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MANUAL DE APOIO

CURSO: FORMADOR/A:
Formação de Formadores/as para Obtenção de Especialização em Maria João Calisto
Igualdade de Género

CARGA HORÁRIA:
Enquadramento conceptual 6 horas
INTRODUÇÃO
Este manual pretende ser um instrumento de apoio ao MÓDULO I – ENQUADRAMENTO
CONCEPTUAL, da Formação de Formadores/as para obtenção da especialização em Igualdade de

Género.
Pretende-se abordar as seguintes temáticas:
Igualdade, diversidade e cidadania; Sexo e género; Papéis sociais de género, paradigmas e
estereótipos; Linguagem como paradigma das (des) igualdades;. Coeducar para uma cidadania
democrática.
1. Igualdade, diversidade e cidadania
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Artigo 1°: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de
razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Artigo 2°: Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente
Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de
religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou
de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto
político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou
território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania

Artigo 3°: Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 23° :
1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e
satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego.

2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.

3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua
família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os
outros meios de protecção social.

4.Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para
defesa dos seus interesses.
Artigo 26°
1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a
correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e
profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em
plena igualdade, em função do seu mérito.

2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do
Homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade
entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das
actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.

3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA, 1976

PARTE I
Direitos e deveres fundamentais

TÍTULO I
Princípios gerais

Artigo 12.º
Princípio da universalidade

1. Todos os cidadãos gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição.
2. As pessoas colectivas gozam dos direitos e estão sujeitas aos deveres compatíveis com a sua
natureza.

Artigo 13.º
Princípio da igualdade

1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de
qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções
políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.

DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS


CAPÍTULO I
Direitos, liberdades e garantias pessoais

Artigo 24.º
Direito à vida
1. A vida humana é inviolável.
2. Em caso algum haverá pena de morte.

Artigo 25.º
Direito à integridade pessoal
1. A integridade moral e física das pessoas é inviolável.
2. Ninguém pode ser submetido a tortura, nem a tratos ou penas cruéis, degradantes ou desumanos.
Artigo 26.º
Outros direitos pessoais
1. A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade, à
capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade
da vida privada e familiar e à protecção legal contra quaisquer formas de discriminação.
2. A lei estabelecerá garantias efectivas contra a obtenção e utilização abusivas, ou contrárias à
dignidade humana, de informações relativas às pessoas e famílias.
3. A lei garantirá a dignidade pessoal e a identidade genética do ser humano, nomeadamente na
criação, desenvolvimento e utilização das tecnologias e na experimentação científica.
4. A privação da cidadania e as restrições à capacidade civil só podem efectuar-se nos casos e termos
previstos na lei, não podendo ter como fundamento motivos políticos.

2. Sexo e Género

Sexo e género

https://www.youtube.com/watch?v=BLDNoxvBPV0
Algumas definições no dicionário (Priberam, 2018)
sexo | s. m.
se·xo |cs|
(latim sexus, -us)
substantivo masculino
1. Diferença física ou conformação especial que distingue o macho da fêmea (ex.: sexo feminino,
sexo masculino).
2. Conjunto dos indivíduos que têm o mesmo sexo (ex.: vestiário para o sexo feminino).
3. Relação sexual. = COITO, CÓPULA
4. Conjunto dos órgãos sexuais externos.

belo sexo: Designação tradicionalmente atribuída ao conjunto das pessoas do sexo feminino.
sexo forte: Designação tradicionalmente atribuída ao conjunto das pessoas do sexo masculino.
sexo fraco: Designação tradicionalmente atribuída ao conjunto das pessoas do sexo feminino.
sexo frágil: O mesmo que sexo fraco.
sexo oposto: Designação dada ao sexo masculino, em relação ao sexo feminino, e vice-versa.
Ver também dúvida linguística: sexo forte e sexo fraco.

gé·ne·ro
(latim genus, -eris)
substantivo masculino
1. Agrupamento de seres ou objectos que têm entre si características comuns.
2. [Biologia] Grupo, inferior à família, que inclui espécies que entre si têm certas analogias.
3. Classe, modelo.
4. Juízo ou critério pessoal para escolha de algo. = GOSTO, PREFERÊNCIA
5. Feitio, modo, maneira.
6. Modo característico de exprimir ou de fazer algo. = ESTILO
7. Qualidade.
8. Força.
9. Calibre.
10. [Gramática] Propriedade de algumas classes de palavras, nomeadamente substantivos e
adjectivos, que apresentam contrastes de masculino, feminino e por vezes neutro, que podem
corresponder a distinções baseadas nas diferenças de sexo.
11. Conjunto de propriedades atribuídas social e culturalmente em relação ao sexo dos
indivíduos.

3. Papéis sociais de género, paradigmas e estereótipos

Podemos definir o papel social de género como sendo o conjunto de regras que uma sociedade
define, arbitrariamente, para o género masculino ou feminino: forma de vestir, comportamento,
pensamentos, forma de se relacionar, etc. (in SOJO, Diana; SIERRA, Beatriz; LÓPEZ, Irene, Coord. -
Health and Gender: a practice guide for practioners in Co-operation. Madrid: Medicos del Mundo,
2005.

Paradigmas: são os modelos ou padrões a seguir, tomados como absolutos.

Os estereótipos são pressupostos ou rótulos sociais, criados sobre características de grupos para
moldar padrões sociais. Um estereótipo refere-se a um determinado conjunto de características que
são vinculadas a todos os membros de um determinado grupo social. É, portanto, uma generalização e
uma simplificação que relaciona atributos gerais a características colectivas como idade, raça, sexo,
sexualidade, profissão, nacionalidade, região de origem, preferências musicais, comportamentos, etc.
Os estereótipos funcionam também como modelos que pressupõem e impõem padrões sociais
esperados para uma pessoa vinculada a determinada colectividade. São reproduzidos culturalmente e
interferem (grande parte das vezes inconscientemente) nas relações sociais.

Actualmente, os meios de comunicação e informação têm um papel importante de reforçar (ou


desconstruir) os estereótipos.

Importa referir que o papel que papéis sociais de género, paradigmas e estereótipos têm sido
determinantes para que ainda não tenhamos conseguido alcançar uma igualdade de género. Só
através da identificação e descontrução destes poderemos efectivamente viver num mundo mais justo
e equitativo, para todas/os.

4. Linguagem como paradigma das (des) igualdades

É COM PALAVRAS QUE SE PENSA. É COM PALAVRAS QUE SE EXISTE. OU NÃO.


E AS PALAVRAS OCULTAM-NOS, EXCLUEM-NOS, OU TORNAM-NOS VISÍVEIS, E FAZEM-NOS
EXISTIR.

→ ‘o Homem’ - com maiúscula – como ‘sinónimo’ de ‘a Humanidade’. Assim se identificam os homens


com a universalidade dos seres humanos, reconhece-se à parte o valor de todo. Assim se produz a
‘ficção’ de que o masculino é, para além de si próprio, também neutro.
→ A opção pelo género masculino não só provoca a ocultação e a invisibilidade do género feminino,
como desrespeita a identidade das mulheres, que se reconhecem tanto a ser tratadas como homens,
como estes se reconheceriam se fossem tratados como mulheres.
a) A promoção da igualdade entre os homens e as mulheres é uma das tarefas fundamentais do
Estado nos termos do artigo 9º alínea h) da Constituição;
b) O direito à identidade pessoal goza protecção constitucional no âmbito dos Direitos, Liberdades
e Garantias - artigo 26º nº 1 - e o sexo é o primeiro factor da identidade individual;
c) A Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres,
em que Portugal é parte desde 1980, refere no seu artigo 5º alínea a) que “os Estados Parte
tomam todas as medidas apropriadas para modificar os esquemas e modelos de
comportamento sócio-cultural dos homens e das mulheres com vista a alcançar a eliminação
dos preconceitos e das práticas costumeiras, ou de qualquer outro tipo, que se fundem na ideia
de inferioridade ou de superioridade de um ou de outro sexo ou de um papel estereotipado dos
homens e das mulheres;

d) a UNESCO aprovou Resoluções em 1987 e 1989, no sentido da adopção de “uma política


destinada a evitar, na medida do possível, o emprego de termos relativos explicita ou implicitamente a
um dos sexos, salvo se se tratar de medidas positivas em favor das mulheres” e de “continuar a
elaborar directrizes sobre o emprego de um vocabulário que se refira explicitamente à mulher e a
promover o uso dessas directrizes nos Estados Membros”, bem como “a zelar pelo respeito dessas
directrizes em todas as comunicações, publicações e documentos da Organização”;
e) o Conselho da Europa aprovou em 1990 uma Recomendação aos Estados membros no sentido do
emprego de uma linguagem que reflicta o princípio da igualdade entre os homens e as mulheres.
Assim, as práticas linguísticas devem ser congruentes com as práticas sociais, reflectindo-as, dando
delas testemunho e promovendo o seu desenvolvimento.

Utilização de formas duplas: A utilização de formas duplas é geralmente considerada o recurso mais
adequado e eficaz relativamente aos propósitos de visibilidade e simetria. No caso das línguas
românicas, a preferência pelo emprego de formas duplas resulta ainda das dificuldades de recorrer
sistematicamente à neutralização ou abstracção do género gramatical devido à alta incidência de
termos com marcas morfológicas de género e à concordância em género. utilizar: pai e mãe filhas e/ou
filhos enteados e/ou enteadas avó e avô em vez de: pais filhos enteados avós.
No caso de haver adjectivo(s) aplicado(s) a formas duplas, dever-se-á recorrer à regra de concordância
com o substantivo mais próximo, que segundo Celso Cunha e Lindley Cintra (Cunha, 1984: 274) é,
aliás, a mais comum. Sempre que a expressão resulte ambígua, dever-se-á repetir o adjectivo para
cada um dos substantivos. Utilizar: trabalhadores e trabalhadoras estrangeiras ou trabalhadoras e
trabalhadores estrangeiros o pai solteiro ou a mãe solteira em vez de: trabalhadores estrangeiros o pai
ou a mãe solteiros É conveniente também, quando se nomeiam ambos os sexos, alternar a ordem dos
géneros e não antepor sempre o masculino ao feminino.

O emprego de barras: O emprego de barras, como é aliás já prática em diversos serviços públicos,
pode revelar-se um recurso adequado em substituição da forma dupla, no caso de formulários, porque
permite manter a sua estrutura de base com uma relativa economia de espaço. Podem ser utilizadas
para separar apenas as duas formas do artigo no caso de substantivos com a mesma forma nos dois
géneros:o/a doente, o/a requerente, A/O Presidente, Os/As Estudantes, O/A Titular, O/A Contribuinte,
A/O Cliente, o/a chefe de secção, as/os descendentes.
Ou para acrescentar apenas a uma das formas (masculina ou feminina) a desinência nominal de
género da outra forma (feminina ou masculina): a/o cidadã/o, o/a usufrutuário/a, o/a monitor/,a o/a
signatário/a, o/a condutor/a, o/a beneficiário/a, o/a examinador/a, a/o funcionária/o, o/a comprador/a,
o/a aposentado/a, a/o médica/o, o/a descendente portador/a de deficiência.
No caso de um plural facultativo de determinantes ou nomes com barra, deve usar-se o morfema de
plural entre parêntesis. A/O(s) utente(s), O/A(s) titular(es)

NEUTRALIZAÇÃO OU ABSTRACÇÃO DA REFERÊNCIA SEXUAL: Este recurso consiste em


neutralizar ou minimizar a indicação do sexo das pessoas referidas através do emprego de formas
inclusivas ou neutras, usando-se uma mesma forma para designar só homens, só mulheres ou
mulheres e homens. A concretização deste recurso pode fazer-se através da substituição de formas
marcadas quanto ao género por formas como as que a seguir se indicam.
Substituição por genéricos verdadeiros: utilizar A pessoa que requer/ As pessoas interessadas, em vez
de O requerente Os interessados;
Opção por colectivos ou nomes representando instituições/organizações, salvo se houver que designar
a pessoa, enquanto titular do cargo ou função:
utilizar A gerência A direcção As entidades licitadoras O pessoal de limpeza em vez de O gerente O
director Os licitadores As empregadas de limpeza. Sempre que possível, substituir a referência às
pessoas pela função, órgão ou entidade. utilizar À Presidência do Conselho Directivo À Direcção-Geral
Família Silva em vez de Exmo. Sr. Presidente do Conselho Directivo Exmo. Senhor Director-Geral Sr./a
Silva

Opção pela eliminação do artigo, quando possível, no caso de substantivos comuns dos dois géneros:
utilizar Requerente Requisitante Utente em vez de O requerente O requisitante O utente. Sempre que
for sintacticamente impossível eliminar o artigo, sugere-se o recurso às barras para separar as duas
formas do artigo.
Substituição de nomes por pronomes invariáveis: Neste casos, recorre-se à substituição de formas
marcadas quanto ao género por pronomes invariáveis. utilizar Quem requerer deve... Se alguém
requerer deve... em vez de Os requerentes devem...
Exemplificação de outros procedimentos alternativos:

Utilizar em vez de
Filiação filho de
Data de nascimento nascido
Local de nascimento nascido em
ou naturalidade
agradecemos ou obrigado ou obrigado
agradece-se a sua pela colaboração
colaboração vive sozinho
vive só

5. Coeducar para uma cidadania democrática

“Numa sociedade marcada pelos desafios da globalização e da rápida e permanente mutação,


decorrentes dos efeitos das novas tecnologias da informação e da comunicação, os e as jovens são
confrontados/as com a exigência de competências que lhes proporcionem uma permanente
reestruturação dos saberes, ou seja, de um efectivo investimento na aprendizagem ao longo da vida.
Neste processo, assume particular importância a sua formação em valores como a democracia, a
tolerância, o respeito pela diversidade e a luta contra as desigualdades, numa dimensão de educação
para a cidadania, no quadro do pleno respeito pelos Direitos Humanos.
Nesta perspectiva, os sistemas educativos ocupam um lugar central, visto que a educação e a
formação se tornam os principais vectores da criação do sentimento de pertença e do desenvolvimento
pessoal e social de cada indivíduo. Deste modo, no contexto de uma educação e formação que, não só
apetrechem as e os jovens com capacidades que lhes facilitem o esforço de adaptação exigido pelos
grandes desafios que se colocam à actual sociedade, mas também desenvolvam valores essenciais
para a vivência social, a igualdade de oportunidades entre raparigas e rapazes, entre mulheres e
homens, em educação, constitui uma questão fulcral na construção da sociedade democrática.”

MANUAL CITE, 2003


Bibliografia e sites úteis:

Declaração Universal dos Direitos Humanos - DRE

http://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf

Constituição da República Portuguesa - DRE

http://www.parlamento.pt/Legislacao/Paginas/ConstituicaoRepublicaPortuguesa.aspx

https://www.youtube.com/watch?v=BLDNoxvBPV0

Manual de Linguagem Inclusiva_Final (ces.pt)

Guia-Ling-Inclusiva-Adm-Publica_CIG_G-Abranches.pdf

MANUAL CITE, 2003

Estereótipo - Sociologia - InfoEscola

CORRIDA POR $100 FEITA DE PRIVILÉGIO E DESIGUALDADE - YouTube

The Problem is not seeing the Problem - YouTube

Disney Sexism and Gender Roles - YouTube

Gender Equality Explained By Children - YouTube

Desigualdade Salarial - YouTube

Igualdade de Género em Portugal - YouTube

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