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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

KAREN CECILIO TAKAHARA MARCELINO


nº USP 10328216

AVALIAÇÃO FINAL INDIVIDUAL


Análise do Relatório da Instrução Pública da província de São Paulo de 1852

Atividade individual apresentada à disciplina


como forma de composição de nota. O
seguinte trabalho tem como ponto de apoio o
Relatório da Instrução Pública da província de
São Paulo de 1852 e a bibliografia trabalhada
durante o curso.

EDF0287 - Introdução aos estudos da


educação: enfoque histórico
Ministrante responsável: Prof. Dr. Roni C. D.
de Menezes

São Paulo
2020
O Relatório da Instrução Pública da Província de São Paulo de 1852 é escrito em um
momento que “a estruturação do Estado Nacional brasileiro no século XIX esteve voltada
para a criação de diversas práticas de atuação sobre a população”, bem como ainda fortemente
ligada ao processo de escolarização da sociedade do século XVIII, no sentido de que
apresenta formas particulares “a primeira refere a um novo modo de inserção do Estado no
campo da instrução elementar; e, a segunda, à elaboração de leis como estratégia de
ordenação do social” (FARIA FILHO, 2009, p. 1). Desta forma, alguns mecanismos
articulados podem ser utilizados para entender o processo de escolarização na sociedade
brasileira do século XIX,
tais como: a) legislação escolar e política educacional; b) a constituição de um
aparato técnico e burocrático de inspeção e controle dos serviços de instrução para
recrutar e empregar, criar rede de poder e saber e desenvolver uma economia política
da educação; c) a produção de dados estatísticos para conhecer e produzir
representações sobre o próprio Estado e a sua população, elementos fundamentais
para a governamentalidade moderna (LOPES apud GONDRA, 2008, p. 33)

Diante do tempo-espaço do Relatório da Instrução Pública da Província de São Paulo,


e entendendo que após a Independência com a oficialização na primeira Constituição
brasileira, de 1824, os anos seguintes tiveram no processo de escolarização um dos elemento
central dado também como um elemento civilizador, assim “entre 1824 e 1834, ano da edição
do Ato adicional, houve em 1827 uma lei geral normatizadora das aulas de primeiras letras
para todo o Império, mas, de 1834 em diante, com a descentralização da administração da
instrução elementar, cada província produziu suas regulamentações locais” (VEIGA, 2008, p.
1).
Assim, a partir da Lei nº 34 de 1846 que tenta regulamentar a administração do
ensino agora realizada por cada província, é indicado disciplinas que compõem a instrução
primária para cada gênero, inclusão do ensino de história e geografia, aponta que a decisão de
quantas escolas deve-se ao governo, bem como a coerção e economia das escolas, castigos e
tempo de aula. Em 25 de dezembro do mesmo ano é publicado um regulamento o qual diz:
A 25 de setembro d'esse mesmo anno de 1846, com effeito, o Governo promulgou
um regulamento, a que talvez não se deu a publicidade necessaria, visto que os
Professores não o conhecem, e no qual limitou-se a designar as horas de abertura e
encerramento das escolas, e a declarar que cumpre empregar os alumnos nos
estudos, dividil-os em decurias, punil-os com a ferula quando o castigo moral seja
inellicaz, e fazer examinar antes das ferias os que para isso estiverem habilitados;
sendo a lista dos examinandos preparada pelos Professores, os examinadores
nomeados pelas commissões inspectoras, e os exames de duração pelo menos de
meia hora. Aqui está todo o regimento dado às escolas de primeiras leltras na
Provincia de S. Paulo! (p. 3)

Quanto à instrução secundária, diferentemente, é aquela que se ensinava gramática


latina e francesa, bem como outros cursos tal qual filosofia e pintura; fazendo também uma
crítica nesse sentido a respeito da utilidade prática do conhecimento relacionado ao trabalho.
Enquanto a instrução média é aquela mais extensa, em que a classe média adquire os
conhecimentos mais práticos de utilidade geral, sendo na maioria das vezes paga.
Desta forma, a questão da hierarquização dos saberes a serem ensinados, trata-se
sobretudo da diferença entre a instrução primária e secundária, esta última colocada como
“cidadãos habeis serão convidados a se consagrar á vida do magisterio” (p. 18), isto é,
priorizando uma classe, a elite, uma vez que estas instituições secundárias eram pagas, apesar
de públicas, enquanto outros alunos não conseguiam pagar nem mesmo pelos materiais; sendo
assim a hierarquização feita pela classe, tendo assim um corpo discente específico na
instrução secundária. Quanto ao corpo docente, poderiam ser contratados, interinos ou
definitivos, no entanto essa questão apresenta uma problemática devido ao fato de preparo e
método durante as aulas. Um adendo é que haviam professores de ambos os sexos para alunos
e alunas, havendo muito mais homens do que mulheres. Desta forma, a estrutura para além de
estar ligada a classe, estava ligada também ao gênero
A respeito de modos e métodos de ensino comenta ao decorrer do texto que,
primeiro, mostra que há a punição com o castigo físico caso o castigo moral não seja
eficiente, em seguida demonstrando que há a diferenciação por gênero, tal qual "noções de
ciências físicas e aplicáveis ao uso da vida nas do sexo masculino, e música nas do sexo
feminino” (p. 2), e “lições de prendas domesticas” (p. 9) atribuídas também à mulheres. Para
além de teologia dogmática e moral. A partir das necessidades de cada instituição, os
exercícios deveriam ser substituídos de acordo com o número de alunos.
Assim, o Relatório da Instrução Pública da Província de São Paulo de 1852 pode ser
considerado como uma tentativa de retorno da sociedade para analisar a política
governamental, isto é, entender e compreender as respostas mutáveis da população. Diante
disso, o relatório tenta fazer uma análise pormenorizada da Lei nº 34 de 1846, bem como das
instituições públicas. Um adendo é sobre o fato de mencionar as escolas particulares, porém
não as debate em seu relatório.

Bibliografia

FARIA FILHO, Luciano M. de. Os projetos de Brasis e a questão da instrução no


nascimento do Império. In: VAGO, Tarcísio M. et al (org.). Intelectuais e escola pública no
Brasil. Séculos XIX e XX. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2009, p. 19-46.
GONDRA, José G.; SCHUELER, Alessandra F. M. Formas do Brasil e formas da
educação. Educação, poder e sociedade no império brasileiro. São Paulo: Cortez, 2008, p.
19-39.

VEIGA, Cynthia G. O processo escolarizador da infância em Minas Gerais (1835-1906):


geração, gênero, classe social e etnia. Caxambu, 31a Reunião Anual da ANPEd, 2008.

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