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ILHA DOS AMORES

Foi então que Vénus decidiu preparar uma belíssima recompensa para os seus protegidos – uma ilha em
que pudessem recuperar as forças. Foi ter com o seu filho Cupido, como ela deus do Amor, que preparava
uma expedição militar contra os humanos, que amavam mal e que, por isso, queria ver destruídos. É que
ele já se tinha apercebido que os humanos se amavam mais a si mesmos do que aos outros: os cortesãos
e nobres que deviam amar a Deus e ao povo, apenas vendiam adulação no paço, aconselhando mal o
novo rei; amavam os mandos e riquezas, simulando hipocritamente justiça e integridade; faziam leis em
favor do rei, mas não em favor do povo. Por isso, parecia a Cupido que ninguém amava o que devia amar,
mas apenas o que servia os seus interesses egoístas. (…)

Mal avistaram a ilha, logo os portugueses para lá se dirigiram. Ao longe viam-se três formosos outeiros,
muito verdes. Do cume, desciam águas límpidas que corriam entre pedras muito brancas, Na ilha havia
também muito arvoredo, que se refletia nas águas de um lago. Isto era, não apenas belo para os olhos,
como para o olfato, visto que das árvores pendiam frutos que cheiravam muito bem, como laranjas, cidras,
limões, mirtos, cerejas, amoras, pêssegos e romãs. Havia uvas e grandes peras, oferecidas às bicadas
dos pássaros para poderem multiplicar-se. (…)

Foi nesta frescura toda que os navegadores desembarcaram. Na floresta, deixavam-se andar, como que
desprevenidamente, as Ninfas que a mestra experiente, Vénus, aconselhara a fazerem-se desejadas,
antes de se entregarem aos valentes mancebos.

Mal suspeitavam eles que, sem arco nem flecha, caça tão especial e divina lhes estivesse reservada! Mas,
pouco depois de desembarcados, começaram a enxergar cores variadas, que se via bem serem de
tecidos raros e não das flores. E foi uma vez mais Fernão Veloso quem exclamou:

- Senhores, caça estranha, disse, é esta! Se bem me parece, esta floresta é consagrada às deusas. O
melhor é segui-las e vermos se são fantásticas ou verdadeiras!

Mal ele disse isto, começaram todos a perseguir as Ninfas que, manhosas, fingiam fugir, mas que depois
se deixavam apanhar pelos perseguidores. Muitas cenas de sedução então se deram, e, aos poucos,
todas se entregaram aos portugueses. O que se passou na Ilha durante a manhã, famintos beijos,
mimosos choros, afagos suaves, risinhos alegres, e outras cenas amorosas…

“Os Lusíadas” em prosa, adaptação de Amélia Pinto Pais

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