados da face, movimentando-se durante a mastigação.
g) orbicular dos lábios: situa-se em volta dos lábios e é responsável pelo sopro,
sucção, beijo estalado e assobio;
h) músculo depressor do lábio inferior: atua na projeção do lábio inferior e na
contração do queixo;
i) músculos platisma e esternocleidomastoide: encontrados no pescoço, são
responsáveis pela rotação da cabeça.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


67

 Músculos dos membros superiores:

A Figura 21 a seguir ilustra os músculos dos membros superiores, do tronco e dos


membros inferiores.

Figura 21 - Músculos dos membros superiores, do tronco e dos membros inferiores

Fonte: Brasil (2003a)

Na região do braço localizam-se os músculos com grandes massas, responsáveis


pela força. Os principais são descritos a seguir.

a) deltoide: encontra-se na articulação do ombro e produz a elevação do braço - é


nele que se aplica a injeção intramuscular;

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


68

b) bíceps: localiza-se na parte anterior do braço, sendo responsável pela flexão do


antebraço sobre si mesmo – é bem delineado em pessoas que exercem práticas
esportivas;
c) tríceps: situa-se na parte posterior do braço e afasta o antebraço do bíceps;
d) flexor dos dedos: situa-se na parte anterior do antebraço e promove a flexão dos
dedos;
e) extensor dos dedos: localiza-se na parte posterior do antebraço, sendo
responsável pelo afastamento dos dedos.

 Músculos do tórax:

Os principais são músculos do tórax encontram-se descritos a seguir e ilustrados


pela Figura 21 acima exibida.

a) trapézio: localiza-se na região superior das costas, sendo responsável pela


elevação dos ombros - é nele que se realiza a massagem de conforto;
b) grande dorsal: situa-se na região inferior das costas, tendo como função principal
levar o braço para trás;
c) peitoral maior: como o nome indica, localiza-se no peito, permitindo o
movimento do braço para a frente;
d) grande denteado: situa-se na parte lateral do tórax, promovendo a elevação das
costelas, ajudando, dessa forma, o processo de respiração.

 Músculos do abdome:

A seguir descrevem-se os principais são músculos do tórax ilustrados pela Figura 21


exibida anteriormente.

a) reto abdominal: localiza-se na frente do abdome ou barriga, sendo responsável


por dobrar o tórax sobre o abdome, ajudando na inspiração (entrada de ar no
organismo) forçada;
b) oblíquo externo: situa-se nos lados do abdome. Atua comprimindo as vísceras e
inclinando o tórax para frente;
c) diafragma: separa o tórax do abdome e ajuda na inspiração. A musculatura
abdominal é também responsável pela sustentação do peso e pressão dos
órgãos viscerais.

 Músculos dos membros inferiores:

Por fim, apresentam-se os músculos dos membros inferiores já ilustrados na Figura


21 exibida acima.

a) grande glúteo ou glúteo superior: localiza-se nas nádegas e permite a extensão


da coxa;
b) quadríceps: situa-se na parte anterior da coxa, sendo responsável pela extensão
da perna;

Módulo 1 Técnico em Farmácia


69

c) costureiro: é o músculo mais longo do corpo. Inicia-se no quadril, cruza a coxa e


termina na lateral interna do joelho. Sua função é aproximar a coxa do abdome;
d) bíceps crural ou femoral: localiza-se na face posterior da coxa, permitindo o
movimento de flexão das pernas;
e) gêmeos ou gastrocnêmicos: situam-se na face posterior da perna (“batata” da
perna) e são responsáveis pela extensão dos pés. Por sua vez, os pés apresentam
movimentos de extensão, flexão e rotação – possíveis devido à utilização dos
músculos extensores e flexores neles inseridos por meio dos tendões, conforme
ilustra a Figura 22 a seguir.

Figura 22 - Músculos do pé

Fonte: Brasil (2003a)

5.7 Anatomia e Fisiologia do Sistema Tegumentar

Como preconizado em Brasil (2003a), a pele reveste todo o corpo humano,


exercendo funções indispensáveis para a manutenção da vida, tais como a manutenção da
temperatura corporal, a proteção contra agressões físicas, químicas e biológicas, a captação
de sensações e a participação da síntese de vitamina D, pela utilização dos raios solares.

A pele é composta pela mucosa, que é nome dado ao tegumento que reveste
internamente as cavidades como, por exemplo, a mucosa oral. A coloração da pele depende
da espessura (quanto mais espessa mais amarela), do grau de irrigação sanguínea (o que a
torna mais ou menos rosada), da presença de melanina (um pigmento que escurece a pele) e
da absorção do caroteno (responsável pela tonalidade amarela). Quanto maior a quantidade
de melanina existente, mais intensa será a cor.

5.7.1 As Camadas da Pele

De acordo com Brasil (2003a), a pele é formada por três camadas: a epiderme, a
derme e a hipoderme ou tecido celular subcutâneo, conforme descrito a seguir.
TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1
70

 Epiderme:

Formada por cinco camadas, a epiderme tem a camada córnea, a quinta delas,
como sendo a mais rica em queratina. Esta compõe as palmas das mãos e das plantas dos
pés. A camada responsável pelo surgimento das células epiteliais é a aquela mais interna,
que se situa acima da derme. É chamada de germinativa ou basal. À medida que as células
vão surgindo na camada basal, as outras vão amadurecendo e sendo empurradas para a as
camadas superiores por aquelas mais jovens, sofrendo um processo de queratinização que
as torna mais resistentes e impermeáveis, até que se depositem na camada superior da
epiderme, momento em que estarão mortas e serão eliminadas por um processo chamado
de descamação.

A melanina, que é responsável pela coloração da pele, também está localizada


nesta camada. Nas pessoas da raça negra a melanina exerce maior concentração. A
epiderme é responsável pela impermeabilidade da pele, e isto dificulta a evaporação da
água pela superfície do corpo.

 Derme:

Ainda conforme Brasil (2003a), a derme está localizada logo abaixo da epiderme.
Trata-se de um tipo de tecido conjuntivo que também possui fibras elásticas. Esta é uma
camada bem vascularizada, onde se encontram as terminações nervosas, os vasos linfáticos,
as glândulas sebáceas e alguns folículos pilosos. Na derme se desenvolvem as defesas contra
os agentes nocivos foram capazes de vencer a primeira camada, que é a epiderme.

Nesta camada, que é bem vascularizada, encontram-se as terminações nervosas,


vasos linfáticos, glândulas sebáceas e alguns folículos pilosos. Nela se desenvolvem as
defesas contra agentes nocivos que tenham vencido a primeira barreira, ou seja, a
epiderme. A maioria dos testes cutâneos é realizada na derme, bem como a administração
de vacinas, tais como a BCG. A derme mantém a pele em constante tensão elástica e forma
impressão digital pela projeção das papilas dérmicas para a epiderme, em formato de
cristas, separadas por sulcos.

 Hipoderme:

O tecido celular subcutâneo ou hipoderme encontra-se logo abaixo da derme.


Trata-se de um tecido conjuntivo, gorduroso, que representa uma importante reserva
calórica para o organismo. Além disso, em algumas partes do corpo funciona como um
coxim (uma espécie de almofada), chamado de panículo adiposo.

Na hipoderme encontram-se os excessos de gordura. Em contrapartida, o panículo


adiposo protege contra o fio. Distribui-se por toda a superfície do corpo e varia de acordo
com a idade, sexo, estado nutricional e taxa de hormônios. A hipoderme é mais
vascularizada que a derme, e, neste sentido, é capaz de absorver mais rapidamente as
substâncias nela injetadas. Por esta razão é que recebe a administração de determinadas
medicações, tais como a insulina, no caso de pacientes diabéticos (BRASIL, 2003a).

Módulo 1 Técnico em Farmácia


71

5.7.2 Os Anexos da Pele

Os anexos da pele são: os pelos, glândulas sebáceas, glândulas sudoríparas e unhas,


conforme se pode observar na Figura 23 a seguir.

Figura 23 - Camadas e anexos da pele

Fonte: Brasil (2003a)

 Pelos:

Constituídos por células queratinizadas produzidas por folículos pilosos, os pelos se


localizam na derme ou hipoderme, onde se abrem as glândulas sebáceas. Um pelo é
composto pela raiz, que é a parte implantada na pele, e pela haste, que é a porção que se
projeta da superfície.

A função principal dos pelos é proteger as áreas de orifícios e olhos, pois possui rica
inervação que lhes confere, também, o papel de aparelho sensorial cutâneo. Os tamanhos, a
cor e a disposição dos pelos variam de acordo com a raça e com a região do corpo. Exceto
por algumas regiões delimitadas, os pelos estão presentes em quase toda a superfície da
pele.

 Glândulas sebáceas:

Aos órgãos glandulares, pequenos e saculiformes, que se encontram presentes em


quase toda a pele, abundantemente no couro cabeludo e na face, dá-se o nome de glândulas
sebáceas. Elas se formam junto aos pelos.

Nas regiões como o lábio, a glande e os pequenos lábios da vagina, os ductos das
glândulas sebáceas se abrem diretamente na pele. Sua função é promover a secreção de
gorduras que lubrificam e protegem a superfície da pele, exceto nas palmas das mãos e nas
plantas dos pés, de acordo com estudos publicados em Brasil (2003a).

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


72

 Glândulas sudoríparas:

São encontradas em toda a pele, exceto em certas regiões, como a glande. As


glândulas sudoríparas têm como função secretar o suor – solução extremamente diluída,
que contém pouquíssima proteína -, além do sódio, potássio, cloreto, da amônia e do ácido
úrico. São mais numerosas nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, pois se abrem
diretamente na superfície cutânea. Uma vez atingindo a pele, o suor evapora, causando a
diminuição da temperatura corporal. Daí o seu importante papel no controle da
temperatura do corpo.

As glândulas sudoríparas também exercem função excretora, visto que se observa a


presença de catabólitos no suor. Uma vez desembocam nos folículos pilosos, são chamadas
de glândulas sudoríparas apócrinas, localizando-se nas regiões axilares, perianal e pubiana.
São estimuladas pela tensão emocional e sua secreção é ligeiramente viscosa e sem cheiro,
porém, com a ação das bactérias da pele, o odor passa a ser desagradável.

 Unhas:

As unhas recobrem a última falange dos dedos. São formadas por queratina dura e
fixadas sobre a epiderme nos denominados leitos ungueais. As unhas crescem apenas em
uma direção, longitudinalmente. Protegem as pontas dos dedos, o que evita traumatismos, e
possuem em seu contorno uma espécie de selo denominado cutícula, que impede a entrada
de agentes infecciosos, tais como bactérias.

5.7.3 Terminações Nervosas

De acordo com Vilela (2003), toda a superfície cutânea é provida de terminações


nervosas capazes de captar estímulos térmicos, mecânicos ou dolorosos. Tais terminações
nervosas, ou receptores cutâneos, são especializadas na recepção de estímulos específicos.
Além disso, alguns podem captar estímulos de natureza distinta. Entretanto, na epiderme
não existem vasos sanguíneos. Os nutrientes e oxigênio chegam à epiderme por difusão, a
partir de vasos sanguíneos da derme.

Nas regiões da pele providas de pelo, há terminações nervosas específicas nos


folículos capilares e outras, que são chamadas terminais ou receptores de Ruffini. As
primeiras, formadas por axônios que envolvem o folículo piloso, captam as forças mecânicas
aplicadas contra o pelo. Os terminais de Ruffini, com sua forma ramificada, são receptores
térmicos de calor, conforme Vilela (2003).

Na pele desprovida de pelo, e também naquela coberta por ele, encontram-se,


ainda, três tipos de receptores comuns: os corpúsculos de Paccini, os discos de Merkel e as
terminações nervosas livres, como ilustra a Figura 24 abaixo.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


73

Figura 24 - Receptores de pele

Fonte: Bear; Connors; Paradiso (2002 apud VILELA, 2003)

 Corpúsculos de Paccini:

Os corpúsculos de Paccini captam em especial os estímulos vibráteis e táteis. São


formados por uma fibra nervosa cuja porção terminal é recoberta por várias camadas que
correspondem a diversas células de sustentação, de acordo com Vilela (2003). A camada
terminal é capaz de captar a aplicação de pressão, que é transmitida para as outras camadas
e enviada aos centros nervosos correspondentes.

 Discos de Merkel:

Os discos de Merkel possuem sensibilidade tátil e de pressão. Uma fibra aferente


costuma estar ramificada com vários discos terminais destas ramificações nervosas. Estes
discos englobam uma célula especializada, cuja superfície distal se fixa às células
epidérmicas por um prolongamento de seu protoplasma. Assim, os movimentos de pressão
e tração sobre epiderme desencadeiam o estímulo.

 Terminações nervosas livres:

No caso das terminações nervosas livres, estas são sensíveis aos estímulos
mecânicos, térmicos, em especial aos dolorosos. São formadas por um axônio ramificado,
que é envolto por células de Schwann, sendo, por sua vez, ambos envolvidos por uma
membrana basal.

Na pele sem pelo, encontram-se, ainda, outros receptores específicos, descritos a


seguir.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


74

 Corpúsculos de Meissner:

Os corpúsculos de Meissner são táteis e se encontram nas saliências da pele sem


pelos, como nas partes mais altas das impressões digitais, por exemplo. São formados por
um axônio mielínico, cujas ramificações terminais se entrelaçam com células acessórias.

 Bulbos terminais de Krause:

Estes bulbos são receptores térmicos de frio. São formados por uma fibra nervosa,
cuja terminação possui forma de clava. Estão situados nas regiões limítrofes da pele com as
membranas mucosas, ao redor dos lábios e dos genitais, por exemplo.

Para o profissional de saúde, a pele deve ser objeto de atenção especial, pois sua
coloração, textura e aparência podem ser indicativos de alterações no organismo. Por outro
lado, os cuidados básicos de higiene e hidratação são essenciais para a manutenção da
saúde de uma forma geral.

5.8 Anatomia e Fisiologia do Sistema Respiratório

De acordo com Pires (2012), a respiração é uma das características básicas dos seres
vivos. Consiste na absorção, pelo organismo, de oxigênio, e a eliminação do gás carbônico
resultante de oxidações celulares, enquanto que sangue é um elemento intermediário entre
as células do organismo e o meio, servindo como condutor de gases entre eles. O pulmão é o
órgão respiratório por excelência, embora, para facilitar a condução do ar, se desenvolvam
órgãos especiais que promovem o rápido intercâmbio entre o ar e o sangue. O sistema
respiratório é constituído por este conjunto de órgãos.

5.8.1 Divisão Anatômica do Sistema Respiratório

Anatomicamente, o sistema respiratório pode ser dividido em duas partes: vias


aéreas superiores e vias aéreas inferiores. As vias aéreas superiores são constituídas por
órgãos tubulares, cuja principal função é a de conduzir o ar inspirado, filtrando-o,
aquecendo-o e umidificando-o para facilitar o processo de troca gasosa, bem como conduzir
o ar a ser expirado, eliminando, assim, o dióxido de carbono. Das vias aéreas superiores,
fazem parte: o nariz, a cavidade nasal, a faringe, a laringe e os terços, superior e médio, da
traqueia. Além de condutores de ar, a cavidade nasal, a faringe e a laringe cumprem as
funções olfatórias, de via de condução de alimento e de fonação, respectivamente (PIRES,
2012).

As vias aéreas inferiores têm início a partir do terço inferior da traqueia, e se


estendem até os alvéolos pulmonares, passando por brônquios principais, lobares e
segmentares e bronquíolos terminais, respiratórios e ductos alveolares.

5.8.2 Divisão Funcional do Sistema Respiratório

Funcionalmente, o sistema respiratório também pode ser dividido em duas partes:

Módulo 1 Técnico em Farmácia


75

Zona condutora e Zona respiratória. A primeira é a porção do sistema respiratório, cuja


função é a de levar o ar inspirado até a porção respiratória. Estende-se desde o nariz até os
bronquíolos terminais. A zona respiratória é constituída pelos bronquíolos respiratórios,
ductos alveolares e alvéolos pulmonares, onde já acontecem as trocas gasosas (hematose).

 Boca e nariz:

A boca participa do sistema respiratório, dado que tem a necessidade de liberar o ar


interno durante a fala, enquanto que o nariz é o órgão que comunica o meio externo ao
interno. As fossas nasais iniciam-se nas narinas e se estendem até a faringe, dividindo-se por
uma parede cartilaginosa chamada septo nasal. A inspiração (condução do ar para dentro)
filtra as impurezas do ar, possibilitando que este chegue mais limpo aos pulmões. É um
processo que ocorre porque no interior das fossas nasais encontram-se os pelos e o muco
(secreção da mucosa nasal), cuja função é reter substâncias do ar, manter a umidade da
mucosa e aquecer o ar, facilitando o desempenho dos outros órgãos, conforme ilustra a
Figura 25 a seguir.

Figura 25- Cavidade nasal e bucal

Fonte: Netter (2000 apud DANTAS, 2011)

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


76

 Faringe:

A faringe, como ilustra a Figura 26, é um tubo muscular associado a dois sistemas,
respiratório e digestório, situando-se posteriormente à cavidade nasal, cavidade da boca e à
laringe, o que faz com que ela seja dividida em três partes: parte nasal, também chamada
nasofaringe, parte oral ou orofaringe e parte laríngea ou laringofaringe.

Figura 26 - Partes da faringe

Fonte: Brasil (2003a)

Na parede lateral nasofaringe existe uma comunicação deste tubo com a orelha
média, chamada óstio faríngeo da tuba auditiva, que na sua extremidade medial é revestida
por uma cartilagem chamada torus tubário, que visa minimizar a entrada de corpos
estranhos no pavilhão auditivo.

Nesta região, também se pode encontrar uma estrutura anatômica cuja função é a
de proteção chamada tonsila faríngea, que após episódios repetitivos de inflamações se
hipertrofia, aumentando de tamanho e dificultando a passagem do ar e sendo chamada,
neste momento, de adenoide (carne esponjosa).

 Laringe:

A laringe é um órgão tubular, situado no plano mediano e anterior do pescoço.


Além de via aérea, é também um órgão da fonação, ou seja, é responsável pela produção do
som. Situa-se anteriormente à faringe e é continuada diretamente pela traqueia.

O esqueleto da laringe é cartilaginoso, possuindo as cartilagens cricoidea, tireoidea,


aritenoidea e epliglótea. A tireoidea, a maior delas, é constituída de duas lâminas que se
unem anteriormente para formar a proeminência laríngea. A cartilagem cricoidea é impar,
tem forma de anel, limitando inferiormente a laringe, enquanto que a cartilagem aritenoidea
é par e posterior, apresentando-se na forma piramidal e articulando-se inferiormente com a
cartilagem cricoidea. A cartilagem epiglótica, ímpar e mediana, é uma cartilagem
importante, pois impede a passagem de líquidos e sólidos para as vias respiratórias. As

Módulo 1 Técnico em Farmácia


77

cartilagens cuneiformes e corniculadas completam o esqueleto da laringe, como se pode


observar na Figura 27 a seguir.

Figura 27 - Laringe (vista anterior e posterior)

Fonte: Netter (2000 apud DANTAS, 2011)

Na anatomia interna da laringe, como ilustra a Figura 28, se pode observar a


presença de uma fenda anteroposterior, que leva a uma pequena invaginação, o ventrículo
da laringe, que é limitado superiormente pela prega vestibular e inferiormente pela prega
vocal.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


78

Figura 28 - Anatomia interna da laringe

Fonte: Brasil (2003a)

O espaço que vai do adito da laringe (abertura da laringe) até a prega vestibular é
chamado de vestíbulo da laringe, já o espaço aéreo compreendido entre as pregas
vestibular e vocal é conhecido como glote. As pregas vocais são constituídas pelo ligamento
e músculos vocais, e o espaço existente entre elas é denominado rima glótica. As pregas
vestibulares possuem função protetora.

 Traqueia:

A traqueia inicia na região cervical, situada anteriormente ao esôfago, localizada no


mediastino superior. Como se pode observar na Figura 29, trata-se de estrutura mediana
composta anteriormente por anéis cartilaginosos unidos entre si por ligamentos anulares,
visndo impedir um possível colapso do tubo aéreo. A parte posterior da traqueia possui uma
parede membranácea constituída principalmente por músculo liso e por tecido fibroelástico.
A traqueia bifurca-se, dando origem aos brônquios principais direito e esquerdo. O local da
bifurcação da traqueia chama-se carina.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


79

Figura 29 - Traqueia

Fonte: Brasil (2003a)

 Brônquios e bronquíolos:

De acordo com Dantas (2011), existem dois brônquios principais, o esquerdo e o


direito. Os principais fazem a ligação da traqueia com os pulmões. A traqueia e os brônquios
extrapulmonares são constituídos de anéis incompletos de cartilagem hialina, tecido fibroso,
fibras musculares, mucosa e glândulas. Os brônquios e bronquíolos são ilustrados pela Figura
30 a seguir.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


80

Figura 30 - Brônquios e bronquíolos

Fonte: Netter (2000 apud DANTAS, 2001)

O autor afirma ainda que o brônquio principal esquerdo é mais longo, mais
horizontalizado e tem menor calibre do que o direito, enquanto que o brônquio principal
direito é quase a continuação da direção da traqueia e, portanto, é mais vertical, mais
calibroso e também mais curto. Por esta razão, corpos estranhos que passam pela traqueia
penetram no brônquio principal direito mais facilmente.

Os brônquios principais entram nos pulmões na região chamada hilo. Ao atingirem


os pulmões correspondentes, os brônquios principais subdividem-se nos brônquios lobares.
Os brônquios lobares são tubos aéreos que apresentam as mesmas características
morfológicas que os brônquios principais tendo como função ventilar os lobos pulmonares.
O pulmão direito possui três lobos e, consequentemente, três brônquios lobares, o superior,
o médio e o inferior, enquanto que o pulmão esquerdo possui apenas dois lobos, que são
ventilados por dois brônquios lobares, o superior e o inferior.

Os brônquios lobares subdividem-se em brônquios segmentares, cada um destes


distribuindo-se a um segmento pulmonar. Sua função é ventilar os segmentos
broncopulmonares. São nomeados de acordo com o respectivo segmento broncopulmonar
em que atuam. Os brônquios dividem-se, respectivamente, em tubos cada vez menores
denominados bronquíolos. As paredes dos bronquíolos contêm músculo liso e não possuem
cartilagem. Os bronquíolos se ramificam repetidamente em tubos ainda menores, chamados
de bronquíolos terminais. É neste tubo aéreo que termina a chamada zona condutora do
sistema respiratório.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


81

 Bronquíolos respiratórios:

Os bronquíolos respiratórios são tubos aéreos que já apresentam nas suas paredes
a presença de alvéolos, portanto, onde ocorrem, a esta altura, as trocas gasosas (hematose).
Os bronquíolos respiratórios, por sua vez, se subdividem em diversos ductos alveolares. Da
traqueia até chegar aos ductos alveolares, o ar passa por cerca de vinte e cinco divisões.

 Alvéolos:

Em torno da circunferência dos ductos alveolares encontram-se numerosos alvéolos


e sacos alveolares. O alvéolo, conforme ilustrado pela Figura 31 a seguir, é uma invaginação
caliciforme, revestida por epitélio escamoso simples e sustentada por uma fina membrana
basilar elástica. Sacos alveolares são dois ou mais alvéolos que compartilham uma abertura
comum.

Figura 31 - Alvéolos

Fonte: Brasil (2003a)

 Pulmões:

Ilustrado pela Figura 32, apresenta-se a seguir o pulmão. Trata-se de um órgão


duplo e elástico, localizado no interior da caixa torácica. O pulmão direito é composto por
três partes, denominadas lobo superior, lobo médio e inferior, enquanto que o pulmão
esquerdo possui apenas dois lobos: o superior e o inferior. Estão suspensos dentro da
cavidade torácica por alguns ligamentos e pelos hilos, que contêm seus vasos e brônquios e
os ligam às estruturas do mediastino (BRASIL, 2003a).

Sustentados pelo diafragma, os pulmões são recobertos por uma fina membrana
denominada pleura, responsável por sua proteção na caixa torácica. A pleura que reveste os
pulmões é chamada de pleura visceral, e aquela que reveste a cavidade torácica é chamada
de pleura parietal. Entre uma e outra existe um espaço potencial chamado de espaço
pleural. Diz-se potencial porque as duas superfícies da pleura estão praticamente em
contato uma com a outra, separadas apenas por uma delgada camada de líquido.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


82

Figura 32 - Pulmão

Fonte: Brasil (2003a)

5.8.3 Fisiologia do Sistema Respiratório

A respiração é o processo biológico por meio do qual ocorre a troca de oxigênio e


gás carbônico entre a atmosfera e as células do organismo. Possui dois componentes: a
ventilação, que é o processo mecânico a partir do qual o ar, rico em oxigênio, entra pelas
vias áreas até os pulmões e o ar rico em dióxido de carbono segue o caminho inverso; e a
perfusão, que consiste na passagem do sangue por meio dos capilares pulmonares. Estes
estão em íntimo contato com os alvéolos pulmonares e, consequentemente, com o ar
alveolar. O sangue venoso chega aos capilares pulmonares, libera dióxido de carbono e
capta oxigênio do ar alveolar, e se transforma em sangue arterial rico em oxigênio. Esta
troca de dióxido de carbono por oxigênio nos pulmões é chamada de hematose.

De acordo com Brasil (2003a), a ventilação pulmomar é dividida em duas fases: a


inspiração e a expiração. Durante a inspiração, o diafragma e os músculos intercostais se
contraem fazendo com que o diafragma se rebaixe e se retifique e a caixa torácica aumente
de volume. Com o aumento de volume da caixa torácica, ocorre uma queda da pressão
intratorácica para abaixo do nível da pressão atmosférica, fazendo com que ocorra fluxo de
ar para dentro das vias aéreas e pulmões, até que se equilibre este gradiente de pressão.

Durante a expiração, o diafragma e os músculos intercostais relaxam fazendo com


que o diafragma se eleve e as costelas retomem a sua posição original. Com isso, o volume
da caixa torácica diminui, e o ar é forçado para fora do pulmão e das vias aéreas. A
inspiração é um ato ativo que requer contração muscular, enquanto a expiração é um ato
passivo.

Este mecanismo de ventilação é automático e realizado a uma frequência de 12 a


20 movimentos por minuto por um adulto em repouso. A esta frequência dá-se o nome de
respiratória. Chama-se de taquipneia a frequência respiratória acima dos limites normais, e
de bradipneia abaixo dos limites normais. A ausência de movimentos respiratórios é
chamada de apneia. A frequência respiratória é normalmente maior nas crianças. A
frequência respiratória pode se elevar pelo exercício, por alterações emocionais, pela febre,

Módulo 1 Técnico em Farmácia


83

devido à dor e por outras condições.

5.9 Anatomia e Fisiologia do Sistema Digestório

De acordo com Brasil (2003a), os alimentos só podem ser absorvidos pelo


organismo uma vez sofram modificações químicas que possibilitem sua absorção pela
corrente circulatória. O aparelho digestivo processa estes alimentos, produzindo substâncias
em uma forma que possa ser absorvida e aproveitada pelas células. A este processo dá-se o
nome de digestão. Os nutrientes não absorvidos são eliminados sob a forma de fezes.

Na digestão, as grandes moléculas orgânicas presentes nos alimentos, como


proteínas, carboidratos, lipídios, entre outros, são quebradas em moléculas menores pela
ação de enzimas digestivas, num processo chamado de catabolismo. Estas enzimas diferem
entre si pela substância que irão digerir (substrato), locais de atuação ao longo do tubo
digestivo e condições de acidez (pH) ideais para seu funcionamento.

5.9.1 Composição do Tubo Digestivo

O tubo digestivo, ilustrado pela Figura 33, é constituído pela boca, faringe, esôfago,
estômago, intestino delgado, intestino grosso, ampola retal ou reto e ânus, e por órgãos
auxiliares da digestão denominados órgãos anexos: o pâncreas, a vesícula biliar e o fígado.

Figura 33 - Tubo digestivo

Fonte: Brasil (2003a)

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


84

Os órgãos digestivos são revestidos por células epiteliais, cuja função é fabricar o
muco que permite o deslizamento do bolo alimentar e secretar as enzimas que irão quebrar
as grandes moléculas.

A abertura pela qual o alimento entra no tubo digestivo é a boca, como ilustra a
Figura 34. A boca é constituída por: rima bucal, que é uma fissura que comunica a boca com
o meio externo anteriormente; istmo das fauces (localizado na orofaringe), abertura que
delimita a boca posteriormente; o vestíbulo da boca, que é o espaço limitado por um lado
pelos lábios e bochechas e por outro pelas gengivas e dentes; língua; palato duro (céu da
boca); palato mole (região onde se situa a úvula ou “campainha” da garganta); e três pares
de glândulas: as parótidas, as submandibulares e as sublinguais, que são responsáveis pela
liberação da saliva, denominadas glândulas salivares maiores, porque além delas existem
pequenas glândulas salivares esparsas. Estas glândulas secretam cerca de um litro e meio de
saliva diariamente – a qual é basicamente composta por água, o que auxilia a diluir o bolo
alimentar, e enzimas.

Figura 34 - Boca

Fonte: Brasil (2003a)

O alimento é triturado pelos dentes com o auxílio da língua e posteriormente


empurrado em direção à faringe, num processo denominado de deglutição. Ainda na boca,
além da trituração, o alimento começa a sofrer a atuação de uma enzima liberada pelas
glândulas salivares, chamadas amilase salivar ou ptialina, que tem a função de começar a
digerir o amido e os carboidratos do bolo alimentar. O sistema nervoso autônomo controla
as glândulas salivares, no entanto, fatores químico-físicos e psíquicos podem interferir em
sua secreção.

Como ilustra a Figura 35 a seguir, os dentes são estruturas duras, calcificadas,


presas ao maxilar superior e mandíbula, tendo a mastigação como atividade principal.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


85

Figura 35 - Estrutura dos dentes

Fonte: Brasil (2003a)

Os dentes estão implicados, de forma direta, na articulação das linguagens. Os


nervos sensitivos e os vasos sanguíneos do centro de qualquer dente estão protegidos por
várias camadas de tecido. A mais externa, o esmalte, é a substância mais dura. Sob o
esmalte, circulando a polpa, da coroa até a raiz, situa-se uma camada de substância óssea
chamada dentina. A cavidade pulpar é ocupada pela polpa dental, que é um tecido
conjuntivo frouxo, ricamente vascularizado e inervado.

O que separa a raiz do ligamento peridental é um tecido duro, chamado cemento,


que na estrutura e composição química se assemelha ao osso. Dispõe-se como uma camada
fina sobre as raízes dos dentes. Por meio de um orifício aberto na extremidade da raiz
penetram os vasos sanguíneos, os nervos e o tecido conjuntivo.

A glândula parótida está situada lateralmente na face, anterior ao pavilhão


auricular. O ducto parotídico, que é seu canal excretor, se abre no vestíbulo da boca ao nível
do segundo molar superior. A glândula submandibular está situada anteriormente à parte
mais inferior da parótida. Seu ducto submandibular se abre no assoalho da boca, abaixo da
língua. A glândula sublingual está situada lateralmente e inferiormente à língua.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


86

Figura 36 - A língua

Fonte: Brasil (2003a)

A Figura 36 acima ilustra a língua. Esta exerce importantes funções na mastigação,


na deglutição, como órgão gustativo e na articulação das palavras. A língua é dividida em
duas porções: o corpo, parte anterior, e a raiz, parte posterior. Esta divisão é feita pelo sulco
terminal. Na mucosa que reveste a língua é possível identificar uma série de projeções, as
papilas linguais, que são de vários tipos. As maiores são denominadas papilas valadas que se
localizam nos receptores gustativos (BRASIL, 2003a).

Na superfície da língua existem dezenas de papilas gustativas, cujas células


sensoriais percebem os quatro sabores primários: amargo, azedo ou ácido, salgado e doce.
Durante a deglutição, o alimento passa por uma válvula denominada epiglote – responsável,
a partir de mecanismos reflexos, pelo fechamento da laringe, impedindo, desse modo, que o
bolo alimentar penetre nas vias aéreas. Posteriormente, passará pela faringe, situada no
final da cavidade bucal, é um canal comum aos sistemas digestório e respiratório.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


87

Figura 37 - O esôfago

Fonte: Brasil (2003a)

O esôfago, ilustrado pela Figura 37 acima, é o canal que liga a faringe ao estômago.
Localiza-se entre os pulmões, atrás do coração, e atravessa o músculo diafragma, que separa
o tórax do abdômen. Possui três porções: cervical, torácica e abdominal. A porção torácica é
a maior delas e situa-se ventralmente a coluna vertebral e dorsalmente a traqueia. O bolo
alimentar leva de 5 a 10 segundos para percorrê-lo. Esse transporte se dá por meio dos
movimentos peristálticos (inclusão e reorganização de conteúdo).

Ao se dirigir ao estômago o alimento ainda passa por outra válvula denominada


cárdia, cuja função é impedir o refluxo do bolo alimentar para o esôfago. Em crianças recém-
nascidas, cuja cárdia ainda não está bem formada, o refluxo é frequente (BRASIL, 2003a).

Figura 38 - O estômago

Fonte: Brasil (2003a)

O estômago, conforme ilustra a Figura 38, é um órgão que digere os alimentos e


secreta hormônios. Tem como principal função continuar a digestão dos hidratos de
carbono, iniciada na boca, e transformar os alimentos ingeridos, mediante contração
muscular, em uma massa semilíquida e altamente ácida, de nome quimo.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


88

O estômago divide-se em: fundo, que é uma região superior que se projeta para o
diafragma; corpo, a sua maior parte; antro pilórico, que é a parte final que se comunica com
o duodeno e que se abre e fecha alternadamente, liberando pequenas quantidades de
quimo para intestino delgado. O estômago possui dois esfíncteres, sendo o superior a cárdia,
que se comunica com o esôfago; e o inferior, que é o piloro, é a parte que se comunica com
o duodeno e que se abre e fecha alternadamente, liberando pequenas quantidades de
quimo para intestino delgado.

Como exposto em Brasil (2003a), no estômago, o bolo alimentar sofre a ação de


uma secreção estomacal denominada suco gástrico, rica em ácido clorídrico e em duas
enzimas, a pepsina e a renina, secretadas pela mucosa estomacal. Uma vez que passa pelo
estômago, o alimento alcança o intestino delgado, um tubo com pouco mais de 6m de
comprimento por 4cm de diâmetro, e que é dividido em três regiões: duodeno se inicia no
óstio pilórico e termina na flexura duodeno jejunal; Jejuno e Íleo (cerca de 1,5cm).

O duodeno é a primeira porção do intestino delgado, que se inicia no óstio pilórico


e termina na flexura duodeno jejunal. Ele recebe este nome por ter seu comprimento
aproximadamente igual à largura de doze dedos (25cm). É a única porção do intestino
delgado que é fixa. Não possui mesentério. Jejuno é a parte do intestino delgado que faz
continuação ao duodeno, recebe este nome porque sempre que é aberto se apresenta vazio.
É mais largo (aproximadamente 5cm), sua parede é mais espessa, mais vascular e de cor
mais forte que o íleo. Este é o último segmento do intestino delgado que faz continuação ao
jejuno. Recebe este nome por possuir relação anatômica com o osso ilíaco. É mais estreito e
suas túnicas são mais finas e menos vascularizadas que o jejuno. Distalmente, o íleo
desemboca no intestino grosso, num orifício que recebe o nome de óstio ileocecal. Juntos, o
jejuno e o íleo medem 6 a 7 metros de comprimento. A maior parte do jejuno situa-se no
quadrante superior esquerdo, enquanto a maior parte do íleo situa-se no quadrante inferior
direito. O jejuno e o íleo, ao contrário do duodeno, são móveis.

A superfície do intestino delgado é coberta por projeções em forma de dedo com


0.5 a 1.5mm, chamadas vilosidades que, por sua vez, são cobertas por microscópicas
microvilosidades. A função desta estrutura é aumentar enormemente a superfície de
absorção do Intestino Delgado. A digestão do quimo ocorre predominantemente no
duodeno e nas primeiras porções do jejuno. É nele que desembocam os ductos colédocos
(traz a bile) e o pancreático (traz a secreção pancreática).

No duodeno, ilustrado pela Figura 39 a seguir, o bolo alimentar é neutralizado pelo


bicarbonato de cálcio liberado pela mucosa intestinal, induzido por um hormônio
denominado secretina; nesse momento, já neutralizada sua acidez, o bolo alimentar recebe
o nome de quilo. Posteriormente, o quilo sofrerá a ação do suco entérico, liberado por
milhares de glândulas existentes na mucosa intestinal, que contêm as enzimas
enteroquinases, cuja função é ativar a tripsina (uma enzima pancreática), e peptidases, que
atuam na digestão dos peptídeos.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


89

Figura 39 - Duodeno

Fonte: Brasil (2003a)

Produzido no pâncreas, o suco pancreático é levado até o duodeno pelo canal


colédoco. Nele, encontram-se as enzimas tripsina e quimiotripsina, que irão digerir as
proteínas; a lipase pancreática, que digere lipídios; e a amilase pancreática, que continuará a
digerir o amido não digerido na boca pela ptialina. É também no duodeno que o bolo
alimentar receberá a ação da bile. Produzida no fígado e armazenada na vesícula biliar, a bile
não é uma enzima, mas sais que irão emulsificar, ou seja, quebrar, moléculas grandes de
gordura em moléculas menores, possibilitando, assim, a ação da lipase.

Figura 40 - Intestino grosso

Fonte: Brasil (2003a)

O intestino grosso, ilustrado pela Figura 40 acima, pode ser comparado com uma
ferradura, aberta para baixo. Mede cerca de 6,5cm de diâmetro e 1,5m de comprimento. Ele
se estende do íleo até o ânus e está fixo à parede posterior do abdômen pelo mesecolo. O
intestino grosso absorve a água com tanta rapidez que, em cerca de 14 horas, o material

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


90

alimentar toma a consistência típica do bolo fecal. Este apresenta algumas diferenças em
relação ao intestino delgado: o calibre, as tênias, os haustros e os apêndices epiploicos. O
intestino grosso é mais calibroso que o intestino delgado, por isso recebe o nome de grosso.
O calibre vai gradativamente afinando, conforme vai chegando ao canal anal.

A tênias do cólon (fitas longitudinais) são três faixas de aproximadamente 1cm de


largura, que percorrem o intestino grosso em toda sua extensão. São mais evidentes no ceco
e no cólon ascendente. Os haustros do cólon (saculações) são abaulamentos ampulares
separados por sulcos transversais. Os apêndices epiploicos são pequenos pingentes
amarelados constituídos por tecido conjuntivo rico em gordura. Aparecem principalmente
no cólon sigmoide.

O intestino grosso é dividido em 4 partes principais: ceco (cecum), cólon


(ascendente, transverso, descendente e sigmoide), reto e ânus. A primeira parte é o ceco,
que é o segmento de maior calibre, que se comunica com o íleo. Para impedir o refluxo do
material proveniente do intestino delgado, existe uma válvula localizada na junção do íleo
com o ceco - válvula ileocecal (iliocólica). No fundo do ceco, encontra-se o Apêndice
Vermiforme. A porção seguinte do intestino grosso é o cólon, segmento que se prolonga do
ceco até o ânus. Divide-se em:

a) colo ascendente: é a segunda parte do intestino grosso. Passa para cima do lado
direito do abdome, a partir do ceco para o lobo direito do fígado, onde se curva
para a esquerda na flexura direita do colo (flexura hepática);
b) colo transverso: é a parte mais larga e mais móvel do intestino grosso. Ele cruza
o abdome a partir da flexura direita do colo até a sua flexura esquerda, onde se
curva inferiormente para tornar-se colo descendente. A flexura esquerda do colo
(flexura esplênica) é normalmente mais superior, mais aguda e menos móvel do
que a flexura direita do colo;
c) colo descendente: passa retroperitonealmente a partir da flexura esquerda do
colo para a fossa ilíaca esquerda, onde ele é contínuo com o colo sigmoide;
d) colo sigmoide: é caracterizado pela sua alça em forma de “S”, de comprimento
variável. O colo sigmoide une o colo descendente ao reto. A terminação das
tênias do colo, aproximadamente a 15cm do ânus, indica a junção reto-sigmoide;
e) flexura hepática: entre o cólon ascendente e o cólon transverso;
f) flexura esplênica: entre o cólon transverso e o cólon descendente.

O reto recebe este nome por ser quase retilíneo. Este segmento do intestino grosso
termina ao perfurar o diafragma da pelve (músculos levantadores do ânus), passando a se
chamar de canal anal. O canal anal, apesar de bastante curto (3 cm de comprimento), é
importante por apresentar algumas formações essenciais para o funcionamento intestinal,
das quais citam-se os esfíncteres anais. O esfíncter anal interno é o mais profundo, e resulta
de um espessamento de fibras musculares lisas circulares, sendo consequentemente
involuntário. O esfíncter anal externo é constituído por fibras musculares estriadas, que se
dispõem circularmente em torno do esfíncter anal interno, sendo este voluntário. Ambos os
esfíncteres devem relaxar antes que a defecação possa ocorrer.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


91

Figura 41 - Pâncreas

Fonte: Brasil (2003a)

A Figura 41 acima ilustrada apresenta o pâncreas. Trata-se de um órgão achatado,


no sentido anteroposterior, que apresenta uma face anterior e outra posterior, com uma
borda superior e inferior, e sua localização é posterior ao estômago. O comprimento varia de
12,5 a 15cm e seu peso na mulher é de 14,95g, e no homem 16,08g.

O pâncreas divide-se em cabeça (aloja-se na curva do duodeno), colo, corpo


(dividido em três partes: anterior, posterior e inferior) e cauda. Tem as seguintes funções:

a) dissolver carboidrato (amilase pancreática);


b) dissolver proteínas (tripsina, quimotripsina, carboxipeptidase e elastase);
c) dissolver triglicerídeos nos adultos (lípase pancreática);
d) dissolver ácido nucleicos (ribonuclease e desoxirribonuclease).

 Ducto pancreático:

O ducto pancreático principal começa na cauda do pâncreas e corre para sua


cabeça, onde se curva inferiormente e está intimamente relacionado com o ducto colédoco.
O ducto pancreático se une ao ducto colédoco (fígado e vesícula biliar) e entra no duodeno
como um ducto comum, chamado ampola hepatopancreática.

O fígado é a maior glândula do organismo, e é também a mais volumosa víscera


abdominal. Sua localização é na região superior do abdômen, logo abaixo do diafragma,
ficando mais à direita. Isto é, normalmente 2/3 de seu volume estão à direita da linha
mediana e 1/3 à esquerda. Pesa cerca de 1,500g e responde por aproximadamente 1/40 do
peso do corpo adulto.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


92

Figura 42 - Fígado

Fonte: Brasil (2003a)

O fígado apresenta duas faces: diafragmática e visceral. A face diafragmática


(anterossuperior) é convexa e lisa, relacionando-se com a cúpula diafragmática. A face
visceral (posteroinferior) é irregularmente côncava pela presença de impressões viscerais.

O fígado é dividido em lobos. A face diafragmática apresenta um lobo direito e um


lobo esquerdo, sendo o direito pelo menos duas vezes maior que o esquerdo. A divisão dos
lobos é estabelecida pelo ligamento falciforme. Na extremidade desse ligamento encontra-
se um cordão fibroso resultante da obliteração da veia umbilical, conhecido como ligamento
redondo do fígado.

A face visceral é subdividida em 4 lobos (direito, esquerdo, quadrado e caudado)


pela presença de depressões em sua área central, que no conjunto se compõem formando
um "H", com 2 ramos anteroposteriores e um transversal que os une. Embora o lobo direito
seja considerado por muitos anatomistas como incluindo o lobo quadrado (inferior) e o lobo
caudado (posterior), com base na morfologia interna, os lobos quadrado e caudado
pertencem mais apropriadamente ao lobo esquerdo.

Entre o lobo direito e o quadrado encontra-se a vesícula biliar, e entre o lobo direito
e o caudado há um sulco que aloja a veia cava inferior. Entre os lobos caudado e quadrado,
há uma fenda transversal: a porta do fígado (pedículo hepático), por onde passam a artéria
hepática, a veia porta, o ducto hepático comum, os nervos e os vasos linfáticos.

O fígado é um órgão vital, sendo essencial o funcionamento de pelo menos 1/3 dele
- além da bile, que é indispensável na digestão das gorduras - ele desempenha o importante
papel de armazenador de glicose e, em menor escala, de ferro, cobre e vitaminas. A função
digestiva do fígado é produzir a bile, uma secreção verde amarelada, que é transportada
para o duodeno. A bile é produzida no fígado e armazenada na vesícula biliar, que a libera
quando gorduras entram no duodeno. A bile emulsiona a gordura e a distribui para a parte
distal do intestino, a fim de colaborar na digestão e absorção dos nutrientes.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


93

Além das citadas acima, o fígado tem as seguintes funções:

a) metabolismo dos carboidratos;


b) metabolismo dos lipídios;
c) metabolismo das proteínas;
d) processamento de fármacos e hormônios;
e) excreção da bilirrubina;
f) excreção de sais biliares;
g) armazenagem;
h) fagocitose;
i) ativação da vitamina D.

A vesícula biliar (7 – 10cm de comprimento) situa-se na fossa da vesícula biliar, na


face visceral do fígado. Esta fossa situa-se na junção do lobo direito e do lobo quadrado do
fígado. A relação da vesícula biliar com o duodeno é tão íntima que a parte superior do
duodeno normalmente é manchada com bile no cadáver. A vesícula biliar tem capacidade
para até 50ml de bile.

5.10 Anatomia e Fisiologia do Sistema Cardiovascular

Este sistema é fechado, formado por tubos chamados de vasos, por onde circulam
os humores corporais. Os humores são o sangue e a linfa que circulam nos vasos sanguíneos
e linfáticos, respectivamente. Para que o sangue possa atingir as células levando nutrientes e
oxigênio e, ao mesmo tempo, retirar resíduos metabólicos, deve ser constantemente
impulsionado ao longo dos vasos sanguíneos pela contração rítmica do coração.

O coração é uma “bomba” muscular oca, responsável pela circulação do sangue


pelo corpo. Para tanto, apresenta movimentos de contração (sístole) e relaxamento
(diástole), por meio dos quais o sangue penetra no seu interior e é impulsionado para os
vasos sanguíneos (PIRES, 2011).

Localiza-se na porção central da cavidade torácica conhecida como mediastino,


mais precisamente o mediastino médio. Relaciona-se anteriormente com o osso esterno e
com as extremidades mediais da 3ª a 6ª cartilagens costais e é envolvido por um saco
fibroseroso de paredes duplas, chamado pericárdio, que tem em seu interior pequena
quantidade de líquido aquoso – o que permite seu melhor deslizamento quando dos
movimentos de sístole e diástole.

5.10.1 Estrutura do Coração

A estrutura cardíaca (é formada por três camadas musculares: epicárdio (camada


externa), miocárdio (camada média e a mais espessa) e endocárdio (camada interna). O
coração é composto por quatro câmaras, denominadas átrios (superiores), e ventrículos
(inferiores).

A extremidade pontuda do coração é o ápice, dirigida para frente, para baixo e para
a esquerda. A porção mais larga do coração, oposta ao ápice, é a base, dirigida para trás,
TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1
94

para cima e para a direita. É chamada de face a parede de um órgão voltada ou em contato
com outra parede ou outro órgão. Em razão da posição do coração, surgem três faces
cardíacas, descritas a seguir e ilustradas pela Figura 43 abaixo.

Figura 43 - Faces do coração

Fonte: Brasil (2003a)

a) face esternocostal: face voltada para o osso esterno e para as cartilagens costais,
que compreende o átrio direito e sua aurícula, o ventrículo direito e uma
pequena parte do ventrículo esquerdo;
b) face diafragmática: achatada devido ao contato com o m. diafragma,
compreende os dois ventrículos, sendo a maior parte formada pelo ventrículo
esquerdo;
c) faces pulmonares: formada principalmente pelo ventrículo esquerdo, ela ocupa a
impressão cárdica do pulmão esquerdo.

O coração também é formado por margens, conforme descrito a seguir.

a) margem direita: formada pelo átrio direito e estendendo-se entre as veias cavas,
superior e inferior;
b) margem inferior: formada principalmente pelo ventrículo direito e, ligeiramente,
pelo ventrículo esquerdo;
c) margem esquerda: formada principalmente pelo ventrículo esquerdo e,
ligeiramente, pela aurícula esquerda;
d) margem superior: formada pelos átrios e pelas aurículas direita e esquerda em
uma vista anterior. A parte ascendente da aorta e o tronco pulmonar emergem
da margem superior, e a veia cava superior entra no seu lado direito. Posterior à
aorta e ao tronco pulmonar e anterior à veia cava superior, a margem superior
forma o limite inferior do seio transverso do pericárdio.

Externamente, os óstios atrioventriculares correspondem ao sulco coronário, que é


ocupado por artérias e veias coronárias. Este sulco circunda o coração e é interrompido
anteriormente pelas artérias aorta e pelo tronco pulmonar. O septo interventricular na face
anterior corresponde ao sulco interventricular anterior, e na face diafragmática ao sulco

Módulo 1 Técnico em Farmácia


95

interventricular posterior. O sulco interventricular termina inferiormente a alguns


centímetros à direita do ápice do coração, em correspondência à incisura do ápice do
coração. O sulco interventricular anterior é ocupado pelos vasos interventriculares
anteriores. O sulco interventricular posterior parte do sulco coronário e desce em direção à
incisura do ápice do coração. Este sulco é ocupado pelos vasos interventriculares
posteriores.

Na região da base do coração, mais especificamente no átrio direito, chegam as


veias cavas, superior e inferior, que trazem o sangue venoso drenado de todos os tecidos
corpóreos. No átrio esquerdo são as quatro veias pulmonares quem conduzem o sangue
arterial que sofreu o processo de hematose (troca gasosa) nos pulmões, como ilustra a
Figura 44 a seguir.

Figura 44 - Vasos do coração

Fonte: Brasil (2003a)

A saída do sangue dos ventrículos também se dá na região da base do coração,


sendo feita pelo tronco pulmonar, que conduz o sangue venoso do ventrículo direito aos
pulmões, e neste trajeto se ramifica dando, origem às artérias pulmonares direita e
esquerda. O sangue arterial que sai do ventrículo esquerdo, para irrigar todos os tecidos do
corpo, circula pela artéria aorta.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


96

5.10.2 Anatomia interna do coração

Figura 46 - Anatomia interna do coração

Fonte: Thais Arraes

A Figura 45 acima ilustra a anatomia interna do coração. O coração possui quatro


câmaras: dois átrios e dois ventrículos. Os átrios (as câmaras superiores) recebem sangue; os
ventrículos (câmaras inferiores) bombeiam o sangue para fora do coração. Na face anterior
de cada átrio existe uma estrutura enrugada, em forma de saco, chamada aurícula
(semelhante à orelha do cão). O átrio direito é separado do esquerdo por uma fina divisória
chamada septo interatrial; o ventrículo direito é separado do esquerdo pelo septo
interventricular.

 Átrio direito:

O átrio direito forma a borda direita do coração e recebe sangue rico em dióxido de
carbono (venoso) de três veias: veia cava superior, veia cava inferior e seio coronário. A veia
cava superior recolhe sangue da cabeça e parte superior do corpo, enquanto que a veia cava
inferior recebe sangue das partes mais inferiores do corpo (abdômen e membros inferiores)
e o seio coronário recebe o sangue que nutriu o miocárdio e leva o sangue ao átrio direito.

Enquanto a parede posterior do átrio direito é lisa, a parede anterior é rugosa,


devido à presença de cristas musculares, chamados músculos pectíneos. O sangue passa do
átrio direito para o ventrículo direito por meio de uma válvula chamada tricúspide (formada
por três folhetos - válvulas ou cúspides). Na parede medial do átrio direito, que é constituída
pelo septo interatrial, encontra-se uma depressão, que é a fossa oval.

Anteriormente, o átrio direito apresenta uma expansão piramidal denominada

Módulo 1 Técnico em Farmácia


97

aurícula direita, que serve para amortecer o impulso do sangue ao penetrar no átrio. Os
orifícios onde as veias cavas desembocam têm os nomes de óstios das veias cavas. O orifício
de desembocadura do seio coronário é chamado de óstio do seio coronário, e encontra-se
também uma lâmina que impede que o sangue retorne do átrio para o seio coronário, que é
denominada de válvula do seio coronário.

 Átrio esquerdo:

O átrio esquerdo é uma cavidade de parede fina, com paredes posteriores e


anteriores lisas, que recebe o sangue já oxigenado, por meio de quatro veias pulmonares. O
sangue passa do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo, a partir da valva bicúspide
(mitral), que tem apenas duas cúspides. O átrio esquerdo também apresenta uma expansão
piramidal chamada aurícula esquerda.

 Ventrículo direito:

O ventrículo direito forma a maior parte da superfície anterior do coração. O seu


interior apresenta uma série de feixes elevados de fibras musculares cardíacas, chamadas
trabéculas carnosas. No óstio atrioventricular direito, existe um aparelho denominado valva
tricúspide, que serve para impedir que o sangue retorne do ventrículo para o átrio direito.
Essa valva é constituída por três lâminas membranáceas, esbranquiçadas e irregularmente
triangulares, de base implantada nas bordas do óstio e o ápice dirigido para baixo é preso às
paredes do ventrículo por intermédio de filamentos.

Cada lâmina é denominada de cúspide. Tem-se uma cúspide anterior, outra


posterior e outra septal. O ápice das cúspides é preso por filamentos denominados cordas
tendíneas, as quais se inserem em pequenas colunas cárneas chamadas de músculos
papilares, como se pode observar na Figura 46 a seguir.

Figura 46 - Músculos papilares, cordas tendíneas e cúspides

Fonte: Brasil (2003a)

A valva do tronco pulmonar também é constituída por pequenas lâminas, porém


estas estão dispostas em concha, denominadas válvulas semilunares (anterior, esquerda e
direita). No centro da borda livre de cada uma das válvulas, encontram-se pequenos nódulos

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


98

denominados nódulos das válvulas semilunares (pulmonares).

 Ventrículo esquerdo:

O ventrículo esquerdo forma o ápice do coração. No óstio atrioventricular


esquerdo, encontra-se a valva atrioventricular esquerda, constituída apenas por duas
lâminas denominadas cúspides, sendo uma anterior e outra posterior, e por isso são
chamadas de válvulas bicúspides. O ventrículo esquerdo também possui trabéculas carnosas
e cordas tendíneas, que fixam as cúspides da valva bicúspide aos músculos papilares.

O sangue passa do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo a partir do óstio


atrioventricular esquerdo, onde se localiza a valva bicúspide (mitral). Do ventrículo
esquerdo, o sangue sai para a maior artéria do corpo, a aorta, mais precisamente no ramo
ascendente, passando pela valva aórtica – constituída por três válvulas semilunares: direita,
esquerda e posterior. Daí, parte do sangue flui para as artérias coronárias, que se ramificam
a partir da aorta ascendente, levando sangue para a parede cardíaca; o restante do sangue
passa para o arco da aorta e para a aorta descendente (parte torácica e parte abdominal).
Ramos do arco da aorta e da aorta descendente levam sangue para todo o corpo.

O ventrículo esquerdo recebe sangue oxigenado do átrio esquerdo. A principal


função do ventrículo esquerdo é bombear sangue para a circulação sistêmica (corpo). A
parede ventricular esquerda é mais espessa que a do ventrículo direito. Esta diferença se
deve à maior força necessária para bombear sangue para a circulação sistêmica. A Figura 47
a seguir ilustra as válvulas do coração.

Figura 47 - Válvulas do coração

Fonte: Brasil (2003a)

5.10.3 Vascularização do Coração

A irrigação do coração é assegurada pelas artérias coronárias e pelo seio coronário.


As artérias coronárias são duas, uma direita e outra esquerda. Elas têm este nome porque
ambas percorrem o sulco coronário e são as duas originadas da artéria aorta. Estas artérias,
logo depois da sua origem, dirigem-se para o sulco coronário, percorrendo-o da direita para
a esquerda, até ir se anastomosar com o ramo circunflexo, que é o ramo terminal da artéria

Módulo 1 Técnico em Farmácia


99

coronária esquerda que faz continuação ao circundar o sulco coronário.

A artéria coronária direita é o ponto de origem de duas artérias que vão irrigar a
margem direita e a parte posterior do coração, são elas: a artéria marginal direita e artéria
interventricular posterior. A artéria coronária esquerda, de início, passa por um ramo por
trás do tronco pulmonar para atingir o sulco coronário, evidenciando-se nas proximidades
do ápice da aurícula esquerda. Logo em seguida, emite um ramo interventricular anterior e
um ramo circunflexo que dá origem à artéria marginal esquerda. Na face diafragmática, as
duas artérias se anastomosam, formando um ramo circunflexo.

 Inervação:

A inervação do músculo cardíaco é de duas formas: extrínseca, ou seja, que provém


de nervos situados fora do coração, e intrínseca, que constitui um sistema só encontrado no
coração e que se localiza no seu interior. A inervação extrínseca deriva do sistema nervoso
autônomo, isto é, simpático e parassimpático. Fisiologicamente, o simpático acelera e o
parassimpático retarda os batimentos cardíacos

Do simpático, o coração recebe os nervos cardíacos simpáticos, sendo três cervicais


e quatro ou cinco torácicos. As fibras parassimpáticas, que vão inervar o coração, seguem
pelo nervo vago (X par craniano), do qual derivam nervos cardíacos parassimpáticos, sendo
dois cervicais e um torácico. A inervação intrínseca ou sistema de condução do coração é a
razão dos batimentos contínuos do coração. É uma atividade elétrica, intrínseca e rítmica,
que se origina em uma rede de fibras musculares cardíacas especializadas, chamadas células
autorrítmicas (marcapasso cardíaco), por serem autoexcitáveis.

A excitação cardíaca começa no nodo sino-atrial (SA), situado na parede atrial


direita, inferior à abertura da veia cava superior. Propagando-se ao longo das fibras
musculares atriais, o potencial de ação atinge o nodo atrioventricular (AV), situado no septo
interatrial, anterior à abertura do seio coronário. Do nodo AV, o potencial de ação chega ao
feixe atrioventricular (feixe de His), que é a única conexão elétrica entre os átrios e os
ventrículos. Após ser conduzido ao longo do feixe AV, o potencial de ação entra nos ramos
direito e esquerdo, que cruzam o septo interventricular, em direção ao ápice cardíaco.
Finalmente, as miofibras condutoras (fibras de Purkinge) conduzem rapidamente o potencial
de ação, primeiro para o ápice do ventrículo, e após para o restante do miocárdio
ventricular.

5.10.4 Fisiologia do Sistema Cardíaco

Esta seção tratará do ciclo cardíaco, que compreende a circulação pulmonar e a


circulação sistêmica.

 Ciclo cardíaco:

Um ciclo cardíaco único inclui todos os eventos associados a um batimento


cardíaco. No ciclo cardíaco normal, os dois átrios se contraem, enquanto os dois ventrículos

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


100

relaxam e vice-versa. O termo sístole designa a fase de contração; a fase de relaxamento é


designada como diástole. Quando o coração bate, os átrios contraem-se primeiramente
(sístole atrial), forçando o sangue para os ventrículos. Uma vez preenchidos, os dois
ventrículos contraem-se (sístole ventricular) e forçam o sangue para fora do coração.

Sístole é a contração do músculo cardíaco. Há a sístole atrial, que impulsiona sangue


para os ventrículos. Assim, as valvas atrioventriculares estão abertas à passagem de sangue,
e a pulmonar e a aórtica estão fechadas. Na sístole ventricular, as valvas atrioventriculares
estão fechadas e as semilunares abertas à passagem de sangue. Diástole é o relaxamento do
músculo cardíaco. É quando os ventrículos se enchem de sangue. Neste momento, as valvas
atrioventriculares estão abertas e as semilunares estão fechadas. A distribuição de sangue
pelo organismo recebe a denominação de circulação pulmonar e circulação sistêmica, como
ilustra a Figura 48 a seguir.

Figura 48 - Circulação pulmonar e sistêmica

Fonte: Brasil (2003a)

Módulo 1 Técnico em Farmácia


101

 Circulação pulmonar (pequena circulação):

O sangue venoso, pobre em oxigênio e rico em dióxido de carbono e resíduos do


metabolismo celular, volta ao coração através das veias cavas e desemboca no átrio direito.
Do átrio direito, o sangue passa ao ventrículo direito através da válvula tricúspide e é
bombeado para os pulmões através das artérias pulmonares, mas, para chegar às artérias
pulmonares, passa pela válvula semilunar. No pulmão, o sangue sofre a hematose e retorna
para o átrio esquerdo através das veias pulmonares.

 Circulação sistêmica (grande circulação):

Do átrio esquerdo, o sangue chega ao ventrículo esquerdo após passar pela válvula
mitral ou bicúspide. Do ventrículo esquerdo, o sangue passa pela válvula semilunar aórtica e
é bombeado para todo o organismo através da artéria aorta. Esta se divide em artéria aorta
ascendente, arco da aorta e aorta descendente, que possui o ramo torácico e o ramo
abdominal, e é por meio desses ramos que o sangue circula para os órgãos.

O coração bombeia em média 5 litros de sangue por minuto, quando em repouso. O


volume de sangue bombeado por cada lado do coração em um minuto é chamado de débito
cardíaco. A contração dos ventrículos é chamada de sístole e o seu relaxamento de diástole.
Os ruídos cardíacos ouvidos quando se ausculta o coração com um estetoscópio são
chamados de bulhas cardíacas, e são resultado do fechamento das válvulas cardíacas.

A frequência com que o coração contrai é denominada de frequência cardíaca. No


adulto em repouso, esta varia de 50 a 95 batimentos por minuto. A frequência cardíaca
acima dos limites normais é chamada taquicardia e abaixo, bradicardia.

5.10.5 Vasos Sanguíneos

A Figura 49 a seguir ilustra os vasos sanguíneos, que são constituídos por veias,
artérias e capilares.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


102

Figura 49 - Veia, artéria e capilar

Fonte: Brasil (2003a)

Os vasos sanguíneos formam uma rede de tubos que transportam sangue do


coração em direção aos tecidos do corpo e de volta ao coração. Os vasos sanguíneos podem
ser divididos em sistema arterial e sistema venoso, conforme descrito a seguir.

 Sistema arterial:

Constitui um conjunto de vasos que, partindo do coração, vão se ramificando, cada


ramo em menor calibre, até atingirem os capilares.

 Sistema venoso:

Forma um conjunto de vasos que, partindo dos tecidos, vão se formando em ramos
de maior calibre até atingirem o coração.

 Artérias:

São vasos de parede espessa que saem do coração levando sangue para os órgãos e
tecidos do corpo. Compõem-se de três camadas: a mais interna, chamada endotélio,
formada por uma única camada de células achatadas; a mediana, constituída por tecido
muscular liso; e a mais externa, formada por tecido conjuntivo, rico em fibras elásticas.

 Arteríolas:

As artérias vão se bifurcando e se ramificando até formarem as arteríolas, que são


os vasos arteriais de menor calibre antes de chegar aos capilares. As arteríolas possuem na
sua parede um músculo liso, que responde a estímulos nervosos ou endócrinos, se
contraindo ou relaxando. Sua contração diminui o calibre do vaso e é conhecida como

Módulo 1 Técnico em Farmácia


103

vasoconstrição, e seu relaxamento aumenta seu calibre e é conhecido como vasodilatação.

 Capilares:

São os vasos sanguíneos de menor calibre e sua parede pode ter apenas uma
camada de células de espessura. Estão distribuídos por todo o organismo, formando uma
rede que está em íntimo contato com todas as células. Suas paredes finas permitem que
haja troca de substâncias entre as células dos tecidos e o sangue: oxigênio e nutrientes são
liberados para as células que por sua vez se desfazem do dióxido de carbono e dos resíduos
metabólicos.

 Veias:

São vasos que chegam ao coração, trazendo o sangue dos órgãos e tecidos. A
parede das veias, assim como a das artérias, também é formada por três camadas. A
diferença, porém, é que a camada muscular e a conjuntiva são menos espessas que suas
correspondentes arteriais. Além disso, diferentemente das artérias, as veias de maior calibre
apresentam válvulas em seu interior, que impedem o refluxo de sangue e garante sua
circulação em um único sentido.

5.10.6 Circulação Arterial e Venosa

Esta seção apresenta a circulação arterial e a venosa, ilustradas pela Figura 50 a


seguir.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


104

Figura 50 - Circulação arterial e venosa

Fonte: Pires (2011)

 Circulação arterial:

A principal artéria do organismo é a aorta, que tem origem no ventrículo esquerdo,


e em seguida, dirige-se para a direita, e para cima dentro do mediastino médio, constituindo
a artéria aorta ascendente, da qual têm origem as artérias coronárias. A partir daí, curva-se

Módulo 1 Técnico em Farmácia


105

para a esquerda e para trás, adentrando no mediastino superior e formando o arco aórtico,
ao nível da segunda articulação esternocostal do lado direito, do qual são emitidos o tronco
arterial braquiocefálico, a artéria carótida comum esquerda e a artéria subclávia esquerda. A
artéria aorta descendente, formada a partir de T4, constitui a continuação do arco aórtico e
possui uma parte torácica e outra abdominal.

A parte torácica da aorta desce no mediastino posterior, inicialmente à esquerda da


coluna vertebral, aproximando-se da linha mediana à medida que desce, sendo sua
terminação anterior à coluna vertebral. Esta parte da aorta descendente constitui uma
importante fonte da irrigação da parede do tórax, e seus ramos intercostais posteriores
formam com os ramos da torácica interna uma via de circulação colateral em caso de
obstrução progressiva da aorta.

A parte abdominal da aorta descendente começa entre T12 e L1, e termina ao nível
de L4, ao dividir-se em artérias ilíacas comuns. A artéria relaciona-se, anteriormente, com o
tronco celíaco, o pâncreas, a bolsa omental, a veia renal esquerda, a parte ascendente do
duodeno e a raiz do mesentério. À direita, relaciona-se com a cisterna do quilo, o ducto
torácico e a veia cava inferior. A aorta abdominal fornece praticamente toda a irrigação
parietal e visceral do abdome, além de dar origem às artérias ilíacas que suprem a pelve e os
membros inferiores.

Outra artéria que possui função importante é a artéria pulmonar, afinal ela
transporta o sangue proveniente do coração até o pulmão para sofrer o processo chamado
hematose. Tem origem como projeção do ventrículo direito. Recoberto pelo pericárdio
fibroso e projeta-se para cima, numa extensão de 5cm, situando-se à esquerda da aorta
ascendente, onde se divide em artéria pulmonar direita e artéria pulmonar esquerda.

As artérias cerebrais anteriores (ramos da artéria carótida interna) e as artérias


cerebrais posteriores (ramos da artéria basilar) formam o círculo arterial do cérebro
(polígono de Willis), do qual se originam as artérias que irrigam a maior parte do encéfalo. A
partir da borda externa da primeira costela, as artérias subclávias são denominadas artérias
axilares (direita e esquerda), as quais emitem ramos que irrigam a axila, o tórax e o ombro.
As artérias axilares continuam como artérias braquiais (direita e esquerda), que emitem
ramos que irrigam o ombro e o braço e, no cotovelo, se dividem em artérias radial e ulnar, as
quais correm pelo antebraço e emitem ramos que irrigam o antebraço e o cotovelo.

A artéria ulnar, ao deixar o antebraço, divide-se em um ramo palmar profundo (que


se une à artéria radial para formar o arco palmar profundo) e no arco palmar superficial, que
emite ramos digitais palmares. Deste modo, ocorre a irrigação da mão e de seus dedos. As
artérias ilíacas comuns, direita e esquerda, se dividem, em cada membro inferior, em
artérias ilíacas interna e externa.

A artéria ilíaca interna (hipogástrica) emite ramos parietais e viscerais, enquanto


que a artéria ilíaca externa, abaixo do ligamento inguinal, continua descendo pela coxa como
artéria femoral, a qual emite ramos que irrigam a parede abdominal inferior, a genitália
externa e o membro inferior. Na fossa poplítea (área atrás do joelho), a artéria femoral é
denominada artéria poplítea, a qual emite ramos que irrigam o joelho e, na perna, termina

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


106

se dividindo na artéria tibial anterior, que emite ramos que irrigam a região anterior da
perna e o tornozelo e continua como a artéria dorsal do pé que termina em um ramo plantar
profunda, formando o arco plantar. Do arco plantar saem as artérias metatársicas plantares,
que se anastomosam com as artérias metatársicas dorsais, ramos da artéria dorsal do pé,
que originam as artérias digitais dorsais, e as artérias digitais plantares, irrigando o pé e seus
dedos.

Estas artérias se dividem em ramos progressivamente menores até os capilares


sistêmicos, que realizam trocas gasosas com os tecidos, ou seja, o oxigênio (O2) dos
capilares se difundem para os tecidos e o gás carbônico (CO2) do metabolismo dos tecidos
se difunde para o interior dos capilares.

 Circulação venosa:

Estes capilares sistêmicos, carregando sangue desoxigenado (venoso), unem-se em


vênulas e veias. Todas as veias da circulação sistêmica drenam para as veias cavas superior e
inferior ou ao seio coronário (como as veias que drenam o coração), desembocando no átrio
direito.

Tanto nos membros superiores quanto nos membros inferiores, a drenagem venosa
se faz pelos sistemas venosos: superficial e profundo.

Em relação aos membros superiores, no que se refere ao sistema superficial, as


artérias digitais palmares e dorsais e veias profundas formam a rede venosa dorsal da mão.
As duas veias mais importantes que sobem deste arco são as cefálica e basílica. A veia
cefálica origina-se do lado radial da rede venosa dorsal e percorre o antebraço até
desembocar na artéria axilar. A veia basílica origina-se do lado ulnar da rede venosa dorsal e
caminha pelo antebraço até unir-se à veia braquial, formando a veia axilar. A veia mediana
do antebraço origina-se na rede venosa palmar, sobe pelo antebraço anterior entre as veias
cefálica e basílica e, no cotovelo, se une à veia basílica ou à veia cefálica ou à veia mediana
do cotovelo. A veia mediana do cotovelo liga as artérias basílica e cefálica na parte anterior
do cotovelo.

O sistema profundo, em relação aos membros superiores, é formado por veias


satélites, que acompanham em dupla as artérias. As veias braquiais, originadas das veias
radiais e ulnares, são veias profundas que acompanham a artéria braquial, formando a veia
axilar ao se juntar com a veia basílica. A veia axilar, na borda externa da primeira costela,
continua como veia subclávia, a qual acompanha a artéria subclávia. A veia subclávia (direita
e esquerda) se junta à veia jugular interna (que drena parte da cabeça e do pescoço),
formando a veia braquiocefálica (direita e esquerda). As veias braquiocefálicas direita e
esquerda se unem para formar a veia cava superior.

Nos membros inferiores, no que diz respeito ao sistema superficial, as veias digitais
formam as veias metatársicas dorsais, que desembocam no arco venoso dorsal, o qual se
comunica com o arco venoso plantar. Do lado medial do arco venoso dorsal, ascende à veia
safena magna pela região anteromedial da perna e da coxa e termina na veia femural. Do
lado lateral do arco venoso dorsal, ascende à veia safena parva pela região posterior da

Módulo 1 Técnico em Farmácia


107

perna, até desembocar na veia poplítea, na região posterior do joelho. As veias perfurantes
(ou conectantes) conectam as veias superficiais às veias profundas.

No caso do sistema profundo para os membros inferiores, as veias digitais plantares


juntam-se com a rede venosa plantar para formar as veias metatársicas plantares, as quais
se unem formando o arco venoso plantar, do qual emergem veias plantares laterais e
mediais que se unem para formar as veias tibiais posteriores, que recebem as veias fibulares
e unem-se com as veias tibiais anteriores para formar as veias poplíteas, as quais continuam
como veias femorais, que se tornam as veias ilíacas externas.

As veias glútea superior e inferior, as veias pudendas internas, a veia dorsal


profunda do pênis (que drena para o plexo prostático) ou do clitóris (que drena para o plexo
vesical) acompanham as artérias e, como os plexos venosos retal, vesical, prostático,
uterino, vaginal e sacral, desembocam na veia ilíaca interna (hipogástrica). As veias ilíacas
externas se unem às veias ilíacas internas para formar as veias ilíacas comuns (direita e
esquerda), que formam a veia cava inferior, a qual ascende à direita da aorta.

A veia gonadal (testicular e ovárica) direita e a veia suprarrenal direita desembocam


na veia cava inferior. As esquerdas desembocam na veia renal esquerda. As veias renais
(direita e esquerda) desembocam na veia cava inferior. As veias frênicas inferiores direitas
desembocam na veia cava inferior e as veias cavas inferiores e esquerdas desembocam na
suprarrenal esquerda, na renal esquerda ou na veia cava inferior.

As veias hepáticas são várias veias que recebem sangue das veias centrais do fígado
e que desembocam na veia cava inferior. As veias lombares são 4 ou 5 veias de cada lado,
que acompanham as artérias lombares, drenam a parede posterior do abdome, o canal
vertebral, a medula espinhal e as meninges, e desembocam na veia cava inferior ou na ilíaca
comum. A veia lombar ascendente direita se une à veia subcostal direita para formar a veia
ázigos. A veia lombar ascendente esquerda se une à veia subcostal esquerda para formar a
veia hemiázigos.

A veia retal (ou hemorroidária) superior (que drena a parte superior do plexo retal)
e veia cólica esquerda (que acompanha a artéria cólica esquerda) desembocam na veia
mesentérica inferior. A veia mesentérica inferior acompanha a artéria mesentérica inferior e
desemboca na veia esplênica (lienal). A veia esplênica (lienal) (formada por diversos ramos
no hilo do baço) e a veia mesentérica superior (acompanha a artéria mesentérica superior)
se unem para formar a veia porta, a qual recebe a veia gástrica esquerda (que acompanha a
artéria gástrica esquerda) e, no hilo hepático, a veia porta divide-se em ramos direito e
esquerdo. O sangue venoso da veia porta (vindo dos intestinos) alcança, então, os sinusoides
hepáticos, que drenam para as veias hepáticas, as quais desembocam na veia cava inferior.

5.11 Anatomia e Fisiologia do Sistema Linfático

O sistema linfático é paralelo ao circulatório, constituído por uma vasta rede de


vasos semelhantes às veias (vasos linfáticos), que se distribuem por todo o corpo e recolhem
o líquido tissular que não retornou aos capilares sanguíneos, filtrando-o e reconduzindo-o à

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


108

circulação sanguínea. É constituído pela linfa, vasos e órgãos linfáticos. Os vasos linfáticos
são capazes de transportar proteínas e partículas grandes, que não poderiam ser removidas
dos espaços teciduais pelos capilares sanguíneos. A linfa tem uma particularidade de grande
importância prática, pois não coagula como o sangue, fazendo com que a lesão de seus
vasos coletores maiores espoliem o indivíduo rapidamente, de acordo com Vivela (2012).

Vilela (2012) afirma ainda que o sistema linfático tem como função imunológica a
ativação da resposta inflamatória e o controle de infecções. A partir de sua simbiose com os
vasos sanguíneos, regula o balanço do fluído tissular. Este delicado balanço é possível pelo
transporte unidirecional de proteínas do tecido para o sistema sanguíneo. Em conjunção
com o trabalho dos vasos, o sistema linfático mantém o equilíbrio entre a filtração e a
reabsorção dos fluídos tissulares. As moléculas de proteínas transportam oxigênio e
nutrientes para as células dos tecidos, onde então removem seus resíduos metabólicos.
Várias moléculas de proteínas que não conseguem ser transportadas pelo sistema venoso
são retornadas ao sistema sanguíneo através do linfático. Em consequência disto, o líquido
linfático se torna rico em proteínas, mas também transporta células adiposas, e outras
macromoléculas. A circulação normal de proteínas requer um funcionamento adequado dos
vasos linfáticos, caso contrário, os espaços intersticiais podem ficar congestionados.

Os capilares linfáticos estão presentes em quase todos os tecidos do corpo. Os


capilares mais finos vão se unindo em vasos linfáticos maiores, conforme ilustra a Figura 51 a
seguir, que terminam em dois grandes dutos principais: o ducto torácico, que recebe a linfa
procedente da parte inferior do corpo, do lado esquerdo da cabeça, do braço esquerdo e de
partes do tórax, e o ducto linfático, que recebe a linfa procedente do lado direito da cabeça,
do braço direito e de parte do tórax. Ambos desembocam na junção das veias subclávia e
jugular interna do coração.

Figura 51- Vasos linfáticos

Fonte: Baseada em Vilela (2012)

 Linfa:

Ainda conforme a autora acima citada, a linfa corresponde ao líquido intersticial


que circula dentro dos linfáticos, e tem composição quase idêntica a do plasma. A
concentração de proteínas da linfa gira em torno de 2 a 6%, dependendo da parte do corpo.
Módulo 1 Técnico em Farmácia
109

O sistema linfático representa uma das principais vias de absorção dos nutrientes, através
dos vasos linfáticos intestinais. Neste processo, também podem ser absorvidas bactérias e
partículas maiores. Esse problema é resolvido, à medida que a linfa passa através de
linfonodos interpostos no trajeto dos vasos linfáticos, onde tais partículas e bactérias são
bloqueadas e destruídas.

A linfa é recolhida por capilares próprios, mais irregulares que os sanguíneos. Estes,
por sua vez, são tubos endoteliais que vão se anastomosando cada vez mais, até formar
coletores linfáticos maiores. Ao contrário do sangue, que é impulsionado a partir dos vasos
pela força do coração, o sistema linfático não é um sistema fechado e não tem uma bomba
central. A linfa depende exclusivamente da ação de agentes externos para poder circular. A
linfa move-se lentamente sob baixa pressão devido principalmente à compressão provocada
pelos movimentos dos músculos esqueléticos que pressionam o fluido através dele. A
contração rítmica das paredes dos vasos também ajuda o fluido através dos capilares
linfáticos. Este fluido é, então, transportado progressivamente para vasos linfáticos maiores
acumulando-se no ducto linfático direito (para a linfa da parte direita superior do corpo) e
no duto torácico (para o resto do corpo). Estes ductos desembocam no sistema circulatório
na veia subclávia esquerda e direita.

 Ducto linfático direito:

O ducto linfático direito corre ao longo da borda medial do músculo escaleno


anterior na base do pescoço e termina na junção da veia subclávia direita com a veia jugular
interna direita. Seu orifício é guarnecido por duas válvulas semilunares, que evitam a
passagem de sangue venoso para o ducto. Este é o ducto que conduz a linfa para circulação
sanguínea nas seguintes regiões do corpo: lado direito da cabeça, do pescoço e do tórax, do
membro superior direito, do pulmão direito, do lado direito do coração e da face
diafragmática do fígado (VILELA, 2012).

 Ducto torácico:

O ducto torácico é aquele que conduz a linfa da maior parte do corpo para o
sangue. É o tronco comum a todos os vasos linfáticos, exceto os vasos citados acima (ducto
linfático direito). Estende-se da segunda vértebra lombar para a base do pescoço. Ele
começa no abdome por uma dilatação, a cisterna do quilo, entra no tórax a partir do hiato
aórtico do diafragma e sobe entre a aorta e a veia ázigos. Termina por desembocar no
ângulo formado pela junção da veia subclávia esquerda com a veia jugular interna esquerda
(VILELA, 2012).

5.11.1 Órgãos Linfáticos

Compreendem os órgãos linfáticos: amigdalas (tonsilas), adenoides, baço,


linfonodos (nódulos linfáticos) e timo (tecido conjuntivo reticular linfoide: rico em linfócitos).

 Amigdalas (tonsilas):

As amigdalas guardam a entrada e a saída dos tratos alimentar e respiratório,


TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1
110

contra a invasão de micro-organismos, formando um anel linfático. Classificam-se em


tonsilas palatinas, faríngeas e linguais, conforme ilustra a Figura 52 a seguir. Sua função é
produzir.

Figura 52 - Tonsilas

Fonte: Baseada em Vilela (2012)

 Timo:

Como ilustra a Figura 53 a seguir, o timo é o órgão linfático mais desenvolvido no


período pré-natal, que vai involuindo desde o nascimento até a puberdade. O timo de uma
criança é um órgão proeminente na porção anterior do mediastino superior, enquanto que o
timo de adulto de idade avançada mal pode ser reconhecido, devido às alterações atróficas.
Durante seu período de crescimento ele se aproxima muito de uma glândula, quanto ao
aspecto e estrutura.

Figura 53 - Timo

Fonte: Baseada em Vilela (2012)

O timo consiste de dois lobos laterais mantidos em estreito contato por meio de
tecido conjuntivo, o qual também forma uma cápsula distinta para o órgão todo. Ele situa-se
parcialmente no tórax e no pescoço, estendendo-se desde a quarta cartilagem costal até o
bordo inferior da glândula tireoidea. Os dois lobos geralmente variam em tamanho e forma,

Módulo 1 Técnico em Farmácia


111

sendo o direito, geralmente, sobreposto ao esquerdo. Ele apresenta uma coloração cinzenta
rosada, é mole e lobulado, medindo aproximadamente 5cm de comprimento, 4cm de
largura e 6mm de espessura.

 Linfonodo:

O linfonodo consiste em um aglomerado de tecido retículo-endotelial revestido por


uma cápsula de tecido conjuntivo. Desempenha importante papel imunológico, a partir da
filtração da linfa proveniente dos vasos linfáticos e da produção de células linfoides e
reticulares, que realizam a defesa do organismo por meio da fagocitose e da pinocitose. O
linfonodo varia em tamanho, forma e cor. Cada linfonodo apresenta um hilo que
corresponde ao local de emergência, não apenas do vaso linfático, como da veia linfonodal,
que acompanha a artéria e se destina ao suprimento sanguíneo para o linfonodo. A conexão
entre o sistema linfático e o venoso é possível por meio da veia de drenagem do linfonodo.
O número de linfonodos varia entre as regiões e os indivíduos, e seu volume também é
variável, ocorrendo um importante aumento com a idade, em decorrência dos processos
patológicos ou agressões que a área de drenagem tenha sofrido.

Os principais linfonodos são o cervical profundo, o axilar, o linfonodo pré-aórtico e


o inguinal, que detalhados a seguir:

a) cervical profundo: localizados na bainha carotídea drenando cabeça e pescoço.


b) axilar: estes linfonodos drenam membros superiores, glândulas mamárias, pele e
músculos do tórax, dorso e parte inferior do dorso do pescoço
traqueobrônquico: localizados em torno da parte torácica da traqueia e dos
brônquios, drenando os pulmões e o coração.
c) pré-aórtico: localizado ventralmente à artéria aorta, drenando o trato
gastrintestinal, fígado, pâncreas, baço e mais de 100 linfonodos do mesentério.
d) inguinal: localizado na virilha, drena os membros inferiores, a genitália externa e
a parede anterior do abdome.

 Baço:

A Figura 54 abaixo ilustra o baço, que é o órgão linfático, excluído da circulação


linfática, interposto na circulação sanguínea, cuja drenagem venosa passa,
obrigatoriamente, pelo fígado. Possui grande quantidade de macrófagos que, por meio da
fagocitose, destroem micróbios, restos de tecido, substâncias estranhas, células do sangue
em circulação já desgastadas como eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Desta forma, o baço
“limpa” o sangue, funcionando como um filtro deste fluído tão essencial. O baço também
tem participação na resposta imune, reagindo a agentes infecciosos. É considerado por
alguns cientistas como um grande nódulo linfático. Situa-se na região do hipocôndrio, mas
sua extremidade cranial se estende na região epigástrica. O baço situa-se entre o fundo do
estomago e o diafragma. Sua textura é mole, de consistência muito friável, altamente
vascularizado e de uma coloração púrpura escura. O tamanho e peso do baço variam muito,
possuindo, no adulto, cerca de 12cm de comprimento, 7cm de largura e 3cm de espessura.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


112

Figura 54 - Baço

Fonte: Vilela (2012)

5.11.2 Fisiologia do Sistema linfático

As circulações linfáticas e sanguíneas estão intimamente relacionadas. A macro e a


microcirculação de retorno dos órgãos e/ou regiões são feitas pelos sistemas venoso e
linfático. As moléculas pequenas vão, em sua maioria, diretamente para o sangue, sendo
conduzidas pelos capilares sanguíneos, e as grandes partículas alcançam a circulação por
meio do sistema linfático. Entretanto, mesmo macromoléculas passam para o sangue via
capilares venosos, sendo que o maior volume do fluxo venoso faz com que, no total, o
sistema venoso capte muito mais proteínas que o sistema linfático. Contudo, a pequena
drenagem linfática é vital para o organismo, ao baixar a concentração proteica média dos
tecidos e propiciar a pressão tecidual negativa fisiológica que previne a formação do edema
e recupera a proteína extravasada.

A formação e a condução da linfa são condicionadas por diversos sistemas. Um


deles, em nível molecular, é o sistema angiolacunar de líquidos e eletrólitos. Dentro deste
sistema de difusão, e por ele potencializado, insere-se o sistema de ultrafiltração capilar
sanguíneo, somando-se, ainda no nível microscópio, às trocas líquidas, pressóricas e
proteicas do plasma dos interstícios e dos capilares linfáticos. Nos membros, instalam-se
forças ainda mais grosseiras, e localmente mais intensas, que surgem em determinadas
situações, tais como qualquer movimentação e compressão tecidual.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


113

5.12 Anatomia e Fisiologia do Sistema Sanguíneo

O sangue funciona como o meio de “meio de transporte” do corpo. Possui


elementos tão importantes que uma falha sua pode causar a morte dos que esperam suas
“mercadorias”: as células. É formado por uma massa líquida, contida num compartimento
fechado, nomeado de aparelho circulatório, e mantida em movimento regular e
unidirecional devido às contrações rítmicas do coração. Num adulto, seu volume total é de
aproximadamente 5,5 litros.

Para executar com precisão suas funções, tais como suprir as necessidades
alimentares dos tecidos, transportar detritos das células para serem eliminados além de
conduzir substâncias e gases de uma parte a outra do corpo, possibilitando o bom
funcionamento das células, o sangue necessita de elementos especiais em sua composição,
os quais serão citados.

Ao colher uma pequena quantidade de sangue observa-se que em pouco tempo


haverá a separação entre um líquido amarelado e uma massa vermelha (coágulo). Assim,
verifica-se que o sangue é formado de uma parte líquida, denominada plasma, e de uma
parte sólida, composta por células e fragmentos de células (elementos figurados).

O plasma corresponde a 56% do volume sanguíneo; é formado por 90% de água e


diversas substâncias, como proteínas, sais inorgânicos, aminoácidos, vitaminas, hormônios,
lipoproteínas, glicose e gases -oxigênio, gás carbônico e nitrogênio -, diluídos em seu meio.

A pressão osmótica é regulada pelos sais minerais juntamente com a água,


impulsionada por uma força que pressiona a passagem da água de um local menos
concentrado para outro mais concentrado através de uma membrana. São exemplos de sais
minerais o cloreto, o sódio, o potássio, o cálcio e o magnésio.

Já as principais proteínas relacionadas com o plasma são a albumina, as globulinas e


o fibrinogênio. A albumina faz o transporte de medicamentos, bilirrubina e do ácido biliar,
também é responsável por manter a pressão osmótica uniforme, proporcionando a troca de
água entre o sangue e os tecidos. Já a composição das globulinas apresenta a alfa e
betaglobulinas que exercem a função de transportar o ferro e outros metais, hormônios,
vitaminas, lipídios e as gamaglobulinas (anticorpos) responsáveis pela proteção do nosso
organismo, por isso são chamadas de imunoglobulinas. O fibrinogênio auxilia na formação
de fibrina na etapa final da coagulação sanguínea.

A maior parte das células que formam a parte sólida do sangue são os glóbulos
vermelhos, também chamados hemácias ou eritrócitos, eles não possuem núcleos e
apresentam um pigmento rico em ferro chamado de hemoglobina, tornando o sangue
vermelho e com a função de transportar oxigênio para as células. Qualquer dificuldade que
aconteça nesse transporte pode ser letal para as células do tecido afetado – o que é possível
de ser percebido através da pele e mucosas, que se apresentarão hipocoradas (sem cor).

As hemácias são formadas nas medulas vermelhas dos ossos longos e vivem em
média 120 dias; quando morrem são transportadas para o baço pelo próprio sangue, onde

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


114

se fragmentarão. Normalmente existem 4,5 a 5 milhões de eritrócitos/ml de sangue; isso


corresponde a 45% de eritrócitos no sangue, essa porcentagem recebe a nomenclatura de
hematócrito. A anemia, por exemplo, é causada por uma perda muito rápida ou produção
lenta.

As células sanguíneas também apresentam alguns componentes (aglutinógenos)


que são determinados pela genética, convencionalmente chamados de A e B. São esses
componentes que definem o tipo sanguíneo de uma pessoa. Existem quatro tipos de sangue:
tipo A- com hemácias que só contém o elemento A; tipo B – com hemácias que só contém o
elemento B; tipo AB – com hemácias que contém os dois elementos; e tipo O, com hemácias
“vazias”, ou seja, sem aglutinógeno. Além destes componentes, há o fator Rh. Cerca de 85%
da população possui o aglutinógeno Rh, sendo chamadas de Rh+.

Quando um paciente precisa por exemplo, de transfusão sanguínea se faz


necessário conhecer a tipagem sanguínea do mesmo pois a presença desses aglutinógenos
específicos nas hemácias é um dos elementos responsáveis pelas reações transfusionais
resultantes de tipos sanguíneos incompatíveis.

Em menor quantidade que as hemácias existem os leucócitos ou glóbulos brancos


que são responsáveis pela defesa do organismo pois são capazes de destruir os
ameaçadores. Também produzem uma substância manifesta nas reações alérgicas chamada
histamina além de outra substancia anticoagulante denominada heparina.

Quando suspensos no sangue os leucócitos são esféricos e classificam-se em


granulócitos - ou poliformonucleares - e agranulócitos - segundo características celulares - e
se diferenciam em outras células durante a fase de maturação.

A composição dos granulócitos é de 60% a 75% de neutrófilos, 2% a 4% de


eosinófilos e 1% de basófilos. São formados na medula óssea e depois são destruídos e
eliminados pelo fígado, baço, muco-bronquial, secreções glandulares e por autodestruição.
Auxiliam o organismo na defesa durante a fase aguda do processo infeccioso e inflamatório.
Os eosinófilos participam de processos alérgicos.

Os agranulócitos compreendem os linfócitos e monócitos. Enquanto os linfócitos


correspondem a 25% - 40% dos leucócitos e são formados nos tecidos linfoides, onde se
armazenam (timo e baço). Uma pequena quantidade circula pelo corpo, atuando lentamente
nas inflamações crônicas em vista de sua pouca ação destrutiva sobre as bactérias, no
entanto são importantes nas reações de defesa contra proteínas estranhas ao organismo. Os
monócitos formam- se na medula óssea e participam no combate de infecções crônicas,
correspondendo a 3% - 6% dos leucócitos.

Um outro elemento de importância fundamental no sangue são as plaquetas, que


são fragmentos de células especiais da medula óssea chamadas megacariócitos. O corpo
humano possui cerca de 250 a 450 mil plaquetas/ml, cuja função é a coagulação sanguínea -
se não existissem, correríamos o risco de perder todo o sangue através de qualquer
ferimento. Assim, quando um vaso sanguíneo sofre lesão em sua parede inicia-se um
processo chamado hemostasia (coagulação sanguínea), que visa impedir a perda de sangue

Módulo 1 Técnico em Farmácia


115

(hemorragia).

Por meio do processo de vasocontrição o vaso lesado se contrai e as plaquetas que


por ali circulam agregam-se no local, formando um tampão plaquetário. A Fibrina é
originada durante a agregação onde fatores do plasma sanguíneo, das plaquetas e dos vasos
lesados promovem a interação sequencial (em cascata) de 13 proteínas plasmáticas. A partir
daí é formada uma rede que aprisiona os leucócitos, eritrócitos e plaquetas formando-se
então o coagulo sanguíneo que é bem mais consistente e firme que o tampão plaquetário. O
tecido novo é formado através da proteção do coagulo que faz com que a parede do vaso
seja restaurada, para que só assim, através da ação de enzimas plasmáticas e plaquetárias o
coágulo seja removido.

Vale ressaltar que os vasos sanguíneos são inervados pelo nervo simpático que
diminui o calibre dos vasos (ação vasoconstritora), e pelo nervo parassimpático, que
aumenta o calibre dos vasos (vasodilatador). A ação desses dois feixes nervosos mantém o
diâmetro e a tonicidade dos vasos sanguíneos.

5.13 Anatomia e Fisiologia do Sistema Urinário

O sistema urinário é formado pelos órgãos responsáveis pela formação da urina que
é um dos veículos de excreção do organismo. Os órgãos que compõem esse sistema são: os
rins, os ureteres, a bexiga urinária e a uretra. Sua função é realizar a manutenção do
balanço interno (homeostase) através da eliminação ou preservação de água e demais
produtos do metabolismo celular, tais como, a ureia, o ácido úrico e a creatinina. Além de
produzir o hormônio eritropoietina responsável por estimular a produção dos eritrócitos do
sangue. É ainda no sistema excretor que ocorre a regulação da composição e do pH do
líquido intersticial, isso acontece através da seleção dos rins, ao impedirem que substâncias
vitais para o corpo sejam expelidas, liberando apenas a saída de substâncias tóxicas
garantindo a sobrevivência das células.

5.13.1 Rim

Localizados na região retro peritoneal, esses dois órgãos estão fixados na parede
posterior da cavidade abdominal localizados à direita e à esquerda da coluna vertebral,
sendo o direito uma posição inferior em relação ao esquerdo, em virtude da presença do
fígado à direita.

Na anatomia externa dos rins (Figura 51) podemos visualizar:

 Faces:

Anterior e posterior.

 Polos:

Superior (glândula suprarrenal) e inferior.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


116

 Bordas:

Medial e lateral.

 Camadas de revestimento:

Formada por cápsula fibrosa, cápsula adiposa e fáscia renal. A borda medial do rim
apresenta uma fissura vertical chamada hilo renal, por onde passam o ureter, a artéria e a
veia renal, linfáticos e nervos que em conjunto constituem o pedículo renal. Dentro do rim,
o hilo se expande em uma cavidade central denominada seio renal que funciona como
alojamento para a pelve renal que na verdade é a porção dilatada do ureter.

Já na anatomia interna do rim pode-se observar mais perifericamente uma região


de coloração menos evidente denominada córtex renal e ainda uma região mais escura
denominada medula renal. O córtex renal se projeta na medula renal dividindo estruturas
chamadas de pirâmides renais. Estas estruturas do córtex são chamadas de colunas renais.
As pirâmides renais têm os ápices voltados para a pelve renal, enquanto suas bases são
envolvidas pelo córtex renal, estando, portanto, voltadas para a superfície do órgão.

Figura 51 - Anatomia externa do rim

Fonte: Baseada em Netter (2000)

Segundo o portal da anatomia (2016) a pelve renal por sua vez, está dividida em
dois ou três tubos curtos e largos, os cálices renais maiores que se subdividem em número
variável de cálices renais menores. Cada um destes últimos oferece um encaixe em forma
Módulo 1 Técnico em Farmácia
117

de taça, para receber o ápice das pirâmides renais. Este ápice denomina-se papila renal,
região anatômica que apresenta uma área perfurada, área crivosa, por onde goteja o
ultrafiltrado que serão recebidos nos cálices renais menores. Um exame cuidadoso da
medula renal mostra a presença de estriações, os raios medulares (Figura 52).

Figura 52 - Anatomia Interna do Rim

Fonte: Baseada em Netter (2000)

Os rins são sustentados pela artéria renal, que tem sua origem na aorta. A artéria
renal é subdividida no hilo em um ramo anterior e um ramo posterior. Estes ramos se
subdividem em várias artérias segmentares que irão irrigar os vários segmentos do rim. Das
artérias segmentares surgem as artérias interlobares, que na junção córtico-medular
dividem-se para formar as artérias arqueadas e, posteriormente as artérias interlobulares.
Dessas artérias surgem as arteríolas aferentes, as quais sofrem divisão formando os capilares
dos glomérulos, que em seguida, confluem-se para forma a arteríola eferente. A arteríola
eferente dá origem aos capilares peritubulares e as arteríolas retas, responsáveis pelo
suprimento arterial da medula renal.

A análise microscópica de um corte de tecido renal (Figura 53) mostra a presença de


numerosas estruturas afuniladas, com longos tubos enrolados, denominados néfrons. Os
néfrons são estruturas funcionais dos rins. Cada rim tem aproximadamente um milhão de
nefrons.

O néfron é formado por duas regiões principais: o glomérulo e o túbulo renal. O


glomérulo é um novelo de capilares envolvido por uma pequena camada denominada
cápsula de Bowmann. Cada glomérulo juntamente com sua respectiva cápsula de Bowmann
constitui o crepúsculo renal ou corpúsculo de Malpighi.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


118

Figura 53 - Anatomia do Tecido Renal

Fonte: Baseada em Cheidar (2002)

Através da artéria renal o sangue chega ao rim, a partir daí se ramifica em larga
escala no interior do órgão, dando origem a um grande número de arteríolas aferentes,
onde cada uma ramifica-se no interior da cápsula de Bowman do néfron, formando um
enovelado de capilares denominado glomérulo de Malpighi.

O sangue arterial é conduzido nos capilares do glomérulo sob uma pressão de 70 a


80 mmHg, que faz com que parte do plasma seja transportado para a cápsula de Bowman;
esse processo é denominado filtração (Figura 54). As substâncias Essas substâncias
extravasadas para a cápsula de Bowman formam o filtrado glomerular, muito parecido em
composição química, com plasma sanguíneo, com a diferença de que não possui proteínas,
incapazes de atravessar os capilares glomerulares.

Na sequência O filtrado glomerular vai para o túbulo contorcido proximal, que


possui uma parede formada por células adaptadas ao transporte ativo. Nesse túbulo,
acontece a reabsorção ativa de sódio. Depois, o líquido percorre o ramo descendente da alça
de Henle, ocorrendo a passagem de água por osmose do líquido tubular (hipotônico) para os
capilares sanguíneos (hipertônicos) – esse processo é denominado reabsorção. O ramo
descendente percorre regiões do rim com gradientes crescentes de concentração.
Consequentemente, ele perde ainda mais água para os tecidos, de forma que, na curvatura
da alça de Henle, a concentração do líquido tubular é alta.

Esse líquido muito concentrado passa então a percorrer o ramo ascendente da alça
de Henle, que é formado por células impermeáveis à água e que estão adaptadas ao
transporte ativo de sais. Nessa região, ocorre remoção ativa de sódio, ficando o líquido
tubular hipotônico. Ao passar pelo túbulo contorcido distal, que é permeável à água, ocorre
reabsorção por osmose para os capilares sanguíneos. Ao sair do néfron, a urina entra nos

Módulo 1 Técnico em Farmácia


119

dutos coletores, onde ocorre a reabsorção final de água.

Em 24 horas são filtrados aproximadamente 180 litros de fluido do plasma; no


entanto apenas 1 a 2 litros de urina são formados por dia, ou seja, aproximadamente 99% do
filtrado glomerular é reabsorvido.

Ao longo dos túbulos renais também acontece a reabsorção ativa de aminoácidos e


glicose. Dessa maneira, ao final do túbulo distal, essas substâncias já não são mais
encontradas. Os capilares que reabsorvem as substâncias úteis dos túbulos renais se reúnem
para formar um vaso único, a veia renal, que leva o sangue para fora do rim, em direção ao
coração.

Figura 54 - Filtração Glomerular

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

Para se ter uma função renal bem regulada é importante e básico a regularização da
quantidade de líquidos no corpo Quando h, e m função da melhor reabsorverá uma
necessidade de reter água no interior do corpo, a urina fica mais concentrada em função da
maior reabsorção de água; já se houver excesso de água no corpo a urina fica menos

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


120

concentrada causando uma menor reabsorção de água.

O ADH é o principal agente regulador do equilibro hídrico na vida de um indivíduo,


produzido no hipotálamo e armazenado na hipófise. Através dos receptores osmóticos
localizados no hipotálamo é detectada a concentração do plasma sanguíneo. Então quando
acontece o aumento de concentração do plasma, esses osmorreguladores incentivam a
produção de ADH. Esse hormônio pode passar pela corrente sanguínea indo atuar sobre os
túbulos distais e sobre os túbulos coletores do néfron transformando as células desse grupo
mais permeáveis à água assim a reabsorção de água e a urina fica mais concentrada; já
quando a concentração de plasma é baixa, ou seja, há muita água a produção do ADH é
inibida causando também uma menor absorção de água nos túbulos distais e coletores,
fazendo com que o excesso de água seja excretado tornando a urina mais diluída.

A aldosterona é outro elemento participante do equilíbrio hidro iônico do


organismo sendo produzida nas glândulas suprarrenais. Esse hormônio é capaz de aumentar
a reabsorção ativa de sódio nos túbulos renais, fazendo com que haja uma maior retenção
de água no organismo. A aldosterona começa a ser produzida quando a concentração de
sódio no túbulo renal diminui. Uma proteína chamada renina é produzida pelo rim, que age
sobre o angiotensinogênio (inativo), outra proteína produzida no fígado e encontrada no
sangue, para depois ser convertida em angiotensina (ativa). Essa substância estimula as
glândulas suprarrenais a produzirem aldosterona.

5.13.2 Ureteres

São dois tubos que tem a função de transportar a urina dos rins para a bexiga,
geralmente medem menos de 6mm de diâmetro e 25 a 30cm de comprimento. No interior
do rim está localizada a pelve renal que é a extremidade superior do ureter (Figura 55).

O ureter é formado por duas partes: abdominal e pélvica, sendo eles capazes de
realizar contrações rítmicas denominadas peristaltismo.

5.13.3 Bexiga

É um órgão em formato de bolsa flexível de localização infraperitonial, tendo como


principal função armazenar a urina antes de ser eliminada pelo corpo. A bexiga transforma o
fluxo continuo de urina que chega pelos ureteres em emissão periódica (micção). A variação
de forma, tamanho, situação e relações da bexiga com os órgão vizinhos acontece de acordo
com suas fases de vacuidade, plenitude ou intermediárias e sua relação com os órgãos
vizinhos, essa variação também depende da idade ou sexo. No adulto, por exemplo, quando
está vazia ela se achata contra a sínfise púbica e quando está cheia fica e forma de um
ovoide e faz uma saliência na cavidade abdominal.

A bexiga possui um espaço triangular delimitado pelos óstios ureterais e pelo óstio
interno da uretra denominado trígono da bexiga.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


121

5.13.4 Uretra

É o canal condutor da urina constituindo o último segmento das vias urinárias. É


importante lembrar que ela difere nos dois sexos, mas em ambos tem a função de
estabelecer a comunicação entre a bexiga urinaria e o meio exterior. No homem ela mede
20c e funciona como uma via comum para a passagem da micção e ejaculação. No sexo
feminino, a uretra é menor, possui aproximadamente 4 cm de comprimento e localiza-se
anteriormente a vagina.

5.13.5 Uretra Masculina

A uretra masculina é composta por quatro porções:

 Intramural:

Que é circundada por musculatura lisa da bexiga, musculatura esta que apresenta
fibras circulares que constituirão o esfíncter interno da uretra. Enquanto na mulher, serve
apenas a excreção da urina.

 Prostática:

Atravessa longitudinalmente a próstata.

 Membranácea:

Atravessa o diafragma urogenital.

 Esponjosa:

É a maior das porções uretrais, localizada do diafragma urogenital até o óstio


externo da uretra. Dentro da glande fica a fossa navicular da uretra, que é uma dilatação que
diminui a pressão de chegada da urina minimizando a possibilidade de ocorrência de micro
lesões nas paredes que se seguem.

5.13.6 Uretra Feminina

A uretra feminina é composta por apenas duas porções:

 Intramural:

Que é circundada por musculatura lisa da bexiga, musculatura esta que apresenta
fibras circulares que constituirão o esfíncter interno da uretra, enquanto na mulher, serve
apenas a excreção da urina.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


122

 Membranácea:

Atravessa o diafragma urogenital.

A Figura 55 a seguir ilustra os órgãos acima descritos (ureter, bexiga e uretra).

Figura 55- Ureter, bexiga e uretra

Fonte: Baseado em www.calculorenal.org.br (2016)

5.14 Anatomia e Fisiologia do Sistema Reprodutor

O aparelho reprodutor tem como principal função perpetuar a espécie através da


reprodução. O sistema reprodutor feminino é um pouco mais complexo pelo fato de possuir
um órgão a mais, logo, apresenta mais uma função: o útero que abriga e proporciona o
desenvolvimento de uma nova vida, resultante da união dos gametas.

O início do processo de reprodução humana é marcado pelo percurso que o óvulo


faz através das tubas uterinas até chegar ao útero. Durante esse trajeto, vários milhões de
espermatozoides poderão ir ao encontro, mas somente os mais fortes, conseguem atingir o
óvulo e apenas um deles fecunda-lo.

5.14.1 Sistema reprodutor masculino

O sistema reprodutor masculino é formado pelos testículos (gônadas masculinas),


um sistema de ductos (ducto deferente, ducto ejaculatório e uretra), as glândulas sexuais
acessórias (próstata, glândula bulbouretral e vesículas seminais) e diversas estruturas de
suporte, incluindo o escroto e o pênis.

5.14.1.1 Pênis

O pênis, ilustrado pela Figura 56, é o órgão erétil e copulador masculino,


quando penetra nas vias genitais femininas lança os espermatozoides. É constituído de
tecido flácido, formado por:

Módulo 1 Técnico em Farmácia


123

 Dois corpos cavernosos são fixados ao osso da bacia através dos ramos do pênis –
extremidades posteriores.
 Um corpo esponjoso, apresentando duas dilatações: glande (anterior) e bulbo
(posterior).

5.14.1.2 Sêmen

O sêmen é um líquido constituído basicamente por espermatozoides e fluido


seminal. É composto por: secreções da próstata (30%) e vesículas seminais (70%). O fluido
seminal é formado de: água, muco, açúcar, bases e prostaglandinas (hormônios que vão
desencadear contrações do útero e tuba uterina).

Figura 56- Pênis

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

5.14.1.3 Escroto

O escroto é um saco musculocutâneo frouxo e enrugado, dividido em dois


compartimentos que contêm os testículos, os epidídimos e a parte mais proximal dos
cordões espermáticos. Tem como função sustentar os testículos e também regular a
temperatura local em relação ao ambiente (Figura 57).

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


124

Figura 57 - Escroto

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

O escroto é constituído por camadas de tecido diferentes que se estratificam da


periferia para a profundidade, nos sete planos seguintes:

 Cútis:

Formado por uma pele enrugada e fina com pregas transversais e com pelos
esparsos. Na linha mediana está localizada a rafe do escroto.

 Túnica dartos:

Músculo cutâneo composto por fibras musculares lisas.

 Fáscia espermática externa:

Derivada do músculo oblíquo externo do abdome, funciona como uma lâmina


conjuntiva, descendo do ângulo inguinal superficial para entrar na constituição do escroto.

 Fáscia cremastérica:

Este plano é representado por uma delgada lâmina conjuntiva que prende inúmeros
feixes de fibras musculares estriados de direção vertical. No conjunto, essas fibras
musculares constituem o músculo cremáster e derivam das fibras do músculo oblíquo
interno do abdome.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


125

 Fáscia espermática interna:

Lâmina conjuntiva que deriva da fáscia transversal.

 Túnica vaginal:

Serosa cujo folheto parietal representa a camada mais profunda do escroto,


enquanto o folheto visceral envolve o testículo, epidídimo e início do ducto deferente.

5.14.1.4 Testículos

O testículo (Figura 58) é um órgão par (direito e esquerdo) também chamado de


gônadas sexuais masculinas, fica localizado no escroto, na região anterior do períneo, logo
por trás do pênis.

Figura 59- Testículos

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

Cada testículo tem forma ovoide, possui eixo quase vertical, e levemente achatado
no sentido lateromedial, apresentando duas faces, duas bordas e duas extremidades. As
faces são classificadas em lateral e medial, as bordas em anterior e posterior e a
extremidades em superior e inferior.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


126

A túnica albugínea é uma cápsula de natureza conjuntiva que envolve o testículo,


com a função de enviar os septos para o seu interior, sendo subdivididos em lóbulos.

Nos lóbulos dos testículos encontramos em uma larga escala os túbulos seminíferos
contorcidos que são ductos longos e sinuosos de calibre quase capilar; neste local são
formados os espermatozoides.

Os túbulos seminíferos convergem para o mediastino dos testículos e vão se


anastomosando, constituindo túbulos seminíferos retos, os quais se entrecruzam formando
uma verdadeira rede, chamada Rede de Haller, ao nível do mediastino.

No mediastino, os túbulos seminíferos retos desembocam em dez a quinze ductos


eferentes, que se dirigem desde o testículos até o epidídimo.

Além de produzirem os espermatozoides, durante a fase da puberdade os


testículos produzem também hormônios – testosterona -, responsáveis pelo aparecimento
dos caracteres sexuais secundários, por isso são considerados glândulas mistas. A
temperatura ideal para produção e armazenamento de espermatozoides é de 35o C, isso nos
faz compreender a razão pela qual os testículos não se localizam no interior do corpo
humano. A temperatura corporal é em torno de 37o C.

5.14.1.5 Vias Espermáticas

As vias espermáticas, que conduzem os espermatozoides, são compostas pelo


epidídimo, ducto deferente, ducto ejaculatório e uretra. O epidídimo é uma estrutura em
forma de C, constituída de cabeça, corpo e cauda, situada na margem posterior de cada
testículo. Além de atuar como via condutora de gametas também armazena
espermatozoides até o momento da ejaculação. É no epidídimo que os espermatozoides
sofrem a maturação durante seu desenvolvimento, que ocorre aproximadamente em 2
meses.

O Ducto Deferente é um prolongamento da cauda do epidídimo responsável pela


condução do espermatozoide até o ducto ejaculatório. O ducto ejaculatório é formado pela
junção do ducto deferente com o ducto da vesícula seminal, também serve como via
condutora de gametas, no entanto possui menor dimensão e calibre do que as demais vias
condutoras de espermatozoides. Seu trajeto passa pelo interior da próstata.

5.14.1.6 Uretra

A uretra possui em média 20 centímetros de comprimento e serve para a


eliminação de urina e para ejaculação.

O canal da uretra é subdividido em: uretra prostática que transcorre pela próstata,
uretra membranosa que percorre o assoalho da pelve e uretra peniana que passa pelo
corpo esponjoso do pênis.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


127

5.14.1.7 Vesículas Seminais

As vesículas seminais são duas bolsas membranosas lobuladas, em média possuem


7,5cm de comprimento, e tem a função de produzir um líquido para ser adicionado na
secreção dos testículos. A face ventral está em contato com o fundo da bexiga, estendendo-
se do ureter à base da próstata. Esse líquido contém frutose (açúcar monossacarídeo),
prostaglandinas e proteínas de coagulação (vitamina C). o líquido possui uma natureza
alcalina colabora com a neutralização do ambiente ácido da uretra masculina e do trato
genital feminino, se isso não acontecesse mataria os espermatozoides. Esse líquido constitui
cerca de 60% do volume do sêmen.

5.14.1.8 Próstata

É uma glândula acessória composta de musculatura lisa, tecido fibroso e glândulas.


Fica localizada sob a bexiga (proporcionando assim, a sua palpação pelo toque retal), atrás
da sínfise pubiana e abaixo das vesículas seminais. Possui o formato achatado no sentido
anteroposterior, apresentando uma face anterior e outra posterior, e de cada lado, faces
inferolaterais.

Na sua estrutura, apresenta uma cápsula constituída por tecido conjuntivo e fibras
musculares lisas que a envolvem, da qual partem finas trabéculas que se dirigem até a
profundidade do parênquima. Também possui fibras musculares estriadas, além de células
glandulares espalhadas em tubos ramificados cuja secreção é drenada pelos ductos
prostáticos.

Como está localizada em torno da uretra, a próstata também é responsável por


liberar a urina ou o esperma, de acordo com o estímulo. Produz um líquido de aspecto
leitoso que dá ao esperma a cor e odor característicos.

5.14.1.9 Glândulas Bulbouretrais

Também considerada uma glândula anexa, as glândulas bulbouretrais são duas


formações esféricas e pequenas, estão situadas próximas ao bulbo e envolvidas por fibras
transversas do esfíncter uretral.

Localizam-se inferiormente a próstata e drenam suas secreções (Mucosa) para a


parte esponjosa da uretra. Seus ductos desembocam na uretra peniana, secretando um
líquido mucoso que auxilia na ejaculação.

Na Figura 59 a seguir se ilustram os órgãos genitais masculinos.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


128

Figura 60 - Órgãos genitais masculino

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

5.14.2 Fisiologia do Sistema Reprodutor Masculino

O ato sexual masculino é iniciado pela ereção, que acontece por meio de
fenômenos vasculares que proporcionam uma congestão sanguínea nos tecidos eréteis do
pênis, tornando-o ereto, rígido e com maior volume. Isso ocorre quando região sacral da
medula espinhal é excitada sendo O fenômeno da ereção ocorre através de excitação na
região sacral da medula espinhal transmitida por meio de nervos parassimpáticos. Logo
depois um circuito neuronal que fica na lombar alta da medula espinhal é ativado e por meio
de nervos autônomos simpáticos, causam vários fenômenos que provocarão a emissão, e
logo depois a ejaculação.

É no processo de emissão que ocorrem as contrações do epidídimo, canais


deferentes, vesículas seminíferas, próstata, glândulas bulbouretrais e glândulas uretrais. A
uretra, então, se enche de líquido contendo milhões de espermatozoides.

Logo após a emissão ocorre a ejaculação, onde aproximadamente 3,5 a 5 ml de


sêmen são expelidos para o exterior do aparelho masculino. Este volume de sêmen contém
cerca de 200 a 400 milhões de espermatozoides. O líquido prostático neutraliza a acidez da
vagina, possibilitando o movimento dos espermatozoides no interior do aparelho reprodutor
feminino.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


129

5.14.3 Sistema reprodutor feminino

Tal como no sistema genital masculino, o sistema genital feminino, ilustrado pela
Figura 60, é o conjunto de órgãos encarregados da reprodução na mulher. É composto pelos
ovários, tubas uterinas, útero, vagina e vulva. Os ovários, as tubas uterinas e o útero são
órgãos intraperitoneais situados profundamente na pelve.

5.14.3.1 Ovários

São duas gônadas ou glândulas sexuais femininas, também chamados de órgãos


primários. Localiza-se na parte inferior da cavidade abdominal, um de cada lado do útero.
Possui aproximadamente 3cm de comprimento, 2cm de largura e 1,5cm de espessura.

Possui uma borda anterior e outra posterior e uma face lateral e outra medial. A
borda medial acopla-se a uma expansão do ligamento largo do útero que recebe o nome de
mesovário, e por isso é denominada de borda mesovárica, já a borda posterior é
denominada borda livre A borda mesóvarica representa o hilo do ovário; é por ele que
entram e saem os vasos ováricos. A extremidade inferior é chamada extremidade tubal e a
superior extremidade uterina.

Durante a puberdade os ovários começam a produzir os hormônios sexuais,


estrógeno e progesterona. O estrógeno é produzido pelas células dos folículos maduros, já o
corpo lúteo produz grandes quantidades de progesterona e pouco estrógeno.

5.14.3.2 Tuba uterina

Tuba uterina são dois tubos localizados no ângulo superior de cada lado do útero;
apresenta um calibre irregular medindo cerca de 10 cm de comprimento.

Conforme se afasta do útero vai se dilatando, por um funil de borda franjada. É


subdividida em 4 regiões, que no sentido médio-lateral são: parte uterina, istmo, ampola e
infundíbulo. As principais funções da tuba são transportar o óvulo do ovário ao útero e ser o
local onde acontece a fertilização do óvulo pelo espermatozoide.

5.14.3.3 Útero

É um órgão oco que possui formato de pêra invertida e se situa entre a bexiga
urinaria e o reto. Comunica-se por um lado com a tuba uterina e por outro com a vagina.

É dividido em quatro partes:

 Corpo do útero;
 Fundo do útero;
 Istmo;
 Colo do útero.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


130

E possui uma estrutura dividida em três camadas:

 Camada interna ou endométrio;


 É modificada pelo ciclo menstrual ou até mesmo na gravidez (é onde o embrião se
instala). É preparado para receber o óvulo mensalmente, através do aumento da
espessura e da formação de redes capilares. Caso não aconteça fecundação ele
sofre descamação e ocorre o processo da menstruação;
 Camada média ou miométrio;
 Camada externa ou perimétrio.

Figura 60 - Útero, tuba uterina, ovários

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

5.14.3.4 Vagina

Funciona como um canal muscula membranoso, Sua extensão vai desde o colo do
útero até a vulva. Possui uma estrutura elástica coberta por uma pele fina, com várias
pregas. No ato sexual, é a vagina que recebe o pênis, por ela também passa os fluxos
menstruais e também o feto na hora do parto. Na sua entrada existe uma proteção formada
por uma membrana circular - o hímen - que fecha parcialmente o orifício vulvo-vaginal e
geralmente se rompe nas primeiras relações sexuais.

5.14.3.5 Clitóris

É um órgão de formato alongado e erétil, fica localizado na parte posterior da vulva,


apresenta uma porção oculta entre os lábios maiores e outra livre, que termina numa
extremidade chamada glande, coberta pelo prepúcio.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


131

5.14.3.6 Grandes lábios

São duas dobras cutâneas, alongadas, que possuem uma fenda entre elas. No
período da puberdade começam a aparecer pelos na parte externa, em seu interior
permanecem lisas.

5.14.3.7 Pequenos lábios

Também chamados de ninfas, são duas dobras cutâneas pequenas localizadas


medialmente aos lábios maiores.

5.14.3.8 Monte púbico

É uma pequena elevação formada basicamente de tecido adiposo.

5.14.3.9 Óstio da vagina

É a abertura vaginal. É envolta pelos pequenos lábios onde está contida a uretra, a
vagina e os ductos das glândulas vestibulares. Durante a excitação sexual essas glândulas
liberam uma pequena quantidade de muco durante, que serve para deixar as estruturas
úmidas e propicias para a relação sexual.

5.14.3.10 Óstio da uretra

A uretra feminina é menor que a masculina e serve apenas como via de micção (no
caso do homem é também via de ejaculação). Mede aproximadamente 4 cm e apresenta
uma abertura denominada óstio interno da uretra.

O órgão genital feminino é ilustrado pela Figura 61 a seguir.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


132

Figura 61 - Vagina e vulva

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

5.14.3.11 Mamas

São dois órgãos formados por um conjunto de glândulas que tem como principal
função produzir o leite materno durante o período de lactação da mulher.

5.14.4 Fisiologia do Sistema Reprodutor Feminino

Na conclusão do desenvolvimento embrionário de uma menina, ela já possui todas


as células necessárias para serem transformadas no final do desenvolvimento embrionário
de uma menina, ela já tem todas as células que irão transformar-se em gametas nos seus
dois ovários. Estas células - os ovócitos primários - encontram-se dentro de estruturas
denominadas folículos ovarianos. O início da puberdade feminina é marcada pelo
aparecimento da primeira menstruação, (MENARCA – entre 11 e 13 anos), e vai até a última
menstruação, (MENOPAUSA - entre 45 e 50 anos).

A partir da menarca a menina passa a ser capaz de gerar uma nova vida, além disso,
ocorre o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários como o desenvolvimento das
mamas e o aparecimento de pelos em determinadas regiões do corpo. Durante a vida fértil
da mulher, amadurece normalmente apenas um folículo a cada 28-30 dias produzindo um
óvulo fértil, que cai na tuba uterina, onde poderá ser fecundado ou não.

No ponto de ruptura do folículo, na parede do ovário, as células foliculares formam


um tecido de cicatrização de função endócrina, o chamado corpo lúteo (ou amarelo). Se não
houver fecundação, o corpo lúteo degenera após 10 dias. Se, no entanto, o óvulo for
fecundado, o corpo amarelo cresce muito e permanece alguns meses produzindo a
progesterona, que é o hormônio da gravidez.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


133

5.14.4.1 Ciclo menstrual

O ciclo menstrual, ilustrado pela Figura 62, Compreende um período de 28 a 30


dias, durante o qual se origina um óvulo que, não fecundado, será expulso junto com
secreções, sangue e restos do endométrio, que continua se desenvolvendo para garantir a
fixação, proteção e nutrição do futuro embrião. Nos primeiros 14 dias do ciclo, a hipófise,
produzindo FSH (Hormônio Folículo Estimulante), estimula a maturação de um folículo
ovariano. Este produz estrógenos, que, chegam ao útero promovendo o crescimento do
endométrio.

No 14° dia ocorre a ovulação e nos 14 dias finais do ciclo a hipófise produz alta taxa
de LH (hormônio luteinizante), que estimula o desenvolvimento do corpo amarelo. Este
tecido endócrino produz então a progesterona, que continua estimulando o crescimento do
endométrio, preparando-o para receber o zigoto. O aumento da taxa de progesterona atua
sobre a hipófise inibindo a produção do LH. Assim, o corpo amarelo degenera, cai a taxa de
progesterona e ocorre o desprendimento do endométrio, eliminado como fluxo menstrual.

Figura 62 - Ciclo Menstrual

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


134

5.14.4.2 Gravidez

Os espermatozoides lançados na vagina deslocam-se em direção ao útero e às


tubas uterinas. Quando encontram um óvulo no interior das tubas, ocorre a fecundação.
Imediatamente, a membrana do óvulo fica completamente impermeável à penetração de
outro espermatozoide. A partir do instante da fecundação, a célula-ovo começa a se dividir e
a ser “empurrada” em direção ao útero por contrações leves da musculatura lisa da tuba e
pelo movimento dos cílios que revestem sua mucosa interna. O ovo leva de dois a quatro
dias para atingir o útero, e a essa altura já pode ser chamado de embrião. O embrião
encontra o útero com as paredes espessadas, cheias de vasos sanguíneos e vilosidades,
implanta-se nessas paredes e se desenvolve.

Quando chega ao útero, o ovo já iniciou a formação do embrião. O


desenvolvimento embrionário é rápido e em poucos dias o embrião já conta com muitas
células. Com o tempo, certas camadas de células se diferenciam para formar as membranas
extraembrionárias. Umas dessas camadas é o córion, que se desenvolve em contado com a
parede do útero, formando inúmeros prolongamentos. A mucosa uterina se desenvolve mais
e se une estreitamente a esses prolongamentos, formando a placenta. É por intermédio da
placenta que as substâncias dissolvidas no plasma materno passam para o feto,
alimentando-o. Ela se comunica com o embrião através do cordão umbilical, dentro do qual
passam a artéria e as veias umbilicais. É pela artéria umbilical que o embrião recebe
nutrientes e oxigênio retirado do sangue da mãe. Entre o embrião e as membranas
existentes existe um liquido chamado líquido amniótico. Três a quatro semanas após a
fecundação, o coração do embrião começa a bater. Ao fim do segundo mês o embrião já tem
membros, dedos e face com características humanas. Desse ponto em diante recebe o nome
de feto.

5.14.4.3 Menopausa

Depois de uns 400 ciclos menstruais completos, ou menos, sobrevém o declínio


sexual da mulher. A menopausa, ou interrupção permanente da menstruação, não é o
climatério em si, mas uma das manifestações desse período. Além da suspensão da
menstruação, o climatério envolve profundas alterações orgânicas e psíquicas.

5.14.4.4Métodos Contraceptivos

 Pílulas anticoncepcionais: Contém hormônios que evitam a produção de óvulos.


 DIU (dispositivo intrauterino): O DIU é composto por um objeto de plástico
parecido com uma flecha. Ele possui um fio de cobre enrolado na parte inferior.
Evita a gravidez de duas formas, o cobre tem função espermicida; e o DIU impede
que o embrião se implante na camada do útero. Isto para alguns é considerado
abortivo.
 Abstinência: Não ter relação sexual.
 Coito interrompido: Retirar o pênis antes da ejaculação, é um método pouco
seguro.
 Cremes espermicidas: Substâncias aplicadas na vagina que matam os
espermatozoides. São pouco eficientes e geralmente são associados ao diafragma.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


135

 Diafragma: Tem a forma de um chapeuzinho, feito de borracha fina e macia, que é


colocado no fundo da vagina, cobrindo todo o colo do útero, impedindo assim a
passagem dos espermatozoides.
 Tabelinha: Evita ter relação sexual no dia da ovulação.
 Camisinha (Masculina e feminina): Impede que o esperma seja depositado dentro
do corpo feminino. Único método que também protege contra as DSTs.
 Vasectomia: Corte do vaso deferente e o amarro de suas pontas. Pode ser
reversível (amarras) ou irreversível (corte).
 Laqueadura Tubária: Cortam-se as pontas das tubas uterinas impedindo que os
espermatozoides entrem em contato com o óvulo. Pode ser reversível (amarras)
ou irreversível (corte).

5.15 Anatomia e Fisiologia do Sistema Endócrino

Há no organismo algumas glândulas das quais a função é essencial para a vida. São
conhecidas pelo nome de "glândulas endócrinas" ou de secreção interna, porque as
substâncias por elas elaboradas passam diretamente para o sangue. Estas glândulas não
têm, portanto, um ducto excretor, mas são os próprios vasos sanguíneos que, capilarizando-
se nelas, recolhem as secreções. Na Figura 63 a seguir se podem observar as glândulas
endócrinas.

Figura 63 - Glândulas endócrinas

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


136

A secreção se verifica mediante glândulas diferenciadas, as quais podem ser


exócrinas (de secreção externa) ou endócrinas (de secreção interna). Chamamos glândulas
exócrinas as que são providas de um conduto pelo qual vertem ao exterior o produto de sua
atividade secretora, tais como o fígado, as glândulas salivares e as sudoríparas. E as
glândulas endócrinas são aquelas que carecem de um conduto excretor e, portanto, vertem
diretamente no sangue seu conteúdo, como por exemplo, a tiroide, o timo, etc. Existem
além disso, as mistas que produzem secreções internas e externas, como ocorre com o
pâncreas (que produz suco pancreático e insulina) e o fígado.

As glândulas endócrinas secretam substâncias particulares que provocam no


organismo funções biológicas de alta importância: os hormônios, estes difundem ou são
transportados pela corrente circulatória a outras células do organismo, regulando suas
necessidades. As principais glândulas endócrinas do organismo são o pâncreas, a tireoide, as
paratireoides, a pinel, as cápsulas suprarrenais, a hipófise, as gônadas.

 Hormônio:

É uma substância secretada por células de uma parte do corpo que passa a outra
parte, onde atua pouca concentração regulando o crescimento ou a atividade das células. No
sistema endócrino distinguimos 3 partes: célula secretória, mecanismo de transporte e
célula branca, cada uma caracterizada por sua maior ou menor especificação. Geralmente
cada hormônio é sintetizado por um tipo específico de células, podendo ser dividido
conforme descrito a seguir.

 Glandulares:

São elaborados pelas glândulas endócrinas e vertidos por estas diretamente ao


sangue, que as distribui a todos os órgãos, onde logo exercem suas funções. Subdividem-se
em dois grupos, conforme realizam uma ação excitante ou moderadora sobre a função dos
órgãos sobre os quais influem.

 Tissulares ou aglandulares:

São formados em órgãos distintos e sem correlação nem interdependência entre


eles: sua ação é exclusivamente local e a exercem no órgão em que se formam ou nos
territórios vizinhos. Sob o aspecto químico, os hormônios podem dividir-se em duas grandes
classes.

 Hormônios esteroides:

Aos que pertencem às cortico/suprarrenais e sexuais.

 Hipófise ou pituitária:

É uma glândula do tamanho de um grão de ervilha, localizada no encéfalo, presa


numa região chamada hipotálamo. Essa glândula é a mais importante do corpo, pois
comanda o funcionamento de outras glândulas, como tireoide, suprarrenais e sexuais.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


137

Produz grande número de hormônios, como os responsáveis pelo crescimento, metabolismo


de proteínas (hormônio somatotrófico), contração do útero (hormônio ocitocina), controle
da quantidade de água no organismo (hormônio antidiurético - ADH), estímulo das glândulas
tireoide (hormônio tireotrófico - TSH) e supra-adrenais (hormônio adrenocorticotrófico ou
corticotrofina – ACTH).

Os três tipos de hormônios gonadotróficos atuam no desenvolvimento de glândulas


e órgãos sexuais, interferindo nos processos de menstruação, ovulação, gravidez e lactação.
São eles: o hormônio folículo estimulante (FSH), que age sobre a maturação dos
espermatozoides e folículos ovarianos; o hormônio luteinizante (LH), que estimula os
testículos e ovários e provoca a ovulação e formação do corpo amarelo; e a prolactina, que
mantém o corpo amarelo e sua produção de hormônios, atuando no desenvolvimento das
mamas e interferindo na produção de leite.

 Pineal:

A pineal ou epífise localiza-se no diencéfalo, presa por uma haste à parte posterior
do teto do terceiro ventrículo. Contém serotonina, precursora da melatonina. É um
transdutor neuroendócrino que converte impulsos nervosos em descargas hormonais e
participa do ritmo circadiano de 24 horas e de outros ritmos biológicos, como os
relacionados às estações do ano. A pineal normal responde à luminosidade, sendo mais ativa
à noite, quando a produção de serotonina é maior que durante o dia.

 Tireoide:

Esta glândula - sob controle do hormônio hipofisário TSH (hormônio tireotrófico) -


localiza-se no pescoço (abaixo da laringe e na frente da traqueia) e libera os hormônios
tiroxina e calcitocina, que intensificam a atividade de todas as células do organismo. O
primeiro atua no metabolismo (todas as reações que ocorrem no interior do corpo); o
segundo, na regulação de cálcio no sangue.

 Paratireoide:

Estas quatro glândulas localizam-se, duas a duas, ao lado das tireoides. Secretam
um hormônio denominado paratormônio, que também regula a quantidade de cálcio e
fosfato no sangue.

 Suprarrenais:

Estas duas glândulas localizam-se sobre cada rim e possuem duas partes: a externa,
chamada de córtex e a interna, de medula. O córtex da suprarrenal produz e libera vários
hormônios, dentre eles a aldosterona, que ajuda a manter constante a quantidade de sódio
e potássio no organismo. Outro hormônio é o cistrol, cortisona ou hidrocortisona, que
estimula a utilização de gorduras e proteínas como fonte energética, aumenta a taxa de
glicose na corrente sanguínea e também atua no processo de inflamações, sendo
largamente utilizada como medicação. Também produz o andrógeno, o hormônio
responsável pelo desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários masculinos.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


138

A medula da suprarrenal produz e libera a adrenalina e noradrenalina, que é


lançada na corrente sanguínea em situações de fortes reações emocionais como medo,
ansiedade, sustos, perigos iminentes, etc. A adrenalina estimula a ação cardíaca, aumenta o
seu batimento e dilata os brônquios; noradrenalina aumenta a pressão arterial e diminui o
calibre dos vasos.

 Pâncreas:

Esta glândula localiza-se na cavidade abdominal e possui duas funções: uma


exócrina e outra endócrina. Na exócrina, produz o suco pancreático que será liberado fora
da corrente sanguínea, mais precisamente no duodeno, auxiliando o processo digestivo.

Na função endócrina, produz dois hormônios: a insulina, que transporta a glicose


através da membrana celular, diminuindo-a da corrente sanguínea, e o glucagon, que
contribui, estimulando o fígado, para o aumento da glicose no sangue.

 Ovários:

Os ovários são duas glândulas, uma de cada lado do corpo, que integram o aparelho
reprodutor feminino e localizam-se abaixo da cavidade abdominal, em uma região
denominada pelvis ou cavidade pélvica. Ligam-se ao útero através de dois ligamentos
denominados ligamentos do ovário.

Os ovários são responsáveis pela produção e liberação de dois hormônios, o


estrogênio ou hormônio folicular e a progesterona. O estrogênio controla o
desenvolvimento das características sexuais femininas, como aumento dos seios, depósito
de gordura nas coxas e nádegas, aparecimento de pelos pubianos e estímulo ao impulso
sexual.

A progesterona, responsável pela implantação do óvulo fecundado na parede


uterina e pelo desenvolvimento inicial do embrião, estimula o desenvolvimento das
glândulas mamárias e da placenta e inibe a secreção de um dos hormônios gonadotróficos.

Além de produzir hormônios, os ovários são também responsáveis pela produção


das células sexuais femininas, os ovócitos.

 Testículos:

Em número de dois, localizam-se na pélvis e fazem parte do aparelho reprodutor


masculino. Protegidos por uma bolsa denominada bolsa escrotal ou escroto, produzem o
hormônio denominado testosterona, que controla as características sexuais masculinas
como aparecimento de barba, pelos no tórax, desenvolvimento da musculatura e impulso
sexual. Além da produção de hormônio, os são também responsáveis pela produção das
células sexuais masculinas, os espermatozoides.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


139

5.16 Anatomia e Fisiologia do Sistema Nervoso

O sistema nervoso se distribui por todos tecidos do organismo humano. E


responsável pela regulação e integração da função dos órgãos, pela captação de estímulos
do meio-ambiente e é sede de todas as atividades mentais e comportamentais humanas.
Devido à sua função essencial à vida, a principal parte dele está bem protegida dentro de
estruturas ósseas.

5.16.1 Composição do Tecido Nervoso

O tecido nervoso é constituído por células nucleadas especiais, denominadas


neurônios (Figura 64), com longos prolongamentos capazes de captar estímulos exteriores
como calor, frio, dor. Possuem morfologia complexa, mas quase todos apresentam três
componentes. Os dendritos são prolongamentos numerosos, cuja função é receber os
estímulos do meio ambiente, de células epiteliais sensoriais ou de outros neurônios.

O corpo celular ou pericário é o centro do tráfico dos impulsos nervosos da célula.


O axônio é um prolongamento único, especializado na condução de impulsos que
transmitem informações do neurônio para outras células nervosas, musculares e
glandulares. A transmissão do impulso nervoso de um neurônio a outro depende de
estruturas altamente especializadas: as sinapses. Os axônios estão envoltos em uma camada
gelatinosa que funciona como isolante e denomina-se bainha de mielina. O conjunto de
axônios corresponde às fibras nervosas, cuja união forma os feixes ou tractos do sistema
nervoso central e os nervos do sistema nervoso periférico. A junção dos corpos neuronais
constitui uma substância cinzenta denominada córtex.

Figura 64- Estrutura de um neorônio

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

O funcionamento do sistema nervoso depende do chamado arco reflexo constituído


pela ação das vias aferentes, centrípetas ou sensitivas, responsáveis pela condução dos

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


140

impulsos originados nos receptores externos (provenientes do sistema sensorial) ou internos


existentes em diversos órgãos e sensíveis às modificações químicas, à pressão ou tensão;
pelos centros nervosos que formam a resposta aos estímulos enviados pelas vias sensitivas;
pela via eferente, motora ou centrífuga que conduz a resposta voluntária ou involuntária dos
centros nervosos para os tecidos muscular e glandular.

5.16.2 Divisão Anatômica do Sistema Nervoso

Anatomicamente, o sistema nervoso divide-se em sistema nervoso central (SNC) e


sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é representado pelo encéfalo e medula espinhal,
respectivamente, localizados no interior da caixa craniana e coluna vertebral.

Figura 65 - Divisão do sistema nervoso central

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

No SNC, existem as chamadas substâncias cinzenta e branca. A substância cinzenta


é formada pelos corpos dos neurônios e a branca, por seus prolongamentos. Com exceção
do bulbo e da medula, a substância cinzenta ocorre mais externamente e a substância
branca, mais internamente.

Os órgãos do SNC são protegidos por estruturas esqueléticas (caixa craniana,


protegendo o encéfalo; e coluna vertebral, protegendo a medula - também denominada
raque) e por membranas denominadas meninges, situadas sob a proteção esquelética: dura-
máter (a externa), aracnoide (a do meio) e pia-máter (a interna). Entre as meninges
aracnoides e pia-máter há um espaço preenchido por um líquido denominado líquido
cefalorraquidiano ou líquor.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


141

Figura 66- Órgãos do sistema nervoso central

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

5.16.2.1 Encéfalo

O encéfalo humano contém cerca de 35 bilhões de neurônios e pesa


aproximadamente 1,4 kg, é constituído pelo cérebro, diencéfalo, cerebelo e tronco
encefálico (mesencéfalo, ponte e medula oblonga) e sua parte central é constituída por uma
substância branca; a externa, por uma substância cinzenta.

5.16.2.2 Telencéfalo

O telencéfalo ou cérebro é dividido em dois hemisférios cerebrais (Figura 68)


bastante desenvolvidos. Nestes, situam-se as sedes da memória e dos nervos sensitivos e
motores.

Entre os hemisférios, estão os ventrículos cerebrais (ventrículos laterais e terceiro


ventrículo); Existe ainda com um quarto ventrículo, localizado mais abaixo, ao nível do
tronco encefálico. Estes são reservatórios do líquido cefalorraquidiano, (líquor), participando
na nutrição, proteção e excreção do sistema nervoso. Sua superfície evidencia pregas (giros)
e reentrâncias (sulcos e fissuras) do córtex cerebral.

Os sulcos e fissuras dividem os hemisférios em lobos responsáveis por funções


específicas (Figura 67) como sensitivas, auditivas, visuais, movimentação voluntária,
memória, concentração, raciocínio, linguagem, comportamento, entre outras.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


142

Figura 67- Hemisférios cerebrais

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

Figura 68 - Funções do Cérebro

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

A região superficial do telencéfalo, que acomoda bilhões de corpos celulares de


neurônios (substância cinzenta), constitui o córtex cerebral, formado a partir da fusão das
partes superficiais telencefálicas e diencefálicas. O córtex recobre um grande centro medular
branco, formado por fibras axonais (substância branca).

Em meio a este centro branco (nas profundezas do telencéfalo), há agrupamentos


de corpos celulares neuronais que formam os núcleos (gânglios) da base ou núcleos
(gânglios) basais - caudado, putamen, globo pálido e núcleo subtalâmico, envolvidos em
conjunto, no controle do movimento. Parece que os gânglios da base participam também de
um grande número de circuitos paralelos, sendo apenas alguns poucos de função motora.
Outros circuitos estão envolvidos em certos aspectos da memória e da função cognitiva.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


143

5.16.2.3 Diencéfalo

O diencéfalo circunda o terceiro ventrículo, forma a parte central mais importante


do encéfalo e contém o tálamo e hipotálamo. Todas as mensagens sensoriais, com exceção
das provenientes dos receptores do olfato, passam pelo tálamo antes de atingir o córtex
cerebral. Esta é uma região de substância cinzenta localizada entre o tronco encefálico e o
cérebro.

O tálamo atua como estação retransmissora de impulsos nervosos para o córtex


cerebral. Ele é responsável pela condução dos impulsos às regiões apropriadas do cérebro
onde eles devem ser processados. O tálamo também está relacionado com alterações no
comportamento emocional; que decorre, não só da própria atividade, mas também de
conexões com outras estruturas do sistema límbico (que regula as emoções).

O hipotálamo, também constituído por substância cinzenta, é o principal centro


integrador das atividades dos órgãos viscerais, sendo um dos principais responsáveis pela
homeostase corporal. Ele faz ligação entre o sistema nervoso e o sistema endócrino,
atuando na ativação de diversas glândulas endócrinas. É o hipotálamo que controla a
temperatura corporal, regula o apetite e o balanço de água no corpo, o sono e está
envolvido na emoção e no comportamento sexual. Tem amplas conexões com as demais
áreas do pros encéfalo e com o mesencéfalo.

O hipotálamo desempenha, ainda, um papel nas emoções. Especificamente, as


partes laterais parecem envolvidas com o prazer e a raiva, enquanto que a porção mediana
parece mais ligada à aversão, ao desprazer e à tendência ao riso (gargalhada) incontrolável.
De um modo geral, contudo, a participação do hipotálamo é menor na gênese (“criação”) do
que na expressão (manifestações sintomáticas) dos estados emocionais.

Figura 69 - Diencéfalo

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


144

5.16.2.4 Cerebelo

Situado atrás do cérebro está o cerebelo (Figura 70), que é primariamente um


centro para o controle dos movimentos iniciados pelo córtex motor (possui extensivas
conexões com o cérebro e a medula espinhal). Como o cérebro, também está dividido em
dois hemisférios.

Porém, ao contrário dos hemisférios cerebrais, o lado esquerdo do cerebelo está


relacionado com os movimentos do lado esquerdo do corpo, enquanto o lado direito, com
os movimentos do lado direito do corpo. O cerebelo controla os movimentos, a tonicidade
muscular e participa da manutenção do equilíbrio do corpo.

Figura 70- Cerebelo

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

5.16.2.5 Tronco Encefálico

O tronco encefálico (Figura 71) interpõe-se entre a medula e o diencéfalo, situando-


se ventralmente ao cerebelo. Possui três funções gerais:

 Recebe informações sensitivas de estruturas cranianas e controla os músculos da


cabeça.
 Contém circuitos nervosos que transmitem informações da medula espinhal até
outras regiões encefálicas e, em direção contrária, do encéfalo para a medula
espinhal (lado esquerdo do cérebro controla os movimentos do lado direito do
corpo; lado direito de cérebro controla os movimentos do lado esquerdo do
corpo);
 Regula a atenção, função esta que é mediada pela formação reticular (agregação

Módulo 1 Técnico em Farmácia


145

mais ou menos difusa de neurônios de tamanhos e tipos diferentes, separados por


uma rede de fibras nervosas que ocupa a parte central do tronco encefálico). Além
destas 3 funções gerais, as várias divisões do tronco encefálico desempenham
funções motoras e sensitivas específicas.

Figura 71 - Tronco encefálico

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

5.16.2.6 Medula Espinhal

A medula espinhal (Figura 72) encontra-se no interior do canal formado pelas


vértebras da coluna vertebral. Dela irradiam-se 33 pares de nervos espinhais, à direita e à
esquerda, que inervam o pescoço, tronco e membros, ligando o encéfalo ao resto do corpo e
vice-versa. É também mediadora da atividade reflexa (atos instantâneos, realizados
independentemente da consciência). Estende-se da base do crânio até o nível da segunda
vértebra lombar, pouco acima da cintura. A substância cinzenta da medula espinhal tem o
formato da letra H, cujas extremidades são a raiz anterior, de onde saem as fibras motoras, e
raiz posterior, local de saída das fibras sensitivas.

Por sua vez, o SNP consiste nos nervos cranianos e espinhais. Emergindo do tronco
cerebral, há 12 pares de nervos cranianos que exercem funções específicas e nem sempre
estão sob controle voluntário. Os nervos que possuem fibras de controle involuntário são
chamados de sensitivos; e os de controle voluntário, motores. A partir dos órgãos dos
sentidos e dos receptores (terminações nervosas sensitivas), presentes em várias partes do
corpo, o SNP conduz impulsos nervosos para o SNC, e deste para os músculos e glândulas. Os
nervos espinhais são divididos e denominados de acordo com sua localização na coluna
vertebral: 8 cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais e um coccígeo.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


146

Figura 72 - Medula espinhal

Fonte: baseada em LOPES, (2002)

O quadro a seguir facilita a identificação das ações dos 12 pares de nervos


cranianos:

Quadro 1 – Pares de nervos cranianos

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

Módulo 1 Técnico em Farmácia


147

5.17 Fisiologia do Sistema Nervoso

Fisiologicamente, o sistema nervoso pode ser dividido em sistema nervoso


voluntário, que comanda a musculatura estriada esquelética, e sistema nervoso autônomo
(SNA) ou involuntário, responsável pelo controle da musculatura lisa, do músculo cardíaco,
da secreção de todas as glândulas digestivas e sudoríparas e de alguns órgãos endócrinos.

Em sua maioria, as funções do SNA são articuladas em coordenação com o SNC, em


especial o hipotálamo. Do ponto de vista anatômico e funcional, o SNA divide-se em sistema
simpático e parassimpático, que trabalham de modo antagônico, porém em equilíbrio.

O sistema simpático estimula atividades realizadas durante situações de


emergência e estresse, nas quais os batimentos cardíacos se aceleram e a pressão arterial se
eleva. O sistema parassimpático estimula as atividades que conservam e restauram os
recursos corpóreos (por exemplo, diminuição dos batimentos cardíacos).

Cada parte do SNA possui duas cadeias de neurônios. O corpo celular do primeiro
neurônio situa-se na coluna referente visceral do encéfalo e da medula espinhal; o do
segundo neurônio, num gânglio autônomo, externamente ao SNC. O axônio do primeiro
neurônio é chamado fibra pré-sináptica ou pré-ganglionar; o do segundo, fibra pós-sináptica
ou pós-ganglionar.

Os gânglios localizam-se ao longo da coluna vertebral, na cavidade abdominal, nas


proximidades ou interior dos órgãos por eles inervados Para chegarem à musculatura, as
fibras pós-ganglionares utilizam uma artéria, um nervo independente ou ligado aos nervos
espinhais.

No sistema simpático, os corpos celulares dos neurônios préganglionares localizam-


se na substância cinzenta (corno lateral) da medula espinhal, começando no primeiro
segmento torácico e terminando no segundo ou terceiro segmento lombar. Os corpos
celulares dos neurônios pós-ganglionares situam-se nos gânglios para-vertebrais e
prévertebrais. Por liberarem adrenalina ou noradrenalina, as terminações pós-ganglionares
simpáticas são conhecidas como adrenérgicas.

No sistema parassimpático, os corpos celulares dos neurônios pré-ganglionares


situam-se nos núcleos dos pares III, VII, IX e X de nervos cranianos no tronco encefálico e no
segundo, terceiro e quarto segmentos sacrais da medula espinhal. As fibras pré-ganglionares
fazem sinapse com o corpo celular de um neurônio pós-ganglionar parassimpático, próximo
ou na parede do órgão-alvo. Por liberarem acetilcolina, a maioria das terminações pós-
ganglionares parassimpáticas são denominadas colinérgicas.

A atividade motora somática depende do padrão e da frequência de descarga dos


neurônios motores espinhais e cranianos. Estes neurônios, que constituem as vias finais
comuns para os músculos esqueléticos, são bombardeados por impulsos provenientes de
um conjunto de vias e visam função regular a postura do corpo e possibilitar os movimentos
coordenados.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


148

Estes impulsos servem a três funções distintas: a primeira, é a do sistema piramidal


e das regiões do cérebro correlacionadas com a gênese e o padrão dos movimentos; a
segunda é das múltiplas vias agrupadas como sistema extrapiramidal ou córtico-estrio-
reticular; a terceira é a do cerebelo, com suas conexões aferentes e eferentes.

No sistema piramidal os impulsos se originam no córtex cerebral e estão


relacionados com a iniciação de movimentos voluntários delicados e de habilidade, como o
início da marcha. Os mecanismos extrapiramidais são integrados em diversos níveis em
todo o trajeto, desde a medula espinhal até o córtex cerebral. Controlam o tônus muscular,
os movimentos involuntários, as respostas reflexas, a harmonia e a coordenação do
movimento. O cerebelo está relacionado com a coordenação, ajuste e uniformidade de
movimentos. Recebe impulsos aferentes do córtex motor, dos proprioceptores e dos
receptores tácteis cutâneos, auditivos e visuais.

5.18 Anatomia e Fisiologia do Sistema Sensorial

O ambiente que nos circunda repassa uma diversidade de estímulos que são
captados pelo organismo – o chamado sentido ou sensação. Alguns órgãos, constituídos por
células sensíveis, por meio de receptores sensoriais são especializados em perceber esses
estímulos externos, repassando a informação à respectiva área cerebral. Seu conjunto
recebe a denominação de órgãos dos sentidos. São constituídos pelos olhos, que permitem a
visão; língua, que sente o paladar; nariz, que possibilita o olfato; orelha, que conduz a
audição e pele, que percebe o estímulo pelo tato.

5.18.1 Olhos

Os olhos são acondicionados dentro de duas cavidades ósseas da face: as órbitas


oculares. Possuem dois globos oculares que, por sua vez, são constituídos por três distintas
membranas denominadas esclerótica, coroide e retina. Na parte anterior do globo ocular, a
membrana esclerótica, que o reveste externamente, forma uma camada transparente
chamada córnea. Na coroide, localizam-se os vasos sanguíneos. A retina, sua membrana
mais interna e sensível, é formada por um prolongamento do nervo óptico.

No interior do globo ocular existe uma substância que ocupa sua maior parte,
chamada humor vítreo, de consistência gelatinosa e transparente, situada atrás do cristalino
– o qual atua como uma lente, regulando a imagem com nitidez. O cristalino modifica-se
pela ação dos músculos ciliares, comandados pelo sistema nervoso autônomo.

Entre o cristalino e a córnea há uma substância líquida e transparente denominada


humor aquoso. Na parte anterior do olho, a coroide forma um disco cuja cor é variável para
cada pessoa, denominada íris. Em seu centro existe um orifício cujo tamanho altera-se de
acordo com a quantidade de luz que sobre ele incide, a pupila, também conhecida como
“menina dos olhos”.

O astigmatismo, a hipermetropia e a miopia são as alterações da visão mais


frequentemente encontradas. O astigmatismo é uma deformação da córnea que ocasiona
um desvio da imagem, fazendo-se necessário o uso de lentes cilíndricas para sua correção.
Módulo 1 Técnico em Farmácia
149

Na hipermetropia, a imagem se forma atrás da retina, necessitando a utilização de


lentes convergentes para que volte a localizar- se sobre a retina. A miopia é a formação da
imagem à frente da retina, para cuja correção necessita-se o uso de lentes divergentes, que
favorecerão o afastamento da imagem para que esta coincida sobre a própria retina.

Na parte anterior dos olhos encontram-se as pálpebras superiores, as inferiores e


os cílios, que também atuam como protetores da visão, impedindo a entrada de corpos
estranhos. No canto interno da pálpebra são encontrados dois pequenos orifícios
denominados ponto lacrimal superior e inferior. É por eles que escoam as lágrimas, seja por
reação física ou emocional. A sobrancelha também é considerada fator de proteção, por
dificultar a passagem do suor da testa para os olhos.

Figura 73- Estruturas do olho

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

5.18.2Língua

A língua, que também participa na emissão do som, é formada por uma massa de
tecido muscular estriado, recoberta por uma mucosa. Possui forma achatada e ligeiramente
cônica. É composta por duas partes: a superior ou dorsal, onde se localizam as papilas
linguais ou gustativas, cujas terminações nervosas transmitem a sensação do gosto –
processo em que a saliva representa importante função, haja vista que sua viscosidade
favorece a captação dos estímulos; e a inferior ou ventral, que pode ser vista quando se

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


150

eleva a ponta da língua em direção ao palato (céu da boca).

Figura 74- Língua

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

5.18.3 Nariz

O nariz, órgão do olfato, é formado por duas cavidades, as fossas nasais,


medialmente separadas pelo septo. As fossas nasais possuem orifícios anteriores, que fazem
contato com o meio externo, denominados narinas, e orifícios posteriores que, por sua vez,
fazem contato com a faringe, chamados de coanas. Na parte superior das fossas nasais há
um revestimento mucoso formado por células olfativas localizadas nas terminações do nervo
olfativo (nervo sensitivo), o que nos faz perceber o olfato.

O sentido do olfato é estimulado através de substâncias químicas espalhadas no ar,


motivo pelo qual é considerado um sentido “químico”. No interior das fossas nasais
encontram-se os pelos, cuja função é “filtrar” o ar respirado - estes pelos, juntamente com o
muco (secreção da mucosa nasal), retêm na parede interna do nariz os poluentes, além de
diversos microrganismos trazidos pelo ar.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


151

Figura 75- Nariz

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

5.18.4 Orelha

A orelha (Figura 77), composta por três seguimentos - a orelha externa, a média e a
interna - é o órgão responsável pela audição. A orelha externa ou pavilhão auditivo possui
uma saliência com o formato oval, flexível devido ao tecido cartilaginoso que a constitui. Seu
canal auditivo externo encaminha o som para seu interior, agindo como um receptor
sonoro. Neste canal são encontrados pelos e glândulas (que produzem uma espécie de
cera), cuja função é proteger a parte interna contra a poeira, microrganismos e outros
corpos provenientes do meio externo.

O tímpano, localizado ao final do canal auditivo externo e no início da orelha


média, é uma fina membrana que vibra de acordo com as ondas sonoras. Além dele, a
orelha média é composta por três ossículos respectivamente denominados, pela ordem de
localização, martelo, bigorna e estribo – os quais se articulam recebendo a vibração da
membrana timpânica. É na orelha média que se inicia um canal flexível que se estende até a
faringe, denominado trompa de Eustáquio, cuja função é manter o equilíbrio da pressão
atmosférica dentro da orelha média - também conhecida como caixa do tímpano.

Na orelha interna ou labirinto encontra-se o vestíbulo, uma escavação no osso


temporal cuja cavidade superior comunica-se com os canais semicirculares e recebe a

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


152

denominação de utrículo. A cavidade inferior é chamada de sáculo, que se estende até a


cóclea ou caracol - nomes que facilmente nos levam a imaginar sua forma: um longo tubo
enrolado. Este tubo contém em sua parte interna o órgão de Corti, composto por células
auditivas com ramificações do nervo auditivo, sendo o principal responsável pela captação
de estímulos sonoros.

Quando há qualquer tipo de som, suas ondas penetram através do conduto auditivo
externo e ao chegarem na membrana timpânica a fazem vibrar. Os ossículos martelo,
bigorna e estribo recebem esta vibração e a encaminham ao ouvido interno. Desta forma, as
vibrações chegam à cóclea ou caracol, onde os estímulos sonoros são captados e
identificados devido a presença de terminações do nervo auditivo.

Na orelha interna, os canais semicirculares são responsáveis pelo equilíbrio de


nosso corpo. A ocorrência de determinada inflamação ou problemas circulatórios pode gerar
uma disfunção no labirinto, o que acarreta a perda do equilíbrio – mais frequentemente
encontrada em pacientes com problemas hormonais, hipertensos, estressados e diabéticos.

Figura 76 - Estrutura do Ouvido

Fonte: Baseada em Lopes (2002)

Módulo 1 Técnico em Farmácia


153

5.18.5 Pele

O sentido do tato é transmitido pela pele, que reveste todo o corpo e possui em sua
camada mais profunda as terminações nervosas – responsáveis por levar a mensagem da
sensação ao cérebro. Com um toque de mão podemos perceber diferenças como liso e
áspero, pequeno e grande, fino e grosso, mole e duro - além de conseguirmos identificar
objetos sem a necessária utilização da visão.

A pele apresenta vários tipos de receptores sensoriais, formados por fibras nervosas
cujo agrupamento compõe os corpúsculos sensoriais, especializados em captar
determinados tipos de sensação – por exemplo, pressão, temperatura, dor. Na extensão da
pele percebemos sensações como frio, calor, dor, coceira, pressão, ardência, etc.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


154

REFERÊNCIAS

AIRES, M.M. – Fisiologia – 2ª edição – Rio de Janeiro – Editora Guanabara Koogan, 1999.

DANGELO, J.G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 3ª ed., São Paulo,
Atheneu, 2007.

DANTAS, H. A. de O. Sistema respiratório. Departamento de Morfologia do Centro


Universitário Luterano de Palmas (Ceulp/Ulbra), 2011. Disponível em: http://ulbra-
to.br/morfologia/2011/08/17/Sistema-Respiratorio Acesso em dezembro de 2017.

GUYTON, A.C. & HALL, J.E. – Tratado de Fisiologia Médica – 11ª edição – Editora Elsevier, Rio
de Janeiro, 2006.

LACERDA, R.A.M.V. (Org). Apostila de anatomia e fisiologia humanas. Faculdade e Escola


Técnica Egídio da Silva (Fategídio). Teófilo Otoni, 2009.

PIRES, G. M. Sistema cardiovascular. Portal da Anatomia, 2011. Disponível em:


http://pt.slideshare.net/portaldaanatomia/sistema-circulatrio-14010120 Acesso em
dezembro de 2017.

PIRES, G. M. Sistema respiratório. Portal da Anatomia, 2012. Disponível em:


http://pt.slideshare.net/portaldaanatomia/sistema-respiratrio-13981839 Acesso em
dezembro de 2017.

SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 22ª ed., Rio de Janeiro, Guanabara- Koogan, 2006,
Volumes 1 e 2.

THIBODEAU, G.A.; PATTON, K.T. Estrutura e funções do corpo humano. São Paulo: Editora
Manole, 2002.
VILELA, A.L.M. A pele e o sentido do tato. Portal Bio, 2003. Disponível em:
http://www.afh.bio.br/sentidos/sentidos10.asp Acesso em dezembro de 2017.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


155

ANOTAÇÕES:
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


156

_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

Módulo 1 Técnico em Farmácia


PORTUGUÊS INSTRUMENTAL
159

6 PORTUGUÊS INSTRUMENTAL

A disciplina Português Instrumental tem o objetivo de estimular o estudante para a


leitura e a escrita, não apenas de textos técnicos importantes para o campo de trabalho, mas
também para a vida além de discutir a língua em diversidade; proceder à leitura analítica e
crítico-interpretativa de textos; ampliar o contato do aluno com os processos de leitura e
produção textual, visando capacitá-lo a analisar variadas estruturas textuais e elaborar
gêneros textuais/discursivos diversos.

Com o surgimento e popularização das redes sociais e o uso cada vez maior da
internet para pesquisa e diversão, tornou-se imprescindível preparar o estudante e
conscientizá-lo da importância de escrever e se expressar bem. Um bom profissional deve
ter o estímulo de melhorar a forma como escreve e, para isso, deve ler muito, vários tipos de
literaturas.

6.1 Comunicação

Comunicação é o processo de transmitir a informação e compreensão de uma


pessoa para outra; senão houver esta compreensão, não ocorre a comunicação. Se uma
pessoa transmitir uma mensagem e esta não for compreendida pela outra pessoa, a
comunicação não se efetivou.

6.1.1 O Processo de Comunicação

O processo de comunicação é composto de três etapas, assim subdivididas:

 Emissor: a pessoa que envia a mensagem. Pode ser chamada de fonte ou de


origem. Apresenta o significado, que corresponde à ideia, ao conceito que o
emissor deseja comunicar, e o codificador, que é constituído pelo mecanismo
vocal para decifrar a mensagem.

 Mensagem: a ideia que o emissor deseja comunicar. Contém o canal, também


chamado de veículo, que é o espaço situado entre o emissor e o receptor, e o
ruído, que ser refere à perturbação dentro do processo de comunicação.

 Receptor: é aquele que recebe a mensagem, a quem esta é destinada. Apresenta o


decodificador, que é estabelecido pelo mecanismo auditivo para decifrar a
mensagem, para que o receptor a compreenda; a compreensão, que é o
entendimento da mensagem pelo receptor; e regulamentação, que é quando o
receptor confirma a mensagem recebida pelo emissor. É o retorno da mensagem
enviada.

Tome-se como exemplo: uma pessoa (emissor) tem uma ideia (significado) que
pretende comunicar. Para tanto, se vale de seu mecanismo vocal (codificador), que
expressa sua mensagem em palavras. Essa mensagem, veiculada pelo ar (canal), é
interpretada pela pessoa com a qual se comunica (receptor), após sua decifração por seu
mecanismo auditivo (descodificador). O receptor, após constatar que entendeu a
TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1
160

mensagem (compreensão), esclarece a fonte acerca de seu entendimento (regulamen-


tação).

Pode-se, portanto, dizer que a comunicação só pode ser considerada eficaz


quando a compreensão de receptor coincide com o significado pretendido pelo emissor.

6.2 Linguagem e Língua

Que a linguagem escrita e a linguagem oral não constituem modalidades


estanques, apesar de apresentarem diferenças devido à condição de produção, é um fato
incontestável; contudo, há particularidades de outras ordens que as tornam modalidades
específicas da língua.

Tais particularidades são, de fato, elementos exclusivos de cada uma delas,


como a gesticulação, por exemplo, na linguagem oral, e a reedição de texto, com
apagamento do texto anterior, na linguagem escrita.

Certamente, as pessoas não escrevem exatamente do mesmo modo que falam,


uma vez que se trata de processos diferentes. Essas diferentes condições de produção
para usos de diferentes intenções propiciam a criação de diferentes tipos de linguagem,
que se agrupam nas duas modalidades da língua.

Fatores como o contexto, a intenção do usuário e a temática são responsáveis


pelas diferenças entre a linguagem oral e a linguagem escrita, que nem por isso são
estanques.

6.2.1 Linguagem

Linguagem é a representação do pensamento por meio de sinais que permitem a


comunicação e a interação entre as pessoas. Esta se compõe de:

 Linguagem verbal: é aquela que tem por unidade a palavra.


 Linguagem não verbal: tem outros tipos de unidade, como gestos, o
movimento, a imagem, etc.
 Linguagem mista: como as histórias em quadrinhos, o cinema e a TV, que
utilizam a imagem e a palavra.

6.2.2 Língua

É o tipo de código formado por palavras e leis combinatórias, por meio do qual as
pessoas se comunicam e interagem entre si.

6.2.3 Variações Linguísticas

Um dos traços de identificação de uma nação é a sua língua, que varia de acordo
com fatores diversos, tais como tempo, espaço, nível cultural e a situação em que um
indivíduo se manifesta verbalmente. Dito de outra forma, são as variações que uma língua

Módulo 1 Técnico em Farmácia


161

apresenta, de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é


utilizada.

São exemplos de variações linguísticas a norma culta (língua padrão), os dialetos,


socioletos, idioletos, registros, etnoletos e ecoletos. Tais variações serão explicitadas a
seguir:

a) norma culta (língua padrão): a variedade linguística de maior prestígio social. É


padronizada em função da comunicação pública e da educação;
b) dialetos: variações faladas por comunidades geograficamente definidas,
originadas das diferentes entre região, idade, sexo, classes ou grupos sociais,
incluindo a própria evolução histórica da língua;
c) socioletos: variações faladas por comunidades socialmente definidas;
d) idioletos: variação linguística particular de uma pessoa;
e) registros: o vocabulário especializado e/ou a gramática de certas atividades ou
profissões;
f) etnoletos: variações linguísticas adotadas por um grupo étnico; e,
g) ecoletos: idioleto adotado por uma casa.

As variações como dialetos, idioletos e socioletos podem ser distinguidas não


apenas por seu vocabulário, mas também por diferenças na gramática, na fonologia e na
versificação. Por exemplo, o sotaque de palavras tonais nas línguas escandinavas tem forma
diferente em muitos dialetos. Outro exemplo é como palavras estrangeiras em diferentes
socioletos variam em seu grau de adaptação à fonologia básica da linguagem.

As variedades linguísticas levam em consideração, ainda, a intencionalidade


discursiva, que dizem respeito às intenções, explícitas ou não, existentes na linguagem dos
interlocutores que participam de uma situação comunicativa.

Algumas definições são importantes para entender um pouco sobre comunicação,


segundo Monteiro & Monteiro (2009):

a) linguagem é a representação do pensamento por meio de sinais que permitem a


comunicação e a interação entre as pessoas;
b) língua é um sistema abstrato de regras, não só gramaticais, mas também
semânticas e fonológicas, por meio das quais a linguagem (ou fala) se revela;
c) variedades linguísticas são as variações que uma língua apresenta, de acordo
com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada;
d) norma culta é a língua padrão, a variedade linguística de maior prestígio social;
e) norma popular são todas as variedades linguísticas diferentes da língua padrão.

O emissor envia uma mensagem, que tanto pode ser visual quanto escrita, a um
receptor. O receptor recebe a mensagem e, geralmente, dá uma resposta ao emissor. A
necessidade de resposta faz parte do processo de comunicação entre os seres humanos,
pois quando uma pessoa envia a mensagem e não recebe a resposta do receptor, o processo
de comunicação não se completa (MONTEIRO & MONTEIRO, 2009).

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


162

A gramática da Língua Portuguesa está dividida em grandes campos de estudo: a


fonética, a morfologia, a semântica e a sintaxe. A fonética estuda os sons da fala. A
morfologia estuda a forma das palavras e a representação gráfica. A semântica preocupa-se
não só com a representação gráfica do vocábulo, mas com seu significado. A sintaxe estuda
os termos que compõem uma oração. A oração pode apresentar um sujeito, terá sempre um
predicado, e pode ter ou não complementos (MONTEIRO & MONTEIRO, 2009).

6.3 Língua Oral e Língua Escrita

A língua oral e a língua escrita têm propriedades distintas, que variam de acordo
com o indivíduo que a utiliza, levando-se em conta a influência da cultura e do meio social
em que este vive. Porém, ambas se completam em determinados aspectos. No momento em
que cada indivíduo consegue se comunicar, conforme suas particularidades, a linguagem
tem, então, a sua função exercida.

O falante não escreve do mesmo modo que fala. Enquanto fala, a linguagem
apresenta maior liberdade no discurso, uma vez que não exige planejamento, podendo ser
enfática, redundante, com variados timbres e entonações. Na língua oral, de modo geral, o
falante não se prende à norma culta.

A escrita, por sua vez, mantém contato indireto entre escritor e leitor. A linguagem
escrita é mais objetiva, portanto, necessita de grande atenção e obediência às normas
gramaticais, caracterizando-se, assim, por frases completas, bem elaboradas e revisadas,
explícitas, vocabulário distinto e variado, clareza no diálogo e uso de sinônimos. Devido a
estes traços, esta é uma linguagem conservadora aos padrões estabelecidos pelas regras
gramaticais.

Tanto por meio da língua oral como da língua escrita, o indivíduo participa
efetivamente do seu meio social, comunicando-se, buscando acesso à informação,
expressando e defendendo seus pontos de vista, dividindo e/ou construindo visões de
mundo, produzindo novos conhecimentos.

Há particularidades na língua oral que, mais do que a diferenciam da língua escrita,


a tornam específica. São elementos exclusivos, tais como: gesticulação, fluidez das ideias
expostas, eficácia na correção da informação, dado que o falante tem o controle da
comunicação no momento de sua fala.

No que tange à linguagem escrita, além de esta ter como característica principal o
fato de ser, como ela própria se anuncia, escrita, reproduzida por textos, ela também
apresenta particularidades que a diferenciam da linguagem oral. A mais importante delas é a
correção gramatical, sobre a qual recaem a objetividade, a clareza e a coesão. Estas são
essenciais para que a comunicação ocorra, dado que emissor e receptor estão distantes,
podendo, inclusive, ser desconhecidos um do outro. Por isso a correção gramatical é tão
importante. Um texto apresentado de forma objetiva, com ideias claras, concisas é mais
facilmente compreendido pelo receptor e nele provocar o efeito desejado pelo emissor. A
produção do texto escrito se dá de forma coordenada, uma vez requer planejamento,
transformando sua estrutura sintática elegante, bem formada.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


163

Uma diferença que chama atenção entre a linguagem oral e a escrita é que na
primeira as falas podem se apresentar fragmentadas, desordenadas, incompletas, enquanto
que na segunda isto não ocorre. Outra característica particular que as difere é que na
linguagem escrita o vocabulário é muito variado e essencialmente conservador e
dependente do grau do nível de formalismo.

Enfim, pode-se afirmar que a fala e a escrita são dois modos bem diferentes, e em
alguns momentos complementares, de o usuário representar as suas experiências
linguísticas.

6.4 Funções da Linguagem

Por meio da linguagem, também se realizam diferentes ações: transmitem-se


informações, tenta-se convencer o outro a fazer (ou dizer) algo, assumem-se
compromissos, ordena-se, pede-se, demonstram-se sentimentos, constroem-se
representações mentais sobre o mundo. Enfim, pela linguagem organiza-se a vida em
diferentes aspectos.

Diferenciar que objetivo predomina em cada situação de comunicação auxilia a


compreender melhor o que foi dito.

As funções da linguagem estão centradas nos elementos da comunicação. Toda


comunicação apresenta uma variedade de funções, mas elas se apresentam hierarquizadas,
sendo uma dominante, de acordo com o enfoque que o destinador quer dar ou do efeito
que quer causar no receptor. A linguagem pode ter função emotiva, referencial, conativa,
fática, metalinguística ou poética. Sobre cada uma delas será tratado a seguir.

6.4.1 Função Emotiva (ou expressiva)

Centra-se no sujeito emissor e suscita a impressão de um sentimento


verdadeiro ou simulado. Observe-se o texto ilustrado pelo Quadro 1 a seguir.

Quadro 1 - Exemplificando a função emotiva

Não só baseado na avaliação do Guia da Folha, mas também por


iniciativa própria, assisti cinco vezes a “Um filme falado”. Temia
que a crítica brasileira condenasse o filme por não ser
convencional, mas tive uma satisfação imensa quando li críticas
unânimes da imprensa. Isso mostra que, apesar de tantos
enlatados, a nossa crítica é antenada com o passado e o presente
da humanidade e com as coisas que acontecem no mundo.
Fantástico! Parabéns, Sérgio Rizzo, seus textos nunca me
decepcionam”.

Luciano Duarte. Guia da Folha, 10 a 16 de junho 2005.


Fonte: Elaborado pelo autor (2014)

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


164

Nota-se no texto ilustrado acima que o emissor emprega a primeira pessoa (eu):
(assisti, temia, tive, li...), aponta qualidades subjetivas, utilizando adjetivos (satisfação
imensa, críticas unânimes, fantástico...), advérbios (nunca me decepcionam), além de
recursos gráficos que indicam ênfase, ao utilizar ponto de exclamação (fantástico!). Destaca-
se aqui o ponto de vista do emissor, a sua percepção dos acontecimentos, característica da
função emotiva da linguagem.

6.4.2 Função Referencial (ou denotativa ou cognitiva)

Esta é a função da linguagem que aponta para o sentimento real das coisas. O texto
ilustrado pelo Quadro 2 (4) revelará as nuances características da função referencial.

Quadro 2 - Exemplificando a função referencial

**** UM FILME FALADO – Idem. França/Itália/Portugal, 2003.

Direção: Manoel de Oliveira. Com: Leonor Silveira, John Malkovich,


Catherine Deneuve, Stefania Sandrelli e Irene Papas. Jovem professora de
história embarca com a filha em um cruzeiro que vai de Lisboa a Bombaim.
96 min. 12 anos. Cinearte 1, desde 14. Frei Caneca Unibanco Arteplex 7, 13h,
15h10, 17h20, 19h30 e 21h50.

Fonte: Elaborado pelo autor (2014)

Observam-se neste segundo texto outros procedimentos colocados em destaque,


tais como: o uso da terceira pessoa, explicitado no trecho: ‘jovem professora de história
(ela)’; ausência de adjetivos, dado que a indicação de que o filme é bom aparece ilustrado
com 4 estrelinhas; ausência de expressões que indiquem a opinião do emissor (tais como,
‘eu acho, eu desejo,...’); emprego de um conjunto de informações que dizem respeito a
coisas do mundo real, tais como a exatidão dos horários, o endereço, os nomes próprios.
Este conjunto de procedimentos dá ao emissor a impressão de objetividade, como se a
informação traduzisse verdadeiramente o que acontece no mundo real, caracterizando a
função referencial ou informativa da linguagem.
4.4.3 Função Conativa (ou apelativa ou imperativa)

Este tipo de função centra-se no sujeito receptor e é eminentemente persuasória.


Observe-se o texto a seguir, apresentado no Quadro 3.

Quadro 3 - Exemplificando a função conativa

RESERVA CULTURAL

Você nunca viu cinema assim.


Não perca a retrospectiva especial de inauguração, com 50% de
desconto, apresentando cinco filmes que foram sucesso de público. E,
claro, de crítica também.
Fonte: Elaborado pelo autor (2014)

Módulo 1 Técnico em Farmácia


165

Neste texto, o destaque está no destinatário. Para tanto, o emissor se valeu de


procedimentos, tais como: o uso da segunda pessoa (você); o uso do imperativo (Não perca!).
O resultado é a interação com o destinatário, procurando convencê-lo a realizar uma ação (ir
ao espaço cultural). Este tipo de função é característico dos textos publicitários, que, em geral,
procuram convencer ou persuadir o destinatário a dar uma resposta, que pode ser a mudança
de comportamento, de hábitos, como abrir conta em banco, frequentar determinados tipos
de lugares ou consumir determinado produto.

6.4.4 Função Fática (ou de contato)

A função fática da linguagem visa estabelecer, prolongar ou interromper a


comunicação e serve para verificar a eficiência do canal. É muito comum em conversações
cotidianas. Aqui o emissor usa procedimentos para manter o contato físico ou psicológico
com o interlocutor, como, por exemplo, ao iniciar uma conversa telefônica (‘Alô!’) ou ainda
utilizando fórmulas prontas para dar continuidade à conversa, como no caso de: ‘aham,
hum, bem, como?, pois é’. Este tipo de mensagem serve para manter o contato, sustentar
ou alongar (ou mesmo interromper) a conversa.

6.4.5 Função Metalinguística

Este tipo de função consiste numa recodificação e passa a existir quando a


linguagem fala dela mesma. Checa se o emissor e receptor estão usando o mesmo
repertório. Por exemplo, quando o emissor quer precisar, esclarecer o que está querendo
dizer e utiliza ‘eu quis dizer que’, ‘que quero dizer que esta palavra poder ser substituída por
outra mais precisa, que desse a entender que...’. Um exemplo comum da aplicação da
função metalinguística está no preenchimento de palavras cruzadas, na consulta a um
dicionário. Aqui, faz uso da linguagem (o código) para falar, explicar, descrever o próprio
código linguístico.

6.4.6 Função Poética

A função poética da linguagem é aquela em que o emissor valoriza o texto na sua


elaboração, utilizando a combinação de palavras, figuras de linguagem, exploração dos
sentidos e sentimentos. Embora mais comum nos textos literários, especialmente nos
poemas, dada a sua subjetividade, é bastante utilizada em anúncios publicitários, além de
aliar-se também aos demais tipos de função, sobretudo a emotiva. A função poética ocupa-
se mais em como dizer o que se deseja do que o que dizer. Atente-se para o texto a seguir,
ilustrado pelo Quadro 4.

Quadro 4 - Exemplificando a função poética


Subi a porta e fechei a escada.
Tirei minhas orações e recitei meus sapatos.
Desliguei a cama e deitei-me na luz.
Tudo porque ele me deu um beijo de boa noite...

[Autor anônimo]

Fonte: Elaborado pelo autor (2014)

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


166

Observa-se a falta de lógica no texto, a tentativa de o autor fugir das formas


habituais, dando ênfase a sua forma de expressão, não levando em conta apenas ‘o que’,
mas ‘como’ ele queria dizer.

6.5 Tipologia Textual e Gêneros Textuais

Tipologia é a ciência que estuda os tipos. É muito utilizada para definir diferentes
categorias. No que diz respeito ao texto, a tipologia busca estudar as suas características,
sua composição, como ele vai ser apresentado no seu processo de criação, se por uma
narração, descrição, argumentação ou exposição, por exemplo. Quanto ao gênero textual,
este se refere às mais variadas formas de expressão de um texto.

6.5.1 Tipos Textuais

O texto é uma unidade linguística concreta, percebida tanto pela audição, a fala,
quanto pela visão, a escrita, composto por unidade de sentido e intencionalidade
comunicativa. Há dois elementos essenciais que devem ser observados na produção
textual: a coesão – que diz respeito às articulações gramaticais existentes entre palavras,
orações, frases, parágrafos e partes maiores de um texto, que garantem sua conexão
sequencial; e a coerência – que é o resultado da articulação das ideias de um texto, a sua
estruturação lógica semântica, que permite que numa situação discursiva palavras e frases
componham um todo significativo para os interlocutores.

Quando se fala em tipologia textual, normalmente atenta-se para a divisão


tradicional dos textos: a descrição, a narração e a dissertação. Entretanto, os tipos de textos
extrapolam esta tríade.

6.5.1.1 Texto Descritivo

A descrição usa um tipo de texto em que se faz um retrato falado de uma pessoa,
animal, objeto ou lugar. A classe de palavras mais utilizada nesta produção é o adjetivo,
pela sua função caracterizadora, dando ao leitor uma grande riqueza de detalhes. A
descrição, ao contrário da narração, não supõe ação. É uma estrutura pictórica, em que os
aspectos sensoriais predominam. Assim como o pintor capta o mundo exterior ou interior
em suas telas, o autor de uma descrição focaliza cenas ou imagens, conforme permita sua
sensibilidade.

6.5.1.2 Texto Narrativo

Esta é uma modalidade textual em que se conta um fato, fictício ou real, ocorrido
num determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens. Há uma relação de
anterioridade e posterioridade. O tempo verbal predominante é o passado.

Em geral, a narrativa se desenvolve em prosa. O narrar surge da busca de


transmitir, de comunicar qualquer acontecimento ou situação. A narração em primeira
pessoa pressupõe a participação do narrador (narrador enquanto personagem) e em terceira

Módulo 1 Técnico em Farmácia


167

pessoa mostra o que ele viu ou ouviu (narrador enquanto observador). Na narração
encontram-se, ainda, os personagens (principais ou secundários), o espaço (cenário) e o
tempo da narrativa.

6.5.1.3 Texto Dissertativo

Neste tipo de texto há posicionamentos pessoais e exposição de ideias. Tem por


base a argumentação, apresentada de forma lógica e coerente, a fim de defender um
ponto de vista. É a conhecida “redação” de cada dia. É a modalidade mais exigida nos
concursos, já que requer dos candidatos um conhecimento de leitura do mundo, como
também um bom domínio da norma culta. Embora o texto dissertativo exponha os
posicionamentos de quem escreve, é importante salientar que estes devem aparecer
implícitos no texto, não sendo permitida a utilização da primeira pessoa do singular. Salvo
em alguns casos, a primeira pessoa do plural aparece no texto, porém recomenda-se o uso
da impessoalidade no texto de uma forma geral. O texto dissertativo estrutura-se
basicamente em: ideia principal (introdução), desenvolvimento (argumentos e aspectos que
o tema envolve) e conclusão (síntese da posição assumida).

6.5.1.4 Texto Expositivo

Apresenta informações sobre determinados assuntos, expondo ideias, explicando e


avaliando. Como o próprio nome indica, ocorre em textos que se limitam a apresentar uma
determinada situação.

As exposições orais ou escritas entre professores e alunos numa sala de aula, os


livros e as fontes de consulta, são exemplos desta modalidade.

6.5.1.5 Texto Injuntivo

Este tipo de texto indica como realizar uma determinada ação. Ele normalmente
pede, manda ou aconselha. Utiliza linguagem direta, objetiva e simples. Os verbos são, em
sua maioria, empregados no modo imperativo.

Bons exemplos deste tipo de texto são as receitas de culinária, os manuais,


receitas médicas, editais, etc.

6.5.2 Gêneros Textuais

Muitos confundem os tipos de texto com os gêneros. No primeiro, eles funcionam


como modos de organização, sendo limitados. No segundo, são os chamados textos
materializados, encontrados no cotidiano. Eles são muitos, apresentando características
sociocomunicativas definidas por seu estilo, função, composição conteúdo e canal.

Assim, quando se escreve um bilhete ou uma carta, quando se envia ou s e


recebe um e-mail ou usam-se os chats das redes sociais, utilizam-se diversos gêneros
textuais. Entrevistas, cardápios, horóscopos, telegrama, telefona, lista de compras, blogs,
agendas, são exemplos de gêneros textuais.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


168

6.6 Ortografia e Emprego de Algumas Palavras e Expressões

Esta seção apresenta, de forma sucinta, o emprego de algumas palavras e


expressões, apresentando definições e exemplos.

 Cessão/Sessão/Seção (ou Secção):

Cessão é o ato de ceder. Ex.: A cessão do terreno para a construção de uma creche
agradou a todos. Ele fez a cessão de seus direitos autorais àquela instituição; sessão é o
intervalo de tempo que dura uma reunião, uma assembleia. Ex.: A Câmara reuniu-se em
sessão extraordinária. Assistimos a uma sessão de cinema; e seção (ou secção) significa
parte de um todo, corte, subdivisão. Ex.: Compramos os presentes na seção de brinquedos.
Lemos na seção de Economia que a gasolina vai aumentar.

 Porquê/Porque/Por quê/Por que:

Porquê: quando for um substantivo, equivale à causa, motivo, razão, e vem


precedido dos artigos o(os), um(uns). Ex.: Não me interessa o porquê de sua ausência.
Porque: quando se introduz uma explicação. Equivale a ‘pois’. Ex.: Carlos, venha porque
preciso de você! Por quê: no final de perguntas. Ex.: Ademar não veio, por quê? Por que: a)
na frase interrogativa direta. Ex.: Por que você não veio?; b) quando equivale a ‘pelo qual’ e
suas flexões. Ex.: Esta é a rua por que meu filho e eu passamos; c) na construção igual à
anterior, no entanto, fica subentendido o antecedente do pronome relativo (razão, motivo,
causa). Ex.: Eis (a razão, o motivo) por que não te amo mais. Obs.: Lembre-se de que a
palavra QUE, em final de frase, deve ser acentuada por ser um monossílabo tônico
terminado em E. Ex.: Você vive de quê?

 Onde/Aonde:

Emprega-se aonde com os verbos que dão ideia de movimento. Equivale sempre a
‘para onde’. Ex.: Aonde você nos leva com tal rapidez? Aonde você vai com tanta pressa?
Caso o verbo não dê ideia de movimento, emprega-se onde. Ex.: Onde você mora? Não sei
onde encontrá-lo.

 Mau/Mal:

Mau é sempre um adjetivo (seu antônimo é bom). Refere-se a um substantivo. O


seu plural é ‘maus’, e a forma feminina é ‘má’. Ex.: Escolheu um mau momento para sair. O
senhor não é mau aluno. Mal pode ser: a) advérbio de modo (seu antônimo é bem). Ex.: Essa
carta está mal redigida. Na festa, ele se comportou mal; b) conjunção temporal (equivale a
assim que). Ex.: Mal começou a cantar, todos vaiaram. Mal ela chegou, o casal foi embora; c)
substantivo (nesse caso, virá precedido de artigo ou outro determinante); o seu plural é
‘males’. Ex.: Era um mal para o qual não havia remédio. Estava acometida de um mal
incurável.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


169

 Há/A/Ah:

Na indicação de tempo, emprega-se ‘Há’ para significar tempo transcorrido


(equivale a faz). Ex.: Há dois anos que ela não aparece por aqui. Luciana formou-se em
Psicologia há quatro anos. ‘A’ é empregado para indicar futuro. Ex.: A formatura será daqui a
duas semanas. Daqui a um mês devo tirar férias. Embora menos usual, emprega-se ‘Ah’ em
frases exclamativas ou que demonstrem espanto, surpresa. Ex.: Ah, que lindo dia
amanheceu!

 Senão/Se não:

Senão equivale a ‘caso contrário’. Ex.: Devemos entregar o trabalho no prazo, senão
o contrato será cancelado. Espero que faça bom tempo amanhã, senão não poderemos ir à
praia. Existe também o substantivo ‘senão’, que significa mácula, defeito. Nesse caso, vem
precedido de artigo ou outro determinante. Ex.: Ele só tem um senão: não gosta de
trabalhar. Em relação a ‘se não’, equivale a caso não, se por acaso não: inicia orações
adverbiais condicionais. Ex.: A festa será amanhã à noite, se não ocorrer nenhum imprevisto.
Se não chover amanhã, poderemos ir à praia.

 Ao invés de/Em vez de:

Ao invés de significa ‘ao contrário de’. Ex.: Ao invés do que previu a meteorologia,
choveu muito ontem. Em vez de significa ‘no lugar de’. Ex.: Em vez de jogar futebol,
preferimos ir ao cinema.

 Ao encontro de/De encontro a:

Ao encontro rege a preposição de e significa estar ‘a favor de’, ‘caminhar para’. Ex.:
Aquelas atitudes iam ao encontro do que eles pregavam. De encontro rege a preposição a e
significa ‘em sentido oposto’, ‘contra’. Ex.: Sua atitude veio de encontro ao que eu desejava:
meus planos foram por ‘água abaixo’.

 Acerca de/Há cerca de:

Acerca de é uma locução prepositiva, que equivale a ‘a respeito de’. Ex.: Discutimos
acerca da melhor saída para o caso. Há cerca de é uma expressão em que o verbo haver
indica tempo transcorrido; equivale a ‘faz’. Ex.: Há cerca de uma semana, discutíamos a
melhor decisão a tomar.

 A fim de/Afim:

A fim de é uma locução prepositiva que indica finalidade. Ex.: Ele saiu cedo, a fim de
não perder a carona. Afim é adjetivo e significa ‘semelhante’, que apresenta ‘afinidade’. Ex.:
O genro é um parente afim. Tratava-se de ideias afins.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


170

 Demais/De mais:

Demais é advérbio de intensidade e equivale a ‘muito’. Ex.: Elas falam demais.


Demais também pode ser usado como substantivo (neste caso, virá precedido de artigo ou
outro determinante), significando os restantes. Ex.: Chamaram onze jogadores para jogar; os
demais ficaram no banco. De mais é locução prepositiva e possui sentido oposto a ‘de
menos’. Ex.: Não haviam feito nada de mais.

 À-toa/À toa:

À-toa é um adjetivo (refere-se, pois, a um substantivo) e significa ‘impensado’,


‘inútil’, ‘desprezível’. Ex.: Ninguém lhe dava valor, era considerada uma pessoa à-toa. À toa é
um advérbio de modo, significa ‘a esmo’, ‘sem razão’, ‘inutilmente’. Ex.: Andavam à toa
pelas ruas.

 A par/Ao par:

A par é usado, normalmente, com o sentido de estar bem informado, ter


conhecimento. Ex.: Após a confissão, ficamos a par de tudo. Ao par é usado para indicar
equivalência cambial. Ex.: O dólar e o marco estão ao par (isto é, têm o mesmo valor).

 Tampouco/Tão pouco:

Tampouco é advérbio e significa ‘também não’. Ex.: Não realizou a tarefa,


tampouco apresentou qualquer justificativa. Em Tão pouco, temos o advérbio de
intensidade ‘tão’ modificando ‘pouco’, que pode ser advérbio ou pronome indefinido. Ex.:
Estudamos tão pouco esta semana! (tão modifica o advérbio pouco). Ex.: Tenho tão pouco.

 Ter de/Ter que:

Ter de indica obrigatoriedade. Ex.: Para ser aprovado, tenho de fazer o teste.
Ter que indica permissividade. Ex.: Tenho que ser eleito para ser respeitado (é uma
probabilidade, não uma imposição).

6.7 Pontuação

Na língua escrita, certos recursos da língua oral, principalmente as pausas e


entoações, são representados pelos sinais de pontuação (FERREIRA, 2007). Observa-se a
seguir o uso da vírgula, que indica uma pausa entre as orações, e suas várias situações.

 A vírgula entre os termos da oração:

Entre os termos da oração, usa-se a vírgula nas seguintes situações:

a) para separar os núcleos de um termo. Ex.: O milharal, a horta, o pasto e a mata


ficaram mais verdes com as chuvas.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


171

b) para isolar o aposto. Ex.: Rubem Braga, o maior cronista brasileiro, nasceu no
Espírito Santo.
c) para isolar o vocativo. Ex.: Joel, você acompanhou o processo?
d) para isolar adjuntos adverbiais deslocados. Ex.: O advogado analisou o
documento com muito cuidado. Com muito cuidado, o advogado analisou o
documento.
e) para indicar a elipse do verbo. Ex.: A igreja era grande e pobre. Os altares,
humildes.
f) para isolar determinadas expressões explicativas. Ex.: Os bombeiros salvaram
toda a família, isto é, o casal e os dois filhos.

Em alguns casos, a vírgula é proibida. São eles:

a) entre o sujeito e o predicado. Ex.: A irmã de Maria não tinha interesse pelo
padeiro;
b) ente o verbo e o objeto (direto ou indireto);
c) ente o nome e seus adjuntos adnominais;
d) entre o nome e seu complemento nominal.

 A vírgula entre orações:

Dependendo da relação sintática entre duas orações em um período composto, a


vírgula pode ser obrigatória, opcional ou proibida. Quanto à obrigatoriedade, observam-se
os seguintes casos:

a) oração coordenada+oração coordenada. Ex.: Pegou um livro, procurou uma


página, fez algumas anotações. Obs.: entre duas orações coordenadas ligadas
pela conjunção e, a vírgula é proibida;
b) oração subordinada adverbial+oração principal. Ex.: Quando eles se mudaram
para lá (or. subord. adverbial), a cidade ainda era uma vila (oração principal);
c) oração principal+oração subordinada adjetiva explicativa. Ex.: Ele sonha em
visitar a Grécia (oração principal), que é o berço da civilização ocidental (oração
subord. adjetiva explicativa).

A vírgula é proibida nos seguintes casos, conforme ilustram os exemplos:

a) oração principal+oração subordinada substantiva. Ex.: Ninguém desconhece


(oração principal) que a situação da empresa é fácil (or. subord. substantiva);
b) oração principal+oração subordinada adjetiva restritiva. Ex.: Na época das
chuvas, os rios que cortam a região (or. subord. adjetiva restritiva) inundam as
pastagens.

O ponto e vírgula indica uma pausa um pouco mais longa que a vírgula e um pouco
mais breve que um ponto no texto (FERREIRA, 2007). É usado em 3 casos, conforme descrito
e exemplificado a seguir:

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


172

a) entre orações coordenadas que já apresentam vírgulas. Ex.: A juíza atribuiu ao


réu, depois de analisadas as provas constantes dos autos, a responsabilidade
pelo crime; as testemunhas foram ouvidas em separado para confrontar as
informações.
b) entre orações coordenadas longas. Ex.: Os velhos cronistas são unânimes em
dizer que o marido consolou grandemente a esposa do boticário; e notam com
perspicácia...;
c) entre os itens de leis, decretos, regulamentos, etc. Ex.: Art. 153. Compete à
União instituir impostos sobre: I. Importação de produtos estrangeiros; II.
Exportação de produtos nacionais;...

Em relação a dois pontos, estes são usados para iniciar citações, explicações,
esclarecimentos; para iniciar sequência de elementos discriminativos (enumerativos); no
discurso direto, caracterizando um diálogo (SIMÕES, 2012).

As reticências indicam uma interrupção na sequência normal da frase e são


empregadas para: indicar indecisão, surpresa ou dúvida na fala de uma pessoa; indicar em
diálogo a interrupção de uma fala; sugerir ao leitor que complete um raciocínio; indicar a
exclusão de trechos de um texto (FERREIRA, 2007).

Os parênteses são utilizados para marcar a intercalação de palavras, expressões ou


orações explicativas que se queira destacar; na transcrição de siglas após o nome da
entidade ou órgão em extenso; para indicar referências e datas (SIMÕES, 2012).

O ponto é usado para indicar o fim de um período; em abreviaturas; na separação


de casas decimais; em leis, decretos e artigos (SIMÕES, 2012).

6.7.1 Exercícios Propostos

1) Assinale a opção em que está corretamente indicada a ordem dos sinais de pontuação
que devem preencher as lacunas da frase abaixo:

“Quando se trata de trabalho científico ___ duas coisas devem ser consideradas ____ uma é
a contribuição teórica que o trabalho oferece ___ a outra é o valor prático que possa ter”.

a) dois pontos, ponto e vírgula, ponto e vírgula;


b) dois pontos, vírgula, ponto e vírgula;
c) vírgula, dois pontos, ponto e vírgula;
d) pontos vírgula, dois pontos, ponto e vírgula;
e) ponto e vírgula, vírgula, vírgula.

2) Assinale o exemplo em que há emprego incorreto da vírgula:

a) como está chovendo, transferi o passeio;


b) não sabia, por que todos lhe viravam o rosto;
c) ele, caso queira, poderá vir hoje;
d) não sabia, porque não estudou;

Módulo 1 Técnico em Farmácia


173

e) o livro, comprei-o por conselho do professor.

3) Assinale o trecho sem erro de pontuação:

a) vimos pela presente solicitar de V.Sas., que nos informe a situação econômica da firma em
questão;
b) cientificamo-lo de que na marcha do processo de restituição de suas contribuições,
verificou-se a ausência da declaração de beneficiários;
c) o Instituto de Previdência do Estado, vem solicitar de V.Sa. o preenchimento da
declaração;
d) encaminhamos a V.Sa., para o devido preenchimento, o formulário em anexo;
e) estamos remetendo em anexo, o formulário.
4) Assinale as frases em que as vírgulas estão incorretas:

a) ora ríamos, ora chorávamos;


b) amigos sinceros, já não os tinha;
c) a parede da casa, era branquinha branquinha;
d) Paulo, diga-me o que sabe a respeito do caso;
e) João, o advogado, comprou, ontem, uma casa.

5) Observe:
1) depois de muito pedir () obteve o que desejava;
2) se fosse em outras circunstâncias () teria dado tudo certo;
3) exigiam-me o que eu nunca tivera () uma boa educação;

4) fez primeiramente seus deveres () depois foi brincar;

Assinale a alternativa que preencha mais adequadamente os parênteses:


a) (;) (,) (:) (;); d) (?) (,) (,) (:);
b) (,) (;) (:) (;); e) (,) (;) (.) (;).
c) (,) (,) (:) (;);

6) Assinale o item em que as vírgulas estão empregadas corretamente:

I - Foi ao fundo da farmácia, abriu um vidro, fez um pequeno embrulho e entregou ao


homem.
II - A sua fisionomia estava serena, o seu aspecto tranquilo.
III - E o farmacêutico, sentindo-se aliviado do seu gesto, sentira-se feliz diante de suas
lembranças.
IV - Quando, vi que não servia, dei às formigas, e nenhuma morreu.

a) I - IV
b) II - III
c) II - IV
d) I - II
e) I - III

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


174

6.8 Crase

Esta seção abordará o uso da crase. De acordo com Zambeli (2014), ocorre a crase
nas seguintes situações.

a) preposição A + artigo A. Ex.: Eles foram à praia no fim de semana;


b) preposição A + pronome relativo A QUAL. Ex.: A aluna à qual me refiro é
estudiosa;
c) preposição A + pronome demonstrativo. Ex.: A minha blusa é semelhante à de
Maria (no sentido de àquela).
d) preposição A + pronome demonstrativo AQUELE. Ex.: Ele fez referência àquele
aluno.

Algumas dicas podem ajudar quanto ao emprego da crase. Observe os casos a


seguir:

a) substitua a palavra feminina por outra masculina correlata. Surgindo a


combinação AO, haverá crase. Ex.: Nunca fui indiferente às professoras (AOS
PROFESSORES);
b) substitua o demonstrativo Aquele(s), Aquela(s), Aquilo por ‘a este(s)’, ‘a esta(s)’,
‘a isto’. Mantendo-se a lógica, haverá crase. Ex.: Ele fez referência àquele aluno.
Não entregarei isso àquelas turmas;
c) antes de nome próprio de lugares, deve-se colocar o verbo VOLTAR; se disser
VOLTO DA, haverá acento indicativo de crase; se disser VOLTO DE, não ocorrerá
o acento. Ex.: Vou à Bahia (volto da). Vou a São Paulo (volto de). Se o nome do
lugar estiver acompanhado de uma característica (adjunto adnominal), o acento
será obrigatório. Ex.: Vou a Portugal. Vou à Portugal das grandes navegações;
d) nas locuções prepositivas, conjuntivas e adverbiais. Ex.: à frente de; à espera de;
à procura de; à noite; à tarde; à esquerda; à direita; às vezes; às pressas; à
medida que; à proporção que; à toa; à vontade, etc.;
e) na indicação de horas determinadas: deve-se substituir a hora pela expressão
“meio-dia”; se aparecer AO antes de “meio-dia”, deve colocar o acento,
indicativo de crase no A. Ex.: Ele saiu às duas horas e vinte minutos (ao meio dia).
Ele está aqui desde as duas horas (o meio-dia).

Observam-se a seguir alguns casos em que a crase é opcional e outros onde a


mesma não deve ocorrer.

 Uso opcional da crase:

a) antes de nomes próprios femininos. Ex.: Entreguei o presente a Ana (ou à Ana);
b) antes de pronomes possessivos femininos adjetivos no singular. Ex.: Fiz alusão a
minha amiga (ou à minha amiga). Mas não fiz à sua;
c) depois da preposição ATÉ. Ex.: Fui até a escola (ou até à escola).

Módulo 1 Técnico em Farmácia


175

 Não ocorre a crase:

a) antes de palavras masculinas. Ex.: Ele saiu a pé. Só vendem a prazo nesta loja;
b) antes de verbos no infinitivo. Ex.: Estou disposto a colaborar com ele. Começou a
chover agora;
c) antes de artigo indefinido. Ex.: Fomos a uma lanchonete no centro. Encaminhou
o documento a uma gerente;
d) antes de pronomes pessoais, indefinidos e demonstrativos. Ex.: Passamos os
dados do projeto a ela. Eles podem ir a qualquer restaurante. Refiro-me a esta
aluna;
e) antes de QUEM e CUJA. Ex.: A pessoa a quem me dirigi estava atrapalhada. O
restaurante a cuja dona me referi é ótimo;
f) depois de preposição. Ex.: Eles foram para a praia. Estava perante a juíza;
g) quando o “A” estiver no singular e a palavra a que ele se refere estiver no plural.
Ex.: Refiro-me a pessoas que são competentes;
h) em locuções formadas pela mesma palavra: cara a cara, lado a lado, face a face,
passo a passo, frente a frente, dia a dia, etc. Ex.: Tomei o remédio gota a gota;
i) antes de pronomes de tratamento iniciados por SUA ou VOSSA. Ex.: Enderecei a
correspondência a SUA SENHORIA.

6.8.1 Exercícios Propostos

1) (ITA – SP) Dadas as afirmações:

(1) Tudo correu as mil maravilhas.


(2) Caminhamos rente à parede.
(3) Ele jamais foi a festas.

Verificamos que o uso do acento indicador da crase no “a” é obrigatório:


a) apenas na sentença nº 1
b) apenas na sentença nº 2
c) apenas nas sentenças nº 1 e 2
d) em todas as sentenças

2) Preencha as lacunas empregando os termos que melhor se adequarem, levando em


consideração a norma padrão da linguagem:

a) Estou ____ procura de alguns amigos de infância que não vejo há anos.
b) Voltei ____ colégio depois de ter passado por tantas privações.
c) Gostei muito do frango ____ milanesa que degustamos hoje no almoço.
d) Quando vamos ____ fazenda, adoro andar ____ cavalo e ____ pé. Esta atividade é uma
ótima alternativa para aliviar ____ tensões.
e) Os sapatos ____ moda Luís XV fizeram parte do passado de muitas mulheres.
3) Assinale a frase onde a crase foi empregada incorretamente:

a) Iremos à fazenda amanhã.


b) A professora fez críticas à algumas alunas.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


176

c) Ela está à espera de vocês.


d) Vou à biblioteca depois da aula.

4) Complete as lacunas corretamente: "Ontem, assisti ___ filme com meu namorado, depois
fomos ___ lanchonete e pedimos dois lanches. Não ficamos ___ vontade quando o
garçom ficou nos rodeando enquanto olhávamos o menu, então desistimos e fomos
embora, para jantar em outro local. O problema era que ___ era ___ única lanchonete
aberta, então voltamos para minha casa e pedimos uma pizza".

a) aquele - a - à - àquela – a
b) àquele - à - há - aquela – a
c) àquele - à - à - aquela – a
d) aquele - a - há - àquela - a

6.9 Acentuação Gráfica

As regras de acentuação devem ser respeitadas na elaboração de um texto


(ZAMBELI, 2014), bem como deve ser dada atenção ao Novo Acordo Ortográfico, que
acrescentou ao alfabeto as letras, K, Y e W, aboliu o uso do trema, além alguns acentos em
casos específicos, e também modificou o uso do trema. Observem-se algumas regras a
seguir.

 Palavras proparoxítonas:

Todas as palavras proparoxítonas recebem acento. Ex.: lâmpada – rápido – córrego


– rígido – pânico.

 Palavras paroxítonas:

São acentuadas as palavras paroxítonas, de acordo com as seguintes regras:

a) palavras terminadas em ditongo crescente (seguidas ou não de “s”). Ex.: sábio –


régua – farmácia – espontâneo – mágoa;
b) palavras terminadas em: Ã, ÃS, ÃO, ÃOS. Ex.: ímã – órfãs – órgão – bênçãos;
c) palavras terminadas em: EI, EIS. Ex.: jóquei – pônei – fósseis – úteis;
d) palavras terminadas em: I, IS. Ex.: táxi – biquíni – lápis – júri – íris;
e) palavras terminadas em: ON, OM, NOS. Ex.: Nélson – rádom – próton – nêutrons;
f) palavras terminadas em: L, N, R, X, PS. Ex.: sensível – hífen – caráter – tórax –
bíceps;
g) palavras terminadas em: UM, UNS, US. Ex.: Ônus, álbum, médiuns

Atenção: é importante observar que não se acentuam os vocábulos paroxítonos


terminados em EM, ENS. Ex.: item, homem, itens, hifens, homens.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


177

 Palavras oxítonas:

São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em: A, E, O (seguidas ou não de


“s”), EM, ENS. Ex.: sofá – café – cipó – você – porém – parabéns.

 Hiato:

Acentuam-se o I e o U tônicos, quando formam sílabas sozinhos ou com “s” e vêm


precedidos de vogal. Ex.: saída – faísca – uísque – influí – reúne – egoísta – destruí-lo – baú –
juízes – saúde.

Atenção: é importante observar que não se acentuam o I e U quando seguidos de


NH: rainha, bainha, ladainha; não se acentuam o I e U quando formarem sílabas com outra
letra que não seja “s”: cairmos, juiz, ruim, defini-lo; não se acentuam o I e U quando
formarem ditongo: gratuito, fluido, fortuito, intuito. De acordo com a nova regra, as palavras
paroxítonas que têm i ou u tônicos precedidos por ditongos não serão mais acentuadas.
Assim, escreve-se feiura, baiuca. Esta regra não vale quando se trata de palavras oxítonas.
Nestes casos, o acento permanece. Assim, continua correto Piauí, teiús, tuiuiú. Observa-se
ainda que foram eliminados os acentos circunflexos nos hiatos OO/EE: enjoo, perdoo,
magoo, voo, abençoo; creem, deem, leem, releem, veem, preveem.

 Ditongos abertos:

Acentuam-se os ditongos tônicos e abertos ÉI, ÓI, ÉU. Ex.: anzóis – chapéu – troféu
– lençóis – pincéis. De acordo com a nova regra, o acento agudo foi eliminado nos ditongos
abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, tais como assembleia, boleia, epopeia, ideia,
jiboia, paleozoico, paranoia, onomatopeia.

 Trema:

O trema foi abolido de todas as palavras da língua portuguesa. Porém, o trema é


mantido em nomes próprios estrangeiros e suas derivações, tais como Bündchen,
Schönberg, Müller e mülleriano.

 Acento diferencial:

O acento diferencial, conforme o próprio nome diz, diferencia a intensidade de


alguns vocábulos com relação a seus homógrafos átonos. De acordo com as novas regras,
permanecem apenas aqueles relativos ao vocábulo ‘por’ para diferenciar o verbo (pôr) da
preposição (por), bem como na flexão verbal ‘pode’ (presente do indicativo) e ‘pôde’
(pretérito perfeito do indicativo). Deixaram de existir nos seguintes casos:

a) para (verbo), que se diferenciava da preposição para;


b) pelo (substantivo), que se diferenciava da preposição pelo;
c) polo (substantivo), que se diferenciava da preposição polo (grafia antiga, em
desuso);

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


178

d) pera (substantivo), que se diferenciava da preposição pera (grafia antiga, em


desuso).

5.9.1 Exercícios Propostos

1) (Fac. Med. Itajubá) Os dois vocábulos de cada item devem ser acentuados graficamente,
exceto:

a) herbivoro – ridiculo
b) logaritmo – bambu
c) miudo – sacrificio
d) caranauba – germen
e) Biblia – hieroglifo

2) Nos provérbios abaixo os acentos foram suprimidos. Recoloque-os quando necessário:

a) O homem que le vale mais.


b) Quem ve cara não ve coração.
c) Depois da tempestade vem a bonança.
d) Há males que vem para o bem.
e) Quem tem boca vai à Roma.

3) Analise os vocábulos abaixo agrupando-os de acordo com as regras de acentuação:

África – fóssil – método – possível – pé – coração – álbum – tórax – cajá - armazém –


lâmpada.

_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________

6.10 Concordância e Regência

Esta seção tratará sobre concordância e regência, nominal e verbal, a partir de


definições e exercícios propostos.

6.10.1 Concordância Nominal

Refere-se à concordância nominal o princípio no qual toda palavra variável


referente ao substantivo deve se flexionar para se adaptar a ele. Como regra geral, toda
palavra variável associada a um substantivo concorda com ele. Ex.: Ganhei de presente estes
dois antigos livros italianos.

Em relação ao adjetivo, quando este vier depois de dois ou mais substantivos,


concorda com o último ou vai facultativamente para o plural, no masculino, se pelo menos
um deles for masculino, ou para o plural feminino, se todos eles estiveres no feminino. Ex.:
Ternura e amor humano; Amor e ternura humana; Ternura e amor humanos.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


179

Quando o adjetivo vier antes de dois ou mais substantivos, concorda com o mais
próximo. Ex.: Mau lugar e hora; Má hora e lugar.

Quando dois ou mais adjetivos se referirem a um substantivo, este vai para o


singular ou plural. Ex: O poder temporal e o espiritual. Os poderes temporal e espiritual.

Quando dois ou mais ordinais vêm depois de um substantivo e o determinando,


este vai para o plural. Ex.: Encerraram-se as aulas das séries terceira, quarta e quinta.

As expressões ‘um e outro’, ‘nem um nem outro’ são seguidas de um substantivo


que não varia, permanecendo no singular. Ex.: Um e outro aspecto. Nem um nem outro dia.

No caso da expressão ‘um e outro’ vir antes de um substantivo e de um adjetivo, o


substantivo vai para o singular e o adjetivo vai para o plural. Ex.: Um e outro processo
arquivados.

Em relação ao particípio, este concorda com o substantivo. Ex.: Feitas as análises,


seguimos com o processo. Estabelecidas as regras, prosseguimos com o jogo.

As palavras ‘anexo’, ‘incluso’, ‘mesmo’, ‘próprio’ concordam com o substantivo a


que se referem. Ex.: Os depoimentos vão anexos aos autos. Seguem inclusos os documentos
solicitados. Ela mesma disse que não viria hoje. Eles próprios admitiram o erro.

A palavra ‘meio’, quando relativa à metade, é um adjetivo e concorda com o


substantivo a que se refere. Ex.: Tomei meio litro de soro. Ela comeu meia barra de
chocolate. No entanto, quando designa ‘um tanto’, se trata de um advérbio, referindo-se a
um adjetivo, ficando, portanto, invariável. Ex.: Ela parecia meio cansada de tanta novidade.
Ele deixou a janela meio aberta.

6.10.2 Concordância Verbal

Princípio no qual o verbo deve se flexionar para se ajustar ao sujeito da oração. Em


relação ao sujeito simples, o verbo concorda com o núcleo do sujeito simples em pessoa e
número. Ex.: Ele foi à praia. Elas foram ao cinema.

Em relação ao sujeito composto, anteposto ao verbo, observam-se as regras mais


comuns:

a) como regra geral, com elementos coordenados de terceira pessoa, o verbo vai
para o plural (Água, luz e telefone terão aumento de tarifa no próximo
semestre);
b) se formado por palavras sinônimas, o verbo vai para o plural ou concorda com o
núcleo mais próximo (Desânimo e tristeza caracteriza/caracterizam aquele
paciente);
c) se formado por palavras em gradação ou numeração, idem alínea b) (Um mês,
um ano, uma década de ditadura não calou/calaram o povo brasileiro);

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


180

d) quando formado por pessoas gramaticais diferentes: eu+tu+ele, o verbo vai para
a 1ª pessoa do plural (Eu, tu e ele chegaremos primeiro à escola); eu+tu ou
eu+ele, o verbo vai para a 1ª pessoa do plural (Eu e tu vamos ao cinema; Eu e ele
vamos ao cinema); tu+ele, o verbo vai para a 2ª ou 3ª pessoa do plural (Tu e ele
voltareis logo a São Paulo; Tu e ele voltarão logo a São Paulo);
e) quando seguido de ‘tudo’, ‘nada’, ‘ninguém’, ‘nenhum’, ‘cada um’, significa um
aposto resumidor, com o verbo colocado no singular (Desvios, fraudes, roubos,
tudo acontecia naquela repartição).

Em relação ao sujeito composto, posposto ao verbo, observam-se as principais


regras:

a) como regra geral, o verbo vai para o plural ou concorda com o núcleo mais
próximo (Acertaram-lhe a alma a lança e a espada; Acertou-lhe a alma a lança e a
espada);
b) quando a ação for reflexiva, o verbo vai para o plural (Deram-se as mãos a
tristeza e a saudade);
c) quando os sujeitos são ligados por ‘com’ (equivalendo a ‘e’) e a ação verbal é
atribuída a todos os elementos, o verbo vai para o plural (O diretor com os
coordenadores do curso elaboraram o conteúdo programático);
d) quando os sujeitos são ligados por ‘com’ (equivalendo a ‘em companhia de’),
realçando com a ação verbal do antecedente, o verbo concorda com este (O
diretor, com todos os professores, resolveu alterar as matrizes curriculares);
e) no caso dos sujeitos ligados por ‘nem’, o verbo vai para o plural (Nem Maria nem
Marta chegaram mais cedo).

6.10.3 Regência Nominal

Relação de interdependência entre o nome e o termo que lhe serve de


complemento (FERREIRA, 2007). Exemplos: adepto de; alheio a; ansioso por, para; apto a,
para; aversão a, por; contente com, por, de; relativo a; residente em; simpatia a, por.

6.10.4 Regência Verbal

Relação de interdependência entre o verbo e seu complemento (geralmente o


objeto). As principais regras de regência, segundo Ferreira (2007), são:

a) ir e chegar: exigem preposição a;


b) obedecer/desobedecer: exigem preposição a;
c) esquecer/lembrar: com pronome oblíquo, exigem de (Esqueci-me de
você/Lembrei-me de você); sem o pronome oblíquo, não exigem preposição
(Esqueci você/Lembrei você);
d) assistir: significando ver, exige preposição a;
e) preferir: exige 2 objetos, um sem preposição e outro com preposição a (Os
brasileiros preferem o futebol ao vôlei);
f) simpatizar/antipatizar: não admitem pronome oblíquo me, te, nos, vos, se (Por
que você não simpatizou com a nova diretora?);

Módulo 1 Técnico em Farmácia


181

g) pagar/perdoar: quando o objeto é gente, exigem a (Paguei ao dentista);


h) visar: significando “ter como meta” exige preposição a (Ele visava ao cargo de
gerente da empresa).

6.10.5 Exercícios Propostos

Em relação à concordância analise responda aos exercícios a seguir:

1) Há concordância inadequada em:

a) clima e terras desconhecidas;


b) clima e terra desconhecidos;
c) terras e clima desconhecidas;
d) terras e clima desconhecido;
e) terras e clima desconhecidos.

2) Há erro de concordância na opção:


a) calças e chapéus surradas;
b) poder e força mágica;
c) arreios e sela velhos;
d) rifles e alpercata nova;
e) cangaceiros e capitão temidos.

3) A concordância nominal está correta, exceto em:

a) o vento agitou as flores lilases da paineira;


b) esperança é necessário para viver;
c) a candidata estava meio nervosa;
d) os filhos são tais qual o pai;
e) as crianças estavam alerta.

4) Assinale a opção que preenche as lacunas:

Vão _________ aos processos várias fotografias.


Paisagens as mais belas ________.
Ela estava _________ narcotizada.

a) anexas-possíveis - meio;
b) anexas-possível - meio;
c) anexo-possíveis - meia;
d) anexo-possível - meio;
e) anexo-possível - meia.

5) Assinale a opção que preenche as lacunas:

Vai _________ à carta minha fotografia. Essas pessoas


cometeram crime de ________ patriotismo.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


182

Elas __________ não quiseram colaborar.

a) incluso – leso – mesmo;


b) inclusa – leso – mesmas;
c) inclusa – lesa – mesmas;
d) incluso – leso – mesmas;
e) inclusa – lesa – mesmo.

6) Assinale a opção com erro de construção:

a) vocês próprios entenderão a matéria;


b) há bastantes exemplos nesta lição;
c) ela adora pérola;
d) vocês vieram só ou acompanhados?
e) nenhuns obstáculos conseguirão impedir nossa vitória.

7) Assinale a opção com erro de construção:

a) um e outro aluno desistiu de terminar a prova;


b) estas crianças eram as mais espertas possíveis;
c) cerveja pode ser mau para a saúde;
d) a aluna regredia olhos vistos;
e) as literaturas francesa e a inglesa são vastíssimas.

8) Assinale a opção com erro de construção:

a) água é bom para a saúde;


b) achamos estas paisagens as mais belas possível;
c) suas forças definhavam a olhos vistas;
d) é proibido entrada a pessoas estranhas ao serviço;
e) deve ser um bom livro, haja vista as suas edições sucessivas.

9) Assinale a opção com erro de construção:

a) nem um nem outro aluno conseguiram aprovação;


b) não conheço nem uma nem outra hipótese;
c) acredito que um e outro funcionário serão promovidos;
d) é claro que sou seu amigo; hajam vista das minhas declarações;
e) foi acusado de grave crime: lesa-pátria.

10) Assinale a opção com erro de construção:

a) estes alunos são os mais estudiosos possível;


b) sua aplicação ao estudo crescia a olhos vistos;
c) suas blusas rosas eram “chiquérrimas” ;
d) suas virtudes cresciam a olhos vistos;
e) ele não sabe raciocinar, haja vista os argumentos apresentados.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


183

6.11 Leitura, Interpretação e Produção de Texto

Ler é uma atividade muito além da simples interpretação dos símbolos gráficos, pois
exige que o indivíduo seja capaz de interpretar o material lido, comparando-o e
incorporando-o a sua bagagem pessoal. É necessário que haja maturidade para a
compreensão do material lido, senão tudo cairá no esquecimento ou ficará armazenado na
memória, sem uso. Há etapas ou níveis em toda leitura: Primeiro nível (é preciso ter um bom
domínio da língua), segundo nível (é a pré-leitura ou leitura superficial, podendo aplicar a
técnica da leitura dinâmica), terceiro nível (leitura analítica e efetiva, onde o livro será lido
até o fim), quarto nível (nível de controle, ou seja, acabar com qualquer dúvida que tenha
ficado da leitura, como significados de palavras, e destacar pontos importantes), quinto nível
(etapa de repetição aplicada; momento de associar o assunto lido com alguma experiência já
vivida, fazer um resumo ou tentar exemplificá-lo com algo concreto, como se fosse um
professor e o estivesse ensinando para uma turma de alunos interessados) (CTPAC, 2014).

Existem vários procedimentos que podem ser adotados para tirar o maior
rendimento possível da leitura de um texto. Para uma leitura proveitosa, além do
conhecimento linguístico propriamente dito, é necessário também um repertório de
informações exteriores ao texto, o que se costuma chamar de conhecimento de mundo
(CTPAC, 2014).

Uma maneira para avaliar se o texto foi bem compreendido é a resposta a três
questões básicas: a) Qual é a questão de que o texto está tratando? O leitor será obrigado a
distinguir as questões em torno da qual gira o texto inteiro. b) Qual é a opinião do autor
sobre a questão posta em discussão? Pelo texto aparecem vários indicadores da opinião de
quem escreve, portanto não saber dar resposta a essa questão é um sintoma de leitura
desatenta e dispersiva. c) Quais são os argumentos utilizados pelo autor para fundamentar a
opinião dada? Argumento é todo tipo de recurso usado pelo autor para convencer o leitor
de que ele está falando a verdade (CTPAC, 2014).

Redação é o ato de exprimir ideias, por escrito, de forma clara e organizada.


Inicialmente é necessário conhecer a gramática do idioma e do tema sobre o qual se
escreve, contemplando os seguintes passos: escolha da forma que se pretende dar à
composição, organização das ideias sobre o tema, escolha do vocabulário adequado e
concatenação das ideias segundo as regras linguísticas e gramaticais. É preciso também
considerar o perfil do leitor a quem o texto se dirige, quanto à faixa etária, nível cultural e
escolar e interesse específico pelo assunto, para permitir a escolha do vocabulário ideal
(CTPAC, 2014).

As tecnologias do mundo moderno fizeram com que as pessoas deixassem a leitura


de livros de lado, o que resultou em jovens cada vez mais desinteressados pelos livros,
possuindo vocabulários cada vez mais pobres. A leitura é algo crucial para a aprendizagem
do ser humano, pois proporciona enriquecimento do vocabulário, obtenção de
conhecimento, e torna dinâmico o raciocínio e a interpretação. Muitas pessoas dizem não
ter paciência para ler um livro, no entanto isso acontece por falta de hábito (CORREIA, 2013).

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


184

6.11.1 Roteiro para Elaboração de Texto

A produção de textos escritos é uma prática de linguagem e uma prática social, do


mesmo modo que a leitura. Isto significa dizer que em várias circunstâncias da vida textos
são escritos para diferentes interlocutores, com distintas finalidades, organizados nos mais
diversos gêneros, para circularem em vários espaços sociais. Para se produzir um bom texto,
é necessário que alguns aspectos sejam revistos: o tema geral é o assunto a ser tratado que
normalmente abre espaço a outras vertentes; o tema específico trata-se da delimitação do
assunto proposto. Quanto mais o escritor especificar o tema geral, mais focado em um
objetivo estará e, portanto, mais seguro (CORREIA, 2013).

Dez mandamentos para que sua redação surpreenda o leitor (CORREIA, 2013):

a) não escreva difícil. Prefira uma linguagem mais simples;


b) críticas sem fundamento devem ser evitadas. A análise sobre algo deve ser
realizada baseada em fatos, acontecimentos reais, apontando soluções
coerentes para os problemas levantados;
c) uso de palavrões, jargões, gírias e coloquialismo é proibido;
d) a linguagem do MSN ou Facebook, por exemplo, deve ficar em casa;
e) nunca abrevie palavras, como por exemplo: vc, qdo, msm, dentre outras;
f) cuidado com a repetição exagerada de palavras. Se for o caso, use sinônimos;
g) seja objetivo, claro. Melhor qualidade do que quantidade;
h) faça um parágrafo para introdução, um para o desenvolvimento e um para a
conclusão, pelo menos.
i) não esqueça a cedilha no “c”, o cortado do “t”, o pingo do “i”, as letras
maiúsculas em nomes próprios;
j) se começou um novo argumento, coloque ponto final e não vírgula.
k) faça a concordância verbal. Se o sujeito está no plural, o verbo também deverá
estar.
l) releia o texto. É impossível tentar organizar melhor o texto e corrigir os erros
sem reler o que se escreveu. Coloque-se no lugar do leitor.

6.11.2 Coerência Textual

Ocorre com o emprego de diferentes procedimentos, sejam lexicais (repetição,


substituição, associação), sejam gramaticais (emprego de pronomes, conjunções, numerais,
elipses), quando se constroem frases, orações, períodos, que irão apresentar o contexto. A
coerência resulta da relação harmoniosa entre os pensamentos ou ideias apresentadas num
texto sobre um determinado assunto. Refere-se à sequência ordenada das opiniões ou fatos
expostos. Não havendo o emprego correto dos elementos de ligação (conectivos), faltará a
coesão e, logicamente, a coerência ao texto será afetada (CORREIA, 2013).

6.12 Respostas aos Exercícios

Exercício sobre pontuação:


1c; 2d; 3d; 4c; 5c; 6e

Módulo 1 Técnico em Farmácia


185

Exercícios sobre crase:


1c
2 a) à
b) ao
c)à
d) à; a; a; as
e) à
3b
4c
Exercícios sobre acentuação:
1) b;
2) a) lê; b) vê em ambos os casos; d) vêm
3) proparoxítonas: África, método, lâmpada
Paroxítonas: fóssil, possível, álbum, tórax
Oxítonas: pé, coração, cajá, armazém

Exercícios sobre concordância:


1c; 2a; 3c; 4a; 5b; 6d; 7e; 8b; 9d; 10c.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


186

REFERÊNCIAS

______. NBR 10520: Informação e documentação - citações em documentos - apresentação.


Rio de Janeiro, 2002.

______. NBR 6023: Informação e documentação - referências - elaboração. Rio de Janeiro,


2002.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 14724: Informação e


documentação - trabalhos acadêmicos – apresentação. Rio de Janeiro, 2011.

CORREIA, A. Português instrumental. Instituto Formação: cursos técnicos


profissionalizantes, Técnico em Segurança do Trabalho, 2013. Disponível em:
http://www.ifcursos.com.br Acesso em 30/10/2014.

CURSOS TÉCNICOS E PROFISSIONALIZANTES COSTA (CTPAC). Apostila de português


instrumental. Módulo 1. Disponível em: www.ctpac.com.br Acesso em 30/11/2014.

FAULSTICH, E. L. Como ler, entender e redigir um texto. 20 ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

FERNADES, C.S.; DOURADO, M.S. Português ao alcance de todos: Gramática e redação


comercial sem mistérios. São Paulo: iEditora, 2002. Disponível em:
http://minhateca.com.br/marcosmribeiro/Documentos/Apostilas/Portugues/Apostila+de+e
xercicios+Portugues+instrumental,50532214.PDF Acesso em 04/11/2017.

FERREIRA, M. Aprender e praticar gramática. Edição renovada. São Paulo: FTD, 2007.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos da Metodologia Científica. 6ª ed. São Paulo.


Atlas, 2007.

MARTINS, D. S.; ZILBERKNOP, L. S. Português Instrumental. 28ª ed. São Paulo. Atlas, 2009.

MEDEIROS, J. B. Português Instrumental. 7ª ed. São Paulo. Atlas, 2008.

SIMÕES, S. A pontuação sem segredo. Série palavra final, v.9. Universidade Nove de Julho
(Uninove), 2012.

ZAMBELI, C. Português. Casa do concurseiro. BNDES. Disponível em:


www.acasadoconcurseiro.com.br Acesso em 30/10/2014.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


187

ANOTAÇÕES: ____________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


188

_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

Módulo 1 Técnico em Farmácia


BIOSSEGURANÇA
191

7 BIOSSEGURANÇA

A biossegurança diz respeito ao conjunto de ações voltadas para a prevenção,


proteção do trabalhador, minimização de riscos inerentes às atividades de pesquisa,
produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando à saúde do
homem, dos animais, a preservação do meio ambiente e a qualidade dos resultados, como
preconizam Teixeira & Valle (1996). Este foco de atenção retorna ao ambiente ocupacional e
amplia-se para a proteção ambiental e a qualidade.

O técnico em Farmácia é um profissional da saúde e por isso será necessário que


tenha conhecimento sobre biossegurança, principalmente porque ele será responsável pela
coleta e processamento de vários tipos de amostras biológicas, desde sangue, secreções,
urina e fezes. Assim, o conhecimento de biossegurança auxiliará no trabalho do técnico e na
prevenção de acidentes.

7.1 Introdução à Biossegurança

De acordo com Fialho (2011), biossegurança, que forma a equação Vida +


Segurança, é conceituada amplamente como a vida livre de perigos. De modo geral, trata-se
de ações que contribuem para a segurança da vida no dia a dia das pessoas. Apreende-se,
então, que biossegurança envolve todas as medidas que visam evitar riscos físicos (radiação
ou temperatura), ergonômicos (posturais), químicos (substâncias tóxicas), biológicos
(agentes infecciosos) e psicológicos (como o estresse). No ambiente hospitalar encontram-se
exemplos de todos estes tipos de riscos ocupacionais para o trabalhador de saúde (Ex.:
radiações, alguns medicamentos etc.).

Há muitas áreas de insalubridade nos serviços de saúde, com variáveis graduações,


que dependem de sua hierarquização e complexidade (ex. hospital terciário ou posto de
saúde), do tipo de atendimento prestado (ex. atendimento exclusivo a moléstias infecto
contagiosas) e do local de trabalho do profissional (ex. laboratório, endoscopia, lavanderia
etc.). Os riscos de agravo à saúde (ex. radiação, calor, frio, substâncias químicas, estresse,
agentes infecciosos, ergonômicos etc.) podem ser tanto variados quanto cumulativos. Por
suas características, encontram-se nos serviços de saúde exemplos de todos os tipos de
risco, agravados por problemas administrativos e financeiros (ex. falta de manutenção de
equipamentos) e alguns decorrentes de falhas na adaptação de estruturas antigas a
aparelhos de última geração (FIALHO, 2011).

7.2 Medidas de Higienização

Denomina-se higiene limpeza, asseio, a inter-relação entre o homem e o meio


ambiente, no sentido da preservação da saúde, como preconiza Coringa (2012). Há várias
formas de higienização, desde a individual (banho, cabelos, unhas e mãos, boca, dentes e
vestuário), a coletiva (saneamento básico, água, esgoto, lixo, vetores), até a mental
(equilíbrio, costumes morais e sociais), e a do trabalho (riscos físicos, químicos e biológicos),
e ambiental (limpeza de moveis, utensílios e estrutura).

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


192

7.2.1 Antissepsia

Diz-se do conjunto de medidas propostas para inibir o crescimento de micro-


organismos ou removê-los de um determinado ambiente, podendo ou não destruí-los,
utilizando, para tanto, antissépticos ou desinfetantes. Uma das medidas mais comuns é a
higienização das mãos, conforme se observa a seguir.

 Higienização antisséptica das mãos:

Esta medida objetiva promover a remoção de sujidades e de microrganismos,


reduzindo a carga microbiana das mãos, com auxílio de um antisséptico, com uma duração
total do procedimento de aproximadamente de 40 a 60 segundos. Conforme orienta o
Ministério da Saúde (1997), a técnica de higienização antisséptica (Figura 1 (1)) é a mesma
utilizada para higienização simples das mãos, substituindo-se o sabão por um antisséptico.
Exemplo: antisséptico degermante.

Figura 1 (1)- Método de higienização antisséptica das mãos

Fonte: Disponível em:


http://www.anvisa.gov.br/hotsite/higienizacao_maos/conteudo/c_tecnicas.htm Acesso em maio
2016

Ainda de acordo com o Ministério da Saúde (1997), a antissepsia das mãos também
pode ser feita com preparações alcóolicas e tem a finalidade de reduzir a carga microbiana
das mãos (não há remoção de sujidades). A utilização de gel alcoólico a 70% ou de solução
alcoólica a 70% com 1-3% de glicerina pode substituir a higienização com água e sabão
quando as mãos não estiverem visivelmente sujas, a duração do procedimento é de
aproximadamente 20 a 30 segundos.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


193

7.2.2 Assepsia

Diz respeito ao conjunto de medidas utilizadas para impedir a penetração de micro-


organismos no ambiente.

7.2.3 Descontaminação

É o processo que visa destruir microrganismos patogênicos, utilizado em artigos


contaminados ou em superfície ambiental, tornando-os, consequentemente, seguros ao
manuseio. Pode ser realizada pelas formas descritas a seguir (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1997):

 Processo químico: no qual os artigos são imersos em solução desinfetante antes


de se proceder a limpeza;
 Por processo mecânico, utilizando-se máquina termodesinfectadora ou similar;
ou,
 Por processo físico, indicando-se a imersão do artigo em água fervente durante 30
minutos (método nem sempre indicado, pois há impregnação de matéria orgânica
quando aplicado a artigos sujos.

7.2.4 Desinfecção

Denomina-se desinfecção o processo de destruição de microrganismos em estado


vegetativo (com exceção das formas esporuladas, resistentes ao processo) utilizando-se
agentes físicos ou químicos.

A desinfecção pode ser de:

 Alto nível: quando há eliminação de todos os microrganismos e de alguns esporos


bacterianos;
 Nível intermediário ou médio: quando há eliminação de micobactérias (bacilo da
tuberculose), bactérias na forma vegetativa, muitos vírus e fungos, porém não de
esporos;
 Baixo nível: quando há eliminação de bactérias e alguns fungos e vírus, porém sem
destruição de micobactérias nem de esporos.

Observam-se enquanto processos físicos de desinfecção aqueles descritos a seguir,


conforme orienta o Ciep (2015).

 Pasteurização: é uma desinfecção realizada em lavadoras automáticas, com


exposição do artigo em água a temperaturas de aproximadamente 60 a 90 graus
centígrados por 10 a 30 minutos, conforme a instrução do fabricante. É indicada
para a desinfecção de circuitos de respiradores.
 Água em ebulição ou fervura: utilizada para desinfecção de alto nível em artigos
termorresistentes. Consiste em imergir totalmente o material em água fervente,
com tempo de exposição de 30 minutos, após o que o material é retirado com o
auxílio de pinça desinfetada e luvas de amianto de cano longo. Em seguida, deve
ser seco e guardado em recipiente limpo ou desinfetado – ressalve-se que esse

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


194

procedimento é indicado apenas nas situações em que não se disponha de outros


métodos físicos ou químicos.

A desinfecção por processo químico é feita por meio de imersão em soluções


germicidas. Para garantir a eficácia da ação, faz-se necessário que:

a) o artigo esteja bem limpo, pois a presença de matéria orgânica reduz ou inativa a
ação do desinfetante;
b) esteja seco, para não alterar a concentração do desinfetante; que esteja
totalmente imerso na solução, sem a presença de bolhas de ar;
c) o tempo de exposição recomendado seja respeitado; e,
d) durante o processo o recipiente seja mantido tampado e o produto esteja dentro
do prazo de validade (CIEP, 2015).

7.2.5 Esterilização

Esterilização é a destruição de todos os organismos vivos, mesmo os esporos


bacterianos, de um objeto. Para tanto, utilizam-se de agentes físicos e químicos. Os meios de
esterilização podem ser físicos e químicos, e também por meio de óxido de etileno e por
radiação, conforme descrito a seguir.

 Físicos:

A esterilização por físico compreende: calor seco (estufa, flambagem, fulguração);


calor úmido (fervura, autoclave); e radiações (raios alfa, gama e raios-X).

 Químicos:

A esterilização por meio químico compreende o uso desinfetantes.

Observa-se também a esterilização por meio do óxido de etileno, autorizado pelo


Ministério da Saúde, como agente químico para esterilização, por meio da portaria
930/1992. Este tipo de esterilização precisa de três unidades: aparelho de autoclave
combinado, gás e vapor; aparelho de comando que vai misturar o gás, e o freon na
concentração pré-estabelecida e o aparelho aerador.

Outra alternativa para a esterilização é a radiação, utilizada em artigos


termossensíveis (seringa de plástico, agulha hipodérmicas, luvas, fios cirúrgicos). Por atuar
em baixas temperaturas, é um método disponível em escala industrial devido aos elevados
custos de implantação e controle.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


195

7.2.6 Exercício Proposto

1) Pesquise outros conceitos de biossegurança e faça um resumo com suas


palavras.
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________

2) Enumere as medidas de higienização e dê exemplos.


____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________

3) Quais as principais diferenças nas medidas de higienização?


____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


196

7.3 Barreiras de Contenção

Na área de saúde, constituem-se barreiras de contenção o uso de Equipamentos de


Proteção Individual (EPI) e Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC), acerca dos quais
explanaremos a seguir.

7.3.1 Equipamento de Proteção Individual (EPI)

No que diz respeito à área de saúde, utiliza-se o EPI proteger os profissionais do


contato com agentes infecciosos, tóxicos ou corrosivos, calor excessivo, fogo e outros
perigos. A roupa e o equipamento servem também para evitar a contaminação do material
em experimento ou em produção (MASTROENI, 2006). Os EPIs mais utilizados pelos
profissionais de saúde e a sua utilidade serão descritos nas subseções seguintes.

 Luvas:

De acordo com Mastroeni (2006), as luvas são usadas como barreira de proteção,
prevenindo contra contaminação das mãos durante a manipulação de material
contaminado, reduzindo a probabilidade de que microrganismos presentes nas mãos sejam
transmitidos durante os procedimentos.

O uso de luvas não substitui a necessidade da lavagem das mãos, visto que elas
podem ter pequenos orifícios não aparente ou se danificarem durante o uso, podendo
contaminar as mãos quando removidas.

Sobre o uso das luvas, devem ser observadas as seguintes recomendações:

 Usar luvas de látex sempre que houver chance de contato com sangue, fluídos do
corpo, dejetos, trabalho com microrganismos e animais de laboratório;
 Usar luvas de PVC para manuseio de citostáticos (mais resistentes, porém menos
sensibilidade);
 Lavar instrumentos, roupas, superfícies de trabalho sempre usando luvas;
 Não usar luvas fora da área de trabalho, não abrir portas, não atender telefone;
 Luvas (de borracha) usadas para limpeza devem permanecer 12 horas em solução
de Hipoclorito de Sódio a 0,1% (1g/l de cloro livre = 1000 ppm). Verificar a
integridade das luvas após a desinfecção;
 Nunca reutilizar as luvas nem descartá-las de forma segura.

 Jaleco:

Os jalecos, em seus variados tipos, são usados para fornecer uma barreira de
proteção e reduzir a oportunidade de transmissão de microrganismos. Previnem a
contaminação das roupas do pessoal, protegendo a pele da exposição a sangue e fluidos
corpóreos, salpicos e derramamentos de material infectado (MASTROENI, 2006). São de uso
constante nos laboratórios e constituem uma proteção para o profissional.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


197

Acerca dos jalecos observam-se as seguintes recomendações:

a) Devem sempre ser de mangas longas, confeccionados em algodão ou fibra


sintética (não inflamável);
b) Os descartáveis devem ser resistentes e impermeáveis;
c) Uso de jaleco é permitido somente nas áreas de trabalho. Nunca em refeitórios,
escritórios, bibliotecas, ônibus, etc.;
d) Jalecos nunca devem ser colocados no armário, onde são guardados objetos
pessoais;
e) Devem ser descontaminados antes de serem lavados.

Observam-se, ainda, outros equipamentos utilizados como barreira de contenção,


os quais são listados:

 Óculos de proteção e protetor facial (protege contra salpicos, borrifos, gotas,


impacto).
 Máscara (tecido, fibra sintética descartável, com filtro HEPA, filtros para gases, pó,
etc.).
 Avental impermeável.
 Uniforme de algodão, composto de calça e blusa.
 Luvas de borracha, amianto, couro, algodão e descartáveis.
 Dispositivos de pipetagem (borracha peras, pipetadores automáticos, etc.).

7.3.2 Equipamento de Proteção Coletiva (EPC)

Enquanto barreira de contenção, também são utilizados os EPCs. São equipamentos


que possibilitam a proteção do pessoal do laboratório, do meio ambiente e da pesquisa
desenvolvida. São exemplos de EPC os equipamentos descritos a seguir (MASTROENI, 2006).

 Cabines de segurança:

As cabines de segurança biológica constituem o principal meio de contensão. Elas


são usadas como barreiras primárias para evitar a fuga de aerossóis para o ambiente. Há três
tipos de cabines de segurança biológica: Classe I; Classe II – A, B1, B2, B3; Classe III.

 Fluxo laminar de ar:

Massa de ar dentro de uma área confinada movendo-se com velocidade uniforme


ao longo de linhas paralelas.

 Capela química NB:

Cabine construída de forma aerodinâmica cujo fluxo de ar ambiental não causa


turbulências e correntes, assim reduzindo o perigo de inalação e contaminação do operador
e ambiente.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


198

 Chuveiro de emergência:

Chuveiro de aproximadamente 30 cm de diâmetro, acionado por alavancas de mão,


cotovelos ou joelhos. Deve estar localizado em local de fácil acesso.

 Lava olhos:

Dispositivo formado por dois pequenos chuveiros de média pressão, acoplados a


uma bacia metálica, cujo ângulo permite direcionamento correto do jato de água. Pode fazer
parte do chuveiro de emergência ou ser do tipo frasco de lavagem ocular.

 Manta ou cobertor:

Confeccionado em lã ou algodão grosso, não podendo ter fibras sintéticas. Utilizado


para abafar ou envolver vítima de incêndio.

 Vaso de areia:

Também chamado de balde de areia, é utilizado sobre derramamento de álcalis


para neutralizá-lo.

 Extintor de incêndio a base de água:

Utiliza o CO2 como propulsor. É usado em papel, tecido e madeira. Não usar em
eletricidade, líquidos inflamáveis, metais em ignição.

 Extintor de incêndio de CO2 em pó:

Utiliza o CO2 em pó como base. A força de seu jato é capaz de disseminar os


materiais incendiados. É usado em líquidos e gases inflamáveis, fogo de origem elétrica. Não
usar em metais alcalinos e papel.

 Extintor de incêndio de pó seco:

Usado em líquidos e gases inflamáveis, metais do grupo dos álcalis, fogo de origem
elétrica.

 Extintor de incêndio de espuma:

Usado para líquidos inflamáveis. Não usar para fogo causado por eletricidade.

 Extintor de incêndio de BCF:

Utiliza o bromoclorodifluorometano. É usado em líquidos inflamáveis, incêndio de


origem elétrica. O ambiente precisa ser cuidadosamente ventilado após seu uso.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


199

 Mangueira de incêndio:

Modelo padrão, comprimento e localização são fornecidos pelo Corpo de


Bombeiros (MASTROENI, 2006).

7.4 Tipo de Riscos

Denomina-se risco o perigo a que determinado indivíduo está exposto ao entrar em


contato com um agente tóxico ou certa situação perigosa. De acordo com o Ministério do
Trabalho os tipos de riscos são subdivididos em 5 grupos: risco de acidente, risco
ergonômico, risco físico, risco químico e risco biológico (MASTROENI, 2006).

7.4.1 Risco de Acidente

De acordo com Mota; Rezende (2013), qualquer fator que coloque o trabalhador
em situação de perigo e possa afetar sua integridade, bem estar físico e moral é considerado
risco de acidente. As autoras descrevem como exemplos de risco de acidente: as máquinas e
equipamentos sem proteção, probabilidade de incêndio e explosão, arranjo físico
inadequado, armazenamento inadequado, etc., os quais serão descritos a seguir.

7.4.2 Risco Ergonômico

O risco ergonômico é qualquer fator que possa interferir nas características


psicofisiológicas do trabalhador causando desconforto ou afetando sua saúde (MOTA;
REZENDE, 2013). São exemplos de risco ergonômico: o levantamento e transporte manual
de peso, o ritmo excessivo de trabalho, a monotonia, a repetitividade, a responsabilidade
excessiva, a postura inadequada de trabalho, o trabalho em turnos, etc.

7.4.3 Risco Físico

Os agentes de risco físico são, de acordo com as autoras (Op. Cit.), as diversas
formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído,
vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não
ionizantes, ultrassom, materiais cortantes e pontiagudos, etc.

7.4.4 Risco Químico

As substâncias, compostas ou produtos que possam penetrar no organismo pela via


respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela
natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvido pelo organismo
através da pele ou por ingestão são denominadas agentes de risco.

7.4.5 Risco Biológico

Mota; Rezende (2013, pp. 2-3) consideram agentes de risco biológico as bactérias,
fungos, parasitos, vírus, entre outros. De acordo com as autoras, observam-se a seguir a

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


200

classificação do risco biológico.

Os agentes de risco biológico podem ser distribuídos em quatro classes de 1 a 4 por


ordem crescente de risco, classificados segundo os seguintes critérios:

 Patogenicidade para o homem.


 Virulência.
 Modos de transmissão
 Disponibilidade de medidas profiláticas eficazes.
 Disponibilidade de tratamento eficaz.
 Endemicidade.

 Classe de Risco I - escasso risco individual e comunitário:

O microrganismo tem pouca probabilidade de provocar enfermidades humanas ou


enfermidades de importância veterinária. Ex.: Bacillus subtilis.

 Classe de Risco II - risco individual moderado, risco comunitário limitado:

A exposição ao agente patogênico pode provocar infecção, porém, se dispõe de


medidas eficazes de tratamento e prevenção, sendo o risco de propagação limitado. Ex.:
Schistosoma mansoni.

 Classe de Risco III - Risco individual elevado, baixo risco comunitário:

O agente patogênico pode provocar enfermidades humanas graves, podendo


propagar-se de uma pessoa infectada para outra. Entretanto, existe profilaxia e/ou
tratamento. Ex.: Mycobacterium tuberculosis.

 Classe de Risco IV - Elevado risco individual e comunitário:

Os agentes patogênicos representam grande ameaça para as pessoas e animais,


com fácil propagação de um indivíduo ao outro, direta ou indiretamente, não existindo
profilaxia nem tratamento. Ex.: Vírus Ebola.

7.4.1 Exercício Propostos

1) Qual a diferença entre EPI e EPC?


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

2) Quais os principais EPIs e suas funções?


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

Módulo 1 Técnico em Farmácia


201

3) Quais os principais EPCs e suas funções?


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

4) Qual a classificação dos tipos de riscos? Exemplifique.


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

7.5 Níveis de Contenção

Hirata et al. (2011) afirma que, para manipulação dos microrganismos pertencentes
a cada uma das quatro classes de risco, devem ser atendidos alguns requisitos de segurança,
conforme o nível de contenção necessário, conforme descrito a seguir.

 Nível 1:

Este primeiro de concentração nível se aplica aos laboratórios de ensino básico, nos
quais são manipulados os microrganismos pertencentes a classe de risco I. Não é requerida
nenhuma característica de desenho, além de um bom planejamento espacial, funcional e a
adoção de boas práticas laboratoriais.

 Nível 2:

O nível 2 se destina ao trabalho com microrganismos da classe de risco II. Refere-se


aos laboratórios clínicos ou hospitalares de níveis primários de diagnóstico, sendo
necessário, além da adoção das boas práticas, o uso de barreiras físicas primárias (cabine de
segurança biológica e equipamentos de proteção individual) e secundárias (desenho e
organização do laboratório).

 Nível 3:

Destina-se ao trabalho com microrganismos da classe de risco III ou para


manipulação de grandes volumes e altas concentrações de microrganismos da classe de
risco II. Para este nível de contenção, são requeridos além dos itens referidos no nível 2,
desenho e construção laboratoriais especiais. Devem ser mantidos controles rígidos quanto
à operação, inspeção e manutenção das instalações e equipamentos. O pessoal técnico deve
receber treinamento específico sobre procedimentos de segurança para a manipulação
desses microrganismos.

 Nível 4:

O nível 4 é também chamado de nível de contenção máxima. Destina-se à


manipulação de microrganismos da classe de risco IV. Observa-se para este nível o
laboratório com maior nível de contenção, representando uma unidade geográfica e

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


202

funcionalmente independente de outras áreas. Esses laboratórios requerem, além dos


requisitos físicos e operacionais dos níveis de contenção 1, 2 e 3, barreiras de contenção
(instalações, desenho, equipamentos de proteção) e procedimentos especiais de segurança.

7.6 Mapa de Risco

De acordo com Hirata et al. (2011), os mapas de risco são representações gráficas
do mapeamento de riscos ambientais. Trata-se de um levantamento dos locais de trabalho
apontando os riscos que são sentidos e observados pelos próprios trabalhadores de acordo
com a sua sensibilidade. Os mapas de risco são representados graficamente por meio de
círculos de cores e tamanhos proporcionalmente diferentes (riscos pequeno médio e
grande), sobre o layout da empresa e deve ficar afixado em local visível a todos os
trabalhadores, como ilustram as Figuras 2, 3 e 4 (4) a seguir.

Figura 2 (4)- Representação gráfica dos mapas de risco

Fonte: Hirata et al. (2011)

Figura 3 (4)- Representação dos tipos de risco segundo as cores

Fonte: Hirata et al. (2011)

Módulo 1 Técnico em Farmácia


203

Figura 4 (4)- Exemplo de um mapa de risco de um ambulatório de um hospital

Fonte: Hirata et al. (2011)


TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1
204

7.6.1 Exercício Propostos

1) Quais os níveis de contenção


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

2) Simule um laboratório e planeja o seu mapa de risco.

7.7 Plano de Gerenciamento de Resíduo

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) (BRASIL, 2006), o


descarte inadequado de resíduos tem produzido passivos ambientais capazes de colocar em
risco e comprometer os recursos naturais e a qualidade de vida das atuais e futuras
gerações. Os resíduos dos serviços de saúde (RSS) se inserem dentro desta problemática e
vêm assumindo grande importância nos últimos anos. Tais desafios têm gerado políticas
públicas e legislações, tendo como eixo de orientação a sustentabilidade do meio ambiente
e a preservação da saúde. Grandes investimentos são realizados em sistemas e tecnologias
de tratamento e minimização.

No Brasil, órgãos como a Anvisa e o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama)


são os responsáveis pelo papel de orientar, definir regras e regular a conduta dos diferentes
agentes, quanto à geração e ao manejo dos resíduos de serviços de saúde, com o objetivo de
preservar a saúde e o meio ambiente, garantindo a sua sustentabilidade. Desde o início da
década de 1990, estes órgãos vêm empregando esforços no sentido da correta gestão, do
correto gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde e da responsabilização do gerador.
Um marco deste esforço foi a publicação da Resolução Conama no 005/93, que definiu a
obrigatoriedade dos serviços de saúde elaborarem o Plano de Gerenciamento de seus
resíduos. Este esforço se reflete, na atualidade, com as publicações da RDC ANVISA no
306/04 e CONAMA no 358/05 (BRASIL, 2006).

7.7.1 Resíduo Sólido

De acordo com o Manual da Anvisa (BRASIL, 2006), observa-se que resíduos sólidos
e lixo são termos utilizados de forma distinta por autores diversos, mas na linguagem
cotidiana o termo resíduo é pouco utilizado. Na linguagem cotidiana, utiliza-se o termo lixo
para designar tudo aquilo que não tem mais utilidade, enquanto resíduo designa sobra
(refugo) do beneficiamento de produtos industrializados. “De acordo com o dicionário da
língua portuguesa, lixo é aquilo que se varre de casa, do jardim, da rua, e se joga fora. Coisas
inúteis, velhas, sem valor. Resíduo é aquilo que resta de qualquer substância, resto”
(FERREIRA, 1988 apud BRASIL, 2006).

A Resolução Conama no 005/1993 define resíduos sólidos como: resíduos


nos estados sólido e semi-sólido que resultam de atividades de origem
industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola e de serviços de
varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas

Módulo 1 Técnico em Farmácia


205

de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de


controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de
esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e
economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível (BRASIL,
2006).

De acordo com a definição acima, salienta-se que, quando se fala em resíduo sólido,
nem sempre se refere ao seu estado sólido. Neste sentido, observa-se a seguir a classificação
de resíduos sólidos.

Os resíduos sólidos classificam-se de acordo com a sua natureza física (seco ou


molhado), por sua composição química (matéria orgânica e inorgânica, de acordo com os
riscos potenciais ao meio ambiente, e, ainda, quanto à origem.

No entanto, as normas e resoluções existentes nos órgãos competentes classificam


os resíduos sólidos de acordo com os riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde, como
também, em função da natureza e origem. Com relação aos riscos potenciais ao meio
ambiente e à saúde pública a NBR 10.004/2004 classifica os resíduos sólidos em classe I e
classe II, conforme descrito a seguir.

 Resíduos sólidos classe I:

Os resíduos classe I, denominados como perigosos, são aqueles que, em função de


suas propriedades físicas, químicas ou biológicas, podem apresentar riscos à saúde e ao
meio ambiente. São caracterizados por possuírem uma ou mais das seguintes propriedades:
inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenecidade.

 Resíduos classe II:

Os resíduos classe II denominados não perigosos são subdivididos em duas classes:


classe II-A e classe II-B. Os de classe II-A (não inertes) podem ter como propriedades a
biodegradabilidade, a combustibilidade ou a solubilidade em água. Os resíduos classe II-B
(inertes) não apresentam nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações
superiores aos padrões de potabilidade de água, com exceção dos aspectos cor, turbidez,
dureza e sabor.

De acordo com o Manual da Anvisa (BRASIL, 2006), no que se refere à origem e


natureza, os resíduos sólidos são classificados em domiciliar, comercial, varrição e feiras
livres, serviços de saúde, portos, aeroportos e terminais rodoviários e ferroviários,
industriais, agrícolas e resíduos de construção civil.

Com relação à responsabilidade pelo gerenciamento dos resíduos sólidos pode-se


agrupá-los em dois grandes grupos. No primeiro grupo, observam-se os resíduos sólidos
urbanos (domésticos ou residenciais, comerciais e públicos). No segundo grupo se
encontram os resíduos que são fontes especiais, abrangendo aqueles industriais, da

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


206

construção civil, radioativos, resíduos de portos, aeroportos e terminais rodoferroviários, os


agrícolas e aqueles relativos aos serviços de saúde.

7.7.2 Resíduos do Serviço de Saúde

De acordo com a RDC ANVISA no 306/04 e a Resolução Conama no 358/2005 (BRASI,


2006), são definidos como geradores de Resíduos do Serviço de Saúde (RSS) todos os
serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive aqueles de
assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos para a
saúde; necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento,
serviços de medicina legal, drogarias e farmácias inclusive as de manipulação;
estabelecimentos de ensino e pesquisa na área da saúde, centro de controle de zoonoses;
distribuidores de produtos farmacêuticos, importadores, distribuidores produtores de
materiais e controles para diagnóstico in vitro, unidades móveis de atendimento à saúde;
serviços de acupuntura, serviços de tatuagem, dentre outros similares. Os RSS são
classificados conforme descrito a seguir.

 Classificação dos RSS:

Classificam-se os RSS de acordo com suas características e consequentes riscos que


podem acarretar ao meio ambiente e à saúde. De acordo com a RDC ANVISA n o 306/04 e
Resolução Conama no 358/05, os RSS são classificados em cinco grupos: A, B, C, D e E, como
ilustra o Quadro 1 a seguir.

Quadro 1- Classificação dos RSS

Resíduos dos Serviços de Saúde, de acordo com a sua classificação


Grupo Descrição
Engloba os componentes com possível presença de agentes biológicos que, por suas características
de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção. Exemplos: placas e
A
lâminas de laboratório, carcaças, peças anatômicas (membros), tecidos, bolsas transfusionais
contendo sangue, dentre outras.
Contém substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente,
dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade.
B
Exemplos: medicamentos apreendidos, reagentes de laboratório, resíduos contendo metais
pesados, dentre outros.
Quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham radionuclídeos em
C quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional
de Energia Nuclear (Cnen), como, por exemplo, serviços de medicina nuclear e radioterapia etc.
Não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo
D ser equiparados aos resíduos domiciliares. Exemplo: sobras de alimentos e do preparo de
alimentos, resíduos das áreas administrativas etc.
Composto por materiais perfuro-cortantes ou escarificantes, tais como lâminas de barbear,
E agulhas, ampolas de vidro, pontas diamantadas, lâminas de bisturi, lancetas, espátulas e outros
similares.
Fonte: Elaborado pela autora, baseado em Brasil (2006)

Módulo 1 Técnico em Farmácia


207

7.7.3 Acondicionamento dos Resíduos dos Serviços de Saúde

Os resíduos devem ser acondicionados e armazenados da seguinte forma, de


acordo com as Resoluções RDC – ANVISA nº 306/2004, CONAMA nº 358/2005 e normas
pertinentes a ABNT e do município sede do estabelecimento (BRASIL, 2006), como ilustrado
pelo Quadro 2 (4) a seguir.
Quadro 2 (4)- Acondicionamento dos RSS

Resíduos dos Serviços de Saúde, de acordo com o seu acondicionamento


Grupo Descrição
São acondicionados em sacos plásticos, impermeáveis e resistentes, de cor branca leitosa, com
A – Resíduos simbologia de resíduo infectante. Deve-se observar a necessidade de utilização de sacos
infectantes vermelhos – RDC 306/04 – ANVISA. São armazenados em recipientes estanques, metálicos ou
de plástico, com tampa, de fácil higienização e manuseio.
São acondicionados em duplo saco plástico de cor branca leitosa, com identificação do resíduo
B – Resíduos e dos riscos; ou acondicionados em recipiente rígido e estanque, compatível com as
químicos características físico-químicas do resíduo ou produto a ser descartado, identificando de forma
visível com o nome do conteúdo e suas principais características.
São acondicionados em sacos pretos resistentes de modo a evitar derramamento durante o
D – Resíduos
manuseio. Os resíduos comuns recicláveis (papel, papelão, plástico e vidro) podem ser
comuns
separados e destinados à reciclagem.
E – Resíduos Os resíduos perfurantes e cortantes do Grupo A são acondicionados e armazenados em
Perfurantes ou recipientes rígidos, resistentes à punctura, rompimento e vazamento, com tampa, devidamente
escarificantes identificados com a simbologia de resíduo infectante e perfurocortante.
Fonte: Elaborado pela autora, baseado em Brasil (2006)

7.7.4 Coleta Interna dos Resíduos dos Serviços de Saúde

Os resíduos deverão seguir os seguintes procedimentos ao serem transportados


dentro do estabelecimento, de acordo com as Resoluções RDC – ANVISA nº 306/2004,
CONAMA nº 358/2005 e normas pertinentes da ABNT e do município sede do
estabelecimento (BRASIL, 2006).

Observam-se os seguintes cuidados:

1) O transporte dos recipientes deve ser realizado sem esforço excessivo ou risco de
acidente para o funcionário.
2) Os procedimentos devem ser realizados de forma a não permitir o rompimento
dos recipientes. No caso de acidente ou derramamento, deve-se imediatamente
realizar a limpeza e desinfecção simultânea do local, e notificar a chefia da
unidade.

7.7.5 Abrigo dos Resíduos dos Serviços de Saúde

Quanto ao abrigo dos resíduos dos serviços de saúde, de acordo com as Resoluções
RDC – ANVISA nº 306/2004, CONAMA nº 358/2004 e normas pertinentes da ABNT e do
município sede do estabelecimento, devem ser observados os seguintes procedimentos:

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


208

1) O abrigo de resíduos deve ser constituído de um local fechado, ser exclusivo para
guarda temporária de resíduos de serviços de saúde, devidamente
acondicionados em recipientes.
2) As dimensões do abrigo devem ser suficientes para armazenar a produção de
resíduos de até três dias, sem empilhamento dos recipientes acima de 1,20 m.
3) O piso, paredes, porta e teto devem ser de material liso, impermeável, lavável e
de cor branca.
4) A porta deve ostentar o símbolo de substância infectante.
5) O abrigo de resíduo deve ser higienizado após a coleta externa ou sempre que
ocorrer derramamento.

7.7.6 Exercícios Propostos

1) Como são classificados os resíduos em saúde?


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

2) Faça um resumo das etapas de gerenciamento desses resíduos?


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

7.8 Imunização em Saúde

No campo da saúde, a década de 1970 foi marcada pelo êxito nas campanhas de
vacinação contra a varíola, tendo seu último caso notificado em 1971, no Brasil, e em 1977
na Somália, caracterizando a erradicação no mundo.

Em 1973 foi criado o Programa Nacional de Imunizações (PNI), por determinação do


Ministério da Saúde, cujo objetivo era o de coordenar as ações de imunizações que se
caracterizavam, até então, pela descontinuidade, pelo caráter episódico e pela reduzida área
de cobertura. O programa teve a sua proposta básica, constante de documento elaborado
por técnicos do Departamento Nacional de Profilaxia e Controle de Doenças (Ministério da
Saúde) e da Central de Medicamentos (Ceme - Presidência da República), aprovada em
reunião realizada em Brasília, em 18 de setembro de 1973, presidida pelo próprio Ministro
Mário Machado Lemos e contou com a participação de renomados sanitaristas e
infectologistas, bem como de representantes de diversas instituições.

Em 1975 institucionalizou-se o PNI, como resultado do somatório de fatores, de


âmbito nacional e internacional, que convergiam para estimular e expandir a utilização de
agentes imunizantes, com vistas à integridade das ações de imunizações realizadas no País.
Neste sentido, o PNI passou a coordenar as atividades de imunizações desenvolvidas
rotineiramente na rede de serviços, mediante diretrizes pautadas na experiência da

Módulo 1 Técnico em Farmácia


209

Fundação de Serviços de Saúde Pública (FSESP), com a prestação de serviços integrais de


saúde através de sua rede própria. A legislação específica sobre imunizações e vigilância
epidemiológica (Lei 6.259 de 30-10-1975 e Decreto 78.231 de 30-12-76) deu ênfase às
atividades permanentes de vacinação e contribuiu para fortalecer institucionalmente o
Programa (BRASIL, 2003).

Dando continuidade à erradicação da varíola, iniciou-se em 1980 a 1ª Campanha


Nacional de Vacinação Contra a Poliomielite, cuja meta era vacinar todas as crianças
menores de 5 anos em um só dia. O último caso de poliomielite, no Brasil, data de março de
1989, na Paraíba. Em setembro de 1994, o Brasil e demais países da região das américas
receberam da Comissão Internacional para a Certificação da Ausência de Circulação
Autóctone do Poliovírus Selvagem nas Américas o certificado, que garantia que a doença e o
vírus haviam sido eliminados de nosso continente.

Observam-se a seguir os objetivos do PNI:

 Contribuir para a manutenção do estado de erradicação da poliomielite;


 Contribuir para o controle ou erradicação de: sarampo; difteria; tétano neonatal e
acidental; coqueluche; formas graves da tuberculose; rubéola – em particular a
congênita; caxumba; hepatite B; febre amarela; raiva; doenças invasivas causadas
por Haemophilus influenzae tipo b;
 Contribuir para o controle de outros agravos, coordenando o suprimento e a
administração de imunobiológicos indicados para situações ou grupos
populacionais específicos, tais como: vacina contra a meningite meningocócica
tipo C; vacina contra a febre tifoide; vacina contra a hepatite A; vacina acelular
contra a difteria, o tétano e a coqueluche; vacina contra a infecção pelo
pneumococo; vacina contra influenza; vacina de vírus inativado contra a
poliomielite; vacina contra a raiva humana – célula diploide; imunoglobulina anti-
hepatite B; soro e imunoglobulina antirrábica; soro e imunoglobulina antitetânica;
vacina e imunoglobulina antivaricela zoster; e soros antipeçonhentos para
acidentes provocados por serpentes, aranhas e escorpiões.

7.9 Boas Práticas de Laboratório

Autores como Silva et al. (2013) definem Boas Práticas de Laboratório (BPL) como o
conjunto de normas voltadas à organização e às condições sob as quais estudos em
laboratórios e/ou campo são planejados, realizados, monitorados, registrados e relatados. O
seu princípio é a fixação de padrões mínimos para um laboratório funcionar adequadamente
visando o homem/vegetais/animais e o meio ambiente.

A implantação de BPL deve levar com conta:

1- Total satisfação do cliente;


2- Desenvolvimento de recursos humanos;
3- Constância de propósitos;
4- Gerência participativa;
5- Aperfeiçoamento contínuo;

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


210

6- Garantia da qualidade;
7- Delegação;
8- Gerência de processos;
9- Disseminação de informações;
10- Não aceitação de erros.

7.10 Procedimento Operacional Padrão (POP)

Um Manual de Procedimentos é a sistematização de todos os Procedimentos


Operacionais Padrão (POPs) de uma organização, de acordo com Mastroeni (2006). Aqui se
trata especificamente do laboratório clínico. Esta coletânea de procedimentos deve ficar a
cargo do Diretor do laboratório (ou pessoa por ele designada) e deverá estar completa,
atualizada e revisada por pessoa capaz.

A padronização de serviços e produtos é um ponto de extrema importância para a


conquista de novos clientes e sua continuação no mercado por parte das organizações. O
Procedimento Operacional Padrão (POP), seja técnico ou gerencial, é a base para garantia da
padronização de suas tarefas, garantindo aos usuários um serviço ou produto livre de
variações indesejáveis na sua qualidade final (MASTROENI, 2006).

O laboratório deverá definir documentar e manter um programa para controlar os


seus procedimentos e documentos pertinentes (livros, especificações, tabelas, gráficos,
desenhos, pôsteres, regulamentos, Normas, etc.), seja de fonte interna ou externa, que
fazem parte da documentação da Qualidade. A versão implementada deverá ser a atual,
nunca se deve deixar um procedimento obsoleto (versão anterior) circular pelo laboratório.
A substituição deve ser imediata e sua circulação sempre controlada. Tais procedimentos
deverão ser sempre revisados (pelo menos anualmente, mesmo que aparentemente isto
não se faça necessário), como afirma Mastroeni (2006).

O autor (Op. Cit.) afirma ainda que transcrever as tarefas rotineiras que todos
fazemos mecanicamente para uma folha de papel nem sempre é uma tarefa fácil, talvez seja
um pouco cansativa, mas importante tomar os seguintes cuidados.

 Nunca copiar procedimentos de livros ou de outras organizações, uma vez que


existem particularidades que só o nosso laboratório tem e isso é de fácil
percepção por parte da sua coordenação do laboratório ou ainda por ação de
auditores, nem tão experientes:
 A pessoa que executa a tarefa é quem deve escrever o procedimento. Existe ainda
um caráter psicológico que faz com que o funcionário se sinta parte integrante do
Sistema da Qualidade do laboratório e que as diretrizes desse sistema não sejam
uma imposição da alta administração.
 O funcionário deve estar familiarizado com fatores que influenciam seu processo
analítico, manuseio da amostra, aplicação e interpretação de seus controles
internos e externos, manutenção e operação de equipamentos de sua área. Ou
seja, este funcionário tem que ser treinado, habilitado e qualificado para a
execução de sua tarefa.
 Constantes análises críticas devem ser feitas (pelo menos uma vez por ano) sobre

Módulo 1 Técnico em Farmácia


211

a aplicabilidade dos procedimentos e se os mesmos ainda estão sendo seguidos.


 Deve-se ter cuidado com adaptações de metodologias: Tempo x Rotação para
centrifugação das amostras, tempo de banho-maria, condições de adequação das
amostras, etc. Tudo isso pode ser foco de sistematização de erro, ou seja,
produção de erros sistemáticos e não aleatórios. Sendo assim, todos os exames
que forem realizados sob a tutela deste procedimento resultarão em trabalhos
não conforme (TNC).
 A linguagem utilizada no POP deverá estar em consonância com o grau de
instrução das pessoas envolvidas nas tarefas. De preferência, deve-se usar uma
linguagem simples e objetiva. O conteúdo do POP, assim como sua aplicação,
deverá ter o completo entendimento e familiarização por parte dos funcionários
que tenham participação direta e/ou indireta na qualidade final daquele ensaio.
Normalmente a ingerência de supervisores, coordenadores e diretores neste
ponto é uma das causas de ineficiência na implantação de um Sistema da
Qualidade.

Todos os POPs do laboratório deverão constar as seguintes informações:

 Nome do laboratório;
 Título;
 Identificação, assinatura e data da elaboração, revisão e aprovação do POP;
 Número da versão atual;
 Número do documento;
 Paginação;
 Abrangência, distribuição;
 Números de cópias. Se o POP for um procedimento analítico, este ainda deverá
conter (quando aplicável):
 Princípio do teste;
 Aplicação clínica;
 Amostra analisada (tipo de amostra e suas condições necessárias);
 Padrões, controles, reativos e outros insumos;
 Equipamentos (uso, calibração e manutenção preventiva);
 Passo a passo do ensaio (fase analítica detalhada);
 Cálculos (quando aplicável: Conversão de unidades ou aplicação de fatores);
 Controle da Qualidade (externo e interno com periodicidade e faixa de aceitação
de valores);
 Interferentes e reações cruzadas;
 Valores de referência (referentes à população atendida); -Linearidade, limites de
detecção e limitações do método (que deverão estar congruentes com as
necessidades do usuário: Sensibilidade, robustez contra fatores externos,
incertezas de medição, etc.);
 Interpretação dos resultados;
 Referências bibliográficas (fontes dos dados obtidos no procedimento).

Para os POPs elaborados sob condições do laboratório, observam-se os passos


descritos a seguir (MASTROENI, 2006).

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


212

 Procedimento para coleta das amostras:

Utilizado para estabelecer regras e condutas satisfatórias de coleta de amostras


primárias (flebotomia, punção cutânea, sangue e outros fluidos corporais) e seus recipientes
para coleta e seus aditivos pertinentes, de forma a não invalidarem o resultado da análise.
No caso de a coleta vir a ser feita pelo médico solicitante ou pelo próprio usuário, instruções
para uma boa e correta coleta que não comprometam a qualidade da análise deverão ser
fornecidas pelo laboratório. Ex.: deve-se utilizar o frasco estéril, rejeitar o primeiro jato de
urina, etc.
 Procedimento para identificação das amostras:

Este procedimento descreve a sistemática de identificação das amostras, seja por


rótulo de código de barras ou numeração sequencial, donde o importante é o fato de a
identificação ser unívoca e esta identificação deverá ser respeitada por todo o tempo em
que a amostra se encontrar no laboratório, mesmo que aliquotada.

 Procedimento para transporte das amostras:

Define as condições de transporte desejáveis para a segurança das pessoas e do


meio ambiente, além da manutenção da integridade das propriedades físicas das amostras.
Ex.: Temperatura, luz, umidade, tremores, etc. É importante salientar que em laboratórios
de grande área física, estes cuidados poderão ocorrer também de forma interna, no
transporte da amostra entre setores ou departamentos distantes.

 Procedimento para rejeição das amostras:

São os critérios que o laboratório tem para recusa de processamento da amostra no


laboratório. São critérios gerais, tais como a identificação duvidosa, a falta de informações
necessárias. Há ainda casos que mesmo depois de recebida pela recepção, a amostra pode
ser rejeitada no setor técnico por outros motivos de difícil percepção na sua entrada no
laboratório, como, por exemplo, a contaminação biológica da amostra.

 Procedimento para aceitação das amostras comprometidas:

São os critérios que o laboratório deverá ter para aceitar amostras que não estão
em suas condições ideais especificadas. Porém, em condições de análise, a natureza deste
desvio deverá constar no laudo final de ensaio e requerendo cuidados para sua
interpretação clínica, quando aplicável.

 Procedimento para manuseio das amostras:

Este procedimento define a forma com a qual amostra deverá ser manuseada por
todos aqueles que tenham contato direto com ela, de forma a não alterá-la fisicamente e
nem perder suas características mensuráveis:

Módulo 1 Técnico em Farmácia


213

 Procedimento para preparo das amostras:

Em relação ao preparo das amostras, este procedimento define as condições


prévias necessárias para que elas cheguem na fase analítica sem nenhum grau de
comprometimento. Ex.: Desproteinização, centrifugação, neutralização de pH, etc.

 Procedimento para análise das amostras:

No caso da análise das amostras, o POP analítico define o passo a passo do ensaio.
Detalhado e com uma linguagem simples e objetiva, pode conter figuras e fluxogramas de
fácil entendimento e de melhor memorização da equipe.

 Procedimento para armazenamento das amostras:

Condições necessárias de estocagem e armazenamento de amostras de forma a


garantir a manutenção de sua integridade para posterior análise, transporte, terceirização,
reanálise ou para aceitação de pedido para adição de novos exames para a mesma amostra.
Neste procedimento o laboratório deverá definir por quanto tempo a amostra poderá ser
armazenada e sob quais condições, de forma a garantirem a sua estabilidade. Caso este
tempo seja ultrapassado, o laboratório deverá solicitar uma nova coleta.

 Procedimento para confidencialidade dos dados das amostras:

Procedimento que defende os interesses de propriedade dos pacientes, ou seja, os


resultados dos exames são de interesse somente do paciente, ele é o dono do laudo e do
seu conteúdo. O laboratório deverá dispor de uma sistemática para proteger a
confidencialidade dos exames dos seus usuários. Utilização de senhas no CPD, registro das
amostras por números e não nomes e treinamento de funcionários são as ferramentas mais
utilizadas pelo laboratório. Este ponto tem sido muito discutido pelos laboratórios, devido a
processos movidos por usuários conhecidos do público em geral por resultados como
gravidez e outros mais constrangedores como HIV terem sido divulgados na imprensa.

 Procedimento para terceirização de exames:

Define quais são os exames terceirizados e como o laboratório deverá proceder


diante da terceirização de seus exames. Neste procedimento, o laboratório chamado de
apoio a ser definido deverá passar por um critério rigoroso de seleção, visto que todos os
exames analisados por ele serão de corresponsabilidade do laboratório que colheu e enviou
a amostra.

 Procedimento para controle da Qualidade Interno:

Este procedimento que define o uso de um controle interno pelo laboratório,


reidratação de soro liofilizado, periodicidades, valores de aceitação de desvio padrão para
cada mensurando e ainda as responsabilidades do pessoal envolvido.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


214

 Procedimento para controle de Qualidade Externo:

No caso do controle de qualidade externo, este procedimento deve criar uma


sistemática de participação regular em um programa de ensaio de proficiência que englobe
os itens de ensaio que o laboratório analise. Se para o ensaio em questão não haja a
presença de um provedor de ensaio de proficiência nem no mercado, nem
indicado/fornecido pelos órgãos fiscalizadores (Ex.: Anvisa). O laboratório deverá procurar a
participação em comparações interlaboratoriais (ideal de 10 laboratórios) e que sejam
comparados os seus resultados e uma análise crítica desses valores obtidos seja realizada
imediatamente por pessoal qualificado.

 Procedimento para descarte seguro das amostras:

Este é o procedimento para realizar um descarte das amostras biológicas de forma


segura para o meio ambiente, para o laboratório e para seus funcionários. Tal procedimento
deverá caminhar em consonância com a legislação local.

7.10.1 Exercícios Propostos

1) O que são as boas práticas de laboratório e suas etapas de implantação?


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

2) O que são Procedimentos Operacionais Padrões? Exemplifique?


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

7.11 Estrutura e Organização de Laboratório

Em outubro de 2005, a Anvisa publicou a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) – a


RDC 302:2005. Atrelada a esta resolução há também o Regulamento Técnico para o
Funcionamento de Laboratórios Clínicos. Antes da elaboração desta norma legal, cada
estado e município dispunham de suas próprias normas legais, bastante divergentes entre si.
A falta de consenso técnico impedia o cumprimento da legislação por parte dos
profissionais.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


215

Apesar de haver uma norma legal de caráter nacional, as secretarias estaduais e


municipais e saúde, bem como do Distrito Federal, podem adotar normas complementares a
ela, com o objetivo de adequá-las às especificidades locais. Recomenda-se, neste sentido,
que o laboratório procure pelas normas estaduais e municipais a que possa sujeitar-se, junto
à Vigilância Sanitária local.

A RDC 302:2005 define os requisitos para o funcionamento de laboratórios clínicos


e postos de coleta, públicos e privados, que realizem exames de patologia ou análises
clínicas e citologia. Nesse primeiro momento, os laboratórios de anatomia patológica não
foram contemplados e terão um Regulamento, à parte. O laboratório clínico e os postos de
coleta laboratorial têm o prazo de cento e oitenta dias, a partir da data da publicação, para
se adequarem ao estabelecido no Regulamento Técnico.

7.12 Normas Regulamentadoras (NRs) da Área de Saúde

De acordo com Cavalcanti; Monteiro; Barbieri (2003, p. 33-34), o Ministério do


Trabalho, por meio da Portaria 3214 (de 8/6/1978), estabelece as Normas
Regulamentadoras (NR). Observam-se aqui destacadas apenas as que enfocam
prioritariamente a área de Biossegurança.

 NR4 – A organização dos Serviços Especializados em Engenharia de


Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) tem a finalidade de promover
a saúde e proteger a integridade do trabalhador em seu local de trabalho;
o dimensionamento dos SESMT, o número de funcionários e a graduação
de risco (atividades de atenção à saúde tem risco 3).
 NR5 – Regulamenta a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA),
que deverá manter contato estreito e permanente com o SESMT.
 NR6 – Regulamenta os Equipamentos de Proteção Individual (EPI),
conceituados como todo dispositivo de uso individual destinado a
proteger a saúde e a integridade física do trabalhador no local de
trabalho.
 NR7 – Estabelece o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
(PCMSO). Refere-se à obrigatoriedade de exames médicos periódicos por
ocasião de admissão, demissão, mudança de cargo/função ou setor e
retorno às atividades, após afastamento por mais de 30 dias por motivo
de saúde, inclusive gestação. Destaca-se que "o empregador é livre para
decidir a quem deve empregar, mas não lhe é permitido exigir teste
sorológico como condição de manutenção ou admissão do emprego ou
cargo público, por caracterizar interferência indevida na intimidade dos
trabalhadores e restrição ou discriminação não prevista na CLT e Código
Penal Brasileiro" (Ofício CRTVE/DST-AIDS 175/95).
 NR9 – Estabelece o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA).
São considerados riscos ambientais os agentes agressivos físicos, químicos
e biológicos que possam trazer ou ocasionar danos à saúde do
trabalhador em ambientes de trabalho, em função da natureza,
concentração, intensidade e tempo de exposição ao agente. São
considerados agentes biológicos os microrganismos como bactérias,
fungos, rickettsias, parasitas, bacilos e vírus presentes em determinadas
áreas profissionais.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


216

 Estas duas importantes Normas Regulamentadoras – NR-7 e NR-9 –, que


cuidam da saúde do funcionário e controle do ambiente, foram alteradas
pela Portaria nº 24 de 29.12.94.
 NR15 – Conceitua as atividades ou operações insalubres, assegurando ao
trabalhador, nestes casos, remuneração adicional (incidente sobre o
salário mínimo regional). O anexo 14, sobre a relação de atividades que
envolvem agentes biológicos e cuja insalubridade é avaliada
qualitativamente, teve seu texto complementado pela Portaria 12
de 12/11/1979, em seu parágrafo único: "contato permanente com
pacientes, animais ou material infecto-contagiante é o trabalho
resultante da prestação de serviço contínuo e obrigatório,
decorrente de exigência firmada no próprio contrato de trabalho,
com exposição permanente aos agentes insalubres".
Obs.: Nos contratos com empresas terceirizadas para prestação de
serviços deverão constar a responsabilidade dos exames e
acompanhamento de cada caso.

7.12.1 Exercícios Propostos

1) Se você fosse montar um laboratório, de acordo com a legislação, como o


estruturaria?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

2) Cite as normas de regulamentação e faça uma pequena descrição.


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

Módulo 1 Técnico em Farmácia


217

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de


gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
Disponível em:
http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/manuais/manual_gerenciamento_residuos.pdf
Acesso em dezembro de 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Imunizações: 30 anos. Brasília:


Ministério da Saúde, 2003. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/livro_30_anos_pni.pdf Acesso em dezembro de
2017.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.


Diretrizes gerais para o trabalho em contenção com agentes biológicos. Ministério da Saúde,
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.

CARDOSO, T. A. O.; VITAL, N. C.; NAVARRO, M.B.A. Biossegurança. Estratégias de gestão de


riscos, doenças emergentes e reemergentes: impactos na saúde pública. São Paulo: Ed.
Santos, 2012.

CAVALCANTI, N. J. F.; MONTEIRO, A. L. C.; BARBIERI, D.D. Biossegurança: atualidades em


DST/Aids. Programa Estadual de DST/AIDS da Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo.
São Paulo, 2003. Disponível em: http://www.bvsde.paho.org/bvsacd/cd49/Bioseguranca.pdf
Acesso em dezembro de 2017.

CORINGA, J. E. S. Biossegurança. Curitiba: LT, 2012.

FIALHO, A. C. V. Biossegurança na área da saúde. São Paulo: EDUFSCAR, 2011.

HINRICHSEN, S. L. Biossegurança e controle de infecções: risco sanitário hospitalar. Rio de


Janeiro: MEDSI, 2004.

HIRATA, R. D. C. Manual de Biossegurança. São Paulo: Manole, 2011.

MASTROENI, M. F. Biossegurança Aplicada a laboratórios e serviços de saúde. 2ª ed. São


Paulo: Atheu, 2010.

MOTA, A. L. T. L.; REZENDE, E. de. Apostila de boas práticas para laboratórios.


Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento do Instituto de Ciências Biomédicas
da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2013. Disponível em: http://biocel.icb.usp.br/wp-
content/uploads/2015/08/boas_praticas_BMC.pdf Acesso em dezembro de 2017.

PORTARIA MTB Nº 3.214/1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V,


Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho.
SILVA, J. V. Biossegurança no contexto da saúde. São Paulo: Iatria, 2013.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


218

TEIXEIRA, P. & VALLE, S. Biossegurança: uma abordagem multidisciplinar. Rio de Janeiro: Ed.
FIOCRUZ, 1996.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


219

ANOTAÇÕES: ____________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


220

_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

Módulo 1 Técnico em Farmácia


SAÚDE COLETIVA
223

8 SAÚDE COLETIVA

Esta disciplina visa promover a capacitação técnica e senso crítico ao aluno em


relação à realidade de saúde e seus serviços, associando a prestação de assistência e no
planejamento de saúde, compatíveis com as necessidades de saúde da população.

8.1 Política Nacional de Atenção à Saúde

Portaria nº 648/GM de 28 de março de 2006

Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes


e normas para a organização da Atenção Básica para o Programa Saúde da Família (PSF) e o
Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS).

CAPÍTULO I
DA ATENÇÃO BÁSICA

1 - DOS PRINCÍPIOS GERAIS

A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito


individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de
agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. É
desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias democráticas e
participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios bem
delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade
existente no território em que vivem essas populações.

Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade, que devem resolver


os problemas de saúde de maior frequência e relevância em seu território. É o contato
referencial dos usuários com os sistemas de saúde. Orienta-se pelos princípios da
universalidade, da acessibilidade e da coordenação do cuidado, do vínculo e continuidade,
da integralidade, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação
social.

A Atenção Básica considera o sujeito em sua singularidade, na complexidade, na


integralidade e na inserção sociocultural e busca a promoção de sua saúde, a prevenção e
tratamento de doenças e a redução de danos ou de sofrimentos que possam comprometer
suas possibilidades de viver de modo saudável. Possui a Saúde da Família como estratégia
prioritária para sua organização de acordo com os preceitos do Sistema Único de Saúde.

A Atenção Básica tem como fundamentos:

I - possibilitar o acesso universal e contínuo a serviços de saúde de qualidade e


resolutivos, caracterizados como a porta de entrada preferencial do sistema de saúde, com
território adscrito de forma a permitir o planejamento e a programação descentralizada, e
em consonância com o princípio da equidade;

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


224

II - efetivar a integralidade em seus vários aspectos, a saber: integração de ações


programáticas e demanda espontânea; articulação das ações de promoção à saúde,
prevenção de agravos, vigilância à saúde, tratamento e reabilitação, trabalho de forma
interdisciplinar e em equipe, e coordenação do cuidado na rede de serviços;

III - desenvolver relações de vínculo e responsabilização entre as equipes e a


população adscrita garantindo a continuidade das ações de saúde e a longitudinalidade do
cuidado;

IV- valorizar os profissionais de saúde por meio do estímulo e do acompanhamento


constante de sua formação e capacitação;

V- realizar avaliação e acompanhamento sistemático dos resultados alcançados,


como parte do processo de planejamento e programação; e

VI- estimular a participação popular e o controle social. Visando à operacionalização


da Atenção Básica definem-se como áreas estratégicas para atuação em todo o território
nacional na eliminação da hanseníase, no controle da tuberculose, no controle da
hipertensão arterial, diabetes mellitus, eliminação da desnutrição infantil, na saúde da
criança, na saúde da mulher, na saúde do idoso, na saúde bucal e promoção da saúde.

8.2 - DAS RESPONSABILIDADES DE CADA ESFERA DE GOVERNO

Os municípios e o Distrito Federal, como gestores dos sistemas locais de saúde, são
responsáveis pelo cumprimento dos princípios da Atenção Básica, pela organização e
execução das ações em seu território.

8.2.1 - Compete às Secretarias Municipais de Saúde e ao Distrito Federal:

I - organizar, executar e gerenciar os serviços e ações de Atenção Básica, de forma


universal, dentro do seu território, incluindo as unidades próprias e as cedidas pelo estado e
pela União;

II - incluir a proposta de organização da Atenção Básica e da forma de utilização dos


recursos do PAB fixo e variável, nos Planos de Saúde municipais e do Distrito Federal;

III - inserir preferencialmente, de acordo com sua capacidade institucional, a


estratégia de Saúde da Família em sua rede de serviços, visando à organização sistêmica da
atenção à saúde;

IV - organizar o fluxo de usuários, visando a garantia das referências aos serviços e


ações de saúde fora do âmbito da Atenção Básica;

Módulo 1 Técnico em Farmácia


225

V - garantir infraestrutura necessária ao funcionamento das Unidades Básicas de


Saúde, dotando-as de recursos materiais, equipamentos e insumos suficientes para o
conjunto de ações propostas;

VI - selecionar, contratar e remunerar os profissionais que compõem as equipes


multiprofissionais de Atenção Básica, inclusive os da Saúde da Família, em conformidade
com a legislação vigente;

VII - programar as ações da Atenção Básica a partir de sua base territorial, utilizando
instrumento de programação nacional ou correspondente local;

VIII - alimentar as bases de dados nacionais com os dados produzidos pelo sistema
de saúde municipal, mantendo atualizado o cadastro de profissionais, de serviços e de
estabelecimentos ambulatoriais, públicos e privados, sob sua gestão;

IX - elaborar metodologias e instrumentos de monitoramento e avaliação da


Atenção Básica na esfera municipal;

X - desenvolver mecanismos técnicos e estratégias organizacionais de qualificação


de recursos humanos para gestão, planejamento, monitoramento e avaliação da Atenção
Básica;

XI - definir estratégias de articulação com os serviços de saúde com vistas à


institucionalização da avaliação da Atenção Básica;

XII - firmar, monitorar e avaliar os indicadores do Pacto da Atenção Básica no seu


território, divulgando anualmente os resultados alcançados;

XIII - verificar a qualidade e a consistência dos dados alimentados nos sistemas


nacionais de informação a serem enviados às outras esferas de gestão;

XIV - consolidar e analisar os dados de interesse das equipes locais, das equipes
regionais e da gestão municipal, disponíveis nos sistemas de informação, divulgando os
resultados obtidos;

XV - acompanhar e avaliar o trabalho da Atenção Básica com ou sem Saúde da


Família, divulgando as informações e os resultados alcançados;

XVI - estimular e viabilizar a capacitação e a educação permanente dos profissionais


das equipes; e

XVII - buscar a viabilização de parcerias com organizações governamentais, não


governamentais e com o setor privado para fortalecimento da Atenção Básica no âmbito do
seu território.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


226

8.2.2 - Compete às Secretarias Estaduais de Saúde e ao Distrito Federal:

I - Contribuir para a reorientação do modelo de atenção à saúde por meio do apoio


à Atenção Básica e estímulo à adoção da estratégia Saúde da Família pelos serviços
municipais de saúde em caráter substitutivo às práticas atualmente vigentes para a Atenção
Básica;

II - pactuar, com a Comissão Intergestores Bipartite, estratégias, diretrizes e normas


de implementação da Atenção Básica no Estado, mantidos os princípios gerais
regulamentados nesta Portaria;

III - estabelecer, no Plano de Saúde Estadual e do Distrito Federal, metas e


prioridades para a organização da Atenção Básica no seu território;

IV - destinar recursos estaduais para compor o financiamento tripartite da Atenção


Básica;

V - pactuar com a Comissão Intergestores Bipartite e informar à Comissão


Intergestores Tripartite a definição da utilização dos recursos para Compensação de
Especificidades Regionais;

VI - prestar assessoria técnica aos municípios no processo de qualificação da


Atenção Básica e de ampliação e consolidação da estratégia Saúde da Família, com
orientação para organização dos serviços que considere a incorporação de novos cenários
epidemiológicos;

VII - elaborar metodologias e instrumentos de monitoramento e avaliação da


Atenção Básica na esfera estadual;

VIII - desenvolver mecanismos técnicos e estratégias organizacionais de qualificação


de recursos humanos para gestão, planejamento, monitoramento e avaliação da Atenção
Básica;
IX - definir estratégias de articulação com as gestões municipais do SUS com vistas à
institucionalização da avaliação da Atenção Básica;

X - firmar, monitorar e avaliar os indicadores do Pacto da Atenção Básica no


território estadual, divulgando anualmente os resultados alcançados;

XI - estabelecer outros mecanismos de controle e regulação, monitoramento e


avaliação das ações da Atenção Básica e da estratégia Saúde da Família no âmbito estadual
ou do Distrito Federal;

XII - ser corresponsável, junto ao Ministério da Saúde, pelo monitoramento da


utilização dos recursos da Atenção Básica transferidos aos municípios e ao Distrito Federal;

XIII - submeter à CIB, para resolução acerca das irregularidades constatadas na


execução do PAB fixo e variável, visando:

Módulo 1 Técnico em Farmácia


227

a) aprazamento para que o gestor municipal corrija as irregularidades;


b) comunicação ao Ministério da Saúde; e
c) bloqueio do repasse de recursos ou demais providências consideradas
necessárias e regulamentadas pela CIB;

XIV - assessorar os municípios para implantação dos sistemas de informação da


Atenção Básica, como instrumentos para monitorar as ações desenvolvidas;

XV - consolidar, analisar e transferir os arquivos dos sistemas de informação


enviados pelos municípios para o Ministério da Saúde, de acordo com os fluxos e prazos
estabelecidos para cada sistema;

XVI - verificar a qualidade e a consistência dos dados enviados pelos municípios por
meio dos sistemas informatizados, retornando informações aos gestores municipais;

XVII - analisar os dados de interesse estadual, gerados pelos sistemas de


informação, divulgar os resultados obtidos e utilizá-los no planejamento;

XVIII - assessorar municípios na análise e gestão dos sistemas de informação, com


vistas ao fortalecimento da capacidade de planejamento municipal;

XIX - disponibilizar aos municípios instrumentos técnicos e pedagógicos que


facilitem o processo de formação e educação permanente dos membros das equipes;

XX - articular instituições, em parceria com as Secretarias Municipais de Saúde, para


capacitação e garantia de educação permanente aos profissionais de saúde das equipes de
Atenção Básica e das equipes de saúde da família;

XXI - promover o intercâmbio de experiências entre os diversos municípios, para


disseminar tecnologias e conhecimentos voltados à melhoria dos serviços da Atenção Básica;
e,

XXII - viabilizar parcerias com organismos internacionais, com organizações


governamentais, não-governamentais e do setor privado para fortalecimento da Atenção
Básica no âmbito do estado e do Distrito Federal.

8.2.3 - Compete ao Ministério da Saúde:

I - Contribuir para a reorientação do modelo de atenção à saúde no País, por meio


do apoio à Atenção Básica e do estímulo à adoção da estratégia de Saúde da Família como
estruturante para a organização dos sistemas municipais de saúde;

II - garantir fontes de recursos federais para compor o financiamento do Piso da


Atenção Básica – PAB fixo e variável;

III - prestar assessoria técnica aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios no

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


228

processo de qualificação e de consolidação da Atenção Básica e da estratégia de Saúde da


Família;

IV - estabelecer diretrizes nacionais e disponibilizar instrumentos técnicos e


pedagógicos que facilitem o processo de capacitação e educação permanente dos
profissionais da Atenção Básica;
V - apoiar a articulação de instituições, em parceria com as Secretarias de Saúde
Estaduais, Municipais e do Distrito Federal, para capacitação e garantia de educação
permanente para os profissionais de saúde da Atenção Básica;

VI - articular com o Ministério da Educação estratégias de indução às mudanças


curriculares nos cursos de graduação na área da saúde, em especial de medicina,
enfermagem e odontologia, visando à formação de profissionais com perfil adequado à
Atenção Básica;

VII - assessorar estados, municípios e o Distrito Federal na implantação dos


sistemas de informação da Atenção Básica;

VIII - analisar dados de interesse nacional, relacionados com a Atenção Básica,


gerados pelos sistemas de informação em saúde, divulgando os resultados obtidos;

IX - elaborar metodologias e instrumentos de monitoramento e avaliação da


Atenção Básica de âmbito nacional;

X - desenvolver mecanismos técnicos e estratégias organizacionais de qualificação


de recursos humanos para gestão, planejamento, monitoramento e avaliação da Atenção
Básica;

XI - definir estratégias de articulação com as gestões estaduais e municipais do SUS


com vistas à institucionalização da avaliação da Atenção Básica;

XII - monitorar e avaliar os indicadores do Pacto da Atenção Básica, no âmbito


nacional, divulgando anualmente os resultados alcançados;

XIII - estabelecer outros mecanismos de controle e regulação, de monitoramento e


de avaliação das ações da Atenção Básica e da estratégia de Saúde da Família no âmbito
nacional;

XIV - promover o intercâmbio de experiências e estimular o desenvolvimento de


estudos e pesquisas que busquem o aperfeiçoamento e a disseminação de tecnologias e
conhecimentos voltados à Atenção Básica; e

XV - viabilizar parcerias com organismos internacionais, com organizações


governamentais, não governamentais e do setor privado, para fortalecimento da Atenção
Básica e da estratégia de saúde da família no País.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


229

8.3 - DA INFRAESTRUTURA E DOS RECURSOS NECESSÁRIOS

São itens necessários à realização das ações de Atenção Básica nos municípios e no
Distrito Federal:

I - Unidade(s) Básica(s) de Saúde (UBS) com ou sem Saúde da Família inscrita(s) no


Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde do Ministério da Saúde, de acordo com as
normas sanitárias vigentes;

II - UBS com ou sem Saúde da Família que, de acordo com o desenvolvimento de


suas ações, disponibilizem:

III - equipe multiprofissional composta por médico, enfermeiro, cirurgião dentista,


auxiliar de consultório dentário ou técnico em higiene dental, auxiliar de enfermagem ou
técnico de enfermagem e agente comunitário de saúde, entre outros;

IV - consultório médico, consultório odontológico e consultório de enfermagem


para os profissionais da Atenção Básica;

V - área de recepção, local para arquivos e registros, uma sala de cuidados básicos
de enfermagem, uma sala de vacina e sanitários, por unidade;

VI - equipamentos e materiais adequados ao elenco de ações propostas, de forma a


garantir a resolutividade da Atenção Básica;

VII - garantia dos fluxos de referência e contra referência aos serviços


especializados, de apoio diagnóstico e terapêutico, ambulatorial e hospitalar; e

VIII - existência e manutenção regular de estoque dos insumos necessários para o


funcionamento das unidades básicas de saúde, incluindo dispensação de medicamentos
pactuados nacionalmente.

Para Unidade Básica de Saúde (UBS) sem Saúde da Família em grandes centros
urbanos, recomenda-se o parâmetro de uma UBS para até 30 mil habitantes, localizada
dentro do território pelo qual tem responsabilidade sanitária, garantindo os princípios da
Atenção Básica.

Para UBS com Saúde da Família em grandes centros urbanos, recomenda- se o


parâmetro de uma UBS para até 12 mil habitantes, localizada dentro do território pelo qual
tem responsabilidade sanitária, garantindo os princípios da Atenção Básica.

8.4 - DO PROCESSO DE TRABALHO DAS EQUIPES DE ATENÇÃO BÁSICA

São características do processo de trabalho das equipes de Atenção Básica:

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


230

I - definição do território de atuação das UBS;

II - programação e implementação das atividades, com a priorização de solução dos


problemas de saúde mais frequentes, considerando a responsabilidade da assistência
resolutiva à demanda espontânea;

III - desenvolvimento de ações educativas que possam interferir no processo de


saúde-doença da população e ampliar o controle social na defesa da qualidade de vida;

IV - desenvolvimento de ações focalizadas sobre os grupos de risco e fatores de


risco comportamentais, alimentares e/ou ambientais, com a finalidade de prevenir o
aparecimento ou a manutenção de doenças e danos evitáveis;

V - assistência básica integral e contínua, organizada à população adscrita, com


garantia de acesso ao apoio diagnóstico e laboratorial;

VI - implementação das diretrizes da Política Nacional de Humanização, incluindo o


acolhimento;

VII - realização de primeiro atendimento às urgências médicas e odontológicas;

VIII - participação das equipes no planejamento e na avaliação das ações;

IX - desenvolvimento de ações intersetoriais, integrando projetos sociais e setores


afins, voltados para a promoção da saúde; e

X - apoio a estratégias de fortalecimento da gestão local e do controle social.

DO PROCESSO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE

A educação permanente dos profissionais da Atenção Básica é de responsabilidade


conjunta das SMS e das SES, nos estados, e da Secretaria de Saúde do Distrito Federal.
Devem compor o financiamento da Educação Permanente recursos das três esferas de
governo acordados na CIT e nas CIBs.

DO FINANCIAMENTO DA ATENÇÃO BÁSICA

O financiamento da Atenção Básica se dará em composição tripartite. O Piso da


Atenção Básica (PAB) constitui-se no componente federal para o financiamento da Atenção
Básica, sendo composto de uma fração fixa e outra variável. O somatório das partes fixa e
variável do Piso da Atenção Básica (PAB) comporá o Teto Financeiro do Bloco Atenção Básico
conforme estabelecido nas diretrizes dos Pactos pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão.

A parte fixa (PAB fixo) é destinada a todos os municípios e a parte variável (PAB
variável) que consiste em recursos financeiros destinados a estimular a implantação das
Módulo 1 Técnico em Farmácia
231

seguintes estratégias nacionais de reorganização do modelo de atenção à saúde:

 Saúde da Família – SF;


 Agentes Comunitários de Saúde – ACS;
 Saúde Bucal – SB;
 Compensação de Especificidades Regionais;
 Saúde Indígena – SI;
 Saúde no Sistema Penitenciário.

Os repasses realizados em conta aberta especificamente para essa finalidade, com o


objetivo de facilitar o acompanhamento pelos Conselhos de Saúde no âmbito dos
municípios, dos estados e do Distrito Federal.

Os valores dos incentivos financeiros para as Equipes de Saúde da Família


implantadas serão transferidos a cada mês, tendo como base o número de Equipe de Saúde
da Família (ESF) registrado no cadastro de equipes e profissionais do Sistema de Informação
de Atenção Básica – SIAB, no mês anterior ao da respectiva competência financeira.

O número máximo de ESF pelas quais o município e o Distrito Federal podem fazer
jus ao recebimento de recursos financeiros específicos será calculado pela fórmula:
população / 2400. A fonte de dados populacionais a ser utilizada para o cálculo será a
mesma vigente para cálculo da parte fixa do PAB.

São estabelecidas duas modalidades de financiamento para as ESF:

▪ ESF Modalidade 1 - São as ESF que atendem aos seguintes critérios:

I - estiverem implantadas em municípios com Índice de Desenvolvimento Humano


(IDH) igual ou inferior a 0,7 e população de até 50 mil habitantes nos Estados da Amazônia
Legal, e até 30 mil habitantes nos demais Estados do País; ou

II - estiverem implantadas em municípios que integraram o Programa de


Interiorização do Trabalho em Saúde (PITS) e que não estão enquadrados no estabelecido na
alínea I deste item; e

III - estiverem implantadas em municípios não incluídos no estabelecido nas alíneas


I e II e atendam a população remanescente de quilombos ou residente em assentamentos de
no mínimo 70 (setenta) pessoas, respeitado o número máximo de equipes por município,
publicado em portaria específica.

▪ ESF Modalidade 2 - São as ESF implantadas em todo o território nacional que


não se enquadram nos critérios da Modalidade 1:

Com relação aos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) os valores dos incentivos
financeiros para as equipes de ACS implantadas são transferidos a cada mês, tendo como
base o número de Agentes Comunitários de Saúde (ACS), registrados no cadastro de equipes
e profissionais do Sistema de Informação de Atenção Básica – SIAB, na respectiva

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


232

competência financeira.
O número máximo de ACS pelos quais o município e o Distrito Federal podem fazer
jus ao recebimento de recursos financeiros específicos será calculado pela fórmula:
população IBGE/ 400. Para municípios dos estados da Região Norte, Maranhão e Mato
Grosso, a fórmula será: população IBGE da área urbana / 400 + população da área rural
IBGE/ 280.

Quanto as Equipes de Saúde Bucal (ESB) os valores dos incentivos financeiros para
as Equipes de Saúde Bucal implantadas serão transferidos a cada mês, tendo como base o
número de Equipes de Saúde Bucal (ESB) registrados no cadastro de Equipes e profissionais
do Sistema de Informação de Atenção Básica – SIAB, na respectiva competência financeira.

São estabelecidas duas modalidades de financiamento para as ESB:

I - Equipe de Saúde Bucal Modalidade 1 - Composta por no mínimo1 cirurgião-


dentista e 1 auxiliar de consultório dentário;

II - Equipe de Saúde Bucal Modalidade 2 - Composta por no mínimo 1 cirurgião-


dentista, 1 auxiliar de consultório dentário e 1 técnico de higiene dental.

REQUISITOS MÍNIMOS PARA MANUTENÇÃO DA TRANSFERÊNCIA DO PAB

Os requisitos mínimos para a manutenção da transferência do PAB são aqueles


definidos pela legislação federal do SUS.

 O Plano de Saúde municipal ou do Distrito Federal, aprovado pelo respectivo


Conselho de Saúde e atualizado a cada ano, deve especificar a proposta de
organização da Atenção Básica e explicitar como serão utilizados os recursos do
Bloco da Atenção Básica. Os municípios e o Distrito Federal devem manter a
guarda desses Planos por no mínimo 10 anos, para fins de avaliação,
monitoramento e auditoria.

 O Relatório de Gestão deverá demonstrar como a aplicação dos recursos


financeiros resultou em ações de saúde para a população, incluindo
quantitativos mensais e anuais de produção de serviços de Atenção Básica, e
deverá ser apresentado anualmente para apreciação e aprovação pelo Conselho
Municipal de Saúde.

 Os valores fixos do PAB serão corrigidos anualmente mediante cumprimento de


metas pactuadas para indicadores da Atenção Básica.

Excepcionalmente o não alcance de metas poderá ser avaliado e justificado pelas


Secretarias Estaduais de Saúde e pelo Ministério da Saúde de maneira a garantir esta
correção.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


233

SUSPENSÃO DO REPASSE DE RECURSOS DO PAB

O Ministério da Saúde suspenderá o repasse de recursos do PAB aos municípios e


ao Distrito Federal, quando:

I - Não houver alimentação regular, por parte dos municípios e do Distrito Federal,
dos bancos de dados nacionais de informação, a saber:

a) Sistema de Informações da Atenção Básica (SIAB) – para os municípios e o


Distrito Federal, caso tenham implantado ACS e/ou ESF e/ou ESB;
b) Sistema de Informações Ambulatorial - SIA;
c) Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM;
d) Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos - SINASC;
e) Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional - SISVAN;
f) Sistema de Informações de Agravos de Notificação - SINAN;
g) Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações SIS-PNI.

Considera-se alimentação irregular:

I- A ausência de envio de informações por 2 meses consecutivos ou 3 meses


alternados no período de um ano;

II- Forem detectados, por meio de auditoria federal ou estadual, malversação ou


desvio de finalidade na utilização dos recursos.

A suspensão será mantida até a adequação das irregularidades identificadas.

SUSPENSÃO DO REPASSE DE RECURSOS DO PAB VARIÁVEL

O Ministério da Saúde suspenderá o repasse de recursos dos incentivos a equipes


de Saúde da Família ou de Saúde Bucal ao município e/ou ao Distrito Federal, nos casos em
que forem constatadas, por meio do monitoramento e/ou da supervisão direta do Ministério
da Saúde ou da Secretaria Estadual de Saúde ou por auditoria do DENASUS, alguma das
seguintes situações:

I - inexistência de unidade de saúde cadastrada para o trabalho das equipes e/ou;

II - ausência de qualquer um dos profissionais da equipe por período superior a 90


(noventa) dias, com exceção dos períodos em que a contratação de profissionais esteja
impedida por legislação específica e/ou;

III - o descumprimento da carga horária para os profissionais das Equipes de Saúde


da Família ou de Saúde Bucal estabelecida nesta Política.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


234

O Ministério da Saúde suspenderá o repasse de recursos dos incentivos, relativos


aos Agentes Comunitários de Saúde, ao município e/ou ao Distrito Federal, nos casos em
que forem constatadas, por meio do monitoramento e/ou da supervisão direta do Ministério
da Saúde ou da Secretaria Estadual de Saúde, ou por auditoria do DENASUS, diante das
seguintes situações:

I - inexistência de unidade de saúde cadastrada como referência para a população


cadastrada pelos ACS e/ou;

II - ausência de enfermeiro supervisor por período superior a 90 (noventa) dias, com


exceção dos períodos em que a legislação eleitoral impede a contratação de profissionais,
nos quais será considerada irregular a ausência de profissional por e/ou;
III - ausência de ACS, por período superior a 90 (noventa) dias consecutivos, e/ou;

IV - descumprimento da carga horária estabelecida nesta Política, para os


profissionais.

8.4.1. Estratégia de Saúde da Família

PRINCÍPIOS GERAIS

A estratégia de Saúde da Família visa à reorganização da Atenção Básica no País, de


acordo com os preceitos do Sistema Único de Saúde. Além dos princípios gerais da Atenção
Básica, a estratégia Saúde da Família deve:

I - Ter caráter substitutivo em relação à rede de Atenção Básica tradicional nos


territórios em que as Equipes Saúde da Família atuam;

II - atuar no território, realizando cadastramento domiciliar, diagnóstico situacional,


ações dirigidas aos problemas de saúde de maneira pactuada com a comunidade onde atua,
buscando o cuidado dos indivíduos e das famílias ao longo do tempo, mantendo sempre
postura proativa frente aos problemas de saúde-doença da população;

III - desenvolver atividades de acordo com o planejamento e a programação


realizada com base no diagnóstico situacional e tendo como foco a família e a comunidade;

IV - buscar a integração com instituições e organizações sociais, em especial em sua


área de abrangência, para o desenvolvimento de parcerias; e

V - ser um espaço de construção de cidadania.

DAS RESPONSABILIDADES DE CADA NÍVEL DE GOVERNO

Além das responsabilidades propostas para a Atenção Básica, em relação à

Módulo 1 Técnico em Farmácia


235

estratégia Saúde da Família, os diversos entes federados têm as seguintes responsabilidades:

Competem às Secretarias Municipais de Saúde e ao Distrito Federal:

I - inserir a estratégia de Saúde da Família em sua rede de serviços visando à


organização do sistema local de saúde;

II - definir, no Plano de Saúde, as características, os objetivos, as metas e os


mecanismos de acompanhamento da estratégia Saúde da Família;

III - garantir infraestrutura necessária ao funcionamento das equipes de Saúde da


Família, de Saúde Bucal e das unidades básicas de referência dos Agentes Comunitários de
Saúde, dotando-as de recursos materiais, equipamentos e insumos suficientes para o
conjunto de ações propostas;

IV - assegurar o cumprimento de horário integral – jornada de 40 horas semanais –


de todos os profissionais nas equipes de saúde da família, de saúde bucal e de agentes
comunitários de saúde, com exceção daqueles que devem dedicar ao menos 32 horas de sua
carga horária para atividades na equipe de Saúde da Família e até 8 horas do total de sua
carga horária para atividades de residência multiprofissional e/ou de medicina de família e
de comunidade, ou trabalho em hospitais de pequeno porte, conforme regulamentação
específica da Política Nacional dos Hospitais de Pequeno Porte;

V - realizar e manter atualizado o cadastro dos ACS, dos enfermeiros da equipe


PACS e dos profissionais das equipes de Saúde da Família e de Saúde Bucal, bem como da
população residente na área de abrangência das equipes de Saúde da Família, de Saúde
Bucal e ACS, nos Sistemas Nacionais de Informação em Saúde definidos para esse fim; e

VI - estimular e viabilizar a capacitação específica dos profissionais das equipes de


Saúde da Família.

Competem às Secretarias Estaduais de Saúde:

I - pactuar com a Comissão Intergestores Bipartite estratégias, diretrizes e normas


de implementação e gestão da Saúde da Família no Estado, mantidos os princípios gerais
regulamentados nesta Portaria;

II - estabelecer no Plano de Saúde estadual metas e prioridades para a Saúde da


Família;

III - submeter à Comissão Intergestores Bipartite (CIB), no prazo máximo de 30 dias


após a data do protocolo de entrada do processo, a proposta de implantação ou expansão
de ESF, ESB e ACS elaborada pelos municípios e aprovada pelos Conselhos de Saúde dos
municípios;

IV - submeter à CIB, para resolução, o fluxo de acompanhamento do cadastramento


dos profissionais das Equipes de Saúde da Família, de Saúde Bucal e ACS nos sistemas de

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


236

informação nacionais, definidos para esse fim;

V - submeter à CIB, para resolução, o fluxo de descredenciamento e/ou o bloqueio


de recursos diante de irregularidades constatadas na implantação e no funcionamento das
Equipes de Saúde da Família, de Saúde Bucal e ACS, a ser publicado como portaria de
resolução da CIB, visando à regularização das equipes que atuam de forma inadequada;

VI - analisar e consolidar as informações enviadas pelos municípios, referentes à


implantação e ao funcionamento das Equipes de Saúde da Família, de Saúde Bucal e ACS;

VII - enviar, mensalmente, ao Ministério da Saúde o consolidado das informações


encaminhadas pelos municípios, autorizando a transferência dos incentivos financeiros
federais aos municípios;
VIII - responsabilizar-se perante o Ministério da Saúde pelo monitoramento, o
controle e a avaliação da utilização dos recursos de incentivo da Saúde da Família
transferidos aos municípios no território estadual;

IX - prestar assessoria técnica aos municípios no processo de implantação e


ampliação da SF;

X - articular com as instituições formadoras de recursos humanos do estado


estratégias de expansão e qualificação de cursos de pós-graduação, residências médicas e
multiprofissionais em Saúde da Família e educação permanente, de acordo com demandas e
necessidades identificadas nos municípios e pactuadas nas CIBs; e

XI - acompanhar, monitorar e avaliar o desenvolvimento da estratégia Saúde da


Família nos municípios, identificando situações em desacordo com a regulamentação,
garantindo suporte às adequações necessárias e divulgando os resultados alcançados.

Compete ao Distrito Federal:

I - estabelecer, no Plano de Saúde do Distrito Federal, metas e prioridades para a


Saúde da Família;

II - analisar e consolidar as informações referentes à implantação e ao


funcionamento das equipes de Saúde da Família, de Saúde Bucal e ACS;

III - responsabilizar-se junto ao Ministério da Saúde pelo monitoramento, o controle


e a avaliação da utilização dos recursos de incentivo da Saúde da Família transferidos ao
Distrito Federal; e

IV - acompanhar, monitorar e avaliar o desenvolvimento da estratégia de Saúde da


Família no Distrito Federal, identificando e adequando situações em desacordo com a
regulamentação e divulgando os resultados alcançados.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


237

Compete ao Ministério da Saúde:

I - definir e rever, de forma pactuada, na Comissão Intergestores Tripartite, as


diretrizes e as normas da Saúde da Família;

II - garantir fontes de recursos federais para compor o financiamento da Atenção


Básica organizada por meio da estratégia Saúde da Família;

III - apoiar a articulação de instituições, em parceria com Secretarias de Saúde


Estaduais, Municipais e do Distrito Federal, para capacitação e garantia de educação
permanente específica aos profissionais da Saúde da Família;

IV - articular com o Ministério da Educação estratégias de expansão e de


qualificação de cursos de pós-graduação, residências médicas e multiprofissionais em Saúde
da Família e em educação permanente;
V - analisar dados de interesse nacional relacionados com a estratégia Saúde da
Família, gerados pelos sistemas de informação em saúde, divulgando os resultados obtidos;
e

VI - para a análise de indicadores, de índices de valorização de resultados e de


outros parâmetros, o cálculo da cobertura populacional pelas ESF, ESB e ACS será realizado a
partir da população cadastrada no sistema de informação vigente.

DA INFRAESTRUTURA E DOS RECURSOS NECESSÁRIOS

São itens necessários à implantação das Equipes de Saúde da Família:

I - Existência de equipe multiprofissional responsável por, no máximo, 4.000


habitantes, sendo a média recomendada de 3.000 habitantes, com jornada de trabalho de
40 horas semanais para todos os seus integrantes e composta por, no mínimo, médico,
enfermeiro, auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem e Agentes Comunitários de
Saúde;

II - número de ACS suficiente para cobrir 100% da população cadastrada, com um


máximo de 750 pessoas por ACS e de 12 ACS por equipe de Saúde da Família;

III - existência de Unidade Básica de Saúde inscrita no Cadastro Geral de


Estabelecimentos de Saúde do Ministério da Saúde, dentro da área para o atendimento das
Equipes de Saúde da Família que possua minimamente:

a) consultório médico e de enfermagem para a Equipe de Saúde da Família, de


acordo com as necessidades de desenvolvimento do conjunto de ações de
sua competência;
b) área/sala de recepção, local para arquivos e registros, uma sala de cuidados
básicos de enfermagem, uma sala de vacina e sanitários, por unidade;
c) equipamentos e materiais adequados ao elenco de ações programadas, de
forma a garantir a resolutividade da Atenção Básica à saúde;

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


238

IV - garantia dos fluxos de referência e contra referência aos serviços


especializados, de apoio diagnóstico e terapêutico, ambulatorial e hospitalar; e

V - existência e manutenção regular de estoque dos insumos necessários para o


funcionamento da UBS.

NECESSIDADE DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE BUCAL NAS EQUIPES DE SAÚDE DA


FAMÍLIA

I - No caso das Equipes de Saúde Bucal (ESB), Modalidade 1:

Existência de equipe multiprofissional, com composição básica de cirurgião dentista


e auxiliar de consultório dentário, com trabalho integrado a uma ou duas ESF, com
responsabilidade sanitária pela mesma população e território que as ESF às quais está
vinculada, e com jornada de trabalho de 40 horas semanais para todos os seus
componentes;

II - No caso das ESB, Modalidade 2:

Existência de equipe multiprofissional, com composição básica de cirurgião


dentista, auxiliar de consultório dentário e técnico de higiene dental, com trabalho integrado
a uma ou duas ESFs, com responsabilidade sanitária pela mesma população e território que
as ESFs, às quais está vinculada, e com jornada de trabalho de 40 horas semanais para todos
os seus componentes;

III - Existência de Unidade de Saúde inscrita no Cadastro Geral de Estabelecimentos


de Saúde do Ministério da Saúde, dentro da área para atendimento das equipes de Saúde
Bucal, que possua minimamente:

a) consultório odontológico para a Equipe de Saúde Bucal, de acordo com as


necessidades de desenvolvimento do conjunto de ações de sua
competência; e,
b) equipamentos e materiais adequados ao elenco de ações programadas, de
forma a garantir a resolutividade da Atenção Básica à saúde.

É prevista a implantação da estratégia de Agentes Comunitários de Saúde nas


Unidades Básicas de Saúde como uma possibilidade para a reorganização inicial da Atenção
Básica. São itens necessários à organização da implantação dessa estratégia:

I - A existência de uma Unidade Básica de Saúde, inscrita no Cadastro Geral de


estabelecimentos de saúde do Ministério da Saúde, de referência para os ACS e o
enfermeiro supervisor;

II - a existência de um enfermeiro para até 30 ACS, o que constitui uma equipe de


ACS;

Módulo 1 Técnico em Farmácia


239

III - o cumprimento da carga horária de 40 horas semanais dedicadas à equipe de


ACS pelo enfermeiro supervisor e pelos ACS;

IV - definição das microáreas sob responsabilidade de cada ACS, cuja população não
deve ser superior a 750 pessoas; e

V - o exercício da profissão de Agente Comunitário de Saúde regulamentado pela


Lei nº 10.507/2002.

PROCESSO DE TRABALHO DA SAÚDE DA FAMÍLIA

Além das características do processo de trabalho das equipes de Atenção Básica,


são características do processo de trabalho da Saúde da Família:

I - Manter atualizado o cadastramento das famílias e dos indivíduos e utilizar, de


forma sistemática, os dados para a análise da situação de saúde considerando as
características sociais, econômicas, culturais, demográficas e epidemiológicas do território;

II - definição precisa do território de atuação, mapeamento e reconhecimento da


área adstrita, que compreenda o segmento populacional determinado, com atualização
contínua;

III - diagnóstico, programação e implementação das atividades segundo critérios de


risco à saúde, priorizando solução dos problemas de saúde mais frequentes;

IV - prática do cuidado familiar ampliado, efetivada por meio do conhecimento da


estrutura e da funcionalidade das famílias que visa propor intervenções que influenciem os
processos de saúde-doença dos indivíduos, das famílias e da própria comunidade;

V - trabalho interdisciplinar e em equipe, integrando áreas técnicas e profissionais


de diferentes formações;

VI - promoção e desenvolvimento de ações intersetoriais, buscando parcerias e


integrando projetos sociais e setores afins, voltados para a promoção da saúde, de acordo
com prioridades e sob a coordenação da gestão municipal;

VII - valorização dos diversos saberes e práticas na perspectiva de uma abordagem


integral e resolutiva, possibilitando a criação de vínculos de confiança com ética,
compromisso e respeito;

VIII - promoção e estímulo à participação da comunidade no controle social, no


planejamento, na execução e na avaliação das ações; e

IX - acompanhamento e avaliação sistemática das ações implementadas, visando à


readequação do processo de trabalho.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


240

8.5 Doenças Transmissíveis

Na década de 30, as doenças transmissíveis eram a principal causa de morte nas


capitais brasileiras, respondendo por mais de um terço dos óbitos registrados nestes locais,
percentual provavelmente muito inferior ao que ocorria na área rural, da qual não se tem
registros adequados. As melhorias sanitárias, o desenvolvimento de novas tecnologias como
as vacinas e os antibióticos, a ampliação do acesso aos serviços de saúde e as medidas de
controle, fizeram com que este quadro se alterasse significativamente.

A partir da década de 60 as doenças do aparelho circulatório passaram a ser a


principal causa de morte no Brasil, superando a mortalidade por doenças transmissíveis, que
passou a ocupar o quinto grupo de doenças responsáveis pelo óbito. Todavia, apesar desta
considerável redução, as doenças transmissíveis ainda têm um impacto importante sobre a
morbidade, principalmente por aquelas doenças para as quais não se dispõe de mecanismos
eficazes de prevenção e/ou que apresentam uma estreita associação com causas
ambientais, sociais e econômicas.

A alteração do quadro de morbimortalidade, com a perda de importância relativa


das doenças transmissíveis, dá a impressão de que essas doenças estariam todas extintas ou
próximas a isso. Contudo, essa não é a realidade no Brasil nem mesmo em países mais
desenvolvidos.

Nos Estados Unidos, por exemplo, no ano de 2003, observou-se o registro de um


total de 1.588 casos de doença meningocócica. As meningites assépticas (geralmente
causadas por vírus) registraram uma média anual de 10 mil casos no início da década
passada, quando ainda eram de notificação compulsória. A doença de Lyme, transmitida por
um tipo de carrapato, acometeu 18.387 pessoas no ano de 2003. A coqueluche apresentou
uma tendência de crescimento desde o início da década de 80, chegando ao patamar de
8.483 casos em 2003, e a varicela (catapora) apresentou um registro de 13.474 neste mesmo
ano.

Agregando-se à ocorrência destas doenças infecciosas que já vinham sendo


registradas no país, nas últimas décadas, novas doenças infecciosas têm sido introduzidas e
disseminadas em todo seu território. A AIDS tem sido uma das doenças mais emblemáticas
deste processo denominado de "emergência das doenças infecciosas", a partir do seu
surgimento no início da década de 80 naquele país. Mais recentemente uma doença
originada na África e transmitida por mosquitos, a febre do oeste do Nilo, a partir de sua
introdução em Nova Iorque, desde 1999 vem gerando surtos com elevado número de casos
e óbitos. Somente no último ano foram registrados 1.933 casos.

Mesmo doenças que já estão sendo eliminadas em todo o continente americano,


como o sarampo, apresenta transmissão ainda em vários países do continente europeu,
representando um risco constante para sua disseminação para os países que conseguiram a
sua eliminação.

Tais dados ajudam na compreensão do verdadeiro momento em que se encontram


as doenças transmissíveis. O enorme êxito alcançado na prevenção e controle de várias

Módulo 1 Técnico em Farmácia


241

destas doenças, que hoje ocorrem em proporção ínfima quando em comparação com
algumas décadas atrás, não significa que foram todas erradicadas. Essa é uma falsa
percepção e uma expectativa irrealizável, pelo menos em curto prazo e com os meios
tecnológicos atualmente disponíveis.

Por causa das diferenças associadas às condições sociais, sanitárias e ambientais, as


doenças transmissíveis ainda se constituem em um dos principais problemas de saúde
pública no mundo. Doenças antigas ressurgem com outras características e doenças novas se
disseminam com uma velocidade impensável há algumas décadas. A varíola, ainda é o único
do produto de anos e décadas de esforços contínuos dos governos e sociedade.

Algumas Doenças Transmissíveis com Tendência Descendente

 Difteria:

A difteria é uma doença transmissível aguda, toxi-infecciosa, causada por bacilo


toxigênico que frequentemente se aloja nas amígdalas, na faringe, na laringe, no nariz e,
ocasionalmente, em outras mucosas e na pele. O número de casos de difteria notificados no
Brasil vem decrescendo progressivamente, provavelmente em decorrência do aumento da
utilização da vacina tríplice bacteriana (DTP).

Em 1990, foram notificados 640 casos, com coeficiente de incidência de


0,45/100.000 habitantes, número que foi progressivamente decaindo até 58 casos em 2000
(coeficiente de incidência de 0,03/100.000 habitantes). Em 2003, registraram-se 40 casos
(coeficiente de incidência de 0,02). A cobertura vacinal com a DTP vem se elevando neste
período, passando de 66% em 1990 para mais de 90% desde 2002.

 Coqueluche:

A morbidade da coqueluche no país também já foi elevada. No início da década de


80 eram notificados mais de 40 mil casos anuais, e o coeficiente de incidência era superior a
30/100.000 habitantes. Este número caiu abruptamente a partir de 1983, mantendo desde
então, uma tendência decrescente. Na década de 90, foram notificados 15.329 casos,
resultando em um coeficiente de incidência de 10,64/100.000 habitantes, sendo que a partir
de 1996, o número de casos anuais não excedeu 2.000, mantendo-se com coeficiente de
incidência em torno de 1/100.000 habitantes.

Com o Programa Nacional de Imunizações, em 1973, a vacina tríplice bacteriana


(DTP) passou a ser recomendada para crianças menores de 7 anos, observando-se a partir
disso o decréscimo na incidência da coqueluche. A partir dos anos 90, a cobertura foi se
elevando, principalmente a partir de 1998, resultando em uma modificação importante no
perfil epidemiológico desta doença. Entretanto, nos últimos anos, surtos de coqueluche vêm
sendo registrados em populações com baixa cobertura vacinal, principalmente em
populações indígenas.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


242

 Tétano:

O tétano é uma doença transmissível, não contagiosa, que apresenta duas formas
de ocorrência: acidental e neonatal. A primeira forma geralmente acomete pessoas que
entram em contato com o bacilo tetânico ao manusearem o solo ou através de ferimentos
ou lesões ocorridas por materiais contaminados, em ferimentos na pele ou mucosa. O
tétano neonatal é causado pela contaminação durante a secção do cordão umbilical pelo
uso de instrumentos esterilizados inadequadamente; pelo uso de substâncias contaminadas
no coto umbilical como teia de aranha, pó de café, fumo, esterco.

As mortes pelo tétano acidental acompanham uma tendência declinante, das 713
ocorrências anuais registradas em 1982, para menos de 300 desde 1998. Tal enfermidade
apresenta uma letalidade média de 70%, o que implica em um impacto importante na
mortalidade infantil neonatal.

O tétano acidental pode ser evitado pelo uso da vacina DPT na infância e com a
vacina dupla adulto (dT) em adultos, além dos reforços a cada dez anos para quem já tem o
esquema completo. Outra medida importante é a adoção de procedimentos adequados de
limpeza e desinfecção de ferimentos ou lesão suspeita para tétano, nas unidades de saúde.
Com relação ao tétano neonatal pode ser evitado principalmente por meio da vacinação das
gestantes durante o pré-natal.

 Poliomielite:

A poliomielite responsável pela paralisia infantil, doença que pode deixar sequelas
graves e levar ao óbito, chegou a acometer 3.596 crianças no ano de 1975. A intensificação
da vigilância e ações de controle, particularmente a ampliação da vacinação de rotina e a
introdução das Campanhas Nacionais de Vacinação diminuíram o número de casos
confirmados nos anos de 1987 e 1988, sendo em 1989 notificado o último caso com
isolamento do poliovírus selvagem no país, sendo erradicado em 1994 no Brasil.

O alcance da erradicação foi possível devido às estratégias de coberturas vacinal


adequada de forma homogênea em todo o território nacional e cumprimento de metas
adequadas dos indicadores de vigilância epidemiológica.

 Sarampo:

Em 1980, essa doença provocou aproximadamente 3.236 mortes. O sarampo é uma


doença transmissível e contagiosa, que acometeu de 2 a 3 milhões de crianças nos anos
epidêmicos na década de 70. Apresentando redução em 1991 a 2000, sendo que em 2001
alcançou-se a eliminação da circulação do vírus autóctone, apesar do surto ocorrido em
1997.

O Ministério da Saúde implantou o Plano de Erradicação do Sarampo em 1999 com


o intuito de intensificar as ações de vigilância epidemiológica objetivando detectar e
investigar de forma oportuna todos os casos suspeitos de sarampo e rubéola. Com isso,
realizar de forma oportuna o bloqueio vacinal diante de todos os casos suspeitos e garantir

Módulo 1 Técnico em Farmácia


243

que todos os municípios atinjam a cobertura vacinal adequada na rotina, de 95% nas
crianças de um ano de idade.

Em 2001 e 2002, apenas 1 caso foi confirmado de sarampo importado do Japão. Em


2003 mais dois casos importados foram confirmados, sendo o caso índice procedente da
Alemanha. Esse quadro reforça a expectativa de garantir a execução do objetivo de erradicar
a doença no Brasil.

 Rubéola:

Introduzida na lista de doenças de notificação compulsória no Brasil na segunda


metade da década de 90. Em 1997, ano em que o país enfrentou a última epidemia de
sarampo, foram notificados cerca de 30.000 casos de rubéola. No período de 1999/2001
ocorreram surtos desta doença em vários estados do Brasil. Em 2001, a rubéola chegou a
5/105 mulheres na faixa etária de 15 a 19 anos e de 6,3/105 mulheres na faixa etária de 20-
29 anos.

A partir do Plano de Erradicação do Sarampo no país, em 1999, houve um aumento


na vigilância e controle dos casos. Em 2002, ocorreram 443 casos de rubéola no Brasil,
representando uma diminuição de 90% se comparado à incidência de 1997. Consequência
da realização de uma campanha de vacinação em massa dirigida às mulheres em idade fértil
em todo o país com uma cobertura média de 95,68% e introdução da vacina dupla ou tríplice
viral no calendário básico de imunização.

Atualmente a vacinação de mulheres em idade fértil tem possibilitado uma


importante redução dos casos de SRC, alcançando a ocorrência de 13 casos registrados em
todo o país, o que indica a possibilidade de interrupção na sua transmissão.

 Raiva Humana:

Doença infecciosa aguda, de etiologia viral, transmitida por mamíferos, que


apresenta dois ciclos principais de transmissão: urbano e silvestre. Apresenta letalidade de
100% e é passível eliminação no ciclo urbano por meio de medidas eficientes de prevenção
tanto em relação ao homem quanto à fonte de infecção, cão e gato por exemplo. No Brasil,
o morcego hematófago é o principal responsável pela manutenção da cadeia silvestre.

Nas duas últimas décadas houve uma redução significativa no número de casos
humanos registrados por ano, caindo de 173, em 1980, para 17 casos em 2003, tendo o cão
como o principal transmissor da doença. Atualmente esses casos estão concentrados
principalmente na Região Norte e Nordeste.

Desde 2003 todas as Unidades da Federação disponibilizam, na rede de serviços de


saúde, vacina de alta qualidade para a profilaxia da Raiva Humana, a vacina de cultivo
celular.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


244

 Doença de Chagas:

Transmitida, principalmente por um inseto que se alimentam de sangue


(hematófago), os barbeiros, apresentava uma elevada incidência no Brasil no fim da década
de 70, em cerca de 100 mil casos novos por ano.

Atualmente, devido à estratégia de monitoramento para identificação do vetor e as


ações de combate com inseticidas específicos, melhorias habitacionais realizadas nas áreas
endêmicas, há um controle sobre a doença com uma prevalência de média geral de 0,13%
de acordo com pesquisas realizadas.

Visando avaliar o impacto das ações de prevenção e controle da doença de Chagas,


vem sendo desenvolvido em todo o país novo inquérito sorológico, que tem indicado uma
importante redução na prevalência de infecção na população menor de cinco anos.

 Hanseníase:

É uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae. A preferência


por nervos periféricos confere características peculiares à bactéria, tornando o seu
diagnóstico simples.

A hanseníase tem apresentado uma redução significativa de sua prevalência, de


16,4 por 10.000 habitantes em 1985 para 4,52 por 10.000 habitantes em 2003. Mesmo
assim, o Brasil continua sendo o segundo maior número de pacientes de hanseníase do
mundo, excedido apenas pela Índia em relação ao total de casos, encontrando-se também
entre os seis países que não atingiram a eliminação da hanseníase em 2005.
Consequentemente, ainda é um problema de saúde pública no Brasil, exigindo esforços para
um plano de intensificação das ações de eliminação e de vigilância.

O Estado de Pernambuco por sua vez é considerado endêmico para hanseníase,


com mais de 3.000 novos pacientes por ano e taxas de detecção por volta de 4 para cada
10.000. O maior número dos pacientes é encontrado na área metropolitana do Recife. Sendo
que em 2010, de acordo com o Sinan, foram registrados 3.067 casos em PE e no Recife 994,
ou seja, 32,4% dos números de casos do estado, demonstrando com isso que a doença se
encontra propagada em diferentes áreas do Pernambuco.

Com isso, os resultados encontrados demonstram a necessidade de continuar à


execução das atividades que produzam efeito negativo quanto à transmissão da doença. O
objetivo de acordo com o Plano de Eliminação da Hanseníase no Brasil estabelecido pelo
Ministério da Saúde, é atingir a prevalência inferior a 1 caso/10.000 habitantes em cada
município de acordo.

 Febre Tifoide:

A febre tifoide é uma doença transmissível associada às precárias condições


sanitárias, de higiene pessoal e ambiental, na maioria das vezes ocorre como surtos
relacionados com água e/ou alimentos contaminados. A imunidade adquirida após a

Módulo 1 Técnico em Farmácia


245

infecção ou vacinação não é definitiva e a vacina não apresenta efetividade para o controle
de surtos.

A doença persiste de forma endêmica no Brasil, com superposição de epidemias


especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Desde a década de 80, e especificamente na
década de 90, observa-se um declínio no coeficiente de incidência de 1,4/100.000 hab. em
1990, para 0,5/100.000 hab. em 2000, como também na letalidade de 2,4% em 1990 para
1,3% em 2000. Nos anos de 2002 e 2003 foi registrado um total de casos inferior a 500 em
todo o país.

A estratégia de controle da febre tifoide está dirigida, no setor saúde, para o


fortalecimento das vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental visando a detecção de
casos precoce e a adoção de medidas que impeçam a sua propagação.

 Oncocercose:

É uma doença causada por um verme nematódeo transmitido de uma pessoa


infectada a outra por meio da picada de mosquitos vetores do gênero Simulium, e causa
cegueira. No Brasil, a oncocercose é restrita à área uma área no Estado de Roraima de
acordo com o Ministério da Saúde no período (1993-1997). Em 1995, houve a
disponibilização de drogas eficazes a doença, junto as atividades de controle, distribuição de
medicamentos, atingindo 100% da área endêmica em 2001, tais ações possibilitarão a
eliminação da doença.

 Filariose:

É causada por um nematódeo, a Wucheceria bancrofti, e transmitida por mosquitos,


Culex. No Brasil já foi muito prevalente, sendo que atualmente está localizada em focos
endêmicos na região metropolitana do Recife e, em menor escala, em Maceió, cidades onde
as condições ambientais e de drenagem favorecem a permanência de alto índice de
população vetorial. Em Belém, onde a eliminação encontra-se próxima, a infecção ocorre de
forma residual.

Nos últimos anos o combate à filariose está apoiado no tratamento com


Dietilcarbamazina da população que vive em área de foco. No Brasil a primeira experiência
com esta forma de abordagem foi realizada em Recife em novembro de 2003.

Faz-se também o controle do vetor, visando reduzir a densidade populacional do


mosquito transmissor, atividades de educação em saúde, visando a eliminação dos
criadouros.

 Peste:

Transmitida por roedores silvestres, atualmente está restrita a algumas áreas


serranas ou de planalto, principalmente na região Nordeste, sendo geralmente associada
com o cultivo e armazenagem de grãos. Os últimos casos foram registrados no Estado da
Bahia em 2000. As atividades permanentes de vigilância sobre os roedores. A mortalidade

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


246

por essa doença praticamente inexiste atualmente no país, com apenas um óbito registrado
em toda a década de 90.

8.5.1 Algumas Doenças Transmissíveis com Quadro de Persistência

 Malária:

Acometia cerca de seis milhões de brasileiros por ano na década de 40, em todas as
regiões. As mudanças sociais ocorridas e o intenso trabalho de controle desenvolvido por
meio da Campanha de Erradicação da Malária possibilitaram o relativo controle da doença,
que passou a apresentar uma ocorrência de menos de 100 mil casos anuais e restringindo-se
a Amazônia Legal que responde por mais de 99% dos casos registrados no País.

Com os projetos de desenvolvimento da Amazônia houve dispersão da malária


pelas regiões Norte e Centro-Oeste, com um aumento significativo do número de casos,
passando-se a alcançar níveis de 450 a 500 mil casos anuais.

Diante disso, o Ministério da Saúde elaborou o Plano de Intensificação das Ações de


Controle da Malária (PIACM), desencadeando uma série de ações na Região Amazônica.

Estas ações, executadas em parceria com estados e municípios, colaboraram na


inversão da tendência de crescimento desta endemia.

 Tuberculose:

A tuberculose (TB) é uma das enfermidades mais antigas e conhecidas do mundo,


porém não é uma doença do passado, visto que foi decretada pela Organização Mundial de
Saúde (OMS) como enfermidade reemergente desde 1993. Ainda de acordo com a OMS, a
doença possui atualmente como principais causas para a gravidade da situação no mundo os
seguintes fatores: desigualdade social, advento da AIDS, envelhecimento da população,
grandes movimentos migratórios.

O Brasil ocupa a 18ª posição entre os 22 países responsáveis por 80% dos casos de
TB no mundo e contempla 35% dos casos notificados na Região das Américas de acordo com
a Organização Mundial de Saúde em 2009. Dentre as doenças infecciosas e parasitárias, a
tuberculose de vias respiratórias é a maior causa de morte entre os idosos recifenses. Em
2010, PE apresentou 5.048 casos, Recife 2.506 (49,6% dos casos de PE). Caracterizando-se
assim, como uma doença negligenciada.
A tuberculose tem sido objeto de ações e investimentos recentes do Ministério da
Saúde e demais instâncias do Sistema Único de Saúde - SUS, com o intuito de garantir a
continuidade do tratamento e ampliar a capacidade de detecção de novos casos e aumentar
o percentual de cura.

 Meningites:

Caracterizado por processos inflamatórios das meninges que podem estar


relacionados com uma grande variedade de agentes infecciosos como: vírus, bactérias,

Módulo 1 Técnico em Farmácia


247

fungos e protozoários.

Para a saúde pública são relevantes as meningites infecciosas, causadas por agentes
etiológicos transmissíveis. O quadro clínico da doença pode variar de acordo com a etiologia,
mas em geral a doença é grave e pode evoluir para óbito.

A meningite constitui um problema complexo e multifacetado, por ser uma doença


com diferentes etiologias, possui distintos impactos sobre a saúde pública e estratégias de
prevenção e controle diversas.

Durante a primeira metade da década de 90 observou-se um aumento no número


de casos notificados de doença meningocócica, atingindo o pico em 1996, com o registro de
7.321 casos. Esse aumento decorreu, em grande parte, de surtos localizados em municípios
com grande contingente populacional, como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. A
partir de 1996 há uma tendência de redução constante no número de casos, de 7.321 casos,
neste ano, para 2.923 casos em 2003. Alguns fatores podem ter colaborado com esta
redução, dentre eles destacam-se a adoção oportuna das medidas de controle
(quimioprofilaxia e vacinação de bloqueio), decorrente da ampliação da assistência à saúde
da população.

 Leishmaniose Visceral (LV):

A leishmaniose visceral, calazar, era uma doença praticamente silvestre com


características de ambientes rurais, que tem tido uma mudança de comportamento,
fundamentalmente por modificações socioambientais, como o desmatamento que reduziu a
disponibilidade de animais para servir de fonte de alimentação para o mosquito transmissor,
colocando-lhe o cão e o homem como alternativas mais acessíveis. A doença ainda não
dispõe de formas de prevenção completamente efetivas, como uma vacina.

O comportamento epidemiológico da leishmaniose visceral é cíclico, com elevação


dos casos em períodos médios a cada cinco anos, além de uma tendência crescente, se
considerarmos o período de 1980 a 2003. Na década de 90, aproximadamente 90% dos
casos de LV ocorreram na região Nordeste e atualmente esta região representa 74% do total
de casos do país.

 Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA):

No período de 1980 a 2003, a LTA no Brasil vem apresentando coeficientes de


detecção que oscilam entre 3,83 a 22,94 por 100.000 habitantes. Ao longo desse período
observou-se uma tendência ao crescimento, registrando os coeficientes mais elevados nos
anos de 1994/1995, quando atingiram níveis de 22,83 e 22,94 por 100.000 habitantes,
respectivamente. Vale ressaltar que o ano de 1998 apresentou uma queda significativa neste
coeficiente (13,47/100.000 habitantes).

Observa-se no Brasil uma expansão geográfica, sendo que no início da década de 80


foram registrados casos em 20 unidades federadas e nos últimos anos todas as unidades
federadas registraram casos autóctones da doença. As regiões Nordeste e Norte contribuem

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


248

com o maior número de casos registrados no período (cerca de 36,9% e 36,2%


respectivamente), e a região Norte com os coeficientes mais elevados (99,85/100.000
habitantes), seguida das regiões Centro-Oeste (41,85/100.000 habitantes e Nordeste
(26,50/100.000 habitantes).

A LTA por ser uma doença que apresenta grande diversidade e constantes
mudanças nos padrões epidemiológicos de transmissão, em virtude das diferentes espécies
de vetores, reservatórios e agentes etiológicos, associados à ação do homem sobre o meio
ambiente, dificulta as ações de controle da mesma.

 Febre Amarela Silvestre:

A febre amarela urbana encontra-se erradicada de nosso país desde 1942 e é


responsável por duas formas de aparecimento, a urbana e a silvestre. Todavia, com relação a
febre amarela silvestre não é possível a sua erradicação devido ao seu ciclo natural de
circulação entre os primatas não humanos das florestas tropicais.

Por causa da última epidemia ocorrida em Minas Gerais no ano de 2003, foi
definida uma área indene de risco potencial para circulação viral, que compreende os
municípios do sul de Minas Gerais e da Bahia e a região centro-norte do Espírito Santo. Em
2003, foram registrados 64 casos da doença com 23 óbitos. O surto de Minas Gerais foi
responsável por 58 desse total de casos e por 75% de todos os óbitos do período (21 óbitos).
Os demais casos de febre amarela foram registrados em Mato Grosso (n= 5) e Pará (n=1).

A vacina antiamarílica é o único meio eficaz para prevenir e controlar a doença, já


que interrompe o ciclo de transmissão, e tem por objetivos: conferir proteção individual e
coletiva na população, bloquear a propagação geográfica da doença criando uma barreira de
imunidade e prevenir epidemias.

 Hepatites:

As hepatites virais apresentam distribuição universal e magnitude variável de


acordo com a região do país. As hepatites A e E apresentam alta prevalência nos países em
desenvolvimento, onde as condições sanitárias e socioeconômicas são precárias. A
prevalência de hepatite B tem sido reduzida em países onde a vacinação foi implementada,
contudo ainda possui uma alta prevalência em populações de risco acrescido e em países
onde a transmissão vertical e horizontal intradomiciliar não é controlada.

A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de dois bilhões de pessoas já


tiveram contato com o vírus da hepatite B, tornando 325 milhões de portadores crônicos. O
Brasil por sua vez, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) possui estimativa
de infecção pelo HAV de aproximadamente 130 casos novos por 100.000 habitantes ao ano
e de que mais de 90% da população maior de 20 anos tenha tido exposição ao vírus.

De acordo com o Ministério da Saúde, ainda não existem estudos capazes de


estabelecer sua real prevalência no país, com relação a hepatite C. Com base em dados da
rede de hemocentros de pré-doadores de sangue, em 2002, a distribuição variou entre as

Módulo 1 Técnico em Farmácia


249

regiões brasileiras: 0,62% no Norte, 0,55% no Nordeste, 0,28% no Centro-Oeste, 0,43% no


Sudeste e 0,46% no Sul.

Contudo, a vigilância epidemiológica das hepatites virais no país utiliza o sistema


universal e passivo, baseado na notificação de casos suspeitos. O número de notificações
não reflete a real incidência da infecção, pois a maioria dos acometidos possuem formas
assintomáticas ou oligossintomáticas.

 Leptospirose:

A Leptospirose é uma zoonose de distribuição mundial e notificação obrigatória no


Brasil, apresentando grande incidência em algumas regiões, alto custo em internações
hospitalares e alta taxa de letalidade. É causada por um agente etiológico uma bactéria do
gênero Leptospira, encontrada na urina de roedores e outros mamíferos infectados, que
pode cursar de forma leve, moderada ou grave.

Pernambuco apresentou em 2010 o equivalente a 252 casos e a sua capital foi


responsável por 178 (70,6%) desses casos o que pode estar associado ao alto índice de
moradia subnormal, as condições socioambientais, interligados de forma convergentes com
a ausência da corresponsabilidade da limpeza pública.

 Esquistossomose:

A esquistossomose mansônica tem ampla distribuição geográfica no Brasil, com


maior intensidade de transmissão na região Nordeste do país e norte de Minas Gerais.
Desde o início da década de 1950 até o presente ano tem sido observada redução nas
prevalências de infecção.

Nos últimos 20 anos o percentual tem situado entre 5,5 a 11,6% da população
examinada. Os Estados de Alagoas, Pernambuco, Bahia, Sergipe, Paraíba e Minas Gerais,
possuem os maiores percentuais da doença. A tendência histórica para estes indicadores
aponta para uma redução na morbidade e mortalidade por formas graves pela doença, para
o país como um todo. Entretanto, nas áreas endêmicas da região Nordeste do Brasil, a
ocorrência da forma hepatoesplênica, que pode levar ao óbito por hemorragia digestiva,
ainda representa um importante problema de saúde.

8.5.2 Algumas Doenças Transmissíveis Emergentes e Reemergente

 Aids:

Identificada no Brasil em 1980, apresentou um crescimento na incidência até 1998,


quando foram registrados 25.732 casos novos, com um coeficiente de incidência de 15,9
casos/100.000 hab. Posteriormente, observou-se uma desaceleração nas taxas de incidência
de AIDS Brasil, a despeito da manutenção das principais tendências da epidemia:
heterossexualização, feminização, envelhecimento e pauperização do paciente,
aproximando-o cada vez mais do perfil socioeconômico do brasileiro médio.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


250

Desde o início da década de 80 até setembro de 2003, o Ministério da Saúde


notificou 277.154 casos de AIDS no Brasil. Deste total, 197.340 foram verificados em homens
e 79.814 em mulheres. Em 2003, foram notificados 5.762 novos casos da epidemia e, destes,
3.693 foram verificados em homens e 2.069 em mulheres, evidenciando o aumento entra as
mulheres. Atualmente verifica-se também o crescimento da AIDS em adolescentes do sexo
feminino cuja faixa etária é de 13 a 19 anos.

Tal crescimento pode estar relacionado com o início precoce da atividade sexual em
relação aos adolescentes do sexo masculino, normalmente os homens com maior
experiência sexual são mais expostos aos riscos de contaminação por doenças sexualmente
transmissíveis (DST) e AIDS.

As principais categorias de transmissão do HIV entre os homens e mulheres se dão


através das relações sexuais correspondendo a 58% e 86,7% respectivamente dos casos de
AIDS.

 Cólera:

Apesar de todo o conhecimento acumulado durante 30 anos, esta doença continua


sendo um desafio não somente em função das características do agente, mas
principalmente pela vulnerabilidade de grande parcela da população mundial, sobrevivendo
em condições de pobreza extrema.

No Brasil, os primeiros casos foram detectados em abril de 1991, no Estado do


Amazonas, de onde se alastrou progressivamente pela região Norte. No final do ano atingiu
o município de São Luiz do Maranhão e em 1992 todos os Estados do Nordeste. Entre 1991 e
2001 foram registrados no Brasil um total de 168.598 casos e 2.035 óbitos, com registro de
grandes epidemias na região nordeste. O coeficiente de incidência de cólera em 1993, ano
em que ocorreu o maior número de casos, foi de 39,81/100.000 habitantes, com 670 óbitos
e letalidade de 1,11%.

Estudos evidenciam a complexidade do processo de determinação da cólera e a


importância dos determinantes sociais, do ambiente natural ou modificado. As condições
ambientais precárias, abastecimento de água insuficiente e sistemas de esgoto inadequados
são obstáculos para o controle do desenvolvimento de surtos e epidemias por cólera.

Com os esforços do sistema de saúde de reduzir de maneira drástica estes valores a


partir de 1995, em 2001 registrou-se sete casos confirmados (quatro casos no Ceará e um
caso em Pernambuco, Alagoas e Sergipe). Em 2002 e 2003, não foram detectados casos
confirmados de cólera no Brasil.

Contudo, o risco de sua reintrodução em áreas já atingidas ou ainda indenes


continua presente tendo em vista que persistem as baixas coberturas de saneamento. As
equipes técnicas de vigilância epidemiológica e ambiental dos três níveis de governo têm
desenvolvido atividades de prevenção, com a realização de investigação de casos suspeitos,
envolvendo a coleta de amostras clínicas e de amostras de água e de meio ambiente,
principalmente nos mananciais que abastecem os sistemas de captação da água para

Módulo 1 Técnico em Farmácia


251

consumo humano.

 Dengue:

É uma arbovirose, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que se tornou um


grave problema de saúde pública no Brasil, e em outras regiões tropicais do mundo. Sua
transmissão essencialmente urbana, ambiente no qual se localizam fatores ideais para o seu
desenvolvimento como o homem, o vírus, o vetor e principalmente as condições políticas,
econômicas e culturais que formam a estrutura que permite o estabelecimento da cadeia de
transmissão.

Tal doença é responsável por uma das maiores campanhas de saúde pública
realizadas no país. O mosquito transmissor da doença que havia sido erradicado de diversos
países do continente americano nas décadas de 50 e 60, retornou na década de 70, devido
aos erros da vigilância epidemiológica, mudanças sociais e ambientais como consequência
de uma urbanização acelerada da época.

Atualmente, o mosquito transmissor é encontrado numa larga faixa do continente


americano, que se estende desde o Uruguai até o sul dos Estados Unidos, com registro de
surtos importantes de dengue em vários países como Venezuela, Cuba, Brasil e Paraguai.

De acordo com o Ministério da Saúde as dificuldades de erradicar um mosquito


domiciliado têm exigido um esforço enorme da esfera da saúde, com um gasto estimado de
quase R$ 1 bilhão por ano, quando computados todos os custos dos dez componentes do
Programa Nacional de Controle da Dengue.

Entre 1999 e 2002 foi registrado um aumento na incidência de dengue, alcançando


794.219 casos notificados em 2002. Em 2003, verificou-se uma redução de 56,6% no total de
casos notificados em relação a 2002, o que este relacionado com o fortalecimento das ações
para controlar a doença.

Outro fator, contudo, poderá piorar esse cenário com a entrada em circulação de
um novo tipo do vírus da dengue, o DENV-4. Com isso, o Ministério da Saúde, através da
Secretaria de Vigilância em Saúde junto com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde
vem executando um conjunto de ações com o aumento da intensificação das ações de
combate ao vetor, fortalecimento das ações de vigilância epidemiológica , integração das
ações de vigilância e de educação sanitária com o Programa de Saúde da Família e de
Agentes Comunitários de Saúde e uma forte campanha de mobilização social e de
informação para garantir a efetiva participação da população.

 Hantaviroses:

Doença emergente com duas formas clínicas: renal e cardiopulmonar. Sendo a


primeira de maior frequência na Europa e na Ásia, e a segunda possui presença maior no
continente americano. A doença se faz presente em quase todos os países da América do
Norte e da América do Sul.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


252

A infecção humana ocorre frequentemente, pela inalação de aerossóis formados a


partir de secreções e excreções dos reservatórios, que são roedores silvestres.

No Brasil, os primeiros casos foram detectados em 1993 na cidade de São Paulo,


nos dias atuais a doença tem sido detectada principalmente na região Sul, além dos estados
de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso. De 1993 a 2003 foram registrados 338 casos em
11 estados brasileiros com uma letalidade média de 44,5%.

O Ministério da Saúde implantou da vigilância epidemiológica dessa doença, o


desenvolvimento da capacidade laboratorial para realizar diagnóstico, a divulgação das
medidas adequadas de tratamento com o intuito de reduzir a letalidade, e aumentar o
conhecimento da situação de circulação de alguns hantavírus nos roedores silvestres
brasileiros, objetivando o controle e a prevenção da doença.

8.6. Programa Nacional de Imunização

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) foi criado em 1973, com o objetivo de


promover a vacinação da população brasileira e consequentemente diminuir ou erradicar,
várias doenças no território brasileiro. O PNI é mantido pelo Ministério da Saúde, através da
Secretaria de Vigilância em Saúde, e contribuiu de modo expressivo para erradicar a febre
amarela urbana e varíola no país. Destacando-se também, a ausência de registros da
paralisia infantil há 14 anos e do sarampo há três. Além da imunização de crianças, o PNI
também prevê a vacinação de adultos, principalmente de mulheres em idade fértil e de
idosos a partir de 60 anos de idade.

A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) coordena o Programa Nacional de


Imunizações (PNI). Define normas e procedimentos técnicos, mediante ações estratégicas
sistemáticas de vacinação da população, com base na vigilância epidemiológica de doenças
imunopreveníveis e no conhecimento técnico e científico da área. Estando também sobre
sua responsabilidade a aquisição, conservação e distribuição dos imunobiológicos que
integram o PNI.

O Ministério da Saúde, por intermédio do PNI, em atenção à Constituição da


República Federativa do Brasil e a Lei Orgânica da Saúde, com vistas ao atendimento
equitativo da população brasileira, oferece os chamados imunobiológicos especiais,
disponibilizados nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais – CRIE estes
destinados à vacinação de grupos portadores de quadros clínicos especiais, ou seja,
portadores de imunodeficiências, seus comunicantes, usuários que apresentaram evento
adverso pós-vacinação aos imunobiológicos disponibilizados pelo Ministério e profilaxia pré
e pós-exposição aos agentes imunopreveníveis. Além disso, grupos, como a população
indígena.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


253

Quadro 1 - Vacinação no Brasil - histórico

Ano Histórico da vacinação


1804 Instituída a primeira vacinação no País - contra a varíola
1885 Introdução da primeira geração da vacina antirrábica
1897 Primeira geração da contra a peste
1904 Decreto da obrigatoriedade da vacinação contra varíola
1937 Produção e introdução da vacina contra a Febre Amarela
Início da década de 1950 - implantação do toxoide tetânico (TT) e a vacina DTP,
em alguns estados
Primeira campanha contra a poliomielite, projeto experimental em Petrópolis – RJ
1961
e Santo André – SP
1962 Primeira campanha nacional conta a varíola
Introdução da vacina contra o sarampo para as crianças de oito meses a quatro
1967
anos de idade
1968 Inicia-se a vacinação com a vacina BCG
Registros oficiais do Ministério da Saúde sobre casos de doenças preveníveis por
vacinação:
 11.545 casos – poliomielite
 1.771 casos – varíola
1970
 10.496 casos – difteria
 81.014 casos – coqueluche
 109.125 casos – sarampo
 111.945 casos – tuberculose
1971 Ocorrência no Brasil do último caso de varíola
1973 Criado o Programa Nacional de Imunizações – PNI
Instituição do Programa Nacional de Imunizações - PNI e do Sistema Nacional de
1975
Vigilância Epidemiológica (Lei 6.259)
1976 Regulamentado o PNI
Instituído em Portaria nº 452 o primeiro Calendário Básico e o Cartão de Vacinas
1977
com as vacinas obrigatórias para os menores de 1 ano de idade
Implantação gradativa nos estados da vacina dupla (sarampo e rubéola) ou
1992 a 2002
tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola)
Redefinição das estratégias de vacinação contra Hepatite B em menores de 1 ano
1996 de idade em todo o país e ampliação da faixa etária para 15 anos na Amazônia
Legal, SC, ES, PR e DF
Substituição da vacina TT pela dupla tipo adulto (difteria e Tétano) no calendário
1999
básico para a faixa etária de 7 anos e mais
2002 Introdução da vacina Tetravalente para os menores de 1 ano
2003 Atualização do calendário na faixa etária de 12 meses a 11 anos de idade
2004 Instituído o Calendário Básico de Vacinação em Portaria de nº 597
2004 Campanha de Vacinação de Seguimento contra Sarampo
Caxumba e Rubéola para as crianças de 12 meses a 4 anos, na qual foram
vacinadas 12.777.709 crianças, 92.80% de cobertura vacinal
Inclusão da vacina contra o rotavírus humano para os menores de 6 meses de
2006
idade.
Fonte: Ministério da Saúde

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


254

Quadro 2- Caléndario de vacinação no Brasil

Fonte: Ministério da Saúde

8.7 Programa de Hanseníase e Tuberculose

Observaremos nesta seção o programa de hanseníase e tuberculoso, desde as suas


definições, histórico e demais características.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


255

8.7.1 Hanseníase

A hanseníase é uma das mais antigas doenças que acomete o homem,


caracterizando-se como crônica granulomatosa, proveniente de infecção causada pelo
Mycobacterium leprae, que tem a capacidade de infectar grande número de indivíduos o
que lhe confere uma alta infectividade, porém poucos adoecem demonstrando uma baixa
patogenicidade, pois a manifestação da doença está relacionada com o grau de imunidade
do hospedeiro e o nível de endemicidade do meio, somatizados com outros aspectos.
Acomete principalmente nervos periféricos, mas também pode se manifestar como doença
sistêmica comprometendo articulações, olhos, testículos, gânglios, entre outros órgãos.

O alto potencial incapacitante da hanseníase está diretamente relacionado à


capacidade do bacilo de Hansen penetrar a célula nervosa e também ao seu poder
imunogênico. Diante disso, considera-se a doença como um grande problema de saúde
pública que atinge principalmente as pessoas em faixa etária economicamente ativa
comprometendo seu desenvolvimento profissional e/ou social.

O domicílio do indivíduo é um importante espaço de transmissão da doença,


embora ainda existam lacunas de conhecimento quanto aos prováveis fatores de risco
implicados, especialmente aqueles relacionados ao ambiente social.

No Brasil, cerca de 47.000 casos novos são detectados a cada ano, sendo 8% deles
em menores de 15 anos. A melhoria das condições de vida e o avanço do conhecimento
científico modificaram significativamente o quadro da hanseníase, que atualmente tem
tratamento e cura, contudo ainda há uma necessidade de esforços para um plano de
intensificação das ações de eliminação e de vigilância.

 Agente Etiológico:

O Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen, que é um parasita intracelular


obrigatório com forma de bastonete, possui afinidade por células cutâneas e por células dos
nervos periféricos, que se instala no organismo da pessoa infectada, podendo se multiplicar.
Seu tempo de multiplicação é lento e pode durar, em média, de 11 a 16 dias.

 Modo de Transmissão:

O homem é considerado a única fonte de infecção da hanseníase. A transmissão se


dá por meio de uma pessoa doente (forma infectante da doença-MB), sem tratamento
elimina o bacilo para o meio externo contagiando pessoas susceptíveis.

A principal via de eliminação do bacilo, pelo indivíduo doente de hanseníase, e a


mais provável via de entrada deste no organismo são as vias aéreas. O aparecimento da
doença na pessoa infectada pelo bacilo, e suas diferentes manifestações clínicas, dependem
dentre outros fatores, da relação parasita/hospedeiro e pode ocorrer após um longo período
de incubação, de 2 a 7 anos.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


256

 Aspectos Clínicos:

Principais sinais e sintomas da doença são: manchas esbranquiçadas, avermelhadas


ou amarronzadas em qualquer parte do corpo com perda ou alteração de sensibilidade; área
de pele seca e com falta de suor; área da pele com queda de pelos, especialmente nas
sobrancelhas; perda ou ausência de sensibilidade local ao calor, dor e tato; sensação de
formigamento (Parestesias); dor e sensação de choque, fisgadas e agulhadas ao longo dos
nervos dos braços e das pernas, edema (inchaço) de mãos e pés; diminuição da força dos
músculos das mãos, pés e face devido à inflamação de nervos, úlceras de pernas e pés;
caroços (nódulos) no corpo; febre e dor nas juntas; entupimento, sangramento, ferida e
ressecamento do nariz; ressecamento nos olhos.

Os locais do corpo com maior predisposição para o surgimento das manchas são as
mãos, pés, face, costas, nádegas e pernas. Vale ressaltar que de acordo com o Ministério da
Saúde em alguns casos, a hanseníase pode ocorrer sem manchas.

 Diagnóstico:

Um caso de hanseníase é uma pessoa que apresenta uma ou mais de uma das
seguintes características e que requer quimioterapia: lesão (ões) de pele com alteração de
sensibilidade; acometimento de nervo(s) com espessamento neural; baciloscopia positiva.

O diagnóstico precoce da hanseníase e o seu tratamento adequado evitam a


evolução da doença, consequentemente impedem a instalação das incapacidades físicas por
ela provocadas.

 Classificação Operacional para Fins de Tratamento Quimioterápico:

O diagnóstico, portanto, baseia-se na identificação desses sinais e sintomas, e uma


vez diagnosticado, o caso de hanseníase deve ser classificado, operacionalmente, para fins
de tratamento. Esta classificação também é feita com base nos sinais e sintomas da doença:

▪ Paucibacilares (PB): casos com até 5 lesões de pele;


▪ Multibacilares (MB): casos com mais de 5 lesões de pele.

O diagnóstico da doença e a classificação operacional do paciente em Pauci ou em


Multibacilar são importantes para que possa ser selecionado o esquema de tratamento
quimioterápico adequado ao caso.

 Tratamento Poliquimioterápico – PQT:

O tratamento específico é encontrado nos serviços públicos de saúde e é chamado


de poliquimioterapia (PQT), por utilizar a combinação de três medicamentos. Os
medicamentos utilizados consistem na associação de antibióticos, conforme a classificação
operacional, sendo:

Módulo 1 Técnico em Farmácia


257

▪ Paucibacilares: rifampicina, dapsona - 6 doses em até 9 meses;


▪ Multibacilares: rifampicina, dapsona e clofazimina – 12 doses em até 18 meses;

O paciente vai ao serviço mensalmente tomar a dose supervisionada pela equipe de


saúde, e pegar a medicação para as doses que ele toma diariamente em casa.

Para crianças com hanseníase, a dose dos medicamentos do esquema-padrão é


ajustada, de acordo com a sua idade. No caso de pessoas com intolerância a um dos
medicamentos do esquema-padrão, são indicados esquemas alternativos.

Com relação a alta por cura, essa é dada após a administração do número de doses
preconizadas pelo esquema terapêutico. Ressaltando que regularidade do tratamento
somatizado com início mais precoce do mesmo, levariam a cura da hanseníase de modo
mais rápido e seguro.

8.7.2. Tuberculose

Tuberculose é uma doença infectocontagiosa causada por uma bactéria chamada


Mycobacterium tuberculosis ou Bacilo de Koch (BK) que afeta principalmente os pulmões,
podendo ocorrer em outros órgãos do corpo como ossos, rins e meninges (membranas que
envolvem o cérebro).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde - OMS, dois bilhões de pessoas


correspondendo a um terço da população mundial, está infectada por esta bactéria. Destes,
8 milhões desenvolverão a doença e 2 milhões morrerão a cada ano. Com relação ao Brasil,
este ocupa o 15º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos de
tuberculose no mundo. De acordo com os dados do Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (Sinan/ MS), são verificados cerca de 6 mil óbitos por ano em decorrência da
doença.

Estudos demonstram que a tuberculose ainda é um sério problema de saúde


pública e o elevado número de casos esta interligado com a pobreza e à má distribuição de
renda, além do estigma que implica na não adesão dos portadores e/ou
familiares/contactantes. Com o advento da AIDS e o aparecimento de focos de tuberculose
multirresistente, o problema tem se agravado ainda mais no mundo.

 Agente Etiológico:

Mycobacterium tuberculosis ou Bacilo de Koch (BK). Outras espécies de


micobactérias também podem causar a tuberculose. São elas: Mycobacterium bovis,
africanum e microti.

 Modo de Transmissão:

A transmissão ocorre de modo direto (pessoa a pessoa) por meio de gotículas


contendo os bacilos expelidos por um doente com tuberculose pulmonar ao tossir, espirrar
ou falar. Somente 5% a 10% dos infectados pelo Bacilo de Koch adquirem a doença. Pessoas

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


258

com AIDS, diabetes, insuficiência renal crônica (IRA), desnutridas, idosos doentes,
alcoólatras, viciados em drogas e fumantes possuem uma maior predisposição para contrair
a tuberculose.

 Aspectos Clínicos:

Os sinais e sintomas mais frequentemente descritos são tosse seca contínua no


início, depois com presença de secreção por mais de três semanas, transformando-se, na
maioria das vezes, em uma tosse com pus ou sangue; cansaço excessivo; febre baixa
geralmente à tarde; sudorese noturna; falta de apetite; palidez; emagrecimento acentuado;
rouquidão; fraqueza; e prostração. Os casos graves apresentam dificuldade na respiração;
eliminação de grande quantidade de sangue, colapso do pulmão e acumulo de pus na
membrana que reveste o pulmão (pleura). Caso haja um comprometimento dessa
membrana, pode ocorrer dor torácica. Porém, alguns pacientes não exibem indício da
doença ou apresentam sintomas aparentemente simples que são ignorados durante alguns
meses.

 Diagnóstico:

São utilizados os exames bacteriológico direto do escarro (baciloscopia e cultura)


responsável por detectar 70 a 80% dos casos de tuberculose, radiológico, prova
tuberculínica, anatomopatológicos (histológico e citológico) e bioquímico.

 Tratamento:

ESQUEMA BÁSICO PARA ADULTOS E ADOLESCENTES (2RHZE/4RH)


R (Rifampicina) – H (Isoniazida) – Z (Pirazinamida) – E (Etambutol)

 Indicações:

▪ Casos novos de todas as formas de tuberculose pulmonar e extrapulmonar


(exceto meningoencefalite) infectados ou não pelo HIV.
▪ Retratamento: recidiva (independentemente do tempo decorrido do primeiro
episódio) ou retorno após abandono com doença ativa.

Observação – Entende-se por caso novo todo paciente que nunca usou ou usou por
menos de 30 dias medicamentos antituberculose.
Módulo 1 Técnico em Farmácia
259

ESQUEMA PARA MENINGOENCEFALITE PARA ADULTOS E ADOLESCENTES


(2RHZE/7RH)

ESQUEMA PARA MULTIRRESISTÊNCIA (2S5ELZT / 4S3ELZT / 12ELT)


S (Estreptomicina) – E (Etambutol) – L (Levofloxacina) – Z (Pirazinamida) – T
(Terizidona)

 Indicação:

Resistência à RH, resistência à RH e outro(s) fármaco(s) de primeira linha, falência


ao esquema básico ou na impossibilidade do uso do esquema básico por intolerância a dois
ou mais fármacos.

Observação – Entende-se por falência a persistência de baciloscopia positiva ao


final do tratamento; fortemente positivos (++ ou +++) no início do tratamento, mantendo
essa situação até o quarto mês de tratamento; ou positividade inicial seguida de negativação
e nova positividade a partir do quarto mês de tratamento.

8.8. Programa de Hipertensão (HAS) e Diabetes (DM)

As doenças cardiovasculares constituem a principal causa de morbimortalidade na


população brasileira. HAS e o DM representam um dos principais fatores de risco para o
agravamento do quadro, por estar relacionada com o surgimento de outras doenças
crônicas não transmissíveis que acarretam danos algumas vezes irreversíveis a saúde
diminuindo assim, a qualidade de vida do indivíduo.

Dentre estes danos, a hipertensão é responsável pelo risco de doenças


cardiovasculares, cerebrovasculares e renais, sendo a causa de pelo menos 40% das mortes
de acidente vascular cerebral, e por 25% das mortes por doença arterial coronariana e, em
combinação com o diabete, 50% dos casos de insuficiência renal terminal.

O controle da HAS reside na redução das suas complicações, tais como: doença
cerebrovascular, doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, doença renal crônica,
doença arterial periférica.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


260

O diabetes por sua vez, atinge todas as faixas etárias sem distinção de raça, sexo ou
condições socioeconômicas. Na população adulta, sua prevalência é de 7,6%. Podendo levar
o indivíduo à invalidez parcial ou total com repercussões para o paciente, sua família e
sociedade. O diagnóstico precoce evita complicações e retardam a progressão das perdas
existentes. A possibilidade de associação das duas doenças é da ordem de 50%, o que
requer, na grande maioria dos casos, o manejo das duas patologias num mesmo paciente.

Com o intuito de diminuir gastos aos cofres públicos e prevenção dos danos à saúde
do cidadão, o Ministério da Saúde junto às sociedades científicas (Cardiologia, Diabetes,
Hipertensão e Nefrologia), as federações nacionais dos portadores de diabetes e de
hipertensão, as secretarias estaduais de saúde, através do Conass, e as secretarias
municipais de saúde, através do Conasems, criou o Plano de Reorganização da Atenção à
Hipertensão Arterial e ao Diabetes mellitus. Visando o vínculo dos portadores desses agravos
às unidades de saúde, garantindo o acompanhamento e tratamento sistemático, mediante
ações de capacitação dos profissionais e reorganização dos serviços.

A HA e o DM são doenças que apresentam vários aspectos em comum:

▪ Etiopatogenia: identifica-se a presença, em ambas, de resistência insulínica,


resistência vascular periférica aumentada e disfunção endotelial;
▪ Fatores de risco: obesidade, dislipidemia e sedentarismo;
▪ Tratamento não medicamentoso: as mudanças propostas nos hábitos de vida
são semelhantes para ambas as situações;
▪ Cronicidade: doenças incuráveis, requerendo acompanhamento eficaz e
permanente. Complicações crônicas que podem ser evitadas, quando
precocemente identificadas e adequadamente tratadas; geralmente
assintomáticas e na maioria dos casos, de difícil adesão ao tratamento, pela
necessidade de mudança nos hábitos de vida e participação ativa do indivíduo.

8.8.1 Hipertensão

A Hipertensão Arterial é definida como pressão arterial sistólica maior ou igual a


140 mmHg e uma pressão arterial diastólica maior ou igual a 90 mmHg, em indivíduos que
não estão fazendo uso de medicamentos anti-hipertensivo.

Devem-se considerar no diagnóstico da HAS, a presença dos fatores de risco para


lesões nos órgãos-alvo e as comorbidades associadas. Para indivíduos sem diagnóstico
prévio e níveis de PA elevada em uma aferição, recomenda-se repetir a aferição de pressão
arterial em diferentes períodos, antes de caracterizar a presença de HAS. É necessário
conhecer a pressão usual do indivíduo, não sendo suficiente uma ou poucas aferições
casuais.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


261

Classificação da pressão arterial para adultos com mais de 18 anos:

Para crianças e adolescentes de 1 a 17 anos constam de tabelas especiais que levam


em consideração a idade e o percentil de altura em que o indivíduo se encontra.

Admite-se como pressão arterial ideal, condição em que o indivíduo apresenta o


menor risco cardiovascular, PAS < 120 mmHg e PAD < 80 mmHg.

A pressão arterial de um indivíduo adulto que não esteja em uso de medicação anti-
hipertensiva e sem comorbidades associadas é considerada normal quando a PAS é < 130
mmHg e a PAD < 85 mmHg. Níveis de PAS entre 130 e 139 mmHg e/ou de PAD entre 85 e 89
mmHg são considerados limítrofes.

8.8.2 Diabetes Melitus

O DM é uma síndrome de origem múltipla, consequência da ausência de insulina


e/ou da incapacidade de a insulina exercer adequadamente seus efeitos. Caracteriza-se por
hiperglicemia crônica com distúrbios do metabolismo dos carboidratos, lipídeos e proteínas.
As consequências do DM a longo prazo, incluem disfunção e falência de vários órgãos,
principalmente os rins, olhos, nervos, coração e vasos sanguíneos.

 Classificação:

▪ DM tipo 1:

Resulta primariamente da destruição das células beta pancreática e tem tendência


à cetoacidose. Esse tipo ocorre em cerca de 5 a 10% dos diabéticos. Inclui casos decorrentes
de doença autoimune e aqueles nos quais a causa da destruição das células beta não é
conhecida, dividindo-se em: imunomediado e idiopático.

Características Clínicas:

▪ Maior incidência em crianças, adolescente e adulta jovem.


▪ Início abrupto dos sintomas.
▪ Pacientes magros.
▪ Facilidade para cetose e grandes flutuações da Glicemia.
▪ Pouca influência hereditária.
▪ Deterioração clínica, se não tratado Imediatamente com insulina.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


262

▪ DM tipo 2:

Obesidade, especialmente de distribuição abdominal (obesidade "androide ou tipo


maçã") diagnosticada quando a razão entre a circunferência da cintura e do quadril (RCQ) é
maior que 1 m, para os homens, e maior que 0,80 m, para as mulheres. Esta condição está
presente em 80% dos pacientes no momento do diagnóstico. Forte componente
hereditário.

 Características Clínicas:

▪ Idade maior que 30 anos, embora possa ocorrer em qualquer época. A


prevalência aumenta com a idade, podendo chegar a 20% na população com 65
anos ou mais. Atualmente, têm surgido casos de DM tipo 2 em crianças e
adolescentes, principalmente em obesas e as que apresentam características de
resistência insulínica.
▪ Pode não apresentar os sintomas clássicos de hiperglicemia (poliúria, polidipsia,
polifagia e emagrecimento).
▪ Evidências de complicações crônicas micro e macrovasculares, ao diagnóstico,
pelo fato desses pacientes evoluírem 4 a 7 anos antes, com hiperglicemia não
detectada.
▪ Não propensão à cetoacidose diabética, exceto em situações especiais de
estresse agudo (sepsis, infarto agudo do miocárdio, etc.).

 Condições de risco do DM tipo 2:

▪ Idade > 40 anos.


▪ Histórico familiar (pais, filhos, irmãos, etc.).
▪ Excesso de peso (IMC >25 kg/m2).
▪ Obesidade (particularmente do tipo androide ou central).
▪ HAS.
▪ Presença de doença vascular aterosclerótica antes dos 50 anos.

 Rastreamento do DM - Sinais e sintomas:

 Poliúria/nictúria.
 Polidipsia/boca seca.
 Polifagia.
 Emagrecimento rápido.
 Fraqueza / astenia / letargia.
 Prurido vulvar ou balanopostite.
 Diminuição brusca da acuidade visual.
 Achado de hiperglicemia ou glicosúria em exames de rotina.
 Sinais ou sintomas relacionados às complicações do DM: proteinúria, neuropatia
periférica, retinopatia, ulcerações crônicas nos pés, doença vascular
aterosclerótica, impotência sexual, paralisia oculomotora, infecções urinárias ou
cutâneas de repetição, etc.
 Histórico prévio de hiperglicemia e/ou glicosúria.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


263

 Mães de recém-nascidos com mais de 4 kg.


 Mulheres com antecedentes de abortos frequentes, partos prematuros,
mortalidade perinatal, polidrâmnio, diabetes gestacional.
 HDL - colesterol = 35 mg/dl.
 Triglicerídeos = 200 mg/dl.
 Uso de medicamentos diabetogênicos (corticoides, anticoncepcionais, etc.).
 Sedentarismo.
 A glicemia capilar pode ser utilizada para rastreamento de DM, devendo-se
confirmar o diagnóstico com glicemia plasmática.

 Diabetes gestacional:

Na primeira consulta de pré-natal deve-se realizar uma glicemia de jejum aplicando


os critérios gerais de diagnóstico. O rastreamento do DM gestacional é realizado entre a 24ª
e 28ª semanas de gravidez, podendo ser em uma ou duas etapas:

 Em uma etapa - é aplicado diretamente o teste oral de tolerância à glicose - TOTG,


com ingestão de 75 g de glicose;
 Em duas etapas - inicialmente, é aplicado um teste de rastreamento incluindo
glicemia de jejum ou glicemia de uma hora após ingestão de 50 g de glicose (jejum
dispensado). Testes são considerados positivos quando a glicemia após 50 g de
glicose for = 140 mg/dl. Nos casos considerados positivos, é aplicado o TOTG, com
75 g de glicose.

 Diagnóstico Laboratorial:

Glicemia de jejum:

 Por sua praticidade, a medida da glicose plasmática em jejum (8 a 12 horas) é o


procedimento básico empregado para fazer o diagnóstico do DM.

 Teste oral de tolerância à glicose (TOTG):

O teste padronizado de tolerância à glicose é realizado com medidas de glicemia


nos tempos de 0 e 120 minutos após a ingestão de 75 g de glicose anidra (ou dose
equivalente de 82,5 g de dextrosol). A realização do teste de sobrecarga de 75 g está
indicada quando:

 A glicose plasmática de jejum for >110 mg/ dl e < 126 mg/dl;


 A glicose plasmática de jejum for < 110mg/ dl na presença de dois ou mais
fatores de risco para DM nos indivíduos com idade superior a 45 anos.

 Alterações na Tolerância à Glicose:

São definidas as seguintes categorias de alterações:

 Glicemia de jejum alterada – o diagnóstico é feito quando os valores da glicemia

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


264

de jejum situarem-se entre 110 e 125 mg/dl;

 Tolerância diminuída à glicose – diagnosticada quando os valores da glicemia de


jejum forem inferiores a 126 mg/dl e, na segunda hora após a sobrecarga com 75 g
de glicose via oral, situarem-se entre 140 e 199 mg/dl;

 Diabetes mellitus - DM – diagnosticada quando o valor da glicemia de jejum for


maior que 126 mg/dl e, na segunda hora, após a ingestão de 75 g de glicose
anidra, maior ou igual a 200 mg/dl.

8.8.3 Tratamento do DM e da HAS

O tratamento do DM e HAS incluem as seguintes estratégias: educação,


modificações dos hábitos de vida e, se necessário, medicamentos. O tratamento
concomitante de outros fatores de risco cardiovascular é essencial para a redução da
mortalidade cardiovascular.

O paciente deve ser estimulado a adotar diariamente hábitos saudáveis como a


manutenção de peso adequado, prática regular de atividade física, suspensão do hábito de
fumar, baixo consumo de gorduras e de bebidas alcoólicas.

Figura 1- Tratamento do DM e HAS

Fonte: Elaborada pelo autor (2016)

O tratamento deve ser individualizado, respeitando-se as seguintes situações:

 Idade do paciente;
 Presença de outras doenças;
 Capacidade de percepção da hipoglicemia;
Módulo 1 Técnico em Farmácia
265

 Estado mental do paciente;


 Uso de outras medicações;
 Dependência de álcool ou drogas;
 Cooperação do paciente;
 Restrições financeiras.

 Tratamento medicamentoso da HAS:

Quando da opção pelo uso de drogas anti-hipertensivas algumas noções básicas


devem ser lembradas: Iniciar sempre com doses menores do que as preconizadas; Evitar os
efeitos colaterais, associando nova droga antes da dose máxima estabelecida, favorecendo
associações de baixas doses; Estimular a medida da PA no domicílio, sempre que possível;
Lembrar que determinadas drogas anti-hipertensivas demoram de 4 a 6 semanas para
atingir seu efeito máximo, devendo-se evitar modificações do esquema terapêutico antes do
término desse período; O paciente deve ser orientado quanto ao uso do medicamento,
horário mais conveniente, relação com alimentos, sono, diurese e mecanismos de ação;
Antes de aumentar ou modificar a dosagem de um anti-hipertensivo, monitorar a adesão –
que significa que o paciente está com a pressão controlada e aderiu as recomendações de
mudanças nos hábitos de vida. A principal causa de hipertensão arterial resistente é a
descontinuidade da prescrição estabelecida.

 Classes de anti-hipertensivos:

Estão disponíveis seis classes de anti-hipertensivos: os diuréticos, os inibidores


adrenérgicos (os de ação central, os alfa-1 bloqueadores e os betabloqueadores), os
vasodilatadores diretos, os inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA), os
antagonistas dos canais de cálcio e os antagonistas do receptor da angiotensina II.

 Tratamento medicamentoso do DM:

Vários fatores são importantes na escolha da terapêutica para o DM tipo 2:


gravidade da doença, condição geral do paciente (presença ou não de outras doenças),
capacidade de autocuidado, motivação, idade.

Existem dois tipos de tratamento medicamentoso do DM: os antidiabéticos orais e


as insulinas. Os antidiabéticos orais devem ser empregados, no DM tipo 2, quando não se
tiver atingido os níveis glicêmicos desejáveis após o uso das medidas dietéticas e do
exercício, exemplo: Sulfonilureias (Clorpropamida, Glibenclamida, Glipizida, Gliclazida,
Glimepirida), Biguanidas, Metformina.

As insulinas (insulina humana regular de ação rápida; NPH insulina de ação


intermediária; Suspensão de zinco humana, cristalina de ação lenta; Insulina Aspart; Insulina
Lispro; Insulina de ação super lenta), devem ser conservação em temperatura de 2°a 8°C.

O Governo Federal criou o Programa Farmácia Popular do Brasil para ampliar o


acesso aos medicamentos para as doenças mais comuns entre os cidadãos. O Programa
possui uma rede própria de Farmácias Populares e a parceria com farmácias e drogarias da

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


266

rede privada, chamada de “Aqui tem Farmácia Popular”. Abaixo, estão listados os princípios
ativos dos medicamentos contra hipertensão e diabetes que passaram a ser oferecidos
gratuitamente nos estabelecimentos credenciados ao Aqui Tem Farmácia Popular:

 Hipertensão (princípio ativo e concentração):

 Captopril 25 mg – comprimido.
 Maleato de enalapril 10 mg – comprimido.
 Cloridrato de propranolol 40 mg – comprimido.
 Atenolol 25 mg – comprimido.
 Hidroclorotiazida 25 mg – comprimido.
 Losartana Potássica 50 mg – comprimido.

 Diabetes (princípio ativo e concentração):

 Glibenclamida 5 mg, comprimido.


 Cloridrato de metformina 500 mg – comprimido.
 Cloridrato de metformina 850 mg – comprimido.
 Insulina Humana NPH 100 UI/ml – suspensão injetável, frasco-ampola 10 ml.
 Insulina Humana NPH 100 UI/ml – suspensão injetável, frasco-ampola 5 ml.
 Insulina Humana NPH 100 UI/ml – suspensão injetável, refil 3ml (carpule).
 Insulina Humana NPH 100 UI/ml – suspensão injetável, refil 1,5ml (carpule).
 Insulina Humana Regular 100 UI/ml – solução injetável, frasco-ampola 10 ml.
 Insulina Humana Regular 100 UI/ml – solução injetável, frasco-ampola 5 ml.
 Insulina Humana Regular 100UI/ml – solução injetável, refil 3ml (carpules).
 Insulina Humana Regular 100UI/ml – solução injetável, refil 1,5ml (carpules).

4.1 Programa Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher

As mulheres são a maioria da população brasileira (50,77%) e as principais usuárias


do Sistema Único de Saúde (SUS). Frequentam os serviços de saúde para o seu próprio
atendimento, mas, sobretudo, acompanhando crianças e outros familiares, pessoas idosas,
com deficiência, vizinhos, amigos. São também cuidadoras, não só das crianças ou outros
membros da família, mas também de pessoas da vizinhança e da comunidade. A situação de
saúde envolve diversos aspectos da vida, como a relação com o meio ambiente, o lazer, a
alimentação e as condições de trabalho, moradia e renda. No caso das mulheres, os
problemas são agravados pela discriminação nas relações de trabalho e a sobrecarga com as
responsabilidades com o trabalho doméstico.

Outras variáveis como raça, etnia e situação de pobreza realçam ainda mais as
desigualdades. As mulheres vivem mais do que os homens, porém adoecem mais
frequentemente. Possui uma maior vulnerabilidade diante de certas doenças e causa de
morte está mais relacionada com a situação de discriminação na sociedade do que com
fatores biológicos. Os indicadores epidemiológicos do Brasil mostram uma realidade na qual
convivem doenças dos países desenvolvidos (cardiovasculares e crônico-degenerativas) com
aquelas típicas do mundo subdesenvolvido (mortalidade materna e desnutrição).

Módulo 1 Técnico em Farmácia


267

Os padrões de morbimortalidade encontrados nas mulheres revelam também essa


mistura de doenças, que seguem as diferenças de desenvolvimento regional e de classe
social. Dentro da perspectiva de buscar compreender o alinhamento de fatores que
condicionam o padrão de saúde da mulher, este documento analisa, sob o enfoque de
gênero, os dados epidemiológicos extraídos dos sistemas de informação do Ministério da
Saúde propondo diretrizes para a humanização e a qualidade do atendimento, questões
ainda pendentes na atenção à saúde das mulheres, tomando como base os dados
epidemiológicos e as reivindicações de diversos segmentos sociais.

No Brasil, a saúde da mulher foi incorporada às políticas nacionais de saúde nas


primeiras décadas do século XX, sendo limitada, nesse período, às demandas relativas à
gravidez e ao parto. Os programas materno-infantis, elaborados nas décadas de 30, 50 e 70,
traduziam uma visão restrita sobre a mulher, baseada em sua especificidade biológica e no
seu papel social de mãe e doméstica, responsável pela criação, pela educação e pelo cuidado
com a saúde dos filhos e demais familiares.

Há análises que demonstram que esses programas preconizavam as ações materno-


infantis como estratégia de proteção aos grupos de risco e em situação de maior
vulnerabilidade, como era o caso das crianças e gestantes. Outra característica desses
programas era a verticalidade e a falta de integração com outros programas e ações
propostos pelo governo federal. As metas eram definidas pelo nível central, sem qualquer
avaliação das necessidades de saúde das populações locais.

Em 1984, o Ministério da Saúde elaborou o Programa de Assistência Integral à


Saúde da Mulher (PAISM), marcando, sobretudo, uma ruptura conceitual com os princípios
norteadores da política de saúde das mulheres e os critérios para eleição de prioridades
neste campo. O PAISM incorporou como princípios e diretrizes as propostas de
descentralização, hierarquização e regionalização dos serviços, bem como a integralidade e a
equidade da atenção, num período em que, paralelamente, no âmbito do Movimento
Sanitário, se concebia o arcabouço conceitual que embasaria a formulação do Sistema Único
de Saúde (SUS).

O programa para a saúde da mulher incluía ações educativas, preventivas, de


diagnóstico, tratamento e recuperação, englobando a assistência à mulher em clínica
ginecológica, no pré-natal, parto e puerpério, no climatério, em planejamento familiar, DST,
câncer de colo de útero e de mama, além de outras necessidades identificadas a partir do
perfil populacional das mulheres.

A mortalidade materna é um bom indicador para avaliar as condições de saúde de


uma população. A partir de análises das condições em que e como morrem as mulheres,
pode-se avaliar o grau de desenvolvimento de uma determinada sociedade. Estudo realizado
pela OMS estimou que, em 1990, aproximadamente 585.000 mulheres em todo o mundo
morreram vítimas de complicações ligadas ao ciclo gravídico-puerperal. Apenas 5% delas
viviam em países desenvolvidos.

Com relação ao aborto, encontra-se sendo realizado em condições inseguras e está


entre as principais causas de morte materna e é causa de discriminação e violência

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


268

institucional contra as mulheres nos serviços de saúde. Violência que pode traduzir-se no
retardo do atendimento, na falta de interesse das equipes em escutar e orientar as mulheres
ou mesmo na discriminação explícita com palavras e atitudes condenatórias e
preconceituosas. Pela representação simbólica da maternidade, como essência da condição
idealizada do ser mulher e da realização feminina, o aborto pode sugerir uma recusa da
maternidade e por isso pode ser recebido com muitas restrições por parte dos profissionais
de saúde. Considerando que nem todas as mulheres buscam os serviços de saúde por
ocasião de um aborto, portanto supõe-se que os registros do SUS não retratam a realidade
brasileira.

Com relação aos métodos contraceptivos se observou que existe uma concentração
no uso de dois métodos: a laqueadura tubária e a pílula (40% e 21%, respectivamente). A
prevalência da ligadura tubária é maior nas regiões onde as mulheres têm menor
escolaridade e condições socioeconômicas mais precárias segundo uma Pesquisa Nacional
sobre Demografia e Saúde.

A pouca expressividade de outros métodos anticoncepcionais, apontada nessa


pesquisa (métodos hormonais injetáveis 1,2%, preservativo 4,4%, esterilização masculina
2,6%, DIU 1,1%, métodos naturais e outros 6,6%), e a ausência de citação do diafragma
indicam o limitado acesso das mulheres às informações sobre as amplas opções para regular
a fecundidade e aos métodos anticoncepcionais.

Segundo a referida pesquisa, 43% de usuárias de métodos anticoncepcionais


interrompem o uso durante os 12 meses após a sua adoção, e nos cinco anos que
antecederam o estudo, aproximadamente 50% dos nascimentos não foram planejados. A
porcentagem de mulheres com necessidade insatisfeita de anticoncepção é de 9,3% na área
rural e de 4,5% na área urbana. Essa situação contribui para a ocorrência de abortamentos
em condições inseguras e consequentemente para o aumento do risco de morte por essa
causa.

O estímulo à participação e à inclusão dos homens e adolescentes nas ações de


planejamento familiar limita-se a experiências isoladas de alguns serviços ou organizações
não governamentais, que trabalham com homens e adolescentes, e têm pouca chance de
causar algum impacto sobre o problema no Brasil como um todo. Além disso, problemas
culturais e informações distorcidas sobre contracepção de emergência constituem barreiras
para sua aceitação e uso adequado. Apesar de estar definido na NOAS-SUS 2001 que as
ações do planejamento familiar fazem parte da atenção básica e que estão entre as
responsabilidades mínimas da gestão municipal em relação à saúde da mulher, muitos
municípios não têm conseguido implantar e implementar estratégias adequadas de
fornecimento de anticoncepcionais para a população, de introdução do enfoque educativo e
aconselhamento visando à escolha livre e informada, assim como garantir o
acompanhamento das usuárias.

Identificam-se ainda problemas na produção, controle de qualidade, aquisição e


logística de distribuição dos insumos, manutenção da continuidade da oferta de métodos
anticoncepcionais e capacitação de gestores, de gerentes e de profissionais de saúde. Isso
tem resultado numa atenção precária e excludente, ou até inexistente em algumas

Módulo 1 Técnico em Farmácia


269

localidades, com maior prejuízo para as mulheres oriundas das camadas mais pobres e das
áreas rurais. Poucos serviços oferecem atenção à saúde sexual e reprodutiva dos
adolescentes. A gravidez na adolescência vem sendo motivo de discussões controvertidas.
Enquanto existe uma redução da taxa de fecundidade total, a fecundidade no grupo de 15 a
19 anos de idade vem aumentando. Esse aumento se verifica mais nas regiões mais pobres,
áreas rurais e na população com menor escolaridade.

4.5.1 DST – HIV – AIDS

As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) estão entre os problemas de saúde


pública mais comum em todo o mundo. Estimativas apontam para a ocorrência de mais de
10 milhões de novas infecções de transmissão sexual que podem evoluir para doenças
sintomáticas, como uretrites, cervicites, úlceras e verrugas genitais, ou permanecerem
assintomáticas. Isso, associado ao alto índice de automedicação, torna o problema ainda
maior, já que muitos dos casos não recebem orientação e tratamento adequados, tornando-
se subclínicos, permanecendo transmissores e mantendo-se como elos fundamentais na
cadeia de transmissão das infecções. Se, por um lado, não é possível conhecer a real
magnitude das DST no Brasil, a sua transcendência é por demais conhecida: são
consideradas, o principal fator facilitador da transmissão sexual do HIV; algumas, quando
não diagnosticadas e tratadas a tempo, podem evoluir para complicações graves e até
mesmo para o óbito; durante a gestação, algumas podem ser transmitidas ao feto,
causando-lhe importantes lesões ou mesmo provocando o abortamento; podem causar
grande impacto psicológico em seus portadores, levando-os muitas vezes a tomar iniciativas
equivocadas, como procurar assistência com pessoas sem a devida formação para tal
(balconistas de farmácia, curandeiros, etc.), e mesmo adotando a prática inadequada da
automedicação, o que é facilitado pela falta de controle na venda de medicamentos que
existe em nosso País; causam também grande impacto social, que se traduz em custos
indiretos para a economia do País e que, somados aos enormes custos diretos decorrentes
das internações e procedimentos necessários para o tratamento de suas complicações,
elevam os custos totais.

Provavelmente, devido ao fato de ser o principal fator facilitador da transmissão


sexual do HIV, nos últimos anos o trabalho com as outras DST passou a ter redobrada
importância.

Os danos mais graves à saúde causados pelas DST, excetuando-se o HIV, tendem a
ocorrer em mulheres e em recém-nascidos. As complicações nas mulheres incluem a doença
inflamatória pélvica (DIP), tendo como consequência a infertilidade, a dor crônica, à gravidez
ectópica, podendo causar a mortalidade materna associada e o câncer de colo uterino, pela
estreita correlação dessa patologia com alguns subtipos do HPV e com a imunodeficiência
promovida pela infecção por HIV.

As complicações em recém-nascidos incluem a sífilis congênita, a infecção por


gonococo, pela clamídia, pelo HPV, pela hepatite B e pelo HIV. Com relação à sífilis materna,
a prevalência encontrada pelos estudos sentinela em maternidades é de 1,7%, o que leva a
uma estimativa de aproximadamente 116.000 gestantes com sífilis e cerca de 29.000
crianças com sífilis congênita (taxa média de transmissão de 25%).

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


270

É importante ressaltar que desse universo esperado de casos, apenas são


notificados cerca de 5.000 casos novos/ano, configurando problemas na qualidade dos
serviços de pré-natal e de assistência ao parto, segundo dados de 2004, do Programa
Nacional de DST/Aids.

São atribuídos, em parte, a fatores relacionados a enfermidades de transmissão


sexual, um número crescente e significativo de neoplasias, tais como: o carcinoma
hepatocelular (pela hepatite B), o carcinoma espinocelular da vagina, da vulva, do pênis, do
ânus (por alguns subtipos de HPV e pela aids) e o sarcoma de Kaposi (pela aids). Assim,
prevenção e controle eficazes das DST são considerados como uma prioridade para a
promoção da saúde reprodutiva, especialmente entre as mulheres.

O Ministério da Saúde em 2011 divulgou estudos sobre a relação entre HIV/AIDS e


população negra brasileira. Na análise foram realizadas 10 pesquisas em sete estados
brasileiros a partir da Chamada de Pesquisas Nacionais em População Negra e HIV, um
número expressivo de negras brasileiras ainda tem baixos níveis de escolaridade e não
possuem plano de saúde. Na região serrana do estado do Rio de Janeiro, por exemplo, 58,8%
delas possuem apenas o ensino fundamental completo/incompleto e 55,6% não tem
assistência de saúde privada. Todavia, o fator mais preocupante é a opressão sexual. Por
sentirem-se com menos poder de negociação diante do parceiro sexual, essas mulheres se
expõem a contextos sociais de vulnerabilidade que podem culminar na infecção pelo vírus
da AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis. Tais pesquisas servem de subsídios
para o fomento de políticas públicas, inclusão social, ações afirmativas e estratégias de
gestão participativa voltada à redução da vulnerabilidade dessa população, fatores
fundamentais para combater as doenças.

8.8.2 Violência Doméstica e Sexual

A violência sexual é um dos principais indicadores da discriminação de gênero


contra a mulher. Pesquisa coordenada pela OMS (2002), em oito países, retrata o perfil da
violência sofrida pelas mulheres na faixa etária de 15 a 49 anos. No Brasil, o estudo foi
realizado em São Paulo e na zona da mata de Pernambuco. Nesses municípios, 29% das
mulheres relataram violência física e/ou sexual por parte do companheiro. Em Pernambuco,
34% das mulheres relataram algum episódio de violência cometido pelo parceiro ou ex-
parceiro. Dentre as mulheres agredidas, foram relatados problemas de saúde: dores ou
desconforto severo, problemas de concentração e tontura. Nesse grupo também foi mais
comum a tentativa de suicídio e maior frequência do uso do álcool. Os dados dessa pesquisa
confirmam que a violência sexual e/ou doméstica é um grave problema de saúde pública.
Porém, entre as mulheres que relataram violência, apenas 16% em São Paulo e 11% em
Pernambuco buscaram hospitais ou centros de saúde de acordo com a OMS em 2002.

Considerando-se que São Paulo concentra a maior parte dos serviços de referência
no Brasil, esses percentuais indicam pouca divulgação e dificuldades de acesso aos serviços.

Outro aspecto importante na atenção às mulheres em situação de violência é a


apresentação de uma tendência progressiva de expansão nos últimos quatro anos, ainda
que os serviços estejam concentrados nas capitais e regiões metropolitanas.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


271

Em 1999, 17 serviços hospitalares estavam preparados para atender às mulheres


vítimas de estupro. Em fins de 2002, esse número foi de 82, sendo que o aborto pós-estupro
era realizado em 44. Observa-se maior investimento dos gestores na rede, porém, apesar
dos esforços, a maior parte das mulheres agredidas ainda não tem acesso a esse tipo de
atenção.

O Ministério da Saúde ampliou a Lista de Doenças de Notificação Compulsória


incluindo mais seis doenças, agravos e eventos de importância para a saúde pública entre as
que devem ser notificadas quando houver suspeita e confirmação (Portaria GM/MS Nº 104,
DE 25 DE JANEIRO DE 2011, item 45). Agora são 44 o número de agravos, doenças, e eventos
de importância para a saúde pública de abrangência nacional que devem ser informadas
pelas autoridades sanitárias nos municípios e estados ao Sistema Nacional de Informação de
Agravos de Notificação (Sinan). O que também proporciona a definição de termos
estabelecidos pelo RSI em relação às doenças, agravos e eventos graves em saúde pública.
De acordo com o documento, Doença “significa uma enfermidade ou estado clínico,
independentemente de origem ou fonte, que represente ou possa representar um dano
significativo para os seres humanos”. Quanto ao Agravo, este é “qualquer dano à
integralidade física, mental e social dos indivíduos provocado por circunstâncias nocivas,
como acidentes, intoxicações, abuso de drogas, e lesões auto ou heteroinfligidas”.

8.8.3 A Saúde de Mulheres Adolescentes

A adolescência é marcada por um rápido crescimento e desenvolvimento do corpo,


da mente e das relações sociais. O crescimento físico é acompanhado de perto pela
maturação sexual. A capacidade de abstração e o pensamento crítico também se
desenvolvem na juventude, juntamente com um maior senso de independência emocional e
de autoconhecimento.

Na adolescência, a sexualidade tem uma dimensão especial que é o aparecimento


da capacidade reprodutiva no ser humano, concomitante à reestruturação do emocional.
Ocorre ainda a incorporação de novos comportamentos e atitudes frente a uma estrutura de
padrões sociais e sexuais, fortemente influenciados pelas relações de gênero, estabelecidos
social e culturalmente.

Nessa etapa, são importantes as ações educativas e de redução da vulnerabilidade


das adolescentes aos agravos à saúde sexual e reprodutiva. Assim, cabe aos serviços de
saúde a prestação de uma assistência adequada e o desenvolvimento de ações educativas
que abordem a sexualidade com informações claras e científicas, introduzindo gênero, classe
social e as diferenças culturais de iniciação da vida sexual e reprodutiva, de modo que a
informação aporte maiores conhecimentos e seja mais resolutiva. Deve, ainda, buscar a
integração das ações com outros setores, para que a resposta social dê conta de apoiar as
adolescentes em suas decisões de autocuidado.

O Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990 –


estabelece como “dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder
Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida e à

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


272

saúde...” (art.4.º). No seu Título II, fixa o direito à maternidade segura e ao acesso universal
e igualitário aos serviços do SUS. Nesse âmbito, a Lei n.º 9.263, de 12 de janeiro de 1996,
assegura o planejamento familiar como um direito de todo o cidadão, inclusive os
adolescentes.

Com a progressiva antecipação do início da puberdade, verificada desde 1940, e o


consequente decréscimo na idade da menarca, a capacidade reprodutiva se instala mais
cedo e a competência social, para a constituição de uma família, acontece mais tarde. O que
provoca maior exposição à maternidade precoce, considerada pela OMS como aquela que
ocorre antes dos 20 anos.

O Ministério da Saúde vem desenvolvendo, por meio da Área Técnica de Saúde do


Adolescente e do Jovem, em iniciativas integradas com a Área Técnica de Saúde da Mulher e
intersetorialmente, ações para que a atenção à mulher adolescente ocorra segundo os
parâmetros dos direitos sexuais e reprodutivos e da corresponsabilidade masculina na
reprodução e na contracepção, como no planejamento familiar.

8.8.4 Saúde da Mulher no Climatério/Menopausa

Climatério é a fase de transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da


vida da mulher, estendendo-se até os 65 anos de idade. Menopausa é um marco dessa fase,
correspondendo ao último período menstrual, somente reconhecida após passados 12
meses da sua ocorrência. A idade média de ocorrência da menopausa é 50 anos.

O climatério/menopausa não é uma doença e sim uma fase da vida da mulher. A


maioria das mulheres passa por ela sem apresentar queixas e sem necessitar de
medicamentos. Outras apresentam sintomas de intensidade variável e que são, geralmente,
transitórios. Entre os sintomas que podem ocorrer no climatério/menopausa, alguns são
devido ao brusco desequilíbrio entre os hormônios e outros estão ligados ao estado geral da
mulher e ao estilo de vida adotado até então. A autoimagem, o papel e as relações sociais,
as expectativas e projetos de vida também contribuem para o aparecimento e a intensidade
dos sintomas.

Existe na nossa sociedade uma discriminação sistemática contra as pessoas por sua
idade cronológica. No caso das mulheres, essa discriminação é mais evidente e acontece não
só em relação ao corpo físico, pela supervalorização da maternidade em relação a outras
capacidades e pelo mito da eterna juventude – como a outros aspectos da vida. Numa
sociedade patriarcal, em que juventude e beleza são relacionadas ao sucesso, entrar na
“meia idade” pode trazer, para muitas mulheres, a impressão de que “tudo acabou”.

Nessa época da vida, também pode ocorrer aposentadoria, separação do casal ou


morte do(a) companheiro(a) e a saída dos filhos de casa, que contribuem para a sensação do
“ninho vazio”.

A menopausa, no entanto, significa apenas o fim do período de fecundidade. Não é


o final da vida nem da capacidade produtiva, e tampouco o fim da sexualidade. O aumento
da expectativa de vida e seu impacto sobre a saúde da população feminina tornam

Módulo 1 Técnico em Farmácia


273

imperiosa a necessidade da adoção de medidas visando à obtenção de melhor qualidade de


vida durante e após o climatério. Nesse sentido, o combate ao sedentarismo ocupa lugar de
destaque por ser um fator facilitador de doenças crônico-degenerativas, de elevada
morbimortalidade. O combate ao sedentarismo melhora a aptidão física e favorece a
disposição para viver aliado a uma dieta saudável e do controle do peso, o não tabagismo, a
disponibilidade de tempo para lazer e convivência com familiares e amigos, a dedicação a
uma atividade produtiva e o acesso à informação.

A medicalização do corpo das mulheres, com uso de hormônios durante o


climatério/menopausa encontra um campo fértil no imaginário feminino pelas falsas
expectativas que coloca a exemplo da eterna juventude e beleza. O abuso no uso de
estrógenos para os sintomas do climatério/menopausa acarreta sérios problemas para a
saúde, e as mulheres devem ser corretamente informadas para que possam decidir pela
adoção ou não da terapia de reposição hormonal.

Contudo, o climatério/menopausa é uma fase de mudanças, transformação e


adaptação, como a adolescência. Ela não ocorre sem questionamentos e coincide com
outras mudanças na vida da mulher. A quantidade e a intensidade dos sintomas estão,
também, relacionadas com a qualidade da vida pessoal, afetiva, profissional e com a
existência ou não de projetos e sonhos para o futuro.

8.8.5 Saúde Mental e Gênero

Trabalhar a saúde mental das mulheres sob o enfoque de gênero nasce da


compreensão de que as mulheres sofrem duplamente com as consequências dos
transtornos mentais, dadas às condições sociais, culturais e econômicas em que vivem.
Condições que são reforçadas pela desigualdade de gênero tão arraigada na sociedade
brasileira, que atribui à mulher uma postura de subalternidade em relação aos homens.

De acordo com o Guia de Direitos Humanos, as mulheres ganham menos, estão


concentradas em profissões mais desvalorizadas, têm menor acesso aos espaços de decisão
no mundo político e econômico, sofrem mais violência (doméstica, física, sexual e
emocional), vivem dupla e tripla jornada de trabalho e são as mais penalizadas com o
sucateamento de serviços e políticas sociais, dentre outros problemas. Outros aspectos
agravam a situação de desigualdade das mulheres na sociedade: classe social, raça, etnia,
idade e orientação sexual, situações que limitam o desenvolvimento e comprometem a
saúde mental de milhões de mulheres.

Pensar em gênero e saúde mental não é apenas pensar no sofrimento causado


pelos transtornos mentais que acometem as mulheres, ou então nas tendências individuais
que algumas mulheres apresentam em desencadear crises e depressões. Antes de tudo, é
necessário contextualizar os aspectos da vida cotidiana das mulheres, conhecer com que
estrutura social contam ou não, para resolver as questões práticas da vida, e reconhecer que
a sobrecarga das responsabilidades assumidas pelas mulheres tem um ônus muito grande,
que muitas vezes se sobrepõe às forças de qualquer pessoa.

Os registros do SUS sobre internações psiquiátricas de mulheres, motivadas pelo

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


274

sofrimento causado pelos transtornos de humor (afetivos) vêm aumentando


proporcionalmente, em 2002 manteve-se como a segunda causa de internações. As
internações psiquiátricas de mulheres devido ao uso de álcool mantiveram-se como a quinta
causa nos três anos observados.

Outras causas de internações que vêm aumentando são aquelas motivadas pelos
transtornos mentais e/ou comportamentais devido ao uso de substâncias psicoativas. Os
transtornos mentais e comportamentais associados ao puerpério, a pesquisa realizada por
Laurenti (2002) encontrou 97 mortes por suicídio associado à depressão, inclusive
relacionada ao pós-parto. É necessário intervir no modelo vigente de atenção à saúde
mental das mulheres, visando a propiciar um atendimento mais justo, mais humano,
eficiente e eficaz, em que a integralidade e as questões de gênero sejam incorporadas como
referências na formação dos profissionais que atendem a esse grupo populacional e podem
intervir positivamente nessa realidade.

8.8.6 Doenças Crônico-Degenerativas e Câncer Ginecológico

As mudanças de hábitos, aliadas ao stress gerado pelo estilo de vida do mundo


moderno, contribuem para que as doenças crônico-degenerativas estejam entre as
principais causas de morte na população feminina. Alguns fatores, como o tipo de
alimentação, o sedentarismo, o tabagismo, a sobrecarga de responsabilidades – aumento
considerável do número de mulheres chefes de família – a competitividade, o assédio moral
e sexual no mundo do trabalho, têm relevância destacada na mudança do perfil
epidemiológico das mulheres.

A hipertensão arterial e o diabetes mellitus constituem-se nos principais fatores de


risco populacional para as doenças cardiovasculares, responsáveis por grande parte das
causas de morte. No Brasil, em 20 anos (1979 – 1999), observa-se um aumento importante
no número total de casos de câncer e nos óbitos por essa causa. Entre os homens, a taxa
bruta de mortalidade aumentou 16,72%, enquanto entre as mulheres o aumento foi de
14,72% (www.inca.gov.br).

No mundo, o câncer de mama situa-se entre as primeiras causas de morte por


câncer em mulheres. Até o momento, não existem medidas de prevenção primária para a
doença. Porém, estudos observacionais indicam que é possível reduzir o risco de câncer de
mama com mudanças de hábitos: redução do tabagismo, do uso de álcool, da obesidade e
do sedentarismo. O câncer de mama é diagnosticado tardiamente em cerca de 60% dos
casos, e mudar essa situação é um desafio necessário, pois a detecção precoce aumenta
significativamente a perspectiva e a qualidade de vida das mulheres posteriormente ao
diagnóstico da doença. A prevenção do câncer ginecológico, assim como o diagnóstico
precoce e o tratamento, requer a implantação articulada de medidas como sensibilização e
mobilização da população feminina; investimento tecnológico e em recursos humanos,
organização da rede, disponibilidade dos tratamentos e melhoria dos sistemas de
informação.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


275

8.8.7 Princípios de Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher

Essenciais para que as ações de saúde se traduzam na resolução dos problemas


identificados, na satisfação das usuárias, no fortalecimento da capacidade das mulheres
frente à identificação de suas demandas, no reconhecimento e reivindicação de seus direitos
e na promoção do autocuidado.

As histórias das mulheres na busca pelos serviços de saúde expressam


discriminação, frustrações e violações dos direitos e aparecem como fonte de tensão e mal-
estar psíquico-físico. Por essa razão, a humanização e a qualidade da atenção implicam na
promoção, reconhecimento, e respeito aos seus direitos humanos, dentro de um marco
ético que garanta a saúde integral e seu bem-estar.

 Diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher:

 O Sistema Único de Saúde deve estar orientado e capacitado para a atenção


integral à saúde da mulher, numa perspectiva que contemple a promoção da
saúde, as necessidades de saúde da população feminina, o controle de
patologias mais prevalentes nesse grupo e a garantia do direito à saúde.

 A Política de Atenção à Saúde da Mulher deverá atingir as mulheres em todos os


ciclos de vida, resguardadas as especificidades das diferentes faixas etárias e dos
distintos grupos populacionais (mulheres negras, indígenas, residentes em áreas
urbanas e rurais, residentes em locais de difícil acesso, em situação de risco,
presidiárias, de orientação homossexual, com deficiência, dentre outras).

 A elaboração, a execução e a avaliação das políticas de saúde da mulher deverão


nortear-se pela perspectiva de gênero, de raça e de etnia, e pela ampliação do
enfoque, rompendo-se as fronteiras da saúde sexual e da saúde reprodutiva,
para alcançar todos os aspectos da saúde da mulher.

 A gestão da Política de Atenção à Saúde deverá estabelecer uma dinâmica


inclusiva, para atender às demandas emergentes ou demandas antigas, em todos
os níveis assistenciais.

 As políticas de saúde da mulher deverão ser compreendidas em sua dimensão


mais ampla, objetivando a criação e ampliação das condições necessárias ao
exercício dos direitos da mulher, seja no âmbito do SUS, seja na atuação em
parceria do setor Saúde com outros setores governamentais.

 A atenção integral à saúde da mulher refere-se ao conjunto de ações de


promoção, proteção, assistência e recuperação da saúde, executadas nos
diferentes níveis de atenção à saúde (da básica à alta complexidade).

 O SUS deverá garantir o acesso das mulheres a todos os níveis de atenção à


saúde, no contexto da descentralização, hierarquização e integração das ações e
serviços. Sendo responsabilidade dos três níveis gestores, de acordo com as

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


276

competências de cada um, garantir as condições para a execução da Política de


Atenção à Saúde da Mulher.

 A atenção integral à saúde da mulher compreende o atendimento à mulher a


partir de uma percepção ampliada de seu contexto de vida, do momento em que
apresenta determinada demanda, assim como de sua singularidade e de suas
condições enquanto sujeito capaz e responsável por suas escolhas.

 A atenção integral à saúde da mulher implica, para os prestadores de serviço, no


estabelecimento de relações com pessoas singulares, seja por razões
econômicas, culturais, religiosas, raciais, de diferentes orientações sexuais, etc. O
atendimento deverá nortear-se pelo respeito a todas as diferenças, sem
discriminação de qualquer espécie e sem imposição de valores e crenças
pessoais. Esse enfoque deverá ser incorporado aos processos de sensibilização e
capacitação para humanização das práticas em saúde.

 As práticas em saúde deverão nortear-se pelo princípio da humanização, aqui


compreendido como atitudes e comportamentos do profissional de saúde que
contribuam para reforçar o caráter da atenção à saúde como direito, que
melhorem o grau de informação das mulheres em relação ao seu corpo e suas
condições de saúde, ampliando sua capacidade de fazer escolhas adequadas ao
seu contexto e momento de vida; que promovam o acolhimento das demandas
conhecidas ou não pelas equipes de saúde; que busquem o uso de tecnologias
apropriadas a cada caso e que demonstrem o interesse em resolver problemas e
diminuir o sofrimento associado ao processo de adoecimento e morte da
clientela e seus familiares.

 No processo de elaboração, execução e avaliação das Políticas de Atenção à


Saúde da Mulher deverá ser estimulada e apoiada a participação da sociedade
civil organizada, em particular do movimento de mulheres, pelo reconhecimento
de sua contribuição técnica e política no campo dos direitos e da saúde da
mulher. Compreende-se que a participação da sociedade civil na implementação
das ações de saúde da mulher, no âmbito federal, estadual e municipal.

 Objetivos Gerais da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher:

 Promover a melhoria das condições de vida e saúde das mulheres brasileiras,


mediante a garantia de direitos legalmente constituídos e ampliação do acesso
aos meios e serviços de promoção, prevenção, assistência e recuperação da
saúde em todo território brasileiro.
 Contribuir para a redução da morbidade e mortalidade feminina no Brasil,
especialmente por causas evitáveis, em todos os ciclos de vida e nos diversos
grupos populacionais, sem discriminação de qualquer espécie.

 Ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde da mulher no Sistema


Único de Saúde.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


277

8.9 Programa de Atenção Integral à Saúde da Criança

Em 1983 a Divisão Nacional Materno Infantil (DINSAMI) elaborou o Programa de


Assistência Integral da Mulher e da Criança (PAISMC), com o objetivo de reduzir a
morbimortalidade da mulher e da criança, incrementando a cobertura e a capacidade
resolutiva da rede pública de serviços de saúde do país.

Em 1984, o PAISMC foi implantado na FHDF, sendo que posteriormente houve a


separação do programa da mulher passando, então, a ser denominado Programa de
Assistência Integral à Saúde da Criança (PAISC), hoje Núcleo de Atenção Integral à Saúde da
Criança (NAISC). Fazem parte deste Núcleo a Coordenação de Bancos de Leite Humano da
SES, e a Coordenação de Hipotireoidismo Congênito e Fenilcetonúria e a Coordenação do
PAISC.

 Objetivo Geral:

Criar condições para um atendimento integrado à saúde da criança de zero a cinco


anos com a prioridade para os grupos de risco, através de aumento de cobertura e melhoria
da qualidade do atendimento, visando a diminuição da morbimortalidade infantil.

A infância é um período em que se desenvolve grande parte das potencialidades


humanas. Os distúrbios que incidem nessa época são responsáveis por graves consequências
para indivíduos e comunidades.

Os indivíduos devem ser olhados como um todo levando em consideração o


biológico e psicológico levando em consideração a relação da criança com a mãe, família e
comunidade; e social, compreendendo o social de uma maneira ampla, com inclusão do
meio ambiente e humanização da assistência. A humanização é mais utilizada no
atendimento hospitalar objetivando a diminuição o tempo de internação, e
consequentemente reduzir as taxas de infecção hospitalar e o número de reinternações, e
transmitir conhecimentos às mães durante o tempo de permanência hospitalar. Preservado
a todo o momento o vínculo mãe e filho, reduzir o custo da internação, aumentar o calor
afetivo e a colaboração com os funcionários, criando-se um vínculo entre as mães, o hospital
e a comunidade.

Nesse aspecto, a equipe multiprofissional passa a ter um caráter incomensurável


dentro de uma organização do processo de trabalho, utilizando-se de um conjunto de
conhecimentos e técnicas disponíveis para solucionar as dimensões envolvidas.
De acordo com o Ministério da Saúde, o aleitamento materno é a mais sábia
estratégia natural de vínculo, afeto, proteção e nutrição para a criança e constitui a mais
sensível, econômica e eficaz intervenção para redução da morbimortalidade infantil.
Admitido um enorme impulso na promoção da saúde integral da dupla mãe/bebê e regozijo
de toda a sociedade.

Se a manutenção do aleitamento materno é vital, a introdução de alimentos


seguros, acessíveis e culturalmente aceitos na dieta da criança, em época oportuna e de
forma adequada, é de notória importância para o desenvolvimento sustentável e equitativo

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


278

de uma nação, para a promoção da alimentação saudável em consonância com os direitos


humanos fundamentais e para a prevenção de distúrbios nutricionais de grande impacto em
Saúde Pública.

Porém, a implementação das ações de proteção e promoção do aleitamento


materno e da adequada alimentação complementar depende de esforços coletivos
intersetoriais e constitui enorme desafio para o sistema de saúde, numa perspectiva de
abordagem integral e humanizada.

Na atenção Básica à Saúde, a Estratégia Saúde da Família, desde a sua criação, no


ano de 1993, vem se consolidando como um dos eixos estruturantes do Sistema Único de
Saúde (SUS), por meio de um movimento de expressiva expansão de cobertura populacional,
aprimorando em muito o acesso da população às ações de saúde. Dentro desse processo, o
Pacto pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, o Pacto pela Vida e a Política
Nacional de Atenção Básica vieram para contribuir como instrumentos para o fortalecimento
da Saúde da Família no âmbito do SUS.

Recentemente, o Unicef, em sua publicação “Situação Mundial da Infância 2008 –


Sobrevivência Infantil”, reconheceu a Estratégia Saúde da Família como uma das principais
políticas adotadas pelo País responsável pela redução da mortalidade infantil nos últimos
anos. Segundo dados do Unicef, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de países capazes
de atingir a meta de redução da mortalidade infantil em dois terços, de acordo com os
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, da Organização Mundial da Saúde. O Brasil
apresentou expressiva evolução na redução da mortalidade na infância entre 1990 e 2006, o
que permite prever o possível cumprimento da meta.

A promoção da saúde integral da criança e o desenvolvimento das ações de


prevenção de agravos e assistência são objetivos que, para além da redução da mortalidade
infantil, apontam para o compromisso de se prover qualidade de vida para a criança, ou seja,
que esta possa crescer e desenvolver todo o seu potencial.

Com isso, o Ministério da Saúde também vem desenvolvendo projetos voltados


para concretizar tais objetivos como o Mãe-Canguru e a promoção do aleitamento materno
são iniciativas que têm promovido uma mudança no atendimento à criança, reduzindo
tempo de internação e a incidência de infecções hospitalares.

Outra estratégia importante é a Atenção Integral às Doenças Prevalentes na


Infância (AIDPI), que contribui não apenas para a redução de óbitos por diarreias e
pneumonias, mas possibilita uma maior organização dos serviços.

Contudo, é indispensável compreender, ainda, a integração entre todos os serviços


de saúde, da atenção básica à atenção especializada, apoio diagnóstico e terapêutico até a
atenção hospitalar de maior complexidade, com o acompanhamento de toda a trajetória da
criança pela atenção básica, ou seja, faz-se necessário uma rede única integrada de
assistência à criança.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


279

8.9.1 Cuidado da atenção integral da saúde da criança e redução da mortalidade infantil

O cuidado em saúde demanda uma visão integral do usuário em todos os aspectos,


assim é imprescindível uma escuta atenta, olhar zeloso e estabelecimento de vínculo e
responsabilização. Este cuidado requer um olhar amplo na vida dos usuários o que
possibilita respostas também globais, consequência do resultado de um trabalho em equipe.
Da mesma maneira, é necessária a visão integral da rede de assistência, potencializando os
recursos disponíveis para oferecer a resposta imediata, completa e resolutiva à necessidade
do usuário.

Com o intuito de garantir tais linhas do cuidado é indispensável abranger alguns


aspectos como:

 Ações da saúde da mulher: atenção humanizada e qualificada;


 Atenção humanizada e qualificada à gestante e ao recém-nascido;
 Triagem neonatal: teste do pezinho;
 Incentivo ao aleitamento materno;
 Incentivo e qualificação do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento
(CD) da criança;
 Alimentação saudável e prevenção do sobrepeso e obesidade infantil;
 Combate à desnutrição e anemias carenciais;
 Imunização;
 Atenção às doenças prevalentes como diarreias; sífilis e rubéola congênitas;
tétano neonatal; HIV/aids; doenças respiratórias/alergias;
 Atenção à saúde bucal;
 Atenção à saúde mental;
 Prevenção de acidentes, maus-tratos/violência e trabalho infantil;
 Atenção à criança portadora de deficiência.

8.9.2 Atenção Integral à Saúde da Criança e Redução da Mortalidade Infantil

 Relatório da 10ª Conferência Nacional de Saúde:

▪ Princípios da Atenção Integral à Saúde - Saúde da Criança e do Adolescente:

O Ministério da Saúde e as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde devem


implantar e implementar a Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente em todas
as Unidades e Serviços de Saúde, tendo como um dos objetivos a redução da
morbimortalidade nesta faixa etária. Os gestores do SUS devem executar, entre outros:
a) Programas de Saúde Coletiva, em todos os Municípios, voltados para os espaços
onde convivem crianças e adolescentes (moradias, creches, escolas, locais de
lazer e trabalho);

b) Vigilância e atenção sistemáticas aos recém-nascidos de risco, até completarem


um ano de idade ou enquanto perdurar os riscos a sua saúde;

c) Programas de saúde específicos para a faixa etária escolar devem ser garantidos

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


280

mesmo àqueles que se encontrarem fora do sistema escolar;

d) Ações específicas que atendam às necessidades das crianças ou adolescentes


com deficiência (física, auditiva, visual ou mental) ou com paralisia cerebral;

e) O Teste do Pezinho em todos os Municípios, conforme prevê o Estatuto da


Criança e do Adolescente, bem como as ações de assistência no caso dos
distúrbios metabólicos e da diabetes na infância e adolescência;

f) Programas de proteção à criança ou adolescente vítima de maus-tratos, abuso


sexual e demais formas de violência, bem como ações de prevenção e
tratamento da dependência química, inclusive com o apoio à construção ou
adequação de centros públicos de convivência para assistência a essas crianças
ou adolescentes.

g) Ações de promoção da saúde voltadas às crianças e aos adolescentes que vivem


na rua e aos seus familiares.

h) O Ministério da Saúde e as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde devem


zelar pelo fiel cumprimento da Lei Federal nº 8069/90, que dispõem sobre o
Estatuto da Criança e do Adolescente, quanto ao direito à vida e à saúde,
contribuindo para a ampla informação e esclarecimento dos pais e dos
Trabalhadores em Saúde quanto aos mesmos, bem como à obrigatoriedade de
comunicar qualquer afronta a esses direitos aos Conselhos Tutelares ou às Varas
da Infância e da Juventude nas localidades onde os primeiros ainda não estejam
implantados.

i) O Ministério da Saúde e as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde devem


assegurar no que se refere às crianças e aos adolescentes hospitalizados, o
alojamento conjunto e o acompanhamento dos pais, conforme lhes é garantido
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

j) Os Gestores do SUS devem apoiar as atividades de atenção à saúde de crianças


que são desenvolvidas pela Pastoral da Criança e pelos Agentes Comunitários de
Saúde.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


281

Figura 3- Atenção integral à saúde da criança

Fonte: Elaborada pelo autor (2016)

 Programa de Atenção à Saúde do Adolescente:

Na organização da atenção à saúde do adolescente e do jovem devem ser levados


em consideração os seguintes aspectos:
Adequação dos serviços de saúde às necessidades específicas de adolescentes e
jovens, respeitando as características da atenção local vigente e os recursos humanos e
materiais disponíveis;

 Respeito às características socioeconômicas e culturais da comunidade, além do


perfil epidemiológico da população local;

 Participação ativa dos adolescentes e jovens no planejamento, no

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


282

desenvolvimento, na divulgação e na avaliação das ações.

Os princípios fundamentais na atenção aos adolescentes são:

 Ética – a relação profissional de saúde com os adolescentes e jovens deve ser


pautada pelos princípios de respeito, autonomia e liberdade, prescritos pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente e pelos códigos de ética das diferentes
categorias.

 Privacidade – adolescentes e jovens podem ser atendidos sozinhos, caso


desejem.

 Confidencialidade e Sigilo – adolescentes e jovens devem ter a garantia de que


as informações obtidas no atendimento não serão repassadas aos seus pais e/ou
responsáveis, bem como aos seus pares, sem a sua concordância explícita. No
entanto, eles devem ser informados sobre as situações que requerem quebra de
sigilo, ou seja, sempre que houver risco de vida ou outros riscos relevantes tanto
para o cliente quanto para terceiros, a exemplo de situações como abuso sexual,
ideia de suicídio, informação de homicídios e outros.

Esses princípios reconhecem adolescentes e jovens como sujeitos capazes de


tomarem decisões de forma responsável. O atendimento, portanto, deve fortalecer sua
autonomia, oferecendo apoio sem emitir juízo de valor, contribuem assim para uma melhor
relação cliente-profissional, favorecendo a descrição das condições de vida, problemas e
dúvidas. Também ampliam a capacidade do profissional no encaminhamento das ações
necessárias e favorecem o vínculo dessa clientela aos serviços.

É necessário que inicialmente, um levantamento considerando os aspectos


relacionados ao adolescente:

 Características dos adolescentes e jovens que residem na área de atuação da


unidade de saúde como idade, sexo, orientação sexual, etnia, raça, nível
socioeconômico, escolaridade, inserção no mercado de trabalho (formal e
informal), pessoas com deficiências;
 Informações sobre morbimortalidade, uso de álcool, tabaco e outras drogas,
gravidez na adolescência, conhecimento e uso de contraceptivos;

 Aspectos subjetivos, como desejos, valores, insatisfações, ídolos, vínculos com a


família, amigos e percepção sobre a escola, a comunidade e a unidade de saúde;

 Características das famílias: renda, estrutura e dinâmica familiar;

 Condições de vida: tipo de moradia, saneamento, destino do lixo, condições de


segurança, transporte;

 Recursos comunitários: escolas, atividades profissionalizantes, culturais e


esportivas, áreas de lazer, igrejas, grupos organizados da sociedade civil;

Módulo 1 Técnico em Farmácia


283

 Condições de atendimento nas unidades de saúde: acesso, distribuição dos


adolescentes e jovens nos diferentes serviços, programas, projetos e atividades,
percentagem de homens e mulheres, concentração de consultas, captação de
gestantes por trimestre, principais motivos de atendimento, serviços oferecidos
a adolescentes e jovens.

Diante disso, é recomendável que o profissional que atende adolescentes e jovens


adquira uma série de competências que permitam a realização adequada das ações de
promoção da saúde, prevenção de agravos, assistência e reabilitação. A educação
permanente deve visar, mais que um simples domínio de conhecimentos e habilidades
técnicas, à transformação da prática profissional e da qualidade do serviço.

Os profissionais de saúde devem incluir nessas medidas de promoção da saúde e de


prevenção de agravos como componentes fundamentais da consulta. As visitas de rotina de
adolescentes, jovens e suas famílias aos serviços de saúde configuram-se como
oportunidades com o intuito de desenvolver ações de educação em saúde; realizar
imunizações de acordo com o calendário vacinal; desenvolver vínculos que favoreçam um
diálogo aberto sobre questões de saúde e de outros interesses; identificar precocemente
fatores de risco que impliquem em vulnerabilidade; incentivar a participação em atividades
esportivas, culturais, de lazer, bem como em grupos organizados na comunidade; incentivar
o diálogo nas famílias e orientá-las sobre as etapas normais do desenvolvimento de seus
filhos. Visto que, todos os adolescentes e jovens deverão receber esclarecimentos a respeito
de seu crescimento físico e desenvolvimento psicossocial e sexual. Deve ser enfatizada a
importância de se tornarem ativamente participantes nas decisões pertinentes aos cuidados
de sua saúde, contribuindo para sua autonomia. Essa prática visa também a favorecer a
adesão ao serviço e uma maior cooperação nas atividades planejadas.

8.9.3 Situação Sociodemográfica

O Brasil, nas últimas décadas, viveu uma importante modificação demográfica


relacionada à queda da mortalidade infantil e da fecundidade, ao aumento da expectativa de
vida, aos movimentos migratórios e de urbanização. Houve uma desaceleração do ritmo de
crescimento da população adolescente e jovem com a expectativa de que esse segmento
continue crescendo, o crescimento da população jovem na faixa etária de 10 a 24 anos de
idade é a mais numerosa em toda a história do Brasil, representando, de acordo com o
censo de 2002, o que equivale a 30,3% da população brasileira. Desses 84% dos
adolescentes e jovens brasileiros vive em áreas urbanas, enquanto que 16% vivem em áreas
rurais.

Autores relatam que entre os anos de 2000 a 2010 o Brasil se encontra no melhor
momento para se investir na juventude como integrante e sujeito da aceleração do
crescimento econômico nacional. Porém, vale ressaltar que são esses mesmos jovens que
estão expostos às mais elevadas taxas de mortalidade por causas externas. E, além disso, é a
fecundidade das mulheres nessa faixa etária que, atualmente, mais tem contribuído para o
nível geral prevalecente no Brasil o que aumentam a necessidade de acesso aos serviços de
saúde que os acolham em suas necessidades e demandas específicas e que sejam enérgicos

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


284

na integralidade da atenção à saúde.

 Escolaridade:

Entre as pessoas jovens brasileiras de 15 a 24 anos, dados de 1996 a 2006


(PNAD/IBGE, 2006) evidenciam uma diminuição do analfabetismo: a taxa de 6,5 passou para
2,3 com uma variação de 64,6%. Essa melhora, entretanto, face às disparidades regionais,
não foi acompanhada por todas as regiões, evidenciando a necessidade de ações voltadas
para as regiões Norte e Nordeste. Em 2004, a PNAD mostrou que 8,9% do grupo etário de 5
a 17 anos estavam sem estudar. Em 2008 esses números revelaram sensível melhora do
acesso: 97,5% das crianças entre 6 e 14 anos e 72,8% de 4 e 5 anos estavam frequentando a
escola. No entanto, ainda é preocupante o analfabetismo funcional, que chega a 30 milhões
de pessoas acima de 15 anos de idade.

Apesar da melhora do acesso escolar na faixa etária de 5 a 17 anos, na faixa etária


de 18 anos ou mais foi constatado que esta população tinha, em média, 7,4 anos de estudo
(considera-se que este grupo já teria idade suficiente para ter concluído o ensino médio,
tendo cursado pelo menos 11 anos de estudo). Aos 25 anos ou mais de idade o número
médio de anos de estudo foi calculado em 7,0 anos, com ênfase para as disparidades sendo
Região Nordeste, um indicador de quase o dobro do índice nacional. Ressaltando o alto
índice (50%) de evasão dos cursos de alfabetização.

 O Trabalho:

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no art. 60 determina a proibição de


qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendizes a
partir de quatorze. Preconiza ainda, no art. 61, a proteção ao trabalho de adolescentes que
respeite a sua condição de pessoas em desenvolvimento e que sua capacitação profissional
seja adequada ao mercado de trabalho. No caso de adolescentes com deficiência, assegura o
direito ao trabalho protegido.

8.9.4 A Situação de Saúde

Adolescentes e jovens, por serem considerados pessoas saudáveis, não têm a


necessária atenção à saúde, a não ser nas questões de saúde reprodutiva. Hoje, no entanto,
as condições de saúde desse grupo populacional tornaram-se um diferencial que evidencia a
sua vulnerabilidade frente às diferentes formas de violências e a crescente incidência de
mortalidade, evidenciadas especialmente pelas causas externas.

Com relação à violência em adolescentes e jovens, especificamente a Violência


Intrafamiliar e Violência Sexual dados demonstram que as mulheres, em todas as faixas
etárias, são as principais vítimas de violência doméstica, sexual e outras violências, com
6.636 casos (74%). As mulheres jovens e adultas de 20 a 59 anos sofreram maior violência,
tendo registrado 79,9% das agressões. Em segundo lugar as adolescentes de 10 a 19 anos de
idade, correspondendo a 77, 9% dos atendimentos. A violência sexual representou 56% dos
atendimentos; seguida das agressões psicológicas (50%), físicas (48%) e negligências e

Módulo 1 Técnico em Farmácia


285

abandono (13%). A taxa de mortalidade por causas externas na adolescência, 10 a 19 anos


corresponde a (70,7%), e na faixa adulta, que engloba os jovens de 20 a 24 anos (29,8%). As
causas externas ocupam o primeiro lugar na mortalidade desse grupo populacional.

 O Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA (Lei nº 8.069, de 13/07/1990):

O Estatuto se embasa na Doutrina da Proteção Integral, que reconhece todas as


crianças e adolescentes de 12 a 18 anos de idade como sujeitos de direitos nas diversas
condições sociais e individuais.

A condição de “pessoa em situação peculiar de desenvolvimento” (Art. 6º) não


retira de crianças e adolescentes o direito à inviolabilidade da integridade física, psíquica e
moral, abrangendo a identidade, autonomia, valores e ideias, o direito de opinião e
expressão, de buscar refúgio, auxílio e orientação. Tais direitos estendem-se aos
adolescentes em conflito com a lei, que cumprem medidas socioeducativas. O ECA destaca
as políticas e programas de assistência social, que determina o fortalecimento e ampliação
de benefícios assistenciais e políticas compensatórias ou inclusivas como estratégias para
redução dos riscos e agravos de saúde dos jovens.

 Programa de DST/AIDS:

As DST são transmitidas de um corpo ao outro pelo contato sexual, através dos
líquidos vaginais e espermas que são trocados durante as relações sexuais. Também é a
principal via de transmissão do vírus da AIDS, imunodeficiência humana, mais conhecido
pela sigla HIV. Esse pode ser contraído pelo sangue (transfusão, seringas e agulhas
contaminadas), leite materno contaminado e da mãe para o bebê durante a gravidez
(transmissão vertical).

Com isso, é importante ressaltar a importância da promoção da saúde e prevenção


das DST/HIV/AIDS para que os indivíduos possam se proteger durante as relações sexuais
utilizando o preservativo; seringas descartáveis e com os cuidados necessários na hora da
gravidez, do parto e da amamentação.

As DSTs de acordo com o Programa Nacional de DST e AIDS (PN-DST/AIDS) estão


entre os problemas de saúde pública mais comuns em todo o mundo e possuem com
consequências infertilidade feminina e masculina, a transmissão da mãe para o filho,
determinando perdas gestacionais ou doença congênita e o aumento do risco para a
infecção pelo HIV. Diante disso, o programa solicita o apoio e participação de estados,
municípios, organizações não governamentais e outras instituições envolvidas. Levando em
consideração a alta incidência estimada dessas doenças no Brasil, as graves consequências
sobre a saúde da população e pela existência de meios para o seu controle

Relatos demonstram que em 1999, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou


um total de 340 milhões de casos novos por ano de DST curáveis em todo o mundo, entre 15
e 49 anos, 10 a 12 milhões destes casos no Brasil. Outros tantos milhões de DST não curáveis
(virais), incluindo o herpes genital (HSV-2), infecções pelo papilomavírus humano (HPV),
hepatite B (HBV) e infecção pelo HIV ocorrem anualmente.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


286

Dentre mulheres com infecções não tratadas por gonorreia e/ou clamídia, 10 a 40%
desenvolvem doença inflamatória pélvica (DIP). Destas, mais de 25% se tornarão inférteis.
Informações de países desenvolvidos indicam que mulheres que tiveram DIP têm
probabilidade 6 a 10 vezes maior de desenvolver complicações na gravidez como: abortos
espontâneos, natimortos, baixo peso ao nascer, infecção congênita e perinatal. Nos homens
estudos demonstram que a clamídia também pode causar infertilidade.

O HPV, por sua vez, pode causar carcinoma de colo uterino, de pênis e de ânus.
Pesquisas evidenciam que pessoas com DST e infecções do trato reprodutivas não
ulcerativas têm um risco aumentado em 3 a 10 vezes de se infectar pelo HIV, o que sobe
para 18 vezes se a doença cursa com úlceras genitais.

Outros estudos demonstram que o herpes genital pode ser responsável pela maior
proporção de novas infecções por HIV, cuja prevalência levada no Brasil.

As DST de notificação compulsória são: AIDS, HIV na gestante/criança exposta, sífilis


na gestação e sífilis congênita. Para as outras DST, não há um sistema de notificação
compulsória.

O atendimento imediato de uma DST não é apenas uma ação curativa; mas também
uma ação preventiva da transmissão e do surgimento de outras complicações. Os sintomas
podem vir a desaparecer podendo levar o indivíduo a uma falsa cura. Consequentemente, a
infecção pode evoluir para formas crônicas graves e manter transmissão.

Com relação à abordagem dos parceiros sexuais o melhor é que os parceiros sejam
trazidos para aconselhamento, diagnóstico e tratamento pelos próprios clientes. Caso não
compareçam pode-se realizar uma busca ativa e desenvolver com os parceiros convidados
outras atividades de acordo com as condições do serviço.

 Tipos de DST:

 AIDS: Causada pela infecção do organismo humano pelo HIV (vírus da


imunodeficiência adquirida). O HIV compromete o funcionamento do sistema
imunológico humano, impedindo-o de executar adequadamente sua função de
proteger o organismo contra as agressões externas, tais como: bactérias, outros
vírus, parasitas e células cancerígenas.

 Cancro mole: Também chamada de cancro venéreo, popularmente é conhecida


como cavalo. Manifesta-se através de feridas dolorosas com base mole.

 Condiloma acuminado ou HPV: É uma lesão na região genital, causada pelo


Papilomavírus Humano (HPV). A doença é também conhecida como crista de
galo, figueira ou cavalo de crista.

 Gonorreia: É a mais comum das DST. Também é conhecida pelo nome de


blenorragia, pingadeira, esquentamento. Nas mulheres, essa doença atinge
principalmente o colo do útero.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


287

 Clamídia: Também é uma DST muito comum e apresenta sintomas parecidos


com os da gonorreia, como, por exemplo, corrimento parecido com clara de ovo
no canal da urina e dor ao urinar. As mulheres contaminadas pela clamídia
podem não apresentar nenhum sintoma da doença, mas a infecção pode atingir
o útero e as trompas, provocando uma grave infecção. Nesses casos, pode haver
complicações como dor durante as relações sexuais, gravidez nas trompas (fora
do útero), parto prematuro e até esterilidade.

 Herpes: manifesta-se através de pequenas bolhas localizadas principalmente na


parte externa da vagina e na ponta do pênis. Essas bolhas podem arder e causam
coceira intensa. Ao se coçar, a pessoa pode romper a bolha, causando uma
ferida.

 Linfogranuloma venéreo: caracteriza-se pelo aparecimento de uma lesão genital


de curta duração (de três a cinco dias), que se apresenta como uma ferida ou
como uma elevação da pele. Após a cura da lesão primária surge um inchaço
doloroso dos gânglios de uma das virilhas. Se esse inchaço não for tratado
adequadamente, evolui para o rompimento espontâneo e formação de feridas
que drenam pus.

 Sífilis: manifesta-se inicialmente como uma pequena ferida nos órgãos sexuais
(cancro duro) e com ínguas (caroços) nas virilhas. A ferida e as ínguas não doem,
não coçam, não ardem e não apresentam pus. Após um certo tempo, a ferida
desaparece sem deixar cicatriz, dando à pessoa a falsa impressão de estar
curada. Se a doença não for tratada, continua a avançar no organismo, surgindo
manchas em várias partes do corpo (inclusive nas palmas das mãos e solas dos
pés), queda de cabelos, cegueira, doença do coração, paralisias.

 Tricomoníase: os sintomas são, principalmente, corrimento amarelo-


esverdeado, com mau cheiro, dor durante o ato sexual, ardor, dificuldade para
urinar e coceira nos órgãos sexuais. Na mulher, a doença pode também se
localizar em partes internas do corpo, como o colo do útero. A maioria dos
homens não apresenta sintomas. Quando isso ocorre, consiste em uma irritação
na ponta do pênis.

8.10 Política Nacional de Assistência à Saúde do Idoso

No Brasil, o direito universal e integral à saúde foi conquistado pela sociedade na


Constituição de 1988 e reafirmado com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio
da Lei Orgânica da Saúde nº 8.080/90. Por esse direito, entende-se o acesso universal e
equânime a serviços e ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, garantindo a
integralidade da atenção, indo ao encontro das diferentes realidades e necessidades de
saúde da população e dos indivíduos.

Esses preceitos constitucionais encontram-se reafirmados pela Lei nº 8.142, de 28


de dezembro de 1990, que dispôs sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema
Único de Saúde e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


288

área de saúde e as Normas Operacionais Básicas (NOB), editadas em 1991, 1993 e 1996, que,
por sua vez, regulamentam e definem estratégias e movimentos táticos que orientam a
operacionalidade do Sistema. A regulamentação do SUS estabelece princípios e direciona a
implantação de um modelo de atenção à saúde que priorize a descentralização, a
universalidade, a integralidade da atenção, a equidade e o controle social, ao mesmo tempo
em que incorpora, em sua organização, o princípio da territorialidade para facilitar o acesso
das demandas populacionais aos serviços de saúde. Com o objetivo de reorganizar a prática
assistencial é criado em 1994, pelo Ministério da Saúde, o Programa de Saúde da Família
(PSF), tornando-se a estratégia setorial de reordenação do modelo de atenção à saúde,
como eixo estruturante para reorganização da prática assistencial, imprimindo nova
dinâmica nos serviços de saúde e estabelecendo uma relação de vínculo com a comunidade,
humanizando esta prática direcionada à vigilância na saúde, na perspectiva da
intersetorialidade (Brasil, 1994), denominando-se não mais programa e sim Estratégia Saúde
da Família (ESF).

Concomitante à regulamentação do SUS, o Brasil organiza-se para responder às


crescentes demandas de sua população que envelhece. A Política Nacional do Idoso,
promulgada em 1994 e regulamentada em 1996, assegura direitos sociais à pessoa idosa,
criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na
sociedade e reafirmando o direito à saúde nos diversos níveis de atendimento do SUS (Lei nº
8.842/94 e Decreto nº 1.948/96).

Em 1999, a Portaria Ministerial nº 1.395 anuncia a Política Nacional de Saúde do


Idoso, a qual determina que os órgãos e entidades do Ministério da Saúde relacionados ao
tema promovam a elaboração ou a readequação de planos, projetos e atividades na
conformidade das diretrizes e responsabilidades nela estabelecidas (Brasil, 1999). Essa
política assume que o principal problema que pode afetar o idoso é a perda de sua
capacidade funcional, isto é, a perda das habilidades físicas e mentais necessárias para
realização de atividades básicas e instrumentais da vida diária.

Em 2002, é proposta a organização e a implantação de Redes Estaduais de


Assistência à Saúde do Idoso (Portaria nº 702/SAS/MS, de 2002), tendo como base as
condições de gestão e a divisão de responsabilidades definida pela Norma Operacional de
Assistência à Saúde (NOAS). Como parte de operacionalização das redes, são criadas as
normas para cadastramento de Centros de Referência em Atenção à Saúde do Idoso
(Portaria nº 249/SAS/MS, de 2002).

Em 2003, o Congresso Nacional aprova e o Presidente da República sanciona o


Estatuto do Idoso, elaborado com intensa participação de entidades de defesa dos
interesses dos idosos. O Estatuto do Idoso amplia a resposta do Estado e da sociedade às
necessidades da população idosa, mas não traz consigo meios para financiar as ações
propostas. O Capítulo IV do Estatuto reza especificamente sobre o papel do SUS na garantia
da atenção à saúde da pessoa idosa de forma integral, em todos os níveis de atenção.

Assim, embora a legislação brasileira relativa aos cuidados da população idosa seja
bastante avançada, a prática ainda é insatisfatória. A vigência do Estatuto do Idoso e seu uso
como instrumento para a conquista de direitos dos idosos, a ampliação da Estratégia Saúde

Módulo 1 Técnico em Farmácia


289

da Família que revela a presença de idosos e famílias frágeis e em situação de grande


vulnerabilidade social e a inserção ainda incipiente das Redes Estaduais de Assistência à
Saúde do Idoso tornaram imperiosa a readequação da Política Nacional de Saúde da Pessoa
Idosa (PNSPI).

Em fevereiro de 2006, foi publicado, por meio da Portaria nº 399/GM, o documento


das Diretrizes do Pacto pela Saúde que contempla o Pacto pela Vida. Neste documento, a
saúde do idoso aparece como uma das seis prioridades pactuadas entre as três esferas de
governo sendo apresentada uma série de ações que visam, em última instância, à
implementação de algumas das diretrizes da Política Nacional de Atenção à Saúde do Idoso.

A publicação do Pacto pela Vida, particularmente no que diz respeito à saúde da


população idosa, representa, sem sombra de dúvida, um avanço importante. Entretanto,
muito há que se fazer para que o Sistema Único de Saúde dê respostas efetivas e eficazes às
necessidades e demandas de saúde da população idosa brasileira. Dessa maneira, a
participação da Comissão Intergestores Tripartite e do Conselho Nacional de Saúde, no
âmbito nacional, é de fundamental importância para a discussão e formulação de estratégias
de ação capazes de dar conta da heterogeneidade da população idosa e, por conseguinte, da
diversidade de questões apresentadas.

Cabe destacar, por fim, que a organização da rede do SUS é fundamental para que
as diretrizes dessa Política sejam plenamente alcançadas. Dessa maneira, torna-se imperiosa
a revisão da Portaria nº 702/GM, de 12 de abril de 2002, que cria os mecanismos de
organização e implantação de Redes Estaduais de Assistência à Saúde do Idoso e a Portaria
nº 249/SAS, de 16 de abril de 2002, com posterior pactuação na Comissão Intergestores
Tripartite.

A meta final deve ser uma atenção à saúde adequada e digna para os idosos e
idosas brasileiras, principalmente para aquela parcela da população idosa que teve, por uma
série de razões, um processo de envelhecimento marcado por doenças e agravos que
impõem sérias limitações ao seu bem-estar.

8.10.1 Finalidade

A finalidade primordial da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa é recuperar,


manter e promover a autonomia e a independência dos indivíduos idosos, direcionando
medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim, em consonância com os princípios e
diretrizes do Sistema Único de Saúde. É alvo dessa política todo cidadão e cidadã brasileiros
com 60 anos ou mais de idade.

 Considerando:

 o contínuo e intenso processo de envelhecimento populacional brasileiro;


 os inegáveis avanços políticos e técnicos no campo da gestão da saúde;
 o conhecimento atual da Ciência;
 o conceito de saúde para o indivíduo idoso se traduz mais pela sua condição de
autonomia e independência que pela presença ou ausência de doença orgânica;

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


290

 a necessidade de buscar a qualidade da atenção aos indivíduos idosos por meio


de ações fundamentadas no paradigma da promoção da saúde;
 o compromisso brasileiro com a Assembleia Mundial para o Envelhecimento de
2002, cujo Plano de Madri fundamenta-se em: participação ativa dos idosos na
sociedade, no desenvolvimento e na luta contra a pobreza; fomento à saúde e
bem-estar na velhice: promoção do envelhecimento saudável; e criação de um
entorno propício e favorável ao envelhecimento; escassez de recursos
socioeducativos e de saúde direcionados ao atendimento ao idoso;

 A necessidade de enfrentamento de desafios como:

▪ a escassez de estruturas de cuidado intermediário ao idoso no SUS, ou seja,


estruturas de suporte qualificado para idosos e seus familiares destinadas a
promover intermediação segura entre a alta hospitalar e a ida para o domicílio;
▪ número insuficiente de serviços de cuidado domiciliar ao idoso frágil previsto no
Estatuto do Idoso. Sendo a família, via de regra, a executora do cuidado ao idoso,
evidencia-se a necessidade de se estabelecer um suporte qualificado e constante
aos responsáveis por esses cuidados, tendo a atenção básica por meio da
Estratégia Saúde da Família um papel fundamental;
▪ a escassez de equipes multiprofissionais e interdisciplinares com conhecimento
em envelhecimento e saúde da pessoa idosa; e
▪ a implementação insuficiente ou mesmo a falta de implementação das Redes de
Assistência à Saúde do Idoso.

8.10.2. Justificativa

O Brasil envelhece de forma rápida e intensa. No Censo de 2000, contava com mais
de 14,5 milhões de idosos, em sua maioria com baixo nível socioeconômico e educacional e
com uma alta prevalência de doenças crônicas e causadoras de limitações funcionais e de
incapacidades.

A cada ano, 650 mil novos idosos são incorporados à população brasileira. Essa
transição demográfica repercute na área da saúde, em relação à necessidade de
(re)organizar os modelos assistência. A maior causa de mortalidade entre idosos brasileiros é
o acidente vascular. Na transição epidemiológica brasileira ocorrem incapacidades
resultantes do não-controle de fatores de risco preveníveis.

O sistema de saúde brasileiro tradicionalmente está organizado para atender à


saúde materna infantil e não tem considerado o envelhecimento como uma de suas
prioridades. Uma importante consequência do aumento do número de pessoas idosas em
uma população é que esses indivíduos provavelmente apresentarão um maior número de
doenças e/ou condições crônicas que requerem mais serviços sociais e médicos e por mais
tempo.

Isso já pode ser notado, uma vez que a população idosa, que hoje representa cerca
de 9% da população, consome mais de 26% dos recursos de internação hospitalar no SUS.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


291

Além disso, é notável a carência de profissionais qualificados para o cuidado ao idoso, em


todos os níveis de atenção. Outro fato importante a ser considerado é que saúde para a
população idosa não se restringe ao controle e à prevenção de agravos de doenças crônicas
não transmissíveis. Saúde da pessoa idosa é a interação entre a saúde física, a saúde mental,
a independência financeira, a capacidade funcional e o suporte social.

As políticas públicas de saúde, objetivando assegurar atenção a toda população,


têm dado visibilidade a um segmento populacional até então pouco notado pela saúde
pública. É possível a criação de ambientes físicos, sociais e que possibilitem melhorar a
saúde das pessoas com incapacidades tendo como uma das metas ampliar a participação
social dessas pessoas na sociedade. Por isso mesmo, é imprescindível oferecer cuidados
sistematizados e adequados a partir dos recursos físicos, financeiros e humanos de que se
dispõe hoje.

8.10.3. Diretrizes

Não se fica velho aos 60 anos, visto que o envelhecimento é um processo natural
que ocorre ao longo de toda a experiência de vida do ser humano, por meio de escolhas e de
circunstâncias. O preconceito contra a velhice e a negação da sociedade quanto a esse
fenômeno colaboram para a dificuldade de se pensar políticas específicas para esse grupo.
Ainda há os que pensam que se investe na infância e se gasta na velhice.

Com isso, deve ser um compromisso de todo gestor em saúde compreender que,
ainda que os custos de hospitalizações e cuidados prolongados sejam elevados na parcela
idosa, também aí está se investindo na velhice “Quando o envelhecimento é aceito como um
êxito, o aproveitamento da competência, experiência e dos recursos humanos dos grupos
mais velhos é assumido com naturalidade, como uma vantagem para o crescimento de
sociedades humanas maduras e plenamente integradas” (Plano de Madri, Artigo 6º).

Envelhecer, portanto, deve ser com saúde, de forma ativa, livre de qualquer tipo de
dependência funcional, o que exige promoção da saúde em todas as idades. Importante
acrescentar que muitos idosos brasileiros envelheceram e envelhecem apesar da falta de
recursos e da falta de cuidados específicos de promoção e de prevenção em saúde. Entre
esses estão os idosos que vivem abaixo da linha de pobreza, analfabetos, os sequelados de
acidentes de trabalho, os amputados por arteriopatias, os hemiplégicos, os idosos com
síndromes demenciais, e para eles também é preciso achar respostas e ter ações específicas.

São apresentadas abaixo as diretrizes da Política Nacional de Saúde da Pessoa


Idosa:
 promoção do envelhecimento ativo e saudável;
 atenção integral, integrada à saúde da pessoa idosa;
 estímulo às ações intersetoriais, visando à integralidade da atenção;
 provimento de recursos capazes de assegurar qualidade da atenção à saúde da
pessoa idosa;
 estímulo à participação e fortalecimento do controle social;
 formação e educação permanente dos profissionais de saúde do SUS na área de
saúde da pessoa idosa;

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


292

 divulgação e informação sobre a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa para


profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS;
 promoção de cooperação nacional e internacional das experiências na atenção à
saúde da pessoa idosa; e
 apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas.

 Promoção do Envelhecimento Ativo e Saudável:

A promoção do envelhecimento ativo, isto é, envelhecer mantendo a capacidade


funcional e a autonomia, é reconhecidamente a meta de toda ação de saúde. Ela permeia
todas as ações desde o pré-natal até a fase da velhice. Esta abordagem envelhecimento
ativo baseia-se no reconhecimento dos direitos das pessoas idosas e nos princípios de
independência, participação, dignidade, assistência e auto realização determinados pela
Organização das Nações Unidas em 2002. Para tanto é importante entender que as pessoas
idosas constituem um grupo heterogêneo. Também será necessário vencer preconceitos e
discutir mitos arraigados em nossa cultura. Os profissionais de saúde e a comunidade devem
perceber que a prevenção e a promoção de saúde não é privilégio apenas dos jovens. A
promoção não termina quando se faz 60 anos e as ações de prevenção sejam elas primárias,
secundárias ou terciárias devem ser incorporadas à atenção à saúde, em todas as idades.

Envelhecimento bem sucedido pode ser entendido a partir de seus três


componentes: menor probabilidade de doença; alta capacidade funcional física e mental; e
engajamento social ativo com a vida.

8.11 A Vigilância, o Controle e a Prevenção das Doenças Crônicas não Transmissíveis

A partir das últimas décadas do século passado, seguindo tendência mundial,


observa-se no Brasil dois processos que tem produzido importantes mudanças no perfil das
doenças ocorrentes em sua população. O primeiro, denominado “Transição Demográfica”,
com significativa diminuição das taxas de fecundidade, natalidade e aumento progressivo na
expectativa de vida. Como resultado verifica-se progressivo aumento da proporção de idosos
em relação aos demais grupos etários, tendência essa que deverá se ampliar nos próximos
20 anos. O segundo, caracterizado por importante mudança no perfil de morbimortalidade,
denominado de “transição epidemiológica” que, no Brasil, se apresenta ainda com
importantes diversidades regionais decorrentes das diferenças socioeconômicas e de acesso
aos serviços de saúde, resultando em um “modelo polarizado de transição”.

Neste modelo de transição temos, em distintas regiões, a ocorrência ainda alta de


doenças infecciosas e o crescimento da morbidade de mortalidade por Doenças Crônicas
Não Transmissíveis. A transição epidemiológica decorre também devido a outros fatores
como a urbanização, o acesso a serviços de saúde, meios de diagnóstico e mudanças
culturais expressivas ocorridas nas últimas décadas.

O cenário epidemiológico brasileiro é complexo. Em 1930, as doenças infecciosas


respondiam por cerca de 46% das mortes em capitais brasileiras. A partir de então, verificou-
se a redução progressiva, sendo que em 2003 essas doenças responderam apenas por cerca
de 5%. Por outro lado, as doenças cardiovasculares, que representavam apenas 12% na

Módulo 1 Técnico em Farmácia


293

década de 30, são, atualmente, as principais causas de morte em todas as regiões brasileiras,
respondendo por quase um terço dos óbitos.

No governo Lula foi criada a Coordenação Nacional para Vigilância de Doenças e


Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde - CGDANT. Esta coordenação tem como
atribuição principal coordenar a implantação das ações de promoção da saúde, de vigilância
e prevenção de DANT no país. No Brasil, a área técnica de doenças e agravos não
transmissíveis (DANT) abrange também as doenças decorrentes dos acidentes e violências,
injuries. As doenças crônicas não transmissíveis (doenças cardiovasculares, neoplasias,
doenças respiratórias crônicas, diabetes e doenças musculoesqueléticas, entre outras) se
caracterizam por ter uma etiologia incerta, múltiplos fatores de risco, longos períodos de
latência, curso prolongado, origem não infecciosa e por estar associadas a deficiências e
incapacidades funcionais. Entre as mais importantes se encontram a hipertensão arterial, o
diabetes, as neoplasias, as doenças cérebro vasculares, as doenças pulmonares obstrutivas
crônicas.

De acordo com o instituto Nacional de Câncer - INCA a magnitude das DCNT pode
ser avaliada pelas doenças cardiovasculares, responsáveis por 31% do total de óbitos por
causas conhecidas. As neoplasias representam a segunda causa de óbitos, com cerca de 15%
em 2003. Segundo projeções do INCA, os tipos de câncer com maior incidência, à exceção de
pele não melanoma, serão os de próstata e pulmão no sexo masculino e mama e colo do
útero para o sexo feminino, acompanhando a mesma tendência observada no mundo.

A prevenção e controle das DCNT e seus fatores de risco são fundamentais para
evitar o crescimento epidêmico dessas doenças e suas consequências nefastas para a
qualidade de vida e a sistema de saúde no país. Diante desse cenário epidemiológico o
Ministério da Saúde tem desenvolvido ações que visam reduzir o impacto dessas doenças,
por meio do monitoramento da morbimortalidade e seus fatores de risco, análise de acesso
e utilização de serviços de saúde, indução e apoio a ações de promoção à saúde, prevenção
e controle, avaliação das ações, programas e políticas.

Alguns fatores causais estão relacionados diretamente com o tabaco, atividade


física insuficiente; uso prejudicial do álcool; dieta não saudável; pressão arterial alta; excesso
de peso e obesidade; colesterol aumentado.

Contudo, consolidar o sistema de vigilância em doenças crônicas não transmissíveis


(DCNT) em todas as esferas do Sistema Único de Saúde, em todas as unidades da Federação
é de grande relevância nacional, considerando que suas ações possibilitaram conhecer a
distribuição, magnitude e tendência dessas doenças e de seus fatores de risco na população,
identificando seus condicionantes sociais, econômicos e ambientais, com o objetivo de
subsidiar o planejamento, execução e avaliação da prevenção e controle das mesmas.

8.12 Política Nacional de Saúde Mental

A internação de pessoas portadoras de transtornos mentais no Brasil remonta à


metade do Século XIX. Desde então, atenção aos portadores de transtornos mentais foi
quase sinônimo de internação em hospitais psiquiátricos especializados. Tal atendimento

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


294

hospitalar, concentrou-se nos centros de maior desenvolvimento econômico do país,


deixando vastas regiões carentes de qualquer recurso de assistência em saúde mental.

A partir dos anos 70, têm início experiências de transformação da assistência,


pautadas no começo pela reforma intramuros das instituições psiquiátricas e mais tarde pela
proposição de um modelo centrado na comunidade e substitutivo ao modelo do hospital
especializado. Com a Constituição, em 1988, cria-se o Sistema Único de Saúde (SUS) e são
estabelecidas as condições institucionais para a implantação de novas políticas de saúde,
entre as quais a de saúde mental, a partir das diferentes experiências de reforma da
assistência psiquiátrica no mundo ocidental, e as recomendações da Organização Pan-
Americana de Saúde (OPAS) contida na Carta de Caracas (1990), o Ministério da Saúde,
definiu uma nova política de saúde mental que redireciona os recursos da assistência
psiquiátrica para um modelo substitutivo de base comunitária. Incentiva-se a criação de
serviços em saúde mental de atenção comunitária, pública, de base territorial, ao mesmo
tempo em que se determina a implantação de critérios mínimos de adequação e
humanização do parque hospitalar especializado.

Com a reforma psiquiátrica houve uma ampla mudança do atendimento público em


Saúde Mental, que garantiu o acesso da população aos serviços e o respeito a seus direitos e
liberdade. Amparada pela lei 10.216/2001, foi uma conquista de uma luta social que durou
12 anos e significa uma mudança do modelo de tratamento: no lugar do isolamento, o
convívio na família e na comunidade.

O atendimento é feito em CAPS – Centros de Atenção Psicossocial - Residências


Terapêuticas, Ambulatórios, Hospitais Gerais, Centros de Convivência; As internações,
quando necessárias, são feitas em hospitais gerais ou nos CAPS/24 horas. Os hospitais
psiquiátricos de grande porte estão sendo progressivamente substituídos.

O Governo brasileiro tem como objetivo reduzir progressivamente os leitos


psiquiátricos, qualificar, expandir e fortalecer a rede extra-hospitalar (CAPS, serviços
residenciais terapêuticos - SRT e Unidades Psiquiátricas em Hospitais Gerais), incluir as ações
da saúde mental na atenção básica, implementar uma política de atenção integral aos
usuários de álcool e outras drogas, implantar o programa “De Volta Para Casa”, manter um
programa permanente de formação de recursos humanos para reforma psiquiátrica,
promover direitos de usuários e familiares incentivando a participação no cuidado. Visando
garantir tratamento digno e de qualidade ao louco infrator, superando o modelo de
assistência centrado no Manicômio Judiciário e avaliar continuamente todos os hospitais
psiquiátricos por meio do Programa Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares –
PNASH/ Psiquiatria.

 Caps:

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), entre todos os dispositivos de atenção à


saúde mental, têm valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica Brasileira. É o surgimento
destes serviços que passa a demonstrar a possibilidade de organização de uma rede
substitutiva ao Hospital Psiquiátrico no país. É função dos Caps prestar atendimento clínico
em regime de atenção diária, evitando assim as internações em hospitais psiquiátricos;

Módulo 1 Técnico em Farmácia


295

promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais através de ações
intersetoriais; regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua
área de atuação e dar suporte à atenção à saúde mental na rede básica. É função, portanto,
e por excelência, dos CAPS organizar a rede de atenção às pessoas com transtornos mentais
nos municípios. Os CAPS são os articuladores estratégicos desta rede e da política de saúde
mental num determinado território.

Estes serviços devem ser substitutivos, e não complementares ao hospital


psiquiátrico. Cabendo aos CAPS o acolhimento e a atenção às pessoas com transtornos
mentais graves e persistentes, procurando preservar e fortalecer os laços sociais do usuário
em seu território. Visto que este é o núcleo de uma nova clínica, produtora de autonomia,
que convida o usuário à responsabilização e ao protagonismo em toda a trajetória do seu
tratamento.

São serviços de saúde municipais, abertos, comunitários, que oferecem


atendimento diário às pessoas com transtornos mentais severos e persistentes, realizando o
acompanhamento clínico e a reinserção social destas pessoas através do acesso ao trabalho,
lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Os
projetos desses serviços, muitas vezes, ultrapassam a própria estrutura física, em busca da
rede de suporte social, potencializadora de suas ações, preocupando-se com o sujeito e a
singularidade, sua história, sua cultura e sua vida quotidiana.

A posição estratégica dos Centros de Atenção Psicossocial como articuladores da


rede de atenção de saúde mental em seu território, é, por excelência, promotora de
autonomia, já que articula os recursos existentes em variadas redes: sociossanitárias,
jurídicas, sociais e educacionais, entre outras. A tarefa de promover a reinserção social exige
uma articulação ampla, desenhada com variados componentes ou recursos da assistência,
para a promoção da vida comunitária e da autonomia dos usuários dos serviços. Os CAPS, no
processo de construção de uma lógica comunitária de atenção à saúde mental, oferecem
então os recursos fundamentais para a reinserção social de pessoas com transtornos
mentais.

 Residências Terapêuticas:

O Serviço Residencial Terapêutico (SRT) - ou residência terapêutica ou


simplesmente “moradia” - são casas localizadas no espaço urbano, constituídas para
responder às necessidades de moradia de pessoas portadoras de transtornos mentais
graves, institucionalizadas ou não. O número de usuários pode variar desde 1 indivíduo até
um pequeno grupo de 8 pessoas, que deverão contar sempre com suporte profissional
sensível às demandas e necessidades de cada um.
O processo de reabilitação psicossocial deve buscar de modo especial a inserção do
usuário na rede de serviços, organizações e relações sociais da comunidade. Ou seja, a
inserção em um SRT é o início de longo processo de reabilitação que deverá buscar a
progressiva inclusão social do morador.

A questão central do SRT enquanto modelo de atenção psicossocial é a moradia e o


viver em sociedade. Assim, tais residências não são precisamente serviços de saúde, mas

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


296

espaços de habitação, que devem possibilitar à pessoa em sofrimentos mental o retorno, ou


até mesmo início, à vida social, usufruindo de um espaço que seja seu por direito, não o
transformando em um local de tratamento, clínica, ou até mesmo de exclusão, contenção ou
enclausuramento. É um espaço de reconstrução de laços sociais e afetivos para aqueles
cujas vidas encontravam-se confinadas ao universo hospitalar.

 Atenção Básica:

A Política Nacional de Saúde Mental propõe que as práticas de saúde mental na


atenção básica/saúde da família devam ser substitutivas ao modelo tradicional e não
medicalizantes ou produtoras da “psiquiatrização” e “psicologização” do sujeito e de suas
necessidades. Por isso, é necessária a articulação da rede de cuidados, tendo como objetivo
a integralidade do sujeito, constituindo um processo de trabalho voltado para as
necessidades singulares e sociais e não somente para as demandas.

Considera-se que a atenção básica/saúde da família é a porta de entrada


preferencial de todo o Sistema de Saúde, inclusive no que diz respeito às necessidades de
saúde mental dos usuários. Busca-se resgatar a singularidade de cada usuário, investindo no
seu comprometimento com o tratamento, apostando em seu protagonismo, tentando
romper com a lógica de que a doença é sua identidade e de que a medicação é a ‘única’
responsável pelas melhoras; investir nas suas potencialidades; auxiliar na formação de laços
sociais e apostar na força do território como alternativa para a reabilitação social.

Dessa forma, há uma convergência de princípios entre a saúde mental e a atenção


básica. Para que a saúde mental aconteça de fato na atenção básica é necessário que os
princípios do SUS se transformem em prática cotidiana.

 Leitos de Atenção Integral:

São considerados Leitos de Atenção Integral em Saúde Mental todos os


recursos de hospitalidade e acolhimento noturno da rede de atenção à saúde mental (leitos
dos Hospitais Gerais, dos CAPS III, das emergências gerais, dos Serviços Hospitalares de
Referência para Álcool e Drogas), quando articulados em rede – podendo estar associados
aos leitos de hospitais psiquiátricos de pequeno porte, quando eles existirem.

Estes leitos devem ofertar o acolhimento integral ao paciente em crise, devendo


estar articulados e em diálogo com outros dispositivos de referência para o paciente. A
tendência é de que esta rede de leitos de atenção integral, à medida de sua expansão, e à
medida da expansão de toda rede aberta de atenção à saúde mental, apresente-se como
substitutiva à internação em hospitais psiquiátricos convencionais. Para tanto, é preciso
investimento dos gestores em regulação – os leitos de atenção integral em saúde mental são
um componente essencial da porta de entrada da rede assistencial e um mecanismo efetivo
de garantia de acessibilidade.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


297

REFERÊNCIAS

AGUIAR Z. N., RIBEIRO M. C. S. (Org.). Vigilância e controle das doenças transmissíveis. São
Paulo: Martinari, 2006.

BRASIL. Ministério da Saúde. A vigilância, o controle e a prevenção das doenças crônicas


não transmissíveis: DCNT no contexto do Sistema Único de Saúde brasileiro / Brasil.
Ministério da Saúde – Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005. 80.

Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Atenção Básica. Área Técnica de Diabetes e


Hipertensão Arterial. Hipertensão arterial sistêmica (HAS) e Diabetes mellitus (DM):
protocolo / Ministério da Saúde, Departamento de Atenção Básica. Área Técnica de
Diabetes e Hipertensão Arterial. – Brasília: Ministério da Saúde, 2001.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Política nacional de atenção básica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à
Saúde, Departamento de Atenção à Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação
complementar / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de
Atenção Básica. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 112 p.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações


Programáticas Estratégicas. Agenda de compromissos para a saúde integral da criança e
redução da mortalidade infantil / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde,
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
80 p.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações


Programáticas Estratégicas. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: plano
de ação 2004-2007 / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento
de Ações Programáticas Estratégicas – Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 48p.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Saúde integral de adolescentes e


jovens: orientações para a organização de serviços de saúde / Ministério da Saúde,
Secretaria de Atenção à Saúde. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2005. 44p.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção em Saúde. Departamento de Ações


Programáticas Estratégicas. Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de
adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde. / Ministério da
Saúde, Secretaria de Atenção em Saúde, Departamento de Ações Programáticas
Estratégicas, Área Técnica de Saúde do Adolescente e do Jovem. – Brasília: Ministério da
Saúde, 2010. 132 p.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e


Aids. Manual de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis / Ministério da Saúde,

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


298

Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de DST e Aids. Brasília: Ministério da


Saúde. 2005.

CAMPOS, G. W. S. et al. (org.). Tratado de saúde coletiva. São Paulo: HUCITEC, 2006.

Diretrizes Para Um Modelo De Assistência Integral Em Saúde Mental No Brasil.


2006.58p.Disponível em: < http://www.abp.org.br/diretrizes_final.pdf> Acesso em: 04 dez 2017.

ENKINS, C. D. Construindo uma saúde melhor: um guia para a mudança de


comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007.

OLIVEIRA. G. Pena. Doenças infecciosas e parasitárias: aspectos clínicos, de vigilância


epidemiológica e de controle - guia de bolso]. - Brasília: Ministério da Saúde: Fundação
Nacional de Saúde, 1998. 220 p.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


299

ANEXOS

ANEXO A - PORTARIA Nº 2.528 DE 19 DE OUTUBRO DE 2006

PORTARIA Nº 2.528 DE 19 DE OUTUBRO DE 2006

Aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa.

O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso de suas atribuições, e

Considerando a necessidade de que o setor saúde disponha de uma política


atualizada relacionada à saúde do idoso;

Considerando a conclusão do processo de revisão e atualização do constante da


Portaria n° 1.395/GM, de 10 de dezembro de 1999;

Considerando a publicação da Portaria nº 399/GM, de 22 de fevereiro de 2006, que


divulga o Pacto pela Saúde 2006 - Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacionais
do referido Pacto; e Considerando a pactuação da Política na reunião da Comissão
Intergestores Tripartite do dia 5 de outubro de 2006 e a aprovação da proposta da Política,
pelo Conselho Nacional de Saúde, por meio do Memorando nº 500/SE/CNS/ 2006,

RESOLVE:

Art. 1º Aprovar a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, cujas disposições


constam do Anexo a esta Portaria e dela são parte integrante.

Art. 2º Determinar que os órgãos e entidades do Ministério da Saúde, cujas ações se


relacionem com o tema objeto da Política ora aprovada, promovam a elaboração ou a
readequação de seus programas, projetos e atividades em conformidade com as diretrizes e
responsabilidades nela estabelecidas.

Art.3º Fixar o prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da data de publicação desta


Portaria, para que o Ministério da Saúde adote as providências necessárias à revisão das
Portarias nº 702/GM, de 12 de abril de 2002, e n° 249/SAS/MS, de 16 de abril de 2002, que
criam os mecanismos de organização e implantação de Redes Estaduais de Assistência à
Saúde do Idoso, compatibilizando-as com as diretrizes estabelecidas na Política Nacional de
Saúde da Pessoa Idosa aprovada neste ato.

Art. 4º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 5º Fica revogada a Portaria nº 1.395/GM, de 10 de dezembro de 1999,


publicada no Diário Oficial da União nº 237-E, de 13 de dezembro de 1999, página 20, seção
1.

JOSÉ AGENOR ÁLVARES DA SILVA

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


300

ANOTAÇÕES: ____________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

Módulo 1 Técnico em Farmácia


QUÍMICA
303

9 QUÍMICA

Este material foi elaborado com o objetivo de nortear as aulas de Química,


disciplina integrante do curso de Técnico em Farmácia, oferecido pelo Grau Técnico,
propiciando ao aluno um conhecimento generalizado ao perfil do profissional de Técnico em
Farmácia, tornando-o competitivo no mercado de trabalho.

9.1 A Matéria e suas Propriedades

Este capítulo apresentará a constituição da matéria, os elementos químicos, a


classificação da matéria e seus estados físicos.

9.1.1 Constituição da Matéria

Nos dias atuais, não existem dúvidas de que todo o tipo de matéria é formado por
pequenas partículas, conhecidas como átomos (do grego: átomo = indivisível). Foi por volta
de 400 a.C. que os gregos propuseram as primeiras ideias em relação à constituição da
matéria. Tais ideias foram propostas pelos filósofos gregos Demócrito (460 a.C. - 370 a.C.) e
Epicuro (341 a.C. - 270 a.C).

Segundo Demócrito, os átomos fariam parte de toda e qualquer matéria e seriam


qualitativamente iguais, distinguindo-se na sua forma, tamanho e massa. Já Epiruco, com
base nos fundamentos de Demócrito, justifica a razão dos átomos serem invisíveis ao sugerir
que haveria um limite para o seu tamanho.

Podemos definir matéria como tudo que tem massa e ocupa lugar no espaço (ou
seja, tem volume). O volume pode ser definido como a extensão no espaço ocupado por um
corpo.

No ano de 1808, o cientista John Dalton (1766 – 1844), fundamentado em


experimentos, explica a constituição da matéria formulando, então, a teoria atômica, que
possibilitaria mais tarde a criação do primeiro modelo atômico. Nesta época, eram
conhecidos cerca de 50 elementos químicos.

A Teoria de Dalton:

a) A matéria é composta de partículas indivisíveis chamadas de átomos.


b) Para um conjunto de átomos com as mesmas massas e tamanhos apresentam
propriedades iguais e formam um elemento químico.
c) Diferentes elementos químicos apresentam átomos com diferentes massas, tamanhos e
propriedades.
d) A combinação de átomos de elementos diferentes origina substâncias diferentes.
e) Os átomos não são criados nem destruídos, são simplesmente rearranjados, originando
novas substâncias.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


304

9.1.2 Elementos Químicos

Conjunto de átomos qualitativamente iguais  elemento químico.

Os diversos elementos químicos raramente ocorrem na natureza em sua forma


isolada, sua capacidade de se combinar por meio de interações mútuas, originando uma
gama de matéria. Cada elemento químico recebe um nome e uma abreviação chamada de
símbolo.

Por volta de 1810, os símbolos foram introduzidos na Química pelo cientista sueco
Berzelius, organizando a notação química até esta data, facilitando a escrita e a comunicação
entre os químicos.

Para indicar a proporção com que cada elemento entra na formação de


determinada substância, deve ser associado um índice numérico aos símbolos. A
representação gráfica de uma substância em que são utilizados os símbolos e os índices
numéricos é denominada fórmula e representa a constituição de cada unidade formadora da
substância. Essas unidades são denominadas de moléculas. Cada molécula representa uma
substância pura (ou espécie química) bem definida. Cada substância, por sua vez, é
representada por uma abreviação denominada fórmula.

 Qual seria o número total de átomos de tivéssemos 3 moléculas de amônia?

Resp.: Cada molécula tem 4 átomos, 3 de hidrogênio (H) e 1 azoto (N). Logo 3
moléculas terão 12 átomos, 9 de hidrogênio (H) e 3 azoto. O número de elementos químicos
ainda continuam 2.

 Como ficaria, então, para 5 moléculas de etanol?

Resp.: Partindo do mesmo raciocínio utilizado para a amônia, temos que para 1
molécula de etanol temos 9 átomos, 2 de carbono (C), 6 de hidrogênio (H) e 1 de oxigênio
(O). Portanto para 5 moléculas teremos 10 de carbono (C), 30 de hidrogênio (H) e 5 de
oxigênio (O), resultando em um total de 45 átomos para 3 elementos químicos.

Observe o Quadro 1 a seguir e esclareça as suas dúvidas:

Quadro 1- As substâncias químicos e a sua constituição

Nº de
Fórmula Nº de Nº de
Substância Elementos
Química Átomos Moléculas
Químicos
Oxigênio - Gás incolor, presente no ar e
indispensável à vida dos animais e O2 2 1 1
vegetais.
Hidrogênio - Gás incolor, combustível,
H2 2 1 1
menos denso que o ar.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


305

Nº de
Fórmula Nº de Nº de
Substância Elementos
Química Átomos Moléculas
Químicos
Sal de cozinha - Sólido branco, de nome
químico cloreto de sódio, importante na NaCl 2 1 2
alimentação.
Água - Líquido incolor, essencial na
manutenção de todas as formas de vida H2O 3 1 2
no planeta.
Gás carbônico - Gás incolor, usado em
extintores de combate a incêndio, CO2 3 1 2
envasamento de bebidas e refrigerantes.
Amônia - Gás tóxico, incolor, odor
irritante, presente em produtos de
NH3 4 1 2
limpeza e na agricultura como
fertilizante.
Etanol - Líquido incolor, usado na
fabricação de bebidas alcoólicas e C2H5OH 9 1 3
combustível automotivo.
Fonte: Elaborado pelo autor (2015)

9.1.3 Classificação da Matéria

Nesta seção, tomaremos conhecimento acerca das substâncias e das misturas e


suas especificidades.

9.1.3.1 Substâncias

No tópico anterior pudemos ver que um conjunto de átomos com propriedades


químicas semelhantes constituem um elemento químico, e numa proporção constante
combinada desses elementos temos uma substância. Com isso, fica fácil o entendimento de
que, com poucos átomos (elementos químicos) diferentes combinados entre si, podemos
obter milhares de moléculas (substâncias) distintas.

A classificação das diferentes substâncias é feita de acordo com sua composição,


como poderemos observar a seguir.

 Substância pura:

É todo e qualquer tipo de matéria formada por átomos, moléculas, iguais entre si.
As substâncias puras apresentam propriedades características e bem definidas e composição
química constante. As substâncias puras podem ser classificadas como simples e compostas.

São substâncias formadas por um ou mais átomos de um mesmo elemento químico.

Em relação às substâncias simples, é o que podemos observar no Quadro 1


apresentado anteriormente, nos casos, por exemplo, do oxigênio (O2) e do hidrogênio (H2).

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


306

Ambos são formados por átomos de um mesmo elemento químico. Cuidado, pois uma
substância simples não pode ser dividida em outra substância ainda mais simples.

As substâncias compostas são também chamadas de compostos químicos. As


moléculas de determinada substância são formadas por dois ou mais elementos químicos
diferentes. É o que podemos observar, nos casos da água (H2O), do cloreto de sódio (NaCl),
da amônia (NH3), do gás carbônico (CO2) e do etanol (CH3–CH2OH), citados na tabela quando
falamos sobre os elementos químicos. Todos eles são formados por átomos de elementos
químicos diferentes. Na maioria dos casos, uma substância composta pode ser dividida em
substâncias mais simples.

 Misturas:

Uma mistura é constituída por duas ou mais substâncias (simples ou compostas),


cada uma delas sendo denominada componente.

Uma vez que as misturas não apresentam composições definidas, suas


propriedades físicas não são constantes, diferentes daquelas apresentadas pelas substâncias
quando estudadas isoladamente, ou seja, suas propriedades são funções da composição de
cada um dos elementos que constituem a mistura.

Temos, por exemplo, a mistura água+açúcar, que não ferverá a 100 °C, ao nível do
mar, como acontece com a água pura. Listamos alguns exemplos a seguir.

O ar que respiramos é formado por uma mistura de gases:

Nitrogênio (N2) ≈ 78,08 %


Oxigênio (O2) ≈ 20,95 %
Argônio (Ar) ≈ 0,93%
Dióxido de carbono (CO2) ≈ 0,03 %
Outros gases ≈ 0,01

O álcool que é comercializado nos postos de combustíveis, conhecido por álcool


hidratado, é formado pela mistura do álcool etílico (etanol, C2H6O) e a água (H2O).

O ouro puro não é indicado na confecção de joias, pois apresenta baixa dureza. O
ouro 18 quilates é formado basicamente de 75% de ouro (Au) e 25% de cobre (Cu) e prata
(Ag), mistura próprio para joalharia.

 Tipos de misturas:

Conforme o aspecto visual de uma mistura, as mesmas são classificadas em função


do seu número de fases, em homogênea e heterogênea, como ilustra o Quadro 2 (4) a
seguir.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


307

Quadro 2- Tipos de misturas e suas definições


Tipos de misturas Definições
As misturas homogêneas apresentam uma única fase, também
Única fase: chamadas de soluções. É impossível distinguir superfícies de
água + açúcar separação entre os componentes. São exemplos de soluções: água
com açúcar, soro caseiro, gasolina, álcool hidratado, cachaça,
vinagre e toda mistura de qualquer tipo de gases.

As misturas heterogêneas apresentam pelo menos duas fases. Na


Duas fases: sua grande maioria, podemos detectar a superfície de separação
óleo entre os componentes. São exemplos: água e óleo, água com gás,
água leite, mistura de vários sólidos, água e granito.

Fonte: Elaborado pelo autor (2015)

9.1.4 Estado Físico da Matéria

Matéria é tudo o que está ao nosso redor, podendo ser encontrado na forma de um
gás, um líquido ou um sólido. Essas três formas são chamadas de estados físicos da matéria,
como ilustra o Quadro 3.

Quadro 3- Estados físicos da matéria


SÓLIDO LÍQUIDO GASOSO
Características macroscópicas

Características microscópicas

Fonte: Elaborada pelo autor (2015)

Cada um destes estados apresentam características próprias, tais como: volume e


forma, que podem ser alteradas pela variação da temperatura.

Os sólidos apresentam volume constante e forma própria, suas partículas são


ordenadas geometricamente e apresentam pouca movimentação. Os líquidos apresentam
volume constante e a sua forma depende do recipiente que os contém, e suas partículas

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


308

menos ordenadas permitem um pouco mais de liberdade de movimento. Já um gás


apresenta volume e forma a depender do recipiente que o contém, suas partículas estão
totalmente desordenadas, com intensa movimentação.

9.1.4.1 Mudança de Estado

No diagrama abaixo, ilustrado na Figura 1 (4), são apresentadas as mudanças de


estado físico, com seus respectivos nomes particulares.

Figura 1 (4)- Mudanças de estado físico


Fusão Vaporização

SÓLIDO QUIDO ASOSO

Solidificação Condensação ou
liquefação

Fonte: Elaborada pelo autor (2015)

Alguns sólidos passam diretamente para o estado gasoso, sem passar pelo estado
líquido. Tal mudança recebe o nome de sublimação. Temos como exemplo o gelo seco e a
naftalina. A vaporização pode ocorrer de duas formas, como descrito a seguir.

 Evaporação:

Esta mudança de estado ocorre de forma lenta na região da superfície do líquido.

 Ebulição:

A mudança de estado ocorre de forma rápida, com o aquecimento do líquido até a


sua temperatura de ebulição. Observa-se a formação de bolhas em toda a área do líquido.

As etapas de fusão e vaporização são acompanhadas da absorção de calor,


enquanto a condensação e solidificação pela liberação de calor.

9.1.4.2 Diagramas de Mudança de Estado

Diferente das misturas, as substâncias puras, quando sofrem mudança de estado


físico, a sua temperatura permanece constante durante todo o processo, pois as mesmas
conservam sempre a mesma composição.

No caso de uma mistura, por exemplo, uma solução de salmoura (água + sal),
durante a ebulição, a porcentagem de sal (NaCl) vai aumentado, com isso a composição da
salmoura varia durante o processo de ebulição, variando também a temperatura.

Já no processo de solidificação da salmoura, à medida que a água solidifica-se


Módulo 1 Técnico em Farmácia
309

(formação de gelo), ocorre alteração na composição da solução durante a solidificação, com


isso a temperatura também varia durante a mudança de estado.

A seguir temos uma representação esquemática da temperatura em função do


tempo durante o aquecimento da água e da salmoura, partindo do estado sólido (Figura 2).

Figura 2- Representação esquemática da temperatura

Temperatura (ºC)

100 vapor Substância pura:


água de
+ água As temperaturas de fusão
vapor (TF) e de ebulição (TE)
0 água
gelo de são constantes.
+ água
gelo água
Tempo
O gráfico evidencia dois patamares (fusão do gelo e vaporização da água).

Temperatura (ºC)

T Mistura:
E vapor
líquido A temperatura varia
+ durante a mudança de
TF líquido vapor estado físico. O gráfico
sólido não apresenta patamares.
+
sólido líquid
o Tempo
∆TF: variação de temperatura durante a fusão.
∆TE: variação de temperatura durante a ebulição.
Fonte: Elaborada pelo autor (2015)

As temperaturas de fusão (TF) e ebulição (TE) são duas propriedades utilizadas para
caracterizar e identificar as substâncias puras.

9.2 A Tabela Periódica

Dentre os atuais elementos químicos que constituem a tabela periódica, cerca de 60


elementos já haviam sido descobertos e estudados pelo professor de química russo da
Universidade de Petersburgo, Dimitri Mendeleev em 1869. Cientistas antes de Mendeleev,
no estudo dos elementos químicos, imaginavam gráficos, tabelas ou classificações em que
todos os elementos ficassem reunidos em grupos com propriedades semelhantes.
TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1
310

O trabalho desenvolvido por Mendeleev foi mais meticuloso, anotando as


propriedades dos elementos químicos em cartões, tentando organizá-los de diferentes
formas à procura de padrões, com o propósito de se obter uma sequência de elementos em
que se destacasse a semelhança das propriedades.

Foi com esse quebra-cabeça que Mendeleev encontrou uma solução quando ele
dispôs os cartões (elementos químicos) em ordem crescente de massa atômica.

A partir dos elementos acima dispostos em ordem crescente, vamos analisar a


seguinte sequência:

Li .....  ..... 7 elementos .....  ... Na .....  ..... 7 elementos .....  ..... K

O elemento sódio foi descoberto em 1807, é um metal macio, de baixa densidade e


bastante reativo. O seu uso está associado ao sal de cozinha, fabricação de soda caústica,
bicarbonatos (fermento, extintor, antiácido). A sua alta reatividade pode ser observada ao
jogarmos um pedaço deste metal em água. A reação ocorre de forma violenta, com intensa
liberação de gás hidrogênio (H2), que frequentemente se inflama. Ao final da reação, o meio
resultante torna-se básico (presença de OH-), constatado pela adição de algumas gotas de
fenolftaleína, irá surgir uma coloração avermelhada, comprovando o meio básico. O sódio
também reage com o oxigênio para formar o óxido de sódio (Na2O). Juntamente com o seu
professor, você pode realizar este experimento em laboratório.

Naquela época, os químicos conheciam esses experimentos. Ao observarem de que


maneira os cartões (elementos químicos) estavam organizados, o sétimo elemento à
esquerda (Li) e à direita (K) do sódio, apresentavam o mesmo comportamento.

Tanto o lítio (Li) quanto o potássio (K), reagem com a água, produzindo seus
respectivos hidróxidos (LiOH – hidróxido de lítio e KOH – hidróxido de potássio), e com o
oxigênio formando os seus respectivos óxidos (Li2O – óxido de lítio e K2O – óxido de
Módulo 1 Técnico em Farmácia
311

potássio).

Mendeleev notou que esta repetição ocorria com os outros elementos, e em uma
de suas primeiras tabelas, colocou os elementos químicos conhecidos em 12 linhas
horizontais (chamados de períodos), em ordem crescente de massas atômicas, tomando o
cuidado de colocar na mesma vertical (chamados de grupos ou famílias) os elementos de
propriedades químicas semelhantes.

As propriedades que se repetem são chamadas de propriedades períodicas, daí


surgiu o nome tabela períodica dos elementos.

9.2.1 Tabela Periódica Atual

A construção da tabela periódica atual foi proposta a partir das seguintes regras,
elencadas para os elementos químicos:

a) os elementos químicos estão dispostos em ordem crescente de número atômico


(Z);
b) a disposição dos elementos na horizontal (linhas) origina os períodos;
c) a disposição dos elementos na vertical (colunas) origina as famílias ou os grupos.

A classificação periódica moderna apresenta os elementos químicos dispostos em


ordem crescente de números atômicos. A introdução do conceito de número atômico traz
um novo enunciado para a lei da periodicidade. As propriedades físicas e químicas dos
elementos variam periodicamente na ordem de suas massas atômicas. A tabela periódica
atual é constituída por 18 famílias e 7 períodos.

9.2.2 Famílias ou Grupos

Existem duas maneiras de identificar as famílias ou grupos, como se observa a


seguir:

1) Primeiro, a indicação de cada família por um algarismo romano, seguido das


letras A e B, por exemplo, IA, IIA, IIB, IVB. Essas letras A e B indicam a posição do
elétron mais energético nos subníveis; e,
2) Segundo, as famílias são indicadas por algarismos arábicos de 1 a 18, eliminando-
se as letras A e B.

9.2.2.1 As Famílias A e Zero

Nas famílias A, o número da família indica a quantidade de elétrons na camada de


valência. Estas famílias recebem nomes especiais, a saber:

a) IA (01): família dos metais alcalinos;


b) IIA (02): família dos metais alcalino-terrosos;

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


312

c) VIA (16): família dos calcogênios;


d) VIIA (17): família dos halogênios;
e) VIIIA (18): família dos gases nobre.

As famílias IIIA, IVA e V recebem os seguintes nomes, respectivamente: famílias do


boro, família do carbono e família do nitrogênio.

FAMÍLIA OU CAMADA DE VALÊNCIA


ELEMENTOS
GRUPO Nº de Elétrons Distribuição Eletrônica
IA (01) 1 ns1 Li, Na, K, Rb, Cs, Fr
2
IIA (02) 2 ns Be, Mg, Ca, Sr, Ba, Ra
IIIA (13) 3 ns2 np1 B, Al, Ga, In, Tl
2 2
IVA (14) 4 ns np C, Si, Ge, Sn, Pb
2 3
VA (15) 5 ns np N, P, As, Sb, Bi
VIA (16) 6 ns2 np4 O, S, Se, Te, Po
VIIA (17) 7 ns2 np5 F, Cl, Br, I, At
VIIIA (18)* 8 ns2 np6 He, Ne, Ar, Kr, Xe, Rn
 A família VIIIA (18) também recebe o nome de 0 (zero), para indicar que sua
reatividade nas condições ambientes é nula.
 O elemento hidrogênio (H), embora não faça parte da família dos metais alcalinos, está
representado na família IA por apresentar 1 elétron no subnível s na camada de
valência.
 O único gás nobre que não apresenta 8 elétrons na camada de valência é o hélio (He):
1s2.
 “n” representa o período em que o elemento está.

Elementos que apresentam o seu elétron mais energético em subníveis s ou p são


chamados de elementos representativos.

9.2.2.2 As Famílias B

Os elementos que constituem essas famílias são denominados de elementos de


transição. Uma parte deles ocupa o bloco central da tabela periódica, de IIIB (03) até IIB (12)
- 10 colunas (na dúvida veja a tabela periódica), apresentando o seu elétron mais energético
no subnível d (d1 a d10). São conhecidos como elementos de transição externa.

A outra parte dos elementos está deslocada da parte central, formando as séries
dos lantanídeos e dos actinídeos. Essas séries apresentam 14 colunas, com o elétron mais
energético contido no subnível f (f1 a f14). São conhecidos como elementos de transição
interna.

Nota: embora a numeração dos grupos de 1 a 18 seja recomendada pela IUPAC


(International Union of Pure and Applied Chemistry), por tradição ainda é mantida a
numeração em algarismos romanos, com os grupos A e B. A IUPAC é uma organização
científica, internacional e não governamental, ligada aos assuntos das ciências químicas e
suas aplicações. Leia mais em: www.iupac.org

Módulo 1 Técnico em Farmácia


313

9.2.2.3 Períodos

Na tabela moderna existem sete períodos, e o número do período corresponde à


quantidade de níveis (camadas) eletrônicos que os elementos químicos apresentam. Na
distribuição eletrônica temos a seguinte configuração:

Camada K → 2 elétrons → 1s2


Camada L → 8 elétrons → 2s2 2p6
Camada M → 18 elétrons → 3s2 3p6 3d10
Camada N → 32 elétrons → 4s2 4p6 4d10 4f14
Camada O → 32 elétrons → 5s2 5p6 5d10 5f14
Camada P → 18 elétrons → 6s2 6p6 6d10
Camada Q → 8 elétrons → 7s2 7p6

Vejamos a distribuição eletrônica dos seguintes elementos: Boro (B), Alumínio (Al),
Potássio (K), Estanho (Sn), Chumbo (Pb) e Urânio (U).

5B - 1s2 2s2 2p1  2 camadas eletrônicas (K e L) 2º período.

13Al - 1s2 2s2 2p6 3s2 3p1  3 camadas eletrônicas (K, L e M): 3º período.

19K - 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s1  4 camadas eletrônicas (K, L, M e N): 4º período.

50Sn- 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 5s2 4d10 5p2  5 camadas eletrônicas (K, L, M,
N e O): 5º período.

82Pb - 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 5s2 4d10 5p6 6s2 4f14 5d10 6p2  6 camadas
eletrônicas (K, L, M, N, O e P): 6º período.

92U- 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 5s2 4d10 5p6 6s2 4f14 5d10 6p6 7s2 5f4  7
camadas eletrônicas (K, L, M, N, O, P e Q): 7º período.

No esquema a seguir podemos verificar o subnível de maior energia preenchido


pelo elétron mais energético dos elementos da tabela periódica.

Período Bloco s Bloco p


1ª período → 1s 1s
2ª período → 2s Bloco d 2p
3ª período → 3s 3p
4ª período → 4s 3d 4p
5ª período → 5s 4d 5p
6ª período → 6s 5d 6p
7ª período → 7s 6d 7p

6ª período → 4f
Bloco f
7ª período → 5f

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


314

Blocos s e p → Elementos representativos


Bloco d → Elementos de transição externa
Bloco f → Elementos de transilçao interna

9.2.3 Classificação Periódica dos Elementos

Outra maneira de classificar os elementos é agrupá-los conforme suas propriedades


físicas e químicas, o que os divide em metais, não metais (ou ametais), semimetais, gases
nobres e hidrogênio, como podemos ver a seguir.

H Metais Semimetais
Ametais Gases Nobres

*
** ? ? ?

Lantanídios *

Actinídios **

Na tabela ainda temos 3 elementos ainda não descobertos. A linha em negrito


(maior espessura), conforme uma sugestão da Sociedade Brasileira de Química, separa os
metais (dois terços dos elementos) dos ametais (11 elementos). Os elementos próximos à
linha são conhecidos por semimetais (7 elementos). Os gases nobres são formados por 7
elementos.

Acesse: http://www.tabelaperiodicacompleta.com/ para visualizar a tabela


completa e obter mais informações.

9.2.4 Características entre as Principais Famílias

Grupo IA (01) – Metais Alcalinos (do árabe alcali, “cinza de plantas”): correspondem
a cerca de 4,8% da composição da superfície terrestre, incluindo os oceanos e a atmosfera.
São muito reativos e por isso não são encontrados isolados, e, sim, formando compostos em
minerais ou em sais dissolvidos na água do mar.

Grupo IIA (02) – Metais Alcalinos Terrosos (termo “terroso” ≈ “existir na terra”):
correspondem a 4,16% da crosta terrestre, tendo o cálcio (Ca) e o magnésio (Mg) como
sendo os mais abundantes desta categoria (ambos responsáveis pela água dura). Da mesma
forma que os metais alcalinos, são muito reativos, não são encontrados isolados, mas
combinados, ocorrendo na forma de silicatos, carbonatos e sulfatos.

Grupo IIIA (13) – Família do Boro: a fonte principal de boro na natureza é

Módulo 1 Técnico em Farmácia


315

constituída pelos depósitos de bórax, já o alumínio apresenta-se como o metal mais


abundante da crosta terrestre. Em contraste os demais elementos que constituem essa
família (Ga, In, Tl) são bastante raros.

Grupo IVA (14) – Família do Carbono: os elementos desta família constituem cerca
de 27,7% da crosta terrestre, sendo o silício o mais abundante (27,5%) principal componente
da estrutura inorgânica da superfície terrestre. O carbono é responsável por toda a vida
orgânica sobre a terra.

Grupo VA (15) – Família do Nitrogênio: correspondem a 0,33% da superfície


terrestre, incluindo os oceanos e a atmosfera. No ar a concentração volumétrica do
nitrogênio é de aproximadamente 79%. Os minerais desta categoria são combinados com o
oxigênio e metais, originando os nitratos e fosfatos.

Grupo VIA (16) – Calcogênios (formadores de cobre, minérios de cobre contêm


oxigênio ou enxofre): incluem os elementos mais abundantes do planeta, o oxigênio
corresponde a 50% em peso da crosta terrestre.

Grupo VIIA (17) – Halogênios (formadores de sais): ocupam variadas posições na


ordem de abundância dos elementos na crosta terrestre. Tem o astato (At) como muito raro.
Todos os halogênios são venenosos e apresentam efeito corrosivo. Os mais importantes são:
o cloro, o bromo e o iodo.

Grupo VIIIA (18) – Gases Nobres (ou raros, ou inertes): constituem cerca de 1,0% da
atmosfera do planeta, tendo o argônio como o mais frequente. Depois do hidrogênio (H)
com 92%, o hélio (He) com 7% é o elemento mais abundante do universo, fonte de energia
do sol e das estrelas. Os gases nobres possuem pequena capacidade em se combinar com
outros elementos devido a sua alta estabilidade.

Hidrogênio: a quantidade de gás hidrogênio (H2) na atmosfera terrestre é muito


pequena, pois o campo gravitacional da terra é pequeno demais para reter um elemento tão
leve. Pequenas quantidades de H2 podem ser encontradas nos gases vulcânicos. Compostos
contendo hidrogênio são muito abundantes, sobretudo a água, organismos vivos e
compostos orgânicos. O hidrogênio forma mais compostos que qualquer outro elemento
conhecido.

9.2.5 Diferenças entre Metais e Não Metais

Vamos apresentar as principais diferenças, tais como: brilho, condutividade elétrica


e térmica, dureza e tenacidade, maleabilidade e ductibilidade, densidade e temperatura de
fusão e de ebulição, agrupados no Quadro 4 a seguir.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


316

Quadro 4- Diferenças entre metais e não metais.


Metais Não metais Observação
Não serve como único critério de
Apresentam brilho
Não apresentam diferenciação, o iodo sólido tem
Brilho metálico
brilho brilho e o carbono sob forma de
característico
diamante, ambos têm brilho
Não serve como único critério de
De maneira geral diferenciação. O metal bismuto é
Condutividade
são bons Maus condutores mau condutor, enquanto que o não
elétrica e térmica
condutores metal carbono na forma de grafite é
um bom condutor.
Dureza (resistência Os metais alcalinos são
Muito duros Baixa dureza
ao risco) considerados moles (baixa dureza e
Tenacidade tenacidade).
(resistência ao Muito tenazes Baixa tenacidade O carbono na forma de diamante é
choque mecânico) o que apresenta maior dureza.
Há metais que são mais leves que a
Densidade Elevada Baixa água, como é o caso do lítio, sódio e
potássio.
O sódio e o potássio apresentam TF
e TE baixas. O carbono possui TF e
Temperatura de
Elevada Baixa TE elevadíssimo. O mercúrio (Hg) é
fusão e ebulição
o único metal líquido na
temperatura ambiente (25ºC)
Fonte: Elaborado pelo autor (2015)

9.2.6 Propriedades Gerais dos Elementos

Os elementos têm como propriedades gerais o raio atômico, a energia de ionização,


a afinidade eletrônica, eletronegatividade, densidade, e as temperaturas de fusão e de
ebulição, conforme descrito a seguir.

9.2.6.1 Raio Atômico

O raio atômico dá apenas uma ideia da distância média do núcleo à região do nível
de energia mais externo. O tamanho dos átomos diminui da esquerda para a direita ao longo
de um período da tabela periódica. Num dado período, o metal alcalino é o maior átomo e o
halogênio é o menor.

Descendo ao longo de um grupo da tabela periódica, o tamanho do átomo aumenta


devido ao efeito dos níveis eletrônicos que vão sendo acrescentados. Quanto maior a força
de atração, núcleo – eletrosfera, menor é o tamanho do átomo.

9.2.6.2 Energia de Ionização

O fornecimento de uma pequena quantidade de energia a um átomo pode levar o


elétron que se encontra em um nível energético a saltar para um nível energético mais

Módulo 1 Técnico em Farmácia


317

elevado, porém se essa quantidade de energia for suficientemente grande, o elétron pode
ser removido completamente.

A quantidade de energia necessária para remover o elétron mais fracamente ligado


de um gasoso (mais externo) é designada de energia de ionização. Os fatores que
influenciam a energia de ionização são:

a) tamanho do átomo;
b) a carga do núcleo;
c) o tipo de elétron envolvido.

É possível remover mais que um elétron da mairia dos átomos. A primeira energia
de ionização é aquela necessária para remover o primeiro elétron, transformando M em M+.
A segunda energia de ionização é a quantidade de energia necessária para remover o
segundo elétron, convertendo M+ em M2+. Fornecendo energia em quantidade equivalente à
terceira energia de ionização é possivel transformar M2+ em M3+, e assim por diante.

Assim temos que: E1 < E2 < E3

No sentido onde o raio diminui temos o seguinte:

a) para um mesmo período, a energia de ionização aumenta do metal alcalino para


o gás nobre (esquerda → direita);
b) para um mesmo grupo, a energia de ionização crece de baixo para cima.

9.2.6.3 Afinidade Eletrônica (eletroafinidade)

A afinidade eletrônica, é a energia liberada quando um átomo isolado, no seu


estado gasoso, “absorve” um elétron, liberando energia.

( ) ( )

Numa família ou num período, quanto maior o raio atômico, menor será a afinidade
eletrônica. A afinidade eletrônica na tabela periódica aumenta de baixo para cima e da
esquerda para a direita.

9.2.6.4 Eletronegatividade

Consiste na capacidade que um átomo tem em atrair para si os elétrons de uma


ligação química.

A eletronegatividade está relacionada com o raio atômico: quanto menor o


tamanho do átomo, maior será a força de atração, pois a distância entre o núcleo e o elétron
da ligação é menor. A eletronegatividade não é definida para os gases nobres, devido a sua
estabilidade (regra do octeto).

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


318

Na tabela periódica, a eletronegatividade cresce de baixo para cima e da esquerda


para a direita.

9.2.6.5 Densidade

A densidade é definida como sendo a relação entre massa e volume, de maneira


experimental podemos verificar, de maneira geral que:

a) entre os elementos das famílias IA e VIIA, a densidade aumenta com o aumento


das massas atômicas, ou seja, de cima para baixo;
b) num mesmo período a densidade aumenta das extremidades para o centro da
tabela.

Podemos concluir que: os elementos de maior densidade estão situados na parte


central e inferior da tabela periódica. O ósmio (Os) é o elemento mais denso da tabela
periódica com o valor de densidade igual a 22.500 Kg/m3.

9.2.6.6 Temperaturas de Fusão (TF) e de Ebulição (TE)

Da mesma forma que a densidade, os valores de TF e TE são verificados


experimentalmente, observamos que:

a) nas famílias IA e IIA, os elementos de maiores TF e TE estão situados na parte


superior da tabela. Na maioria das demais famílias, os elementos com maiores TF
e TE estão situados geralmente na parte inferior;
b) para um mesmo período, geralmente a TF e a TE aumentam das extremidades
para o centro da tabela.

9.3 Ligações Químicas

Os elementos químicos não são encontrados facilmente isolados na natureza. Seus


átomos combinam-se entre si formando toda a matéria que conhecemos.

Há diferentes maneiras pelas quais os átomos podem se combinar, como, por


exemplo, mediante o ganho ou a perda de elétrons, ou pelo compartilhamento de elétrons
dos níveis de valência.

Em 1916, os cientistas Lewis e Kossel estudaram a tendência de elementos com oito


elétrons na camada de valência aparecerem isoladamente. A configuração eletrônica com a
camada de valência completa é chamada de configuração estável. Eles verificaram a
tendência que os elementos possuem de perder, ganhar ou compartilhar elétrons e, a partir
dessa associação, propuseram uma teoria para explicar as ligações químicas entre os
elementos, a teoria do octeto.

A teoria do octeto diz que: um grande número de átomos adquire configuração


estável quando apresenta oito elétrons na sua camada mais externa. A configuração estável
Módulo 1 Técnico em Farmácia
319

pode ser obtida de duas formas:

a) compartilhamento de elétrons; e,
b) transferência de elétrons de um átomo para outro.

Os gases nobres aparecem na forma de átomos isolados. Esses elementos


apresentam oito elétrons na camada de valência. O hélio (He) é a única exceção: ele
apresenta apenas uma camada com dois elétrons (Tabela 1).

Tabela 1- Gases nobres


K L M N O P
hélio (He) Z=2 2
neônio (Ne) Z=10 2 8
argônio (Ar) Z=18 2 8 8
criptônio (Kr) Z=36 2 8 18 8
xenônio (Xe) Z=54 2 8 18 18 8
radônio (Rn) Z=86 2 8 18 32 18 8
Fonte: Elaborada pelo autor (2015)

9.3.1 Ligação Iônica

Também conhecida por eletrovalente, a ligação iônica ocorre entre íons, positivos
(cátions) e negativos (ânions). É a única em que ocorre transferência definitiva de elétrons.
Os íons resultantes dessa transferência atraem-se eletrostaticamente formando esse tipo de
ligação. Para esta ligação, é necessário que um dos átomos participantes da ligação possua a
tendência de perder elétrons enquanto o outro, a de receber elétrons.

De que maneira explicar a ligação iônica pela regra do octeto? Vamos tomar como
exemplo a ligação química entre o metal sódio (altamente reativo) e o gás cloro (substância
altamente tóxica), resultando em cloreto de sódio (sal de cozinha). Vamos partir da
configuração eletrônica do sódio (Z=11) e do cloro (Z=17).

11Na → K=2 =8 M=1 e 17Cl → K=2 =8 M=7

Caso haja transferência de elétrons na camada de valência do sódio para o cloro,


ambos adquirem uma configuração estável, ficando com 8 elétrons na camada mais externa.

Na transferência de um elétron do Na para o Cl, teremos a formação do cátion Na+


e do ânion Cl-, na proporção de 1:1. Tais íons atraem-se mutualmente por apresentarem
cargas elétricas opostas. Como mencionado, desta atração eletrostática, resulta na ligação
química chamada de ligação iônica.

Na+ + Cl- → NaCl

Consultando a tabela periódica, observe que:

a) a maioria dos metais possuem de um a três elétrons na camada mais externa 

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


320

tendência a ceder os elétrons.


b) os não metais apresentam de quatro a sete elétrons na camada mais externa 
tendência em receber elétrons.

Normalmente, os compostos iônicos apresentam elevados pontos de fusão e


ebulição, além de conduzirem corrente elétrica quando em solução aquosa ou fundidos (íons
livres). Pelo que foi visto até aqui podemos resumir conforme Quadro 5 a seguir.

Quadro 5- Ligação iônica

A → B
Tendência Cede elétrons Recebe elétrons
Ametais
Classificação Metais Semimetais
Hidrogênio

Interação cátions ↔ ânios


Fonte: Elaborado pelo autor (2015)

9.3.2 Determinação das Fórmulas dos Compostos Iônicos

A fórmula de um composto iônico indica a proporção mínima entre os átomos que


se ligam (cátions e ânions), formando um sistema eletricamente neutro. O total de elétrons
cedidos pelos átomos é igual ao total de elétrons recebidos pelos outros.

Observe a regra prática a seguir:

Total de cargas positivas: (y). (+x) = +xy


Total de cargas negativas: (x).(-y) = -xy
Temos então que o somatório das cargas é igual a zero.

Vamos a alguns exemplos:

 Formação do cloreto de magnésio:

12Mg → K=2 L=8 M=2 → perde 2 e- → 12Mg


2+
(Mg2+) (Cl-)2
→ ou
17Cl → K=2 L=8 M=7 → ganha 1 e -
→ 17Cl
1- MgCl2

Módulo 1 Técnico em Farmácia


321

 Formação do sulfeto de alumínio:

13Al → K=2 L=8 M=3 → perde 3 e- → 13Al


3+
(Al3+)2 (S2-)3
→ ou
16S → K=2 L=8 M=6 → ganha 2 e- → 16S
2-
Al2S3

 Formação do óxido de cálcio:

20Ca → K=2 L=8 M=8 N=2 → perde 2 e- → 20Ca


2+
(Ca2+) (O2-)
→ ou
8O → K=2 L=6 → ganha 2 e- → 8O
2-
CaO

 Formação do óxido de cálcio:

(Al3+) (Cl-)3
- 3+
13Al → K=2 L=8 M=3 → perde 3 e → 13Al → ou
AlCl3

9.3.3 Ligação Covalente

Esse tipo de ligação ocorre quando os átomos envolvidos compartilham seus


elétrons, formando pares eletrônicos. É um tipo de ligação que se dá entre elementos que
possuem uma alta eletronegatividade, ou seja, ametal + ametal ou hidrogênio + ametal ou
hidrogênio com hidrogênio (ambos tendem a receber elétrons).

Como não ocorrem ganho nem perda de elétrons, formam-se estruturas


eletricamente neutras, de grandeza limitada, denominadas moléculas. Por esse motivo, essa
ligação também é denominada molecular.

Átomos com tendência a receber elétrons (ametais, semimetais e hidrogênio), a


configuração estável poderá ser atingida através do compartilhamento de pares de elétrons,
formando uma ligação covalente entre os átomos.

Os halogênios com sete elétrons na camada de valência adquirem a estabilidade, ao


se ligarem dois a dois formando uma ligação covalente. Vejamos o exemplo do gás cloro,
com a representação eletrônica da fórmula de LEWIS.

+ →
Dois átomos de hidrogênio, um elétron na camada de valência, adquirem
configuração estável se compartilharem os seu elétrons, sendo um de cada átomo. Assim,
ambos ficam com configuração estável.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


322

+ →
Os átomos de oxigênio com seis elétrons na camada de valência adquirem a
estabilidade compartilhando dois pares de elétrons. A estabilidade é atingida ao se ligarem
dois a dois formando duas ligações covalentes. Observe abaixo, com a representação
eletrônica da fórmula de LEWIS.

+ →
De maneira análoga, átomos de nitrogênio adquirem a estabilidade pela formação
de três ligações covalentes, compartilhando três pares eletrônicos.

+ →
Quando dois átomos se ligam por meio de uma ligação covalente, tem-se uma
ligação simples (Cl–Cl e H–H). Ao se ligarem por duas ligações covalentes, estabelece-se uma
ligação dupla (O=O). Para três ligações covalentes, tem-se uma ligação tripla (N≡N).

As ligações covalentes ocorrem também em substâncias compostas. Formação da


molécula do ácido clorídrico:

+ →
Formação da molécula do gás amônio:

Formação da molécula da água:

+ + →

Formação da molécula do gás carbônico:

+ + →

Módulo 1 Técnico em Farmácia


323

9.3.4 Ligação Covalente Polar e Apolar

Uma ligação covalente é dita apolar quando os átomos que estão ligados entre si
não formam um dipolo elétrico e é polar quando formam um dipolo elétrico.

Nas substâncias simples, as ligações covalentes nas moléculas são apolares, pois os
átomos ligados entre si são iguais  Cl–Cl, H–H, O=O, N≡N.

Para as ligações covalentes entre átomos diferentes, é polar. Quanto maior for a
eletronegatividade entre os átomos participantes, mais polarizada será a ligação.

Veja a ordem no aumento da eletronegatividade dos metais:

H > P > C > S > I > Br > Cl > N > O > F

9.3.5 Substâncias Iônicas e Moleculares

Substância iônica é aquela que apresenta pelo menos uma ligação iônica em sua
estrutura. Substância molecular é aquela que apresenta somente ligações covalentes em sua
estrutura.

Metal Não metal Ligação Iônica


+ →
Mg O Mg2+O2-

Não metal Não metal Ligação Covalente


+ →
C O CO

Metal Hidrogênio Ligação Iônica


+ →
Li H Li+H-

Não metal Hidrogênio Ligação Covalente


+ →
F H HF

4.3.6 Ligação Metálica

Algumas propriedades apresentadas pelos metais são muito diferentes das


observadas em outras substâncias. A maioria dos metais é sólida à temperatura ambiente e
apresenta cor prateada (exceções são o mercúrio (Hg), o cobre (Cu) e o ouro (Au)).

No estado sólido, os átomos dos metais se agrupam de forma geometricamente


ordenada, originando o retículo cristalino, no qual ficam os elétrons cedidos pelos
respectivos átomos na formação dos cátions.

Esses elétrons ocupam o retículo cristalino do metal por inteiro e a liberdade que
têm de se moverem através do cristal é responsável pelas propriedades que caracterizam os

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


324

metais, as quais podemos citar:

a) condutibilidade: são excelentes condutores de corrente elétrica e de calor;


b) maleabilidade: possuem a capacidade de produzir lâminas, chapas muito finas;
c) ductilidade: apresentam a capacidade de produzir fios.
d) pontos de fusão e de ebulição: em geral, fundem e fervem em temperaturas
elevadas. Isso acontece porque a ligação metálica é muito forte, e “segura” os
átomos unidos com muita intensidade.

9.3.7 Forças Intermoleculares

Estudamos que os metais são quase todos sólidos (ligação metálica), assim como os
compostos iônicos que se apresentam sólidos nas condições ambientes devido à força de
atração elétrica ente os cátions e ânions.

As interações de moléculas decorrem da existência de forças denominadas


intermoleculares ou ligações intermoleculares, forças estas relacionadas às mudanças de
estado físico da matéria. Quanto menos intensas forem as forças intermoleculares, mais
volátil será a substância e menor será a sua temperatura de ebulição.

As forças intermoleculares são genericamente denominadas forças de Van der


Waals em homenagem ao físico holandês Johannes Van der Waals, responsável pela sua
descoberta em 1873. As forças de atrações foram estudadas por Fritz London anos depois,
em 1930.

As forças atrativas intermoleculares podem ser classificadas em:

a) interação dipolo permanente-dipolo permanente;


b) interação dipolo induzido-dipolo induzido ou forças de dispersão de London ou
forças de Van der Waals;
c) ponte de hidrogênio ou ligação de hidrogênio.

9.3.7.1 Interação Dipolo Permanente-Dipolo Permanente

Moléculas polares apresentam uma extremidade eletropositiva e outra


eletronegativa. Sendo assim, temos uma molécula com dipolo elétrico permanente, como é
o caso do ácido clorídrico.

No estado sólido ou líquido, substâncias formadas por moléculas polares orientam-


se de tal forma que o polo positivo de uma fica voltada para o polo negativo da outra.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


325

9.3.7.2 Forças de London ou de Van Der Waals

Quando substâncias no estado sólido ou líquido são formadas por moléculas


apolares que estão muito próximas umas das outras, pode ocorrer uma distorção da nuvem
eletrônica das moléculas.

Pode acontecer que em um dado instante, uma molécula pode estar com mais
elétrons de um lado que do outro, provocando o surgimento de um dipolo instantâneo na
molécula que então provoca o aparecimento de um dipolo instantâneo induzido na molécula
vizinha. Essas forças são cerca de dez vezes mais fracas que as forças dipolo-dipolo.

Essas forças atrativas que ocorrem são denominadas de forças de dispersão de


London ou de Van der Waals.

9.3.7.3 Ponte de Hidrogênio ou Ligação de Hidrogênio

É um tipo de ligação intermolecular resultante de uma atração dipolo permanente-


dipolo permanente muito forte (Figura 2).

Ocorre de maneira mais comum em moléculas que apresentam átomos de


hidrogênio ligados a átomos de flúor, oxigênio e nitrogênio, os quais são altamente
eletronegativos, originando ligações fortemente polarizadas.

Figura 2- Ponte de hidrogênio

Fonte: Elaborada pelo autor (2015)

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


326

Ocorrem também em moléculas com pelo menos uma ligação covalente do tipo O–H e . N–
H, como ilustra a Figura 3.

Figura 3- Ponte de hidrogênio em molécula de ligação covalente

Fonte: Elaborada pelo autor (2015)

9.3.7.4 Número de Oxidação

Para os compostos iônicos, chama-se número de oxidação (Nox) a própria carga


elétrica do íon, ou seja, o número de elétrons que o átomo perdeu ou ganhou.

o Na+  tem Nox = +1


Para o K+Cl- 
o Cl-  tem Nox = -1

o Fe2+  tem Nox = +2


Para o Fe2+O2- 
o O2-  tem Nox = -2

o K+  tem Nox = +1
+ +7
Para o K Mn O-24  o Mn+7  tem Nox = +7
o O2-  tem Nox = -2

No caso dos compostos covalentes, não há um átomo que perca e outro que ganhe
elétrons, já que os átomos estão compartilhando elétrons. Podemos dizer que o N ox seria a
carga elétrica teórica que o átomo iria adquirir se houvesse quebra da ligação covalente,
ficando os elétrons com o átomo mais eletronegativo.

o H+  tem Nox = +1
Para o H+Cl- 
o Cl-  tem Nox = -1

O cloro é mais eletronegativo que o hidrogênio e, em consequência, atrai o par


eletrônico covalente para si. Definido o conceito de número de oxidação, podemos abranger
e definir os termos: oxidação e redução.

Oxidação  é a perda de elétrons, tendo como consequência o aumento do


número de oxidação (Nox) do elemento.
Módulo 1 Técnico em Farmácia
327

Redução  é o ganho de elétrons, tendo como consequência a perda do número


de oxidação (Nox) do elemento.

Na Tabela 2 a seguir, é apresentado o número de oxidação usual dos elementos da


tabela periódica.

Tabela 2- Número de oxidação dos elementos na tabela periódica

Nox máximo Nox mínimo


Família
(perda de e-) (ganho de e-)
Metais alcalinos +1
Metais alcalinos terrosos +2
III A +3
IV A +4 -4
VA +5 -3
Calcogênios +6 -2
Halogênios +7 -1
* O número de oxidação de um elemento ou substância pura é zero.
Fonte: Elaborada pelo autor (2015)

9.4 Funções da Química Inorgânica

Este capítulo abordará a química inorgânica e seus elementos: ácidos, bases ou


hidróxidos, sais e óxidos.

9.4.1 Ácidos

De acordo com a definição atribuída por Arrhenius, ácidos, são substâncias


moleculares que, em solução aquosa ionizam-se, liberando como cátions somente íons H+
(H3O+). Na química inorgânica, os ácidos mais comuns no cotidiano são:

 Ácido clorídrico:

HCl  na forma impura é vendido com o nome de ácido muriático. É utilizado na


indústria, laboratórios e na limpeza de superfícies metálicas. Também está presente no
estômago fazendo parte do suco gástrico.

 Ácido sulfúrico:

H2SO4  produto fabricado e produzido em larga escala. É utilizado na fabricação


de fertilizantes, baterias de chumbo ácido, fabricação de papel e celulose e nas
petroquímicas. Também é usado como desidratante.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


328

 Ácido nítrico:

HNO3  utilizado principalmente na fabricação de explosivos, tais como


nitroglicerina (dinamite) e trinitrotolueno (TNT). Aplicado na produção do salitre, obtenção
da pólvora negra (salitre + carvão + enxofre) e usado como fertilizante.

 Ácido carbônico:

H2CO3  é o ácido das águas minerais gaseificadas e dos refrigerantes.

 Ácido fluorídrico:

HF  é venenoso e tem a capacidade de corroer o vidro, devendo ser condicionado


em frascos de polietileno. É usado na obtenção de fluoretos, como o NaF que é usado na
prevenção de cáries dentárias.

 Ácido fosfórico:

H3PO4  utilizado na fabricação de fertilizantes e como aditivo em refrigerantes.


Também sutilizado como antiferrugem.

 Ácido acético:

CH3COOH  presente no vinagre e responsável pelo odor e sabor característico.

 Ácido sulfídrico:

H2S  venenoso e letal em concentrações de 2mg/L. Paralisa os centros de


respiração e bloqueia as vias respiratórias.

 Ácido cianídrico:

HCN  altamente tóxico, pois age sobre a hemoglobina do sangue interrompendo


as reações químicas que produzem ATP.

9.4.2.1 Classificação dos Ácidos

Os ácidos podem ser classificados de três formas, conforme descrito a seguir.

 De acordo com o número de hidrogênios ionizáveis:

a) Monoácidos: na ionização, a molécula produz apenas 1 H+ (p.ex. HCl);


b) Diácidos: na ionização, a molécula produz 2 H+ (p. ex. H2SO4);
c) Triácidos: na ionização, a molécula produz 3 H+ (p. ex. H3PO4);
d) Tetrácidos: na ionização, a molécula produz 4 H+ (p. ex. H4P2O7).

Módulo 1 Técnico em Farmácia


329

Obs.: os ácidos com 2 ou mais hidrogênios ionizáveis são denominados poliácidos.

 De acordo com a presença ou não de oxigênio na molécula:

a) Hidrácidos: são aqueles que não contêm oxigênio (p. ex. HCl);
b) Oxiácidos: são aqueles que contêm oxigênio (p. ex. HNO3).

 De acordo com o grau de ionização:

a) Ácidos fortes: quando o grau de ionização é maior que 50% (p. ex. o HCl tem
α≈92% e o H2SO4 α≈62%);
b) Ácidos moderados ou semifortes: quando o grau de ionização está entre 5% e
50% (p. ex. o HF tem α≈ 8% enquanto o H3PO4 tem α≈26,5%);
c) Ácidos fracos: são aqueles com constante de ionização abaixo de 5% (p. ex. o
HCN tem α≈ 8.10-3% e o H2CO3 apresenta α≈ 18.10-2%).

9.4.2.2 Formulação dos Ácidos

Um ácido é formado pelo cátion H+ e por um átomo ou grupo de átomos com carga
negativa (ânion):

H +1 (Cl 1-
H2 +1 SO4 2-
H3 +1 PO4 3-

Observe que a carga total positiva do cátion é neutralizada pela carga negativa total
do radical negativo,

9.4.2.3 Nomenclatura dos Ácidos

O nome dos hidrácidos é dado da seguinte forma:

HxE → Ácido + nome do elemento (E, ânion) + ídrico

HCl → ácido clorídrico H2S → ácido sulfídrico


HCN → ácido HBr → ácido
cianídrico bromídrico
HF → ácido fluorídrico HI → ácido iodídrico

O nome dos oxiácidos é dado conforme descrito a seguir. Uma das maneiras mais
simples de dar nome a esses ácidos é a partir do nome e da fórmula dos ácidos padrão de
cada família, como ilustra o Quadro 6.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


330

Quadro 6- Nomenclatura dos oxiácidos


Ácido padrão Nome Família
HClO3 Ácido clórico 17 (VIIA) – Cl, Br, I
H2SO4 Ácido sulfúrico 16 (VIA) – S, Se
HNO3 Ácido nítrico
15 (VA) – N, P, As
H3PO4 Ácido fosfórico
H2CO3 Ácido carbônico 14 (IVA) - C
Fonte: Elaborado pelo autor (2015)

Observe que o nome dos ácidos apresentados acima terminam em –ico. Variando o
número de átomos de oxigênio desses ácidos, determinam-se as fórmulas e os nomes de
outros ácidos, com o uso de prefixos e sufixos apropriados aos nomes de origem.

Ácido per- -ico


.....nome do elemento..... + 1 átomo de oxigênio

Ácido -ico
.....nome do elemento.....

- 1 átomo de oxigênio
Ácido -oso
.....nome do elemento.....

- 1 átomo de oxigênio
Ácido hipo- .....nome do elemento..... -oso

Dessa forma temos:

Família 14 (IVA) - C Família 16 (VIA) – S, Se


H2CO3 → ácido carbônico H2SO4 → ácido sulfúrico
H2SO3 → ácido sulfuroso
Família 15 (VA) – N, P, As Família 17 (VIIA) – Cl, Br, I
HNO3 → ácido nítrico HClO4 → ácido perclórico
HNO2 → ácido nitroso HClO3 → ácido clórico
H3PO4 — ácido fosfórico HClO2 → ácido cloroso
H3PO3 — ácido fosforoso HClO → ácido hipocloroso
H3PO2 — ácido hipofosforoso

O ácido fosfórico pode ser desidratado de duas formas:

Desidratação intermolecular: Desidratação intramolecular:


Consiste na retirada de uma molécula de Consiste na retirada de uma molécula de água de
água de duas moléculas de ácido fosfórico. uma única molécula de ácido fosfórico.

H3PO4 + H3PO4 = H6P2O8 H3PO4


_- H2O_ _- H2O
H4P2O7 HPO3
ácido pirofosfórico ácido metafosfórico

9.4.2 Bases ou Hidróxidos

De acordo com a definição atribuída por Arrhenius, bases, são compostos que, por

Módulo 1 Técnico em Farmácia


331

dissociação iônica, liberam, como íon negativo, apenas o ânion hidróxido (OH-), também
chamado de hidroxila.

A hidroxila é responsável pelas propriedades comuns a todas as bases, constituindo


por isso o radical funcional das bases. Na química inorgânica, as bases mais comuns no
cotidiano são:

 Hidróxido de sódio:

NaOH, também chamado de soda cáustica, forma cristais opacos, fortemente higroscópico
(absorvem água) de ponto de fusão 318 °C, muito tóxico e corrosivo e bastante solúvel em
água. É uma das bases mais usadas pela indústria química, servindo na preparação de
compostos orgânicos (sabão, seda artificial, celofane), na purificação de óleos vegetais, na
purificação de derivados do petróleo, na fabricação de produtos para desentupir pias etc.

 Hidróxido de cálcio:

Ca(OH)2, conhecida como cal hidratada ou cal extinta, pois pode ser obtida da cal virgem
(CaO), pela reação com água:

CaO + H2O → Ca(OH)2

A cal virgem não PE encontrada na natureza, mas é obtida a partir da decomposição


térmica (pirólise) do CaCO3, presente em grande quantidade na crosta terrestre.

CaCO3 CaO + CO2

O Ca(OH)2 é um sólido branco pouco solúvel em água. O maior uso do hidróxido de


cálcio é na construção civil (preparação de argamassa, pintura de paredes). É usada também
na agricultura, como inseticida e fungicida, e ainda no tratamento (purificação) de águas e
esgotos.

 Hidróxido de magnésio:

Mg(OH)2, conhecido como leite de magnésia, é pouco solúvel em água. O leite de magnésia
tem aplicação como antiácido estomacal (deve-se a característica básica e não tóxica do
Mg(OH)2) e laxante (deve-se a propriedade do íon magnésio (Mg2+) em impedir a absorção
de água no intestino grosso).

 Hidróxido de amônio:

NH4+OH, não existe isolado, sendo, na verdade, uma solução aquosa do gás amônia (NH 3),
também conhecido como amoníaco.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


332

NH3(g) + H2O(l) → NH4+(g) + OH-(aq)

A amônia é um gás incolor, de cheiro forte e irritante. É preparado por síntese


direta (processo de Haber-Bosch), cujas matérias primas são extraídas do ar (N2) e da água
(H2).
N2 + 3H2 → 2NH3

É usado em limpeza doméstica, como fertilizante agrícola, na fabricação de ácido


nítrico (HNO3), na produção de compostos orgânicos e como gás de refrigeração.

9.4.2.1 Classificação das Bases

As bases podem ser classificadas em três categorias, conforme se observa a seguir.

 De acordo com o número de hidroxilas (OH-):

a) Monobases: possuem apenas uma hidroxila (p. ex. NaOH, NH4OH);


b) Dibases: possuem duas hidroxilas (p. ex. Ca(OH)2, Mg(OH)2);
c) Tribases: possuem três hidroxilas (p. ex. Al(OH)3, Fe(OH)3);
d) Tetrabases: possuem quatro hidroxilas (p. ex.Sn(OH)4, Pb(OH)4).

Não existem bases com mais de quatro hidroxilas por molécula.

 De acordo com o grau de dissociação:

a) Bases fortes: são aquelas cujo grau de dissociação é praticamente 100%. É o caso
dos hidróxidos dos metais alcalinos e dos metais alcalino-terrosos. O Mg(OH)2 é
uma exceção à regra, pois constitui uma base fraca;
b) Bases fracas: cujo grau de dissociação é, em geral, inferior a 5%. Podemos citar o
hidróxido de amônio (NH4OH) e os hidróxidos dos metais em geral, excluindo os
metais das famílias IA e IIA (alcalinos e alcalinos terrosos).

 De acordo com a solubilidade em água:

a) Solúveis: hidróxidos dos metais alcalinos como NaOH, KOH etc., e hidróxido de
amônio (NH4OH);
b) Pouco solúveis: hidróxidos dos metais alcalino-terrosos, como Ca(OH)2, Mg(OH)2,
Ba(OH)2 etc.;
c) Praticamente insolúveis: todos os demais.

9.4.2.2 Formulação das Bases

Uma base é sempre formada por um radical positivo (metal ou NH4+) ligado
invariavelmente ao radical negativo hidroxila (OH-):

Módulo 1 Técnico em Farmácia


333

Na+ (OH-
Ca2+ (OH-)2
Al3+ (OH-)3

Observe que a carga positiva do cátion é neutralizada pela carga negativa total das
hidroxilas, ( ) ( )

9.4.2.3 Nomenclatura das Bases

A nomenclatura das bases é feita da seguinte forma:

M(OH)x → Hidróxido de nome do metal

NaOH → hidróxido de sódio Ba(OH)2 → hidróxido de bário


Ca(OH)2 → hidróxido de cálcio Al(OH)3 → hidróxido de
Mg(OH)2 → hidróxido de alumínio
magnésio

Quando um mesmo elemento forma duas bases, utilizam-se algarismos romanos,


correspondente a carga, após o nome do elemento OU acrescenta-se a sufixação -ico para a
maior carga, e -oso para menor carga.

Fe(OH)2 → hidróxido de ferro II OU hidróxido ferroso


Fe(OH)3 → hidróxido de ferro III OU hidróxido férrico

Cu(OH) → hidróxido de cobre I OU hidróxido cuproso


Cu(OH)2 → hidróxido de cobre II OU hidróxido cúprico

Sn(OH)2 → hidróxido de estanho II OU hidróxido estanoso


Sn(OH)4 → hidróxido de estanho IV OU hidróxido estânico

9.4.3 Sais

De acordo com a definição atribuída por Arrhenius, sal é toda substância que sofre
dissociação, em solução aquosa, liberando pelo menos um cátion diferente de H+ e um ânion
diferente de OH- ou O2-.

Os sais são originados na reação entre um ácido e uma base (cátion da base e o
ânion do ácido) ocorrendo uma reação de neutralização total.

Ácido + Base → Sal + Água

Os sais geralmente apresentam sabor salgado e são sólidos, pois são compostos iônicos. A
maioria dos sais apresenta a coloração branca, no entanto podemos encontrar alguns sais

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


334

em cores diferentes, como é o caso p. ex. do dicromato de potássio (K 2Cr2O7) com coloração
alaranjada e do sulfato de níquel (NiSO4) de coloração azul.

Na química inorgânica, os sais mais comuns no cotidiano são descritos a seguir.

 Cloreto de sódio:

NaCl, é encontrado dissolvido na água do mar, de onde é extraído por evaporação


(processo de salinas) ou em jazidas (sal-gema). O uso industrial mais importante de NaCl é a
produção de NaOH, H2 e Cl2, pela reação:

2 NaCl + 2H2O → 2NaOH + H2↑ + Cl2↑

É matéria prima para a fabricação de outras substâncias: metal sódio (Na (s)),
bicarbonato de sódio (NaHCO3), carbonato de sódio (Na2CO3). O soro fisiológico, solução
aquosa com 0,92% em massa de NaCl, é a solução utilizada pelos paramédicos para impedir
hemorragias por perda de sangue. Outra aplicação importante está em seu uso na
conservação de carnes e de pescados.

 Nitrato de sódio:

NaNO3, encontrado no Chile, Estados Unidos e Egito, tem grande aplicação na


produção de fertilizantes e fabricação de pólvora (carvão + enxofre + NaNO 3). O nitrato de
sódio é conhecido como salitre ou nitro.

 Carbonato de sódio:

Na2CO3, comercializado na forma impura é também conhecido como soda ou


barrilha. Utilizado na fabricação do vidro comum, de acordo com a equação:

Barrilha + Calcário + areia vidro comum


(Na2CO3) (CaCO3) (SiO2)

O Na2CO3 ainda é usado também na fabricação de sabões, corantes e no


tratamento de água de piscina.

 Bicarbonato de sódio:

NaHCO3, é um antiácido estomacal, pois neutraliza o excesso de HCl no suco


gástrico.

NaHCO3 + HCl → NaCl + H2O + CO2

Quando aquecido, ocorre a liberação de CO2(g), fazendo a massa crescer na


fabricação de fermento para pães, bolos e biscoitos.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


335

2NaHCO3 Na2CO3 + H2O + CO2↑

Também é usado na fabricação de extintores de espuma.

 Hipoclorito de sódio:

NaOCl, é o componente ativo dos desinfetantes domésticos como a água sanitária.


Também vendido como “cloro” e usado no tratamento de piscinas. Sendo agente
antisséptico, é usado na limpeza de casas, hospitais etc. Em pequenas quantidades pode ser
adicionado à água para lavagem de vegetais.

 Fluoreto de sódio:

NaF, utilizado na fluoretação da água potável e fabricação de creme dental,


combatendo a incidência de cárie dentária.

 Carbonato de cálcio:

CaCO3, comum na crosta terrestre, é o componente das estalactites e estalagmites


encontradas em cavernas calcárias, nos recifes de corais e na carapaça de seres marinhos. É
muito utilizado na produção de cal virgem (CaO), da qual se obtém a cal hidratada (Ca(OH) 2),
na fabricação do vidro comum e do cimento Portland.

CaCO3 CaO + CO2


CaO + H2O → Ca(OH)2
Calcário + Barrilha + areia vidro comum
Calcário + Argila + areia cimento Portland

 Sulfato de cálcio:

CaSO4, é a matéria prima para a fabricação do giz. Usado em ortopedia na forma de


gesso, para o tratamento de ossos.

9.4.3.1 Classificação dos Sais

Sal normal: é um sal cujo ânion não possui hidrogênio ionizável (H+) e não apresenta
o ânion OH-. Obtido de uma reação de neutralização total.

2HCl + Ca(OH)2 → CaCl2 + H2O

Hidrogeno-sal: é um sal cujo ânion tem um ou mais H+. Esse sal é o resultado de
uma reação de neutralização parcial do ácido e não apresenta OH- ionizável.

H2SO4 + NaOH → NaHSO4 + H2O

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


336

Hidróxi-sal: é um sal que não tem H+ ionizável. Esse sal apresenta OH- e é o
resultado da neutralização parcial da base.

Ca(OH)2 + HCl → Ca(OH)Cl + H2O


cloreto monobásico de cálcio

Sal hidratado: apresenta em seu retículo cristalino, moléculas de água em


proporção definida. A água combinada dessa maneira chama-se água de cristalização.

CuSO4 .5H2O, sulfato de cobre II penta hidratado


CaSO4 .2H2O, sulfato de cálcio di-hidratado

9.4.3.2 Formulação dos Sais

Um sal é normalmente formado por um cátion B, proveniente de uma base, e por


um ânion A, proveniente de um ácido:

Observe que a carga positiva do cátion é neutralizada pela carga negativa do ânion,
( ) ( )

9.4.3.3 Nomenclatura dos Sais

A nomenclatura dos sais é dada por: (nome do ânion) de (nome do cátion). O nome
do ânion é derivado do ácido que o originou, devendo seguir a regra:

Ácido Ânion
-ídrico  -eto
-oso  -ito
-ico  -ato

Então ficamos da seguinte forma:

NaCl, → cloreto de sódio Na2SO3 → sulfito de sódio


CaCl2 → cloreto de cálcio Al2SO4 → sulfato de
MgCl2 → cloreto de (NH4)2SO4 alumínio
CaSO3 magnésio Cu (NO3)2 → sulfato de amônia
→ sulfito de cálcio → nitrato de cobre II

9.4.4 Óxidos

Óxido é todo composto binário, formado por dois elementos, um dos quais PE o
oxigênio (mais eletronegativo). Dentre os elementos da tabela, o único mais eletronegativo
que o oxigênio é o flúor, motivo pelo qual o OF2 não é considerado um óxido.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


337

Dentre os óxidos mais comuns no cotidiano, podemos destacar os descritos a seguir.

 Dióxido de carbono:

CO2, conhecido como gás carbônico, é incolor e inodoro. Por ser mais denso que o
ar, pode causar asfixia para concentrações acima de 5% em volume. A água mineral e os
refrigerantes gaseificados contêm gás carbônico, que reage com a água, produzindo um
meio ácido.

CO2 + H2O ⃖ H2CO3 ⃖ H+ + HCO3-

O CO2 sólido é conhecido como gelo seco.

 Peróxido de hidrogênio:

H2O2, conhecido pelo nome de água oxigenada, é um líquido incolor, que explode
violentamente quando aquecido. A solução aquosa a 3% de peróxido de hidrogênio é
vendida em drogarias e utilizada como antisséptico e alvejante. Soluções com concentração
superior a 30% de peróxido de hidrogênio são utilizadas industrialmente como alvejante de
madeiras e fibras têxteis. Os frascos de água oxigenada normalmente são escuros ou opacos,
pois a luz provoca sua decomposição:

2H2O2(aq) → 2H2O(l) + O2(g)

 Dióxido de enxofre:

SO2 é um gás incolor, tóxico, irritante e de forte odor. Obtido a partir da queima do
enxofre presente em combustíveis fósseis e compostos que contenham esse elemento. O
SO2 oxida-se em SO3. É considerado um poluente atmosférico, pois se dissolvem e reagem
com a água da chuva, formando ácidos que causam sérios problemas ambientais.

SO2 + H2O → H2SO3 (ácido sulfuroso)


SO3 + H2O → H2SO4 (ácido sulfúrico)

Óxidos de nitrogênio – NOx, os óxidos de nitrogênio (NOx) reagem com a água da


chuva e originam um tipo de chuva ácida capaz de provocar grande impacto ambiental.

2NO2(g) + H2O(l) → HNO2(aq) + HNO3(aq)

Apenas 3% dos NOx são produzidos pela atividade humana, os 97% restantes são
originados naturalmente pelas descargas elétricas.

N2 + O2 → NOx

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


338

 Monóxido de carbono:

CO, originando pela queima incompleta de combustíveis utilizados nos motores


veiculares e equipamentos industriais. O CO é um gás incolor, inodoro e tóxico, pois
apresenta uma enorme afinidade pela hemoglobina que a faz perder a sua função de captar
e distribuir o oxigênio aos tecidos, causando morte por asfixia.

 Óxido de hidrogênio:

H2O, primordial para manutenção da vida no planeta, a água representa cerca de


70% da matéria que forma a crosta terrestre. Os animais e as plantas também são
constituídos por água. A água é considerada um solvente universal.

9.4.4.1 Classificação dos Óxidos

Como os óxidos podem ser iônicos ou moleculares, não apresentam um


comportamento químico uniforme, podendo ocorrer nas seguintes formas: óxidos ácidos,
óxidos básicos e óxidos neutros.

Óxidos ácidos são compostos moleculares e em geral solúveis em água. Apresentam


caráter ácido. Reagem com a água, produzindo um ácido, ou reagem com uma base,
produzindo sal e água.

Óxido Ácido + Água → Ácido


SO3 + H2O → H2SO4
N2O5 + H2O → 2HNO3

Óxido Ácido + Base → Sal + Água


SO3 + 2NaOH → Na2SO4 + H2O
CO2 + Ba(OH)2 → BaCO3 + H2O

Os óxidos ácidos resultam da desidratação dos ácidos, razão pelo qual também são
chamados de anidros.

H2SO4 - H2O → SO3


2HClO4 - H2O → Cl2O7

Óxidos básicos são óxidos iônicos com caráter básico. Reagem com a água,
produzindo uma base, ou reagem com um ácido, produzindo sal e água.

Óxido Básico + Água → Base


Na2O + H2O → 2NaOH
BaO + H2O → Ba(OH)2

Óxido Básico + Ácido → Sal + Água


MgO + 2HCl → MgCl2 + H2O

Módulo 1 Técnico em Farmácia


339

3CaO + 2H3PO4 → Ca3(PO4)2 + 3H2O

Os óxidos básicos dos metais que não fazem parte da família IA (metais alcalinos) e
IIA (metais alcalino terrosos) foram precipitados em meio aquoso.

CuO + H2O → Cu(OH)2↓


Ag2O + H2O → 2AgOH↓

Óxidos neutros são aqueles que não reagem com água, bases ou ácidos. São
compostos gasosos, moleculares, formados por não metais. Tais óxidos não apresentam
nem caráter ácido nem básico. Os mais comuns são: NO (óxido nítrico), N 2O (óxido nitroso) e
CO (monóxido de carbono).

Peróxidos apresentam em sua estrutura o grupo (O2)2-. Os peróxidos mais comuns


são formados por hidrogênio, metais alcalinos e alcalinos terrosos.

Peróxido de Hidrogênio  H2O2


Peróxido de Metal Alcalino  Na2O2, K2O2
Peróxido de Metal Alcalino Terroso  CaO2, BaO2

Os peróxidos reagem com água produzindo a base conjugada e água oxigenada, e


reagem com ácidos produzindo sal e água oxigenada.

K2O2 + H2O → KOH + H2O2


CaO2 + 2HCl → CaCl2 + H2O2

9.4.4.2 Formulação dos Óxidos

Um óxido é formado por um elemento químico E, de número de oxidação +k,


combinado ao oxigênio, que apresenta número de oxidação -2, logo em termos gerais
temos:

9.4.4.3 Nomenclatura dos Óxidos

Adotando a fórmula geral para um óxido: ExOy

mono mono
di di
óxido de Nome E
tri tri
etc. etc.

Os prefixos mono, di, tri, etc. indicam os valores de x e y na fórmula do óxido, no


caso do prefixo mono antes do nome do elemento, este pode ser omitido.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


340

CO2 → dióxido de monocarbono ou dióxido de carbono


N2O3 → trióxido de dinitrogênio
P2O5 → pentóxido de difósforo

Para os óxidos iônicos, não é necessário especificar a quantidade de oxigênio e do outro


elemento, lembre-se que a soma das cargas dos compostos iônicos deve ser igual a zero.

Li2O → óxido de lítio


CaO → óxido de cálcio
Al2O3 → óxido de alumínio

No caso dos metais que apresentam carga variável, devemos indicar a carga do
metal em algarismo romano.

CuO → óxido de cobre II OU óxido cúprico


Cu2O → óxido de cobre I OU óxido cuproso
FeO → óxido de ferro II OU óxido ferroso
Fe2O3 → óxido de ferro III OU óxido férrico

9.5 Reações Químicas

Em nosso dia a dia nos deparamos com várias reações químicas. Durante o preparo
dos alimentos, o simples ato de nos alimentarmos, na queima de uma vela ou de
combustíveis automotivos, a formação de ferrugem, etc. Essas transformações são
chamadas de reações químicas.

Uma reação química é um fenômeno de interação onde ocorre a transformação da


matéria, por meio de um rearranjo molecular entre os elementos, originando substâncias
com propriedades diferentes daquelas que interagiram, mantendo os elementos químicos
iniciais e havendo a conservação da massa. Os compostos químicos chamados de reagentes
interagem formando outros compostos químicos chamados de produtos.

9.5.1 Equações Químicas e Iônicas

Uma equação química é a representação simbólica e abreviada de uma reação


química, representando a escrita usada pelos químicos.

Na equação química temos as fórmulas das substâncias que participam da reação e


o coeficiente estequiométrico que indica a proporção de cada molécula que participa da
reação.

2 H2 + O2 → 2 H2O
Al(OH)3 + 3 HCl → AlCl3 + 3 H2O

Reagentes → Produtos
(1º membro) (2º membro)

Módulo 1 Técnico em Farmácia


341

Já uma equação iônica é a equação química em que aparecem íons, além de átomos
e moléculas.

Para a equação química escrita na forma:

2 AgNO3 + Cu → Cu(NO3)2 + 2 Ag

Ela pode ser escrita:

2 Ag+ + Cu → Cu2+ + 2 Ag

As equações químicas também podem nos fornecer outras informações:

a) Sub índice: gás (g), vapor (v), líquido (l), sólido (s), cristal (c);
b) desprendimento de gás ( ↑ );
c) formação de precipitado ( ↓ );
d) ocorre com aquecimento ( Δ );
e) ocorre com a presença de luz ( λ );
f) é uma reação reversível ( ⃖ ).

9.5.2 Balanceamento das Equações Químicas

O balanceamento consiste em acertar os coeficientes estequiométricos da equação


química. O número total de átomos dos reagentes deve ser igual ao número total de átomos
dos produtos. O método mais simples utilizado no balanceamento de uma equação química
é o “método das tentativas”.

Veremos como balancear a reação de combustão completa do gás propano (C 3H8).


Essa reação é representada pela equação:

C3H8 + O2 → CO2 + H2O

Perceba que, o número de átomos dos reagentes não é igual ao dos produtos.
Vamos efetuar as seguintes etapas:

 1º Observe a substância na equação com o maior número de átomos na fórmula:

C3H8: 3 átomos de C e 8 átomos de H = 11 átomos

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


342

 2º Atribuiremos o coeficiente 1 a essa substância:

1 C3H8 + O2 → CO2 + H2O


3 átomos de C 1 átomo de C 2 átomos de H

8 átomos de H

Ajustando o número de átomos de C e H:


1 C3H8 + O2 → 3 CO2 + 4 H2O
3 átomos de C 3 átomo de C 8 átomos de H

8 átomos de H

 3º Agora só nos resta ajustar o coeficiente do oxigênio no 1º membro. A partir


dos coeficientes já definidos no 2º membro, temos que o número total de
oxigênio no 2º membro é:

[ 3 CO2  6 átomos de O ] + [ 4 H2O  4 átomos de O ] = 10 átomos de O

Logo, devemos ter 10 átomos de oxigênio no 1º membro, ou seja, 5 O2.

 4º A equação totalmente balanceada fica:

1 C3H8 + 5 O2 → 3 CO2 + 4 H2O


3 átomos de C 3 átomos de C
8 átomos de H → 8 átomos de H
10 átomos de O 10 átomos de O

Vamos realizar agora o balanceamento para a seguinte equação química:

Fe + H2SO4 → Fe2(SO4)3 + H2

 1º/2º Observe a substância na equação com o maior número de átomos na


fórmula, e atribua coeficiente 1 a ela:

Fe + H2SO4 → 1 Fe2(SO4)3 + H2
2 átomos de H 2 átomos de Fe
2 átomos de
1 átomos de Fe 1 átomo de S → 3 átomos de S
H
4 átomos de O 12 átomos de O
= 1 átomo = 7 átomo = 17 átomo = 2 átomo

Ajustando o nº de átomos de Fe, S e O:


2 Fe + 3 H2SO4 → 1 Fe2(SO4)3 + H2
6 átomos de H 2 átomos de Fe
2 átomos de
2 átomos de Fe 3 átomo de S → 3 átomos de S
H
12 átomos de O 12 átomos de O

Módulo 1 Técnico em Farmácia


343

 3º Agora só nos reta ajustar o coeficiente do hidrogênio no 2º membro. A partir


dos coeficientes já definidos:

[3 H2SO4  6 átomos de H], devemos ter 6 átomos de hidrogênio no 2º membro,


ou seja, 3 H2.

 4º A equação totalmente balanceada fica:

2 Fe + 3 H2SO4 → 1 Fe2(SO4)3 + 3 H2
2 átomos de Fe 2 átomos de Fe
6 átomos de H 6 átomos de H

3 átomo de S 3 átomos de S
12 átomos de O 12 átomos de O

Note que em ambos os membros temos 23 átomos.

9.5.3 Classificação das Reações Químicas

As reações químicas podem ser agrupadas em reações que serão descritas a seguir.

 Reação síntese ou de adição:

São aquelas em que dois ou mais substâncias originam um único produto. Podem
ser representadas pela equação geral:

a A + b B + ... → z Z

Veremos algumas reações típicas:

2 Mg + O2 → 2 MgO
CaO + H2O → Ca(OH)2
SO3 + H2O → H2SO4

 Reação de análise ou de decomposição:

São aquelas em que uma única substância (reagente) origina dois ou mais produtos.
O inverso da reação de síntese ou de adição.

z Z → a A + b B + ...

Podemos citar como reações de análise ou de decomposição: a pirólise, a eletrólise


e a fotólise.

- pirólise  CaCO3 → CaO + CO2


- eletrólise  2 NaCl → 2Na + Cl2

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


344

- fotólise  2H2O2 → 2 H2O + O2

 Reação de simples troca ou de deslocamento ou de substituição:

Uma substância composta reage com um metal ou não metal originando uma nova
substância simples. Seguem as equações gerais abaixo.

Equação 01 (deslocamento por metais):

AB + C → CB + A ( C deslocou A do composto AB )

CuSO4 + Zn → ZnSO4 + Cu ( Zn deslocou Cu do CuSO4 )

Vejamos a ordem decrescente da reatividade dos metais:

metais alcalinos > Metais alcalino terrosos


[ Fr > Cs > Rb > K > Na > Li ] > [ Ra > Ba > Sr > Ca > Mg > Be ]

metais comuns
[ Al > Mn > Zn > Cr > Fe > Ni > Sn > Pb > H > Cu > Hg > Ag > Pt > Au ]

Quanto maior a reatividade química, maior a nobreza do metal.

Equação 02 (deslocamento por não metais):

AB + C → AC + B ( C deslocou B do composto AB )

CaCl2 + F2 → CaF2 + Cl2 ( F2 deslocou Cl2 do CaCl2 )

Vejamos a ordem decrescente da reatividade dos não metais:

não metais
[ F > O > Cl > Br > I > S > C ]

Você pode observar que nas equações 1 e 2, C deve ser mais reativo que A ou B
para que ocorra a reação.

A ordem de reatividade pode ser expressa de forma simplificada:

metais alcalinos e outros


> > H > metais nobre
metais alcalino terrosos metais

Módulo 1 Técnico em Farmácia


345

 Reação de dupla troca ou de dupla substituição:

São reações que seguem a seguinte equação geral abaixo:

AB + CD → AD + CB

2 HCl + Mg(OH)2 → 2 H2O + MgCl2

Para que possamos saber se uma reação de dupla troca ocorre ou não, precisamos
antes avaliar:

a) a solubilidade dos reagentes e produtos (se formados);

Pb(NO3)2(aq) + 2 NaI(aq) → PbI2(s) + 2 NaNO3(aq)


solúvel solúvel insolúvel

b) a força dos reagentes e produtos (se formados);

6 NaOH(aq) + Al2(SO4)3(aq) → Al(OH)3(s) + 3 Na2SO4(aq)


base forte base fraca

c) a volatilidade dos reagentes e produtos (se formados);

NaHCO3(aq) + HCl(aq) → NaCl(aq) + H2CO3(aq)

O ácido carbônico (H2CO3) formado é muito instável e fraco, decompondo-se liberando gás
carbônico:

NaHCO3(aq) + HCl(aq) → NaCl(aq) + CO2(g) + H2O(l)


bicarbonato de
ácido forte sal gás carbônico água
sódio

Em resumos, as reações de dupla troca ocorrem quando:

Menos solúvel(is)
Os produtos: Os reagentes:
Eletrólito(s) mais fraco(s)
AD e/ou CB for(em) AB e/ou CD
Mais volátil(eis)

 Reação de oxirredução ou redox:

Para que uma reação de oxirredução ocorra, alguém deverá ter a tendência em
ceder elétrons enquanto outro deve receber elétrons. Já vimos que os metais têm sempre a
tendência em ceder elétrons, e os não metais a de receber elétrons.

As reações de oxirredução ou redox são aquelas em que há transferência de


elétrons de um reagente para outro. A perda de elétrons é denominada de oxidação, o

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


346

ganho de elétrons denominado de redução.

Ao adicionarmos o metal Zn a uma solução de ácido clorídrico (HCl), haverá


formação do sal (cloreto de zinco - ZnCl) e gás hidrogênio (H2), observado pela efervescência.

Zn0(s) + 2H+(aq) → Zn+2(aq) + H2(g)

Escrevendo a equação com o número de oxidação (nox) dos elementos


participantes:

Zn0(s) + 2H+(aq) → Zn+2(aq) + H02(g)

perde 2 e-
0 +2

ganha 2 e-
+1 0

O metal Zn0 sofre perde 2e-


  aumenta o nox  agente redutor
oxidação 0 → +2
O ácido H+ sofre ganha 2e-
  diminui o nox  agente oxidante
redução +1 → 0

Vamos a outro exemplo:

(-1→0) perdeu 1e-  aumentou nox  Cl sofre


oxidação  HCl é o agente redutor

2 K+Mn+7O-24 + 16 H+Cl- → 2 K+Cl- + 2 Mn+2Cl-2 + 5 Cl02 + 8 H2+O-

(+7 →+2) ganhou 5e-  diminui nox  Mn sofre


redução  KMnO4 é o agente oxidante

Na oxidação do cloro, observe que dos 16HCl (nox=-1), presentes, apenas 10 se


oxidam a Cl2 (nox=0) enquanto os outros 6 não sofrem oxidação, formando 2KCl e 2MnCl 2
(nox=-1 em ambos).

Para uma reação redox balanceada, o total de carga elétrica do primeiro membro é
igual ao do segundo membro. Vejamos a equação acima escrita na forma iônica:

2 MnO4- + 16 H+ + 10 Cl- → 2 Mn+2 + 5 Cl2 + 8 H2O

1º membro: 2º membro:

2 MnO4-  carga = -2
16 H+  carga = + 16 2 Mn+2  carga = +4

Módulo 1 Técnico em Farmácia


347

10 Cl-  carga = - 10

∑ ∑

9.6 Massa Atômica, Massa Molecular e Mol

Nesta seção, serão abordados conhecimentos acerca da unidade de massa atômica,


da massa atômica, massa atômica de um elemento, massa molecular, mol e constante de
Avogadro e massa molar.

9.6.1 Unidade de Massa Atômica

Para que possamos realizar a medida de uma grandeza, devemos ter como
referência uma grandeza-padrão escolhida adequadamente.

Para realizar a medição da massa dos átomos, os químicos escolheram como padrão
a massa do átomo de carbono 12C, isótopo mais comum do carbono, com número de massa
igual a 12, ao qual foi atribuída exatamente a massa de 12 unidades de massa atômica (u).

O carbono 12 apresenta 6 prótons e 6 nêutrons, sendo então constituído por 12


unidades (massa total), já que a massa de um próton e praticamente igual a massa de um
nêutron.

1u= ⁄ massa 12C = 1,66054.10-24 g ≈ massa de 1 próton ≈ massa de 1 nêutron

9.6.2 Massa Atômica

Consiste na massa do átomo medida em unidades de massa atômica. A massa


atômica expressa quantas vezes o átomo considerado é maior que ⁄ da massa de 12C.

Cuidado para não confundir massa atômica com número de massa. O número de
massa é a soma do número de prótons e de nêutrons existente no átomo. Na prática,
omitimos a unidade (u) nos valores das massas atômicas.

De acordo com a tabela mostrada anteriormente, podemos afirmar que:

a) a massa de um átomo de Ti é igual a 48;


b) a massa de um átomo de Ti é igual a 48 x massa de ⁄ do átomo do 12C;
c) a massa de um átomo de Ti é igual a 4 x massa de um átomo de 12C.

As massas atômicas dos diferentes átomos podem ser determinadas


experimentalmente com grande precisão, usando um aparelho denominado espectrômetro
de massa.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


348

Elemento Símbolo Massa atômica do átomo

Magnésio Mg ≈ 23,985 u 24 u

Alumínio Al ≈ 26,981 u 27 u

Enxofre S ≈ 32,065 u 32 u

Titânio Ti ≈ 47,867 u 48 u

Ferro Fe ≈ 55,845 u 56 u

9.6.3 Massa Atômica de um Elemento

A massa atômica de um elemento é a média ponderada das massas atômicas de


seus isótopos. Vejamos como se calcula a massa atômica do elemento magnésio, que é
constituído de três isótopos.

Isótopo Massa atômica Constituição


24
Mg 23,98504 78,99 %
25
Mg 24,98584 10,00 %
26
Mg 25,98259 11,01 %

Como a massa atômica de um isótopo é aproximadamente igual a seu número de


massa, podemos afirmar que o valor médio da massa do átomo de Mg é 24,3 u.

9.6.4 Massa Molecular

A massa molecular de uma substância, é a soma das massas atômicas de todos os


átomos que constituem a molécula.

MA do H =1u MA do Cl = 35,5 u
NaOH MA do O = 16 u CaCl2 MA do Ca = 40 u
MA do Na = 23 u

MM do NaOH = 1 + 16 + 23 = 40 u MM da CaCl2 = 35,5x2+40 = 111 u

A molécula do NaOH tem massa ⁄ vezes maior que a do 12C. Enquanto


que a do CaCl2 é de ⁄ .

Módulo 1 Técnico em Farmácia


349

9.6.5 Mol e Constante de Avogadro

Vamos observar a tabela a seguir:

Elemento e MA Massa Número de átomos (N)


He = 4 u  hélio  4g  6,02 x 1023 átomos de He
C = 12 u  massa de carbono  12 g  6,02 x 1023 átomos de C
Na = 23 u  1 átomo sódio  23 g  6,02 x 1023 átomos de Na
Al = 27 u  de alumínio  27 g  6,02 x 1023 átomos de Al
Ca = 40 u  cálcio  40 g  6,02 x 1023 átomos de Ca

Amadeo Avogadro (1776-1856) foi o primeiro cientista a conceber a ideia de que


uma amostra de um elemento, com massa em gramas numericamente igual à sua massa
atômica (MA), apresenta sempre o mesmo número de átomos (N).

Avogadro não conseguiu determinar o valor de N. Os esforços realizados ao longo


do século XX obtiveram êxito na determinação desse número N, denominado
posteriormente Número de Avogadro ou Constante de Avogadro, em homenagem ao
cientista.

Assim, como 12 unidades é uma quantidade que chamamos de dúzia, a quantidade


de 6,02 x 1023 unidades foi chamada de 1 mol.

Mol é a quantidade de matéria que contém tantas entidades elementares quantos


são os átomos de 12C contidos em 0,012 kg de 12C.

1 mol de alumínio (Al) contém 6,02 x 1023 átomos de Al.


1 mol de cloro (Cl2) contém 6,02 x 1023 moléculas de Cl2.
1 mol de cloreto de sódio (NaCl) contém 6,02 x 1023 íons Na+ e 6,02 x 1023 íons Cl-.

9.6.6 Massa Molar

É a massa que contém 6,02 x 1023 entidades representadas pela respectiva fórmula.
Sua unidade é grama mol-1 (g/mol).

platina (Pt) MA = 195 u chumbo (Pb) MA = 207 u

→ 6,02 . 1023 átomos de Pt → 6,02 . 1023 átomos de Pb


195 g ↓ 207 g ↓
← 1 mol de átomo de Pt ← 1 mol de átomo de Pb

massa molar (Pt) = 195 g/mol massa molar (Pb) = 207 g/mol

Todos os cálculos químicos são simplificados ao usarmos as quantidades de matéria


na sua unidade, ou seja, o mol, que pode ser encontrado a partir da relação entre a massa
(m) de uma amostra de substância e sua massa molar.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


350

( )
( )

Exemplo: Quantos átomos de ferro (MA Fe = 56 u) há em um prego de 11,2 g desse


metal?

Resolução: massa de Fe → m = 11,2 g massa molar do Fe → MM = 56 g/mol


( )
( )

Sabendo que:

1 mol de Fe _________ 6,02 . 1023 átomos


0,2 mol de Fe _________ X

Resposta: em 11,2 g de deste prego contém 1,20 . 1023 átomos.

Exemplo: Em um recipiente temos 17,4 kg de gás butano (C4H10). Determine:

a) a quantidade de propano;
b) o número de átomos de carbono (C → MA = 12 u) e de hidrogênio (H → MA = 1
u) contidos nessa quantidade.

Resolução: massa de C4H10 → m = 17,4 kg = 17,4 . 103 g


massa molar do C4H10 → MM = 12 x 4 + 1 x 10 = 58 g/mol

a) a quantidade de propano  número de mols

( )
( )

b)
1 mol de C4H10 ____ 4 mols de C ____ 10 mols de H
300 mols de C4H10 ____ X mols de C ____ Y mols de H

1 mol de C ____ 6,02 . 1023 átomos


1200 mols de C ____ Z

Módulo 1 Técnico em Farmácia


351

1 mol de H ____ 6,02 . 1023 átomos


3000 mols de C ____ W

9.7 Estequiometria

O conceito de estequiometria dada pelo Novo Dicionário Aurélio Século XXI da


língua portuguesa, define: parte da química em que se investigam as proporções dos
elementos que se combinam ou dos compostos que reagem.

A palavra estequiometria deriva do grego stoicheia = partes mais simples e metreim


= medida. Para realizarmos os cálculos estequiométricos, devemos conhecer as proporções
entre os elementos que reagem, com isso, a determinação das fórmulas e das equações
químicas, permite conhecer a quantidade de reagente consumido e produto formado.

Os diferentes tipos de fórmulas são: fórmula percentual; fórmula mínima ou


empírica e fórmula molecular.

Para a resolução dos problemas de cálculo estequiométrico siga as regras


fundamentais:

a) escreva a equação química mencionada no problema;


b) realize o balanceamento dessa equação;
c) estabeleça uma regra de três entre os dados e a pergunta do problema, tomando
cuidado em observar os coeficientes da equação, que poderá ser escrita em
massa, ou em volume, ou em mols, conforme as conveniências do problema.

9.7.1 Fórmula Percentual

Também chamada de fórmula percentual em massa, indica a porcentagem (%), em


massa, de cada elemento que constitui a substância. Uma forma para determinarmos a
fórmula percentual de uma substância é a partir de sua fórmula molecular.

Exemplo 01: determine a fórmula percentual do butano (C4H10), sabendo que as


massas atômicas do carbono e do hidrogênio são respectivamente, 12 e 1.

1º Passo: determinar a massa molecular da substância:


C4H10 = (4 x C) + (10 x H)
Para a massa molecular igual a 58
C4H10 = (4 x 12) + (10 x 1)
 g/mol, o carbono participa com 48 e
C4H10 = 48 + 10
o hidrogênio com 10.
C4H10 = 58 g/mol

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


352

2º Passo: determinar o percentual de cada um dos elementos:

58 ____ 100 % 58 ____ 100%


48 ____ X 10 ____ Y
X = 83 % de carbono Y = 17 % de hidrogênio  C83%H17%

Exercício resolvido: o nitrogênio pode ser fornecido às plantas na forma de três


compostos: nitrato de amônio NH4NO3, sulfato de amônio (NH4)2SO4 ou ureia CO (NH2)2. Em
qual desses três compostos temos o maior teor de nitrogênio?

A massa atômica do hidrogênio, carbono, nitrogênio, oxigênio e enxofre são


respectivamente: 1 u, 12 u, 14 u, 16 u e 32 u.

NH4NO3 (NH4)2SO4 CO(NH2)2


H= 8x1= 8 H= 4x1= 4
H= 4x1= 4 N= 2 x 14 = 28 N= 2 x 14 = 28
N= 2 x 14 = 28 O= 4 x 16 = 64 O= 1 x 16 = 16
O= 3 x 16 = 48 S= 1 x 32 = 32 C= 1 x 12 = 12
MM (g/mol) = 80 MM (g/mol) = 130 MM (g/mol) = 60

⁄ ⁄ ⁄

Podemos concluir que a ureia (CO(NH2)2) apresenta o maior teor de nitrogênio.

9.7.2 Fórmula Mínima ou Empírica

É aquela que indica a menor proporção, em números inteiros de mol, entre os


átomos dos elementos que constituem uma substância.

Para determinarmos a fórmula mínima devemos:

a) 1º calcular o número de mol de átomos de cada elemento;


b) 2º dividir os resultados pelo menor valor encontrado;
c) 3º havendo número fracionário, multiplicar pelo menor valor possível obtendo
um número inteiro.

Exemplo 02: uma amostra apresenta 60,00% de carbono (MAC = 12 u), 35,36% de
oxigênio (MAO = 16 u) e 4,44% de hidrogênio (MAH = 1 u). Determine a fórmula mínima
desta substância?

Em 100 g da amostra temos: 60,00 g de C, 35,36 g de oxigênio e 4,44 g de H.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


353

Veja o quadro construído a seguir, mostrando os passos 1 e 2.

1º o número de mol de átomos de cada 2º dividir os resultados pelo menor


elemento valor encontrado
⁄ ⁄

⁄  ⁄

⁄ ⁄

Ao realizar o segundo passo, encontramos a seguinte proporção: C2,25H2O1

3º havendo número fracionário, multiplicar pelo menor valor possível obtendo um


número inteiro. Multiplicando os números por 4  C9H8O4

A fórmula mínima ou empírica da amostra é C9H8O4.

9.7.3 Fórmula Molecular

Indica o número real de átomos de cada elemento na molécula. Uma substância


com fórmula mínima C2H6O, poderia apresentar as seguintes fórmulas moleculares: C4H12O2,
C6H18O3, C8H24O4, ..., a proporção é mantida em todos os casos.

Em alguns casos, a fórmula molecular é igual à fórmula mínima; em outros, porém,


é um múltiplo inteiro da fórmula mínima.

Exemplo 03: Determine a fórmula molecular do ácido ascórbico, massa molar 176
g/mol, sabendo que contém 41,10% de carbono, 4,54% de hidrogênio e 54,50% de oxigênio.
(Massas atômicas: C = 12 u, H = 1 u e O = 16 u).

Em 100 g da amostra temos: 41,10 g de C, 54,50 g de oxigênio e 4,54 g de H.

MMácido ascórbico = 176 g/mol  CXHYOZ

Em 176 g de ácido ascórbico:


12 . X de C
1 . Y de H
16 . Z de O

Relacionando as porcentagens em massa com as massas atômicas e a massa


molecular, temos:

176 g de ácido ascórbico ____ 12 . X de C



100 g de ácido ascórbico ____ 41,10 g de C

176 g de ácido ascórbico ____ 1 . Y de H



100 g de ácido ascórbico ____ 4,54 g de H

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


354

176 g de ácido ascórbico ____ 16 . Z de O



100 g de ácido ascórbico ____ 54,50 g de O

Fórmula molecular: C6H8O6


Note que a fórmula mínima é C3H4O3
Resposta: C6H8O6

9.7.4 Estequiometria das Reações Químicas

No século XVIII os cientistas lançaram as Leis das Combinações Químicas, servindo


como base no estudo das reações químicas, quantificando os reagentes e produtos,
expressando essas leis de forma matemática.

a) Leis ponderais: relacionam as massas dos reagentes e produtos de uma reação.


b) Lei volumétrica: relaciona os volumes dos reagentes e produtos de uma reação.

9.7.5 Lei de Lavoisier ou Lei de Conservação da Massa

Após inúmeras experiências, Antoine Laurent Lavoisier em 1774, enunciou a


seguinte lei: em uma reação química, a soma das massas dos reagentes é igual à soma das
massas dos produtos.

Sejam mA, mB, mC e mD as massas das substâncias A, B, C e D, participantes de


uma reação expressa pela seguinte equação:

A + B → C + D

Pela Lei de Lavoisier:

mA + m B = m C + m D
m reagentes = m produtos

Num sistema fechado, a massa total dos reagentes é igual à massa total dos
produtos.

Vejamos a reação de formação do hidróxido de cálcio a partir da cal livre:

CaO + H2O → Ca(OH)2


1 mol 1 mol 1 mol
56 g/mol 18 g/mol 74 g/mol
m reagentes = 74 g m produtos = 74 g

Módulo 1 Técnico em Farmácia


355

9.7.6 Lei de Proust ou Lei das Proporções Constantes

Em 1797, após exaustivas análises quantitativas com inúmeras substâncias, Joseph


Louis Proust verificou que a proporção com que cada elemento entra na formação de
determinada substância ou composição em massa era constante, independentemente de
seu processo de obtenção.

Posteriormente a Lei de Proust foi estendida a qualquer reação química: numa


reação química, há uma relação constante entre as massas das substâncias participantes.

Vamos tomar como exemplo a formação da água (H2O):

Reação: 2 H2 + O2 → 2 H2O
Nº mol: 2 mol 1 mol 2 mol
Massa molar: 2 g/mol 32 g/mol 18 g/mol
Massa: 4g 32 g 36 g
% massa: 11,11% 88,89%

A composição da água apresentará sempre uma mesma relação entre as massas de


hidrogênio e oxigênio (1:8), qualquer que seja a massa de água considerada.

Reação: Hidrogênio + Oxigênio → Água


1º Experimento: 10 g 80 g 90 g
2º Experimento: 16 g 128 g 144 g
3º Experimento: 20 g 160 g 180 g

9.7.7 Lei Volumétrica de Gay-Lussac

Publicada em 1808, a Lei da Combinação de Volumes define que: nas mesmas


condições de pressão e temperatura, os volumes dos gases participantes de uma reação
química têm entre si uma relação de números inteiros e pequenos.

Na reação entre o gás hidrogênio e o gás cloro, cujo produto é o ácido clorídrico,
temos os seguintes volumes:

Hidrogênio + Cloro → Ácido Clorídrico


10 L 10 L 20 L

Temos uma proporção de números inteiros e pequenos  1 : 1 : 2.

9.7.8 Cálculos Estequiométricos

Esta seção abordará os cinco tipos de cálculos estequiométricos.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


356

 Estequiometria envolvendo uma única substância:

Exemplo 04:

O fosfato de cálcio é o principal componente dos ossos e é usado na fabricação de


fertilizantes, denominados de superfosfatos ou hiperfosfatos, largamente consumido na
agricultura. A matéria prima utilizada pela indústria é a farinha de osso, obtida por
incineração de ossos de animais. Determine a composição percentual em massa do fosfato
de cálcio - Ca3(PO4)2. (MA: Ca=40; P=31; O=16)

Ao calcularmos a massa do Ca, P e O contidos em 100 g de fosfato de cálcio,


estamos determinando a composição percentual em massa do Ca3(PO4)2.

massa molar do Ca3(PO4)2 = (3 . Ca) + (2 . P) + (8 . O)


massa molar do Ca3(PO4)2 = (3 . 40) + (2 . 31) + (8 . 16)
massa molar do Ca3(PO4)2 = 120 + 62 + 128
massa molar do Ca3(PO4)2 = 310 g/mol

Ca3(PO4)2 Ca P O
310 g _______ 120 _______ 62 _______ 128
100 g _______ X _______ Y _______ Z

Resposta: 38,71 % de Ca; 20,00 % de P; 41,29 % de O.

 Estequiometria envolvendo uma única reação e sem excesso de reagente:

Exemplo 05:

Deseja-se neutralizar 1,46 g de HCl do estômago de um paciente. Calcule:

a) A massa de hidróxido de magnésio – Mg(OH)2 a ser ingerido;


b) A quantidade de sal formado;
c) O número de moléculas de água – H2O formada.

(MA: H = 1; Cl = 35,5; Mg = 24; O = 16)

Resolução (iremos calcular todas as alternativas para todos os participantes


envolvidos). A reação balanceada é a seguinte:

2 HCl + Mg(OH)2 → MgCl2 + 2 H2O


2 mol 1 mol 1 mol 2 mol

Calcula-se a quantidade de HCl para 1,46 g (massa molar do HCl = 1 + 35,5 = 36,5
g/mol):

Módulo 1 Técnico em Farmácia


357

A partir da estequiometria da reação determina-se a quantidade em mols dos


outros participantes da reação e suas massas:

HCl Mg(OH)2 MgCl2 H2O


2 mol ___ 1 mol ___ 1 mol ___ 2 mol
0,04 ___ X ___ Y ___ Z

( ) ( )

A partir da relação: 1,0 mol ____ 6,02.1023 moléculas

( )

Resposta:

a) 1,16 g
b) 0,02 mols de MgCl2
c) 2,40.1022 moléculas de H2O

 Estequiometria envolvendo uma reação com excesso de reagente:

Deve-se observar a quantidade (mols), num exercício numérico, dos reagentes


presentes em uma reação química balanceada, a fim de verificar se as quantidades estão ou
não na proporção indicada pelos coeficientes estequiométricos.

Se esta proporção não for atendida, haverá um reagente em excesso e outro


limitante.

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


358

Exemplo 06:

O cromo metálico pode ser produzido pela redução de Cr2O3 com Al segundo a
equação:

2 Al + Cr2O3 → Al2O3 + 2 Cr

Supondo a reação completa, determine a massa de cromo produzida pela reação de


5,4 kg de Al com 20,0 kg de Cr2O3 e a massa do reagente em excesso, se for o caso. (MA: Cr =
52; Al = 27; O = 16)

Resolução:

2 Al + Cr2O3 → Al2O3 + 2 Cr
2 mol 1 mol 1 mol 2 mol

2 Al + Cr2O3 → Al2O3 + 2 Cr
2 mol 1 mol 1 mol 2 mol
200 mol 131,6 mol X Y

O Cr2O3 está em excesso e o Al, é o reagente limitante.

Como o Cr2O3 está em excesso, devemos calcular a quantidade de todos os


envolvidos a partir do reagente limitante, isto é, 200 mol de Al.

2 Al + Cr2O3 → Al2O3 + 2 Cr
2 mol 1 mol 1 mol 2 mol
200 mol Z X Y

Cálculo da massa de cromo produzida:

Módulo 1 Técnico em Farmácia


359

Massa do reagente Cr2O3 em excesso:

A quantidade de Cr2O3 em excesso é de: ( 131,6 – 100 ) = 31,6 mol

 Estequiometria envolvendo uma reação com substâncias impuras:

Exemplo 07:

Uma amostra de 160 g de magnésio com 75% de pureza reage com oxigênio,
produzindo óxido de magnésio. Determine a massa de óxido de magnésio produzida. ( MA:
Mg = 24; O = 16 ).

Resolução:

2 Mg(s) + O2(g) → 2 MgO(s)

Dos 160 g da amostra, participa da reação apenas: 75% dos 160g = 0,75 x 160 = 120
g.

Conhecida a massa do magnésio existente na amostra, podemos calcular a massa


do produto formado:

2 Mg(s) + O2(g) → 2 MgO(s)


2 mol 1 mol 2 mol
(2 . 24) g (2 . 40) g
120 g X
X = 200 g de MgO(s)

Exemplo 08:

A decomposição térmica de uma amostra de carbonato de cálcio produziu 196 g de


óxido de cálcio. Determine a massa da amostra, sabendo que a sua pureza é de 87,50%.
(MA: Ca = 40; C = 12; O = 12)

Resolução: escrevendo a reação química balanceada:

CaCO3(S) → CaO(s) + CO2(g)

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


360

1 mol 1 mol 1 mol


100 g/mol 56 g/mol 44 g/mol
X 196

X = 350 g de CaCO3(S)

350 g de CaCO3(S) 87,50% da amostra


Y de CaCO3(S) 100% da amostra

Y = 400 g da amostra

 Rendimento/conversão de uma reação:

Exemplo 09:

O número de toneladas de H2SO4 que poderia ser produzido por dia, através de um
processo que usa 3,2 toneladas por dia de SO2, com uma eficiência de conversão de 70%, é
aproximadamente: (massa molar em g/mol: SO2 = 64; H2SO4 = 98).

SO2 + ½ O2 + H2O → H2SO4


nº moles: 1 ½ 1 1
massa molar
64 98
(g/mol):
então temos: (1 . 64) (1 . 98)
massa (g) 3,2.106 X

X = 4,9 . 106 g de H2SO4 formado teoricamente

Sendo a conversão de 70%  ( 70% x 4,9.106 ) g = 3,43.106 g = 3,43 t

São produzidos diariamente cerca de 3,4 toneladas de H2SO4.

Exemplo 10:

65 kg de zinco em pó foram atacados por ácido clorídrico, produzindo um sal e


liberando gás hidrogênio.

Zn(s) + 2 HCl(aq) → ZnCl2(aq) + H2(g)

Determine o rendimento desta reação, sabendo que a massa de hidrogênio obtida


foi de 1,5 kg. (massas atômicas: Zn = 65, H = 1)

Resolução:

Zn(s) + 2 HCl(aq) → ZnCl2(aq) + H2(g)


nº de moles 1 mol 2 mol 1 mol 1mol
massa molar 65 2

Módulo 1 Técnico em Farmácia


361

(g/mol)
então temos: ( 1 . 65 ) (1.2)
massa (g) 65.103 X

X = 2.103 g de gás hidrogênio teórico

Na realidade forma formados


apenas 1500 g de H2(g), logo o  ( )
rendimento será de:

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


362

REFERÊNCIAS

ATKINS, Peter W.; JONES, Loretta. Princípios de Química: Questionando a Vida Moderna e o
Meio Ambiente. 3ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.

ATKINS, Peter W.; PAULA, Julio de. Físico-Química, 9ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. vol. 1.

CAMPBELL. M. K. Introdução à química geral. 1ª Edição. São Paulo: CENGAGE, 2011.

KOLTZ. J. C. Química geral e reações químicas - Vol. I. 1ª Edição. São Paulo: CENGAGE, 2010.

KOLTZ. J. C. Química geral e reações químicas - Vol. II. 1ª Edição. São Paulo: CENGAGE, 2010.

Módulo 1 Técnico em Farmácia


363

ANOTAÇÕES: ______________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

TÉCNICO EM FARMÁCIA MÓDULO 1


364

_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

Módulo 1 Técnico em Farmácia

Você também pode gostar