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Comunicações

CAPÍTULO IV

COMUNICAÇÕES

Por razões de segurança, as transmissões por fonia devem ser


feitas da forma mais breve e concisa possível, sem prejuízo de sua
clareza.

GENERALIDADES

As comunicações são reconhecidas como sendo “a voz do


Comando”. O modo como são empregados os circuitos de
comunicação traduz o grau de profissionalismo de um navio. De fato,
sem comunicações de boa qualidade, todos os navios e suas estações
estarão isolados. Como função básica de comando e controle, as
comunicações a bordo estão centralizadas em áreas vitais do navio,
que incluem o passadiço, o CIC/COC, o CCM e os Reparos de CAV.
Os sistemas de comunicações abrangem um amplo espectro, desde
tubos acústicos e cigarras até os mais modernos e sofisticados
satélites, possuindo funções e características peculiares. Assim, para
desenvolver e exercitar adequadamente a autoridade de comando, o
Oficial de Quarto deve estar familiarizado com todos esses sistemas,
e saber operá-los com destreza.

COMUNICAÇÕES INTERIORES

As comunicações interiores dizem respeito ao navio em si, ou


seja, à transmissão de ordens e de informações à sua tripulação.
Existe uma enorme gama de sistemas complexos, manuseados e
operados somente por especialistas, também responsáveis por sua
manutenção. No meio desse universo, poucos são os circuitos e tipos
de equipamentos diretamente relacionados aos deveres do Oficial de
Quarto, mas isto não o isenta de os conhecer, com detalhes,

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especialmente aqueles instalados no passadiço, na máquina do leme e qualquer momento. A prática de interceptar ou codificar sinais de
no CIC/COC. memória pode resultar em arriscados enganos.
É mais relevante para o Oficial de Quarto reconhecer o navio
Nomenclatura dos Circuitos Auto-Excitados: sobre o qual ele é visualmente responsável. A diferença entre flâmula
Os circuitos auto-excitados, de acordo com a sua função e a meia adriça e atopetada é de suma importância. Quando atracado, o
classificação, são denominados por números e letras pronunciadas Oficial de Quarto deve atentar para os sinais arvorados nas adriças
conforme o alfabeto fonético naval, obedecendo ao seguinte método dos navios fundeados nas proximidades, pois eles podem indicar a
de identificação: execução de fainas especiais, tais como homens no mastro,
mergulhadores na área ou a aproximação de outro navio.
Identificação por letras:
Letra “J” (JULIETT): CONCLUSÃO
O código alfa-numérico que caracteriza todo circuito auto-
excitado sempre possui esta letra; portanto, ela é a base para sua A característica de um bom marinheiro é a sua capacidade de
identificação. comunicação. Você certamente impressionará sua cadeia de comando
Letra após “J”: se dominar as comunicações e ampliar, ainda mais, as informações
Indica o emprego geral dos circuitos principais e auxiliares. contidas neste capítulo. As suas habilidades em comunicações são
Exemplo: capitais ao exercício de um efetivo e seguro quarto de serviço.
JV = circuitos de manobras
emprego geral do circuito
circuito auto-excitados

Letra “X” (XRAY):


Quando aparece à frente do código, indica que ele não é o
principal.
Exemplos:
1 J V = Circuito Principal de Manobras
X 1 J V = Circuito Auxiliar de Manobras

Identificação por números:


Numeral que antecede a letra “J”:
Para se distinguir os circuitos que têm o mesmo emprego
geral, mas com emprego específico diferente, é colocado um numeral

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Comunicações Passadiço-Passadiço e em VHF antes da letra “J”, que indica o número de emprego específico do
As comunicações em VHF vêm sendo cada vez mais circuito.
utilizadas. Esses circuitos são normalmente reservados para Numeral após o emprego geral:
comunicação direta entre oficiais de serviço em diferentes navios, Em um navio que tem mais de uma tomada do mesmo
tanto para esclarecer intenções, como obter boletins meteorológicos e circuito, estas são numeradas colocando-se um número após a letra
informações de segurança à navegação. Os canais para isso que representa o emprego geral do circuito.
designados são: Exemplos:
1. Canal 16: canal de chamada; e JU-4 = tomada número 4 do circuito de armas A/S
2. Canais da série “M”: canais de comunicação passadiço- e torpedos
passadiço, exclusivos da MB. X 1 J V - 2 = tomada número 2 do circuito auxiliar da
É de suma importância que o Oficial de Quarto monitore manobra
cuidadosamente os circuitos VHF para a transmissão de informações
seguras, especialmente na entrada e saída de portos. Exemplos de nomenclaturas:
Complementarmente, é necessário dispor-se de uma tabela de Nomenclatura de um circuito principal:
transmissões aplicáveis a essa situação. 61 J S - 2 = circuito de informação sonar
número da tomada
Comunicações Visuais emprego geral do circuito
O método visual é o meio mais seguro de comunicação, circuito auto-excitado
porém é limitado tanto pela distância como pela visibilidade. A sua emprego específico do circuito
utilização deve ser feita sempre que possível, principalmente quando
a força não deseja ser detectada. Todos os oficiais que concorrem à Nomenclatura de um circuito auxiliar:
escala de serviço devem estar capacitados a reconhecer o indicativo X 31 J S - 1= circuito auxiliar radar de direção de tiro da
de chamada de seu navio, e, independentemente do tipo de sistema bateria secundária
que estiver sendo utilizado, estar constantemente atentos aos sinais número da tomada
emitidos por outros navios. O regimento de sinais deve ser emprego geral do circuito
memorizado; o seu aprendizado não é difícil, e, certamente, vale o circuito auto-excitado
esforço. A maior parte dos sinais por bandeiras consta do ATP-1C, emprego específico do circuito
vol. 2, ou, quando um navio mercante está sendo contatado, do indica que o circuito não é o principal
Código Internacional de Sinais (CIS). As instruções para uso dessas
publicações devem ser totalmente compreendidas, para que o oficial
possa codificar e decodificar corretamente os sinais. Sinais
específicos, mesmo aqueles de uso freqüente, não devem ser
decorados, porque o ATP-1C, vol. 2 está sujeito a alterações a

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um como outro oficial passam a querer testar outros circuitos e


Nomenclatura de um circuito suplementar: substituir demais equipamentos e antenas, perdendo-se, com isso,
X 17 J = circuito de elevadores de munição todo o controle e a sintonia das comunicações via rádio. O problema,
auto-excitado mais cedo ou mais tarde, acaba sendo solucionado, mas não sem
emprego específico do circuito considerável dose de frustração, desentendimento e perda de ânimo
indica que o circuito não é o principal por parte das pessoas envolvidas.
Para evitar esse tipo de situação, ambos oficiais devem deixar
Principais circuitos das estações de controle (utilizados na o pessoal encarregado das comunicações fazer o seu serviço. Quando
condição I): um circuito pára repentinamente de funcionar, é muito provável que
JA: Circuito do Comando - destina-se às ordens do somente uma investigação acurada de todos os equipamentos,
Comandante para o avaliador no CIC/COC e o EGA, podendo fluir unidades remotas e sistemas de correção poderá determinar a causa
de volta, sugestões ao Comando; do problema. Se o Supervisor de Quarto da Estação-Rádio é o
JC: Circuito do Controle do Armamento - destina-se a responsável pelo controle técnico do circuito, existem todas as
transmitir as ordens do EGA para as estações subordinadas; possibilidades para que essa causa seja identificada e, assim, o
JL: Circuito da Vigilância: destina-se à troca de informações problema se resolva. Por outro lado, se constantes substituições de
entre os vigias, Comando, CIC/COC e sonar, além da troca de equipamentos ou mudanças de circuitos forem determinadas por
informações entre o Controle de Operações e o Comando; aqueles oficiais, certamente logo se chegará à situação de completo
1JS: Circuito do Sonar: destina-se à coordenação entre o descontrole. O Oficial que prestar atenção nesse detalhe e tiver a
controle da manobra e operações anti-submarinos na condição I; paciência de permitir que o pessoal encarregado das comunicações
quando guarnecido por oficiais na condição I, será substituído pelo realize seu trabalho, certamente minimizará tais ocorrências.
Circuito JÁ; Duas categorias gerais de sinais são transmitidas pela fonia:
JU: Circuito de Armas A/S e torpedos: sua função é executivas e não executivas. Essas últimas são de caráter
coordenar o tiro torpédico e trocar informações entre o controle do administrativo ou veiculam informações, ao passo que as primeiras
Comando, operações e armamento na condição I; contêm sempre a ordem “executar”, traduzindo uma ação a ser
1JV: Circuito da Manobra do navio: destina-se às ordens do tomada pelo navio, e se dividem em dois tipos: execução imediata e
Comando para as estações de controle da manobra, centrais de execução normal. Estas permitem ao Oficial de Quarto dispor de
máquinas, central do CAV e máquina do leme. Só deverão fluir de tempo para calcular a ação a ser tomada quando o sinal for
volta, por este circuito, as informações vitais das estações executado, enquanto que aquelas demandam uma resposta imediata.
subordinadas; O Oficial de Quarto deve entender perfeitamente a diferença entre
2JV: Circuito de Manobras: interliga o controle de máquinas ambas, e o que é requerido por cada uma.
com as estações subordinadas;

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de visada. Devido à sua relativa direcionalidade e curto alcance, as 3JV: Circuito de Manobra de Transferência: interliga o
transmissões em UHF têm como vantagem a dificuldade de sua passadiço, a central de máquinas, a estação de transferência e a
detecção, a longo alcance, pelo inimigo, o que não ocorre com as central do CAV;
transmissões em HF, que podem ser detectadas a milhares de milhas. 1JZ: este circuito destina-se à troca de informações entre a
A seguir, é fornecida a lista de bandas de freqüências-rádio Central do CAV e o Comando (somente encontrado em navios de
comumente utilizadas: grande porte); nos navios de pequeno porte, será usado o circuito
1JV.
VLF  de 3 a 30 KHz; 2JZ: Circuito dos Reparos: interliga a estação central do
LF  de 30 a 300 KHz; CAV com as estações subordinadas; e
MF  de 300 KHz a 3 MHz; X6J: Circuito do CAV-ET: destina-se à troca de informações
HF  de 3 a 30 MHz; entre o EMET e as estações subordinadas.
VHF  de 30 a 300 MHz; e
MHF  de 300 a 3000 MHz. Os principais circuitos, tais como o JA, JL e 1JV são os mais
comumente usados. O Oficial de Quarto deve saber os
É melhor utilizar altas freqüências de dia, e baixas à noite. compartimentos que eles servem, quem os guarnece e a estação que
O uso correto da fonia, aqui entendido como a adoção de controla cada um deles. Os procedimentos de comunicação a serem
procedimentos e terminologias adequadas e a habilidade de autenticar utilizados nesses circuitos diferem, em algum grau, daqueles
e rapidamente codificar e decodificar informações, é uma das adotados via rádio, e, assim, o Oficial de Quarto precisa estar
primeiras coisas que o oficial moderno deve aprender. A competência familiarizado com ambos, e encorajar seu uso com informações
com que o Oficial de Quarto manuseia a fonia é uma das mais relevantes. Pode não parecer importante o fato de que conversas
notáveis mostras de profissionalismo, e também um dos melhores informais sejam veiculadas por esses circuitos, mas, no caso do
indicadores do grau de operacionalidade do navio. Por vezes, os surgimento de situações de emergência, ficará bastante evidente que
navios passam por dificuldades em seus sistemas de comunicação. A somente operadores treinados, usando a fraseologia padronizada,
intensidade em que essas dificuldades afetam as operações e a conseguirão transmitir e receber as ordens corretas, de estação para
rapidez com que elas são contornadas são diretamente proporcionais estação. Um navio que admita originalidade e criatividade nas
ao conhecimento que o Oficial de Quarto detém em comunicações. comunicações por esses circuitos não somente será incapaz de
Quando se percebe que os sinais de fonia não estão sendo recebidos mostrar um desempenho de primeira qualidade durante uma
por outros navios, o equívoco mais comum dos oficiais de serviço no emergência, como também poderá contribuir para confusões e erros
passadiço e no CIC/COC é de atribuir o fato ao mau funcionamento durante operações de rotina.
do equipamento, e, conseqüentemente, determinar a sua imediata Os intercomunicadores (MC) instalados em importantes
substituição. Ocorre que, na maioria das vezes, logo que o novo estações na maioria dos navios normalmente são utilizados para
equipamento é instalado, o problema persiste, ou, o que é pior, transmitir informações entre oficiais e suboficiais, ou para ampliar as
outros, que não existiam antes, aparecem. E aí, nesse cenário, tanto comunicações via telefone auto-excitado. Aqui, mais uma vez,

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disciplina e procedimento correto devem ser enfatizados pelo Oficial COMUNICAÇÕES EXTERIORES
de Quarto. Para evitar confusões e acelerar as transmissões, o
procedimento-padrão para comunicações via telefone auto-excitado Como norma geral, dois meios de comunicações exteriores
deve ser também usado nesses circuitos. importam diretamente ao oficial de serviço: fonia e visual. Cada um
Certos tipos de navios possuem, além do circuito MC ou de deles preenche determinados requisitos de comunicações, e um navio
sistemas especiais ponto-a-ponto, um sistema de fonoclama. em viagem pode usá-los simultaneamente para transmitir e receber
Qualquer que seja o sistema utilizado, no entanto, o princípio é o mensagens. A supervisão técnica de todos os equipamentos de fonia é
mesmo. O Oficial de Quarto deve saber que sistema de comunicações do Supervisor de Quarto da Estação-Rádio. A supervisão técnica das
está disponível e quem está do outro lado. Em caso de emergência, comunicações visuais cabe ao sinaleiro de serviço.
não há tempo para adivinhações.
Outra importante responsabilidade do Oficial de Quarto, Comunicações pelo Meio Elétrico
como já mencionado, é o controle do fonoclama. O fonoclama não Em sentido cada vez mais amplo, as comunicações pelo meio
deve ser usado para chamar um tripulante ao portaló para atender ao elétrico são a principal ferramenta de comando e controle disponível
telefone ou receber uma visita. Para isso, existem outros meios de ao Oficial de Quarto no passadiço e no CIC/COC. As comunicações
comunicação, ou mesmo o ronda pode ser acionado. O uso adequado são usadas para a transmissão de sinais táticos e na coordenação de
desse circuito é característica do Oficial de Serviço racional e operações entre unidades. O uso da fonia é estabelecido no plano de
profissional. comunicações, da mesma forma que a indicação da estação
controladora da rede (ECR), se for o caso, e os procedimentos e
Sistemas de Alarme instruções especiais para a utilização dos circuitos. Dependendo da
Todos os navios são equipados com sistema de alarme geral, função, a fonia pode ser realizada por operadores no passadiço, no
químico e de colisão. Cada um deles possui um som peculiar, que CIC/COC ou em qualquer outro local. É extremamente importante
deve ser reconhecido imediatamente por toda a tripulação. Alguns que não haja desentendimentos entre o CIC/COC e o passadiço sobre
navios possuem, adicionalmente, alarmes específicos de segurança quem controla, responde ou registra um dado circuito, e, nesse
para algumas áreas ou situações críticas. A maior parte dos navios particular, cada Oficial de Quarto, ao assumir o serviço, deve
possui sistemas de alarmes destinados a alertar o passadiço, o portaló certificar-se da maneira que as comunicações estão dispostas e
e algumas estações, quando a temperatura dos paióis de munição guarnecidas.
atinge determinada leitura. Navios que transportam helicópteros Comunicações via rádio podem ser operadas em quase todas
devem possuir sistema de alarme que acuse acidentes com esse tipo as freqüências, mas sua utilização é mais comum nas bandas mais
de aeronave. A rotina de bordo, normalmente, prevê experiências altas, quais sejam: HF, entre 2 e 30 MHz, ou UHF, entre 225 e 400
com todos esses alarmes no quarto de 04:00h às 08:00h, como MHz. A primeira banda é geralmente utilizada em circuitos de longo
também antes de suspender. Alarmes especiais devem ser testados alcance, que abranjam formaturas dispersas ou comunicações com
rotineiramente e nas rotinas de manutenção planejada. terra, ao passo que a segunda é operada principalmente em
comunicações de alcance reduzido, com unidades dispostas na linha

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