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Hino da Restauração (1640)

Portugueses celebremos
O dia da Redenção
Em que valentes guerreiros
Nos deram livre a Nação.

A Fé dos Campos de Ourique


Coragem deu e valor
Aos famosos de Quarenta
Que lutaram com ardor.

P'rá frente! P'rá frente!


Repetir saberemos
As proezas portuguesas.

Ávante! Ávante!
É voz que soará triunfal
Vá ávante mocidade de Portugal!
Vá ávante mocidade de Portugal!

Heróis do mar, nobre povo,


Nação valente, imortal, 
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal! 
Entre as brumas da memória, 
Ó Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós, 
Que há-de guiar-te à vitória! 

Às armas, às armas! 
Sobre a terra, sobre o mar, 
Às armas, às armas! 
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar! 

Música: Alfredo Keil
Letra: Henrique Lopes de Mendonça
Este artigo não seria escrito se não tivesse havido 1º de Dezembro. Ou seria
escrito em Castelhano. Não seria escrito neste jornal, que não existiria. Não
haveria Língua Portuguesa como a conhecemos hoje – teríamos sido
sujeitos a longa aculturação espanhola, somando mais 370 anos de
usurpação aos 60 de domínio dos Filipes.

Não haveria a querela do Acordo Ortográfico, porque não haveria o


Português, nem o problema da regulação do uso universal da nossa língua.
Estaríamos hoje com os galegos, esbracejando pela cidadania linguística.
Não haveria Rui Reininho e a sua 'Pronúncia do Norte', nem Pedro
Abrunhosa e o seu 'Momento' ou Jorge Palma e 'Encosta-te a Mim', o 'Ó
Gente da Minha Terra' de Mariza, o 'Fado Tropical' de Chico Buarque.
Fernando Pessoa não seria o que é, nem a Mensagem. Camões e 'Os
Lusíadas' seriam talvez desconhecidos, literatura esquecida ou clandestina.
Veríamos filmes dobrados – em Castelhano. O Fado não seria Património
Imaterial da Humanidade. Não existiria sequer o fado, antes outra coisa
qualquer de sonoridade espanhola.

Já não teríamos declarado o sobreiro árvore nacional. Não seríamos o


maior produtor mundial de cortiça – seria Espanha. O nosso porco preto
alentejano seria porco ibérico para toda a vida, sem apelo nem agravo.
Teríamos centrais nucleares na bacia do Tejo e talvez na do Douro, não só
do lado de lá, mas do lado de cá. Não haveria lado de cá e de lá. A política
espanhola de transvases afetando os nossos rios estaria aí em pleno.

Não haveria D. João IV, nem D. João V e o seu Convento de Mafra, nem
D. João VI e a originalidade fundadora da corte no Brasil. Não haveria o
próprio Brasil – em lugar dessa criação do génio e do acaso português,
teriam surgido outras coisas, fruto de colonizações retalhadas de
holandeses, franceses, espanhóis e ex-portugueses falando espanhol. Não
haveria o samba e a bossa nova. Não haveria Angola, nem Moçambique. O
espaço de Moçambique estaria repartido por países anglófonos e no de
Angola seria outro retalho qualquer de colonizações holandesa, alemã,
francófona, talvez espanhola. São Tomé e Príncipe estaria na Guiné
Equatorial, como Fernando Pó e Ano Bom. A Guiné-Bissau moraria na
francofonia, Cabo Verde provavelmente também. Não haveria a morna,
nem a coladeira, talvez o zouk de Guadalupe e Martinica. Timor seria
holandês e, portanto, indonésio. Macau teria acabado, pouco depois de ser.
Não teria havido a guerra do Ultramar, porque não teria havido Ultramar.
Não existiria a CPLP. Nem haveria sequer o Fórum Ibero-Americano, antes
qualquer coisa hispano-americana. Não haveria o navio-escola 'Sagres'. O
nosso mar português não seria.
Não teríamos o Eusébio. Não teríamos festejado o louco terceiro lugar do
Mundial de Inglaterra 1966, mas alguns teriam celebrado a Espanha
campeã do Mundo na África do Sul 2010. O Benfica e o FC Porto
provavelmente nunca teriam sido campeões europeus. A Académica nunca
teria ganho a Taça de Portugal – não haveria Taça de Portugal. Com sorte,
Benfica, Porto, Sporting, outro, poderiam ter ganho a Copa Generalíssimo
ou a Taça do Rei.

Não haveria Cardeal Patriarca de Lisboa, título do século XVIII. Não


haveria um só cardeal português no Consistório de Roma. Não existiria a
Conferência Episcopal – os nossos bispos estariam na conferência
espanhola.

Teria havido o terramoto de 1755, mas não o Marquês de Pombal, nem a


baixa pombalina. As invasões francesas teriam sido uma passeata com
cicerone espanhol. Não haveria a questão de Olivença – seríamos todos nós
Olivença. Teríamos tido na mesma as lutas liberais, mas não entre D. Pedro
e D. Miguel, antes envolvidos nas longas guerras do carlismo. Não
teríamos tido nem Afonso Costa, nem Salazar, antes dois breves episódios
republicanos, um fugaz no século XIX, outro nos anos 30 seguido da
guerra. Teríamos tido a Guerra Civil, seguida do Generalíssimo e da
restauração monárquica com rei espanhol. Teríamos sofrido o terrorismo da
ETA. Não haveria Cavaco Silva, presidente; nem, antes, Jorge Sampaio,
Mário Soares, ou Ramalho Eanes. Seria D. Juan Carlos. Não teríamos
Passos Coelho, nem Paulo Portas, antes Mariano Rajoy e Garcia-Margallo.
Não teríamos Ministério dos Negócios Estrangeiros – seríamos somente um
negócio de estrangeiros. Não teríamos Assembleia da República, apenas as
Cortes Generales.

Aqui chegados, eu compreendo perfeitamente que as Cortes de Madrid


chumbassem o nosso feriado do 1º de Dezembro, primeiro o Congresso dos
Deputados, logo a seguir o Senado. Mas a Assembleia da República fazer
isso? Não pode ser.

José Ribeiro e Castro


Deputado e ex-líder do CDS-PP
Cristiano Ronaldo

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