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TEXTOS DE REFERÊNCIA PARA

AS FORMAÇÕES DA TRÍADE EDUCACIONAL

Metodologias
Ativas

Freepik/pikisuperstar

25
Concepção e equipe
pedagógica
Leandro Holanda
Lilian Bacich

Produção e revisão
Ana Luísa D’Maschio

Diagramação
Manuela Ribeiro

Vetores
Freepik

Sumário
O conteúdo desta publicação
conta com a Licença Creative
Commons. Essa licença permite
compartilhamento e remix METODOLOGIAS ATIVAS
(trabalhos derivativos) em NA EDUCAÇÃO  _03
publicações não-comerciais,
desde que seja dada a devida
atribuição à Tríade Educacional. APRENDER E ENSINAR
COM FOCO NA EDUCAÇÃO
Em caso de dúvidas, escreva para
contato@triade.me HÍBRIDA _07

ALGUNS MODELOS
Importante!
DISRUPTIVOS  _15

Os textos presentes neste ebook


foram selecionados e adaptados APRENDIZAGEM BASE ADA EM
a partir de publicações com a PROJETOS: DESAFIOS DA SAL A DE
autoria de Lilian Bacich e Leandro AUL A EM TEMPOS DE BNCC  _20
Holanda em diferentes meios,
todos indicados nas notas de
rodapé de cada item. REFERÊNCIAS _29
TEXTO 01

Metodologias
Ativas na
educação
Metodologias Ativas | Textos de referência para as formações da Tríade Educacional

TEXTO 01

Metodologias
Ativas na educação1
As Metodologias Ativas, ao se apresentarem como estratégias
para potencializar as ações de ensino e aprendizagem por meio do
envolvimento dos estudantes como atores do processo e não ape-
nas como espectadores, têm se configurado como formas de con-
vergência de diferentes modelos de aprendizagem, incluindo, dessa
forma, as tecnologias digitais para promover as ações de ensino e
de aprendizagem, envolvendo um conjunto muito mais rico de estra-
tégias ou dimensões de aprendizagem.

Ao enfatizarmos a
importância da inserção
de Metodologias Ativas
nas instituições de
ensino, reforçamos que a
urgência desse processo
é a reflexão de que
não existe uma forma
única de aprender e que
a aprendizagem é um
processo contínuo em
que todos os envolvidos
no processo devem ser
considerados como
peças ativas!
Freepik

1 Adaptado de: https://lilianbacich.com/2018/07/24/metodologias-ativas/

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A Aprendizagem Baseada em Projetos é um exemplo de Metodologia
Metodologias Ativas | Textos de referência para as formações da Tríade Educacional

Ativa e envolve a resolução de problemas que façam sentido para os


estudantes e, nesse percurso, eles devem lidar com questões interdisci-
plinares, tomar decisões e trabalhar em equipe.

A Sala de Aula Invertida, que é um dos modelos de rotação (BACICH,


TANZI NETO E TREVISANI, 2015) também é uma Metodologia Ativa
em que os espaços de ensino-aprendizagem podem envolver peque-
nos grupos de discussões, atividades escritas e leituras, possibili-
tando ao aluno a busca de novas fontes de conhecimento fora do seu
contexto escolar.

Além da Sala de Aula Invertida, o modelo de rotações envolve as


seguintes propostas: 

X Rotação por Estações, na qual os estudantes realizam


diferentes atividades, em estações, no espaço da sala
de aula.

X Laboratório Rotacional, onde os estudantes usam o espaço


da sala de aula e laboratórios.

X Rotação Individual, onde a rotação pelas atividades ocorre


a partir de um roteiro diferenciado.

Pensamento crítico, criatividade e colaboração são essenciais


nesse processo!

Temos acreditado, na Tríade Educacional, que as estratégias meto-


dológicas a serem utilizadas no planejamento das aulas são recur-
sos importantes ao estimularem a reflexão sobre outras questões
essenciais, como a relevância da utilização das tecnologias digitais
para favorecer o engajamento dos alunos e as possibilidades de
personalização na educação. É certo que as pessoas não aprendem
da mesma forma, no mesmo ritmo e ao mesmo tempo. O ensino
considerado “tradicional” muitas vezes torna todo o grupo homogê-
neo e supõe que o tempo, o ritmo e a forma de aprender são iguais

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para todos. Ao utilizar diferentes estratégias de condução da aula,
Metodologias Ativas | Textos de referência para as formações da Tríade Educacional

aliadas com propostas online, as metas de aprendizagem dos alu-


nos podem ser mais facilmente atingidas e momentos de personali-
zação podem ser identificados.

A utilização de Metodologias Ativas de forma integrada ao currí-


culo requer uma reflexão sobre alguns componentes fundamentais
desse processo:

X o papel do professor e dos estudantes em uma proposta


de condução da atividade didática que se distancia do
modelo considerado tradicional;

X o papel formativo da avaliação e a contribuição das tec-


nologias digitais;

X a organização do espaço, que requer uma nova configura-


ção para o uso colaborativo e integrado das tecnologias
digitais;

X o papel da gestão escolar e a influência da cultura escolar


nesse processo.

O papel desempenhado pelo professor e pelos alunos sofre altera-


ções em relação à proposta de ensino tradicional e as configura-
ções das aulas favorecem momentos de interação, colaboração e
envolvimento com as tecnologias digitais.

Relembre o encontro online com Lilian Bacich e


Leandro Holanda, realizado nas redes sociais da Tríade
Educacional, sobre a definição das Metodologias Ativas
atrelada à reflexão sobre o período remoto.
https://www.youtube.com/watch?v=Mq8bYWWLXH0&t=104s

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TEXTO 02

Aprender e
ensinar com foco na
educação híbrida
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TEXTO 02

Aprender e
ensinar com foco
na educação híbrida1
Freepik/katemangostar

A integração cada vez maior entre sala de aula e ambientes virtuais é


fundamental para abrir a escola para o mundo e trazer o mundo para
dentro da escola. Híbrido significa misturado, mesclado, blended.

1 Lilian Bacich; José Moran – publicado originalmente na Revista Pátio, nº 25, junho, 2015, p. 45-47. Contato
do professor José Moran: moran10@gmail.com

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A educação sempre foi misturada, híbrida, sempre combinou vários
Metodologias Ativas | Textos de referência para as formações da Tríade Educacional

espaços, tempos, atividades, metodologias, públicos. Agora esse


processo, com a mobilidade e a conectividade, é muito mais per-
ceptível, amplo e profundo: trata-se de um ecossistema mais aberto
e criativo. O ensino também é híbrido, porque não se reduz ao que
planejamos institucionalmente, intencionalmente. Aprendemos
por meio de processos organizados, junto com processos abertos,
informais. Aprendemos quando estamos com um professor e apren-
demos sozinhos, com colegas, com desconhecidos. Aprendemos
intencionalmente e aprendemos espontaneamente.

Falar em educação híbrida significa partir do pressuposto de que


não há uma única forma de aprender e, por consequência, não há
uma única forma de ensinar. Existem diferentes maneiras de apren-
der e ensinar. O trabalho colaborativo pode estar aliado ao uso
das tecnologias digitais e propiciar momentos de aprendizagem e
troca que ultrapassam as barreiras da sala de aula. Aprender com
os pares torna-se ainda mais significativo quando há um objetivo
comum a ser alcançado pelo grupo.

Colaboração e uso de tecnologia não são ações antagônicas. As


críticas sobre o isolamento que as tecnologias digitais ocasionam
não podem ser consideradas em uma ação escolar realmente inte-
grada, na qual as tecnologias, como um fim em si mesmas, não se
sobreponham à discussão nem à articulação de ideias que podem
ser proporcionadas em um trabalho colaborativo. Nesse sentido, um
simples jogo ou atividade realizada no formato digital pode servir
como inspiração para uma ação integradora, e não individual. As
estratégias de condução da aula devem ser repensadas.

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De acordo com Horn e Staker (2015), os modelos de Ensino Híbrido
Metodologias Ativas | Textos de referência para as formações da Tríade Educacional

consideram a sala de aula física ou o ensino online e são organiza-


dos como apresentados a seguir.

SALA DE AULA FÍSICA ENSINO ONLINE

ENSINO HÍBRIDO

1. 2. 3. 4.
Modelos de Modelo Modelo Modelo
Rotação Flex À la Carte Virtual
Enriquecido

ROTAÇÃO POR ESTAÇÕES

LABORATÓRIO ROTACIONAL

SALA DE AULA INVERTIDA

ROTAÇÃO INDIVIDUAL

Modelos de Ensino Híbrido (HORN & STAKER, 2015).

Os modelos de rotação apresentados na imagem podem facilitar


a colaboração e a interação entre os pares e essas modalidades
podem ser organizadas em diferentes formatos.

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As formas de organização dos estudantes para os modelos de rota-
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ção são descritas a seguir.

1. Rotação por Estações: os estudantes são organizados em gru-


pos, e cada um desses grupos realiza uma tarefa de acordo com os
objetivos do professor para a aula. Um dos grupos estará envolvido
com propostas online que, de certa forma, independem do acompa-
nhamento direto do professor. É importante notar a valorização de
momentos em que os alunos possam trabalhar colaborativamente e
momentos em que trabalhem individualmente.

Após determinado tempo, previamente combinado com os estu-


dantes, eles trocam de grupo, e esse revezamento continua até que
todos tenham passado por todos os grupos. As atividades plane-
jadas não seguem uma ordem de realização, sendo de certo modo
independentes, embora funcionem de maneira integrada para que,
ao final da aula, todos tenham tido a oportunidade de ter acesso aos
mesmos conteúdos.

2. Laboratório Rotacional: os estudantes usam o espaço da sala


de aula e o laboratório de informática ou outro espaço com tablets
ou computadores, pois o trabalho acontecerá de forma online.
Assim, os alunos que forem direcionados ao laboratório trabalha-
rão nos computadores individualmente, de maneira autônoma, para
cumprir os objetivos fixados pelo professor, que estará, com outra
parte da turma, realizando sua aula da maneira que considerar mais
adequada. A proposta é semelhante ao modelo de Rotação por
Estações, em que os alunos fazem essa rotação em sala de aula;
porém, no Laboratório Rotacional, eles devem dirigir-se aos labora-
tórios, onde trabalharão individualmente nos computadores, sendo
acompanhados por um professor tutor. Esse modelo é sugerido
para potencializar o uso dos computadores em escolas que contam
com laboratórios de informática.

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3. Sala de Aula Invertida: a teoria é estudada em casa, no formato
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online, por meio de leituras e vídeos, enquanto o espaço da sala de


aula é utilizado para discussões, resolução de atividades, entre outras
propostas. No entanto, podemos considerar algumas maneiras de
aprimorar esse modelo, envolvendo a descoberta e a experimentação
como proposta inicial para os estudantes, ou seja, oferecer possibili-
dades de interação com o fenômeno antes do estudo da teoria.

Diversos estudos têm demonstrado que os estudantes constroem sua


visão sobre o mundo ativando conhecimentos prévios e integrando
as novas informações com as estruturas cognitivas já existentes para
que possam, então, pensar criticamente sobre os conteúdos ensina-
dos. Essas pesquisas também indicam que os alunos desenvolvem
habilidades de pensamento crítico e têm uma melhor compreensão
conceitual sobre uma ideia quando exploram um domínio primeiro
e, a partir disso, têm contato com uma forma clássica de instrução,
como uma palestra, um vídeo ou a leitura de um texto.

4. Rotação Individual: cada aluno tem uma lista das propostas que
deve completar durante uma aula. Aspectos como avaliar para per-
sonalizar devem estar muito presentes nessa proposta, visto que a
elaboração de um plano de rotação individual só faz sentido se tiver
como foco o caminho a ser percorrido pelo estudante de acordo
com suas dificuldades ou facilidades, identificadas em alguma ava-
liação inicial ou prévia.

A diferença desse modelo para outros modelos de rotação é que os


estudantes não rotacionam, necessariamente, por todas as modali-
dades ou estações propostas. Sua agenda diária é individual, custo-
mizada conforme as suas necessidades. Em algumas situações, o
tempo de rotação é livre, variando de acordo com as necessidades
dos estudantes. Em outras situações, pode não ocorrer rotação e,
ainda, pode ser necessária a determinação de um tempo para o uso
dos computadores disponíveis. O modo de condução dependerá
das características do aluno e das opções feitas pelo professor para
encaminhar a atividade.

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Outra integração necessária é a de pre-
Metodologias Ativas | Textos de referência para as formações da Tríade Educacional

ver processos de comunicação mais


São muitas questões
planejados, organizados e formais, que impactam a questão
com outros mais abertos, como os que da educação híbrida,
acontecem nas redes sociais, em que que não se reduz a
Metodologias Ativas,
há uma linguagem mais familiar, uma ao mix de presencial e
espontaneidade maior, uma fluência online, de sala de aula
constante de imagens, ideias e vídeos. e outros espaços. Essa
prática mostra que,
Os jogos e as aulas roteirizadas com
de um lado, ensinar e
a linguagem de jogos estão cada vez aprender nunca foi tão
mais presentes no cotidiano escolar. fascinante graças às
A combinação de aprendizagem por inúmeras oportunidades
oferecidas; de outro,
desafios, problemas reais e jogos com
pode ser frustrante
a aula invertida é muito importante devido às dificuldades
para que os alunos aprendam fazendo, em conseguir que
aprendam juntos e aprendam no pró- todos desenvolvam seu
potencial e realmente se
prio ritmo. mobilizem para evoluir
sempre mais.
A educação híbrida precisa ser pen-
sada no âmbito de modelos curricu-
lares que propõem mudanças, privile-
giando a aprendizagem ativa dos alunos — individualmente e em
grupo, escolhendo-se fundamentalmente dois caminhos: um mais
suave, de mudanças progressivas, e outro mais amplo, de mudan-
ças profundas.

No caminho mais suave, elas mantêm o modelo curricular predomi-


nante (disciplinar), mas priorizam o envolvimento maior do aluno,
com Metodologias Ativas, como o Ensino Híbrido, para a realização
de projetos, jogos de cunho mais interdisciplinar e, em especial, a
Aula Invertida para iniciar com a primeira aproximação a um tema
ou atividade no ambiente virtual e realizar o aprofundamento com a
mediação do professor no ambiente presencial.

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As instituições mais inovadoras propõem modelos educacionais
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mais integrados, sem disciplinas. Organizam o projeto pedagógico


a partir de valores, competências amplas, problemas e projetos,
equilibrando a aprendizagem individualizada com a colaborativa;
redesenham os espaços físicos, combinando-os aos virtuais com o
apoio de tecnologias digitais. As atividades podem ser muito mais
diversificadas, com metodologias mais ativas, que combinem o
melhor do percurso individual e grupal. As tecnologias móveis e em
rede permitem não só conectar todos os espaços, mas também ela-
borar políticas diferenciadas de organização de processos de ensi-
no-aprendizagem adaptados a cada situação, ou seja, aos que são
mais proativos e aos mais passivos; aos muito rápidos e aos mais
lentos; aos que precisam de muita tutoria e acompanhamento e aos
que sabem aprender sozinhos.

Conviveremos nos próximos anos com modelos ativos não discipli-


nares e disciplinares com graus diferentes de “misturas”, de flexibi-
lização, de hibridização.

Confira a fala de Lilian Bacich sobre Ensino Híbrido


com sugestões que você pode levar para a sua escola.
https://www.youtube.com/watch?v=HdQ7QTPeHc4

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TEXTO 03

Alguns modelos
disruptivos
Metodologias Ativas | Textos de referência para as formações da Tríade Educacional

TEXTO 03

Alguns modelos
disruptivos1

Freepik/macrovector

Devido à pandemia do novo coronavírus, as aulas presenciais foram


suspensas pelas secretarias estaduais e municipais de Educação,
de modo a atender às determinações de distanciamento social.
A medida, iniciada em março de 2020, fomenta o debate sobre quais
estratégias de aprendizagem terão de ser adotadas quando as ativi-
dades em sala de aula forem retomadas.

1 Adaptado de “Ensino Híbrido: modelos que podem apoiar a reabertura das escolas”, disponível em:
https://lilianbacich.com/2020/05/31/ensino-hibrido-modelos-que-podem-apoiar-a-reabertura-das-escolas/

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Neste texto, refletimos sobre como os modelos disruptivos (aqueles
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que levam em conta que nem todos os alunos estarão na escola)


podem contribuir em um cenário de reabertura parcial das aulas.

Virtual aprimorado: presença


na escola com fins específicos
Nesse modelo, os estudantes realizam os estudos sobre todos os
componentes curriculares no formato online, e frequentam a escola
para sessões presenciais obrigatórias com um professor, uma ou
mais vezes por semana. Nesses encontros com o professor, são
aprofundadas as discussões sobre aspectos que merecem um
aprofundamento, um esclarecimento de dúvidas, ou um acompa-
nhamento para auxiliar nos próximos passos, como uma mentoria
personalizada.

A diferença entre o que foi ofertado pela maioria de nossas esco-


las nesse momento de aulas remotas e a proposta do virtual apri-
morado é a possibilidade de personalização das aprendizagens.
Ou seja, as propostas online por meio de vídeos para explanação
de conceitos, textos para leitura sobre diferentes ângulos de cada
conceito, possibilitam o desdobramento para que os estudantes se
aprofundem nos aspectos que geram, individualmente, maior enga-
jamento. Ampliar os instrumentos de coleta de dados, então, tor-
na-se essencial, principalmente para possibilitar esse acompanha-
mento personalizado.

Em um cenário mais restritivo, esse modelo funcionaria com horá-


rios dos professores dedicados a grupos menores de alunos, que
se reuniriam, respeitadas todas as diretrizes sanitárias, para o com-
partilhamento das aprendizagens essenciais, aquelas que foram
selecionadas como imprescindíveis para serem trabalhadas nesse
ano letivo.

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Em um cenário menos restritivo, esse modelo funcionaria com a
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parcela dos alunos que se encontrariam para a realização de estra-


tégias de compartilhamento em grupos maiores, como debates ou
resolução de problemas que aplicam as aprendizagens estudadas
previamente no formato individual. Vemos, nesse modelo, uma
associação com o modelo de ensino híbrido denominado Sala de
Aula Invertida. Para que esse modelo faça sentido como personali-
zação das aprendizagens, a coleta de dados é essencial e os encon-
tros presenciais estão apoiados nessas informações.

À la Carte: grade curricular híbrida


No modelo À la Carte, de acordo com a definição dos autores (Horn
e Staker, 2015), a aprendizagem de uma disciplina é feita comple-
tamente no modelo online e, ainda segundo os autores, é mais efi-
ciente no Ensino Médio, nas disciplinas eletivas. Esse modelo pode-
ria ser adequado, portanto, aos itinerários formativos.

Em um cenário mais restritivo, especificamente para o Ensino


Médio, as disciplinas eletivas poderiam migrar completamente para
o formato online, possibilitando um acompanhamento tutorado por
parte dos professores, com tutoria ocorrendo no formato online,
em videoconferências. As avaliações também aconteceriam nesse
formato.

Em um cenário menos restritivo, algumas das disciplinas previa-


mente selecionadas migrariam para finalizar o ano no formato
online, acompanhada de perto pelos professores, em videoconfe-
rências para discussão e aprofundamento, mas com a entrega de
conteúdos no formato online. As avaliações poderiam ser realiza-
das por grupo, em encontros presenciais.

Assim…

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Nos diferentes cenários apresentados nesse texto, é importante
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uma reflexão sobre o papel do online nos planejamentos. Mais do


que considerar que as aulas presenciais e as online serão no for-
mato “expositivo”, torna-se relevante estabelecer a função de cada
momento.

O online apresenta excelente espaço para o “expositivo” quando no


formato aulas gravadas, as videoaulas. As aulas gravadas (com a
atenção de não estarem datadas com comentários do tipo: está
frio hoje, por exemplo), podem se transformar em um repositório de
explicações sobre conceitos e ser reaproveitadas na recuperação
das lacunas que, eventualmente, alguns alunos apresentarão.

O momento síncrono (quando no ambiente online) ou o momento


presencial não devem ser espaços para a exposição de conteúdos,
mas para o contato com o humano, com a troca entre pessoas, com
luz para questões tão relevantes como empatia, argumentação, pen-
samento crítico. Receber conteúdos não deveria ser o foco desse
momento, mas a possibilidade de resolver problemas e colocar em
ação os aprendizados que foram construídos em uma exposição
prévia dão mais sentido ao que denominamos como Ensino Híbrido,
que é mais do que a união do presencial com o online, mas é a pos-
sibilidade de personalização de aprendizagens e, tomando Cesar
Coll (2019) como referência:

A personalização da aprendizagem é concebida como um conjunto


de estratégias pedagógicas e didáticas orientadas a promover e
reforçar o sentido das aprendizagens escolares para os estudantes.
[…] O ponto não é se devemos ou não avançar para a personalização,
mas como fazê-lo.

Talvez, seja esse o nosso momento de pensar em como fazê-lo reto-


mando a discussão de que a inovação será cada vez mais metodo-
lógica, e não tecnológica.

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TEXTO 04

Aprendizagem
Baseada em
Projetos: desafios
da sala de aula em
tempos de BNCC
Metodologias Ativas | Textos de referência para as formações da Tríade Educacional

TEXTO 04

Aprendizagem
Baseada em Projetos:
desafios da sala de
aula em tempos
de BNCC1
Freepik

1 Adaptado de artigo publicado por Lilian Bacich e Leandro Holanda, na Revista Educatrix, ano 8, no 14, 2018. 

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Em meio a uma gama de novas metodologias de aprendizagem, nem
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tudo que vemos é tão novo assim… Projetos, por exemplo, são ampla-
mente adotados no ambiente educacional e nos acompanham desde
sempre. É difícil determinar em que momento eles foram inseridos nas
práticas docentes, mas é certo que todo professor já criou ou participou
de algum projeto em sua escola, seja o projeto da mostra literária, ou da
feira de ciências, projeto água, projeto super-heróis. Essas ações surgem
nas instituições de ensino com o objetivo de integrar conteúdos curricu-
lares e relacioná-los a temas que precisam ser discutidos no ambiente
escolar e que, em algumas situações, não fazem parte do currículo da
instituição. Dessa maneira, passam a fazer parte na forma de projetos.

Com o aumento do uso de tecnologias digitais e do acesso à infor-


mação, aumentou-se também a necessidade por uma educação
mais contextualizada, onde o aluno desenvolva, além dos conteú-
dos,  habilidades socioemocionais  como a criticidade, criatividade,
colaboração e comunicação. Nesse caso, os projetos podem nos
ajudar a desenvolver essas habilidades de forma intencional e siste-
matizada, além de tornar o ensino mais estimulante e criar estudan-
tes que tenham verdadeira paixão por aprender.

Porém, uma das partes mais difíceis é definir o que de fato é um pro-
jeto, e podemos adiantar que não existe uma fórmula ou definição
única. O que se observa na literatura especializada é a diferenciação
entre projetos temáticos, como citados no primeiro parágrafo, e a
Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP).

A ABP é uma Metodologia Ativa que utiliza projetos como o foco


central de ensino, integrando, na maioria das vezes, duas ou mais
disciplinas. Os projetos podem surgir de um problema ou de uma
questão norteadora, proveniente de um contexto autêntico, envol-
vendo a investigação, o levantamento de hipóteses, o trabalho em
grupo e outras competências até chegar a uma solução ou a um pro-
duto final. Nesse contexto, os estudantes devem lidar com questões
interdisciplinares, tomar decisões e trabalhar em equipe.

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A ideia de utilizar projetos como recurso pedagógico na construção
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de conhecimentos é datada no final do século XIX, a partir de ideias


enunciadas por John Dewey, em 1897 (BARBOSA e MOURA, 2013).
Hernández (1998), quase um século depois, apresenta uma organi-
zação do currículo por projetos de trabalho como uma alternativa à
fragmentação do currículo escolar em disciplinas estanques que,
apesar de apresentarem relação umas com as outras, eram traba-
lhadas isoladamente. Nessa proposta, Hernández valoriza a investi-
gação e a integração entre as disciplinas ao redor de temas comuns,
assim como Dewey enunciava em 1897.

Segundo o Buck Institute for Education (2008), que tem dissemi-


nado a concepção atual, a Aprendizagem Baseada em Projetos tem
como objetivos principais o trabalho com conteúdos relevantes, ofe-
recendo oportunidade para o estudante investigar esses conteúdos
por meio de questionamentos abertos e apresentando a um público
o resultado de seu trabalho. Além disso, enfatiza-se o desenvolvi-
mento de habilidades para o século XXI, criando a necessidade de
saber, dando oportunidade de voz e escolha e incluindo processos
de revisão e reflexão.

O planejamento de um projeto dentro nos parâmetros da ABP é algo


que pode dar um certo trabalho, porém, uma vez implementado, o
processo se tornará mais fácil para demais projetos. Quando o pro-
fessor compreende o significado dessa estruturação, passa a  valo-
rizar   práticas mais elaboradas e que levem ao engajamento dos
alunos na resolução de problemas reais e de importância social.

Relação entre Aprendizagem


Baseada em Projetos e BNCC
Uma vez que os benefícios da ABP forem compreendidos, o próximo
passo é pensar em como ele pode ser implementado em sala de
aula e de que maneira pode estar atrelado, atualmente, às propostas

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da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Um projeto pode ter
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curta ou longa duração, pode ser de apenas uma disciplina ou ainda


interdisciplinar e pode estar asso-
ciado a um currículo já existente,
ou dar origem a um novo currículo Tanto a High Tech High
baseado em projetos, como o que quanto o Projeto Âncora
ocorre em diversas escolas como ganharam episódios especiais
no Canal Futura. Confira!
High Tech High, nos Estados
Unidos, ou como o Projeto Âncora, High Tech High:
aqui no Brasil.
https://www.youtube.com/
watch?time_
Hoje, a maioria das escolas segue
continue=6&v=
um modelo mais tradicional, rP6jVBKM1jA&
com disciplinas definidas e mui- feature=emb_title
tas vezes sendo desenvolvidas
de forma isolada. Neste caso, os Projeto Âncora:
projetos podem ser uma exce- https://www.
lente oportunidade de desenvolver youtube.com/
watch?v=
conhecimentos específicos apli-
kE6MlnwML8Y
cados em desafios estruturados,
onde os alunos podem aprender
vários temas para a resolução ou
criação de algo em comum. Em um projeto sobre alimentação saudá-
vel, os alunos podem desenvolver pesquisas sobre a composição dos
alimentos, relacionados às habilidades de ciências naturais, e podem
também realizar levantamento de gráficos sobre o comportamento
alimentar de um grupo, por meio de entrevistas, e assim, desenvolver
habilidades de matemática. Porém, nos projetos, algo que se torna
mais evidente, e que passa a ser explicitado no currículo, é o planeja-
mento de propostas que envolvem colaboração, criatividade, pensa-
mento crítico, comunicação. Aspectos que nem sempre são levados
em consideração em um desenho curricular.

Ao realizar uma análise da BNCC, apesar da fragmentação discipli-


nar ainda existente, é possível identificar que, nas diferentes áreas

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do conhecimento, a cada ano, há uma possibilidade de estabele-
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cer conexões entre habilidades. Essas conexões, em um primeiro


momento, auxiliam os educadores na identificação de etapas que
podem fazer parte de um projeto. Essa é uma sugestão para um pri-
meiro contato com a proposta, pois, como encontramos na literatura
especializada, os projetos devem ser, dentro do possível, autorais,
surgindo da necessidade e da curiosidade dos estudantes sobre uma
determinada temática. Em uma abordagem sustentada, porém, e em
tempos de BNCC e sua implementação, ter esse olhar mais focado no
que é importante ser desenvolvido e no que pode ser estimulado em
sala de aula, é um primeiro passo para a adoção da ABP.

A seguir, vamos tratar de alguns pontos que merecem atenção


nessa abordagem.

QUANTO TEMPO DURA UM PROJETO?

O tempo de duração é algo que pode variar de acordo com cada


projeto. Alunos mais novos tendem a responder melhor em proje-
tos mais curtos, enquanto  alunos de séries finais do ensino funda-
mental e do ensino médio tendem a desenvolver projetos de médio
prazo com maior facilidade. Projetos muito longos podem ser pre-
judiciais, pois os alunos perdem o interesse pelo tema, ou acabam
não integrando o conhecimento de etapas muito distantes. É impor-
tante determinar o tempo de duração bem como o tempo semanal
que os alunos utilizarão para se dedicar ao projeto, tanto durante as
aulas como na forma de tarefa.

COMO ENGAJAR OS ESTUDANTES E A COMUNIDADE ESCOLAR?

Na implementação dos projetos, engajar o aluno é fundamental para


que eles se envolvam nas etapas de produção e para que, conse-
quentemente, a metodologia se desenvolva centrada no estudante.

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É essencial na Aprendizagem Baseada em Projetos a existência de
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uma questão norteadora para os alunos. Esta questão deve ser bem
elaborada e construída coletivamente para seja respondida apenas
ao final do projeto, concretizando-se no produto que se deseja obter
deste processo. Essa pergunta deve ser ampla o bastante para per-
mitir que os alunos busquem diferentes caminhos e realizem esco-
lhas durante as etapas, colaborem e desenvolvam a criticidade.

O QUE É O PRODUTO FINAL DE UM PROJETO?

O produto final é outra característica recorrente nos projetos, e que


deve estar vinculado a uma boa questão norteadora. O produto final é
o alicerce que guiará o planejamento das etapas, por isso, ao pensar
em projeto, é importante começar por este ponto. Utilizando a ques-
tão norteadora sobre o projeto de alimentos, percebemos que ela dá
possibilidade a vários produtos finais, como uma cartilha, um site, ou
mesmo um vídeo para ser divulgado no site da escola. Esta proposta
pode ser aberta, e estimular a criatividade dos alunos, mas pode ser
delimitada com algumas condições, como a delimitação de que o
produto final deve ser um vídeo curto que responda à pergunta e traga
elementos que foram estudados no desenvolvimento das etapas.

COMO AVALIAR NESSA ABORDAGEM?

Ainda no campo do planejamento, é importante pensar nas formas


de avaliação e  o uso de rubricas é uma estratégia utilizada na ava-
liação dos projetos. As rubricas podem ser definidas como um con-
junto de parâmetros para avaliar o produto final, o  engajamento e a
participação dos alunos ao longo do projeto. Cada projeto necessita
de uma rubrica que deverá ser construída de acordo com aquilo que
se quer avaliar, referente aos conteúdos específicos das disciplinas
ou a comportamentos que se espera que os alunos desenvolvam no
projeto. Uma forma interessante de envolver os alunos é promover

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oportunidades para que eles também possam criar as rubricas de
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forma colaborativa e auxiliar na avaliação dos seus pares. Cadernos


de bordo e portfólios podem ser estratégias interessantes para aju-
dar os estudantes na compilação dos dados que relatam o rumo tra-
çado durante o projeto, principalmente quando o produto final pode
ser autoral, dependendo das etapas percorridas por cada grupo, o
registro do processo será fundamental para compor a avaliação
qualitativa.

A avaliação deve ser, sempre que possível, formativa, e um espaço


onde os pares, ou mesmo o professor, possam realizar um feedback
efetivo para o desenvolvimento das etapas ao longo do projeto.
Hattie e Timperley (2007) mencionam quatro tipos de feedback:

X em primeiro lugar, aquele que afirma se o trabalho rea-


lizado está certo ou errado e o que deve ser feito para
melhorá-lo (feedback sobre a tarefa);

X o segundo tipo está relacionado ao processo de realiza-


ção da tarefa e a orientação está relacionada ao que deve
ser feito para o processo ser mais eficiente (feedback
sobre o processo);

X o terceiro tipo tem função de autorregulação, questio-


nando o estudante sobre sua ação e fazendo com que
reflita sobre ela, como ocorre em uma autoavaliação
(feedback sobre a autorregulação);

X o quarto tipo de feedback é aquele que valoriza o sujeito,


encorajando-o a dar continuidade ao seu trabalho
(feedback pessoal).

Segundo Hattie (2017), para oferecer bons feedbacks é essencial que


o professor tenha clareza do ponto que em o aluno se encontrava, no
início de um processo, onde ele se encontra agora e onde ele deve che-
gar. Além disso, lidar com o erro, valorizando o esforço e colaborando

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na oferta de recursos que atuem como trampolins para que os estu-
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dantes alcancem o que se espera, ou até além do que se espera, é um


grande desafio da avaliação. Esta característica faz parte dos novos
papéis que são assumidos por docentes ao trabalhar com projetos,
que englobam a mediação e design de atividades inovadoras.

COMO TORNAR O PROJETO UM EXERCÍCIO DE CRIATIVIDADE?

Para etapas criativas, conhecer Metodologias Ativas pode ser um


grande diferencial. Metodologias como a Sala de Aula Invertida e a
instrução por pares podem ajudar o professor a criar etapas enga-
jadoras e oferecer o espaço para o papel inovador e autoral dos
estudantes.

Os projetos são ainda espaços para desenvolver múltiplas inteli-


gências, cooperação e trabalho em grupo. É pouco provável que os
estudantes consigam passar todos pelos mesmos aprendizados e
realizarem as mesmas tarefas. A montagem dos grupos deve ser
intencional, reunindo alunos com habilidades diferentes para que
eles possam colaboração no desenvolvimento das atividades. Ao
propor grupos produtivos, estabeleça os papéis dos alunos, como
registro, organização, trabalhos manuais, desenho, trabalho com
dados, entre outros. Estes papéis não precisam ser os mesmos em
todas as etapas, eles podem e com isso, desenvolverem diferentes
habilidades no mesmo projeto.

Que tal ouvir os autores desse texto contando um pouco


mais sobre Aprendizagem Baseada em Projetos?
https://open.spotify.com/episode/
746XVDvTfjm5a0rITFlYug?si=Rm1hzQwSScWcZybBUk_OvA

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+

Referências
BACICH, Lilian; NETO, Adolfo Tanzi; DE MELLO TREVISANI, Fernando. Ensino
Metodologias Ativas | Textos de referência para as formações da Tríade Educacional

híbrido: personalização e tecnologia na educação. Penso Editora, 2015.

BACICH, Lilian; MORAN, José. Metodologias ativas para uma educação ino-
vadora. Porto Alegre: Penso, 2018.

BACICH, Lilian; HOLANDA, Leandro. STEAM em Sala de Aula: A Aprendizagem


Baseada em Projetos Integrando Conhecimentos na Educação Básica.
Penso Editora, 2020.

BARBOSA, Eduardo Fernandes; MOURA, Dácio Guimarães de. Metodologias


ativas de aprendizagem na educação profissional e tecnológica. Boletim
Técnico do Senac, v. 39, n. 2, p. 48-67, 2013.

BENDER, Willian N. Aprendizagem Baseada em Projetos: educação diferen-


ciada para o século XXI. Penso Editora, 2015.

BUCK INSTITUTE FOR EDUCATION. Aprendizagem Baseada em Projetos:


Guia para Professores de Ensino Fundamental e Médio. Editora Grupo A,
2008.

CHRISTENSEN, Clayton M. Inovação na Sala de Aula: Como a Inovação


Disruptiva Muda a Forma de Aprender. Bookman, 2012.

COLL, César. La personalización del aprendizaje. COLECCIONES: Revista


Dosier, 2018.

HATTIE, John. Aprendizagem visível para professores: como maximizar o


impacto da aprendizagem. Penso Editora, 2017.

HATTIE, John & TIMPERLEY, Helen. (2007). The power of feedback. Review


of Educational Research - March, 77(1): 81-112.

HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na escola: os projetos de


trabalho. Artmed, 1998.

HORN, Michael B. e STAKER, Heather. Blended: usando a inovação disrup-


tiva para aprimorar a educação. Penso Editora, 2015.

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