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RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS PARA


ALIMENTAÇÃO DE PEQUENOS
RUMINANTES CONFINADOS NO
SEMIÁRIDO

1
2
EDSON MAURO SANTOS
JULIANA SILVA DE OLIVEIRA
ALEXANDRE FERNANDES PERAZZO
BETINA RAQUEL CUNHA DOS SANTOS
JOÃO PAULO DE FARIAS RAMOS
(ORGANIZADORES)

RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS PARA


ALIMENTAÇÃO DE PEQUENOS
RUMINANTES CONFINADOS NO
SEMIÁRIDO
1ª EDIÇÃO

Areia- PB
2021

3
Capa Mikaelle Sousa Dutra
Cativa Santa Inês (imagem).
Projeto Gráfico e Editoração Yohana Rosaly Corrêa

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Even3 Publicações, PE, Brasil)

R311 Recomendações técnicas para alimentação de pequenos


ruminantes confinados no Semiárido [Recurso eletrônico] /
Hactus Souto Cavalcanti...[et al.] ; organizado por Edson Mauro
Santos...[et al.] – 1. ed. – Areia: GEF - PB, 2021.

DOI: 10.29327/537993
ISBN: 9786559412709

1. Forragicultura. 2. Nutrição animal. 3. Produção de


ruminantes. I. Grupo de Estudos em Forragicultura (GEF).
II. Universidade Federal da Paraíba. III. Título

CDD 630

Elaborado por Amanda Rodrigues – CRB-4/1241

4
Sumário

Apresentação ...................................................................... 12

Capítulo 1
Confinamento a base de silagens de sorgo ........................... 13
Hactus Souto Cavalcanti, Evandra da Silva Justino
Guilherme Medeiros Leite, Liliane Pereira Santana
Natalia Matos Panosso, Diego Francisco Oliveira Coelho

Capítulo 2
Confinamento a base de silagem de milheto ......................... 36
Liliane Pereira Santana, Maria Alyne Coutinho Santos
Gabriel Ferreira de Lima Cruz, Rosângela Claurenia da Silva
Ramos, Rafael Lopes Soares, Guilherme Medeiros Leite

Capítulo 3
Confinamento a base de silagem de cana-de-açúcar ............ 56
Guilherme Medeiros Leite, Paloma Gabriela Batista Gomes
Danillo Marte Pereira, Yohana Rosaly Corrêa
Mikaelle de Sousa Dutra, Rafael Lopes Soares

Capítulo 4
Confinamento a base de capim-buffel.................................... 78
Diego de Sousa Vieira, Daiane Gonçalves dos Santos
Hactus Souto Cavalcanti, Francisco Naysson de Sousa
Santos, Natália Matos Panosso, Gilberto de Carvalho Sobral

5
Capítulo 5
Confinamento a base de dieta com alta proporção de palma
forrageira ............................................................................. 100
Diego Francisco Oliveira Coelho, Paulo da Cunha Tôrres
Júnior, Maria Evelaine de Lucena Nascimento
Arinaldo Fernandes Matias Filho, Antoniel Florêncio da Cruz
Francisco Naysson de Sousa Santos, Rosângela Claurenia da
Silva Ramos

Capítulo 6
Confinamento a base de leguminosas conservadas ........... 126
Francisco Naysson de Sousa Santos, Mikaelle de Sousa Dutra
Diego de Sousa Vieira, Gilberto de Carvalho Sobral
Evandra da Silva Justino, Gabriel Ferreira de Lima Cruz

Capítulo 7
Silagens na forma de ração.................................................. 146
Danillo Marte Pereira, Raniere de Sá Paulino, Arinaldo
Fernandes Matias Filho, Diego Francisco Oliveira Coelho,
Maria Alyne Coutinho Santos, Evandra da Silva Justino

Capítulo 8
Confinamento a base de subprodutos ................................. 164
Yohana Rosaly Côrrea, Izabelly Alves Pontes, Paloma
Gabriela Batista Gomes, Daiane Gonçalves dos Santos,
Raniere de Sá Paulino, Nelquides Braz Viana

Capítulo 9
Confinamento a base de grão de milho reidratado ............... 185
Rafael Lopes Soares, Thays Bianca Lira Viana
Paulo da Cunha Tôrres Júnior, Izabelly Alves Pontes
Antoniel Florêncio da Cruz, Mikaelle de Sousa Dutra

6
Capítulo 10
Confinamento de ovinos consumindo silagem de milho sem
espiga aditivada com palma forrageira ................................ 211
Gilberto de Carvalho Sobral, Maria Evelaine de Lucena
Nascimento, Nelquides Braz Viana, Danillo Marte Pereira,
Paloma Gabriela Batista Gomes, Daiane Gonçalves dos
Santos

Capítulo 11
Produção de cabritos mamões ............................................ 230
Rosângela Claurenia da Silva Ramos, Nelquides Braz Viana
Hactus Souto Cavalcanti, Thays Bianca Lira Viana
Diego de Sousa Vieira, Maria Alyne Coutinho Santos

Capítulo 12
Características de carcaça e qualidade de carne no
Semiárido............................................................................. 246
Gabriel Ferreira de Lima Cruz, Natália Matos Panosso
Yohana Rosaly Corrêa, Liliane Pereira Santana
Maria Evelaine de Lucena Nascimento, Raniere de Sá Paulino
Paulo da Cunha Tôrres Júnior.

7
Lista de Autores

Antoniel Florêncio da Cruz


Mestrando em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

Arinaldo Fernandes Matias Filho


Graduando em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

Daiane Gonçalves dos Santos


Mestranda em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

Danillo Marte Pereira


Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

Diego de Sousa Vieira


Mestrando em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

Diego Francisco Oliveira Coelho


Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

Evandra da Silva Justino


Doutoranda em Zootecnia, Universidade Federal do
Ceará, Campus Pici, Fortaleza-CE, Brasil.

8
Francisco Naysson de Sousa Santos
Pós-Doutorando, Universidade Federal do Maranhão,
Campus de Chapadinha, Chapadinha-MA, Brasil.

Gabriel Ferreira de Lima Cruz


Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal de
Viçosa, Campus Viçosa, Viçosa-MG, Brasil.

Gilberto de Carvalho Sobral


Mestrando em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

Guilherme Medeiros Leite


Mestrando em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

Hactus Souto Cavalcanti


Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

Izabelly Alves Pontes


Graduanda em Agronomia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

Liliane Pereira Santana


Mestra em Zootecnia, Universidade Federal da Paraíba,
Campus II, Areia-PB, Brasil.

Maria Alyne Coutinho Santos


Graduanda em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

9
Maria Evelaine de Lucena Nascimento
Mestranda em Ciência Animal, Universidade Federal de
Campina Grande, Campus de Patos, Patos-PB, Brasil.

Mikaelle de Sousa Dutra


Doutoranda em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

Natália Matos Panosso


Médica Veterinária, Universidade Federal da Paraíba,
Campus II, Areia-PB, Brasil.

Nelquides Braz Viana


Graduando em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

Paloma Gabriela Batista Gomes


Graduanda em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

Paulo da Cunha Tôrres Júnior


Graduando em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

Rafael Lopes Soares


Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

Raniere de Sá Paulino
Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

10
Rosângela Claurenia da Silva Ramos
Doutora em Produção de Ruminantes, Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, Campus Juvino Oliveira,
Itapetinga-BA, Brasil.

Thays Bianca Lira Viana


Mestranda em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

Yohana Rosaly Corrêa


Doutoranda em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba, Campus II, Areia-PB, Brasil.

11
APRESENTAÇÃO

O livro “RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS


PARA ALIMENTAÇÃO DE PEQUENOS
RUMINANTES CONFINADOS NO SEMIÁRIDO” é
uma iniciativa do Grupo de Estudos em Forragicultura
(GEF) da Universidade Federal da Paraíba, como forma de
traduzir os resultados da pesquisa para uma linguagem
mais acessível para o público de estudantes, produtores e
técnicos da área agropecuária, de forma a apresentar para
a cadeia pecuária do Semiárido recomendações técnicas
para o confinamento de pequenos ruminantes. São
abordados ao longo dos capítulos detalhes das técnicas de
conservação de volumosos, do uso de volumosos
conservados na formulação de rações e da resposta
bioeconômica dos confinamentos de caprinos e ovinos. A
nossa expectativa é que esse livro alcance grade parte dos
agentes da cadeia produtiva de caprinos e ovinos do
Semiárido Brasileiro.

12
Capítulo 1

CONFINAMENTO A BASE DE
SILAGENS DE SORGO
Hactus Souto Cavalcanti
Evandra da Silva Justino
Guilherme Medeiros Leite
Liliane Pereira Santana
Natália Matos Panosso
Diego Francisco Oliveira Coelho

1 Introdução

As silagens de sorgo são amplamente utilizadas na


produção animal em diversas partes do mundo. Por se
tratar de uma cultura adaptada a condições de clima
tropical, seu uso é altamente difundido no Brasil e,
principalmente, nas regiões Semiáridas. Além da
estacionalidade na produção de forragens nessas regiões,
quando se busca intensificar a produção de ruminantes, é

13
fundamental que se tenha a prática de confeccionar
silagens com culturas de produtividade expressiva.
Os principais benefícios obtidos ao se utilizar
silagens é que há disponibilidade de material com
qualidade por longos períodos e, principalmente, pela
possibilidade de se estocar a quantidade desejada. Com
isso, se a produção animal é feita de forma mais intensiva,
pode-se ensilar a forragem em quantidade suficiente que
atenda a demanda dos animais por todo o período de
produção. No entanto, deve-se atentar para alguns
processos, uma vez que estes podem determinar o sucesso
ou o fracasso da ensilagem.
Nesse sentido, os tópicos a seguir tratarão sobre os
pontos-chave no processo de ensilagem, como é a resposta
animal quando se utiliza dietas balanceadas à base de
silagens de sorgo e qual o retorno financeiro esperado.

2 Como produzir ou adquirir as silagens

Para ter uma boa silagem é necessário


compreender que o ponto inicial do processo é a forragem
utilizada, onde a escolha do cultivar é essencial e deve ser

14
realizada com base nas condições de solo e clima da região
onde se pretende produzir. Nesse sentido, é importante que
seja feita a análise de solo na área desejada para o plantio
e, com base nos resultados, realizar as correções de solo
com calcário (se necessário). As recomendações de
adubação da cultura (Tabela 1) vão depender das
condições do solo da propriedade, lembrando que um solo
fértil e com disponibilidade de água permite que as plantas
tenham maior produtividade. O cultivo do sorgo no
período chuvoso é recomendado por se dispensar a
necessidade de irrigação, além do que essa cultura é
tolerante a condições de déficit hídrico.
Existem no mercado diversos cultivares de sorgo
disponíveis, como os forrageiros, sacarinos, graníferos e
duplo propósito (forragem e grão). Para fins de ensilagem,
é importante que o cultivar apresente uma alta produção
do forragem, com boa proporção de panícula (cacho), pois
esta fração é a mais nutritiva, digestível e que eleva o teor
de matéria seca da planta (PERAZZO et al., 2013; PINHO
et al., 2015).

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Tabela 1. Recomendação de adubação para a cultura do sorgo
forrageiro
Teor no solo Plantio Cobertura
Nitrogênio (N) (kg ha-1)
- 30 60
-3 -1
mg dm Fósforo (P) (kg ha )
<11 60 -
11-30 40 -
>30 20 -
cmolc dm-3 -1
Potássio (K) (kg ha )
<0,12 30 -
0,12-0,38 20 -
>0,38 - -
Espaçamento e adubação orgânica

Espaçamento 0,8 m entre linhas com 12 plantas por


metro

Matéria orgânica Havendo disponibilidade, aplicar 30 m3


ha-1 de esterco ou 15 m3ha-1 de cama de
frango
Fonte: adaptado de IPA (2008).

Alguns estudos mostram que os cultivares


forrageiros e de duplo propósito tem boa proporção de
panículas, colmos e folhas, sendo desejáveis para a
produção de silagens (Tabela 2). O cultivar ideal é aquele
que produza grande quantidade de forragem por hectare e
ainda assim produza uma alta quantidade de folhas e grãos.

16
Tabela 2. Produção de matéria verde (PMV), produção de
matéria seca (PMS), componentes botânicos e teor de matéria
seca (MS) nos principais cultivares de sorgo destinados à
ensilagem.

F= Folha; C= Colmo; P= Panícula; * Teor de matéria seca do sorgo


colhido com o grão no estágio pastoso (aproximadamente 100 dias).
Fonte: adaptado de 1Perazzo et al. (2013);2Perazzo et al. (2017);
3
Gomes et al. (2006).

3 Como conservar o sorgo

Ao produzir silagem de sorgo, deve-se atentar


inicialmente para os aspectos do cultivar utilizado, onde
os cultivares forrageiros mostram um adequado padrão de
fermentação (BEHLING NETO et al., 2017). A colheita
do sorgo no tempo certo (aproximadamente 100 dias após
o plantio) é fundamental para aliar os pontos desejáveis da

17
cultura, como a boa composição nutricional, alta produção
e adequado teor de matéria seca. Devido as variações
climáticas em cada região, é interessante considerar não
apenas a idade da planta, mas sim o estágio de
crescimento, pois quando o sorgo apresentar o grão no
estágio pastoso recomenda-se a realização da colheita,
pois nesse ponto obtêm-se os benefícios citados acima.
Outro problema que pode ocorrer se não colhermos o grão
no estágio ideal, é que pode ocorrer ataques de pássaros,
os quais podem consumir boa parte dos grãos produzidos.
Ao fazer o corte nessa fase consegue-se atender os
requisitos básicos para que haja uma boa fermentação,
como o teor de matéria seca de 30 a 35% e teor de
carboidratos solúveis de 6 a 12% (MCDONALD;
HENDERSON; HERON, 1991). Ao vedar o silo, os
carboidratos presentes na planta serão convertidos em
ácidos orgânicos (ácido lático, ácido acético, entre outros),
num processo conhecido como fermentação, onde esses
ácidos vão inibir o desenvolvimento de microrganismos
indesejados que são responsáveis pela deterioração da
silagem (PAHLOW et al., 2003). Para que esse efeito seja
obtido, é preciso que o processo de ensilagem seja

18
conduzido de maneira eficiente onde a colheita, a
trituração (com partículas de 2 cm), a compactação e
vedação do material sejam feitos de maneira adequada e o
mais rápido possível a fim de evitar perdas nesse processo.
As silagens de sorgo por si só são bem fermentadas
e acidificam bem, preservando sua qualidade nutricional e
com perdas reduzidas. Entretanto, ao abrir os silos, essas
silagens têm uma tendência de esquentarem em poucas
horas e esse processo é conhecido como deterioração
aeróbia. Isso acontece porque os microrganismos
indesejáveis que foram inibidos durante a fermentação
retomam sua atividade quando o silo é aberto, ou seja, a
entrada de ar causa todo esse problema (WILKINSON;
DAVIES, 2013). Por isso que é altamente recomendado
fazer a vedação do material rapidamente, deixando o silo
isolado, pois se algum animal perfurar a lona o ar entra e
faz com que a silagem estrague, tornando inviável a
alimentação dos rebanhos.
Mesmo com esses cuidados, após abrir o silo o
processo de aquecimento da silagem é verificado nas
silagens de sorgo e algumas técnicas devem ser utilizadas
para preservar essa silagem por mais tempo. Em estudo

19
realizado por Santos et al. (2018), foi demonstrado que a
adição de 2% de ureia (com base na matéria seca) nas
silagens de sorgo aumentou o teor de proteína bruta das
silagens (de 3,0 para 7,6%), melhorou as características
fermentativas e diminuíram as perdas, entretanto, a adição
de ureia não foi suficiente para melhorar a estabilidade
aeróbia, pois as silagens se deterioraram (aqueceram) com
aproximadamente 12 horas após a abertura dos silos,
independentemente do nível de ureia utilizado. Nesse
sentido, é importante destacar que os inoculantes
microbianos heterofermentativos (como o Lactobacillus
buchneri) melhoram a estabilidade aeróbia das silagens,
pois estes produzem ácido acético, que é capaz de inibir os
microrganismos que iniciam a deterioração das silagens
(leveduras).
Silagens de sorgo inoculadas (Figura 1A) também
são uma realidade mundial, observando-se que há boa
preservação do alimento durante a ensilagem e,
principalmente, depois da abertura dos silos. Alguns
trabalhos de pesquisa mostraram que silagens inoculadas
passaram cinco dias sem se deteriorarem, ou seja,
praticamente não aqueceram. Além disso, houve menos

20
perdas de nutrientes pela melhoria da fermentação
(FILYA, 2003; FILYA; SUCU, 2007; WEINBERG et al.,
1999, 2011).
Outra técnica utilizada atualmente é a mistura do
volumoso (forragem) com o concentrado no momento da
ensilagem (Figura 1B). Tem se obtido efeitos positivos
advindos dessa mistura, como as melhorias na qualidade
do alimento, na fermentação e também na logística
operacional na fazenda, pois o concentrado que deveria ser
misturado diariamente durante o confinamento já está
armazenado dentro do silo (CARVALHO et al., 2016;
VIANA et al., 2013).
Alguns experimentos tem sido realizados
buscando encontrar as proporções ideais de mistura do
volumoso com o concentrado e, em estudo recente, Justino
(2021) relatou que a silagem mista de sorgo forrageiro
com 20% de torta de algodão moída promoveu melhorias
na qualidade da silagem e reduziu as perdas, pois abrindo
os silos aos 90 dias, o pH da silagem ficou na faixa ideal
(4,0), com elevação do teor de matéria seca e da proteína
bruta das silagens (foi de aproximadamente 37% de
matéria seca e 16% de proteína bruta, respectivamente).

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Além disso, as perdas durante a fermentação foram
menores que 5% do total, consideradas muito baixas. Com
relação à estabilidade aeróbia dessas silagens, observou-se
que a deterioração iniciou-se somente 80 h após expor a
silagem ao ar, permitindo que as silagens possam ser
fornecidas aos animais até esse tempo.
A produção de silagens mistas (Figura 1C) resulta
em um material de qualidade com a possibilidade de
ensilar um concentrado quando seu preço está em baixa,
além do que diminui os riscos de perdas por ataque de
roedores (ratos) e proliferação de mofos nos galpões de
armazenamento.

Figura 1 A. Sorgo forrageiro cv. BRS Ponta Negra sendo


pulverizado com inoculante microbiano. B. Ensilagem do sorgo
forrageiro cv. BRS Ponta Negra com 20% de torta de algodão.
C. Silagem mista de sorgo forrageiro com torta de algodão.

Fonte: elaborado pelos autores (2021).

22
4 Como formular dietas para os animais

Como o sorgo pode ser ensilado em mistura com


outros ingredientes, tem-se a vantagem de determinar a
dieta que mais se adequa a cada realidade, ou seja,
utilizando os ingredientes disponíveis na propriedade em
proporções ideais de forma que impacte positivamente o
desempenho animal. Para isso, é fundamental que, além de
volumosos, a alimentação dos animais seja acrescida de
uma mistura de concentrados, minerais e algumas
vitaminas, que podem ser adquiridos em comércios
agropecuários. Dessa forma, os principais ingredientes
utilizados nas dietas são o grão de milho moído, farelo de
soja, farelo de trigo, farelo de algodão, torta de algodão e
suplemento vitamínico/mineral, sendo alguns usados nas
formulações abaixo (Tabela 3 e Tabela 4).

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Tabalo 3. Formulação de dieta a base de silagem de sorgo para
confinamento de ovinos*.

Mistura Mistura
Alimentos
(MS%) (MN%)
Silagem de sorgo ponta Negra 50,15 73,62
Milho 34,66 18,45
Farelo de Soja 10,80 5,78
Ureia 0,64 0,32
Cloreto de Amônio 0,81 0,99
Sal Mineral 2,02 0,45
Calcário 0,92 0,39
*Dietas com 16% de proteína bruta, formuladas para ganho de peso
de 200 g/dia. Fonte: adaptado de Gois et al. (2017).

Tabalo 4. Formulação de dieta a base de silagem de sorgo


para cabras leiteiras*.
Mistura Mistura
Alimentos
(MS%) (MN%)
Silagem de sorgo 68,16 85,52
Farelo de milho 18,08 8,23
Farelo de Soja 12,79 5,85
Ureia 0,22 0,09
Núcleo mineral 0,75 0,31
*Dieta com 12,7% de proteína bruta, formulada para cabras em
lactação produzindo 2 kg leite/dia. Fonte: adaptado de Ramos et al.
(2017).

5 Como fornecer as dietas para os animais

As dietas podem ser fornecidas aos animais nos


horários de 7h30 e 15h30 na forma de ração completa,

24
onde a silagem é misturada com os demais ingredientes
(concentrados, sal mineral...) e fornecida aos animais no
cocho em quantidade suficiente que atenda suas
necessidades diárias.
O consumo dos animais vai variar de acordo com
o sexo, idade, peso, estado fisiológico (prenhez, lactação,
mantença...) e condições climáticas (NRC, 2007). Sob
condições de confinamento, por exemplo, tendo ovinos
machos não castrados, sem padrão racial definido, com 20
kg de peso vivo inicial, o consumo de um animal pode
variar de 4 a 5% do seu peso vivo, ou seja, 0,8 a 1 kg de
matéria seca por dia (2 a 2,5kg de matéria natural por dia,
respectivamente, considerando que a dieta contenha 40%
de matéria seca). Assim, se uma baia coletiva tem 10
animais o consumo estimado para esses animais será
multiplicado pelo número de animais na baia, ou seja, será
necessário dispor de 20-25 kg/dia da dieta em questão para
arraçoar os 10 animais nas baias (Figura 2).
Vale salientar que essa quantidade fornecida é a
quantidade exata demandada pelos animais não sendo
aconselhável adotar tal prática. Por isso, recomenda-se
fornecer o alimento na quantidade exigida (25 kg, por

25
exemplo) somando mais 15% no oferecido aos animais,
desse modo, seria fornecido aos 10animais 28,75 kg de
ração/dia.

Figura 2. Confinamento de ovinos alimentados com dietas a


base de silagem de sorgo aditivada com torta de algodão.
Fonte: elaborado pelos autores (2021).

Fonte: Acervo pessoal

Assim, para arraçoar os animais duas vezes ao dia


seriam fornecidos 14,4 kg de manhã e a tarde. Outro ponto
importante é a observação dos cochos no dia-a-dia, sempre
pela manhã, pois se mesmo com esse adicional no

26
oferecido sobrar pouco alimento, deve-se ir ajustando a
oferta de alimento de forma que fiquem sobras nos cochos,
indicando que o animal pôde escolher bem e rejeitou as
partes menos digestíveis (materiais mais fibrosos como
folhas velhas/secas, pedaços de colmos duros e mal
triturados, frações mal fermentadas e/ou que contenham
mofo).

6 Desempenho animal esperado

O desempenho dos animais avaliados nos


experimentos tem sido satisfatório, uma vez que o tempo
de confinamento dificilmente ultrapassa os 70 dias e,
durante esse período, os animais conseguem ganhar de 11
a 14 kg, como pode ser visto na Tabela 5.
Avaliando a substituição da silagem de milho por
silagem de sorgo na dieta de vacas holandesas, Venturini
(2019) relatou que independentemente do nível de
substituição utilizado não foram observadas diferenças na
produção de leite dos animais (≈30 kg/dia) nem nos
sólidos do leite, indicando que as silagens de sorgo podem

27
substituir totalmente as silagens de milho em dietas para
vacas leiteiras.

Tabela 5. Desempenho de ovinos de corte alimentados


com dietas à base de silagens de sorgo

CMS = consumo de matéria seca (kg/dia); PI = peso vivo inicial dos


animais (kg); PF = peso vivo final dos animais; GPD = ganho de peso
diário (g/animal/dia); 1silagens de sorgo aditivadas com inoculante
microbiano (L. buchneri); 2silagens de sorgo aditivadas com 1% de
ureia; 3silagens de sorgo aditivadas com inoculante e ureia.

7 Retorno financeiro esperado

Os custos de produção de silagens de sorgo variam


de acordo com cada região. Da mesma maneira, o preço
dos animais e os insumos usados na alimentação dos
mesmos vão variar conforme cada região e,
principalmente, em função da época do ano por conta das
oscilações de oferta e demanda. Assim, o produtor deve

28
contabilizar os gastos com insumos, sementes,
medicamentos, concentrados, mão-de-obra, aquisição de
animais e calcular quanto será obtido de receita ao vender
os animais ou os produtos gerados por eles (carne ou leite)
(Tabela 6). Ao contabilizar o que foi gerado de renda e
descontando os gastos, tem-se os lucros da produção e,
com isso, o produtor tem na mão uma ferramenta
imprescindível para monitorar e organizar seu sistema de
produção.

Tabela 6. Análise econômica dos custos de produção de sorgo


forrageiro cv. Ponta Negra para ensilagem no confinamento de
ovinos*
Item Valor

Custo total da lavoura (R$/ha) 3.540,18


Custo da produção de silagem (R$/t) 63,35
Custo da silagem na dieta (R$/animal/dia) 0,15
Custo do concentrado na dieta (R$/animal/dia) 0,65
Custo total da dieta (R$/animal/dia) 0,80
Receita líquida (R$/carcaça) 80,57
*Custos calculados com base em uma dieta com relação
volumoso:concentrado de 50:50 (na matéria seca) como exposto na
Tabela 3. Fonte: adaptado de Cândido et al. (2015).

29
8 Considerações finais

A adoção das técnicas aqui discutidas deve ser


realizada com base nos recursos financeiros, materiais, de
infraestrutura e pessoal disponíveis, salientando que a
segurança alimentar dos animais por meio da produção de
silagens possibilita o sucesso do produtor. Assim, a
adequação das técnicas deve ser feita com base nas
condições de cada propriedade e, principalmente, sob
orientação de um profissional qualificado da área.

9 Referências bibliográficas

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35
Capítulo 2

CONFINAMENTO A BASE DE
SILAGEM DE MILHETO
Liliane Pereira Santana
Maria Alyne Coutinho Santos
Gabriel Ferreira de Lima Cruz
Rosângela Claurenia da Silva Ramos
Rafael Lopes Soares
Guilherme Medeiros Leite

1 Introdução

O milheto (Pennisetum glaucum (L.) R. Br.) é uma


forrageira de clima tropical, anual, de hábito ereto, porte
alto, com desenvolvimento uniforme e bom
perfilhamento, vem sendo uma forrageira bastante
utilizada estrategicamente para a produção de silagem em
períodos de safrinha em regiões que se caracterizam por
apresentar problemas com veranico ou seca

36
(GUIMARÃES Jr. et al., 2010). É considerado uma
alternativa excelente para utilização em forma de silagem,
porque dentre suas inúmeras vantagens, contêm um alto
teor de proteína bruta, o que faz de si uma planta com
grande potencial em utilização na alimentação animal em
sua forma conservada para suprir demandas nos períodos
de estiagem e escassez de alimento (SILVA, 2016).
A criação de animais ruminantes, especialmente
ovinos e caprinos é importante para a produção de
alimentos no Nordeste brasileiro, onde se encontra um dos
maiores rebanhos do país. Para que os animais mantenham
altos níveis de produção ao longo do ano, é necessário o
uso de volumosos de qualidade também no período seco,
uma vez que a demanda por alimentos permanece durante
todo o ano. Entre os meios usuais de conservação de
forragens, a ensilagem, é extremamente favorável, pois,
além de conservar o alimento, permite preservar o que há
de mais valioso no período seco, a água.
Por meio das informações contidas neste capítulo,
busca-se passar aos produtores informações que permitam
a elevação da produtividade do seu rebanho, por meio da

37
prática e aprimoramento do manejo do milheto em suas
propriedades.

2 Produção de Milheto

O milheto apresenta boa tolerância ao estresse


hídrico, a solos ácidos, de média e baixa fertilidade sendo
esses fatores que limitam o cultivo de milho e sorgo
(RODRIGUES; PEREIRA FILHO, 2016). Por essa razão,
pode ser uma alternativa de cultivo em solos de menor
fertilidade natural. Além do bom valor nutritivo o milheto
possui uma boa capacidade de rebrota, o que favorece uma
boa produção de forragem em pouco tempo
(BERNARDES; TAO, 2020).
Resultados encontrados em trabalhos realizados
em condições de semiárido paraibano com milheto
alcançaram bons ganhos em produtividade conforme
mostram as Tabelas 1 e 2.

38
Tabela 1. Produção de milheto no Semiárido Paraibano.

Autores Cultivar PMVT PMS


Pinho et al. (2013) CMS 03 11,850 3,410
Perazzo et al. (2013) - 62,000 -
Pinho et al. (2014) ADR 7010 - 2,245
PMVT = Produção de Massa Verde toneladas por hectare; PMST =
Produção de Matéria Seca toneladas por hectare.

Tabela 2. Produção de biomassa de forragem e de silagem (em


quilogramas na matéria natural e matéria seca) de milheto
cultivado em sistema de sequeiro no semiárido brasileiro.

Variável Milheto (1,0 ha)


1 19.513,9
2 7.704,1
3 16.586,8
4 6.548,5
5 40
1=Produção de biomassa total de matéria natural (kg por hectare);
2=Produção de biomassa total de matéria seca (kg por hectare);
3=Produção de matéria natural de silagem (kg por hectare;
4=Produção de matéria seca de silagem (kg por hectare);
5=Quantidade de ovinos em produção possíveis de serem alimentados
na época seca (240 dias).
Adaptado de Pompeu et al. 2013

A grande tolerância dessa cultura à seca deve-se ao


crescimento de suas raízes, que podem alcançar 3,60 m de
profundidade, e à sua eficiência na transformação de água
em forragem, pois necessita de cerca 300 a 400 g de água

39
para produzir 1 g de matéria seca (SKERMAN;
RIVEROS, 1992, citados por BONAMIGO, 1999),
quantidade muito inferior ao que precisa a cultura do
milho, por exemplo.
A cultura do milheto é estabelecida por sementes,
jogadas a lanço ou plantadas em sulcos. O plantio a lanço
pode ser em área sem cultura instalada ou em área
cultivada com cultura em estádio de colheita
(sobressemeadura).

Figura 1: Estabelecimento de milheto em área experimental


na região de semiárido paraibano.

Fonte: Acervo pessoal

40
Nessas condições, a semeadura a lanço pode ser
feita manualmente, com equipamento aplicador de
calcário ou por avião (PEREIRA FILHO et al., 2003),
sendo que as sementes devem ser incorporadas levemente
com grade niveladora, tanto após a colheita da cultura de
verão como na primavera (BONAMIGO, 1999).
Para produção de forragem para ensilagem, a
época de semeadura segue o regime de chuvas local. No
entanto, o milheto, em virtude de sua rusticidade, pode ser
semeado nos meses finais do período de chuvas, visando à
produção de silagem em período de safrinha, após a
colheita da cultura principal (KICHEL et al., 1999).
Pesquisas com milheto no Nordeste brasileiro,
apontam que o rendimento forrageiro foi de 1,2 a 7,5
toneladas de matéria seca por hectare, em Pernambuco, e
de 2,7 a 5,6 toneladas de matéria seca por hectare, na
Paraíba (LIRA et al., 1977). Salienta-se que o milheto
produz em condições de semiárido de 50 a 60% do que
produz o sorgo forrageiro. No entanto, possui melhor valor
nutritivo, por apresentar maior teor de proteína e ser mais
digestível pelos ruminantes. Nesse caso, continua sendo

41
uma excelente opção, principalmente em situações ou em
anos de previsão de menores quantidades de chuva.
Quando o milheto for utilizado como plantade
cobertura de solo em sucessão a uma gramínea (milho,
sorgo etc.), recomenda-se aplicação de 20 a 30 kg de
nitrogênio por hectare, nasemeadura, juntamente com o
fósforo e potássio, senecessários (Tabela 2). Quando o
milheto for utilizado com forragem (pastejo ou silagem),
além da aplicação do nitrogênio na semeadura (20 a 30
kg/ha), recomenda-sea aplicação de 60 a 80 kg de
nitrogênio por hectare emcobertura no início do
perfilhamento. De qualquer modo, quando comparado
com milho ou sorgo, as exigências de nutrientes do
milheto são inferiores, como demonstrado na tabela de
recomendação abaixo. Recomenda-se sempre a
consultoria técnica especializada para indicar as
quantidades de nutrientes, bem como de adubos para o
plantio do milheto.

42
Tabela 3. Recomendações de adubação fosfatada e potássica do
milheto com base na finalidade de exploração e na análise de
solo.

FE = Finalidade de exploração; CS = Cobertura do solo; FPS =


forragem, pastejo ou silagem.
Adaptado de Pereira Filho et al. 2003.

2 Método de conservação do milheto

O milheto é considerado uma otima opção para


produção de silagem, por ser uma planta de clima tropical,
produtiva, em função da sua rusticidade e adaptação a plantios
de fim de verão e princípio de outono, o milheto é uma
alternativa interessante para produção de alimento conservado
em regiões com problemas de ou seca em plantios de sucessão
ou safrinha, após a colheita da cultura principal
O momento adequado de colheita do milheto para
confecção de silagem se dá quando seus grãos encontram-
se em estádio pastoso-farináceo, no entanto, nesse
momento, a planta apresenta teor de matériaseca baixo,
entre 20 e 23 %. Apesar disso, é possível produzir silagens

43
com bom padrão fermentativo. Em função da intensa
fermentação dessas silagens, é recomendado que as
mesmas sejam abertas em um periodo maior para obtenção
de uma melhor estabilidade dessas silagens após a abertura
dos silos, evitando-se perdas de silagem por ocorrência de
mofos ou apodrecimento. Além disso o uso de aditivos
absorventes de umidade e ou inoculantes devem ser
considerados para melhorar ainda mais a qualidade dessas
silagens.
Após a colheita o milheto deve ser processado em
uma máquina forrageira regulada para cortar a forragem
em partículas de aproximadamente 2 cm, e em seguida,
ensiladas em silos preferencialmente de pequeno porte,
por exemplo: em sacos e ou tambores. Silos menores
permitem o uso da silagem em curto espaço de tempo,
evitando as perdas por exposição ao ar. No entanto, se a
demanda do rebanho é elevada e são necessárias maiores
quantidades, pode-se optar por silos de superfície ou de
trincheira, tornando-se indispensáveis o uso de aditivos
que evitam que a silagem mofe ou apodreça após a
abertura dos silos.

44
Resultados encontrados em um trabalho realizado
no semiárido paraibano (Tabela 3) com milheto, utilizando
torta de algodão como aditivo proteico e absorvente de
umidade, alcançaram boas características de preservação
da silagem, considerando os dados obtidos é possível
entender que as silagens de milheto misturadas com torta
de algodão tiveram qualidade satisfatória.

Tabela 3. Características da silagem de milheto aditivada com


10% de torta de algodão aberta aos 90 dias.
Silagem de milheto aditivada com torta de algodão
Perdas Totais % 1,70

Proteína Bruta % 13,19

Mofos 1 0,00
Leveduras2 0,88
1
Mofos, log UFC/g de silagem fresca. 2Leveduras, log UFC/g de
silagem fresca
Fonte: Elaborado pelos autores (2021)

A torta de algodão melhorou a fermentação,


reduziu as perdas totais, ou seja, permitiu que a maior parte
da silagem fosse preservada, elevou os teores de proteína
bruta e diminuiu mofos e leveduras fazendo com que essas
silagens não estragassem após a abertura, esses dados

45
comprovam que o uso de torta de algodão é recomendado
na silagem de milheto.

Figura 2. Silagem de milheto com bom padrão fermentativo.

Fonte: Acervo pessoal

3 Formulação de dietas a base de silagem de milheto

A dieta exibida na Tabela 4 foi formulada para


atender exigências de cordeiros mestiços, não castrados,
sem padrão racial definido (SPRD) para ganho de peso de

46
200 g/dia, segundo recomendações do National Research
Council (NRC, 2007).

Tabela 4. Composição percentual dos ingredientes e


bromatológica das dietas experimentais

1: Níveis de garantia em cada 1.000 mg valor mínimo : cálcio - 141,48


g; fósforo – 43 g; sódio - 214,50 g; enxofre – 16 g; cobre – 700 mg;
cobalto – 50 mg; ferro – 2.700 mg; iodo – 50 mg; manganês – 1.500
mg; selênio – 25 mg; zinco – 1.800 mg; Cloro – 330 g; flúor – 431
mg. 2 Valor expresso em % da matéria seca., 3 cp = corrigido para
cinzas e proteínas. 4 Nutrientes digestíveis totais estimados pelas
equações de Detmann et al. (2006).
Fonte: Adaptado de Carvalho et al. (2018).

47
4 Fornecimento das dietas para os animais

As dietas devem ser fornecidas duas vezes ao dia,


entre às 8h e 16h, sendo feitos ajustes por meio da pesagem
do total de alimento oferecido e das sobras, de modo a
permitir sobras de até 10% do ofertado. Os animais devem
receber água a vontade, cujos bebedouros devem estar
permanentemente limpos e abastecidos e a disposição dos
animais.

5 Desempenho animal esperado

Observa-se na Tabela 5 o desempenho de ovinos


em confinamento sem padrão racial definido (SPRD), com
idade entre 4 e 5 meses e peso médio inicial de 17,39 kg.
A ração total foi fornecida duas vezes ao dia, às 8h e às
16h, de modo a proporcionar aproximadamente 10% de
sobras. As dietas foram formuladas a base de milho em
grão, farelo de soja e silagem de milheto, atendendo as
exigências da categoria, segundo o NRC (2007).
Neste experimento foram utilizados cordeiros
mestiços não castrados, sendo a dieta formulada para

48
atender os requerimentos nutricionais desta categoria, de
modo a obter um ganho médio de 200 g/animal/dia,
segundo as recomendações do NRC (2007). Dessa forma
entende-se que animais de uma genética superior podem
alcançar ganhos semelhantes ou até superiores.

Tabela 5. Desempenho de produção de cordeiros confinados


alimentados com dieta a base de silagem de milheto.
Parâmetro Médias

Ganho de Peso Total (kg) 6,85

Ganho Médio Diário (g/ dia) 134,0

Conversão Alimentar 5,95


Adaptado de Carvalho et al. (2018).

3 Análise econômica da produção a base de silagem de


milheto

É importante destacar a produção de volumoso na


própria propriedade, apresentando um custo por
quilograma de matéria natural (MN) do volumoso muito
inferior a outros alimentos volumosos comercializados na
região. Nas tabelas 6 e 7 são apresentados os custos de

49
produção de silagem de milheto adaptados para região
semiárida.

Tabela 6. Descrição dos custos de produção de silagem de


milheto (1,0 ha) cultivado em sistema de sequeiro no
semiárido brasileiro.
Operações Despesas de custeio
Valor Total R$

Preparo do solo 270,00


Plantio 463,20
Tratos culturais 467,50
Colheita e ensilagem 1.961,20
Total 3.161,90
Adaptado de Pompeu et al. 2013

Tabela 7. Produção de matéria seca, matéria natural e custo em


tonelada/hectare de silagem de milheto.
Silagem de milheto
Produção de silagem toneladas/hectare/MS 9.742
R$/toneladas/MS 262,00
Produção de silagem toneladas/ha/MN 40.932
R$/toneladas/ Matéria natural 62,38
Adaptado de Jacovetti et al. 2018

50
O milheto obteve boa produção por área ficando
dentro dos parâmetros adequados, por apresentar boas
características de produção e bom valor nutritivo possível
produzir silagem com qualidade similar às demais
forrageiras tradicionais. Pode proporcionar silagem de
qualidade a custos inferiores ás silagens de cultura padrão,
como o milho e o sorgo, por se tratar de uma cultura de
baixa exigência em adubação, mais resistente a estresse
hídrico e que ainda apresenta rebrota espontânea após o
corte.

4 Considerações finais

Nas condições apresentadas, o milheto apresenta


potencial para a produção de silagem no Semiárido
Brasileiro, destacando-se pela maior capacidade de manter
ovinos em produção, alimentados durante o período seco,
com menores custos de produção.

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DE PRODUÇÃO ANIMAL, 8., 2013, Fortaleza.
[Anais...].[Sobral: Universidade Estadual Vale do
Acaraú; Embrapa Caprinos e Ovinos, 2013]. 4 f.

RODRIGUES, J.A.S.; PEREIRA FILHO, I.A. Cultivo


do Milheto. Embrapa Milho e Sorgo. Sistemas de
Produção, 3. ISSN 1679-012X Versão Eletrônica - 5 ª
edição Abr/2016.

SILVA, V.L. Inclusão de milho desintegrado com


palha e sabugo em silagem de milheto forrageiro. 78
p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade
Federal de Goiás, Escola de Veterinária e Zootecnia,
(EVZ), Goiânia, 2016.

55
Capítulo 3

CONFINAMENTO A BASE DE
SILAGEM DE CANA-DE-AÇÚCAR
Guilherme Medeiros Leite
Paloma Gabriela Batista Gomes
Danillo Marte Pereira
Yohana Rosaly Corrêa
Mikaelle de Sousa Dutra
Rafael Lopes Soares

1 Introdução

Originada de regiões tropicais, a cana-de-açúcar


possui grande adaptação as regiões de clima quente, que
são regiões com grande disponibilidade de luz solar,
resultando uma alta produção (WANG et al., 2020).
Devido a essas características, o cultivo da cana-de-açúcar
é bem difundido por todo o Brasil, visto que grande parte

56
do território nacional se encontra entre os trópicos,
caracterizando um país tropical.
A cana-de-açúcar é utilizada dentre diferentes
maneiras, desde a produção de açúcar e cachaça, etanol
pela indústria automobilística eutilizada também na
pecuária, na alimentação animal, como volumoso. Devido
aos custos de produção mais baixos e sua ampla
diversidade de uso, ela vem ganhando espaço quando
comparado a outras culturas (MENDONÇA et al., 2004).
Sua utilização na pecuária vem aumentando devido ao
crescente número de animais (bovinos, ovinos e caprinos).
Por meio das informações abordadas neste
capítulo, busca-se repassar aos produtores informações a
respeito da cana-de-açúcar que permitam e facilitem a sua
utilização dentro das propriedades, de acordo com a
realidade de cada uma.

2 Como produzir ou adquirir a cana-de-açúcar

A produção da cana-de-açúcar dentro da


propriedade começa pela escolha da área e cultivar da
planta a ser utilizada. Os cuidados começam pelo solo,

57
onde se recomenda a utilização da aração e gradagem, e,
quando necessário, aplicação de fertilizantes de acordo
com o que for recomendado pela análise de solo. Esse
preparo do solo com aração e gradagem é importante, pois
é uma maneira de descompactar a camada de solo,
normalmente até os 30 cm, permitindo que haja um melhor
desenvolvimento radicular da planta.
O plantio deve ser realizado em sulcos (Figura 1),
mantendo sempre atenção em relação ao distanciamento
entre um sulco e outro, recomendando-se que essa
distância seja entre 1 a 1,5 m. O adensamento do plantio
além de poder atrapalhar o manejo, pode resultar em
menor desenvolvimento das plantas, resultando em uma
menor produção. Sendo assim, o distanciamento de 1,20
m entre sulcos é o recomendado (TOWNSEND, 2000).
Chegou a hora de plantar, mas qual é a melhor
variedade para plantar na minha propriedade? A resposta
certa é: depende! A escolha vai depender da região que
está inserida a propriedade e suas características. Para
inserir uma variedade de cana-de-açúcar no Cariri
Paraibano, recomenda-se que seja uma variedade tolerante
à seca, ou seja, uma planta que esteja mais adaptada a

58
região de clima quente e com menores ocorrências de
chuva.

Figura 1: Preparação dos sulcos para plantio.

Fonte: CHERUBIN, N. (2018).

De acordo com pesquisadores da Agência Paulista


de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), as variedades
RB86-7515, SP80-1842, SP81-3250 e SP83-2847 são
variedades que se mostraram resistentes as condições de
baixa pluviosidade, sem resultar em grandes perdas devido
à falta das chuvas (ZUAZO, 2010). Já de acordo com
Marin (2021) da Agência Embrapa de Informação
Tecnológica, as variedades mais tolerantes a seca são

59
RB86-7515, RB75-8540, SP79-1011, RB83-5054, SP80-
1842, RB85-5002, RB85-5156 e SP83-5073. As
variedades RB86-7515 e SP80-1842 foram encontradas
nas duas recomendações.
O plantio é realizado através do próprio colmo da
cana-de-açúcar (Figura 2), onde se recomenda o plantio
logo após a retirada ou por um período de tempo de até
quatro dias, evitando que a germinação seja afetada.

Figura 2: Plantio da cana-de-açúcar.

Fonte: BARBOSA, A. M. (2019).

60
De acordo com Twonsend (2000), pode-se utilizar
entre 8 e 15 toneladas de mudas por hectare plantado,
dependendo da variedade utilizada e das condições de
plantio. O plantio ainda pode ser realizado através dos
chamados “toletes”, que é a planta já germinada após um
período de tempo, variando cerca de 30 a 60 dias,
utilizando cerca de 2 a 3 toletes por metro linear (SILVA
et al., 2017).
A cana-de-açúcar é uma cultura semi-perene,
sendo utilizada entre 5 e 6 anos, com corte anual,
possuindo uma alta produtividade por área, onde obteve na
Paraíba uma produtividade de 49.005 kg/ha para a safra de
2018/2019, de acordo com a Companhia Nacional de
Abastecimento (CONAB, 2020), sendo o 5º maior
produtor de cana do Nordeste.
Deve-se atentar sempre para a fertilidade da área,
constatada através de análise de solo, garantindo assim,
que não faltem nutrientes e ocorra sua reposição ao solo,
impedindo que baixo a produção: solo sem nutriente é solo
sem boa produção.

61
3 Como conservar a cana-de-açúcar

Para enfrentar os períodos de seca, os quais a


disponibilidade de alimento é reduzida para os animais,
alguns processos de conservação de forragem são
utilizados como forma de armazenar comida, diminuindo
os impactos gerados sobre a produção animal. A
conservação da forragem é importante, pois além de
garantir alimentação, evita maiores gastos para os
produtores no período de seca.
A produção de silagem é uma das formas de
conservação de forragem mais utilizadas para a cana-de-
açúcar, devido maiores dificuldades para desidratação
para a produção do feno. Apesar de ser mais utilizada para
produção de silagem, a cana-de-açúcar apresenta alguns
problemas para ser ensilada: perdas durante o processo
fermentativo (perdas por gases e por efluentes). Esses
problemas são resolvidos com a adição de algum aditivo
durante a ensilagem, como por exemplo, ração
concentrada.
Mas qual concentrado devo utilizar? A resposta é
um pouco mais complexa, mas deverá utilizar o que tiver

62
disponível na região e analisar as opções. Como a cana-
de-açúcar é uma planta que possui baixos teores de
proteína, recomenda-se a utilização de algum concentrado
que possua teores mais elevados de proteína, como a torta
de algodão, que além de ser melhor economicamente para
obtenção, é encontrado facilmente nasmicrorregiões do
Semiárido do Cariri Paraibano.
Essa adição resulta em grandes melhorias: eleva a
recuperação de matéria seca e diminui a proliferação de
microrganismos indesejáveis, diminuindo as perdas e
melhorando a qualidade nutricional da silagem.
Essa mistura pode ser realizada com um teor de
20% de torta de algodão com base na matéria natural,
parece ser complicado, mas não é! Em uma situação
hipotética: estou na minha propriedade e vou ensilar em
um silo que tenha capacidade de armazenar 100 kg de
forragem, como vou proceder? A cada 100 kg, deverá ser
misturado da seguinte forma: 20 kg de torta de algodão
com 80 kg de cana-de-açúcar já passado na forrageira
(consultar Tabela 1). Após a mistura, o material deverá ser
ensilado, o qual fermentará por cerca de 60 dias, podendo
ser utilizado após esse período.

63
Tabela 1: Adição de torta de algodão na ensilagem de cana-de-
açúcar com base na matéria natural
Quant. (em kg) TA (em kg) CA (em kg)
100 20 80
200 40 160
500 100 400
1.000 200 800
Quant.= Quantidade; TA= Torta de algodão; CA = Cana-de-açúcar.

A utilização de aditivos na ensilagem resulta em


melhores condições para o processo fermentativo,
promovendo maiores ganhos ao produtor, devido a
redução das perdas e a melhora nutricional da silagem.
Além disso, o uso de concentrado na alimentação animal
é bem comum, e se já estiver compondo a silagem (Figura
3), o produtor garante uma silagem bem fermentada e com
boas características.

64
Figura 3: Ensilagem da cana-de-açúcar com inclusão de 20%
de torta de algodão.

Fonte: Acervo pessoal

Vale lembrar que, apesar de bem fermentadas, as


silagens podem apresentar regiões mofadas enquanto tiver
presença de oxigênio dentro do silo. Essas partes mofadas
(Figura 4) devem ser retiradas e não são ofertadas aos
animais, recomendando-se seu descarte.

65
Figura 4: Silagem de cana-de-açúcar apresentando mofo.

Fonte: Acervo pessoal

4 Formulação de dietas com silagem de cana-de-açúcar

Para formular dietas a base de silagem de cana-de-


açúcar é necessário que conheça as limitações do alimento,
uma vez que é rico em energia e fibra, e baixos teores de
proteína, sendo necessário correções que gerem benefícios
para os animais e rentabilidade ao produtor. A seguir serão
mostrados exemplos de dietas contendo ingredientes

66
encontrados na região, comumente utilizados na
alimentação de ovinos e caprinos.

5 Dietas para ovinos a base de silagem de cana-de-


açúcar

Na Tabela 2 é mostrada uma dieta formulada para


ovinos confinados para obter um ganho médio diário de
200g, sendo a fonte de volumoso apenas a silagem de
cana-de-açúcar com ajustes nas frações concentradas que
visem atender as exigências nutricionais sem
comprometer o desempenho animal

Tabela 2. Formulação de dieta a base de silagem de cana-de-


açúcar para ovinos confinados baseada na matéria seca (MS) e
matéria natural (MN)

Fonte: CAVALCANTI, dados não publicados.

67
Nessa pesquisa foram utilizados ovinos sem
padrão racial definido, com peso médio inicial de 20 kg.

6 Dieta para ovinos a base de silagem de cana-de-


açúcar com inclusão de 20% de torta de algodão

A inclusão de torta de algodão no momento da


ensilagem tem papel de absorver grande parte da umidade,
corrigir o déficit proteico, aumentar os teores de matéria
seca (MS) da silagem e melhorar os padrões
fermentativos, diminuindo as perdas. Na Tabela 3 consta
uma ração formulada para ovinos sem padrão racial
definido (SPRD), com ganho médio diário de 200g,
utilizando silagem de cana-de-açúcar com 20% de
inclusão de torta de algodão.
É importante ressaltar que a dieta acima citada
atende as exigências nutricionais de cordeiros sem padrão
racial definido com peso médio de 20 kg e um ganho
médio de 200g por dia.

68
Tabela 3. Formulação de dieta a base de silagem de cana-de-
açúcar com inclusão de 20% de torta de algodão baseada na
matéria seca (MS) e na matéria natural (MN).

SCA+20%TA = Silagem de cana-de-açúcar + 20% torta de algodão


Fonte: CAVALCANTI, dados não publicados.

7 Dieta para cabras leiteiras a base de silagem de cana-


de-açúcar

A dieta formulada abaixo (Tabela 4) atende as


exigências de cabras da raça Parda Alpina, com peso
médio corporal de 40kg, para produção média de 2L de
leite por dia, ajustado para 4% de gordura e 3,7% de PB
no leite.

69
Tabela 4. Dieta para cabras em lactação a base de silagem de
cana de açúcar.

Fonte: Autores (2021).

8 Fornecimento das dietas para os animais

A forma que essas dietas serão fornecidas aos


animais, é muito importante. O ideal é que a quantidade
total seja fracionada em duas vezes, com fornecimento
pela manhã e pela tarde. O fracionamento da alimentação
otimiza o consumo, evitando que os animais selecionem
parte da alimentação, reduzindo assim, perdas da
alimentação ofertada aos animais.
A parte concentrada pode ser misturada com
antecedência, armazenada em sacos e pesada no momento
do fornecimento. Porém, devem ser respeitadas as
proporções de cada ingrediente.

70
No momento do fornecimento da alimentação aos
animais, deve-se atentar para realizar uma mistura
homogênea, de modo que a silagem e o concentrado
estejam bem misturados, evitando assim, seleção pelos
animais, fazendo que toda a mistura seja consumida.
Para as dietas que contém palma, é de extrema
importância que a mesma seja processada apenas na hora
do fornecimento e sempre que houver sobras, que o cocho
seja limpo. Isso evita que haja a proliferação de
microrganismos patogênicos que venha causar distúrbios
aos animais.

9 Desempenho animal esperado

O consumo de matéria seca (MS) é um ponto chave


no desempenho de ovinos em confinamento e cabras em
lactação, porque pode ser considerado determinante no
fornecimento de nutrientes necessários para o atendimento
das exigências de mantença, ganho de peso e produção de
leite dos animais. Podemos observar o ganho de peso
médio diário (GMD) de ovinos confinados a base de

71
silagem de cana-de-açúcar e cana-de-açúcar com 20% de
inclusão da torta de algodão na Tabela 5.

Tabela 5: Desempenho de ovinos confinados alimentados com


silagem de cana-de-açúcar e silagem de cana-de-açúcar com
20% de inclusão da torta de algodão.
PVI PVF GMD
Alimentação
(em Kg) (em Kg) (em g)
SCA 27,49 33,40 147,56
SCATA 26,33 34,44 202,88
SCA = Silagem de cana-de-açúcar; SCATA = Silagem de cana-de-
açúcar com torta de algodão; PVI = Peso vivo inicial; PVF= Peso vivo
final; GMD = Ganho médio diário
Fonte: CAVALCANTI, dados não publicados.

Os animais alimentados apenas com silagem de


cana-de-açúcar obtiveram um ganho de peso médio diário
menor do que aqueles animais alimentados com silagem
de cana-de-açúcar com inclusão de 20% de torta de
algodão. Isso pode ser justificado pela qualidade da
silagem, uma vez que o processo fermentativo da cana-de-
açúcar resulta em perdas, ocasionando em perdas
nutritivas do alimento. Vale reafirmar então que a inclusão
da torta de algodão usada no momento da ensilagem, além
de melhorar a qualidade nutricional, refletindo

72
positivamente no desempenho dos animais, melhora os
padrões fermentativos e reduz as perdas dessa silagem.

10 Retorno financeiro esperado

Para saber se a atividade é rentável, é preciso saber


todos os custos durante o período de criação dos animais,
desde o valor da compra, caso não seja produzido na sua
propriedade, até a comercialização do produto final, seja
ele a carne ou o leite.
Em uma situação hipotética: um produtor possui
cerca de 20 cordeiros machos que serão confinados por 60
dias, com peso corporal inicial médio de 20 kg. Os animais
serão alimentados com silagem de cana-de-açúcar com
20% de inclusão de torta de algodão (Tabela 6)
Levando em consideração que os animais possuam
um rendimento de carcaça de 46%, ou seja, a cada 32 kg
de animal vivo, obtém-se 14,72 kg de carne. Pode-se
observar que o valor de receita líquida pode ser ainda
otimizado, contando que a cana-de-açúcar utilizada para
ensilagem foi adquirida e não produzida na propriedade.

73
Tabela 6: Avaliação econômica e retorno financeiro para
confinamento de ovinos alimentados com silagem de cana-de-
açúcar com inclusão de 20% de torta de algodão.

Fonte: Autores (2021)

Ainda vale ressaltar que os custos foram calculados


com base no comércio local da região do Cariri Paraibano.
Visto todo esse rendimento financeiro utilizado durante o
período de confinamento, pode-se observar que é uma
atividade rentável e capaz de ser desenvolvida na região.

74
11 Considerações finais

Tendo em vista a adaptação da cana-de-açúcar às


regiões tropicais, podemos observar sua importância
principalmente para a região semiárida. Sendo uma planta
que consegue atingir alta produção por área, quando
conservada, garante alimentação para os períodos mais
secos do ano, permitindo que o produtor não sofra tanto
com a sazonalidade climática e sua atividade pecuária
continue rentável.

Referências bibliográficas

BARBOSA, A. M. Sistemas de plantio na cultura da


cana-de-açúcar. Blog da disciplina, 9 de fevereiro de
2019.

CAVALCANTI, H. S. Desempenho de ovinos


alimentados com silagem de cana-de-açúcar aditivada
com torta de algodão. Tese de Doutorado, Programa de
Pós-Graduação em Zootecnia, Universidade Federal da
Paraíba. 2020. (No prelo).

CHERUBIN, N. Tecnologia Agrícola – Sistematização e


seus impactos na produção de cana-de-açúcar.
RPANews, ed. 201, 1° de agosto de 2018.

75
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO.
Disponível em: http://www.conab.gov.br. Acesso em 01
de março de 2021.

MARIN, Fábio Ricardo. Cana-de-açúcar. Disponível


em: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/cana-
de-acucar/arvore/CONTAG01_42_1110200717570.html.
Acesso em: 10 mar. 2021.

MENDONÇA, Sandro de Souza et al. Consumo,


Digestibilidade Aparente, Produção e Composição do
Leite e Variáveis Ruminais em Vacas Leiteiras
Alimentadas com Dietas à Base de Cana-de-
Açúcar1. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.
33, n. 2, p. 481-492, 2004.

SILVA, Sergio Delmar dos Anjos et al. Sistema de


produção de cana-de-açúcar para agricultura familiar. In:
WOLFF, Luis Fernando; MEDEIROS, Carlos Alberto
Barbosa. Alternativas para a Diversificação da
Agricultura Familiar de Base Ecológica – 2017.
Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2017. p. 1-147.

TOWNSEND, Claudio Ramalho. Recomendações


técnicas para o cultivo da cana-de-açúcar forrageira
em Rondônia. Porto Velho: Embrapa Rondônia, 2000. 5
p.

WANG, TIANWEI et al. Effects of Lactobacillus


hilgardii 60TS-2, with or without homofermentative
lactobacillus plantarum B90, on the aerobic stability,
fermentation quality and microbial community dynamics

76
in sugarcane top silage. Bioresource Technology, New
York, v. 312, p. 1-9, maio 2020.

ZUAZO, Pedro. Estudo indica variedades de cana


resistentes à seca. 2010. Disponível em:
http://www.diadecampo.com.br/zpublisher/materias/Mate
ria.asp?id=22899&secao=Pacotes%20Tecnol%F3gicos&
c2=Cana-de-a%E7%FAcar. Acesso em: 10 mar. 2021.

77
Capítulo 4

CONFINAMENTO A BASE DE
CAPIM-BUFFEL
Daiane Gonçalves dos Santos
Diego de Sousa Vieira
Hactus Souto Cavalcanti
Francisco Naysson de Sousa Santos
Natalia Matos Panosso
Gilberto de Carvalho Sobral

1 Introdução

O capim-buffel (Cenchrus ciliaris L.) é uma


gramínea com potencial forrageiro para ser cultivada nas
regiões áridas e semiáridas do país, por apresentar
características de maior resistência a seca comparada as
demais espécies cultivadas, que permitem o seu
desenvolvimento nas condições edafoclimáticas destas
regiões (PINHO et al., 2013).

78
Vários estudos (Edvan et al., 2011; Pinho et al.,
2013; Silva, 2020) tem demonstrado que o capim-buffel é
uma forrageira de elevado valor nutritivo, resultando em
desempenho satisfatório, tanto de ovinos quanto de
caprinos, em regiões semiáridas do Nordeste do Brasil,
podendo servir como volumoso base para dietas desses
animais, tanto no período de chuva quanto no período seco
do ano.
Através das informações contidas neste capítulo,
busca-se difundir aos produtores informações que
permitam a elevação dos níveis de produtividade do seu
rebanho, por meio da implementação ou aperfeiçoamento
da cultura do capim-buffel em suas propriedades.

2 Produção de Capim-buffel

O capim buffel é uma gramínea que apresenta


como principais características o enraizamento profundo
que confere resistência a longos períodos de estiagem e a
baixas quantidades de chuvas, podendo produzir até
mesmo em regiões com menos de 300 milímetros de chuva
(PORTO et al., 2017). A sua produção pode variar de

79
acordo com a região onde é implantado a depender das
condições locais. Através dos resultados de trabalhos
realizados no Cariri paraibano pode ser observado que os
autores alcançaram altas produções do capim-buffel por
hectare, como pode ser demonstrado na tabela 1.

Tabela 1 Produção do capim buffel no Semiárido Paraibano


Trabalhos Produção em kg/ hectare
Silva (2020) 8.884,4 kg/há
Edvan et al. (2011) 10.466 kg/há
Pinho et al. (2013) 7.207kg/há

As plantas desenvolvem muito bem em solos leves


e profundos, assim como em solos argilosos, porém não
suportam áreas de encharcamento ou alagadas. Seu plantio
é feito por sementes, geralmente de forma manual,
realizando-se a semeadura a lanço, em covas ou sulcos.
Porém atualmente existem máquinas motorizadas e
manuais específicas para distribuição de sementes de
capim buffel como ilustrado abaixo (figura 1 e figura 2).

80
Figuras 1 e 2 Semeadora de capim-buffel motorizada e
manual

Fonte: ozturners.com Fonte: poweruplawncare.com

De qualquer maneira é muito importante se


certificar que as sementes adquiridas sejam de boa
qualidade, com alto percentual de sementes viáveis, pois
na maioria dos casos as sementes desse capim possuem um
baixo percentual de germinação.
A adubação do capim pode ser feita de forma
orgânica ou química. A adubação orgânica pode ser feita
através do uso de estercos e/ou resíduos de atividades
agrícolas. O uso do esterco caprino como adubo orgânico
em pastagens já estabelecidas foi realizado na EMPAER
(Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e
Regularização Fundiária) localizada no município de
Soledade-PB. Freitas et al. (2013) observaram um

81
aumento na produção de forragem à medida com que se
aumentava as doses do adubo, conforme a tabela 2.
Verificou-se aumento da produção de 1.563,12kg/ha por
corte sem adubação para 2.878,54kg/ha quando adubado
com doses de 20 toneladas de esterco por hectare quando
cortados a 10 cm do solo. Nos cortes em uma altura de 20
cm pode-se notar um aumento de 1.787kg/ha sem adubo
para 2,283,47kg/ha com doses de 15ton/ha.

Tabela 2 Recomendação de doses de esterco caprino por


hectare para adubação de capim buffel cortados com diferentes
alturas.
Produção de Forragem kg/ha/corte
Doses ton./ha
Corte com 10cm Corte com 20cm
0 1.563,12 1.787,01
5 1.964,72 2.224,86
10 2.227,50 -
15 2.379,09 2.283,47
20 2.878,54 -
Fonte: FREITAS et al. (2013)

A digesta bovina também pode ser utilizada como


adubação orgânica para o capim-buffel, assim como o
esterco. Seu uso foi testado por pesquisadores do Instituto

82
Nacional do Semiárido no município de Campina Grande
– PB, em que pôde ser observado que o capim responde
satisfatoriamente a adubação tanto com esterco, quanto
com digesta, apresentando valores produtivos de acordo
com a tabela 3.

Tabela 3 Recomendação de adubação com esterco e digesta


bovina em diferentes dosagens para adubação de capim buffel
Tipo de adubo Produção de Forragem
Doses ton./há kg/ha/corte
Esterco B. 5,5 ton/ha 1.274,63
Esterco B. 11 ton/ha 1.666,92
Digesta B. 6,5 ton/ha 1.403,16
Digesta B. 13 ton/ha 1.673,63
Fonte: SOUTO FILHO et al. (2012)

A adubação química, pode ser feita através do uso


do nitrogênio e deve ser sempre baseada na análise do
solo, para que assim haja uma recomendação específica
para a cultivar utilizada. Observando esses fatores é
possível fazer uma adubação química eficiente na
propriedade.
Pesquisadores do estado de Minas Gerais
mostraram através do seu trabalho que produção de capim-

83
buffel aumentou de uma média de 1.104 kg/ha quando as
plantas não foram adubadas, para 2.003 kg/ha para plantas
adubadas independente da fonte de nitrogênio que foi
utilizada (OLIVEIRA, 2019). Mostrando dessa forma que
a adubação química desde que bem elaborada pode
aumentar a produção da forrageira.
A correção da acidez do solo e a disponibilidade de
nutrientes importantes, como fósforo, potássio e
nitrogênio, são indispensáveis para alcançar altas
produções por área, uma vez que o capim-buffel é
classificado como uma cultura de exigência média em
fertilidade de solo. Por causa da sua resistência a falta de
chuvas muitos técnicos e produtores imaginam que não há
necessidade de adubação. Conforme pode ser observado
nas imagens 3 e 4, a diferença entre um pasto de capim-
buffel adubado e outro não adubado, é visível.
Nesse caso, recomenda-se o acompanhamento
técnico para determinar as doses de calcário e adubos
químicos segundo os manuais de recomendação de
adubação para gramíneas forrageiras.

84
Figura 3 Pasto de capim-buffel adubado

Fonte: acervo pessoal

Figura 4 Pasto de capim-buffel sem adubação

Fonte: Acervo pessoal

85
3 Manejo do capim-buffel

A altura de entrada e saída da planta varia bastante


de acordo com a sua finalidade, se for utilizado para
pastejo direto ou se será manejado em área reservada para
fins de conservação com o objetivo de suplementação
volumosa no período seco (PINHO et al., 2013). Quando
o produtor deseja utilizar o capim para pastejo direto,
recomenda-se trabalhar com alturas de entrada de 40cm e
saída de 15 a 20 cm, permitindo dessa forma que os
animais consumam um pasto de boa qualidade e
permitindo a rebrota eficiente do mesmo.

Figura 5 Entrada das cabras no piquete para pastejo (taxa de


lotação de 20 cabras por ha).

Fonte: Acervo pessoal

86
4 Método de conservação do capim-buffel

A conservação do capim buffel pode ser feita na


tanto na forma de feno quanto na forma de silagem. No
entanto, as alturas de corte para ensilagem e para fenação
são diferentes. Para ensilagem o capim deve ser colhido
mais maduro com alturas de pelo menos 50 cm no
momento do corte, já para fenação o capim deve ser
colhido mais jovem, com alturas de até 40 cm, permitindo
deste modo, à possibilidade de realizar-se um maior
número de cortes e consequentemente um maior produção
de forragem. Para ambos os casos consegue-se conservar
forragem de boa qualidade, por isso a escolha do método
de conservação vai depender da disponibilidade de
máquinas e equipamentos presentes na propriedade.
No caso da fenação deve-se atentar para o tempo de
secagem permitindo que o capim atinja ponto de feno ou
seja no máximo 20% de umidade. Na imagem 6 pode ser
observado o ponto ideal de colheita do capim para fenação.
O capim no ponto de feno, apesar de estar desidratado,
ainda assim deve apresentar uma coloração esverdeada.

87
Figura 6 Representação do ponto ideal da colheita de
campim-buffel para fenação.

Fonte: Acervo pessoal

No caso da ensilagem deve-se atentar para o


tamanho de partícula durante a ensilagem, permitindo-se
que as partículas esteja, em um tamanho entre 2 e 4 cm.
Desta forma a compactação será bem feita e a silagem
ficará bem fermentada.

5 Formulação de dietas a base de capim-buffel

A formulação de dietas a base de capim-buffel para


ovinos e caprinos depende bastante dos alimentos
disponíveis na região e, ou propriedade. Visando o
produtor do semiárido, a seguir serão mostrados exemplos

88
de dietas contendo os ingredientes mais comuns na
alimentação de caprinos e ovinos nessas regiões.

6 Dieta para ovinos apenas com feno de capim-buffel

Tabela 4 Formulação de dietas a base de capim buffel diferido


para ovinos confinados com base na matéria seca (MS) e na
matéria natural (MN).

Fonte: (PEREIRA, et al., 2018)

7 Dieta para cabras leiteiras apenas com feno de


capim-buffel.

Conforme a tabela 5, consta a dieta formulada para


atendimento das as exigências de cabras Pardas Alpinas
em lactação com produção de 2 kg/cabra/dia, peso vivo 40
kg e 4% de gordura no leite.

89
Tabela 5 Formulação de dieta para cabras em lactação a base
de capim buffel
Alimentos Quantidades em Quantidades em
%MS MN
Feno de Buffel 53,00 52,47
Farelo de milho 30,86 31,14
Farelo de Soja 15,42 15,57
Sal mineral 0,68 0,59
Ureia 0,26 0,23
Fonte: Ramos et al. (2020).

8 Dieta para ovinos em confinamento a base de palma


forrageira e feno de capim-buffel

A dieta na tabela 6 foi formulada para atender as


exigências de carneiros confinados com peso inicial médio
de 17kg e promoveu um ganho médio diário de 200 g por
dia.

90
Tabela 6 Formulação de dieta para ovinos em confinamento
com dietas a base de palma e capim buffel.
Alimentos Composição da Composição na
Dieta % %MN
Palma forrageira 19,12 63,77
Feno buffel 29,08 13,06
Farelo de Soja 6,46 2,97
Farelo de Milho 23,56 10,67
Torta de algodão 17,81 7,88
Ureia 0,9 0,38
Núcleo mineral 1,62 0,67
Cloreto de amônio 1,35 0,56
Sulfato de amônio 0,10 0,04
Fonte: VIEIRA & COELHO (dados não publicados).

9 Dieta para cabras leiteiras a base de palma forrageira


e feno de capim-buffel

A utilização do feno de capim-buffel em dietas com


elevadas quantidades de palma forrageira pode ser feita
nas proporções apresentadas na tabela 7.
A dieta formulada para atendimento das as
exigências de cabras em lactação com produção de 2
kg/cabra/dia, peso vivo 40 kg e 4% de gordura no leite.

91
Tabela 7 Formulação de dietas para cabras em lactação com
dietas a base de palma e capim buffel.
Alimentos Quantidades em % Quantidades em
%MN
Palma 34,44 79,13
Feno de Buffel 29,28 9,23
Farelo de milho 22,06 7,09
Farelo de Soja 13,24 4,26
Sal mineral 0,75 0,21
Ureia 0,26 0,07
Fonte: RAMOS et al. (2020).

10 Dietas para caprinos e ovinos em pasto diferido de


capim buffel suplementados com blocos nutricionais.

A suplementação a pasto pode ser feita com o feno


de capim-buffel de forma diferida. Para diferimento o
capim deve ser colhido ou pastejado a 15 cm do solo para
que haja um alta produção de folhas. Esse diferimento
deve ser realizado nos últimos 2 ou 3 meses do período de
chuvas, assim no início do período seco apesar do capim
desidratar terá uma alta quantidade de folhas que serão
bem aproveitadas por meio da suplementação proteica.

92
A suplementação dos animais por meio de blocos
nutricionais é uma opção para produzir em pastagens de
baixa qualidade, oferecendo rendimentos satisfatórios ao
produtor e do mercado. Os blocos são uma fonte sólida de
suplementação que disponibiliza proteína, energia e
minerais e tem a dureza como um importante fator
limitante de consumo. O desempenho de ovinos
confinados foi analisado por pesquisadores da EMPAER
usando a suplementação com blocos nutricionais e foi
obtido resultados de maiores ganhos de peso para os
animais da raça Santa Inês de genótipos Tradicional e
Moderno suplementados (tabela 8). Os blocos nutricionais
eram compostos pelos seguintes ingredientes: 25% de
melaço, 5% de ureia pecuária, 28% de milho triturado,
20% de farelo de soja, 5% de sal comum, 4% de sal
mineral, 10% de cal hidratada e 3% calcário. Os blocos
foram formulados para cordeiros Santa Inês de genótipos
Tradicional e Moderno e promoveu um ganho de peso de
240g por animal, por dia em pasto diferido.

93
Tabela 8 Desempenho de ovinos confinados com e sem
suplementação por blocos nutricionais.
Biotipo animal
Variáveis
Tradicional Moderno
Peso Inicial Kg 19,28 19,46
Peso Final Kg 32,26 32,66
Ganho de Peso Total Kg 12,98 13,20
Ganho Médio Diário (g/dia) 144,22 146,67
Rendimento de carcaça fria% 45,39 44,38
Fonte: LIRA et al. (2017)

11 Análise econômica da produção a base de capim-


buffel.

O uso do capim-buffel na produção de pequenos


ruminantes se torna uma alternativa de baixo custo, visto
que esta é uma planta bastante versátil na sua forma de
utilização. Os custos de implantação, além de reduzidos,
tem como matéria prima uma pastagem existente em uma
propriedade.
Apesar disso, o uso exclusivo de capim-buffel na
dieta não atende totalmente as exigências nutricionais dos
animais podendo dessa forma comprometer seu

94
rendimento. Pensando nisso, existem forma de melhorar
esse aporte nutricional através da utilização de
suplementos concentrados, porém esses deixam a ração
mais cara, sendo necessário o uso de alternativas
alimentares de menor custo, como por exemplo, o uso da
ureia pecuária em substituição ao farelo de soja para
reduzir os custos da dieta.
Um levantamento feito por pesquisadores (tabela
9), mostram a avaliação dos principais custos de um
confinamento de 30 ovinos sem raça definida, com peso
médio inicial de 17,0, alimentados com dieta a base de
feno de capim-buffel e substituindo a soja (alimento mais
caro) por ureia a fim de reduzir os custos sem prejudicar o
rendimento dos animais. Esse trabalho demonstrou que
apesar de reduzir os custos da dieta, não se recomenda
substituir totalmente a soja por ureia, pois a redução do
desempenho dos animais na substituição total diminuiu a
receita líquida.
De qualquer maneira, análise financeira
demonstrou que é viável utilizar o feno de capim-buffel
como fonte para dietas em confinamento.

95
Tabela 9 Avaliação financeira do confinamento de ovinos
alimentados com dietas contendo ureia em substituição ao
farelo de soja.

Fonte: VIEIRA & COELHO (dados não publicados)

12 Considerações finais

O capim-buffel é uma planta bastante adaptada as


condições do Semiárido e quando bem manejada promove
desempenhos excepcionais para caprinos e ovinos seja em
alimentação exclusiva ou em misturas de dieta e, ou
suplementos. Em função do seu baixo custo, pode
viabilizar economicamente a produção de caprinos e
ovinos tanto em pastejo quanto confinados.

96
Referências bibliográficas

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características de carcaça de dois biótipos de ovinos da
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97
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Espírito Santo do Pinhal, v. 9, n. 3, p. 370-382, jul /set.
2012.

99
Capítulo 5

CONFINAMENTO A BASE DE DIETA


COM ALTA PROPORÇÃO DE PALMA
FORRAGEIRA
Diego Francisco Oliveira Coelho
Paulo da Cunha Tôrres Júnior
Maria Evelaine de Lucena Nascimento
Arinaldo Fernandes Matias Filho
Antoniel Florêncio da Cruz
Francisco Naysson de Sousa Santos
Rosângela Claurenia da Silva Ramos

1 Introdução
Uma das principais características da palma
forrageira (Opuntia fícus-indica) é produzir biomassa
mesmo em condições de baixa disponibilidade de água e
altas taxas de temperatura e evapotranspiração. A palma
tem capacidade de absorver água do ambiente atmosférico
e reduzir as perdas de água nos períodos mais quentes do

100
dia, evitando o balanço hídrico negativo e possibilitando a
produção de massa verde ao longo do ano sem sofrer tanto
com os extremos de temperatura como ocorre com a
maioria das forrageiras.
De acordo com Ramos et al. (2011), a
imprevisibilidade do regime de chuvas, a qual regula os
processos fisiológicos das plantas na Caatinga, é um fator
limitante para a produtividade das espécies forrageiras. De
fato, a maioria das plantas da Caatinga completam seu
ciclo fenológico na época das chuvas, finalizando com o
depósito de sementes no solo que só germinam e voltam a
continuar o ciclo com a presença de novas chuvas, que
pode demorar muito tempo, até mesmo anos. Desse modo,
produzir palma é uma saída inevitável para o pecuarista do
Semiárido. Além de produzir matéria seca durante todo
ano e ser extremamente eficiente no uso da água, possui
um conteúdo de água que sacia o animal de sede,
reduzindo sua necessidade de ingestão de água, recurso
valioso e escasso em algumas regiões mais áridas.
A palma é uma planta que torna possível a
produção animal intensiva no Semiárido, podendo ser
utilizada como componente base da dieta de ruminantes. É

101
possível a utilização de dietas com alta proporção de
palma sem comprometer a eficiência produtiva e a
qualidade das carcaças. Para tanto, práticas de manejo
devem ser planejadas, executadas e avaliadas
periodicamente, para ajustes e intervenções sempre que
necessário. Neste capítulo iremos abordar práticas de
manejo intensivo e informações técnicas da palma capazes
de aumentar a oferta de forragem disponível para o
rebanho de caprinos e ovinos no Semiárido paraibano.

2 Maximização da formação e utilização do palmal

É importante o produtor atentar para alguns pontos


chaves para que o rendimento do palmal seja o maior
possível. Nesse contexto, quatro fatores merecem
destaque. Adensar, adubar, capinar e controlar pragas.
Vamos falar melhor sobre cada um deles ao longo deste
tópico. Quanto à aquisição de raquetes, o INSA e a
EMBRAPA desenvolvem pesquisas e trabalhos de
micropropagação de variedades de palma resistentes a
cochonilhas, que posteriormente são distribuídas para
produtores.

102
Existem várias maneiras de formar o palmal, em
cultivo consorciado ou isolado, em ambos os casos, o
adensamento associado com capinas de plantas
espontâneas é a melhor opção, pois otimiza a produção de
matéria seca por área, aumentando a eficiência produtiva
(Tabela 1).

Tabela 1. Produção de Matéria Verde (PMV) e de Matéria Seca


(PMS) de palma forrageira (toneladas por hectare) submetida a
dois espaçamentos, com e sem capina.
PMV PMS
Espaçamento Capina SC Capina SC
0,5 x 0,5 m 102,61 84,71 11,07 9,48
1x1m 41,29 45,48 3,93 4,52
SC = Sem capina.
RAMOS et al. (2017)

O crescimento mais lento em relação às plantas


espontâneas pode prejudicar o desenvolvimento da palma
devido a competição pelos nutrientes no solo, o que torna
importante a prática de capina para remoção de plantas.
Avaliando o crescimento e a produtividade da palma em
função de diferentes densidades de plantio, com e sem
capina, Ramos et al. (2017), observaram que o

103
adensamento da palma promoveu aumento na produção
por área, principalmente quando foi feito o controle de
plantas espontâneas através da capina.
No cultivo adensado a palma tende a ficar mais
alta, pois as plantas tendem a se alongar para captar mais
luz. De acordo com dados de Ramos et al. (2017), as
raquetes tiveram maior ocupação e distribuição na área
mais adensada, sendo 226% maior na área que houve
preocupação em remover as plantas espontâneas através
da capina, e 125% quando não houve capina.
O adensamento da palma ainda favoreceu a
conservação do solo, com manutenção das camadas mais
férteis, reduzindo o processo erosivo. Outra vantagem é
exercer grande diferencial dentro da unidade de produção,
aumentando a quantidade de ovinos para engorda de 97
para 273, 176 animais a mais por hectare. Mesmo em áreas
sem capina o incremento foi de 110,8%. Sendo possível
aumentar a capacidade de suporte em 16,7%. Por outro
lado, o espaçamento menos adensado tem facilitado os
tratos culturais com tração, importante para a agricultura
familiar do Semiárido, além de minimizar os riscos de
pragas e doenças na cultura, por permitir uma maior

104
aeração e exposição das plantas ao sol (Ramos et al.,
2011). Nesse contexto, o produtor deve analisar sua
condição e objetivos para assim definir qual tipo de
espaçamento irá utilizar, de acordo com suas necessidades.
A produção de massa verde da palma pode passar
de 100 t/ha (Ramos et al., 2011), com um teor de matéria
seca que gira em torno 8%, sendo a primeira colheita após
um ano de implantação do palmal. No entanto, segundo
Macêdo et al. (2017), apesar da adaptação da palma às
condições do Semiárido, é uma planta exigente em
fertilidade, especialmente em potássio, cálcio e magnésio.
Ramos et al. (2015) avaliaram o crescimento da Palma em
função da adubação orgânica e observaram que na
dosagem entre 10 e 20 t/ha resultou no maior aparecimento
de raquetes. A adubação com esterco aumenta linearmente
a produção de matéria verde e de matéria seca do palmal
(Ramos et al., 2015), em função do aumento dos estoques
de carbono e nitrogênio total. A colheita em um ano ou 24
meses após o primeiro corte é influenciado positivamente
pela adubação.
A utilização do esterco de caprinos, bovinos ou
ovinos quando incorporada ao solo aumenta a produção de

105
matéria verde (Tabela 2). Nesse contexto, o produtor pode
direcionar o esterco produzido para retornar ao sistema de
produção, reduzindo a entrada de insumos, custos de
produção e os impactos ambientais da atividade.
Dependendo da quantidade de esterco utilizado, a resposta
pode variar, o importante é o criador usar o que tem
disponível, atentando para a curtição e preparo adequado.
De acordo com Ramos et al. (2015) as
recomendações de adubação do palmal podem variar em
função das quantidades de esterco no solo, espaçamento,
quantidade de nutrientes no solo e fase da cultura. Em
geral, a exigência de nitrogênio está entre 60 e 130 kg por
hectare para populações de 5000 e 40000 plantas
respectivamente. No caso de adubação orgânica, a
recomendação é utilizar 25m³ por hectare a cada corte.
Vale salientar que os cortes estimulam a rebrota,
maximizando o aproveitamento dos nutrientes disponíveis
no solo.

106
Tabela 2. Valores médios de rendimento de palma forrageira
(toneladas por hectare) submetidos a diferentes níveis de
adubação com esterco bovino, 12 e 24 meses pós plantio.

RAMOS et al. (2015)

A cochonilha do carmim pertence à ordem


Hemiptera, sendo facilmente identificada a partir da
presença de flocos brancos, os quais esmagados liberam
um líquido de cor vermelha. É o principal inimigo da
palma, pois possui um alto potencial de dispersão,
ocorrendo no cladódio infectado a partir de 8 e no máximo
20 dias, em espaçamento de 1 x 1 entre plantas e fileiras.
O nível de controle deve ser no máximo 10 colônias por
cladódios e combate logo após detecção das primeiras
pragas. Esses cuidados garantem uma produtividade maior
ao palmal.

107
Figura 1. Raquete de palma acometida por cochonilha

Fonte: EMPARN, 2016

Atentando para esses pontos é possível maximizar


a produtividade da palma e garantir mais alimento para o
rebanho. Lembrando que esses dados são para cultura de
sequeiro que é a realidade da maioria dos produtores do
Semiárido, no entanto, quando houver disponibilidade de
irrigação mínima, poderá ser feito com acompanhamento
de um técnico para regular até que ponto vale a pena e
quais os ganhos em produtividade.

108
3 Conservação da palma

Apesar da raquete após colhida suportar algumas


horas sem fermentar, com o passar do tempo passa a
perder qualidade. O alto nível de carboidratos solúveis
juntamente com o alto conteúdo de água favorece a
proliferação de enterobactérias quando triturada e exposta
ao ambiente no cocho por muito tempo. Muitas dessas
bactérias podem ser patogênicas e causar diarreia, como a
E. coli (Paulino et al., 2021).
Desse modo, a ensilagem do material excedente,
principalmente no manejo de cortes frequentes para
estímulo da rebrota é uma alternativa para preservar o
alimento, evitando desperdício. Nesse contexto, a
ensilagem do material excedente otimiza a utilização do
palmal. Por outro lado, a presença de palma compondo
silagens, além de melhorar o valor nutritivo,
especialmente associada com concentrados, melhora a
estabilidade aeróbia do material ofertado no cocho e
permite um consumo mais equilibrado de volumoso e
concentrado, reduzindo distúrbios digestivos nos animais.

109
A estabilidade aeróbia é a capacidade do alimento não
aquecer no cocho e, consequentemente não mofar.
De acordo com Pereira et al. (2021), estudos
realizados em diferentes partes do planeta relataram a
qualidade fermentativa para preservação da palma
ensilada. As características agronômicas da palma
maximizam a produtividade do palmal, permitindo safras
uniformes e estimulando a capacidade de crescimento. A
ensilagem da palma melhora a qualidade sanitária da dieta,
reduzindo a quantidade de enterobactérias, muitas das
quais podem causar diarreia nos animais.
Segundo Macêdo et al. (2017), a palma possui em
sua composição química-bromatológica baixo teor de
matéria seca, fibra em detergente neutro e proteína bruta,
por outro lado, apresenta alto teor de carboidratos não-
fibrosos, pectina e minerais, principalmente o cálcio. Em
estudo avaliando o valor nutritivo da silagem de palma na
terminação de cordeiros, Miranda-Romero et al. (2019)
concluíram que a silagem de palma tem qualidade similar
à silagem de milho e sua inclusão na dieta de cordeiros
poderia melhorar a qualidade fermentativa e a

110
digestibilidade da fibra, melhorando a eficiência produtiva
no confinamento.

Figura 2. Silagem de palma com 10% de gliricídia

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 3. Silagem de ração completa a base de palma

Fonte: Acervo pessoal.

111
4 Formulação de dietas com altas proporções de palma

A utilização de altas proporções de palma na dieta


de ruminantes sempre esteve associada a distúrbios
digestivos. O conteúdo baixo de FDN, a presença do
oxalato e ácidos orgânicos são relatados como causadores
desses distúrbios. Por outro lado, há evidências que o alto
teor de água e carboidratos da palma favorece a
proliferação de enterobactérias, as quais ingeridas em
excesso podem causar diarreia nos animais. Desse modo,
práticas simples podem evitar que o animal consuma a
palma com alta quantidade de enterobactérias.
Trabalhando com silagens de ração completa a
base de palma (60%) e gliricídia, Santos (2021) obteve
valor médio de proteína bruta de 13%, o qual atende as
exigências de caprinos em ovinos na maioria de suas fases
dentro do ciclo de produção. Por outro lado, encontrou pH
de 4,1 nessa mesma silagem, sendo em torno de 4,0 o valor
ideal. Esses valores evidenciam a qualidade da
fermentação e do valor nutritivo da silagem a base de
palma.

112
5 Dietas para ovinos com alta proporção de palma na
dieta.

Em avaliação do desempenho de ovinos


alimentados com palma forrageira, Cordova-torres et al.
(2017) propuseram a seguinte dieta para ganhos de
150g/dia de ovinos, utilizando aproximadamente 70% de
palma.

Tabela 3. Ingredientes utilizados em dietas para ovinos a base


de palma forrageira
Alimentos Composição da Dieta (%)
Palma 69,04
Feno de tifton 4,91
Milho 4,7
Soja 19,7
Suplemento mineral 1,65
Cordova-torres et al. (2017).

Em estudo com cabras, Pinho et al. (2018)


concluíram que dietas contendo aproximadamente metade
de palma na dieta proporcionaram uma adequada
fermentação ruminal. Os autores ainda acrescentam que a
inclusão de altos níveis de palma forrageira reduz a

113
dependência de concentrados energéticos, reduzindo os
custos de alimentação.
Com a variação rápida dos preços dos grãos o
produtor deve estar atento a alternativas alimentares mais
baratas, porém capazes de garantir o desempenho do
rebanho. A participação de um técnico especialista em
nutrição animal é sem dúvidas um diferencial nas unidades
produtivas que possuem esse profissional, sendo capaz de
adequar os alimentos disponíveis com menor custo, a uma
eficiência satisfatória para o produtor.

Tabela 4. Dieta para cabras em mantença de acordo com o NRC


(2007).
Alimentos Composição da Dieta (g/kg de MS)
Palma 475,8
Feno de tifton 139,7
Farelo de soja 165,4
Farelo de milho 212,1
Ureia 7,0
Pinho et al. (2018).

A dieta abaixo foi elaborada por uma Zootecnista


visando a terminação de carneiros em confinamento com
utilização de 85% de palma na dieta total, complementada
com feno de capim-buffel e concentrado a base de farelo

114
de milho, torta de algodão, soja e ureia. Note que os
valores de soja são mínimos e o capim-buffel é uma
forrageira facilmente encontrada no Cariri paraibano,
muitas vezes com seu valor nutritivo subestimado. No
entanto, essa dieta requer um acompanhamento técnico
mais de perto, pois exige uma adaptação gradual dos
animais a esse tipo de alimentação.

Tabela 5. Dieta com alta proporção de palma para carneiros


confinados
Alimentos Composição da Dieta (%MN)
Palma 85
Feno de capim-buffel 5
Farelo de milho 5
Torta de algodão 4
Farelo de soja 0,8
Ureia 0,1
Sulfato de amônio 0,1
COELHO e VIEIRA, dados não publicados.

6 Fornecimento da palma no cocho

No manejo do fornecimento no cocho se recomenda


moer a palma apenas se for imediatamente fornecida aos
animais. Por outro lado, em frações acima de 4 cm a

115
velocidade de proliferação das bactérias é reduzida,
podendo permanecer exposta por períodos de até 24 horas
(Paulino et al., 2021), variando esse tempo em função da
temperatura, umidade e teor de água e açúcares da palma.
Outra prática importante é misturar bem a palma moída
com os demais componentes da dieta (farelos e grãos
secos, capim e feno), pois ajusta a matéria seca e pode
reduzir a proliferação bacteriana indesejável.

Figura 4. Palma fracionada em 4 cm – fermentação lenta

Fonte: Arquivo pessoal.

116
Figura 5. Palma triturada – fermentação mais acelerada

Fonte: Arquivo pessoal.

7 Desempenho de pequenos ruminantes confinados


utilizando altos níveis de palma na dieta

Alguns estudos relatam a eficiência produtiva


utilizando altos níveis de palma na dieta de pequenos
ruminantes. Mesmo assim, é comum o produtor ficar com
receio dessa utilização, com medo de comprometer a
sanidade do seu rebanho. Em uma dieta com 85% de
palma na dieta com carneiros SPRD, ganhos médios de

117
200g/dia foram obtidos por COELHO e VIEIRA (dados
não publicados) em uma propriedade rural do município
de São José dos Cordeiros, no Cariri da Paraíba. Nesse
ensaio os animais apresentaram um período de adaptação
ao excesso de palma, que se caracterizava por fezes de
textura mole. Após esse período o animal pareceu
equilibrar seu conteúdo ruminal, e começou a ganhar peso
com alguns chegando a ganhar mais de 10 kg em 44 dias
de confinamento.

Tabela 6. Ganho médio diário de ovinos confinados utilizando


alta proporção de palma na dieta.
Autores PD (%) GMD (g/dia)
Coelho e Vieira* 85 200
Cordova-Torres et al. (2017) 70 111
Silva (2018) 68 198
PD = Palma na dieta; GMD = Ganho médio diário
*Dados não publicados

8 Viabilidade econômica da utilização de palma

Conforme comentado, a palma apresenta altos


níveis de rendimento de biomassa. Seu conteúdo de

118
carboidratos oferece energia para os animais, podendo
substituir com eficiência o milho na dieta de ruminantes.
Avaliando os custos de alimentação de cabras com dietas
contendo palma, Soares et al. (2020) adquiriram
diretamente do produtor dois tipos (miúda e orelha de
elefante) para fornecer para cabras com exigência de
nutrientes para produção de 3,5 litros de leite por dia, com
uma gordura de 3,5% segundo o NRC de 2007.
Concluíram que a dieta com a orelha de elefante foi mais
econômica em função da maior produção de forragem por
hectare. Este ponto deve ser observado com cautela pelo
produtor, é importante avaliar além da produção de
biomassa, fatores como adaptação e resistência ao
ambiente.
É importante destacar que esses dados
correspondem a setembro de 2014, cujo valor do dólar era
R$ 3,23. De todo modo, o produtor deve assumir uma
gestão empresarial da atividade, com controle dos custos
e buscando maximizar seu lucro líquido, nesse contexto, a
palma é uma forrageira extremamente viável para ser
produzida, seja para alimentar seu rebanho (Soares et al.,
2020) ou em caso de possibilidade de mínima irrigação,

119
maximizar ainda mais a produção para vender as raquetes
produzidas (Dantas et al., 2017)

Tabela 7. Custos de alimentação (US$) para cabras


consumindo um terço de palma na dieta e produzindo 3,5 kg de
leite por dia.

PM = Palma miúda; POE = Palma orelha de elefante; CD = Custo da


dieta; CDAA = Cust diário de alimentação por animal; PLE = Preço
do leite na época; CA/kg/LP = Custo de alimentação por kg de leite
produzido; LLA = Lucro líquido por Animal.
Soares et al. (2020).

Em outro estudo, Rezende et al. (2020) avaliou os


efeitos do uso de palma na substituição da silagem de
sorgo e encontrou redução de 30% e 35% nos custos de
produção de matéria seca e energia respectivamente. Neste
estudo o preço do dólar era R$3,78, valor de janeiro de
2019.

120
Tabela 8. Custos de dietas contendo níveis de palma
substituindo silagem de sorgo para ovinos

Rezende et al. (2020).

Em análise econômica de um confinamento de


ovinos alimentados com silagens de rações a base de
palma forrageira e capim buffel, SILVA (2018) formulou
uma ração com 14% de proteína bruta para ganhos de 200g
por dia segundo o NRC (2007).

Tabela 9. Custos de produção e desempenho econômico de


ovinos confinados consumindo palma forrageira e capim buffel.

SILVA (2018).

121
O Benefício/Custo é a relação de quanto se espera
ganhar para cada unidade de capital investido. Nesse
contexto, o confinamento de ovinos utilizando palma
como base da dieta é uma atividade de retorno satisfatório,
capaz de gerar renda para o produtor.

9 Considerações finais

A palma é uma forragem capaz de intensificar os


sistemas de produção de caprinos e ovinos. Seu valor
nutritivo e capacidade de adaptação, além do excelente
rendimento a tornam uma forrageira essencial para o
Semiárido. A utilização de técnicas de manejo que
controlam a fermentação indesejável no cocho, associado
a um manejo sanitário rígido nas baias permite que os
animais se alimentam quase que exclusivamente de palma,
reduzindo custos de alimentação com concentrados e
maximizando a receita do produtor.

122
10 Referências bibliográficas

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forrageira e capim buffel para ovinos em confinamento.
TESE (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Federal da
Paraíba, Centro de Ciências Agrárias. Areia. (2018).

SOARES, L. F. P., CORRÊA, A. M. N., DE SOUZA, A. F.,


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125
Capítulo 6

CONFINAMENTO A BASE DE
LEGUMINOSAS CONSERVADAS
Francisco Naysson de Sousa Santos
Mikaelle de Sousa Dutra
Diego de Sousa Vieira
Gilberto de Carvalho Sobral
Evandra da Silva Justino
Gabriel Ferreira de Lima Cruz

1 Introdução

Devido à disponibilidade de leguminosas nas


regiões semiáridas e a sua possibilidade de uso na
alimentação animal, é fundamental o aprimoramento da
técnica da ensilagem, na tentativa de se reduzir possíveis
efeitos negativos ao valor nutricional do alimento e ganho
de peso dos animais (BRITO et al., 2018). A utilização de
leguminosas arbóreas como a Leucena (Leucaena

126
leucocefala), Gliricídia (Gliricidia sepium), Algaroba
(Prosopis juliflora) e o Sabiá (Mimosa caesalpiniifolia),
espécie nativa da região Semiárida, é de fundamental
importância na alimentação de ovinos e caprinos, uma
prática bastante utilizada para reduzir os efeitos da falta de
forragem na época seca (SANTANA NETO et al., 2015).
Algumas dessas leguminosas conseguem manter
sua produtividade mesmo em épocas secas, sofrendo
pouco ou nenhum efeito na produção no decorrer do ano,
permanecendo, na época seca, com as folhas verdes.
Outras perdem suas folhas com o avançar do período seco
do ano. De maneira geral, as leguminosas mostram-se
como grande potencial forrageiro, sendo alvo de estudos
desenvolvidos para as regiões de clima semiárido. Porém,
existem alguns pontos importantes sobre essas silagens de
leguminosas, dessa forma, não se recomenda ensilar a
planta sozinha devido a efeitos de má fermentação o que
pode acarretar apodrecimento da silagem dentro do silo.
Esse texto traz aos produtores as informações
necessárias que permitam a maximização dos níveis de
produtividade do seu rebanho, seja ele leite ou corte, por

127
meio da utilização das principais leguminosas conservadas
para o Semiárido.

2 Como produzir ou adquirir leguminosas

Para a implantação da área, o solo deve ser


preparadocom uma aração e duas gradagens, o que pode
variar de acordo com as condições locais, visando a
eliminação de plantas invasoras. Tanto a Gliricidia quanto
a Leucena podem ser estabelecidas por estacas,
diretamente no campo (plantio na cova) ou através de
mudas previamente com dois meses de antecedência,
sendo de fácil cultivo e de fácil manejo.
Deve-se deixar as plantas de Gliricídia e Leucena
desenvolverem-se durante o primeiro ano sem efetuar
cortes, o que permite um bom enraizamento, dando às
plantas boa capacidade de suportar cortes periódicos da
parte aérea (folhas e caules mais finos), por um longo
período de tempo. No manejo dessas forrageiras, a altura
de corte e o número de cortes é de suma importância, pois
afeta o rendimento e a qualidade da forragem,
influenciando no vigor da rebrota (COSTA et al., 2000). A

128
tabela 1 apresenta algumas leguminosas com o número de
cortes e produção de matéria verde em condições de
Semiárido, sendo importante considerar que essas
produções irão depender das condições de clima, solo e
manejo.

Tabela 1. Número de cortes por ano e produção em quilos de


matéria verde das principais leguminosas para silagem.

NCA = Número de cortes por ano; P= Produção em kg.

Em casos de plantas como Algaroba, comum na


região Semiárido, dispensa-se essas práticas de plantio, de
tal forma que o produtor poderá ter mais acesso sem
precisar de práticas de implantação, nesse caso tanto
aproveitam-se as folhas como as vagens. Sua utilização
tem sido de grande valia na alimentação de cabras de leite,
refletindo na mantença da produção de leite em
propriedades do Semiárido.

129
Figura 1. Algarobeira na época chuvosa no município de São
José dos Cordeiros.

Fonte: Acervo pessoal

Em situações que as leguminosas já estejam


implantadas na propriedade podem ser oriundas de uma
área cultivada apenas com leguminosas, uma vez que seu
cultivo é de baixo custo e fácil de manejar. Recomenda-se
o corte da parte área das plantas, parte que contém as

130
folhas, podendo em algumas espécies, colher também os
ramos mais finos

3 Como conservar os alimentos

O uso destas leguminosas pode ser feito no cocho


na forma de silagem ou feno, ou em legumineiras onde os
animais consomem estas leguminosas em um determinado
período do dia. No processo de ensilagem, algumas
ressalvas devem ser levadas em consideração, como por
exemplo, a ensilagem de leguminosa sozinha podem levar
a uma qualidade indesejada no momento da abertura do
silo como o apodrecimento. A obtenção de silagens de
leguminosas ou a base de leguminosas envolve algumas
etapas importantes que vão desde o corte até o fechamento
do silo.
Já a ensilagem da planta verde, é necessário a
realização de um pré- emurchecimento (expor o material
ao sol pelo menos 6 a 8 horas), após esse período
recomenda-se a picar o material em máquina forrageira, e
acondicionada em tonéis, manilhas ou em sacos laminados
dependendo do que o produtor dispuser em sua

131
propriedade. É importante atentar para o processo de
compactação para retirar todo o oxigênio realizado através
de pisoteio, com posterior fechamento por período mínimo
de 30 dias, após isso o alimento poderá ser fornecido aos
animais.

Figura 2. Gliricídia ensilada sem aditivo (mal fermentada).

Fonte: Acervo pessoal

132
Uma alternativa para ensilagem de leguminosas é
a mistura com ingredientes que irão compor a dieta do
animal, como alimentos concentrados ou mesmo a mistura
com outras plantas, principalmente a palma forrageira. Se
o produtor quiser ir além, pode fazer a ensilagem de todos
os ingredientes de uma só vez, assegurando uma boa
conservação e permitindo o melhor aproveitamento de
todos os ingredientes da dieta.

Figura 3. Silagem de gliricídia com palma forrageira (bem


fermentada).

Fonte: Acervo pessoal

133
Um trabalho realizado pelo Grupo de Estudos em
Forragicultura da UFPB em parceria com o Instituto
Nacional do Semiárido demonstrou a viabilidade de
aproveitar a Gliricídia consorciada com a palma forrageira
na forma de silagem, adicionando-se a ração concentrada
no momento da ensilagem. O resultado foi uma silagem
muito bem fermentada e conservada, atendendo as
exigências nutricionais de caprinos e ovinos.

Figura 4 Corte da palma forrageira e da gliricídia para


ensilagem

Fonte: Acervo pessoal

É importante tomar cuidado na hora da escolha do


local para guardar tanto o feno quanto a silagem, isto é,
caso seja em sacos laminados. Recomenda-se lugares onde

134
circula vento, nunca colocar os sacos de silagem ou feno
diretamente em contato com o solo, pois estará atraindo
ratos que poderão rasgar os sacos, estragando a silagem.
A leguminosa destinada ao processo de fenação
deve ser triturada em maquina forrageira, e espalhada
sobre uma lona plástica estendida ao sol, virando o
material a cada 30 minutos. Após três dias, o feno pode ser
recolhido e ensacado para utilizar depois. No caso do feno
o local não pode esquentar muito pois isso influencia
diretamente a qualidade.

Figura 5 Sacos laminados utilizados como silo

Fonte: Acervo pessoal

135
4 Como formular dietas para os animais

As dietas devem ser formuladas de acordo com a


categoria dos animais e o objetivo que o produtor deseja
alcançar, seja para corte ou leite. A seguir serão mostrados
exemplos de formulação visando alcançar altos índices de
produção em confinamento. As simulações aqui
apresentadas são com bases em pesquisas realizadas na
região do Cariri paraibano, tanto para carneiros quando
para cabras de leite. Em situação demandada pelos
produtores, apresentamos duas situações envolvendo duas
espécies de animais com simulações para o ano de 2019.
A primeira situação da primeira propriedade traz
um produtor criando cabras de leite” Pardas Alpinas”
produzindo em média de 1,5 litros de leite por dia,
tomando como base os alimentos disponíveis na
localidade. Foi possível formular uma dieta a base de feno
de Leucena incluindo palma forrageira na ensilagem, e
como concentrado utilizou-se milho, torta de algodão e sal
mineral em mistura múltipla, como mostra a tabela 2 com
as devidas proporções.

136
Tabela 2 Dietas formuladas para cabras em lactação pesando
em média 40 kg de peso e produzindo em média de 1,5 litros de
leite por dia.
Composição da Composição da
Ingredientes
dieta (%MS) dieta (%MN)
Feno Leucena 30 13,24
Palma forrageira 21,07 64,91
Milho 34,47 15,55
Torta de algodão 12,46 5,48
Sal mineral 2 0,80
Fonte: elaboração dos autores.

A segunda demanda foi de um produtor que cria


cordeiros confinados que deseja vender os animais em
curto período de tempo, em um sistema de confinamento
com um intuito de conseguir pesos de animais com 30 kg
de peso vivo. Para isso, formulamos dietas para animais
entrando no confinamento com média de 14 kg de peso
vivo, para um ganho de 200 g de peso por dia para
conseguimos atender a demanda do produtor que é chegar
aos 30 kg com um período entre 54 e 60 dias com os
animais confinados (tabela 3).

137
Tabela 3 Dieta formuladas para cordeiros mestiços em
crescimento com ganho médio diário de peso de 200g/dia.
Composição da Composição da
Ingrediente
dieta (%MS) dieta %MN
Gliricídia 30,00 35,60
Palma forrageira 25,65 51,50
Milho 29,62 8,70
Torta de algodão 13,06 3,74
Ureia 0,67 0,17
Sal mineral 1,00 0,26
Fonte: Elaboração dos autores.

5 Como fornecer as dietas para os animais

Em se tratando do fornecimento aos animais, espera-


se até um período de 30 a 60 dias após a ensilagem para
poder introduzir na dieta dos animais, já o feno pode ser
fornecido à medida que necessitar, sem esperar tanto
tempo como para a silagem. Recomenda-se o descarte das
partes superiores no momento da abertura do silo que
apresentarem mofo (coloração branca algumas vezes que
manchas vermelhas), seja ele sacos ou silos de superfície.
O fornecimento aos animais se dá por uma breve
adaptação e aos poucos, uma vez que animal ainda não
está acostumado com a dieta.

138
O aumento gradativo da dieta no cocho se dará pelo
consumo, ou seja, a quantidade que ele come por dia. Após
um período, a sobra que o animal deixou é preciso ser
retirada do cocho para evitar contaminações,
recomendando sempre a limpeza dos cochos para que não
ocorra refugo pelos animais.

Foto 6. Cabras leiteiras mestiças recebendo dietas


com feno e palma forrageira.

Fonte: Acervo pessoal

139
6 Desempenho animal esperado

Em dietas para ovinos, comparando silagens e


fenos de leguminosas com o feno de capim elefante, foi
possível obter ganhos de pesos satisfatórios bem como
altos rendimentos de carcaça. Reforçando que estes
resultados mostram o potencial de utilização desta espécie
forrageira na forma de silagem para seu uso nos sistemas
de produção no Semiárido Brasileiro (tabela 4 e 5). Os
autores recomendaram o emprego de feno e silagem de
Gliricídia como fonte proteica e de volumoso na
formulação de dietas para cordeiros em terminação. Sendo
que, o fornecimento de Gliricídia na forma de silagem
reduz o consumo de água, esta torna-se uma excelente
alternativa na dieta de cordeiros, sobretudo em regiões
semiáridas. (Melo, 2016).

140
Tabela 4 e 5. Desempenho de ovinos alimentados com feno e
silagem de gliricidia e capim elefante em substituição parcial do
farelo de soja.
Variáveis Capim Feno de
elefante Gliricídia
Peso inicial (kg) 20,9 21,9
Peso final (kg) 26,5 32,8
Ganho médio diário (kg) 90,00 180,08
Ganho de peso total (kg) 6,11 11,60
Rendimento de carcaça fria (%) 45,4 47,0

Variáveis Capim Silagem de


elefante Gliricídia
Peso inicial (kg) 20,9 21,0
Peso final (kg) 26,5 32,3
Ganho médio diário (kg) 90,00 172,50
Ganho de peso total (kg) 6,11 9,30
Rendimento de carcaça fria (%) 45,4 46,50
Fonte: Lemos et al., (2020).

7 Retorno financeiro esperado

Com a utilização de leguminosas através da


conservação, trazem benefícios tanto no desempenho dos
animais quanto no retorno financeiro. Porém, pesquisas
apontam que o uso exclusivo de silagens de leguminosas
não só não atendem as exigências dos animais, quanto
podem apresentar qualidade inferior ao final do período de
fermentação.

141
Os dados da tabela 6 demonstram que, quando
ensilada de forma conjunta trazem bons índices de
produção, como o número maior de cordeiros abatidos.
Em uma simulação realizada, comparando uma silagem
tida como padrão que é o milho e uma com adição de
leguminosas, foi possível abater um número maior de
animais, isso em razão dos animais terem atingido os 30
kg de peso vivo.

Tabela 6 Analise econômica da produção de ovinos


alimentados com silagens de milho e leguminosa.
Descrição Milho sem Milho
aditivo +Leguminosa
RB (R$) 26.320,00 26.320,00
ML (R$) 9.496,26 8.457,27
Lucro (%) 36,08 34,63
CA 64 68
Kg de carcaça (R$) 10,21 10,89
RB = Receita bruta; ML = Margem líquida; CA = Cordeiro abatido.
Fonte: Melo (2016).

8 Considerações finais

É preciso que haja muita atenção e critério sobre


silagens de leguminosas, principalmente no que diz
respeito a silagem somente compostas por leguminosas,

142
devido a efeitos que levam ao apodrecimento. Os
resultados de estudos desenvolvidos até o momento
sugerem que o uso de leguminosas conservadas utilizadas
para compor rações é uma boa opção para alimentação de
caprinos e ovinos no Semiárido, uma vez que é capaz de
manter o rebanho e ainda trazer ganhos de pesos e
produção do leite satisfatórios. Frequentemente, nós
técnicos somos indagados pelos produtores sobre a
concentração de proteína nas diversas silagens que temos
no Nordeste.
Quando estamos discursando sobre a produção e
uso de volumosos, silagens na maioria das vezes, essa é a
primeira pergunta a ser feita. Acreditamos que a principal
razão dessa preocupação advém da situação que vivemos
no passado, momento em que muito se foi discutido
erroneamente sobre proteína em silagens. Diante desses
fatos é de bom tom que os produtores saibam qual é a
verdadeira importância desse nutriente quando pensamos
isoladamente no volumoso. A proteína forma o principal
constituinte do organismo do animal, sendo, pois,
indispensável para o crescimento, a reprodução e a
produção.

143
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ingestivo de caprinos em sistema silvipastoril. Revista
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145
Capítulo 7

CONFINAMENTO A BASE DE
SILAGEM NA FORMA DE RAÇÃO
Danillo Marte Pereira
Raniere de Sá Paulino
Arinaldo Fernandes Filho
Diego Francisco Oliveira Coelho
Maria Alyne Coutinho Santos
Evandra da Silva Justino

1 Introdução

A alimentação representa a maior proporção dos


custos dentro de um sistema de produção animal,
representando de 40 – 60%, podendo atingir percentuais
ainda mais elevados dependo da estação do ano devido a
sazonalidade na produção de forragens, em quantidade e
qualidade, tornando os custos de produção ainda mais
onerosos, principalmente durante o período seco.

146
Assim, a ensilagem é a técnica de conservação de
forragens baseada, na conversão dos carboidratos solúveis
(açúcares) presentes nas plantas em ácidos orgânicos
(principalmente ácido lático) os quais são capazes de
acidificar a massa ensilada e inibir o crescimento de
microrganismos indesejáveis, bem como manter a
qualidade e o valor nutritivo da forragem fresca. Portanto,
esse método de conservação de alimento assegura uma
fonte de forragem durante o período de escassez,
tornando-se indispensável em sistemas produção de leite e
de carne.
No âmbito da pesquisa o método de ensilagem vem
deixando de ser associado apenas a conservação de
forragem, atualmente o termo conservação de alimentos
vem ganhando cada vez mais espaço devido à ampla
variedade de alimentos que podem ser utilizados na
confecção de silagens, tais com: forrageiras frescas,
forragens com elevados teores de umidade, concentrados
e coprodutos da agroindústria úmidos ou secos, tornando
viável a confecção da silagem na forma de ração.
Em termos práticos, a silagem na forma de ração
consiste na ensilagem da combinação de forragem,

147
ingredientes concentrados, grão secos e ingredientes
úmidos (coprodutos da agroindústria) em proporções
balanceadas. Portanto, essa técnica pode ser aplicada em
qualquer região do Brasil, visto que os ingredientes
utilizados na confecção dessa silagem podem ser
encontrados em indústrias locais, o que diminui os custos
com alimentação animal e com a mão de obra dentro da
propriedade.
Portanto, a silagem na forma de ração pode ser
utilizada em pequenas e grandes propriedades rurais, por
ser uma tecnologia viável, independentemente do nível
tecnológico empregado no sistema de produção, além de
diminui seus custos. Outro ponto que vale ressaltar é a
possibilidade de comercialização dessas silagens com alto
valor agregado, uma vez que o comércio de silagem é uma
realidade em várias regiões do Brasil, possibilitando uma
fonte de renda extra associada à produção animal.
Dessa forma, o objetivo desse capítulo é abordar as
diferentes formas de produção da silagem na forma de
ração e as respostas bioeconômicas dos ruminantes
alimentados com essas silagens.

148
2 Princípios básicos para confecção de silagens na
forma de ração

As etapas do processo de ensilagem, como: corte


da forrageira (Figura 1 e 2), carregamento (Figura 3),
picagem do material (Figura 4 e 5), a mistura com os
demais ingredientes (Figura 6), compactação e vedação do
silo ou vedação (Figura 7) e acomodação dos sacos (Figura
8) são muitas vezes os pontos críticos na confecção de uma
silagem de boa qualidade, sendo assim, estas devem ser
executadas com excelência para que a qualidade do
material ensilado não seja comprometida.
Durante a produção de silagem busca-se promover
as condições ideais dentro do silo, com intuito de preservar
as características nutricionais do alimento fresco.
Portanto, para que processo fermentativo da silagem na
forma de ração seja considerado ideal, alguns fatores
devem ser considerados, tais como: as proporções dos
ingredientes na formulação da ração que será ensilada, teor
de matéria seca da mistura, teor de proteína e se a forragem
utilizada na formulação da ração irá disponibilizar os
açúcares necessários para assegurar uma boa fermentação.

149
Figura 1. Corte da palma Figura 2. Corte da gliricídia
forrageira.

Figura 3. Transporte da Figura 4. Picagem do


forrageira capim

Figura 5. Picagem da palma Figura 6. Mistura dos


ingredientes

150
Figura 7. Enchimento, Figura 8. Armazenamento
compactação e fechamento dos sacos sobre paletes de
dos silos madeira

Assim, para que se obtenha um bom processo


fermentativo, é essencial que a mistura tenha um teor de
matéria seca acima de 30%, porém para evitar riscos de
fermentações indesejáveis, recomenda-se teores de
matéria seca de pelo menos 40%; teor de açúcares de 6 a
12% na matéria seca da mistura e baixa capacidade tampão
(MCDONALD et al., 1991). Estas características vão
promover a produção de ácido lático e, consequentemente,
maior acidificação do meio gerando um produto de boa
qualidade. Com base nessas informações, na tabela 1 estão
expostos os valores de matéria seca, açúcares e pH de
diferentes silagens na forma de ração.

151
Tabela 1. Percentual médio de matéria seca, açúcares, pH em
diferentes silagens na forma de ração
TS MS Açúcares pH Autores
SFRPFB 31,21 9,7 3,8 Macedo et al. (2018)
SFRG 46,53 10,00 4,02 Santos et al. (2020)
SFRT 31,50 9,0 5,0 Pereira (2021)
TS = Tipos de silagens; MS = Matéria seca; SFRPFB = Silagem
na forma de ração: palma forrageira, farelo de trigo, farelo de
milho, farelo de soja e feno de capim buffel; SFRL = Silagem
na forma de ração: palma forrageira, farelo de trigo, farelo de
milho, farelo de soja e gliricídia; SFRT = Silagem na forma de
ração: palma forrageira, farelo de milho, farelo de soja e torta
de algodão.

Assim, é necessário atentar-se para os cuidados


básicos na confecção da silagem na forma de ração, visto
que a qualidade do produto final, no caso a silagem,
dependerá das condições desejáveis estabelecidas dentro
do silo (sem oxigênio e o meio acidificado), o que resultará
em perdas mínimas durante todo o processo. Para isso,
recomenda-se a consulta de um nutricionista para formular
a ração da maneira correta, respeitando as exigências
nutricionais dos animais, bem como as características dos
ingredientes para que a silagem seja bem preservada.

152
3 Razões para confeccionar silagens na forma de ração

As silagens na forma de ração têm sido


amplamente difundidas e utilizadas em propriedades
rurais de todo o mundo, principalmente as que atuam na
atividade leiteira, devido à redução nos custos com a mão
de obra, uma vez que em sistemas convencionais a
preparação da ração deve ser realizada pouco tempo antes
da oferta ao animal, o que aumenta seu preço final.
Portanto, ao utilizar a silagem na forma de ração evitam-
se os custos com mão de obra diária para a preparação da
ração, além de facilitar o manejo alimentar dos animais.
Assim, na tabela 2, verificam-se alguns indicadores
econômicos de cabras leiteiras em diferentes sistemas de
produção utilizando a silagem na forma de ração e a ração
convencional.

153
Tabela 2. Comparação dos indicadores econômicos da
produção de cabras leiteiras alimentadas com Silagem na forma
de ração (SFR) e ração convencional (RC)

1
Sistema em confinamento; 2 Sistema em confinamento e 3

Sistema em semiconfinamento.

Outro ponto que vale ressaltar, é ampla variedade


de ingredientes que podem ser utilizados na confecção
dessas silagens na forma de ração, principalmente os que
possuem alto grau de deterioração. Por exemplo, alguns
resíduos da agroindústria das frutas são altamente
perecíveis e muitas vezes deixam de ser utilizados porque
não podem ser armazenados úmidos, devido ao risco de
apodrecimento. As opções de secagem desses materiais
são caras e diminuem seu valor nutricional, além de tirar o
que eles têm de muito valioso, que é a água.
Além do mais, essa técnica de conservação de
alimento pode ser utilizada para contornar os problemas
associados a algumas espécies forrageiras quando
ensiladas isoladamente, como é o caso das leguminosas e

154
gramíneas que possuem baixos teores de matéria seca e
açúcares, o que dificulta sua fermentação, por outro lado a
cana-de-açúcar e o sorgo forrageiro que possuem teores de
matéria seca satisfatórios, contudo, seus elevados teores de
açúcares muitas vezes pode acarretar em fermentação
alcoólica e elevadas perdas de matéria seca. Pesquisas tem
demonstrado que a mistura da cana-de-açúcar com o
concentrado diminui bastante a fermentação alcóolica e
preserva muito melhor a silagem.
Outra forrageira que vem sendo muito utilizada na
confecção dessa silagem, é a palma forrageira, embora
esta possua um elevado teor de umidade, a mucilagem e
os teores de açúcares presentes em seus cladódios fazem
com que esta seja empregada com sucesso na confecção
das silagens na forma de ração, principalmente na região
Semiárida do Brasil (Tabela 3). Contudo, a palma
forrageira isolada deve ter no mínimo dois anos no
momento da ensilagem para evitar perdas de matéria seca
e diminuir os riscos de fermentação indesejada. Por isso,
seu uso compondo rações na forma de silagem torna-se
mais viável.

155
Assim como a palma forrageira, os coprodutos da
agroindústria, como: resíduos de frutas podem ser
utilizados na confecção de silagens na forma de ração,
devido seu baixo custo de aquisição, além de possuírem
um alto valor nutritivo e de serem fontes de açúcares para
a mistura, quando utilizados na forma in natura,
assegurando uma boa fermentação. Quando estes são
utilizados em forma de farelo, podem substituir
parcialmente outras fontes de alimento concentrado na
ração, tais como: os farelos de milho e soja. Portanto, a
utilização de resíduos agroindustriais possibilita reduzir o
uso de alimentos tradicionais na confecção da silagem,
consequentemente, diminui os custos com a alimentação
animal. Ainda, contribui para a redução de emissão de
poluentes no ambiente, sendo uma alternativa sustentável
para pequenos e grandes produtores rurais.

156
Tabela 3. Proporções dos ingredientes na matéria natural
das diferentes silagens na forma de ração.

1
Silagem na forma de ração à base de palma forrageira e feno de capim
buffel (SFRFB); Silagem na forma de ração à base de palma forrageira
e sorgo forrageiro (SFRS); Silagem na forma de ração à base de palma
forrageira e capim aruana (SFRCA); Silagem na forma de ração à base
de palma forrageira e Gliricídia (SFRG); Silagem na forma de ração à
base de palma forrageira e torta de algodão (SFRT); Silagem na forma
de ração à base de palma forrageira e resíduo de manga (SFRM);
Silagem na forma de ração à base de palma forrageira e resíduo de
cacau (SFRC); Nutrientes digestíveis totais (NDT).

Outra razão para confeccionar as silagens na forma


de ração é o seu valor comercial, visto que o comercio de
silagem é uma realidade demasiadamente rentável,
principalmente no Nordeste do Brasil. Dessa forma, a

157
comercialização de uma silagem de qualidade e com valor
nutricional suficiente para expressar a resposta dos
ruminantes agrega valor e renda extra para os pecuaristas
(Figura 9 e 10).

Figura 9. Silagens em sacos

Fonte: Acervo pessoal

Figura 10. Silagens em sacos

Fonte: Acervo pessoal

158
Dessa forma, ao ensilar a combinação de forragens,
grãos, alimentos proteicos, minerais e aditivos
alimentares, misturados de forma balanceada para suprir
as exigências nutricionais dos animais ruminantes, reduz-
se os custos de produção, otimiza-se a utilização dos
recursos forrageiros disponíveis, possibilita-se o uso de
resíduos da agroindústria, maximiza-se o manejo
alimentar dos animais e quando comercializadas podem
gerar uma renda extra para o produtor rural.

4 Desempenho de animais alimentados com silagens de


ração completa.

Nos sistemas de criação, independentemente do


nível tecnológico empregado, o desempenho animal é uma
medida da produção de cada animal do rebanho ao longo
de um determinado período de tempo, tendo como os
principais indicadores de desempenho o ganho de peso
final (g/Kg), ganho médio diário (g/dia) e produção de
leite (L/dia), o que influência diretamente no tempo de
terminação dos animais, na idade ao abate, escore dos
animais ao abate, tempo de permanência do animal leiteiro

159
na propriedade e consequentemente na velocidade no
retorno do capital investido e na rentabilidade do sistema
de produção. Nesse sentido, as rações destinadas a
ensilagem devem ser formuladas visando atender as
exigências de cada espécie de ruminantes e categoria
animal. Sendo assim, na tabela 4, observa-se que o
desempenho desses animais foi conforme o esperado para
de raças tropicais.

Tabela 4. Desempenho produtivo de ovinos em terminação e


cabras em lactação alimentados com silagens na forma de ração

1
SFRCB = Silagem na forma de ração com 35% de feno de capim
buffel utilizadas na terminação de ovinos; 2SFRCB = Silagem na
forma de ração com 30% de feno de capim buffel utilizadas para
cabras em lactação; 3SFRT = Silagem na forma de ração com 30% de
torta de algodão utilizadas na terminação de ovinos.

Nesse sentido, a utilização de silagens de ração


completa torna-se uma alternativa prática e viável para
grandes e pequenos produtores rurais, uma vez que o
desempenho dos animais, de forma geral, pode ser

160
melhorado ou, no mínimo, permanece inalterado (Tabela
4) e tem-se ainda os demais benefícios, como a
comercialização do excedente de silagem, a praticidade
operacional na utilização dessas silagens e maior
seguridade nos aspectos sanitários, devido à menor
proliferação microrganismos deletérios no alimento.

5 Considerações finais

A técnica de produção de silagens na forma de ração,


pretende atender as exigências nutricionais dos animais e
facilitar o manejo alimentar da propriedade, bem como
otimiza o uso dos recursos forragens disponíveis, de
alimentos concentrados (proteicos e energéticos) e
resíduos agroindustriais da região, diminuindo os custos
do sistema, além de melhorar o desempenho produtivo dos
animais da propriedade.

161
Referências bibliográficas

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based on spineless cactus and buffelgrass. African
Journal of Range & Forage Science, v. 35, n. 2, p. 121-
129, 2018.

MCDONALD, P.; HENDERSON, A.R.; HERON, S. The


biochemistry of silage. Marlow:Chalcombe. 2. ed. 1991.
340p.

NOGUEIRA, D. M. et al. Viabilidade econômica de um


sistema de produção de cabras leiteiras no Submédio do
São Francisco. In: Embrapa Semiárido-Artigo em anais
de congresso. In: CONGRESSO NORDESTINO DE
PRODUÇÃO ANIMAL, 5.; SIMPÓSIO NORDESTINO
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SIMPÓSIO SERGIPANO DE PRODUÇÃO ANIMAL,
1., 2008, Aracaju. Anais... Aracaju: Sociedade
Nordestina de Produção Animal; Embrapa Tabuleiros
Costeiros, 2008.

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aditivos para silagens utilizadas na alimentação de
ruminantes. 2021. 90 f. Tese (Doutorado) - Curso de
Zootecnia, Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2021.

162
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total mixed ration silages based on Cactus and
Gliricidia. The Journal of Agricultural Science, v. 158,
n. 5, p. 396-405, 2020.

SANTOS, F. N. S. Silagens de rações completas a base


de palma forrageira sobre o perfil fermentativo,
diversidade taxonômica, produção, composição do
leite e avaliação econômica de cabras em lactação.
2021. 85 f. Tese (Doutorado) - Curso de Zootecnia,
Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2021.

SILVA, J. K. B. Silagens de rações de palma


forrageira e capim buffel para ovinos em
confinamento. 2018. 115 f. Tese (Doutorado) - Curso de
Zootecnia, Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2018.

163
Capítulo 8

CONFINAMENTO A BASE DE
SUBPRODUTOS
Yohana Rosaly Corrêa
Izabelly Alves Pontes
Paloma Gabriela Batista Gomes
Daiane Gonçalves dos Santos
Raniere de Sá Paulino
Nelquides Braz Viana

1 Introdução

A utilização de subprodutos na alimentação animal


é uma alternativa econômica e viável, um exemplo seriam
os subprodutos agroindustriais, por existirem em grandes
quantidades em várias regiões do Brasil.
Os subprodutos podem entrar na alimentação
animal como substituto de algum outro alimento que
apresentem custo de aquisição elevado, como o milho e a

164
soja. Animais confinados, como bovinos, caprinos e
ovinos, podem ser alimentados com os subprodutos e
ainda assim manter um bom desempenho produtivo.
Algumas alternativas alimentares de subprodutos são: o
melaço e bagaço da cana, resíduos do algodão e da
mamona, farelo de glúten de milho e resíduos de frutas.
Assim este capítulo tem por finalidade apresentar
informações aos produtores, mostrando alimentos
alternativos e de baixo custo para se utilizar na
alimentação animal, objetivando aumentar a
produtividade do rebanho reduzindo custos com a
alimentação.

2 Onde adquirir os subprodutos

Os subprodutos podem ser adquiridos nas próprias


agroindústrias a depender do produto que se procura, caso
seja uma polpa cítrica, deve-se procurar uma agroindústria
da área de fruticultura, caso seja um soro de leite o
produtor deve procurar um laticínio, o próprio bagaço da
cana ou o melaço, pode ser facilmente encontrado em
engenhos de pequena, média ou grande produção.

165
Figura 1 Bagaço de cana-de-açúcar.

Fonte: revistarural.com.br

3 Mitos sobre subprodutos

Muitos produtores ainda se mostram resistentes ao


utilizar subprodutos na alimentação dos seus animais
devido a alguns mitos que foram disseminados ao longo
dos tempos. O principal mito que se houve falar é que os
subprodutos não suprem as necessidades dos animais pois
são alimentos de baixa qualidade. No entanto, existem
diversos estudos que mostram que a grande maioria dos
subprodutos agrícolas ou agroindustriais são de boa
qualidade, mas claro que se tem produtos de baixa
qualidade, porém de forma geral a grande maioria são

166
alimentos de qualidade suficiente para suprir as
necessidades dos animais e aumentar a produção com
baixo custo.
Alguns produtores optam por utilizar esses
subprodutos apenas quando se apresentam com custo
baixo na aquisição, e isso é outra questão que deve ser
desmistificada, pois independente do preço, esses
alimentos são bastante viáveis para formular dietas para
animais de alta produção, que em confinamento
consomem altas quantidades de concentrado, como é o
caso da utilização da casquinha de soja e do caroço de
algodão na alimentação de vacas leiteiras.
Ainda se fala muito que não utilizam os
subprodutos devido a grande quantidade de contaminantes
presentes nesses resíduos agroindustriais, no entanto esse
mito se deve ao fato de antigamente não ter uma
fiscalização tão rígida como nos dias atuais, devido a
exigência dos mercados as industriam prezam por vários
recursos que venham a contribuir no quesito de
monitoramento de qualquer tipo de contaminante que
venham a ser prejudicial na cadeia alimentar.

167
4 Alternativas de subprodutos na alimentação animal

4.1 Polpa Cítrica peletizada

A polpa cítrica é um resíduo da indústria de


processamento da laranja e do limão para extração de
sucos, esse subproduto pode vir a ser utilizado na dieta de
ruminantes como fonte de energia (substituindo o milho)
e fibra, que auxilia na manutenção da funcionalidade
ruminal.

Figura 2 Polpa cítrica.

Fonte: maisfarelo.com.br

Em relação ao valor nutritivo desse subproduto,


quando comparado ao milho a polpa cítrica quando

168
peletizadas apresenta um teor de amido relativamente
baixo, com valores entre 0,1 e 0,14% e um elevado teor de
fibra em detergente neutro (FDN), com 24,2% da matéria
seca (MS). Por outro lado, a parte fibrosa da polpa cítrica
apresenta apenas 1% de lignina, isso quer dizer que ela é
praticamente toda degradada no rúmen, ou seja, o animal
irá aproveitar quase que totalmente esse alimento (TIGRE,
2016).
Alguns pesquisadores relatam em seus estudos que
a utilização de polpa cítrica traz melhorias ao desempenho
produtivo animal. Gilaverte et al. (2011), ao avaliar o
desempenho de ovinos Santa Inês que foram alimentos
com polpa cítrica peletizadas substituindo o milho
totalmente, em um período de 18 dias chegaram a
conclusão que essa substituição não ocasionou alterações
na digestibilidade dos nutrientes nem no desempenho dos
animais. Dessa forma, a depender dos custos, pode
aumentar a lucratividade do confinamento.

169
5 Outros resíduos da indústria frutícola

No mercado atualmente as principais frutas


ofertadas para as indústrias frutíferas destinadas a
produção de polpa para a comercialização são acerola,
abacaxi, cupuaçu, uva, maracujá e coco. No entanto a
grande maioria destas frutas apresentam uma grande
quantidade de resíduos que podem ser aproveitados após
o seu processamento, a acerola por exemplo expressa um
rendimento de subproduto que varia de 15 a 40% da
produção total das frutas (PAZDIORA, et al., 2019).

5.1 Acerola

Algumas pesquisas foram realizadas e apontam


que os resíduos da acerola apresentam um teor de 16,9%
de proteína bruta, 57,20% de carboidratos totais, 59,9 de
fibra detergente ácido, 17,2% de hemicelulose, 30,8% de
lignina, 26,5% de fibra bruta, 81,6% de fibra detergente
neutro, 35,1% de celulose (LOUSADA JUNIOR et al.,
2006; MANERA et al.,2014). Devido a esse subproduto
ter uma oferta relativamente alta durante o ano, ela pode

170
vir a ser aproveitada com grande potencial para uso na
forma de silagem.

Figura 3: Resíduos de acerola

Fonte: peteq.feq.ufu.br

No entanto deve-se ter atenção ao utilizar o


subproduto da acerola, pois a mesma apresenta limitações
quanto ao seu fornecimento para ruminantes como única
fonte alimentar, pois o mesmo apresenta elevado teor de
lignina (20,1%) (MAZZA et al., 2018), que é a parte
indigestível da fibra e por isso deve ser utilizada em
menores quantidades na dieta, com função principal de
fornecer fibra em dietas com alto grão ou elevada inclusão
de palma forrageira.

171
5.2 Abacaxi

O abacaxi quando industrializado gera uma


quantidade de resíduos considerável, constituídos por
várias partes da fruta, como a coroa, a casca, talo entre
outros, chegando a compor até 35% do peso total da fruta.
O grande volume de resíduos gerados por cada parte do
abacaxi pode mudar de acordo com a qualidade da
produção, variedade do fruto e maturidade da fruta.

Figura 4 Bovino se alimentando de resíduos do abacaxi

Fonte: capatsa.embrapa.br:8080

Com base na matéria seca, o subproduto de abacaxi


apresenta na sua composição nutricional 8,4% de proteína

172
bruta, 71,4% de Fibra em detergente neutro, 30,7 de Fibra
em detergente ácido e 6,8 de minerais (LOUSADA;
NEIVA; PIMENTEL, 2002).

5.3 Maracujá

Além da polpa e do suco concentrado, o maracujá


apresenta um potencial de reaproveitamento dos seus
subprodutos, como as sementes e a casca, as quais podem
ser utilizados na alimentação animal, no entanto deve-se
fazer a formulação da dieta se atentando para o teor de
extrato etéreo que não venham a ultrapassar 6 ou 7% na
matéria seca, uma vez que as sementes do maracujá
apresentam um alto teor de extrato etéreo em sua
composição, o que pode vir a interferir na digestibilidade
das frações fibrosas (GIORDANI JUNIOR et al., 2014).
Os subprodutos do maracujá podem vir a substituir
parcialmente o volumoso da dieta, visto que o mesmo
apresenta 51% de casca e 26% de semente em seus
resíduos pós extração do suco. Assim o maracujá
apresenta em sua composição nutricional cerca de 12,4%
de proteína bruta, 1,0% de extrato etéreo, 59,2% de fibra

173
em detergente neutro e 12,4% de minerais (LOUSADA;
NEIVA; PIMENTEL, 2002).

Figura 5 Resíduos de maracujá

Fonte: ctaa.embrapa.br/

6 Consumo e Desempenho animal consumindo


subprodutos frutícolas.

O desempenho animal depende diretamente da


ingestão dos nutrientes digestíveis e metabolizáveis, onde
60% a 90% das diferenças nos desempenhos são oriundas
do aumento da ingestão pelos animais, e 10% a 40% em
diferenças pela digestibilidade. Lousada Júnior et al.
(2005) ao avaliar os valores nutritivos de coprodutos do

174
processamento de frutas desidratadas observou o consumo
da matéria seca (CMS) dos subprodutos da acerola,
abacaxi e maracujá por ovinos, onde os resultados estão
demonstrados na tabela 1. Se faz necessário observar o
baixo consumo do resíduo de acerola, em função da alta
quantidade de lignina, deixando claro que a sua utilização
deve ser parcial na dieta, como fonte exclusiva de fibra.

Tabela 1. Consumo de matéria seca (CMS) dos resíduos da


acerola, abacaxi e maracujá.
Resíduos CMS
g/animal/dia %PV
Acerola 500,3 1,4
Abacaxi 924,2 2,7
Maracujá 1200,9 3,5
CV 2,2 12,0
PV= Peso vivo
Fonte: Lousada Júnior et al. (2005).

6.1 Soro de leite

O soro de leite é um subproduto oriundo da


fabricação de queijos, onde a cada 100 litros de leite, por
volta de 80 a 90 litros correspondem a este resíduo, se
tornando então viável para alimentação animal devido seu

175
elevado valor nutritivo e boa palatabilidade, o que
resultam em uma boa aceitação por parte dos animais.

Figura 7: Soro de leite.

Fonte: globoplay.globo.com/

Lizieire e Campos (2006) recomendam que para


utilizar o soro de leite bovino é necessário levar em
consideração que se o produto for mal armazenado o
mesmo irá acabar se estragando mais rapidamente,
tornando menos palatável se armazenado sem
refrigeração. Podendo também ocorrer diarreia e
timpanismo nos animais caso consumam uma grande
quantidade de soro em um curto espaço de tempo e se não

176
estiverem consumindo uma quantidade ideal de volumoso,
assim recomenda-se para cordeiros e cabritos em
terminação a inclusão de soro de leite na dieta em até 4,0%
e 4,5% na matéria seca (ROGÉRIO, et al. 2017).
A fim de evitar problemas com a alimentação dos
animais se faz necessário ter um acompanhamento de um
profissional capacitado para dar suporte ao produtor para
que o mesmo aproveite as alternativas de forma mais
eficiente possível, melhorando assim o seu rebanho de
forma econômica.

6.2 Melaço de cana-de-açúcar

O melaço é um subproduto da fabricação de açúcar


através da cana-de-açúcar. O melaço possui um formato
líquido de aspecto viscoso e não cristalizável, onde é
utilizado em larga escala como palatabilizante e energético
de elevado valor nutricional na alimentação dos animais,
principalmente em confinamentos de pequenos
ruminantes.
Recomenda-se utilizar de 5-10% de melaço liquido
na ração com base na matéria seca para bezerros

177
confinados, já para animais adultos a recomendação é de
10-20% na ração (Brown & Johnson, 1991), recomenda-
se ainda que o melaço líquido seja fornecido sobre o
alimento mais seco, como por exemplo, um feno ou uma
forrageira mais seca no próprio cocho, pois além de
facilitar a ingestão pelos animais, favorece o consumo.

Figura 8: Melaço de cana-de-açúcar.

Fonte: beefpoint.com.br/

178
6.3 Farelo de glúten de milho

O farelo de glúten de milho é um subproduto seco


do milho obtido após a remoção da maior parte do amido
e do gérmen, extraído pelo processo da fabricação do
amido de milho ou do xarope. É uma fonte de proteína e
energia considerada excelente para um subproduto, apesar
de não ser muito palatável.

Figura 9: Farelo de glúten de milho.

Fonte: pt.made-in-china.com/

A utilização do farelo de glúten entra na dieta como


substituto do milho e da soja em forma de concentrado,
por ser mais barato e ter um valor nutricional

179
relativamente bom. Neiva, et al. 2005, recomenda a
inclusão de até 40% de farelo de glúten de milho na dieta.

6.4 Resíduos do algodão

A indústria do algodão gera vários resíduos que


podem ser aproveitados, dentre esses resíduos se destaca a
torta de algodão, a qual é obtida através do resíduo da
extração do óleo oriundo da amêndoa do caroço do
algodão.

Figura 10: Torta de algodão.

Fonte: aboissa.com.br/

180
Essa torta da origem ao farelo de algodão, ambos
servem de alimento para animais em confinamento, o qual
pode ser fornecido de algumas formas em substituto a
alguns ingredientes. Pereira, 2021 em dados ainda não
publicados, recomenda para ovinos confinados a inclusão
de até 30% de torta de algodão na silagem de ração
completa, substituindo tanto o feno quanto o farelo da soja.

7 Considerações finais

O produtor deve estar atento a qualidade e aspectos


gerais dos produtos a serem fornecidos para que não venha
prejudicar o rebanho. Deve-se atentar também aos
produtos fornecidos quanto ao seu limite de utilização,
para que não extrapole o recomendado e acarrete em
distúrbios nutricionais futuros. Os subprodutos são uma
alternativa economicamente viável para o produtor, uma
vez que podem ser substitutos de produtos mais onerosos
em períodos de escassez de alimento.

181
Referências bibliográficas

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hay on the growth and carcass characteristics of cull
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184
Capítulo 9

CONFINAMENTO A BASE DE GRÃO


DE MILHO REIDRATADO
Rafael Lopes Soares
Thays Bianca Lira Viana
Paulo da Cunha Tôrres Júnior
Izabelly Alves Pontes
Antoniel Florência da Cruz
Mikaelle de Sousa Dutra

1 Introdução

O milho é o concentrado energético mais utilizado


para a alimentação de ruminantes no mundo. No entanto,
o milho disponível no Brasil apresenta um endosperma
duro diferente dos outros países que produz milho dentado
que dificulta o aproveitamento do amido pelo animal. A
forma convencional de aumentar a disponibilidade do
amido pelo animal é a moagem, que apesar de muito

185
comum, ainda está longe do ideal, pois a moagem
realizada ainda é muito grosseira (Philippeau et al.2000;
Hoffman e Shaver, 2009). Além disso a quebra da dureza
do grão depende de reações químicas e não só do
processamento do grão.
A técnica de silagem de grão de milho reidratado
consiste basicamente em moer o milho seco, reidratar com
água ou palma forrageira e conservar em forma de
silagem. Durante o processo de ensilagem do grão moído,
vão ocorrer transformações na silagem, por meio de
reações químicas, diminuindo a dureza da camada
superficial do grâo, fazendo com que o amido fique mais
disponível para o aproveitamento animal.
As práticas de hidratação do grão de milho com
água ou palma forrageira, podem ser adotadas de acordo
com a realidade da propriedade, permitindo que o produtor
escolha a técnica de hidratação que seja mais adequado ao
manejo diário. A forma de armazenamento também segue
o mesmo raciocínio, desde que promova adequada
fermentação da silagem e preservação do alimento.

186
187
188
2 Efeito da ensilagem sobre a digestão do amido

A presença de amido é uma das principais razões


para a utilização do milho na alimentação de pequenos
ruminantes, pois é um alimento que irá fornecer energia
para o animal. Porém, o amido presente no grão de milho
duro, está envolvido por uma película de proteção,
conhecida como matriz proteica. Essa matriz proteica
pode deixar o amido indisponível durante o processo de
digestão animal, e assim o animal irá aproveitar uma
menor quantidade de energia do alimento.
No processo de ensilagem, há naturalmente uma
quebra dessa matriz proteica, através de reações químicas
promovidas pelas bactérias da silagem, fazendo com que
o amido fique disponível para a digestão animal (Benton
et al., 2005; Pereira et al., 2013). Essa maior
disponibilidade do amido pode melhorar o desempenho
dos animais, ou mesmo permitir a diminuição da
quantidade de milho usado na dieta, reduzindo os custos
da ração.

189
3 Confecção de silagem de milho reidratado com água

A silagem de milho reidratado, nada mais é que o


milho grão seco moído, reidratado com água até que atinja
a umidade desejada. É importante misturar bem a água ao
milho moído, evitando áreas mais úmidas e outras mais
secas, formando uma massa uniforme.
A quantidade de água a ser adicionada a cada
tonelada de milho vai depender do que o técnico e o
produtor desejar, lembrando que para que haja
fermentação adequada e de qualidade, é preciso levar em

190
consideração o teor de matéria seca da silagem. A matéria
seca é o percentual do alimento sem água, no cálculo para
confecção da silagem de milho reidratado levamos em
consideração o teor de matéria seca dos alimentos e
matéria seca final, por isso é importante determinar seu
valor dos alimentos. Para a reidratação é recomendado um
teor de matéria seca de 60% a 67%. A seguir podemos ver
um exemplo de cálculo.

Figura 1. Confecção da silagem de milho reidratado com água.

Observação: Os valores em cor preta não devem ser


alterados.

Dessa maneira para cada 1.000kg de milho moído


devemos incluir 470 litros de água.

Figura 2. Exemplo de confecção da silagem de milho


reidratado com água.

191
4 Confecção de silagem de milho reidratado com palma
forrageira.

A utilização de palma forrageira no processo de


reidratação do milho é uma alternativa que pode aproveitar
os recursos alimentares disponíveis da propriedade. Para
obtenção de uma boa mistura na confecção da silagem
com palma forrageira é necessário triturar a palma,
permitindo a reidratação do milho no silo.
A confecção da silagem de milho reidratado com
palma forrageira deve ser feita assim como a silagem de
milho reidratado com água, levando em consideração a
matéria seca dos alimentos e a matéria seca desejada da
silagem, como mostrado a seguir:

192
Figura 3. Cálculo de confecção da silagem milho
reidratado com palma forrageira.

Figura 4. Exemplo de confecção da silagem de milho


reidratado com palma.

No processo de ensilagem, a palma é triturada em


forrageira estacionária e pode ser misturada com o milho
moído manualmente, com auxílio de enxada, misturador

193
automático, ou uma betoneira. Essa mistura será
armazenada num silo que deverá permanecer fechado no
mínimo 60 dias para que ocorra o processo de fermentação
do material ensilado.

Figura 5 a e b: exemplos de confecção da silagem de milho


reidratado.

Fonte: Acervo pessoal.

Uma das grandes vantagens de se hidratar o milho


com a palma forrageira ao invés da água, é que a silagem
de milho reidratado com a palma não é susceptível ao
mofo, pois a palma possui em sua composição substâncias

194
que controlam o aparecimento de mofos no silo e, dessa
forma, as perdas por descarte de silagem mofada serão
mínimas.

5 Armazenamento (tipos de silo).

O armazenamento da silagem de milho reidratado


pode ser feito de diversas formas, fazendo uso de
diferentes materiais como tambores de PVC, alvenaria,
lonas e sacos plásticos. Independente do modelo adotado
é importante lembrar que compactar bem o material
ensilado é essencial para sua conservação. A compactação
e vedação deve ser eficiente, permitindo a expulsão do
oxigênio e impedido a entrada dele.

5.1 Tambores

É um dos tipos de silo que possuem maior


segurança contra ataques de roedores e aves. Após o
processo de homogeneização e compactação do material
ensilado, uma lona deve ser colocada na parte superior do
tambor antes do fechamento com a tampa plástica, para
evitar a entrada de ar.

195
Após o manuseio da silagem, entre uma retirada e
outra, deve-se colocar a lona diretamente sobre o material,
evitando ao máximo o contato com o ar.

5.2 Vantagens e Desvantagens na utilização de


tambores para ensilagem:

196
5.3 Silo trincheira

O silo trincheira é mais uma alternativa para fazer


reservas de forragem para o período em que ocorre
escassez de alimento.
A escolha do local para construção do silo
trincheira deve ser livre de umidade, seja um barranco ou
um local alto o importante é estar próximo ao curral ou
estábulo para facilitar o trabalho na hora de fornecer o
alimento para os animais.

Figura 7 Compactação de Silo

Fonte: comperural.com

197
5.4 Vantagens e desvantagens na utilização de silo
trincheira:

5.5 Silo superfície

O silo tipo superfície é uma ótima alternativa para


quem não possui estrutura física para o armazenamento de
silagens e quer produzir uma grande quantidade de
alimento para o seu rebanho. Neste tipo de silo, não

198
existem paredes, o material é compactado sobre o terreno,
lonas auxiliam forrando o chão e vedando o silo.

5.6 Vantagens e Desvantagens na utilização silo superfície:

199
5.7 Sacos

A utilização de sacos plásticos para o armazenamento


de silagens vem crescendo a cada dia, sendo uma vantagem para
os produtores. É uma ótima alternativa de baixo custo para
propriedades que não tenham estrutura física disponível para
silagem, pela facilidade de transporte da silagem, produtores
que vendem silagem optam por essa opção.

5.8 Vantagens e desvantagens na utilização de sacos para


ensilagem:

200
6 Formulação de dietas contendo silagem de grão de
milho reidratado

A silagem de grão de milho reidratado com água


ou palma forrageira não substitui o volumoso da dieta, já
que os grãos, assim como a palma forrageira, são
alimentos energéticos. A silagem de grão de milho
reidratado fornece grande quantidade de energia
prontamente disponível para o animal quando associado a
outros nutrientes de qualidade, como alimentos proteicos
e alimentos contendo fibra efetiva, promovendo saúde
intestinal, a junção de todos esses ingredientes na forma
de ração são necessários para promover o máximo
desempenho animal.

7 Dieta para cabras leiteiras com inclusão de milho


reidratado com água

A dieta a seguir foi formulada para cabras em


lactação com peso médio de 45kg, produção média diária
de 2,5 litros de leite e 3,4% de gordura no leite.

201
Tabela 1. Formulação de dietas com silagem de grão de milho
reidratado para cabras em lactação com base na MS e MN.

Fonte: Soares, (2020) dados não publicados.

8 Dieta para cordeiros com inclusão de milho


reidratado com palma forrageira

A dieta a seguir foi formulada para cordeiros em


confinamento com 20kg de peso vivo, para um ganho
médio diário de 200g por dia.

202
Tabela 2 Formulação de dietas com silagem de grão de milho
reidratado com palma para cordeiros confinados base na
matéria seca (MS) e na matéria natural (MN)
Alimentos Composição Composição da
da Dieta %MS Dieta %MN
SM 60,33 76,35
SGMRPF 26,88 17,91
Soja 11,95 5,40
Ureia 0,48 0,19
Cloreto de amônio 0,12 0,05
Sal Mineral 0,24 0,10
SM = Silagem de milho; SGMRPF = Silagem de grão de milho
reidratado com palma forargeira
Fonte: Soares, (2020) dados não publicados.

9 Dieta para cabras leiteiras com inclusão de milho


reidratado com palma forrageira

A dieta a seguir foi formulada para cabras em


lactação com peso médio de 45kg, produção média diária
de 2,5 litros de leite e 3,4% de gordura no leite.

Tabela 3 Dietas com silagem de grão de milho reidratado com


palma para cabras em lactação com base na MS e MN

Fonte: Soares, (2020) dados não publicados.

203
10 Fornecimento das silagens de grão para os animais

Após aproximadamente 60 dias do fechamento do


silo, a abertura pode ser realizada, momento em que o
produtor deve retirar uma camada mínima de 10 cm do
silo, evitando a utilização de silagem estragada para os
animais. Também não se deve armazenar o produto que já
foi retirado do silo.

Figura 7. Silagem de boa qualidade e silagem de má


qualidade (inviável para o consumo animal).

Fonte: Acervo pessoal

204
Figura 8 a e b: Fornecimento de ração completa contendo
silagens de grão de milho reidratado para cordeiros em
confinamento.

Fonte: Acervo pessoal

11 Desempenho animal esperado de animais


alimentados com silagens de grão de milho

A adoção da silagem de grão de milho reidratado


se torna uma ferramenta nutricional para elevar o valor
nutritivo do grão de milho, diminuindo seu teor vítreo
(dureza), dessa forma, o amido do milho se torna mais
disponível para a utilização, promovendo maior
desempenho animal.

205
12 Experimento com cordeiros em confinamento

Os dados da tabela abaixo são referentes a um


experimento onde foram utilizados cordeiros sem padrão
racial definido, alimentados com dietas completas
contendo silagens de grão de milho reidratado com água
ou com palma forrageira. O período de confinamento foi
de 60 dias. É importante lembrar que os animais utilizados
neste experimento eram animais sem padrão racial
definido. A utilização de raças especializadas pode
incrementar ainda mais o ganho de peso dos animais.

Tabela 4. Desempenho de cordeiros confinados alimentados


com dietas completas contendo silagem de grão de milho
reidratado.

Fonte: Soares, (2020) dados não publicados.

206
13 Análise econômica da produção

Assim como boas técnicas de manejo, a análise dos


custos de produção também deve ser empregada na
propriedade. Através dos custos de produção, o produtor
poderá ter conhecimento sobre os fatores econômicos de
toda a propriedade.
Uma análise econômica dos pontos principais do
sistema de produção é de grande importância, dando apoio
aos técnicos para realizarem suas decisões, fornecendo
uma visão de recursos e implantações que devem ser feitas
na atividade.
A produção anual de milho, a variação do preço da
saca durante o ano e a logística entre produção e
localização da propriedade que o milho vai ser fornecido,
pode fazer com que esse ingrediente aumente os custos de
produção. Além desses fatores, a qualidade do milho pode
mudar de acordo com a forma de armazenamento na
propriedade, então mesmo que o produtor compre o milho
antes por um preço mais acessível, pragas podem diminuir
a qualidade do grão. Todos esses fatores devem ser
levados em consideração em uma análise econômica.

207
Em seguida (tabela 5), foi realizada uma
simulação, comparando custos de produção de um sistema
de criação de cordeiros alimentados com milho moído e
um sistema de produção de cordeiros alimentados com
silagem de grão de milho reidratado com água. Na situação
em que foi utilizado o milho moído, o preço do milho foi
determinado de acordo com a cotação do milho ao passar
dos meses de confinamento. Já no confinamento
utilizando a silagem de grão de milho reidratado, foi
levado em consideração que o milho foi comprado de uma
única vez e ensilado.
Apesar do maior consumo da silagem de grãos de
milho reidratado, houve menor custo total e uma maior
receita, indicando que a adoção de silagem de grão de
milho resultou em maior economia para a produção. Além
de garantir um alimento de qualidade e padronizado
durante todo o período de confinamento.

208
Tabela 5. Avaliação financeira do confinamento de
ovinos confinados alimentados com milho comum e
silagem de grão de milho reidratado com água e palma
forrageira.

AA = Aquisição de animais; RT = Rendimentos totais; DMM = Dieta


com milho moído; DSGMRA = Dieta com silagem de grão de milho
reidratado com água.

14 Considerações finais

A silagem de milho reidratado, sendo com água ou


palma forrageira, se torna uma técnica muito interessante
para o produtor, onde não é preciso maquinário para o
processo de ensilagem, o produtor pode economizar mais
dinheiro programando a compra do milho em épocas mais

209
baratas, conservar e melhorar a qualidade do alimento e ao
mesmo tempo conseguir um ganho de peso maior dos
animais.

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210
Capítulo 10

CONFINAMENTO A BASE DE
SILAGEM DE MILHO SEM ESPIGA
ADITIVADA COM PALMA
FORRAGEIRA
Gilberto de Carvalho Sobral
Maria Evelaine de Lucena Nascimento
Nelquides Braz Viana
Danillo Marte Pereira
Paloma Gabriela Batista Gomes
Daiane Gonçalves dos Santos

1 Introdução

A silagem de milho é a mais utilizada no Brasil e


sua fermentação é considerada referência quando
comparada com outras silagens, em virtude dos adequados
teores de carboidratos solúveis encontrados na planta e

211
elevada produção por hectare. Essas características
favorecem uma boa fermentação da planta do milho,
quando a mesma é ensilada de maneira adequada,
promovendo a conservação de um alimento de alto valor
nutritivo, de fácil preparo e de grande aceitação pelos
animais (FERRARETTO et al., 2018). No entanto, muitos
produtores retiram a espiga para consumo humano e/ou
animal e utilizam somente o resíduo da colheita na
alimentação dos ruminantes, que devido à ausência das
espigas, diminui os teores de carboidratos solúveis do
material ensilado, interferindo na fermentação no silo e na
qualidade nutricional da silagem.
Uma alternativa viável, para melhorar o valor
nutricional das silagens de milho sem espigas, é o uso da
palma forrageira como aditivo. A palma forrageira
apresenta boa concentração de carboidratos solúveis
podendo substituir a espiga do milho, melhorando assim,
a fermentação e o valor nutricional da silagem de milho
sem espiga (LOPES et al., 2017).
Esse capítulo traz informações relevantes a
respeito do uso da palma forrageira como forma de aditivo
em silagens de milho sem espiga, evidenciando os seus

212
benefícios, tanto com relação a melhoria na qualidade
fermentativa e nutricional da silagem bem como no
aproveitamento e desempenho de ovinos confinados a
base da silagem de milho sem espiga aditivada com a
palma.

2 Por que ensilar a planta do milho sem espiga?

Muitos produtores da região Nordeste cultivam o


milho para comercialização das espigas na forma de milho
verde, com o objetivo de produzir pratos típicos a base de
milho, ou mesmo o consumo do milho cozido ou assado.
Assim, no campo, fica como resíduo a planta de milho sem
a espiga.
Na maioria das propriedades, essa forragem seca
no campo e posteriormente é cortada e utilizada como
palhada. No entanto, na forma de palhada, a planta do
milho diminui consideravelmente seu valor nutritivo e
apresenta um grande volume, o que dificulta o seu
armazenamento, em paióis e estábulos. Por isso, o
interesse de ensilar toda a planta sem espiga ainda verde

213
com o intuito de usar esse material de forma mais
eficiente.
Na tabela 1, têm-se as perdas da silagem de milho
sem espiga com diferentes porcentagens de palma
forrageira, em que se observa que o uso da palma como
aditivo diminuiu as perdas no material ensilado.

Tabela 1. Perdas das silagens de milho sem espiga aditivada


com palma orelha de elefante mexicana.
Silagens de milho sem espiga
Variáveis 0% de 10% de 20% de
palma palma palma
Total de silagem (kg) 1081,98 1033,26 1207,95
Peso médio/saco (kg) 60,11 60,78 80,53
Perdas (kg/saco) 3,44 2,20 0,95
Perdas (%) 5,72 3,62 1,18
Dados não publicados.

3 Qual o benefício de utilizar a palma forrageira como


aditivo na ensilagem do milho sem espiga?

O uso da palma forrageira na ensilagem da palhada


pode contribuir não só para uma melhora na qualidade
fermentativa da silagem graças a sua composição

214
bromatológica, bem como na correção da matéria seca do
material a ser ensilado devido a sua elevada quantidade de
água.
Alguns pesquisadores têm observado que a
inclusão de palma forrageira em silagens aumenta a
estabilidade aeróbia. Estabilidade aeróbia é o tempo que a
silagem permanece viável após a abertura do silo. Quanto
menor a estabilidade aeróbia, mais rapidamente o silo
mofa quando aberto. A silagem mofada além de ter baixa
aceitabilidade pelos animais podem causar problemas de
saúde nos mesmos.

Figura 1. Figura (A) palma moída pronta para ser misturada


com a palha do milho sem espiga. Figura (B) processo de
homogeneização da palma com a palhada.
A B

Fonte: Acervo pessoal

215
A palma forrageira, quando usada como aditivo na
ensilagem, controla o crescimento de fungos no silo
durante a fermentação, pois tem na sua composição
substâncias antifúngicas, bem como controla a acidez no
silo, evitando o crescimento de microrganismos
indesejáveis. O resultado é uma silagem bem fermentada
e que não mofa após a abertura dos silos (MACÊDO et al.,
2018). Outro benefício que a palma promove na ensilagem
da palhada é a melhoria da compactação, devido ao seu
teor de umidade e a mucilagem, que nada mais é que um
gel presente na palma triturada que age agregando as
partículas dentro do silo.
De acordo com Adous (2016), a utilização de
palma em forma de silagem e sua associação com outros
alimentos, tanto volumosos como concentrados, tem se
tornado uma prática cada vez mais comum,
principalmente em regiões semiáridas, como em alguns
países da África onde essa técnica já seja bem difundida.
Com base nisso, a palma forrageira se torna uma
alternativa para suprir os déficits encontrados na
ensilagem do milho sem espiga, pois além do elevado teor
de umidade é um alimento rico em carboidratos de rápida

216
fermentação com cerca de 40,6 – 66,7% (SILVA et al.,
2017; CONCEIÇÃO et al., 2018).

4 Quando usar a planta do milho sem espiga na


ensilagem?

Após a retirada das espigas (Figuras 2), o que


ocorre em torno de 90 dias, é fundamental que a colheita
da palhada não ultrapasse um período maior que 14 dias,
de modo que a mesma não seque muito o que irá dificultar
durante a compactação no processo de ensilagem e não
diminua sua quantidade de carboidratos solúveis presentes
no colmo, que serão essenciais para assegurar uma boa
fermentação.

217
Figuras 2. Colheita da palhada de milho para ensilagem.

Fonte: Acervo pessoal

Para garantir que o produto final atinja uma


qualidade nutricional aceitável e que possa promover o
desempenho animal esperado, é imprescindível que após a
colheita, a palhada de milho seja triturada e ensilada o
mais rápido possível, pensando também nas questões
relacionadas a compactação do material e do valor
nutritivo da silagem (Figura 3).
Segundo Campos et al. (2012) com o avanço da
idade das plantas há o consequente aumento da matéria
seca, que pode prejudicar a compactação do material. Por
outro lado, ao utilizar plantas muito jovens, com baixo teor
de matéria seca, é necessário o processo de
emurchecimento, que consiste na retirada de água da

218
planta ao sol após o corte, para se evitar problemas de
fermentação durante a ensilagem.
Com relação ao tamanho de partícula, também se
torna fundamental considerar um tamanho de partícula
entre de 2 a 3 cm, nesse caso, é muito importante sempre
realizar a averiguação da picagem da ensiladeira e, se
necessário, a sua regulagem.

Figura 3. Trituração da palhada de milho (A) e material


triturado com tamanho de partícula ideal (B).

A B

Fonte: Acervo pessoal

5 Como ensilar o milho sem espiga com palma?

A conservação da silagem pode ser feita tanto em


silos trincheira como também em sacos laminados

219
provenientes da indústria alimentícia, onde a escolha de
como armazenar e conservar esse alimento para fornecer
dependerá da demanda animal e da infraestrutura de cada
produtor (Figuras 4). No entanto, em ambos, é necessário
se ater a alguns pontos para garantir que o produto final
esteja em condições adequadas para ser fornecido ao
rebanho.

Figura 4. Planta do milho sem espiga aditivada com palma


forrageira ensilada em saco laminado (A) e armazenada em
local adequado (B).
A B

Fonte: Acervo pessoal


Dentre os pontos essenciais para se garantir que a
silagem de milho sem espiga será bem conservada estão:
1- teor de matéria seca do material, 2- tamanho de
partícula, 3- compactação do material, 4- vedação
completa do silo para impedir o contato da massa ensilada

220
com o oxigênio e 5- armazenar em local correto livre de
qualquer agente externo que possa perfurar o silo.
Nesse caso, a utilização da palma forrageira na
ensilagem do milho sem a espiga, como falado
anteriormente, pode favorecer a correção da matéria seca
do material a ser ensilado além de melhorar a compactação
da mesma.
O processo de compactação é o processo mais
importante na produção de silagem. Este processo é
necessário para aumentar a densidade e remover o
oxigênio do interior da silagem, dessa forma, a pressão de
compactação afeta diretamente a qualidade fermentativa
da silagem (TAN et al., 2017; TAN; DALMIS, 2019).
Se o material a ser ensilado estiver muito seco, a
expulsão do oxigênio do interior do silo e irá comprometer
a conservação do material ensilado. O teor de matéria seca
do material a ser ensilado deve ser em torno de 30 a 40%.
Assim, recomenda-se o uso de 20% de palma
forrageira na matéria natural como aditivo a fim de
diminuir o teor de matéria seca do material a ser ensilado,
além de aumentar o teor de carboidrato no material a ser
ensilado, promovendo melhorias na qualidade nutricional

221
da silagem. Por exemplo, para cada 100 kg da massa a ser
ensilada, tem-se 80 kg da palhada do milho sem espiga e
20 kg de palma forrageira. É importante realizar a
homogeneização do material para garantir um bom
processo fermentativo dentro do silo, podendo-se fazer
uso de uma betoneira ou de pás e enxadas para misturar
bem esses dois alimentos.

6 Como formular dietas para os animais?

Antes de se realizar a formulação da dieta com base


na matéria seca (Tabela 2), é necessário conhecer a
exigência da espécie animal e o ganho que se espera obter.
Com base nisso, apresentamos três tipos de dieta
para ovinos confinados a base de silagem de milho sem
espiga aditivada: dieta 1 - silagem de milho sem espiga,
dieta 2 – silagem de milho sem espiga aditivada com 10%
de palma e dieta 3 – silagem de milho sem espiga aditivada
com 20% de palma (Figura 5) e o concentrado composto
por milho, farelo de soja, torta de algodão, ureia, sal
mineral e cloreto de amônio, formulados para um ganho
diário de 200 g, segundo o NRC (2007). As rações devem

222
ser fornecidas na proporção de 70% de silagem de milho
sem espiga e 30% de suplemento concentrado, com base
na matéria natural. Ou seja, para cada 10 kg de ração, tem-
se 7 kg de silagem de milho sem espiga e 3 kg de um do
suplemento concentrados da (Tabela 2).

Figura 5. Silagens de milho sem espiga aditivada com níveis


de palma forrageira (A) 0% de palma forrageira; (B) 10% e
(C) 20% de palma forrageira.

Fonte: Acervo pessoal

223
Tabela 2. Percentual das dietas a base de silagem de milho sem
espiga com base na matéria seca.

Tabela 3. Percentual das dietas a base de silagem de milho sem


espiga com base na matéria natural.

224
Tabela 4. Fórmula do suplemento concentrado, com base na
matéria natural, para carneiros machos consumindo silagem de
milho sem espiga.
Ingrediente Dieta 1 Dieta 2 Dieta 3
Farelo de soja 13,97 13,97 13,97
Farelo de milho 52,94 52,94 52,94
Torta de algodão 28,04 28,09 28,11
Ureia 0,46 0,42 0,39
Núcleo mineral 2,28 2,28 2,28
Cloreto de amônio 2,26 2,26 2,26
Sulfato de amônio 0,05 0,04 0,04
Dieta 1 = silagem de milho sem espiga e 0% de palma orelha de
elefante mexicana; Dieta 2 = silagem de milho sem espiga e 10% de
palma orelha de elefante mexicana; Dieta 3 = silagem de milho sem
espiga e 20% de palma orelha de elefante mexicana.

7 Como fornecer aos animais?

Os animais devem ser adaptados a qualquer nova


ração, principalmente aquelas que tem grande quantidade
de alimentos concentrados (milho, farelo de soja e outros)
ou que contém ureia. Para isso, vá substituindo
gradativamente a ração, dia após dia. Essa adaptação a
nova ração, pode durar entre dez a quatorze dias.
Como forma de evitar o desperdício de ração de um
dia para o outro, é indicado o fornecimento da silagem e
do suplemento concentrado duas vezes ao dia, para
estimular o consumo dos animais (Figuras 6).

225
Outra medida bem importante, é realizar o ajuste
diário do consumo, uma maneira prática para se realizar
esse ajuste é por meio da leitura de cocho 24 horas após o
fornecimento, se estabelecendo notas, por exemplo de 1
(sem silagem no cocho), 2 (pouca silagem no cocho) e
(muita silagem no cocho), onde 1: aumenta a quantidade
em kg do dia anterior; 2: repete a quantidade do dia
anterior e 3: diminui a quantidade que foi ofertada no dia
anterior.

Figuras 6. Ovinos confinados consumindo dietas a base de


silagem de milho aditivada com palma orelha de elefante.

Fonte: Acervo pessoal

226
Dessa forma é possível se ter uma noção de como
está o consumo dos animais e ter um planejamento do
estoque de silagem com base na quantidade diária que os
animais estão consumindo, permitindo saber durante
quanto tempo é possível alimentar o rebanho.

8 Considerações finais

O uso da palma forrageira na ensilagem da palhada


de milho melhora a qualidade fermentativa da silagem,
reduz as perdas do material ensilado, melhora o seu valor
nutricional e, consequentemente o desempenho animal,
além de diminuir a necessidade de concentrado energético
na dieta de ovinos.

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Research, v.15, p. 298-306. 2017.

229
Capítulo 11

CRIAÇÃO DE CABRITOS MAMÕES


Rosângela Claurenia da Silva Ramos
Nelquides Braz Viana
Hactus Souto Cavalcanti
Thays Bianca Lira Viana
Diego de Sousa Vieira
Maria Alyne Coutinho Santos

1 Introdução

O Nordeste brasileiro se destaca pelo maior


rebanho efetivo de caprino do país. A Paraíba e o Rio
Grande do Norte são estados que ganham destaque por ser
uma bacia leiteira consolidada, os quais contam com
rebanhos de raças especializadas na produção de leite,
apresentando estrutura organizada de produção,
industrialização, distribuição e mercado (SANTOS,
2014). Entretanto, os cabritos produzidos nessas
propriedades leiteiras, geralmente são descartados. Os

230
produtores se desfazem desses animais por não ter
segmento produtivo para estes machos, e por consumirem
boa parte do leite produzido.
Diante deste cenário, viu-se uma oportunidade
para aproveitar esses machos e com isso otimizar a
rentabilidade na propriedade leiteira, sem, no entanto,
prejudicar à produção de leite. Ao sistema de criação de
cabritos leiteiros para produção de carne se dá a
denominação de Produção de Cabritos Mamões.
A produção de cabritos mamões vem sendo
estudada com o intuito de proporcionar ao caprinocultor
um novo segmento para ser explorado dentro do sistema
de produção, onde o caprinocultor oferece dieta
diferenciada aos animais, aproveitando o seu máximo
potencial produtivo, na fase de crescimento e antecipando
a idade de abate.
Assim, este capítulo traz, para o caprinocultor
leiteiro, informações que norteiam a produção de cabritos
mamões, elevando a produtivadade e rentabilidade do
sistema de produção, através da ampliação produtiva do
seu plantel.

231
2 Manejo de cabritos mamões

A produção de cabritos de origem leiteira com


destino à produção de carne, aparece como alternativa
viável e com potencial elevado de expansão de mercado,
que pode ser impulsionado por um público receptivo, deste
tipo de carne (MADRUGA & BRESSAN, 2011).
O manejo tradicional no Brasil, é deixar o cabrito
mamar nas cabras livremente, até atingir o peso ideal para
abate, porém, essa prática pode representar um alto custo
dentro da produção leiteira, em função da grande
quantidade de leite ingerido pelo cabrito. Podendo
também, resultar em ineficiência econômica e baixo ganho
de peso, quando comparado aos sistemas de criação mais
intensivos.
Contudo, existe a possibilidade de substituir o leite
de cabra por sucedâneos durante o aleitamento dos
cabritos, sendo uma ótima alternativa para reduzir os
custos de produção, já que o sucedâneo tem baixo custo de
aquisição e, apresenta bom valor nutricional, podendo
tornar esse sistema viável (COSTA et al., 2010).

232
Figura 1. Representação de cabra Parda Alpina em fase de
lactação à esquerda e, a direita cabritos aleitados com
sucedâneo em mamadeiras coletivas.

Fonte: Acervo pessoal

O aproveitamento dos machos de origem leiteira se


dá pela oportunidade de antecipação do desmame do
animal, atrelado ao fornecimento de rações que promovam
ganho de peso individual elevado. Com isso, ocorre a
redução da idade de abate e a obtenção de produtos de
melhor qualidade, viabilizando a exploração dessa
categoria (Moreira et al., 2008). Vale lembrar, que, os
aspectos que se relacionam com o manejo do sistema de
criação definem o tipo de cabrito produzido e, por
consequência o seu valor de mercado.
O manejo dos cabritos mamões se dá com a
redução na ingestão de leite de forma que não prejudique
o desenvolvimento dos cabritos, conseguindo maior

233
produtividade e viabilizando a produção. Nas primeiras
semanas de vida dos cabritos, a base da alimentação é
constituída exclusivamente por leite materno (DUKES,
2006). Porém, ao 21º dia de vida se disponibiliza aos
animais um suplemento concentrado. O fornecimento da
dieta sólida (volumoso + concentrado) de forma precoce
aos cabritos é essencial em qualquer sistema produtivo,
partindo-se do pressuposto de que, eles terão maior
desempenho e ainda acarretará o desenvolvimento mais
rápido do seu rúmen (RAMOS et al., 2004).

Figura 2. Cabritos ingerindo dieta sólida.

Fonte: Acervo pessoal

234
O conhecimento do peso ano nascer e o
desenvolvimento ponderal dos animais, permite ao
produtor conhecer a capacidade de adaptação e
desempenho dos animais frente as diferentes situações as
quais estes são expostos nas diferentes regiões, isto
quando pretende-se dar início ao processo de seleção.
A característica mais importante relacionada ao
desaleitemento é o peso do animal, seguido pelo consumo
de alimentos (RAMOS et al., 2004). De acordo com
estudos, o desaleitamento de caprinos deve ocorrer quando
estes se encontrem com peso 2,5 vezes a mais do que seu
peso ao nascer (FERREIRA et al., 2008).
De acordo com Duran (1986), os animais devem
estar consumindo no mínimo de 30g a 40g de alimento
sólido por kg de peso corporal, ou seja, para definir o total
de ração a fornecer, basta multiplicar o peso do animal por
30 ou 40 g.

235
3 Nutrição e vantagens da produção de cabritos
mamões

Diversos são os benefícios da criação de cabritos


mamões. Abaixo segue algumas das vantagens:

 Reduz o descarte dos machos;


 Animais mais pesados ao abate;
 Animais abatidos mais jovens;
 Otimiza o capital de giro dentro da propriedade;
 Aumento da renda;
 Redução de custos;
 Melhora a qualidade de carne dos animais.

A utilização desse sistema possibilita a correção de


problemas nutricionais, possibilitando melhor taxa de
crescimento dos cabritos, a eficiência alimentar e o ganho
de peso. O principal período de crescimento animal é a
fase de lactente, ou seja, a fase que ele está sendo
amamentado, mesmo conhecendo a importância dessa
fase, são necessários mais estudos relacionados ao
desempenho de caprinos sobre esta condição, pois ainda é

236
muito escasso pesquisas com foco em desempenho desses
animais.
Em 2019 foi realizado uma pesquisa em
propriedade rural, no município de São José dos
Cordeiros-PB, onde foram utilizados 14 animais machos
inteiros de origem leiteira da raça Parda Alpina, onde os
animais foram divididos em dois grupos. O primeiro grupo
foi aleitado com uma mistura de 50% de sucedâneo + 50%
leite e, e o segundo grupo recebeu somente leite. Os
animais foram separados das respectivas mães, após 24
horas, período que ingeriram o colostro nas matrizes. No
gráfico 1 observa-se o ganho de pesos dos cabritos,
mostrando o rápido ganho de peso dos animais.
É válido salientar que este cuidado de permitir os
animais ingerirem o colostro reduz as taxas de
contaminação por agentes infecciosos, pois a principal
função do colostro é a imunológica. Pelo fato de que a
transferência da imunidade das crias caprinas e ovinas não
ocorre no período pré-natal. A transferência de anticorpos
da mãe para a cria, através do colostro, acontece de
maneira passiva, ou seja, através da absorção das

237
imunoglobulinas, que são as proteínas sanguíneas,
contidas no colostro.

Gráfico 1. Médias de ganho de peso dos lotes de


cabritos.

MÉDIAS DO LOTE
25
20
15
10
5
0
43863 43877 43891 43905 43919 43933 43948

SUCEDÂNEO LEITE

Fonte: Elaborado pelo autor.

O aleitamento tem a função de fornecer ao animal


uma quantidade suficiente de nutrientes, para atender as
suas exigências. O aleitamento artificial evita que alguns
cabritos consumam leite a mais que outros, evitando,
assim, que os cabritos que consomem menos leite no
aleitamento natural tenham baixo peso ou morram por
falta de alimento suficiente.

238
No procedimento de aleitamento artificial, os
cabritos são aleitados, oferecendo inicialmente 2% do seu
peso vivo. Um exemplo é um animal com 3 kg de peso
vivo ao nascer receberá 600 ml de leite/sucedâneo. É
importante entender que esse volume deve ser ofertado
duas vezes ao dia, sendo 300 ml pela manhã e 300 ml pela
tarde.
Quanto mais cedo esses animais iniciarem a
ingestão de concentrados (milho, farelo de soja, farelo de
algodão, e outros) e volumosos (fenos, capins e outros),
estes irão obter melhor rendimento e ganho de peso.
Entretanto, tem-se um período de tempo que melhor se
adequa para essa iniciação. Logo, recomenda-se que seja
iniciada essa alimentação sólida aos 21 dias de idade. É
importante a oferta de um suplemento concentrado mais
básico e de alto valor nutricional, geralmente, então, esse
suplemento tem como ingredientes, o milho e o farelo de
soja. Esses alimentos conseguem atender as exigências
dos animais de forma satisfatória.
A quantidade de alimento a ser ofertada também
é feita de acordo com peso corporal dos cabritos, tendo a
mesma base de 2% do peso vivo. Inicialmente esta dieta é

239
formulada apenas com os ingredientes básicos composta
por milho, farelo de soja, calcário e núcleo mineral.
Ao término do período de 60 dias de aleitamento
os animais são submetidos ao confinamento que tem
duração de mais 60 dias, compreendendo um período total
de 120 dias.

Figura 3. Cabritos sob confinamento recebendo dieta


balanceada para terminação.

Fonte: Acervo pessoal

Como os animais já vem de uma dieta similar não


há necessidade de adaptação, pois a dieta do confinamento

240
é composta dos mesmos ingredientes mais a adição de uma
forragem, como o capim buffel, que é muito comum em
propriedades rurais do Semiárido Brasileiro.

Figura 4. Carcaça de cabritos mamões.

Fonte: Acervo pessoal

O capim buffel (Cenchrus ciliaris L.) é uma


gramínea típica na região, com alto potencial forrageiro e
que consegue resistir as intempéries da região semiárida
do país. Esse capim, apresenta elevada capacidade de
rebrota e tem alto valor nutricional, com isso, é possível
reduzir os custos com as dietas, e também reduzir a
incidência de possíveis distúrbios nos cabritos.

241
Figura 5. Área de capim buffel.

Fonte: Acervo pessoal

Estudos realizados na região do Cariri Paraibano


mostram produções elevadas do capim buffel por hectare,
alcançadas pelos pesquisadores, como pode-se observar na
tabela 1.

Tabela 1 Produção do capim buffel no Semiárido Paraibano.


Trabalhos Produção em kg/ hectare
Silva, 2020 8.884,4 kg/ha
Edvan et al, 2011 10.466 kg/ha
Pinho et al, 2013 7.207kg/ha

O aproveitamento do cabrito nas propriedades


produtoras de leite tem inúmeras vantagens, tendo em

242
vista que o descarte desses animais se torna evidente nas
propriedades rurais. Desta forma, o produtor pode obter
uma renda extra ou mesmo sua renda principal na
produção de cabritos mamões, pelo seu rápido ciclo, baixo
consumo de alimento e boa conversão alimentar.

4 Considerações finais

O sistema de aleitamento e terminação utilizados


com cabritos de origem leiteira é uma ótima opção para
produtores de propriedades leiteiras visando otimizar os
lucros do seu sistema de produção.

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Federal da Paraíba, Areia, Paraíba, 94f, 2014.

245
Capítulo 12

CARACTERÍSTICA DE CARCAÇA E
QUALIDADE DE CARNE NO
SEMIÁRIDO
Gabriel Ferreira de Lima Cruz
Natália Matos Panosso
Yohana Rosaly Corrêa
Liliane Pereira Santana
Maria Evelaine de Lucena Nascimento
Raniere de Sá Paulino
Paulo da Cunha Tôrres Júnior

1 Introdução

A região Nordeste do Brasil nas últimas décadas se


tornou o maior expoente para a produção cárnea
caprinovina do país, onde o rebanho nacional de caprinos
gira em torno de 8,25 milhões de animais, com em média
92% presentes no Nordeste, enquanto, que para os ovinos,

246
estima-se que o total de cabeças ultrapassem os 13,77
milhões, com 65,59% no Nordeste e 24% no Sul do país
(IBGE, 2019).
Mesmo que o consumo per capta do país dessas
carnes seja considerado baixo (menos de 1 kg
habitante/ano) (LUCENA et al., 2018), a produção cárnea
do país não consegue suprir a demanda de mercado,
resultando na importação de carne, principalmente de
ovinos oriundos do Uruguai. O Brasil importou, 6,2
milhões de quilos de carne ovina em 2012, sendo quase
cinco milhões de quilos oriundos do Uruguai (VIANA et
al., 2015). Por outro lado, frequentemente são citadas
intenções de abertura de novos mercados importadores
(ex. Kuwait) para as carnes ovinas e caprinas do Brasil
(SOUSA, 2020), o que poderia incentivar o crescimento
da produção cárnea destes animais no país.
Há, portanto, um potencial de mercado consumidor
abrangente. Porém, para que a caprinovinocultura presente
na região Semiárida Brasileira possa consolidar seus
negócios, no cenário nacional e internacional, é preciso
que a produção de carcaças seja de alto padrão de
qualidade, sendo necessário o aperfeiçoamento das

247
relações de produção, abate e comercialização
(HOLANDA FILHO et al., 2019).
Neste capítulo, você leitor poderá conhecer as
características da cadeia produtiva e das carcaças de
pequenos ruminantes comercializadas na região Semiárida
Brasileira, bem como alternativas para padronizar e
aumentar a produtividade cárnea, além de dietas
recomendadas para obtenção de um produto de boa
qualidade.

2 A cadeia produtiva da carne caprinovina no Nordeste

Na região Semiárida, a caprinovinocultura é fonte


de renda sustentável para milhares de produtores de base
familiar, que buscam melhorar a rentabilidade do sistema
para alcançar um padrão de vida mais condigno
(GUIMARÃES FILHO, 2017). Entretanto, a organização
da cadeia talvez seja o maior desafio para alcançar tais
feitos, necessitando um maior fortalecimento em todos os
elos para que o produto final apresente maior impacto no
consumo alimentar do país.

248
Grande parte dos produtores rurais questionam os
valores recebidos no momento da venda dos animais para
abate, principalmente devido aos frigoríficos não
apresentarem uma política clara de bonificação e incentivo
ao produtor. Pelo lado da indústria frigorífica, padrões
considerados inadequados de carcaça e o fornecimento
irregular durante o ano de animais para o abate
(sazonalidade produtiva) são os principais pontos de
cobrança, o que dificulta o poder de barganha de
produtores rurais.
Quanto ao consumidor, os maiores motivos de
resistência para aquisição da carne são desde aspectos
culturais (forma de comercialização e certo preconceito
com o produto, “carne de segunda”), bem como da
confiabilidade na qualidade do produto, devido a baixa
disponibilidade de carnes certificadas, além de relativa
ausência de processamento e condicionamento adequado
dos cortes. Para que a cadeia produtiva possa evoluir e
conquistar novos mercados consumidores é necessário a
implementação de tecnologias, inclusive as de baixo custo,
bem como de capacitação da mão de obra em todos os
segmentos da cadeia (LUCENA et al., 2018).

249
Os criadores e produtores rurais necessitam
efetivar uma maior atuação associativista e organização
interpessoal, para que possam intensificar seus sistemas de
criação e produtividade por área, e consequentemente
idealizarem propostas para o apoio de políticas públicas e
privadas que incentivem a prosperidade da criação, como
ocorre com diversas cooperativas da região, a exemplo da
Cooap (Cooperativa da cidade de Pintadas) na Bahia que
produz a marca Fino Sertão em parceria com a FrigBahia
e apoio técnico financeiro do Governo do Estado da Bahia
(CAR, 2019).

Figura 1. Exemplares da marca de carne caprina e ovina da


marca Fino Sertão disponíveis em supermercados no Estado
da Bahia.

A. Exemplar de pernil inteiro caprino da marca Fino Sertão.


B. Exemplar de picanha de cordeiro da marca Fino Sertão.

250
Por outro lado, frigoríficos necessitam adequar
certificações dos produtos para disponibilidade a
mercados mais exigentes com qualidade. Estima-se que
em média 90% dos abates de pequenos ruminantes no
Brasil são feitos na informalidade, muitas vezes sem
nenhuma certificação de inspeção (SIF, SIE ou SIM)
(SÓRIO; RASI, 2010).
A região Nordeste apresenta apenas seis
frigoríficos com certificação SIF para caprinos ou ovinos
(HOLANDA FILHO et al., 2019), representando 15,54%
do total de abatedouros inspecionados no país (Tabela 1),
números insignificantes, quando considerado o número de
cabeças de animas presentes e abatidos na região, que é
detentora do maior rebanho de caprinos e ovinos do país.

251
Tabela 1. Relação entre o número de abatedouros com serviço
de inspeção e a distribuição dos rebanhos caprinos e ovinos
nas regiões do Brasil.

Fonte: Holanda Filho et al. (2019).

No geral, a população da região é naturalmente


apreciadora da carne caprinovina, sobretudo em cidades
do interior que promovem exposições de animais, com
rotas culinárias e turismos gastronômicos, mas também
com perspectiva de maior comercialização nos mercado e
restaurantes presentes nos grandes centros populacionais
(LUCENA et al., 2018).
Atualmente, já é possivel encontrar pontos de
venda de mercados exclusivamente de carne ovinocaprina,
com chamados cortes “gourmet” e “premium”, que
agregam valor ao produto, mas necessitam obviamente da
obtenção de carcaças padronizadas e de alta qualidade.

252
3 Características da carcaça e carne caprinovina do
Nordeste

As características da carne variam de acordo com


diferentes fatores, como: intrínsecos (que afetam
diretamente o animal, como raça, sexo, castração, idade de
abate), e extrínsecos (que afetam o animal indiretamente,
como o sistema de produção, dieta, manejo e instalações),
pré-abate e abate (como transporte, condição de espera,
atordoamento), preservação (resfriamento,
envelhecimento, corte, embalagem, higiene) e cozimento
pré-consumo (como temperatura, aditivos ou base
culinária do consumidor) (SAÑUDO et al., 2013). Todos
esses fatores são cruciais para a determinação do padrão
de carcaças e carnes de pequenos ruminantes criados no
Semiárido, devido a ocorrer falhas geralmente em quase
todos os estágios da criação até a comercialização.
A distribuição da gordura na carcaça caprina se
apresenta de forma inferior à carcaça ovina, devido, a
naturalmente apresentarem espessuras de gordura
subcutânea mínimas e dificultando um alto grau de
acabamento, onde a cavidade abdominal constitui o

253
principal depósito de gordura nesta espécie, representando
em média 60% da gordura total do animal e
consequentemente fazendo com que a maior parte da
gordura não componha a carcaça (MADRUGA et al.,
1999), e consequentemente, não seja comercializada.
Estas características fazem com que a carne
caprina possa se apresentar como uma alternativa nas
dietas da população que tem preferência por uma
alimentação mais saudável, por ser, dentre as carnes mais
consumidas no mundo, a mais magra (menor teor de
gordura) (LUCENA et al., 2018). Porém de alto padrão de
maciez quando oriunda de animais jovens, necessitando de
um marketing direcionado e maior oferta ao mercado para
ganhar espaço e destaque neste nicho de consumo que
geralmente são dominados pela carne de frango.
Ovinos por outro lado, dependendo do teor da
energia da dieta de terminação, apresentam maiores
capacidades genéticas de depositar gordura de cobertura
subcutânea da carcaça, bem como da gordura de
marmoreio (intramuscular), aumentando a suculência e
maciez da mesma e apresentando carcaças com maior grau

254
de conformação (CORDÃO et al., 2012), enquanto a
carcaça caprina tende a ser pouco compacta.
Entretanto, na região Nordeste ainda há problemas
acerca da padronização dos animais para o abate, e
consequentemente da padronização das carcaças, reflexo
dos sistemas de criação empregados, mas que podem ser
corrigidos, assunto este que será melhor elucidado no
próximo tópico.
Um dos fatores negativos também, é na
comercialização, ausência de acondicionamento
refrigerado/congelado, em pequenos açougues e
tradicionais feiras de rua, tornando-se questionável o
padrão microbiológico, fator este resultante da preferência
cultural nordestina pela conhecida “carne quente”
(SORIO; RASI, 2010), o que não é o recomendado. Para
mudar este cenário, existe a necessidade de esclarecimento
ao consumidor sobre aspectos sanitários e de
acondicionamento do produto.
No cenário atual da região, há também uma enorme
variabilidade genética nos rebanhos, constituídos por
animais sem padrão racial definido (SPRD) e diversas
raças nativas e exóticas, o que ocasionam uma alta

255
variação nos padrões de carcaça. Além disso, a proporção
de animais de idades avançadas nas linhas de abate é
considerada alto, devido aos sistemas de criação de em
grande parte de baixo nível tecnológico e investimento,
dificultarem a oferta de animais jovens e precoces para o
abate.
Induzir a precocidade dos animais para abatê-los
antes da puberdade é interessante e o adequado para o
consumidor, devido a animais mais jovens apresentarem
carnes mais macias, suculentas e de odor menos intenso
em comparação a ovinos e caprinos machos não castrados
abatidos após o estágio da puberdade, que apresentam alta
rejeição no mercado devido a textura mais firme e odor
intenso da carne.

4 Obtenção de carcaças padronizadas no semiárido

Como foi citado nos tópicos anteriores, a


sazonalidade na oferta de animais para abate durante os
períodos do ano é um dos fatores que afetam o
desenvolvimento da cadeia produtiva, e
consequentemente na obtenção de carcaças padronizadas.

256
Geralmente durante o período das águas, ocorre uma alta
oferta de animais para abate, mas ao decorrer dos períodos
de estiagem essa oferta diminui drasticamente.
Necessita-se então, uma melhor adequação do
manejo nutricional dos animais, com um planejamento do
balanço forrageiro ao longo dos anos, melhorando a
eficiência de aproveitamento de forragem no período das
águas para a realização de conservação de forragens com
a produção excedente, e posterior utilização no período
seco, sejam estes na forma de silagem, fenação ou
diferimento de pastagens (RAMOS et al., 2018).
Outro ponto crucial é o manejo dos animais desde
o nascimento até o abate, onde o sistema de produção de
cordeiros e cabritos com desmame tardio (acima de 100
dias de idade) resulta em abate de animais com idades
avançadas, o que compromete a qualidade de carcaça e da
carne e também aumenta o intervalo entre partos das
matrizes, consequentemente afetando a produtividade do
rebanho (CARTAXO et al., 2017).
O produtor rural, portanto, necessita acelerar o
desmame do cordeiro/cabrito com adoção de manejos
nutricionais como o creep feeding, que nada mais é, que

257
suplementar os animais jovens, favorecendo a precocidade
dos mesmos e induzindo uma melhor recuperação da
condição corporal da fêmea para a próxima gestação
(FERNANDES et al., 2011), visando a obtenção de três
partos a cada dois anos.

Tabela 2. Composição alimentar de um sistema de creep


feeding com base na matéria seca (MS) e matéria natural (MN),
para cordeiros durante a fase de aleitamento
Composição alimentar e química Valor
Composição alimentar % MS % MN
Feno de tifton (g/kg) 12,0 11,53
Milho moído (g/kg) 48,0 47,77
Farelo de soja (g/kg) 36,0 37,27
Óleo de soja (g/kg) 2,0 1,71
1
Sal mineral (g/kg) 1,0 0,85
Calcário calcítico (g/kg) 1,0 0,85
Composição química -
Matéria seca (g/kg) 886,3
Proteína bruta (g/kg) 233,7
FDN (g/kg) 209,7
EM (Mcal/kg MS) 2,95
Extrato etéreo (g/kg) 47,9
Matéria mineral (g/kg) 61,5
Ca (g/kg) 8,0
P (g/kg) 4,2
1
Composição do sal mineral por quilograma: Na 147 g; Ca 120g; P
87g; S 18g; Zn 3800 mg; Fe 3500 mg; Mn 1300 mg; Fl 870 mg; Cu
590 mg; Mo 300 g; I 80 mg; Co 40 mg; Cr 20 mg; Se 15mg; Vit. A
(UI) 250 mg; Vit. D (UI) 100 mg; Vit. E (UI) 500 mg. FDN = Fibra
em detergente neutro; EM = Energia Metabolizável.
Fonte: Adaptado de Sousa et al. (2018).

258
Um ponto interessante também, é a adoção da
estratégia nutricional conhecida como flushing que nada
mais é do que uma suplementação principalmente
energética via concentrados para as matrizes durante o
terço final da gestação, induzindo um maior
desenvolvimento do feto e consequentemente um maior
peso ao nascer que resultará em maior peso ao desmame.
Outra estratégia que seria preponderante para
melhorar a padronização de carcaças de ovinos e caprinos
no Semiárido seria a adoção de terminação em
confinamento, que permite uma rápida engorda dos
animais e, consequentemente, obtenção de carcaças com
características adequadas ao consumo, associado a
elevado retorno econômico para o produtor (FRESCURA
et al., 2005).
No confinamento, para potencializar a viabilidade
do valor investido, é recomendada a utilização de animais
que apresentem um bom padrão de desempenho, ou seja,
de boa procedência genética para ganho de peso, como
raças puras com aptidão para corte (Santa Inês, Dorper e
Somalis para ovinos; Boer, Savana e Canindé para

259
caprinos), cruzamentos entre raças ou cruzamentos com
matrizes SPRD ou raças nativas (CARTAXO et al., 2018).
Outro ponto importante no momento de idealizar o
confinamento é a aquisição de animais com adequado
padrão sanitário e de escore de condição corporal, além de
selecionar animais com idade inferior a um ano (dente de
leite), por geralmente apresentarem um potencial de ganho
de peso superior a adultos além de melhor conversão
alimentar, ou seja, mais eficientes para transformar o
alimento ingerido em peso vivo, além de que estes animais
apresentarão uma carne mais macia e saborosa do que
adultos (ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2015).
Para que a terminação em confinamento durante os
períodos secos do ano seja uma ferramenta vantajosa
economicamente, é imprescindível também que os
volumosos utilizados (silagem e feno) sejam produzidos
na própria unidade, objetivando reduzir os custos destes
ingredientes na composição da dieta (CARTAXO et al.,
2018).
A junção de um adequado manejo nutricional para
as crias e consequentemente desmame precoce, com uma
terminação para ganho de peso em confinamento,

260
permitiria oferta ao mercado de carcaças e carnes com
qualidades superiores (CARTAXO et al., 2017).
Pesquisas do projeto Agrocapri realizadas pela
antiga EMEPA-PB, hoje EMPAER-PB, e em parceria com
a UFPB e UFCG, evidenciaram a possibilidade de
produzir carcaças de caprinos e ovinos com excelente
qualidade. Como exemplo, duas pesquisas do projeto
avaliaram a produção de cabritos e cordeiros precoces
desmamados aos 75 dias de idade adotando sistema creep
feeding, sendo ovinos das raças: Santa Inês, mestiço de
Dorper com Santa Inês, ¾ de Dorper com ¼ Santa Inês
confinados aos 82 dias de idade e abatidos com peso
corporal médio de 30 kg (SOUSA et al., 2018), e caprinos
mestiços: ½ de Boer + ½ SPRD e ½ Savana + ½ SPRD
confinados aos 76 dias de idade e abatidos com peso
corporal médio de 25 kg (CARTAXO et al., 2018). Ambas
as pesquisas encontraram um adequado ganho de peso
durante o confinamento, com a obtenção de carcaças com
boa conformação e rendimento (Figuras 2 e 3).
As diversas pesquisas realizadas deste projeto
evidenciaram que é possível produzir no Semiárido
Brasileiro um produto com características excepcionais e

261
semelhantes às que são feitas em outros países de destaque
da ovinocaprinocultura.

Figura 2. Carcaças de cordeiros Santa Inês e mestiços Dorper


x Santa Inês abatidos no projeto Agrocapri.

Fonte: Sousa et al. (2018).

Fonte: Sousa et al. (2018).

262
Figura 3. Carcaças e meias carcaças de cordeiros ¾ Dorper e
½ Santa Inês.abatidos no projeto Agrocapri.

Fonte: Sousa et al. (2018).

263
Dependendo do padrão genético dos animais do
rebanho, e das fontes alimentares acessíveis, um
acompanhamento de um técnico com conhecimento de
formulação de rações seria interessante para obtenção de
uma dieta adequada para o confinamento. A seguir você
pode observar as exigências nutricionais para formulação
de dietas de cordeiros e cabritos para altos padrões de
ganho de peso diário (Tabelas 3 e 4).

Tabela 3. Exigências nutricionais de cordeiros com quatro


meses de idade pesando 20 e 30 kg de peso vivo, segundo o
NRC (2007).

1
GPMD = ganho de peso médio diário; 2IMS = ingestão de matéria
seca; 3EM = energia metabolizável; 4PB = proteína bruta; 5Ca = cálcio;
6
P= fósforo.
Fonte: Adaptado de Cartaxo et al. (2018).

264
Tabela 4. Exigências nutricionais de cabritos com 20 kg de
peso vivo, segundo o NRC (2007).

1
GPMD = ganho de peso médio diário; 2IMS = ingestão de matéria
seca; 3NDT = nutrientes digestíveis totais; 4EM = energia
metabolizável; 5PB = proteína bruta com proporção de consumo de
proteína não degradável de 40%; 6Ca = cálcio; 7P= fósforo.
Fonte: Adaptado de Cartaxo et al. (2018).

Para que ocorra também uma boa padronização das


carcaças comercializadas, é necessário um manejo adequado
durante o período pré abate, deste o embarque dos animais na
propriedade, bem como na recepção e permanência nos
currais de espera do frigorífico, além dos métodos de abate
humanitário, que devem ser rigorozamente seguidos
(TRECENTI; ZAPPA, 2013).
Todos esses procedimentos serão importantes para
evitar a ocorrência de lesões na carcaça e de um estresse
acentuado dos animais, que podem colocar em risco a
qualidade do produto, onde com a extensa utilização das
reservas energéticas musculares antes da sangria, pode
ocasionar em uma carne escura, firme e seca, conhecida
internacionalmente como DFD (ALVES et al., 2016).

265
5 Dietas e fontes alimentares que resultam em carcaças e
carnes de boa qualidade

Diversas pesquisas já foram avaliadas no Nordeste


Brasileiro visando o acréscimo no desempenho dos animais
em confinamento e na obtenção de carcaças de alto padrão de
conformação e acabamento, associado a carnes com maciez,
suculência e composição nutricional adequadas.
Abaixo você poderá observar algumas dietas que utilizaram
fontes alimentares alternativas e que resultaram em
desempenho satisfatório e carcaças de boa qualidade durante
o confinamento de caprinos ou ovinos.
Dieta para ovinos em confinamento com palma
forrageira como única fonte de volumoso associado ao farelo
de trigo
Propriedades que apresentem grandes áreas de cultivo
da palma forrageira podem utilizar esta fonte alimentar como
única fonte volumosa na dieta de confinamento de ovinos em
terminação, principalmente, quando os preços do farelo de
trigo estejam acessíveis na região, que auxiliará na
manutenção da atividade ruminal até o momento de abate dos
animais.
Esta dieta foi formulada para cordeiros SPRD com 22
kg de peso vivo no início do confinamento (PV). O principal

266
ponto positivo desta dieta no experimento foi apresentar uma
melhor receita operacional líquida e melhor custo benefício
em comparação a uma dieta sem a adição do farelo de trigo e
utilização de capim-buffel como fonte volumosa principal.

Tabela 5. Formulação de dieta com palma forrageira


representando fonte exclusiva de volumoso para ovinos
confinados com base na matéria seca (MS) e na matéria
natural (MN).

1
RCQ = Rendimento de carcaça quente; 2RCF = Rendimento de
carcaça fria.
Fonte: Adaptado de Silva et al. (2021)

267
6 Dietas para ovinos e caprinos em confinamento a
base de silagem de palma forrageira

Dois experimentos que avaliaram a utilização de


silagem de palma forrageira em substituição ao feno de
Tifton 85 aliado a redução do farelo de milho na dieta,
demonstraram aumentos nos rendimentos de carcaça
quente (RCQ) e rendimento de carcaça fria (RCF), quando
comparado a uma dieta com 42% de feno de Tifton 85,
bem como adequados padrões de características físico-
químicas da carne. Estas dietas foram formuladas para
ovinos SPRD com 20 kg de PV e ganho de peso de 150
g/dia, e para caprinos SPRD com 18 kg de PV e ganho de
peso de 100 g/dia.
Portanto, o produtor rural pode realizar a
ensilagem do excedente produtivo da palma forrageira,
seja como mecanismo de manejo do palmal ou opção
nutricional, e utilizá-la na terminação de caprinos e
ovinos.

268
Tabela 6. Formulação de dieta com silagem de palma
forrageira para ovinos confinados com base na matéria seca
(MS) e na matéria natural (MN).

1
RCQ = Rendimento de carcaça quente; 2RCF = Rendimento de
carcaça fria.
Fonte: Adaptado de Souza et al. (2020).

Tabela 7. Formulação de dieta com silagem de palma


forrageira para caprinos confinados com base na matéria seca
(MS) e na matéria natural (MN).

1
RCQ = Rendimento de carcaça quente; 2RCF = Rendimento de
carcaça fria.
Fonte: Adaptado de Cruz et al. (2021).

269
7 Dietas para cordeiros em confinamento a base de
50% de silagem de diferentes fontes forrageiras
adaptadas ao Semiárido.

As dietas especificadas abaixo foram realizadas


para avaliar silagens de diferentes forragens adaptadas ao
Semiárido Brasileiro, na relação de volumoso concentrado
de 50:50 na MS da dieta, sendo avaliadas as silagens de
erva-sal, gliricídia, pornunça e capim-buffel na dieta de
ovinos mestiços, sendo as dietas formuladas para ovinos
com 17 kg de PV e ganho de peso de 200 g/dia.
Observou-se que as silagens de erva-sal, gliricídia
e pornunça apresentaram os melhores resultados para
características de carcaça e componentes não carcaça,
enquanto os animais alimentados com a dieta a base de
capim-buffel apresentaram menor consumo de matéria
seca e carboidratos não fibrosos devido aos maiores níveis
de fibra deste volumoso em comparação aos demais,
resultando em menores ganhos de peso, carcaças mais
leves e carnes com aromas mais fortes.

270
Tabela 8. Formulação de dieta a base de silagem de erva-sal
para ovinos confinados com base na matéria seca (MS) e na
matéria natural (MN).

1
RCQ = Rendimento de carcaça quente; 2RCF = Rendimento de
carcaça fria. 3FC = Força de cisalhamento.
Fonte: Adaptado de Campos et al. (2017; 2019).

Tabela 9. Formulação de dieta a base de silagem de pornunça


para ovinos confinados com base na matéria seca (MS) e na
matéria natural (MN).

1
RCQ = Rendimento de carcaça quente; 2RCF = Rendimento de
carcaça fria. 3FC = Força de cisalhamento.
Fonte: Adaptado de Campos et al. (2017; 2019).

271
Tabela 10. Formulação de dieta a base de silagem de gliricídia
para ovinos confinados com base na matéria seca (MS) e na
matéria natural (MN).

1
RCQ = Rendimento de carcaça quente; 2RCF = Rendimento de
carcaça fria. 3FC = Força de cisalhamento.
Fonte: Adaptado de Campos et al. (2017; 2019).

Tabela 11. Formulação de dieta a base de silagem de buffel


para ovinos confinados com base na matéria seca (MS) e na
matéria natural (MN).

1
RCQ = Rendimento de carcaça quente; 2RCF = Rendimento de
carcaça fria. 3FC = Força de cisalhamento.
Fonte: Adaptado de Campos et al. (2017; 2019).

272
8 Dietas para ovinos em confinamento com silagem de
ração completa à base de palma forrageira e torta de
algodão

As silagens de ração completa se apresentam como


uma alternativa para praticidade da mão de obra durante o
fornecimento das dietas do confinamento. Esse conceito
consiste em idealizar uma dieta para atender as exigências
dos animais, realizando a misturada e ensilagem de todos
as fontes alimentares, necessitando características
adequadas para favorecer a fermentação no silo e
posteriormente a engorda dos animais.
Muitas silagens de ração completa já foram
estudadas com diversas fontes alimentares, variando de
sub-produtos e forragens adaptadas ao semiárido. Como
exemplo, a dieta abaixo proporcionou um adequado ganho
de peso e características de carcaça em ovinos mestiços ½
Dorper e ½ Santa Inês. Outro ponto positivo da dieta foi a
redução de custos com a alimentação durante o
confinamento, tendo em vista o alto grau de substituição
do farelo de soja por torta de algodão, que tende a
apresentar um custo mais acessível no Semiárido

273
Nordestino, além da adoção da palma forrageira como
única fonte volumosa.

Tabela 12. Formulação de dieta de silagem de ração completa


à base de palma forrageira e torta de algodão para ovinos
confinados com base na matéria seca (MS) e na matéria
natural (MN).

1
RCQ = Rendimento de carcaça quente; 2RCF = Rendimento de
carcaça fria. 3FC = Força de cisalhamento.
Fonte: Adaptado de Cavalcante et al.; Martte et al. (Dados não
publicados).

9 Considerações finais

A carne de caprinos e ovinos possui um amplo


mercado consumidor a ser conquistado na região
Semiárida e em todas as regiões do país. Para isto, é
necessário a adoção de tecnologias acessíveis durante a

274
criação dos animais, bem como uma maior organização
da cadeia produtiva como um todo, visando a melhoria
nas formas de comercialização e divulgação
social/digital das qualidades sensoriais e nutritivas da
carne destes animais.
Embora de forma geral as carcaças obtidas na
região apresentem uma ampla variação em conformação
e acabamento, com a adoção de práticas de manejo mais
adequadas, como o desmame precoce e terminação em
confinamento com dietas bem formuladas, é possível
alcançar uma padronização de carcaças com obtenção de
cortes cárneos atrativos ao mercado consumidor cada vez
mais exigente quanto a qualidade sensorial, nutritiva e
microbiológica.

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