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Sumário
Prefácio .................................................................................................................................... 3
Abertura ................................................................................................................................... 4
Conversas ................................................................................................................................. 5
Introdução ao Sat- Darshan – Bhashya .................................................................................. 19
Prefácio
Abertura
Conversas
1 – DÚVIDAS INICIAIS
D – Dizeis que se pode realizar o ser através da busca deste. Qual é o caráter desta
busca?
M – Vós sois a mente, ou pensais que sois a mente. A mente nada mais é que pensa-
mentos. Agora, atrás de cada pensamento particular está um pensamento geral que é
o “EU” que sois vós mesmos. Chamaremos este “EU” o pensamento primeiro. Agarrai-
vos a este pensamento – EU e interrogai-o a fim de descobrir o que ele é. Quando
essa indagação vos ocupar completamente, não podereis ter outros pensamentos.
D – Quando eu faço isso, e me agarro a mim mesmo, quer dizer, o EU-PENSAMENTO,
outros pensamentos surgem e desaparecem. Mas eu pergunto a mim mesmo “QUEM
SOU EU?” e nenhuma resposta se apresenta. Estar nessa condição é a SADHANA, ou a
pratica de Athma – Nishtha, o estado exaltado do Ser. É assim mesmo?
M – Isso é um erro que as pessoas fazem com frequência. O que acontece quando fa-
zes uma busca séria pelo Ser, é que o EU-PENSAMENTO como pensamento desapare-
ce, e algo das profundezas se apodera de você, que não é o “EU” com o qual inicias-
te a busca.
D – O que é esse ALGO?
M – Esse é o “EU REAL”, o sentido do EU. Não é o ego. É o próprio SER SUPREMO.
D – Mas dissestes muitas vezes que devemos rejeitar outros pensamentos ao começar
a busca, mas os pensamentos são infindáveis. Se um pensamento é rejeitado, o outro
surge logo após, não parecendo haver fim.
M – Eu não disse que deveis continuar rejeitando os pensamentos. Se vós agarrardes a
vós mesmo, isto é, ao PENSAMENTO EU, e, quando a vossa atenção se mantiver firme
nessa ideia, unicamente, os demais pensamentos serão rejeitados, desaparecendo
automaticamente.
D – Quer dizer que a rejeição do pensamento não é necessária?
M – Não. Talvez seja necessária por algum tempo ou para alguns. Pensai que não ha-
verá fim se uma pessoa continuar rejeitando alguns pensamentos que surgir? Não.
Haverá um fim. Se fordes vigilantes e fizerdes um esforço persistente para rejeitar
todo pensamento à medida que surgirem, brevemente descobrireis que estais indo
cada vez mais fundo, dentro do vosso ser interno onde não haverá necessidade do
vosso esforço para rejeitar pensamentos.
D – Então é possível ficar sem fazer esforço, sem tensão?
M – Não apenas isso, mas será impossível fazer-se esforço além de certo limite.
D – Eu quero ser mais elucidado. Não devo fazer qualquer esforço mesmo?
M – De início é impossível deixar de fazer esforço. Mas quando vós vos aprofundares,
será impossível fazer qualquer esforço.
3 – VICHARA E A GRAÇA
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D – É certo que poderei dispensar ajuda externa e através do meu próprio esforço
penetrar na verdade mais profunda em meu interior?
M – É verdade. Mas o simples fato de estar possuído da verdade pela busca do Ser, é
uma manifestação da Graça Divina. Ela está resplandecente no coração, o Ser inter-
no, o Ser Real. Este vos atrai de dentro. Vós tereis que vos esforçardes para orientar-
vos de fora para dentro. Vosso impulso é VICHARA. O profundo movimento interno é a
Graça, eis porque digo que não existe VICHARA sem Graça, nem existe Graça ativa
para aquele que está sem VICHARA. Ambas são necessárias.
4 – O SAD-GURU
D – Fizeste a afirmação em outra feita que sem a Graça do Sad-Guru não se pode
chegar ao Ser. Precisamente o que quereis dizer com isso? O que é esse Guru?
M – Do ponto de vista do caminho do conhecimento, é o Supremo estado de Ser, que
é o SAD-GURU. É diferente do ser-ego, que vós chamais de eu.
D – Então, se é o estado Supremo do meu próprio ser, em que sentido quereis dizer
que não poderei alcançá-lo sem a Graça do Sad-Guru?
M – o ser-ego é o JIVA. É diferente do Senhor de todos (Sarveshwara). Quando através
da devoção desinteressada, o JIVA se aproxima do Senhor, Ele benevolentemente
assume o nome e forma e absorve o Jiva para dentro dele mesmo... Por conseguinte,
dizem que o Guru não é outro senão o Senhor. Ele é uma encarnação humana da Gra-
ça Divina, diz o Guita. O verdadeiro Guru é o próprio Deus. Quem poderia duvidar
disso?
D – Mas existem algumas pessoas que parece não terem jamais tido um Guru humano.
M – É verdade. No caso de certas grandes almas Deus se revela como a Luz existente
em sua Luz interna.
D – Então o que é a verdadeira devoção (Bhakthi)?
M – O que eu fizer ou considere estar fazendo, é realmente feito pelo Senhor. Nada
me pertence. Eu estou aqui apenas para servir o Senhor. Este espírito de servir é re-
almente devoção Suprema, e o verdadeiro devoto vê o Ser Supremo como o Senhor,
imanente em todas as coisas. O culto a ELE, em nome e forma conduzir-vos-á além
do nome e da forma. Devoção completa culminará em conhecimento supremo. Mes-
mo quando Devoção (Bhakthi) é inicialmente motivada pelos desejos mundanos, essa
não cessa quando os desejos forem satisfeitos. Ela aumenta pela fé inquebrantável
que cresce para um estado supremo de realização.
D – Então o que é o caminho de Jnana?
M – Despojado do ego, ele se estabelece naturalmente na Suprema Autoconsciência.
D – Como podemos dizer que ambos Bhakti e Jnana conduzem a mesma meta?
M – Por que não? Ambos os caminhos vos conduzirão para um estado de Paz Suprema
(Mounam) que ultrapasse todo o entendimento.
NOTA: Todos deverão aceitar o princípio de que existe um Senhor de todos os seres-
ego(JIVAS). Podemos muito bem aceitar essa afirmação como sendo a verdade se
fervorosamente desejarmos alcançar o estado de união consciente com o Ser (Sayui-
ya). Cf. instruções para Natananand Swami.
D – Vós dizeis frequentemente, “o mundo inteiro não existe sem você”, “tudo depen-
de de você”, “o que existe sem você?” etc. Isso me deixa confuso. O mundo estava
aqui antes de eu nascer e permanecerá após minha morte, assim como tem sobrevi-
vido às mortes de muitos que viveram como eu agora.
M – Alguma vez falei de que o mundo está aqui por causa de vós? Mas eu vos tenho
perguntado, “o que é que existe sem o vosso Ser?” Devereis saber que não queria
dizer que o Ser era o corpo, seja este sutil ou grosseiro. Além disso, vos foi dada a
ideia de que uma vez que conheceis o Ser, no qual todas as ideias se movimentam,
não excluindo a noção de vós mesmos, assim como as de outros e do mundo, podereis
realizar a verdade de que existe uma Realidade, uma Verdade Suprema que é o Ser
de todo o mundo que agora enxergais o Ser de todos os seres, o REAL UNO, que é o
ATHMAN PARAMA o Supremo Eterno que se distingue do JIVA o ser-ego que é imper-
manente. Não deveis cometer o erro de tomar o ser-ego ou ideia-corpo, como sendo
o Athman.
D – Quereis dizer que o Athman é Deus?
M – Estais vendo a dificuldade. A VICHARA “para vos conhecerdes a vós mesmos”, é
diferente em método da meditação “Senhor Shiva Eu Sou” (Shivo’ham) ou “Ele Eu
Sou” (So’ham). Eu prefiro dar ênfase ao autoconhecimento pois estais inicialmente
mais interessado em vós mesmo antes de buscar o conhecimento do mundo e do Se-
nhor. A meditação “So’ham”, ou “Eu sou Brahman”, é mais um pensamento mental.
Mas a busca do Ser da qual falei, é o método direto que, sem dúvida, é superior à
outra meditação; pois no momento que vos lançardes num movimento de busca do
Ser, e, penetrardes cada vez mais profundamente, o Ser Real lá está esperando para
vos acolher. Depois disso, o que for feito daí em diante será feito por algo mais sem
qualquer participação de vossa parte. Neste processo, todas as dúvidas, e todas as
discussões, são automaticamente abandonadas do mesmo modo que se esquecem as
preocupações durante o sono.
D – Que certeza teremos nós de que algo mais nos espera lá para nos acolher?
M – Quando a pessoa é uma alma ( Pakvi) suficientemente desenvolvida, ficará con-
vencida naturalmente.
D – Como é possível esse desenvolvimento?
M – Várias respostas são dadas. Mas qualquer que seja o desenvolvimento anterior, a
busca fervorosa (VICHARA) o acelerará.
D – Isso é argumentar num círculo vicioso. Estou desenvolvido e por isso estou apto
para a busca; a busca em si me proporciona desenvolvimento...
M – A mente sempre tem esta espécie de dificuldade. Ela quer certa teoria para ficar
satisfeita. Na realidade nenhuma teoria é necessária para o homem que seriamente
deseja aproximar-se de Deus, ou realizar o seu verdadeiro Ser. Vários meios são re-
ceitados nos Shastras... É verdade que o contato com grandes homens, almas eleva-
das, é um meio eficaz.
dereis que, como ser-ego, nada vos pertence. Tudo é efetuado por Algo com o qual
entrareis em união consciente.
D – Se isso é Sahaja Samaddhi, e portanto a condição mais desejável, então não have-
rá necessidade do Nirvikalpa Samadhi.
M – O Nirvikalpa Samadhi do Raja Yoga pode ter sua utilidade. Mas em Jnana, este
Sahaja Stthithi ou Sahaja Nishttha, é o estado de Nirvikalpa propriamente dito. Neste
estado a mente fica livre de dúvidas não mais tendo a necessidade de oscilar entre
alternativas de possibilidades e probabilidades. Não tem vikalpa de qualquer tipo.
Está certo da verdade e sente a presença do Real. Mesmo estando ativo, sabe que
está ativo na Realidade, o Ser, o Ser Supremo.
D – Isto parece contradizer as declarações que o Ser está além da mente, de que a
mente não pode conhecer Brahman, que está além do pensamento e palavra. (Avan-
manasa-gochara).
M – Eis porque dizem que a mente é dupla: existe a mente superior pura assim como
a mente inferior impura. A mente pura sabe e a mente impura ignora. Isto não quer
dizer que a mente pura possa medir o imensurável Ser, Brahman, mas que o Ser se
faz sentir na mente pura de modo que mesmo quando estiverdes envolto em pensa-
mentos, sentireis a Sua Presença e percebereis a verdade de que sois um com o Ser
Profundo e que as ondas-pensamento estão apenas na superfície.
D – Isso quer dizer o mana-nasha ou o ahankara-nasha. A destruição da mente ou do
ego, da qual falais, não é então uma destruição absoluta.
M – Sim. A mente se livra das impurezas e se torna suficientemente pura para refletir
a verdade, o Ser Real. Isso é impossível quando o ego se acha firme e ativo.
D – Quando uma pergunta vos é feita, dizeis, “Conhecei primeiro aquele a quem
ocorre a dúvida”, “Alguém duvidará de quem tem dúvida?”, “Conhecei-vos a vós
mesmos antes de começardes a falar dos outros”, etc... Isto é um verdadeiro Brah-
masthra, uma arma suprema à mão, para lidar com o inquiridor, e eu...
M – Sim. O que estais querendo dizer?
D – Por favor descei ao nosso nível e removei as nossas dúvidas. Vós compreendeis a
nossa posição. Nos não compreendemos a Vossa. Vós estais muito acima e nós esta-
mos muito abaixo. Se o desejardes, podereis vir até nós, mas nós não poderemos ir
até Vós.
M – O que procurais?
D – Dizem que o Ser está por toda a parte; Brahman é onipresente. Este está além e
também é o Ser. Se eu sou Brahman, deverei estar em toda a parte. Mas existe a
sensação que eu estou neste corpo, ou confinado nele; mesmo que eu seja distinto
do corpo, eu sou inseparável dele. Do mesmo modo, eu sou inseparável da minha
mente, e até o “EU” parece ser uma parte da mente. Onde está a mente sem o cére-
bro? Certamente não posso imaginar que posso estar sem a mente, ou o cérebro, que
é uma parte deste corpo.
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M – Já terminastes? As dúvidas nunca cessam. Se uma dúvida for removida logo outra
surge para tomar seu lugar. É como desfolhar uma árvore, folha por folha. Mesmo
que sejam retiradas todas as folhas, novas folhas crescerão. A própria árvore tem que
ser arrancada pela raiz.
D – Que posso fazer? Está errado em pensar e expressar dúvidas?
M – Não. O único remédio certo é conhecer aquele que duvida. Ninguém duvida da-
quele que duvida.
D – Estava com medo disto. Estou engasgado...
M – Não. Estou vindo em vosso socorro. Suponhamos que vos dou uma resposta, isso
eliminaria todas as vossas dúvidas?... Disseste que és o corpo, a mente, e aí por dian-
te. O que é essa mente que dizeis ser vós mesmos? Dissestes que é todo os vossos
pensamentos inclusiva umas tantas faculdades... O “EU” é uma parte da mente. A
mente é uma parte do corpo, não é assim?
D – Eu não digo que assim seja, mas tenho a impressão que assim é.
M – Muito bem, vamos em frente. Vós sois a mente. A mente, ou está localizada no
cérebro, ou é identificada a este. Vós admitis que a mente está localizada no cérebro
e, ao mesmo tempo, dissestes que és distinto, embora separado dela. Não é assim:
agora vamos localizar no corpo todos os nossos pensamentos, emoções, paixões, de-
sejos, apegos, impulsos, instintos, em resumo, tudo o que somos, sentimos, pensa-
mos e conhecemos. Onde localizaríeis o “EU”, seja qual for esse “EU”, uma ideia,
pensamento ou sentimento?
D – Sentimentos, emoções, etc., todos estão localizados, isto é, dizem que surgem no
tronco do corpo, no sistema nervoso. Mas a mente sediada no cérebro está conscien-
te destes. Chamam isso de ação reflexa.
M – Assim, se tomardes o “EU” como sendo parte da mente, o localizaríeis no cére-
bro. Mas eu vos digo que esse “EU” é de fato uma parte, mais uma parte muito radi-
cal, da mente, sentindo-se ser distinta da mente e usando-a.
D – Eu aceito isso.
M – Então este “EU” é um pensamento radical, um sentimento íntimo, uma experiên-
cia autoevidente, uma consciência que persiste até no sono profundo quando a men-
te não está ativa como no estado de vigília. Então, de acordo com o que disseste,
esse “EU”, a parte radical, deve ter um centro no corpo.
D – Onde está?
M – Deveis procurá-lo em vós mesmo. Mas não o encontrareis dissecando o corpo.
D – Como então? Dissecando a mente?
M – Sim, como sois a mente tereis que vos dissecar a fim de encontrar onde vós (o
“EU”) está. Eis porque digo, “conhecei-vos a vós mesmos”.
D – Mas existe realmente um centro, um lugar para este “EU”?
M – Existe sim. É o centro do Ser para onde a mente no sono se retira de sua ativida-
de no cérebro. É o Coração, que é diferente do assim chamado órgão sanguíneo,
também não é o Chakra Anahatha, no centro do peito, que é um dos seis centros re-
latados nos livros sobre Yoga.
D – Então, onde está? Talvez eu fique sabendo mais adiante. Se existe tal cento do
Ser no corpo, por que deveriam dizer que Brahman é Athman, que é onipresente, e
assim por diante?
M – Em primeiro lugar, limitai-vos ao Ser que está localizado no corpo e encontrai-o.
Então podereis pensar no Brahman, a ONIPRESENÇA.
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D – Quero saber o que é Coração, onde Ele está, e assim por diante. Mas quero remo-
ver esta dúvida primeiro. Eu sou ignorante da minha própria verdade e o meu conhe-
cimento está ficando cada vez mais limitado, imperfeito. Dizeis que o “EU” é o Ser,
Athman. Mas dizem que o Athman está sempre autoconsciente, enquanto que eu sou
inconsciente...
M – As pessoas sempre caem nesta confusão. O que vós chamais de vós mesmos ago-
ra, não é o Ser Real, o qual nem nasce nem morre.
D - Então Vós admitis que o que chamo de “ EU” é o corpo, ou uma parte do
corpo?
M – Mas o corpo é matéria (Jada), este nunca sabe, é sempre a coisa conhecida.
D – Então se eu não sou o Ser (Athman) nem o não ser (Anathman)...
M – Estou indo em teu socorro. Entre o espírito e a matéria, ente o Ser e o corpo algo
nasce que é denominado ser-ego (Ahamkara, Jiva), o ser vivente. Bem o que chamais
de Vós mesmos, é este SER-EGO o qual é diferente do sempre consciente Ser e da
matéria inconsciente, mas que, ao mesmo tempo, participa do caráter de ambos:
espírito (chethana), e matéria (Jada).
D – Então, quando dizeis “conhecei-vos a vós mesmo” quereis que eu conheça este
segredo?
M – Mas no momento que o ser-ego tenta conhecer-se, ele muda seu caráter. Este
começa a participar cada vez menos da matéria (Jada) , na qual está absorvido, e
cada vez mais da Consciência do Ser (O Athman).
ele vê. O homem que realizou a Verdade Suprema da sua própria existência compre-
ende que é a Realidade Uma, e Suprema que o apóia bem como ao mundo. De fato,
Ele está consciente do Uno, como o Real, o Ser em todos os seres, em todas as coi-
sas, Eterno e Imutável, em tudo o que é impermanente e mutável.
D – Falais em termos muito elevados de conhecimento: eu comecei com o corpo.
Existe alguma diferença entre o Jnanin e o Ajnanin nas suas experiências físicas?
M – Há sim. Como poderia ser de outra forma? Já declarei isso várias vezes.
D – Então a Jnana Vedanta, como é explanada e discutida é talvez diferente daquela
que é praticada e realizada? Tendes afirmado por diversas vezes que lá está, no Co-
ração, o real significado do “EU”...
M – Sim, quando penetrais profundamente e vos perdeis, por assim dizer, nas profun-
dezas abismais, então a Realidade que é Athman, que sempre esteve atrás de vós
todo o tempo, se apodera de vós. É um incessante lampejo da Consciência-Eu, e po-
deis estar consciente dele, percebê-lo, ouvi-lo, senti-lo por assim dizer. Isto é o que
eu denomino “Aham Sphoorthi”.
D – Disseste que o Athman é imutável, autoefulgente, etc... Mas se falais ao mesmo
tempo do incessante lampejo da Consciência-Eu, o “Aham Sphoorthi”, isso não impli-
ca movimento, que não pode ser realização completa, no qual não existe movimento?
M – O que quereis dizer por completa realização? Quer isso dizer que vos transforma-
reis numa pedra, numa massa inerte? O Aham Vritti é diferente do Aham Sphoorthi. O
primeiro é a atividade do ego que está fadado a se perder e abrir caminho para o
segundo que é uma expressão eterna do Ser. Na linguagem da vedanta este Aham
Sphoorthi é chamado de Vritthi Jnana. Realização, ou Jnana, é sempre Vritthi. Existe
uma distinção entre Vritthi Janana, ou Realização e Swaroopa, o Real. Swarropa é
Jnana propriamente dita, é a Consciência. Swaroopa é Sath Chith, que é onipresente
está sempre lá, autorrealizado. Quando vós o realizais, a realização é denominada
Vritthi Jnana. É somente com referencia à vossa existência, que falais da realização,
ou Jnana. Por conseguinte, quando falamos de Jnana, sempre queremos dizer Vritthi
Jnana e não Swaroopa Jnana, pois a própria Swaroopa é Jnana, Consciência perma-
nente.
D – Até aqui estou compreendendo. E sobre o corpo? Como posso sentir este Vritthi
Jnana no corpo?
M – Podereis sentir-vos um com o Uno que existe. Todo o corpo se transforma apenas
num poder, numa força-corrente. Vossa vida torna-se uma agulha atraída por uma
enorme massa magnética e, à medida que penetrais mais e mais profundamente fi-
cais sendo apenas um centro. E depois, nem isso, pois vos transformais em apenas
consciência onde não há pensamentos nem preocupações pois estes foram destruídos
no umbral. É uma inundação. Vós sois apenas uma palha num vendaval. Vós sois tra-
gados vivos, mas isso é delicioso pois vos transformais na própria coisa que vos engo-
liu. Esta é a união do Jiva com Brahman, a perda do ego no Ser Real, a destruição da
falsidade, a realização da Verdade.
D – Até este momento eu tinha grande medo de Mukthi pois o julgava horrível. Agora
vejo que é um estado muito agradável. No que concerne aos poderes (Siddhis), de-
vem estes ser alcançados, ou estão em oposição a Mukthi?
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M – É realmente difícil, mas não impossível uma vez que sejais fervorosos a esse res-
peito... Eis porque se diz ser necessário o toque da Graça... A influência de um Ser
liberto (Jnanin) penetra em vós silenciosamente. Ele não precisa falar.
D – Quando estou aqui, fico convencido e impressionado. Mas quando saio e penso na
sociedade, ou em meu país, e me lembro da vossa resposta “Conhecei-vos a vós
mesmos”...
M – O que podeis fazer para a sociedade ou para o país quando sois fracos? Deveis vos
tornar fortes primeiro. Mas vos digo, AUTORREALIZAÇÃO é a força suprema. Não te-
nhais medo de perder força para agir quando vos tornardes um Jnanin.
D – Tenho medo que isso aconteça.
M – Não devereis tê-lo. Se fordes escolhidos, ou destinados a fazer uma determinada
coisa, esta será feita.
D – Devo, então, renunciar a tudo? Não poderei efetuar Thapas e pedir a Deus para
que satisfaça meus desejos?
M – Podereis. Mas deverá haver alguma Abbyasa, alguma Sadhana para Thapas ou
para vossas preces alcançarem a Deus. Quando estais no Sadhana seja através da
meditação ou oração, estareis pensando nos vossos desejos ou em Deus?
D – Se eu pensar nos meus desejos na meditação, isto não é Dhyana de modo algum.
M – Então aceitai o fato de que existe a mesma Dhyana, o mesmo Thapas, a mesma
meditação para ambas a Sakama ou Nishkama, sejam estas efetuadas por mero dese-
jo ou desinteressadamente. Até mesmo quando os vossos desejos forem atendidos, o
Thapas aumenta. Este não cessa. Esse é o verdadeiro caráter do Thapas. O mesmo
ocorre no caso de adoração (Bhakthi). Agora vos faço uma pergunta: Quando um ho-
mem chega a uma estação ferrocarril, sobre num trem com as suas malas, onde é
que as coloca?
D – Ele as coloca no porta-malas de sua cabine ou no vagão de bagagem.
M – Então ele não as carrega na sua cabeça ou no seu colo.
D – Só um tolo faria tal coisa.
M – Se chamais essa pessoa de tola por carregar as malas na sua cabeça dentro do
trem, mil vezes mais tola o será se carregar seu fardo ao ingressar na senda espiritual
seja esta o caminho do conhecimento (Vichara-marga), ou o caminho da devoção
(Bhakthi-marga).
D – Mas posso eu por de lado todas as minhas responsabilidades, todos os meus com-
promissos?
M – Olhai para a torre do Templo Gopura? Lá estão muitas estátuas, e em cada esqui-
na há uma grande estátua. Já as viu?
D – Sim, já vi.
M – Agora eu vos digo que aquela torre grande está apoiada nessas estátuas das es-
quinas.
D – Mas como pode ser isso? O que quereis dizer?
M – Quero dizer, ao assim me expressar, que não é maior tolice que a vossa atitude
ao dizerdes que tem e terá que carregar todos os vossos trabalhos, fardos, responsa-
bilidades, etc... O Senhor do Universo é quem carrega todo o fardo. Imaginais que
sois vós que o fazeis. Podeis entregar o vosso fardo aos Seus cuidados. Seja o que for
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que tiverdes que fazer, sereis um instrumento para realizá-lo no seu devido tempo.
Não penseis que não podeis fazer algo a menos que tenhais desejo de fazê-lo. O de-
sejo não vos dará a força para fazê-lo. A força é do Senhor.
D – Devo compreender que me estais dando a essência do Karma Ioga?
M – É a essência do Karma Yoga, da Bhakthi-Yoga, e até mesmo da Jnana-Yoga pois
mesmo que os caminhos sejam diferentes inicialmente, todos eventualmente condu-
zem à esta situação.
D – Falam das quatro vocações (Ashramas) preceituadas na vida. Qual é o seu signifi-
cado?
M – Caminhar por estágios é uma regra social indicada para as pessoas de um modo
geral. Mas se uma pessoa, é um ser bem desenvolvido espiritualmente (Pakvi), não
precisa preocupar-se com essa regra. Jovem ou idoso, homem ou mulher, Brahmin ou
Pária, se estiverem maduros (Paripakvi), poderão partir diretamente para a meta
sem atender aos estágios.
D – Então, as Ashramas não tem utilidade para a vida espiritual?
M – Os primeiros três Ashramas são orientados na conduta dos assuntos materiais da
vida cotidiana e são regulados de tal forma a não se chocarem com o ideal do conhe-
cimento espiritual.
D – E quanto ao quarto Ashrama, Sannyasa?
M – Oh! Sannyasa não está em tomar a tigela do mendigo, em raspar totalmente o
cabelo, ou vestir a túnica alaranjada. Quando o estudante, com a sua pureza exalta-
da pelo celibato (Brahmacharim), se transforma, pelo desapego, num chefe de famí-
lia ideal, a serviço do próximo, ou da sociedade, a Luz brilhará naturalmente. O ter-
ceiro Ashramana, é destinado ao esforço espiritual concentrado (Thapas). Quando,
através de Thapas ardente, o Thapaswin se faz puro como o cristal, e apto, segue
automaticamente o quarto ashrama. Como já disse, não se trata de uma coisa exter-
na que a pessoa assuma.
D – Qual é o meu dever para com a Sociedade? Qual deve ser a minha relação com
ela?
M – Vós sois um membro da Sociedade. A Sociedade é o corpo, os indivíduos são seus
membros, pernas e braços. Assim como os diversos membros ajudam e cooperam
entre si, estão por isso, felizes, assim cada um deve se unir aos outros e ser útil a
todos os demais em pensamento, palavra e ação... Cada um deve atender ao bem
estar do seu próprio grupo, isto é, ao grupo próximo que faz parte da sua vida, para
depois atender aos outros.
D – Alguns falam alto sobre paz (Shanthi). Outros exaltam o Poder (Shakthi). Qual dos
dois é bom para a sociedade?
M – A “PAZ” é absolutamente essencial para o indivíduo. O “Poder” é necessário para
a manutenção da Sociedade. Pelo “Poder” levantamos espiritualmente a sociedade
para que esta depois estabeleça a Paz no seu seio.
D – Qual é a meta para a qual caminha a humanidade na terra?
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18 – A EQUANIMIDADE DO JNANIN
D – Disseste que o Jnanin pode ser, e é, ativo lidando com os homens e coisas. Não
tenho mais dúvida a respeito. Mas dissestes ao mesmo tempo, que Ele não vê dife-
renças, pois para o Jnanin tudo é o Uno e está sempre na Consciência Suprema... Se
é assim, como pode Ele lidar com as diferenças, com os homens, com as coisas que
certamente são diferentes?
M – Ele vê estas diferenças apenas como aparências, não separadas do Verdadeiro, do
Real com o qual Ele é Uno.
D – O Jnanin parece ser mais preciso nas suas expressões e compreende as diferenças
melhor que o homem comum... Se o açúcar é doce e o absinto é amargo para mim,
Ele também se apercebe disso. De fato, todas as formas, todos os sons, todos os sa-
bores, etc., são os mesmos para Ele como o são para os outros. Se assim for, como se
pode dizer que estas são apenas aparências? Não fazem parte da experiência de sua
vida?
M – Já disse que a equanimidade é o verdadeiro sinal da Jnana. O próprio termo
equanimidade pressupõe a existência de diferenças. O que o Jnanin percebe é a uni-
dade em todas as diferenças, o que eu denomino equanimidade. Equanimidade não
significa ignorância das distinções. Quando tiverdes alcançado a Realização, percebe-
reis que essas distinções são de natureza formal e não substancial ou permanente. O
essencial em todas essas aparências é a Verdade Una, o Real. Isso eu chamo de uni-
dade... Vós vos referis ao som, sabor, aroma, etc. é verdade que o Jnanin distingue
as diferenças, mas Ele sempre percebe e participa do Uno Real em todas as coisas.
Eis porque não tem preferências quer se movimente de um lado para outro, quer
esteja falando ou agindo, é sempre no Uno Real que ele se movimenta, fala ou age.
Para Ele coisa alguma é separada da Verdade Suprema e Una.
Purusha não é afetado no seu caráter como substância, o material para a formação
de todos esses mundo infindáveis, inumeráveis almas, os quais são apenas suas partes
incontáveis, assim manifestadas em virtude da Sua Força-consciência (Thapas). Fica
assim claro que Brahman é uma única substância (Swarupa) em todas as suas formas
e condições. Daí que frases como: “O Ser é tudo isto”, revela-nos a verdade de que o
Ser único, Purusha, infinito por natureza, está implícito em todos os seus modos de
formação quer nas suas almas formadas, quer na sua expressão como mundo. A ver-
dade a respeito da única substância, a realidade, revelada como experiência à cons-
ciência supra-sensitiva, como um-sem-segundo, torna-se para a experiência da mente
comum como multiplicidade, cheia de dualidades. E certas escolas de pensamento
filosófico, encontrando oposição entre o Um e o Muitos, pelo modo de reconhecerem
a sanção superior de que é somente na experiência superconsciente que se sente o
Uno, têm se apressado em afirmar como verdade apenas o UNO, negando o Muitos.
Isto porque este último só se manifesta à experiência dos sentidos nos quais, por cer-
to, não se pode depender para chegar à Realidade, ou com objetivo de realizar a
verdade que transcende a esfera dos sentidos. Mas como encontramos nas escrituras
passagens frequentemente repetidas de que o Uno ficou sendo Muitos, é razoável
concluir que o Uno e o Muitos não estão realmente em oposição e que tal contradição
não tem lugar na Realidade sendo esta apenas uma imaginação da mente pesquisado-
ra. Consequentemente, é preferível resolver o problema dos Muitos e reduzirmos a
contradição, se esta existir, harmonizando-a numa só Verdade. Vejamos o caso de
um pode de barro. Quando a forma do pote é percebida, sem o conhecimento de que
esta é feita de barro, ninguém nega a verdade da forma, ou a validade de sua per-
cepção no pressuposto de que o observador não tem noção da qual é feito o pote e,
por conseguinte, da verdadeira natureza do pote. De igual modo, não negamos a
forma, ou a percepção da mesma, uma vez que tomamos conhecimento da verdadei-
ra origem do pote, isto é de que este é feito de barro. As duas afirmações que o ma-
terial do pote é barro, e que este tem uma forma particular podem ser ditas a res-
peito do pote. O conhecimento de que o pote é feito de barro, não contradiz, nem
tão pouco é incompatível, com o conhecimento de que este tem uma forma particu-
lar. Nem tão pouco a afirmação de que o pote tem uma forma particular, nega a ver-
dade substancial de o mesmo ser feito de barro. Logo, tem que ser admitido que a
verdade da coisa é dupla, de acordo com o ponto de vista e da capacidade de com-
preensão da mente indagadora. Que o pote é feito de barro pode ser considerado
com a verdade substancial do pote, e que este tem um formato particular, como a
verdade formal. Ambos os aspectos são verdadeiros e, conjuntamente expressam
toda verdade sobre o pote. Que o barro é substância do pote, é a verdade primordial
ou substancial. A forma assumida pela substância, é a verdade formal. Como a forma
é dependente da substância, e a substância se refere ao caráter essencial da coisa, a
primeira é a verdade substancial e primária, enquanto que a segunda é a formal,
atributiva, a verdade secundária, especialmente em virtude de ser a mesma coisa
percebida de modo diverso por diferentes órgãos dos sentidos. Mas a compreensão da
forma e de outros aspectos como distinta e separada da própria substância está na
dependência da mente sensorial, da inteligência e do seu desenvolvimento. Desse
modo a compreensão distinta destes dois aspectos, o substancial e o formal, não
conduzem ao erro, mas proporciona um grande proveito porque a verdade sintética é
percebida na sua integridade. Da mesma forma, tratando-se do assunto da existência
21
está pleno e aquilo esta pleno; da plenitude surge a plenitude. A plenitude sendo
originada da plenitude, somente a plenitude permanecerá”. Recapitulando: Conhe-
cer o mundo tal qual se apresenta à minha compreensão imperfeita, é um conheci-
mento parcial porque ignoro a substância. Um conhecimento do nome e forma, sem
conhecer a sua realidade substancial, é conhecimento imperfeito. Conhecimento
parcial como tal, e por si, é apenas imperfeito mas não falso. Confundir a verdade
parcial pela verdade total é que constitui o conhecimento falso. Sendo que este co-
nhecimento parcial é uma compreensão imperfeita, muito grosseira para penetrar as
verdades mais sutis, é quase a mesma coisa que ignorância. Como este conhecimento
se move num circulo fútil, percebendo somente o formal sem atingir a verdade subs-
tancial, e muitas vezes nos conduz ao erro e dificuldades, é comumente referido pelo
termo depreciativo de ignorância (Ajnana). Somente quando Brahman, a substância-
raiz de toda a existência, é realizado, é que ocorre a clara realização de toda a ver-
dade de que Brahman, o Ser de toda a Existência, não difere da Sua própria formação
como mundo-existência, e alma-existência. Somente isso é conhecimento completo,
somente isso é a verdade integral.
2 – Sobre a Criação
Como já foi exposto, e a verdade nunca é por demais repetida, ou repisada. A subs-
tância Original, a fonte e apoio de todos os mundos com todos os seus seres, é a úni-
ca Consciência-existência, o Ser Infinito, cujo “poder de fixação” (Iksha) ou fervor
criativo, Thapas, ou força da consciência, implica num movimento eterno de ativida-
de para a formação deste mundo e que, por sua vez, através de uma ordenada dife-
rença em desenvolvimento, trás à existência todos esses seres ou derivados numa
variedade de espécies apresentando diferenças chocantes na natureza de seus corpos
tais como físico, vital e mental, com variações marcantes na sua capacidade de de-
senvolver os órgãos do vital, mental e espiritual, ou funções divinas. Realmente ,
Brahman é o mesmo em todos os seres. Entretanto, existe uma enorme diferença na
sua capacidade com relação a sua atividade vital, percepção sensorial e experiência
global. Estes não surgem à existência simultaneamente e no mesmo lugar. As dife-
renças entre os seres criados são o resultado do funcionamento do poder criador em
termos de espaço e tempo. Condicionados no espaço, que é pleno, intenso e imóvel
no Ser como extensão, surgem e perduram as distinções infindáveis entre os objetos
perceptíveis. As infindáveis distinções dentro dos processos internos, incessantemen-
te surgindo num fluxo constante de atividade, o fenômeno de lembrança e expectati-
va, e todas as diferenças de condição por toda a parte, mesmo por fora, acham-se
condicionadas ao tempo que, como um vácuo intangível, é somente o Ser como mu-
tação eterna e movimento incessante. Logo, não existe criação sem que a toda pode-
rosa Consciência do Ser assuma as condições espaciais e temporais da existência. Na
ausência da existência criada, a questão da minha existência, e de outras, não surgi-
rá. É na criação, cuja realidade é estabelecida para a nossa experiência, que a nossa
própria existência individual é baseada. Deve-se notar então que estes objetos sensí-
veis ou não, estão sujeitos ao espaço e tempo, que são os termos da Existência-
Consciência assumidos pela eterna força-movimento inerente nesta, para o sustento
da criação. Por conseguinte, na Toda-Abarcante Consciência-Existência, assim formu-
lada como existência espacial e temporal proporcionando distinções sem número, são
23
3 – Sobre a Escravidão
Ser e, reciprocamente o Ser pensa ter os atributos físicos de nascimento, etc. Agora
vejamos quem é que está escravizado. A Consciência que reside em todos os seres
humanos (Sarvantaryami), a qual é o apoio de todas as existências, é quem preside
tudo quanto existe sobre o universal e o individual, sobre o grande e o pequeno. Por-
tanto há lugar em toda a parte para o movimento sutil do conhecimento e ação, no
interior, e no exterior. Não deve ser esquecido de que existe um poder inesgotável
inerente neste espírito intro-cósmico que preside e habita em todas as coisas. O po-
der e o poderoso (Shakthi e Shaktha) são inseparáveis e somente podem ser separa-
dos na mente e na palavra, mas nunca no fato ou na experiência. Esta força é, por
natureza, de uma Suprema Capacidade. No maior assim como no menor, no coletivo
assim como individual, a consciência que rege dirige, confere, por seu equilíbrio na-
tural, a capacidade necessária para a sua formação, sustento e dissolução. É o mara-
vilhoso Poder (Shakthi) do Todo Consciente Senhor Supremo da Criação, o qual, em
virtude da Sua própria natureza, constitui a capacidade da Inteligência velada para
entrar, manter e dirigir a formação, durabilidade e desaparecimento de incontáveis
objetos finitos. Estes objetos finitos são de uma variedade infindável: os objetos do
mundo material tendo um revestimento puramente físico, os objetos do reino vegetal
tendo uma envoltura físico-vital e os seres humanos possuindo corpos constituídos de
físico-vital-mental.entretanto pelo fato de o Ser estar limitado ao corpo ou o espírito
vinculado à matéria através do elo que se chama Sukshuma Sharira (o movimento
sutil da mente e vida) não se deve supor que o espírito que os preside esteja escravi-
zado. O espírito é autoexistente, eternamente livre e jamais poderá ser acorrentado.
Nem tão pouco se pode dizer que em virtude de estar presidindo ficará como conse-
quência afetado e limitado. O equilíbrio do Ser Supremo, ou Espírito que dirige é
eterno e inerente ao próprio Ser, pois se relaciona com os Seus próprios derivados. O
Ser, ou o Espírito Livre, não está agrilhoado nem tão pouco escravizado ao corpo que
não tem sensibilidade ou sentimento. Então quem é que está acorrentado? E quem é
que se sente agrilhoado? Deve haver na escravidão propriamente dita, no Sukshma
Sharira, algum elemento que tem a sensação de escravidão, algo pelo qual o espírito
que preside é representado. Este elemento se chama ego (Ahamkara). É uma forma
persistente, embora impermanente, do Athman, ou Ser, formado e localizado no cor-
po Sutil Vital-Mental, como o qual se identifica. Utilizando-se da força de expansão
inerente no poder concentrado do autoconsciente Athman, este se impõe através dos
pensamentos e coisas tornando-os seus. Sempre dependente de apoio, entretanto, se
apresenta como estando livre e se afigura como o próprio espírito. Este ser aparente
nascido nas formas, mas sempre mudando de forma em forma encontrando seu sus-
tento na forma é denominado JIVA, ou alma no sentido de que nasce e morre e não é
o Ser Real, (Athman). Através da identificação entre a escravidão e o escravo, do
apoio com o apoiado, do ego com a escravidão, a qual teceu em torno de si, este ser
aparente com o seu princípio central de egoidade (Ahamkara), é ambos a escravidão
e o escravo. O ego, que é o ser aparente, um reflexo do Ser Real na substância vital-
mental denominado corpo sutil, apropria-se deste último para si, como se fosse o Ser
Real, em conseqüência o corpo sutil fica sujeito à sanção do ego, o qual, por assim
dizer é seu centro imediato. Como a luz de uma lâmpada, a atividade do ego, que se
irradia deste centro, impõe-se primeiramente ao corpo sutil, que é seu principal do-
mínio. Por razoes resumidamente expostas, certo número de termos, com variáveis
conotações acentuando diferentes aspectos do ego, são usados para denominá-lo. É o
26
corpo sutil propriamente dito, o JIVA, ou alma em formação, o ser aparente, a men-
te, o elo entre o ser e o corpo. Fica claro, então, que é este ser aparente, ou alma
formada no corpo sutil, que é atormentado por um sentimento de escravidão e que
está atualmente acorrentado. Por conseguinte, libertação e escravidão, são termos
usados com referencia ao ego com sua postura como o Ser. Num estado não evoluído
torna-se ativo no sutil ou no grosseiro e assim fica mergulhado no mundo das formas.
Isso é escravidão. Num estado evoluído este entra num único movimento de busca da
sua origem, o Ser Real em seu interior, e desta forma afasta-se e libera-se de todo
movimento subjetivo (vritthi) e de todos os objetos (vishaya) os quais constituem o
não ser. Isto é libertação. Ambos, o poder que encadeia e o poder que liberta, estão
latentes em estado germinal no próprio corpo sutil dominado pelo ego, ou ser apa-
rente. A Força Consciente dirigida para o movimento criador faz surgir no infinito Ser
indivisível, forças distintas e formas finitas, separadas da sua fonte raiz a fim de pro-
duzir na consciência uma experiência de separação e as joga num movimento centrí-
fugo dirigido às formas mais grosseiras. Este movimento diferenciador, procedente da
Força Consciente Criadora, joga um véu de autoesquecimento sobre as inumeráveis
formas finitas da Consciência-Existência (Sath-Chith), para a sua formação definitiva.
Este véu de autoesquecimento, jogado sobre tudo que é formado, limitado e distinto,
é uma função daquilo que se denomina “o poder velador sobre todas as formações no
Livre, Eterno e Infinito Ser” (Thirodhana Shakthi). É este poder velador que cria o nó
entre a matéria e o espírito, faz com que a substância sutil da mente e da vida, as-
suma e seja absorvido nas formas grosseiras e se constitua no corpo sutil (Sukshma
Sharira), o qual fica sendo desde logo poder e propriedade do ego, assim como sua
escravidão. Igualmente neste corpo sutil de escravidão propriamente dita, há outro
movimento sucedendo e substituindo a força autoveladora (Thirodhana). Este é o
poder autorrevelador (Anugraha) que é justamente o oposto de Thirodhana. Por um
acompanhamento interior, este prende e educa o ego, o qual encobrindo a luz do Ser
Consciente, apresenta-se como sua própria figura e o impulsiona para um maior de-
senvolvimento. Assim impelido, o ser aparente é forçado a avançar através das expe-
riências da dor e do prazer e de errantes e aparentemente intermináveis movimentos
da vida e da mente, ou deixando-se absorver nas formas grosseiras só para finalmen-
te se aperceber da futilidade desse infindável revolvimento dentro da sua própria
prisão. Então, é o “poder autorrevelador” (Anugraha Shakthi) que dirige a ideia-ego
para um único movimento conduzindo-a para o mais profundo e Real Ser assim secci-
onando para sempre o nó do ego e dissolvendo os grilhões do ser aparente (Jiva). Fica
evidente que existem dois movimentos da Suprema-Força-Consciente na Criação. Um
que precede e lança um véu sobre as formações finitas no Ser Infinito, e o outro, que
se sucede, evidencia um controle íntimo sobre estas a fim de revelar o Infinito nelas
existente. O poder autovelador (Thirodhana), primeiro envolve o ego com uma capa
do sutil movimento de vida e mente (Vritthi), e depois o desenvolve para uma difusão
e perda no mundo objetivo das formas. O poder que escraviza (Thirodhana Shakthi),
é revertido e transformado num poder de libertação Anugraha, que prospera e con-
segue dar um forte aperto no ego ou ser aparente. Então a atividade efluente do
corpo sutil “mente e vida” é relaxada, ou retirada, do externo e grosseiro. Em segui-
da, todo o movimento generalizado, difuso e desordenado, é recolhido e fixado num
só movimento no sentido do ego a fim de encontrar sua fonte no Ser, deste modo
envolvendo uma correção, ou transformação do ego, o qual é somente uma imagem
27
distorcida e impermanente do Ser Eterno. Logo, este duplo poder no movimento cri-
ador da corça consciente, está sempre ativo no ego assim como no corpo sutil, que
aqui é denominado o cordão que liga o espírito a matéria, o nó que liga o ser ao cor-
po. Neste breve esboço é apresentado o verdadeiro caráter da escravidão e daquele
que é escravo, assim como do processo que conduz a libertação.
4 – Sobre o sentido-Eu
ção de cada um. Mas tal movimento do ego ou do ser aparente, tem sua raiz e apoio
em algo que é a base real da individualidade e que não se move com, ou se perde no
movimento do ser aparente – algo que é um princípio consciente e contínuo relacio-
nado com o passado, presente e futuro. Este é o Ser Real Verdadeiro, o Lakshyartha
no indivíduo, do qual o ego é o ser aparente. Este último é diferente em cada indiví-
duo diferente e é denominado comumente de Jiva Athman. Mas Athman o Ser, é re-
almente um só, o Eu de todos os indivíduos pois toda a existência é Uma. Mas os se-
res viventes (Jivas, são muitos, tanto quanto o número de indivíduos existentes. Es-
tes são almas criadas que se dissolvem no tempo, distinto do seu suporte o Ser que é
eterno e idêntico ao Eterno Infinito que conserva Sua Existência multi-centrada num
movimento interminável de formação, e dissolução. Desse modo, percebemos que
existem três sentidos distintos de expressão do “Eu”. O significado supremo do “Eu”,
seu paramartha, é o Purusha que se torna o lakshyartha, sua expressão individual,
pois este é o mesmo ser que preside sobre a existência individual, e o imediato, ou
aparente sentido do “Eu”, seu Vachya-artha, o ego, ou o ser aparente, formado tem-
porariamente para fins de individualização. Triplo é, então, o sentido do “Eu”, e é
dentro deste sentido triplo que deve ser compreendido.
5 – Sobre O Desligamento
Desligamento se diz ser a libertação da alma (Jiva) da escravidão na qual está perdi-
da. Esta escravidão tem sido descrita como sendo um nó que amarra o espírito à ma-
téria. Declarou-se também que a verdadeira natureza desta escravidão consiste num
jogo do ego, ou da consciência aparente. Por isso os Shastras prescrevem que a liber-
tação nada mais é que a dissolução do ego e indica os meios para efetivá-la. Em ou-
tro trecho dessa obra, é discutida a diferença entre o homem escravizado e o liber-
tado. Por agora basta mencionar o que é comum a ambos estados a fim de esclarecer
uma possível e indevida apreensão de que, com a dissolução do ego, a individualida-
de é também dissolvida. Quando o ego é dissolvido, ou reformado, a individualidade,
é um princípio consciente e contínuo que sobrevive ao aparecimento e desapareci-
mento do ego, e não depende deste para a preservação da sua individualidade. Este
Ser, como já foi dito, não é outro se não o Ser Infinito o qual ao manter uma indivi-
dualidade múltipla nas suas expressões derivadas fica sendo o ser de cada indivíduo
no qual, entretanto, há uma ação superficial de uma imagem do Ser denominada
ego, ou ser aparente. Este último é uma formação temporária e, como qualquer ou-
tra formação, dissolve-se com o tempo. O indivíduo no qual a escravidão é rompida,
e o ego dissolvido, retém a sua individualidade mesmo após o seu desligamento
(Mukthi). Ele pode recordar, no seu estado liberto, as experiências das suas vidas
anteriores em escravidão, deste modo ligar o passado de sua individualidade distinta
numa continuidade ininterrupta com o presente. A individualidade persiste a despei-
to da retirada do ego, estando errada a noção de que o ego é um marco permanente,
ou uma expressão eterna da individualidade. Talvez uma real e mais duradoura indi-
vidualidade comece somente após a libertação, na ausência do ego desfigurador e de
sua interferência. Por conseguinte, a vida liberta do Jivan-Muktha, é um ideal que se
realiza no indivíduo. Com efeito, esteja ou não uma alma em escravidão, a individua-
lidade persiste por ser isto um mister direto do Infinito e, de modo algum, do ego.
Certas verdades a respeito da alma liberta (Muktha), estão expostas no “Ramana Gi-
29
ta” (Cap. VII, IX e XIV) às quais nós iremos nos referir mais adiante. Embora somente
a experiência própria possa evidenciar sua veracidade, de que devemos assumir uma
vida espiritual, e ter algum tipo de experiências pessoais antes que possamos com-
preender e apreciar estas verdades, o verdadeiro estado do homem liberto (Muktha
Purusha) é descrito com muitos detalhes com referencia ao desenvolvimento maravi-
lhoso que atinge o seu corpo, vida e mente, a fim de fortalecer a fé do crítico inteli-
gente que seriamente busca a verdade e infundir-lhe interesse e ânimo. Como a es-
cravidão e a libertação referem-se ao ser aparente (Jiva) a dúvida surge se os meios
de libertação estão ou não com o Jiva. Uma resposta é possível em qualquer desses
sentidos. Pode-se argumentar que, se o Jiva é a causa da escravidão, então os meios
para a sua libertação também estão com ele. Nesse caso, sendo o Jiva uma transfor-
mação na substância sutil entre o ser e o corpo (Sukshma Deha), ele está atado na
matéria mas livre no espírito. O elemento inconsciente nele (Jada) causa a escravi-
dão, enquanto que o elemento inconsciente trabalha para sua libertação. por outro
lado, pode-se arguir que o JIVA sendo, na verdade, uma formação identificada com o
aprisionamento não pode ser a causa da sua própria escravidão. Lá ele se encontra
como sendo o ser aparente ligado a um movimento do corpo sutil do qual se apode-
rou por uma espécie de identidade. Assim, se nos lembrarmos que esta escravidão é
o trabalho do poder auto-velador (Thirodhana Shakthi) inerente ao movimento criati-
vo propriamente dito, e que a liberação é o resultado de um movimento sucessivo da
força consciente (Anugraha), a Graça, chegaremos à conclusão de que a libertação
(Mukthi) é uma questão de desenvolvimento. O poder da Graça do Senhor Supremo
de toda a Existência, o Ser Infinito, escolhe o Jiva desenvolvido (Pakva), remove a
deflexão do ser aparente nele, e transforma o ego num verdadeiro reflexo de Si
mesmo, sempre expressado como o Livre e verdadeiro “EU” no indivíduo. O Upa-
nishad é claro, neste ponto de acordo com a seguinte afirmação: “O Ser é atingível
somente aquele que Ele escolhe e somente ao escolhido, se revela”. Ficou estabele-
cido que é um movimento duplo da força criativa consciente que, através do jogo de
sua Maia, se manifesta como um poder auto-velador, que se constitui como escravi-
dão e, ao mesmo tempo, como uma força reveladora movimentando-se para a liber-
tação. Vimos desse modo ficando claro, que é o Jiva no indivíduo que nasce e desa-
parece. Ao mesmo tempo convém não esquecer que o Ser do Jiva individual, é livre
do caráter temporário do mesmo, e não está sujeito às alterações que acompanham
a formação da alma denominada Jiva.
Se é através da Graça que ocorre a dissolução do ego, causando no Jiva uma reflexão
verdadeira do Ser, uma consumação que se chama autorrealização (Athmalabba),
pode surgir uma dúvida referente ao fato de o esforço humano possa ser seguramente
omitido e de que o Shastras que indicam para o Jiva os meios e métodos para a sua
libertação não tenham sentido e sejam fúteis. Essa dúvida não tem fundamento al-
gum. O ego, como o ser aparente (Jivas), mesmo tendo certa noção de liberdade,
não pode ficar inativo, e nem evitar de fazer esforço, enquanto não realizar sua real
liberdade no Ser. O esforço humano é inevitável e tem o seu propósito enquanto per-
durar na pessoa um sentimento de escravidão e dependência. A Graça da Luz Consci-
ente, que brilha sobre o ser aparente (Jiva), se cumpre através de um impulso interi-
30
estar altamente qualificado para Athma-Vidya se tiver esse ardente desejo pela sa-
bedoria (Jijnasa). Esta é a atitude não convencional e racional reveladas nas obras
bem como na vida de Sri Ramana Maharshi. Reiterando: assim como existem métodos
de práticas espiritual (Vidyas – tais como Udgitha, Samvarga, Vaisvanara, Akshipurus-
ha, Bhuma e Dahara) prescritas no Chandogya Upanishad, para alcançar Brahman,
assim também nas obras aqui comentadas, muitos métodos são sugeridos para a rea-
lização de Brahman no nosso próprio coração como nosso próprio Ser. Por exemplo,
prescreve a autoindagação (Vichara) na forma de meditação sobre as diversas verda-
des sutis relacionadas com o Ser. Também aponta métodos, tais como uma busca
insistente, ou mergulho profundo no ser, através da restrição da palavra, respiração
e pensamentos. E vários são os meios mencionados que se destinam a por sob contro-
le a mente errante como, por exemplo: o observador e a coisa observada; trindades
como conhecedor, conhecido e conhecimento, categorias de espaço e tempo, noções
de aquilo, VÓS e EU. O efeito de tais meditações é de estabilizar e refinar o sistema
nervoso, assim preparando-0 para as exigências de uma vida superior de realização
espiritual e, consequentemente desfazer os inumeráveis emaranhados da ignorância
(GRANTHIS) na mente, na vida e no corpo, assim conduzindo o buscador à experiên-
cia de Brahman, como o próprio ser no centro denominado “CORAÇÃO”. Entretanto,
a prática (UPASANA) que é enfatizada, é a realização do ser no coração (Sad-Vidya,
ou Hridaya Vidya). Esta é diferente da Dahara-Vidya, como é convencionalmente in-
terpretada pelos escolásticos. A interpretação convencional da Dahara-Vidya, é a
seguinte: como o Brahman supremo é impessoal (NIRGUNA), além da mente e pala-
vra, o buscador deve, para fins de meditação, idealizar, através da mente imaginati-
va, um conceito do Deus pessoa (BRAHMAN SAGUNA) e fixá-lo no lugar denominado
“cavidade do coração” (HRID-GUHA), meditando nele. Naturalmente, este BRAHMAN
SAGUNA é indicado para os fracos (MANDA ADHIKARIN) que não podem realizar o
Brahman supremo, que é impessoal (NIRGUNA). HRIDAYA-VIDYA que Sri Ramana
Maharshi ensinou, é diferente da Dahara vidya como acima exposta. Na Hridaya-
Vidya, não é indispensável um conhecimento intelectual, seja do Brahman pessoal ou
impessoal. Nem tão pouco é necessário conceber um símbolo espacial do Purusha,
ou qualquer cavidade como morado do Purusha. Também não é sugerido que Brah-
man Saguna seja fixado na cavidade do centro-coração imaginado Dahara Akasha, no
qual se deve meditar. Como Brahman, a existência total tornou-se o “EU” no centro
denominado coração (Hridaya), de qualquer ser humano, e lá se acha efulgente como
a imperecível Eu-Consciência, uma busca séria pela origem e apoio do nosso próprio
ser, naturalmente impulsionará o hálito-vital, ou inspirará a mente, a dirigir-se no
sentido da origem do seu próprio movimento. É nesse mais profundo movimento de
busca pelo ser, que o nó da ignorância no coração (HRIDAYA GRANTHI), é automati-
camente afrouxado, se não seccionado totalmente. No último caso, a alma é liberta-
da do cipoal físico e restituída ao Ser no coração. Com efeito, a origem e apoio do
pensamento-Eu, seja o sentido-ego, é realizado no coração como o nosso verdadeiro
Ser. O fato de atingir o Ser, conduz à realização da verdade, que é Brahman, o Ser de
toda a existência que está resplandecente em todo o coração humano como o Ser do
Jiva, assim resultando na experiência da união consciente do Ser humano (Jiva) com
Deus (Brahman). Por conseguinte, o segredo deste método prático espiritual (Sad-
Vidya ou Hridaya Upasana), é a verdade de que a autorrealização culmina na união
consciente do ser humano (Jiva) como Deus (Brahman). Esta prática espiritual (UPA-
32
exposto no Ramana Guita que apesar do “EU” (Jivan Muktha) não ter movimento,
mostra a natureza do desenvolvimento, acelera a evolução de outros e não apresenta
de modo algum a inércia da pedra, igual ao aparentemente estático inconsciente.
Passagens, como as que se seguem tiradas dos ensinamentos de Sri Ramana Maharshi,
deram luz sobre a grandeza da alma que é libertada em vida (Jivan Muktha). “não
existe torpor no equilíbrio natural do Ser, Sahaja Sthithi”. “O estado de permanência
no Ser, somente esse é o Thapas (ardor da energia criadora), o desenvolvimento
ocorre momento após momento”. “Aquele que vê a sabedoria (Jnana) divorciada do
poder (Shakthi), nada sabe”. “Sahaja Nishtha, estado de repouso natural no ser, re-
sulta em desenvolvimento pelo qual poderes (Shakthis) se manifestam”. “Aque-
le estado é poder supremo, aquela paz é calma Suprema”. “Ele é um Jivan Muktha
que na existência física, vive liberto”. “Pelo desenvolvimento através do Thapas, o
Jivan Muktha, no curso do tempo, fica intangível mesmo encarnado e no curso de um
desenvolvimento posterior torna-se invisível e como ser perfeito Siddha, agora so-
mente um sublime centro de Consciência, vive livre em seus movimentos”.
de Sri Ramana Maharshi no qual está em verdade encarnado com uma de suas partes,
(Nijakala).
Esta obra foi inicialmente escrita por Sri Ramana Maharshi em versículos no idioma
Tamil, quarenta e dois em número, inclusive os primeiros dois versículos beneditó-
rios, destinados a trazer satisfação intelectual aos devotos fervorosos e metafisica-
mente inclinados. Foi transcrita para o Sânscrito, versículo por versículo, pelo grande
discípulo bem conhecido letrado e gênio, Vashistha Ganapathi Muni. Como o título da
obra indica, é uma “exposição sobre a percepção, ou realização, da verdade”. Sat
Darshan, palavra esta composta de Sat, que significa principalmente existência e em
segundo lugar, o Real, o verdadeiro; e Darshan significa “percepção”. O termo, como
está aqui aplicado, quer dizer “percepção Direta da Verdade”. Realmente, este tra-
balho se baseia na percepção direta da verdade por Sri Ramana Maharshi e disto a
obra tira o seu título, “verdadeira percepção”. Mas Darshan também significa um
sistema de filosofia, (ponto de vista filosófico n.t.), tal como Nyaya, e outros Darsha-
nas do período pós-Shruti. Mas neste sentido, o trabalho é um Darshan, uma filosofia
do Real. Sendo que estes versículos epigramáticos estão repletos de pensamentos
profundos, trazem à luz uma riqueza de conceitos filosóficos os quais fornecem ma-
terial suficiente para uma base metafísica de uma filosofia que está envolvida numa
exposição intelectual da atitude de Sri Ramana Maharshi relativa à vida e à existên-
cia mundanas. Como nada existe que seja realmente irreal, um fato frequentemente
acentuado por Sri Ramana Maharshi, este sistema filosófico pode ser apropriadamen-
te intitulado Realismo Verdadeiro ou “Realismo Ideal”. É desnecessário dizer que
este Shastra não pretende apoiar, ou refutar os sistemas filosóficos atuais tais como
Saivite e o Vaishvite, o Dwaitha e o Adwaita. Não segue o método de especulação
metafísica pelo qual é caracterizado o Nyaya, e outros sistemas do período Suthra.
Nem tão pouco pretende, como as duas Mimansas de Jaimini e Badarayana, harmoni-
zar ou remover dúvidas e noções errôneas no texto das escrituras ou outras declara-
ções autorizadas das grandes almas. Do mesmo modo que as palavras sagradas do
Veda em Tamil do Santo Nammalvar, ou do Manikya, Vachaka, e dos textos do Upa-
nishads, as palavras de Sri Ramana Maharshi, são um pronunciamento original e inde-
pendente baseado na sua experiência pessoal. Apesar de apoiar e elucidar outras
afirmações autorizadas, oriundas das escrituras, e de outras Grandes Almas, as pala-
vras do Grande Mestre Sri Ramana Maharshi tem um cunho de origem independente e
de validade, uma vez que estas surgiram diretamente d’Ele. N.T. Já que toda esta
obra foi preparada estando ainda vivo Sri Ramana Maharshi, é de supor que foi apro-
vado por Ele pessoalmente antes de ser editada e entregue ao mundo, o que garante
sua autenticidade como valor espiritual inquestionável.
No seu décimo sexto ano de idade, o grande Acharya Shankara, conforme a tradição,
completou o seu inigualável Bhashya sobre os Brahma-sutras e cumprindo o trabalho
do Instrutor Supremo, Guru Karana, estabelecendo a identidade de Athman com
35
10 – Nota
(Comentários sobre a Alma Individual)
O Tema da “Alma Individual” (Jiva Vyakthi), foi até agora tratado de uma maneira
não convencional. Em alguns trechos, o Jiva é mencionado como sendo ego; em ou-
tros, como sendo uma forma da consciência e ação; e ainda em outros, é tomado
como significando individualidade. No comentário referente à segunda metade do
versículo 26, afirma-se que os termos ego (Ahamkara), nó (Granthi), escravidão (Vi-
banda), corpo sutil (Sukshma Sharira), mente (Chetha), o ciclo de vida e morte (Bha-
va ou Samsara), e ser vivente (Jiva), mesmo referindo-se de certo modo a mesma
coisa, não são sinônimos nem intercambiáveis, mas significam funções diferentes de
algo formado entre o espírito e a matéria, entre o Ser e o corpo. Também está esta-
belecido que, com a desnutrição do ego, não ocorre a dissolução da individualidade.
A fim de garantir que os termos acima mencionados sejam compreendidos nos seus
corretos sentidos, nas relações entre si, e não confundir um com o outro, explicações
razoáveis são apresentadas no Bashya, bem como no Bhoomika, a fim de elucidar,
aqui e ali, e ajudar às mentes devotadas na busca da verdade, a encontrar a harmo-
nia entre as diversas conclusões dos diferentes sistemas filosóficos. Objetivando eli-
minar todas as dúvidas propõe-se sejam recapitulados aqui de maneira breve, a es-
sência da argumentação sobre a alma individual (Jiva Vyakthi). No Upadesha Sara de
Sri Maharshi, menciona-se em conjunto a mente e a força vital como um ramo bifur-
cado originário da mesma raiz, a força-consciência, sugerindo que este é o Jiva ou
36
alma vivente, como ego nele formado e como centro de atividade. Esta capa (veícu-
lo) constituída de mente e vida (força vital), é denominada corpo sutil neste Shastra.
Enquanto houver este corpo sutil, existirá individualidade, uma vez que esta última
necessita de um tipo qualquer de forma grosseira ou sutil, para sua manifestação.
Como este corpo sutil é uma formação, e portanto sujeito a espaço e tempo, é disso-
lúvel. A dissolução da individualidade no imanifestado, da mesma forma que sua
emanação “d’ele”, não é determinada por sua própria escolha, mas está na depen-
dência absoluta da vontade do infinito imanifestado (Avyaktha Akhanda). Esse corpo
sutil denominado Upadhi (veículo N.T.) por alguns, é a base da atividade vital e men-
tal mundana do homem escravizado, assim como a alma liberta. Quando este
Sukshama Sharira não está suficientemente desenvolvido, permanece como fator
escravizante, um nó entre a matéria e o espírito, uma prisão do “EU” no corpo. Atra-
vés da força do inconsciente, que é o elemento preponderante nele, o corpo sutil é
parcialmente absorvido, ou submerso na matéria (Jada) dirigido, é claro, por um re-
flexo disforme do Ser aparentando-se como imagem nela formada como “ego” (Ah-
amkara). Num estado avançado, esse ser individual vivente, liberta-se dos liames do
corpo pela preponderância do elemento da força consciente que o libera das cadeias
da matéria. Assim à medida que o corpo sutil evolui, este absorve de um modo mais
acentuado a força consciente que elimina, ou transforma o elemento do inconsciente
(Jada) no corpo sutil, e o ego cede a pressão da força do Ser-conciência. À medida
que o ego (que é apenas o ser aparente), se dissolve, o sentido imediato do “EU”
renasce, por assim dizer no “EU” real que sempre foi representado por aquele ego. O
que realmente acontece neste processo de libertação, é o seguinte: quando através
da evolução do corpo sutil, no qual se encontra firmemente enraizado o ego, com sua
postura de Ser Real, é atormentado por um sentimento que mostra sua própria fra-
queza e falsidade. A consciência totalmente desperta do Purusha, o espírito sediado
no coração, encontra um verdadeiro reflexo no corpo sutil logo desalojando o ego ou
transformando-o no puro “EU” (Suddha Ahambhava). Consequentemente ao nasci-
mento do puro “EU” a alma Real, o corpo sutil sofre uma notável modificação, trans-
formando-se num verdadeiro veículo da alma assim formada. Uma vez libertada dos
liames do corpo físico, este corpo sutil fica sendo uma verdadeira expressão da indi-
vidualidade fiel do Ser Original, e um centro individual para a sua consciência Su-
prema. Por essa razão encontramos as seguintes expressões: - “Então surge outro
“EU”; ego esta não é; perfeito é aquele, o próprio Ser Supremo”. “O Supremo não é
diferente do coração, do Ser no coração”. “Ele brilha após ter devorado o
ego...Qualquer coisa que veja, não a vê separado do seu Ser”. Por conseguinte, a
pessoa liberta em vida dos grilhões físicos não cai num movimento separatista, nem
tão pouco cede ao engodo da diversidade aparente, mas percebe a diversidade na
unidade, e sente a unidade na diversidade. Apesar de estar plenamente consciente
do modo divergente com o qual é encarado pela inteligência dos outros que vivem na
ignorância, sua própria vida individual na terra é guiada pelo Senhor Supremo de to-
dos, pelo “Eu”, controlador de tudo, independente, eterno e sempre imanifestado e
assim é uma resplandecente manifestação do coração, o centro secreto do espírito
no homem. Esta alma liberta seja aqui ou além, e, a despeito de ainda estar de posse
do corpo material, acha-se firmemente sediada no ser infinito.
37
O Bhashya
(VERSÍCULO 1)
COMENTÁRIOS
(A todos os versículos seguem-se comentários N.T.)
Sem algo que exista, pode haver noções de existência? A própria pergunta sugere a
resposta exata: sem a existência não pode haver noções da mesma. Variadas são as
noções aventadas sobre a existência, tendo como base e pressuposição a Existência
Una. Mas a própria existência é o fator comum de todas as variáveis e contraditórias
noções ocasionadas por objetos externos ou pensamentos internos. Estes em si variá-
veis, unem-se ao sugerir que o Uno existe. A fim de que a existência (Satha) não seja
erroneamente tomada como sendo um conceito classificatório, significando uma clas-
se dentro das existências neste mundo de nomes e formas, cheio de vários grupos de
objetos; são utilizadas a palavra “existência no singular, e noções no plural, para
sugerir que este mundo de nome e forma, com os seus inúmeros grupos, e espécies
de objetos sem fim, tem como fonte e apoio algo que é denominado por vários nomes
tais como: O Real, a existência Una, o Ser, o Infinito, o Brahman, aquilo que é verda-
de essencial dos Vedas, e o sujeito da experiência íntima. É justamente por causa
disto “algo presente em todo o lugar, dentro e fora, que tudo o que é visível, seja
este real ou não, ocasiona e sugere a noção do Eu. Este algo que existe e que nós
denominamos Brahman, forma a base de todas as existências e, por conseguinte, está
presente em toda a parte. Embora presente em toda parte, ainda assim o coração
(Hridayam), é enfatizado como sendo sua sede especial. “Livre de pensamentos, ele
está lá no coração, o Ser Interno chamado o coração.” Como é possível o Brahman
estar presente no Coração sendo ele ao mesmo tempo onipresente? Apesar de estar
realmente presente em toda a parte, acha-se luminoso no coração de todo o ser vi-
vente, como o seu próprio ser. E todo o indivíduo está principalmente interessado no
seu próprio “Eu” antes mesmo de começar a pensar sobre a existência fora dele.
Sendo que é direto, natural e fácil realizar esta toda-presença, o Brahman em nosso
ser, através da noção – Eu da qual é a base, se diz que Brahman está presente em
todo o ser com o seu próprio espírito “Eu”. Pelo próprio “Eu” em cada um de nós,
queremos apontar o sujeito da experiência íntima e a consciência “EU SOU”. Aonde
tivermos essa experiência, lá é o lugar denominado – Coração. Por conseguinte, ao
lermos na segunda linha “ele está lá”, o ser interno o sentido está claro que é a exis-
tência Real, ou o Brahman onipresente, expressado na primeira linha do versículo, é
o ser interno em cada um de nós, o nosso ser. Assim como os raios solares dispersos
são focalizados por uma lente num feixe de luz e calor intensos, analogamente po-
demos entender a aparência luminosa do Onipresente Brahman no coração como o
“EU” de cada um, na forma da experiência “Eu Sou”. O termo sânscrito “Hridayam”
indica que é um centro, um lócus da alma. Literalmente quer dizer “O ser está aqui”.
Sendo afirmado haver um centro do ser na existência física, tal centro é necessaria-
38
mir a noção de que, apesar de haver muitos seres individuais distintos, o Ser é real-
mente, um em todos eles, este Ser é proclamado como o “Uno inconcebível”. É o Ser
uno que aparentemente tornou-se os distintos “eus” dos indivíduos que são suas for-
mações. É inconcebível no sentido de que não pode ser pensado em termos que im-
pliquem uma relação tal como a do conhecedor por ser o absoluto, isento de todos os
relativos, os quais resultam de seu próprio poder que lhes dá surgimento. Assim, se o
Ser supremo de todos nós reside em nosso Ser Interior o coração, mas ainda assim
está além e por detrás de todos os nossos pensamentos, como poderemos contemplá-
lo? A quarta linha do versículo fornece a resposta. “Concebê-lo é permanecer nele,
no coração. Permanecer fixado no Coração, o Centro-Ser que não precisa de apoio
externo, nem depende de algum pensamento ou objeto para sua autoconsciência, é a
única forma de contemplá-lo. É óbvio que o termo “concepção”, não pode traduzir o
significado desse estado. A sugestão é que o pensamento conceptual deverá aprofun-
dar-se e reduzir-se a uma percepção direta a fim de se transformar num verdadeiro
molde e reflexo da Real Autoconsciência. Deve-se lembrar que, assim como a exis-
tência objetiva é a base e o apoio de todos os objetos nela incluídos, e no ser subje-
tivo o pensamento Eu é a raiz de todos os pensamentos, assim também a experiência
do “Eu Sou” no ser é a raiz de todas as experiências, embora continue livre do movi-
mento de pensamentos dos quais é a base. Por conseguinte, quando as formas-
pensamento diversas são forjadas numa unidade homogenia, e assume a forma de um
único movimento, o do pensamento-Eu, que é a base persistente de todos os pensa-
mentos, a não-criada autoconsciência, que está sempre lá, dando nascimento e apoio
ao pensamento-Eu no Centro-Coração, culmina numa experiência viva para o próprio
movimento mental. A meditação ou contemplação sobre o Ser, depende, então, de
um fluxo de pensamento incessante e único dirigido a ele, um movimento firme e
constante fortalecido pela convicção de que o Ser está lá como a consciência radical
no coração, como o nosso próprio Ser mais profundo do qual surgem todos os pensa-
mentos, e para o qual voltam. Isto é denominado a “Arte espiritual do Coração” (Hri-
daya Vidya). Por conseguinte, este versículo, após afirmar que o Brahman, a Realida-
de, é o coração de todos, e está no coração de todos, e está no Coração de todos
como o Ser além do alcance dos sentidos e independente da mente e de outros ins-
trumentos, deve ser realizado somente pela experiência direta. O versículo prosse-
gue indicando o caminho da meditação que é de natureza consciente. Essa meditação
consciente representa, em termos graduais, uma união dos diversos pensamentos
com o pensamento-eu, uma união da mente com o Ser, do Ser com o Brahman, o Ser
Supremo. Assim das quatro frases do versículo, a primeira faz uma pergunta sugestiva
a fim de criar interesse na indagação pela verdade, o Real, que está presente em
toda a parte. A segunda fornece a resposta a respeito da busca exterior do Ser. Es-
clarece que a busca mental sobre Ele no mundo exterior, é ao mesmo tempo enfado-
nha e fútil, e que a resposta está no Ser interno denominado Coração, e que a inda-
gação dirigida para o interior é fácil, natural e direta. A terceira linha levanta a
questão: “Se a mente não o pode alcançar, ou abrangê-lo, qual é o caminho para
conhecê-lo?” a quarta linha dá a resposta esclarecendo que os pensamentos diver-
gentes devem ser concentrados num só movimento-pensamento dirigido à ideia do
Ser, através do processo denominado “Hridaya Vidya”, que consiste em treinar e
moldar a mente harmonizando-a com a real natureza do Ser obtendo-se assim a ver-
dadeira sabedoria do Ser. Em relação ao exposto, parece ser oportuno dar a versão
40
VERSÍCULO 2
VERSÍCULO 3
VERSÍCULO 4
43
VERSÍCULO 5
no sentido de alcançar o Ideal, a meta, seja esta a verdade, o Ser, ou Deus. Por isso,
é afirmado que o estado exaltado do Ser, aonde o ego não existe, nem tão pouco o
mundo é visto, acha-se livre de todas as incertezas que, até o fim, afligem a mente
intelectual a qual é treinada, ou habituada, a movimentar-se entre as probabilidades
e possibilidades. Neste versículo, existem três conjuntos de alternativas com a suges-
tão tenuamente velada, de que a verdade do mundo, não é existente, mas não é
inconsciente, mas se consciente, não é tristeza mas deleite. Logo, a verdade final,
existência-consciência-felicidade (Sat-Chit-Ananda), é afirmado como sendo um as-
sunto de experiência pessoal para ser conseguido pelo estado de permanência no Ser
(Nishtha), e nunca por um conhecimento intelectual de argumentação Shastrica. Por
estar implícito que este mundo não é inexistente, nem inconsciente, etc., pode-se
verificar que o dualismo Samkhyam, e o Nihilismo Jaina e budista, não estão de acor-
do com os ensinamentos de Sri Ramana Maharshi. Em conseqüência da ausência de
diferença entre sujeito e objeto (o que vê e o visto) no Ser Infinito no qual o mundo,
a alma e Deus encontram sua unidade, o próximo verso menciona o Ser Infinito sem
forma como o olho único ilimitado.
VERSÍCULO 6
incessantes ondas do oceano sem praias que surgem e são dissolvidas, o Eterno Ser
Infinito, aqui chamado “olho” continua pleno e perfeito e não se perde na transfor-
mação incessante que n’ele se opera, em suas criações no movimento criador da sua
consciência que trás à existência e apóia as destinações de Deus e mundo, individual
e Universal, o observador e observado, o apoiador e o apoiado. Na primeira metade
do versículo, foi afirmado que a forma de Deus e do mundo dependem da alma viden-
te (Jiva) que tem forma. Na segunda metade do versículo, está afirmado em termos
inconfundíveis que, se for compreendido que o Ser não tem forma, então a verdade
poderá ser apreendida que nada existe a não ser o Ser que é Pleno, o Perfeito. Assim
apesar de se afirmar claramente, e como verdade Suprema que o ser não tem forma,
o ser vidente com forma (Jiva), vê o criador e sua criação com forma. O modo atra-
vés do qual o ser toma forma e a ela se apega no presente, mesmo sendo esta im-
permanente, será explicado mais adiante. A exposição feita sobre a forma do viden-
te, ou existência corpórea, levanta a questão sobre a natureza da incorporação pro-
priamente dita. O próximo versículo afirma que quíntupla é a existência corpórea e
que a consciência do mundo das formas, deve-se ao fato de o Ser identificar-se com
qualquer um desses cinco invólucros corpóreos.
VERSÍCULO 7
VERSÍCULO 8
VERSICULO 9
VERSÍCULO 10
VERSÍCULO 11
vários tipos de meditação sobre as verdades sutis são mencionadas como uma ajuda à
mente indagadora.
VERSÍCULO 12
Os dois termos conhecimento e ignorância, são relativos e devemos descobrir sua raiz
em algo que difere destes, através de uma espécie de exame psicológico do Ser. Por
exemplo, quando digo “Eu estou consciente”, ou “Eu sou ignorante”, a busca aqui
sugerida é encontrar quem é que sabe ou quem é que não sabe. A busca quando é
séria, importa numa vigilância atenta que frutifica no discernimento de uma consci-
ência suprema no Ser, que é a fonte de todas as formas de consciência. Isto é o co-
nhecimento verdadeiro pois não é uma concepção mental ou uma convicção intelec-
tual, mas, uma revelação, uma realização, uma experiência, a consciência que é o
conhecimento Supremo (Paramartha Vidya). Desta forma, depois de descrever a bus-
ca da fonte da dualidade conhecimento-ignorância, o Shastra procede explicando o
método mais sutil de se chegar à verdade final através da experiência direta e co-
nhecimento por identidade, pela meditação, e compreensão sobre a verdade que
está por trás do conhecedor, conhecimento e conhecido.
VERSÍCULO 13
tizado por estar este mais próximo da luz consciente e os outros dois serem suas mo-
dificações grosseiras. Parece-nos oportuno mencionar nesta altura, o que Sri Ramana
Maharshi afirmou sobre o assunto da trindade (Triputi), no Ramana Gita (canto XII,
Slokas 4 e 5): “O conhecedor que sabe não ser diferente do Real (Swaroopa) compre-
ende que o conhecido e conhecimento não estão separados dele”. “O conhecedor
que está desligado (na experiência) do Real, vê o conhecido e o conhecimento, como
estando separado dele mesmo”.
O conhecimento do conhecedor, o ser subjetivo, conduz à fonte do Real. É o conhe-
cimento Supremo. É novamente afirmado com ênfase de que a consciência é diferen-
te de ambos conhecimento e ignorância.
VERSÍCULO 14
A insensibilidade ou estado de sono, no qual não existe atividade dos sentidos, não é
conhecimento. É um fato estabelecido que na consciência do Ser, nada é visto como
estando separado, ou fora de si mesmo. Um ignorante poderá interpretar mal tal
estrada como sendo o de esquecimento perfeito, um completo não-reconhecimento
de objetos. A fim de remover a tal noção errônea, é afirmado de que o autoconheci-
mento (Athman-Jnana), não é insensibilidade. Nem tão pouco é a percepção sensorial
dos objetos vistos. Isto é conhecimento de fato, mas não um conhecimento do co-
nhecido como diferenciado do conhecedor. O verdadeiro conhecimento é diferente
de ambos embora seja a consciência que empresta sua luz à dualidade do conheci-
mento e ignorância. Ele é “luminoso”, não inerte, ou indiferente à dualidade
(Dwandwa), apesar de ser diferente da relação conhecimento e ignorância.
O próximo versículo dá analogia do ouro nas formas ornamentais a fim de deixar cla-
ro que a verdade é a consciência e o Uno somente, e que as formas diferente deste
não estão realmente separadas da sua origem, a substância Uno.
VERSÍCULO 15
VERSÍCULO 16
VERSÍCULO 17
ele que aumenta os números e está presente em todos os demais. O verdadeiro cará-
ter do tempo, é um eterno presente; realmente, o passado e futuro são em si o pre-
sente. Este eterno agora, é o Espírito-tempo (Kalathma) que é apenas “aquilo que
surge de Brahman (o real) e é como o cordão numa grinalda, presente nó, e como o
todo indivisível movimento do tempo. Um modo de alcançar o estado de equilíbrio no
Ser, é pela meditação sobre o tempo. Pode-se meditar sobre o tempo estando aten-
tamente vigilante; assim, ficando intimamente consciente do intervalo entre os pen-
samentos do passado e os do futuro e assim se pode compreender que a consciência
que apóia o incessante fluxo-pensamento, é realmente o eterno agora que não é ou-
tro se não o próprio Brahman, a verdade final. Nós sentimos e percebemos que somos
o corpo, e que a nossa existência corpórea está sujeita ao espaço e tempo. Mas se a
pista da nossa existência for seguida até à sua fonte no ser infinito, a realidade final,
além do espaço e tempo, então ficaria claro que estamos além do espaço e do tem-
po, ainda que tendo uma existência espacial e temporal.
VERSÍCULO 18
Espaço e tempo existem com referencia ao ser subjetivo que é um princípio consci-
ente. Quando a força da consciência manifesta a mente, assumindo termos espaciais
e temporais de existência, o ser subjetivo torna-se mental (Manomaya) em seu cará-
ter. É necessário lembrar aqui o que foi exposto logo no início do Shastra, que: “To-
dos são Ele”... o Senhor de Poderes Ilimitados”. O poder de assumir uma existência
múltipla, é inerente ao espírito (Purusha). E a forma múltipla pressupões extensão ou
espaço. Não existe movimento sem tempo, porque tempo é movimento. Por conse-
guinte, a força da consciência, como por exemplo movimento e extensão, tornam-se
tempo e espaço para a compreensão mental. Deve-se sempre levar em conta que
tempo e espaço, são apenas componentes gêmeos da força consciente criadora e são
inalienáveis da consciência-Existência (Sat-Chit) propriamente dita que é a verdade
substancial Brahman. O Ser Brahman e sua força (Shakti), consciência e força, man-
tém uma relação de identidade como a luz e a irradiação. Somente na palavra se
pode separar a substância da sua energia, nunca em fato, nunca na experiência. “Por
conseguinte, quando o ser, cujo caráter e a consciência torna-se mentalizado, fica
sujeito a espaço e tempo numa existência corpórea. Mas a verdade Suprema de nós
mesmos é a realidade última que é a base da manifestação espacial e temporal do
ser mental. Desta forma, é fácil compreender a afirmação que não existe tempo nem
espaço sem mim, o ser mental. Se eu estou incorporado, então se pode falar sobre
“espaço e tempo” que são apenas manifestações da força consciente. Mas “em ne-
nhum lugar “Sou Eu” – “Meu ser raiz não está sujeito a espaço”, “em tempo algum
sou eu”, nem meu eu está sujeito ao tempo. Todavia meu ser final, como Real, tor-
nou-se todo espaço e tempo: “Eu Sou em toda a parte e em todo o tempo”. Sujeito
ao espaço e tempo, o ser consciente é mental; além do espaço e do tempo, ele
transcende a mente. Por conseguinte, a existência, o Espírito (Purusha), é referido
54
VERSÍCULO 19
A ideia de que o Ser é o corpo, é comum tanto ao homem que realizou a verdade
como aquele que ainda não conseguiu realizar-se. No coração do homem realizado,
no centro do Purusha, e a sede do Senhor no homem, o Supremo está efulgente como
o Ser, o “Eu” Supremo “possuindo o corpo e o mundo ao redor e permanece ilimitado
e perfeito”. Mas o ignorante, o homem não desenvolvido, apenas tem o corpo como o
seu SER, pois sente e pensa não estar separado do corpo e que de fato é o corpo. Mas
o sábio, o homem desenvolvido, compreende que ele é um ser distinto do corpo e
embora este também seja o corpo, está sempre efulgente no coração como a inces-
sante consciência-Eu, possuindo o corpo e o mundo em geral. Este ser, o infinito, o
Real e perfeito “Eu”, é sentido pelo Sábio, o homem de realização, como sendo o Seu
próprio corpo. Por conseguinte, a diferença entre o sábio e o ignorante, está na ex-
periência, que é de caráter dinâmico e não numa convicção intelectual, que é apenas
a flor do raciocínio filosófico. Resumindo: para o sábio a Existência Real, que é o
todo, é o seu Ser, incluindo sua própria incorporação (seu corpo). Para o ignorante
apenas seu corpo é o ser. Em virtude da deficiência na capacidade de compreender
do não evoluído, sem conhecimento é defeituoso e imperfeito. Confundir seu conhe-
cimento imperfeito e, neste sentido, falho, com o conhecimento completo, e falso
conhecimento. Em outras palavras, o homem não desenvolvido, tem a experiência do
Ser através do seu próprio corpo, enquanto que o homem desenvolvido e sábio, reali-
za o seu Ser no corpo Universal, no mundo. E o seu Ser não está limitado a sua exis-
tência corpórea particular. A ideia magna deste versículo foi plenamente discutida na
introdução.
A diferença entre o sábio e o ignorante, assim como o elemento comum aos dois, foi
acima discutido, com referencia ao corpo individual. O próximo versículo, trata do
mundo, o corpo Universal: com referencia entre o sábio e o ignorante.
VERSÍCULO 20
O mundo é real tanto para o ignorante como para o sábio; para o não evoluído assim
como para o evoluído; e ambos concordam que o mundo existe. O homem ignorante,
que não está consciente da origem do mundo que observa, toma o mundo como este
aparece aos seus sentidos superficiais, como sendo a verdade final pois, para ele, a
realidade, a verdade total, é aquilo que percebe através da sua mente-sensorial. Mas
o sábio, no qual está desenvolvida a capacidade de apreender o fundamental e por
conseguinte, toda a verdade do mundo visível, percebe a fonte sem forma que origi-
na o mundo das formas como sendo a verdade Una Ilimitada, o mundo Real que é
luminoso e perfeito. O homem Sábio vê o mundo das formas, mas não se detém neste
como o ignorante. Ele vê nele o Brahman sem forma que interpenetra toda a existên-
cia. Logo, seu conhecimento toma a verdade essencial do mundo como sendo o mun-
do Real que inclui, mas não está restrito ao mundo das formas. Por essa razão é o
conhecimento verdadeiro e perfeito. O conhecimento do ignorante é limitado ao visí-
vel, ao superficial e não atinge a verdade essencial por isso, é imperfeito, parcial e
defeituoso. Tal como no versículo anterior também deve-se notar aqui que conheci-
mento parcial, não é falso conhecimento, mas tomá-lo equivocadamente como per-
feito e integral, é ilusão e falsidade (Mithya). Seria fútil arguir num círculo vicioso
sobre o destino (Vidhi) e o esforço humano (Prayathna); mas aqueles que conhecem a
origem de ambos, não serão afetados nem pelo carma nem pelo esforço.
VERSÍCULO 21
O impulso de uma força invisível (Adrishta), funcionando para chegar a certos resul-
tados, o fruto da ação cármica, iniciado em estados ou vidas anteriores (Pararabdha),
é denominado destino (Vidhi e Daiva) e Purushakara é o esforço humano. Esforço e
destino são comumente considerados como causa e efeito. Mas realmente existe uma
primeira causa e um efeito final, que não é nem carma nem esforço, estando além
dos dois. Quem quer que realize a fonte destes dois elementos cármicos, não está
sujeito à sua influência. A teoria do Karma é um enigma para muitos. Tudo aquilo
que é efetuado e sentido por mim agora, é o resultado de ação passada, o trabalho
do destino (Karma). E todo o esforço que faço agora, movido e sustentado por um
sentimento de liberdade, também é uma ação do destino, de uma força invisível que
dá ao impulso ao meu esforço presente. Recapitulando: o destino (Karma), em si é o
efeito do esforço passado e o esforço presente, é o efeito do karma passado. O es-
forço como efeito pode ser seguido até sua causa que é o destino, e uma causa desta
pode ser encontrada mais atrás num esforço precedente. Este modo de analisar o
destino e esforço, como causa e efeito nos conduz a um regressus ad infinitum. Logo,
devemos procurar por algo atrás destes dois, atrás do movimento do destino (Vidhi),
e do esforço humano (Prayathna). E uma vez que seja conhecido esse “algo” esses
dois mudam de cor apresentando um aspecto completamente diferente e esta é a
única solução correta do problema do destino do livre arbítrio. Algo mais pode se
56
afirmar aqui. Nem o destino (Vidhi), nem o esforço humano (Prayatna) são livres ou
independentes. Destino (Vidhi) depende do esforço pois este é sempre considerado
como sendo o resultado de um esforço nosso anterior. E esse nosso esforço depende
do desejo e para efetuar um ato específico. O desejo é coisa natural ao ou co-existe
com o ser-ego (Jiva) que, se apresenta como – ou se considera livre. Mas a liberdade
real do indivíduo (Jiva), está no Ser, o Senhor, que apóia a existência individual. Des-
te modo, ambos esforço e destino, verificamos estarem na dependência do Ser Livre,
o Senhor que dá o impulso à ação, a qual inevitavelmente produzirá seus frutos. Logo
urge encontrar a fonte do destino e livre arbítrio que se acha no Ser, pois só ele é
realmente livre e independente. Será de grande proveito fazer-se referencia aqui à
argumentação sobre o esforço humano e Graça-Divina apresentado no Bhoomika.
Veremos afirmado no versículo a seguir que o conhecimento da natureza é de uma
suprema permanência no Ser.
VERSÍCULO 22
Se um pessoa vê o Senhor sem a percepção do seu próprio ser, que vê coisas diferen-
tes de si mesmo, então esta vidência do Senhor nada mais é que uma visão mental,
uma figura mental que, embora sendo verdadeira no seu próprio estado, é apenas
uma imagem mental do Senhor, e não a mais alta e verdadeira percepção dele. Por-
que a percepção real do Senhor é impossível sem a realização do Ser que vê. Logo, a
autorrealização é uma condição que precede à realização-Deus. A fim de imprimir a
verdade de que a autorrealização consiste na experiência íntima de Deus como sendo
o nosso próprio e profundo Ser, sempre efulgente como a Suprema consciência-Eu no
centro místico denominado Coração, é sugerido seja primeiramente realizado o Ser
vidente antes que possamos perceber o Senhor. E na realização do nosso próprio ser,
a raiz da nossa existência, o Senhor é sentido como sendo a fonte de todas as exis-
tências e nada existe que difira dele ou que não seja Ele pois “Todos são Ele”. Isto é
a verdadeira percepção do Senhor. Mas o ser subjetivo (Vishayi), o ser mental (Ma-
nomaya), pode ter uma visão do Senhor e essa é naturalmente, uma visão mental de
Deus. Mas o Ser atrás do ser mental não percebe o Senhor por intermédio da mente,
mas vê o Senhor por ele próprio sem outros meios além dele mesmo e esta é a per-
cepção direta. Existe uma postura natural e Suprema do Ser que é a fonte da mente,
e lá o Senhor é realizado como sendo o nosso ser profundo, o Ser Real. Eis porque se
faz a afirmação: “Separado do observador, o Supremo não é”. É fato de que a alma
(Jiva) é idêntica ao Supremo Ser (Parama) no sentido de que ambos são da mesma
consciência. Mas este conhecimento por identidade pressupõe, ou envolve, uma
consciência que não é de caráter mental, uma consciência que é a base não somente
do nosso ser, mas igualmente de todo-ser assim como o Deus-Ser. Essa consciência
então, é o estado natural e permanente do Ser, a sublime e inabalável postura que é
alcançada pela mente-ego, ou o ser mental ao retirar-se do exterior e abismar-se na
57
sua origem, no ser mais profundo, no ser aonde a alma individual, e o Senhor Univer-
sal, são um e conhecidos pela identidade. A seguir temos uma descrição da autoper-
cepção (Atmadarshan).
VERSÍCULO 23
VERSÍCULO 24
O Senhor Supremo, o criador, Ele mesmo é consciência; e quando pelo poder n’ele
inerente e inseparável da consciência, várias formas são criadas provenientes da sua
natureza, a luz da consciência lhes dá apoio para sua sustentação. Mas esta consci-
ência, sendo a causa de todas as causas, a mais sutil de todas permanece oculta no
pensamento ou seja, na mente, ao m esmo tempo apoiando a sua atividade. Deste
modo se a mente difusa, com seus pensamentos dispersos, se concentra e se movi-
menta para discernir a luz que o apóia, o que resta é a consciência do Senhor que se
transformou no Ser. Por conseguinte, retirar-se do exterior e concentrar-se no interi-
or é ver o Ser e unir-se ao Senhor é o princípio direto e controlador da mente-
pensamento.
Os próximos três versículos tratam do caráter do ego.
VERSÍCULO 25
É experiência comum, qualquer que seja a nossa filosofia, que o sentido de “Eu”,
representando a identidade pessoal, é distinta do corpo; e por isso ninguém diz “Eu
sou o corpo”. Nem tão pouco alguém nega ter existido durante o sono profundo
quando o mundo da sua vigília havia praticamente se perdido para ele, nem poderia
relatar no seu estado de vigília quem ele foi durante o sono. Deste modo talvez ele
acredite, após ter voltado ao estado de vigília, que era praticamente inexistente.
Mas ele não diz nem afirma que realmente não estava dormindo, pela simples razão
de existir uma ininterrupta autoconsciência nele e que a identidade pessoal era man-
tida. Logo existe um “Eu” que persiste não só durante a vigília como durante o sono
independentemente das mudanças de estado. Quando esse “Eu” surge, o mundo in-
teiro se apresenta à mente. Qual é a fonte desse “Eu”? Averigue a fonte dessa noção
Eu através de um olhar penetrante e constante. Aquele que incessantemente fixe sua
atenção na origem do “Eu” mergulha no Supremo (Mahath- Uma Sahasra). Desse mo-
do, apreendemos que toda existência fenomênica se apresenta à consciência-ego. O
versículo seguinte trata da formação – ego e menciona-o sob diversos nomes.
VERSÍCULO 26
O que é este “Eu” ao qual se apresenta todo o mundo fenomênico? Não pode ser o
corpo que é insensível, nem tão pouco pode ser o Ser não nascido que é a consciência
Perfeita. Aqui temos a afirmativa abalizada de Bhagavan Sri Ramana Maharshi de
que, entre os dois, dentro dos limites do corpo, algo surge. Entre o Ser não nascido
que é a base da noção “eu” em todos os seres, e o corpo visível e insensível (Jada),
surge algo que se chama ser-ego. Este é distinto, de um lado, do Ser não nascido, e
do outro lado, do corpo, e neste sentido é, ao mesmo tempo, difuso e limitado. Des-
te modo, este ser-ego participa das características de ambos: do Ser e do corpo, por
ser formado entre os dois e servir de elo entre eles. Vários são os termos menciona-
dos para descrever suas diversas funções. É o ego (Ahamkara), que é uma formação
efêmera um reflexo do Ser tendo por trás o apoio deste com uma certa fixidez. O Ser
consciente é livre mas está limitado e vinculado ao corpo. A declaração de que o ego
é uma formação entre o Ser e o corpo, e os une por assim dizer é típico do ponto de
vista filosófico de Sri Ramana Maharshi e expressivo da sua experiência pessoal. Este
fato se torna ainda mais claro quando Ele denomina o ego (Ahamkara) de nó psico-
físico que liga o espírito à matéria (Chit-Jada Granthi). É verdade que a ideia de nó
(Granthi) é pelo menos tão antiga quanto os Upanishads mas aqui este conceito rece-
be um tratamento especial com expressivos destaques. Em virtude de ser este víncu-
lo um nó, um laço, entre o espírito e a matéria, denomina-se escravidão (Bahdha),
este se situa entre o corpo causal e o grosseiro, entre o Ser (Karana), e o Sthoola
Deha, que é o corpo sutil (Sukushuma). Está limitado ao corpo e tem funções corpó-
reas e, consequentemente, se chama corpo sutil (Sukshuma Sharira). Dos dois ele-
mentos principais do corpo sutil, força vital (Prana), e substância mental (Manas), a
mente é a mais próxima da luz consciente. Logo como recai sobre este elemento
maior relevância, o corpo sutil é chamado mente. Mas é a força vital no ser vivente
que manifesta a mente na qual o ego se estabelece como sendo o Ser. Com a ênfase
transferida para o Prana, este é chamado de ser vivente (Jiva). É este ser-ego (Jiva),
a alma em formação, por assim dizer, que faz girar a roda do nascimento e morte
(Samsara).
Outras peculiaridades relativas a este tema do ego, foram tratados na introdução
desta obra.
O jogo do ego é descrito no próximo versículo.
VERSÍCULO 27
O ego foi apontado como sendo uma formação sutil, que se move entre a matéria e o
espírito, ligando o Ser ao corpo. Foi caracterizado como um nó psico-físico no corpo
material do indivíduo. Seu verdadeiro caráter é descrito aqui ao se afirmar que, ape-
sar de ser uma formação, não tem forma própria. Como já foi observado, este é uma
imagem do Ser formado na sutil substância-mental e força-vital, aqui denominada
corpo sutil. Este corpo sutil está sempre mudando de forma em forma já que é “nas-
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cido das formas e enraizado nas formas” da mente, a qual nada mais é que um inces-
sante movimento-pensamento, uma criação da força-consciência. O ego é o ser apa-
rente apoiado na sua raiz pela luz do Ser consciente, e é atraído pelos objetos exter-
nos. O ego inclina-se para os objetos externos e se absorve neles por intermédio do
corpo sutil constituído de “mente e vida” com o qual se identifica. De fato, este é
formado e dissolvido na substância sutil propriamente dita. Realmente, este ser-ego
(Ahamkara) é chamado Jiva no versículo seguinte. Mas a dissolução do ego conduz à
destruição do ego e do sentido-ego, mas de modo algum da individualidade. O ego,
mergulhando no abismo do Ser, numa busca intensa e fervorosa a fim de se conhecer,
faz com que um stratum mais profundo da consciência venha a superfície e este é o
“Eu” real, a última referencia de existência, o Supremo significado do Ser-existência,
o qual é remotamente refletido, e temporariamente representado, na superfície pelo
ego, ou ser aparente (Athmabhasa) (C/versículo 32: “então irrompe brilhando outro
“Eu”). A busca pelo ego, e seu total abandono, é a condição indispensável à conquis-
ta espiritual.
VERSÍCULO 28
Muito já foi dito sobre a origem, caráter, postura e jogo do ego, que agora estamos
em condições de apreciar a verdade da afirmação “O ego surgindo, tudo aparece”.
Mas isso não quer dizer que a existência do mundo, seja qual for seu caráter real,
aqui está na dependência do meu ou de qualquer outro ego. Isto apenas quer dizer
que o mundo tal qual se apresenta ao meu sentido-ego, isto é, como sendo uma exis-
tência separada e independente, manifestada qualitativamente, quantitativamente,
cessa de existir na ausência de uma consciência formada como ego que utiliza o
mundo das aparências como uma sugestão do qual tira suas formas qualitativas com
as quais se deleita. Se o ego submergir, ou extinguir-se, o mundo das formas, como
nós o conhecemos, desaparece e, em seu lugar, o mundo da realidade (vide versículo
nº 20) se apresenta à sobrevivente e persistente consciência Suprema do ser, que não
é o ego. Assim buscar o ego e conquistá-lo – abandonando-o é condição indispensável
para a conquista e posse do todo. Isso envolve um controle sobre as aparências que
encobrem a verdade – o Ser real – do ser exterior e superficial (vide versículos nº 55 e
6). A permanência Suprema no Ser (Nishtha) resulta do mergulho do ego implemen-
tada por uma fervorosa busca.
VERSÍCULO 29
Não existe formação do ego no estado da Suprema Realidade do Ser. Esta é uma ver-
dade que sobrevive ao ego mesmo estando sempre por trás do seu aparecimento.
Apesar da verdade estar presente em todos os estados, até mesmo durante a persis-
tência do ego, sua presença não é sentida na existência egóica. Quando o ser-ego
sente um ímpeto a fim de conhecer a sua própria fonte, ou quando sente o estímulo
de um impulso Supremo, inicia um movimento de busca fervorosa da sua origem, e aí
se perde. A perda do ego resulta na realização da união do ser-ego com o Eu-Real, o
Ser profundo, naquele estado de equilíbrio exaltado, denominado NISHTHA (vide ver-
sículo nº 32). Tendo indicado vários métodos de busca o Shastra agora aconselha o
uso de um método diferente, aquele do mergulho interior. Esta é realmente a essên-
cia da disciplina mística do Coração (Hiridaya Vidya) que conduz à sede Central do
Espírito do homem (Purusha).
VERSÍCULO 30
Assim como alguém esquece todos os outros pensamentos, e põe de lado todos os
outros cuidados, e prendendo a respiração e a fala, entra num poço e mergulha fun-
do para recuperar um objeto perdido, da mesma forma tem que esquecer por hora
todas as responsabilidade e cuidados e mergulhar para dentro da mais profunda ver-
dade de si mesmo prendendo a respiração e a mente que de outro modo dissipariam
energia e dividiriam seus interesses. Assim fazendo ele entra num movimento de
mergulho que se aprofunda cada vez mais e, com o olho vigilante e discriminador
evolui para uma consciência Suprema. Os métodos até agora sugeridos, são todos
algum tipo de busca através da mente os quais realmente proporcionam certos resul-
tados uma vez que a intensidade dessa busca determina a medida do sucesso. Mas
neste versículo, o método denominado o “Mergulho”, é sugerido e é a prova real da
persistência na busca. Um esforço persistente e de todo coração envolve a reunião
de todos os interesses dispersos e energias dissipadas num único esforço concentrado
do homem em todos os seus aspectos. Não é uma tentativa parcial pela mente ou por
meio de controle da respiração. No versículo, a retenção da respiração e da palavra,
é sugerida como um meio e uma condição que acompanha o “mergulho”. O ato de
restringir a palavra sugere uma mente preparada para o esforço e que possua a calma
como condição preliminar. O controle da respiração também é mencionada nesse
versículo como sendo ambos: um meio e uma condição necessária. É fácil verificar
que estes acompanham um esforço sério deste tipo. Mas como podem ser entendidos
como meios? A disciplina de regular a respiração tem um valor relacionado ao hálito-
vital, pois este elimina, em certa extensão, as impurezas que são a herança de uma
vida dividida entre seus interesses. Além disso, as disciplinas seguidas no controle da
respiração (Pranayama), proporcionam uma determinada pureza à vida no corpo o
qual auxilia a mente a controlar-se uma vez libertada de certas investidas da vida
sobre ela. Uma mente fraca e impura, é uma escrava da vida que está sempre à pro-
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VERSÍCULO 31
VERSÍCULO 32
real, que vem à superfície seja usando o ser-ego regenerado como instrumento, ou
seja transformando-o num verdadeiro reflexo de modo a fazer-se presente na super-
fície, cujo efeito é uma experiência, um sentimento no Ser-ego de que é um com seu
“Eu” Real e mais profundo e que é esse ser profundo que assumiu a forma do Ser
aparente na existência fenomenal. Por isso, é afirmado neste versículo que não é o
ego, mas sim, o próprio Supremo (Param Eva Vasthu) que irrompe brilhando como o
incessante “Eu” após a queda do ego no interior do todo-Devorador silêncio do ser.
(O brilho incessante do “Eu” Supremo é mencionado como Suddha Ahambhava Spho-
orthi. Vide comentário do versículo nº 1 com referencia ao canto II do Ramana
Githa).
No versículo a seguir afirma-se que a verdadeira natureza da conduta de um ser li-
berto em vida (Jivan Muktha) não é compreensível à mente externa, a qual não pode
libertar-se das regras de conduta convencionais.
VERSÍCULO 33
Um indivíduo liberto dos grilhões do ego em vida (um Jivan Muktha), não apenas ces-
sa de estar na consciência egoística, mas está firmemente enraizado na verdade pro-
funda de si mesmo, assentado na consciência do Real, do Ser. Logo, “que mais resta
para Ele fazer”, do ponto de vista egoísta? A finalidade do ego é realizado no desen-
volvimento da consciência mais profunda do Ser que é livre para dissolver o ego com-
pletamente, ou para retê-lo como um instrumento agora transformado para seus pró-
prios propósitos, utilizando-o de um modo mais afinado com as leis do espírito mais
profundo, conhecido como o Real, o Ser, sempre livre e eterno, o Divino. Deste modo
nos é revelado que o ser liberto (Jivan Muktha) “engole o ego e irrompe resplande-
cente. Não é uma perda completa do ser-ego. É mantido vivo, por assim dizer, para
ser utilizado pela verdade mais profunda, o Ser Real e Divino. Como o ser liberto (o
Muktha) realizou sua identidade com sua própria verdade profunda, diz-se que engo-
liu o ego e irrompeu resplandecente. Ele compreende que o Ser nele é Brahman, o
Divino. Embora veja as diferentes manifestações no Uno infinito, ele não as vê dife-
rentes do Ser Infinito do qual tem profunda consciência através de uma integração
íntima interior. O ego está lá, sentindo a presença, poder e impacto do seu mais pro-
fundo Ser e é levado a agir como que guiado pela luz no seu interior. Assim foi dito:
“Nada existe para ele separado do ser”. Tal condição é realmente inconcebível pela
mente com sua visão voltada para o exterior. A manifestação de poderes superiores,
assim como a modificação que ocorre na incorporação do Jivan-Mukthi, foram menci-
onados no Ramana Guitha (vide introdução). A fraqueza da compreensão dá surgi-
mento a longas discussões, será o tema do próximo versículo.
VERSÍCULO 34
VERSÍCULO 35
O que se chama estado de autorrealização implica que existam estados nos quais o
Ser não é realizado. É num estado de ignorância que uma pessoa diz: “Eu não conhe-
ço a mim mesmo” ou “Eu me conheço”. Essas afirmativas provocam o riso porque o
Ser é sempre conhecedor e nunca a coisa conhecida. Deve-se abandonar a ideia de
que se pode ver o Ser a qualquer momento da mesma forma que sua mente vê os
objetos separados e deferentes dele mesmo. Ver o Ser não se trata de uma percep-
ção mental, mas é um verdadeiro despertar, uma consciência profunda do seu pró-
prio Ser, que é a verdadeira fonte do ego, que jaz na ignorância, separado de sua
raiz. Independente das diferenças de condição, de lugar e tempo, o Ser em cada in-
divíduo, continua sendo o mesmo, isto é, sempre o observador e jamais o objeto vis-
to; e se expressa à consciência-ego na forma de uma identidade pessoal. Por conse-
guinte, a sugestão deste versículo é a de que o ser superficial deve ajudar a si pró-
prio, explicando que a luz nele existente, apesar de fraca, é suficiente para dar iní-
cio à busca e, desse modo, abrir caminho para a maior e mais profunda consciência
que é o Ser-Real. Este é o espírito dos ensinamentos das escrituras:
“Através do Ser, devemos
Exaltar o Ser.”
65
VERSÍCULO 36
Esse ser tão próximo de mim, intimamente relacionado comigo, como minha própria
realidade, é em verdade um fato; entretanto ainda não está dentro da minha expe-
riência atual. Por que? “Eu mesmo”, que é chamado de ego, tendo surgido do Centro,
o Coração, estou envolto em dúvidas quanto à minha verdadeira natureza e do mun-
do que me cerca. Meu esquecimento, ou ignorância da verdade e minha fraqueza não
são minhas criações pois se diz que o Ser é “sempre luminoso”, então o que foi que
ocasionou esta minha condição? Isso “é o jogo de Maya”. É o que é Maya? Este poder
é o causador da ilusão da Shakthi do Senhor de Tudo (Thirodhana Vide introdução)
que lança um véu (Avarana) sobre o Ser subjetivo mantendo-o afastado da luz e tam-
bém emite certo grau de energia da sua própria força criadora, que é dispersada e
difundida, além de transformada em existência objetiva (Vikshepa) na qual a consci-
ência é absorvida. Autorrealização é o Supremo poder (Siddhi), a máxima perfeição.
VERSÍCULO 37
comparados aos sonhos, pois não perduram em todos os estados e condições. Deve-se
ter em mente que a realização espiritual é da mais alta relevância conforme é enfa-
tizado aqui, objetivando corrigir conceitos populares errados a respeito dos poderes
(Siddhis) bem como sobre a ânsia da mente humana por “milagres” que se supõe se-
jam obtidos por vários métodos. Ao mesmo tempo, não devemos esquecer que Bha-
gavan Sri Ramana Maharshi remove outra concepção popular errônea quando afirmou
que o homem realizado (Jnanin) se opõe a todos os Siddhis e os descarta como sendo
incidentais às sendas inferiores (Sadhanas) adotadas pelos Sadhakas que ainda não
estão preparados para o caminho supremo do conhecimento (Jnana). Os Siddhis ver-
dadeiros, ou as mais altas manifestações de poder e luz estão sempre ao alcance do
Jnani, os quais não são conseguidos através de um mero esforço humano. Somente o
Jnani, o Jivan Muktha, é competente para tais desenvolvimentos maravilhosos con-
forme é afirmado em termos claros no Ramana Guita e em outras declarações de
Bagavan Sri Ramana Maharshi (vide introdução). A meditação “Eu sou Ele”, é de al-
guma ajuda enquanto o indivíduo sente que é o corpo.
VERSÍCULO 38
VERSÍCULO 39
VERSÍCULO 40
O homem é certamente afetado por suas ações se estiver possuído pela ideia egoísti-
ca de que é uma entidade independente e separada dos outros seres, do mundo e do
Senhor. Esta ideia do ego é, naturalmente, uma noção errônea pois qualquer que
seja a coisa no homem que efetuar as ações, estas não lhe pertencem na realidade.
Seu corpo e sua vida, são peças do mundo, assim como o é a sua mente. Qualquer
ponto de vista filosófico que adote sobre esses últimos – corpo, vida e mente – não
são “ele mesmo”, ou pelo menos, é algo sempre em movimento que não é esse “Eu”
persistente. E qualquer ação que seja realizada, é efetuada por uma parte em nós da
energia Universal, que no final de contas pertence a algo diferente daquilo que
chamo de “Eu mesmo” agora. Devemos compreender a verdade de que o impulso
verdadeiro para as ações, assim como a energia necessária às mesmas, surge de uma
fonte diferente do ser-ego. Logo, todo aquele que tentar descobrir quem é que está
agindo dentro dele, dando sanção às ações, ou até efetivamente realizando o traba-
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lho alcançará o Coração, o centro do Purusha, o espírito nele. Uma vez realizada a
fonte do ser-ego (Jiva), as ações cessam de prendê-lo, pois percebe que é outra coisa
que efetua as ações. Ações egoísticas são proibidas, pois escravizam o autor. As al-
gemas do Karma triplo, são quebradas para sempre no momento em que o ego para
de ser o autor das ações ao abandonar sua falsa e errônea pretensão de sê-lo. O Kar-
ma triplo é: 1º) os frutos coletivos (Sanchitha) de ações passadas vividas que persis-
tem no presente como tendências (Vasanas); 2º) O efeito sentido no presente de
ações passadas (Prarabdha); 3º) Ação futura cuja semente é semeada no presente
através de desejos ocasionados pela força de todo o passado (Agami). Desse modo o
Karma triplo amarra o ego-ser, que não sabe que o Ser é o verdadeiro fazedor. Daí a
instrução para que o Ser-ego realize o Ser nas profundezas a fim de quebrar os gri-
lhões do Karma. O Ser-Real, que é a ultérrima verdade, está além das relatividades
da escravidão e da liberdade, às quais o Ser-ego está sujeito.
VERSÍCULO 41
VERSÍCULO 42
Três espécies de libertação são relatados pelos sábios. Alguns afirmam, como Badari
que a alma liberta não tem forma, nem corpo de qualquer tipo. Outros, como Jaimini
sustentam que a alma liberta tem um corpo próprio. Mas Badarayana assegura que
ambos os casos são possíveis, isto é que a alma pode ter uma forma própria ou pode
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dispensá-la. Entretanto, Bhagavan Sri Ramana Maharshi, expõe que a verdadeira li-
bertação (Mukthi) não se acha em nenhum desses estados e que consiste na perda do
ego, o qual fica conjecturado sobre os possíveis estados após a libertação. o que é
que isto sugere? Certamente o homem libertado ou agrilhoado, deverá necessaria-
mente estar num destes três estados, a saber, com corpo, sem corpo, ou capacitado
para ambos. Nega-se que estes estados são fatos? Além do mais, o versículo diz que
estes pontos de vista são mantidos pelos sábios, isto é, por homens que tem compe-
tência em outro lugar (vide Ramana Guita): “O Jivan Muktha se torna intangí-
vel...invisível... Ele fica sendo mera consciência movimenta-se livremente ao re-
dor...” Bhagavan ao declarar neste versículo que a verdadeira libertação não é qual-
quer desses estados, ele quer dizer que estes são estados (progressivos) de desenvol-
vimento que sobrevêm a ao liberto (Jivan Muktha) esteja ele vivo na terra ou tendo
partido dela. Estas manifestações espirituais, a capacidade de assumir ou dispensar a
forma deliberadamente, ou então ficar sendo apenas um centro de consciência, Uno
com o Supremo, se refere à condição dinâmica da alma humana, em qualquer corpo
em que se encarnou, seja este físico e vital, ou apenas mental e psíquico ou espiritu-
al ou numa substância ainda mais refinada e divina. Mukthi é então, uma experiência
interior que é a realização do Ser, isto é o estado de realização do Ser, é o mesmo
seja aqui neste mundo ou em outro, numa existência encarnada no plano terreno ou
em outras esferas supra-físicas de existência. Não existem distinções nos tipos de
libertações (Mukthi), que consiste na absorção do ego pelo Real, o Ser, na entrega
total ao Ser divino e supremo. Qualquer desenvolvimento que ocorra em virtude do
implacável Thapas do Ser-Real, não acrescenta nem diminui algo a esta libertação
radical. Devemos lembrar que não se trata do fruto de um esforço especial, mas sim,
um estado normal de consciência Suprema que é por natureza, um poder concentra-
do (vide R.G. e introdução). Podem advir poderosas e sublimes manifestações, ver-
dadeiramente maravilhosas para nossa mente comum, mas estas não afetam a nor-
malidade do Supremo estado de Muktha, Uno na consciência com a verdade ultérri-
ma, o Ser divino denominado no Shastra de Ser Real a fim de realçar sua importância
e relação como o Ser-ego (Jiva). Por conseguinte conjecturas sobre os possíveis esta-
dos da alma humana liberada não é, de modo algum, um meio de libertação, o qual
jaz na perda do próprio ego. Assim este Shastra uma vez mais reitera que o ego, que
se envolver nessas discussões, deverá delas se afastar e mergulhar no Ser profundo.
Somente isso é a libertação verdadeira.
VERSÍCULO 43
No dialeto Tamil, o grande profeta Ramana, transmitiu Sat Darshan, o tratado puro.
Deste poema sublime, Vashista, o sábio, deu sua versão na língua dos Deuses.
VERSÍCULO 44
NOTA DO TRADUTOR:
Kavyakanta Ganapati Muni, o mais ilustre poeta e sábio da língua sânscrita do seu
tempo, era universalmente respeitado pela sua pura e austera vida, seu criticismo
cortante do comportamento mal orientado da época, seus profundos e entretanto,
liberais pontos de vista a respeito de templos religiosos melhores e as classes oprimi-
das, e sua imparcial cruzada contra as más interpretações dos vedas e dos Shastras.
Ele foi amado pela sua simplicidade no modo de viver, seu amável companheirismo e
sua generosidade. Ele não admitia alguém ser superior à sua pessoa ou aparentar ser
superior a quem quer que fosse. Ele favorecia os fracos e oprimidos, circulando li-
vremente nos meios intelectuais do país mas, todavia, livre das ansiedades e preocu-
pações mundanas. Sua fé em Deus era absoluta e seu amor e respeito por Sri Ramana
Maharshi era extraordinário. Os seguintes versos (Slokas) demonstram a profundidade
da sua devoção ao mestre.
QUARENTA VERSÍCULOS
EM LOUVOR DE
SRI RAMANA MAHARSHI
(A alegria inundou o seio da mãe Terra porque)
32. Pois, seccionais os egos dos seres humanos, e os temperais para servi-los co-
mo alimento a Siva.
33. Eu adoro o Grande Mestre, Ramana, que penetra as densas trevas que preva-
lecem no coração humano, não só pelo poder das suas palavras, mas também
em virtude de sua graça concedida pelo seu olhar benévolo.
34. Ó Senhor Ramana, Vós sois tudo o que é beatífico enquanto vossos devotos,
atirados sumariamente no oceano de nascimento e mortes sem fim, e sendo
afogados a intervalos interminavelmente repetidos, lutam em desespero e,
estando completamente exaustos, estendem suas mãos às duas flores de lótus
que flutuam em cima na superfície, vossos sagrados pés, a eles procurando
agarrarem-se. Senhor misericordioso, piedosamente concedei aos vossos refu-
giados um olhar amoroso e salvai-os.
35. Qual será o destino do bebê que não é amamentado pela mãe? Onde está a
escapatória para as ovelhas com as quais se zangou o pastor? Onde está o so-
corro para o coitado (vítima de si mesmo) que enfrenta a ira do Senhor? Como
poderão estes seres de fraca compreensão dominarem o infortúnio se Vós, ó
Mestre, não aliviares os refugiados aos vossos Sagrados Pés dos seus fardos de
erros e dúvidas?
36. A paz perfeita se espalha quando derramais néctar através do vosso límpido,
suave sorriso de lua; a vida jorra da incomparável graça dos vossos firmes e
luminosos olhos; vosso impregnável Nishta irradia de vosso coração irresistível
glória ao redor; ó Ramana, que espécie de silêncio é este? Não tem paralelo
na terra, Meu Senhor.
37. A luz de Uma está em vossos Olhos para afugentar as trevas e a ignorância de
vossos devotos; vosso Rosto brilha como o lótus com a graça e fulgor de
Lakshmi; vossas palavras contem a erudição de Saraswati; preceptor dos mun-
dos, ó Ramana, o Grande, como poderá um mortal cantar a vossa glória?
38. Ó Senhor Ramana, estou agora longe dos vossos Sagrados Pés quando a graça
divina acontece tocar-me; entretanto, minha fé inabalável no destruidor po-
der do espaço de vossa glória, radiante como a luz solar, mantém em calmo
equilíbrio a minha mente nesta hora crucial.
39. Os frutos benéficos acumulados, e somados ao monte vermelho, Arunachala,
por ter abrigado numerosos sábios no passado, agora se tornaram incompará-
veis em virtude do Senhor Sri Ramana Maharshi ter escolhido este Monte, en-
tre muitos outros lugares sagrados, como seu lar.
40. Sri Ramana Maharshi é um ideal oferecido à humanidade em virtude da sua
profundidade de paz; do seu fluxo intrépido de poder; da sua extraordinária
equanimidade; do seu termo amor; da sua brilhante luz ofuscante de um raio,
e da Sua vida beatífica.
Ganapati, o filho de Narasimóa, da linguagem Vasishta, assim louvou seu amado guru
Bhagavan Sri Ramana Maharshi nestes 40 versículos (Slokas).
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