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Manobrando o navio

CAPÍTULO VI

MANOBRANDO O NAVIO

A principal característica do bom


navegador é o fato de nunca expor o navio
a situações que requeiram grandes
manobras.

A manobra do navio é o mais desafiador aspecto dentre todos


os que caracterizam o serviço do Oficial de Quarto, e os pontos
básicos para o sucesso do navegador competente são: o entendimento
sobre as forças básicas que influenciam os movimentos do navio; o
conhecimento dos procedimentos a serem adotados durante a
realização das diversas manobras; e uma boa dose de autoconfiança.
Este capítulo provê informações genéricas e basilares sobre o tema;
para aqueles que desejam se transformar em verdadeiros e
experientes navegadores, será necessária uma carreira de contínuo
estudo e prática das lides relacionadas ao assunto.

DEFINIÇÕES

PONTO DE GIRO

É o ponto sobre o qual o navio faz o giro. Em um


contratorpedeiro, situa-se geralmente a cerca de um terço de seu
comprimento, medido a partir da proa, o que o coloca bem próximo
do passadiço.

CURVA DE GIRO

É a esteira deixada pelo navio na superfície do mar quando


ele faz o giro. Varia de acordo com o ângulo de leme e sua
velocidade.

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AVANÇO

Representa a distância percorrida na direção do rumo original,


do momento em que o leme é carregado, até quando o navio
estabiliza no novo rumo.

AFASTAMENTO

Para um determinado giro, representa a distância obtida


perpendicularmente à derrota original, desde o momento em que é
dada a guinada até quando o navio assume o novo rumo.

DIÂMETRO TÁTICO

Para qualquer ângulo constante de leme, representa a


distância real percorrida na direção perpendicular àquela do rumo
original, do momento em que o leme é carregado até quando o navio
estabiliza no rumo oposto ao original. Corresponde ao afastamento
para uma guinada de 180º.

ÂNGULO DE LEME PADRÃO

É o ângulo de leme que, em condições normais, fornece a um


determinado navio o diâmetro tático padrão.

TODO LEME

É o ângulo de leme estabelecido a cinco graus do esbarro


mecânico, que dará origem ao diâmetro tático reduzido.

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TAXAS DE ACELERAÇÃO E DESACELERAÇÃO

São as taxas que representam o acréscimo ou a perda de


seguimento do navio durante uma mudança de velocidade.

PRINCÍPIOS GERAIS

O oficial que desejar se transformar em um bom navegador


deve estar atento a certos princípios gerais e sua aplicação específica
em seu navio. A seguir, são dados alguns exemplos.

EFEITO DO VENTO SOBRE A GUINADA

A maioria dos navios, principalmente aqueles dotados de proa


alta, guina devagar com vento a favor, e rapidamente, com o vento
contra. Esse efeito, para um dado navio, pode ser estimado através da
comparação das “áreas vélicas” a vante e a ré do ponto de giro. O
navio cuja “área” de vante for maior que a de ré possuirá aquelas
tendências. Isto é particularmente válido para os navios aeródromos.
O termo “área vélica” se refere às superfícies do casco e da
superestrutura acima da linha d’água, sobre as quais o vento exerce
força.

EFEITO DA VELOCIDADE SOBRE A GUINADA

Com um ângulo de leme constante, qualquer aumento da


velocidade do navio torna a sua curva de giro maior. Isto ocorre
devido à inércia do navio, que tende a mantê-lo na sua direção
original de movimento. O incremento dado à curva de giro varia de
acordo com o tipo de navio, sendo esse fenômeno observado mais
claramente quando navios de classes diferentes estão operando em
conjunto. Devido ao fato do guia ser, normalmente, um navio de
grande porte e empregar o mesmo ângulo de leme ou o leme padrão
para todas as velocidades, é necessário que cada navio envolvido na

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operação conheça o ângulo de leme a ser usado em uma guinada, na Monte um arquivo ou uma série de cartões com dados táticos,
velocidade sendo desenvolvida, para obter a mesma curva de giro. características do navio, ordens às máquinas e similares, para pronta
Para velocidades próximas à mínima de governo, qualquer referência até que você esteja familiarizado com o navio. Obtenha
decréscimo adicional na velocidade resultará, também, em uma curva tais informações com os oficiais mais antigos.
de giro maior. Nessa situação, a ação do leme sobre a inércia do Quando houver rebocadores em ação, tome cuidado para não
navio possui um efeito menor, que tende a mantê-lo em movimento forçá-los demasiadamente com o leme e as máquinas de seu navio.
retilíneo. Portanto, para uma guinada a baixas velocidades, é Preste especial atenção às suas espias, como também ao lapso de
necessário usar ângulos de leme maiores. A mínima velocidade de tempo necessário ao seu correto posicionamento.
governo, isto é, a menor velocidade em o navio ainda obedece ao Por fim, divirta-se ao manobrar o navio, fazendo-o com
comando do leme, deve ser conhecida. confiança e prazer.

EFEITO DAS ÁGUAS RASAS

Quanto menor for a distância entre a quilha do navio e o


fundo do mar, menor será o efeito das correntes geradas pelas pás dos
hélices sobre o casco e o leme. Quando essa distância é muito
pequena, o navio leva mais tempo para obedecer ao comando do
leme, maior energia é consumida e a velocidade na água fica abaixo
da recomendada para manobras com hélices. Complementarmente,
velocidades elevadas em águas rasas podem criar o efeito conhecido
como “squat”: a proa se eleva acima da linha d’água e a popa afunda,
na mesma proporção.

TEMPO DE RETARDO ENTRE ORDEM E EFEITO


DESEJADO

Existe um lapso de tempo considerável entre o momento em


que uma ordem é dada às máquinas ou ao leme e o efeito desejado é
obtido. Por exemplo, para que a guinada seja feita de forma a colocar
o navio em posição, ela deve ser iniciada quando a esteira do navio
de vante estiver próxima do passadiço.

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navio aderne muito. A 25 nós, dê somente cinco graus de leme, e DISPONIBILIDADE DE MÁQUINAS A RÉ
assim por diante.
Os hélices moverão o navio lateralmente, da mesma forma Nos navios a vapor, a potência das máquinas a ré pode ser
que se estivessem tocando no solo, o que quer dizer que, se o consideravelmente menor do que avante. Há duas razões para isso:
movimento se der no sentido horário, olhando-se da popa, o navio primeiro, porque a turbina a ré, por possuir uma quantidade menor de
tenderá para boreste; anti-horário, para bombordo. palhetas, gera menos potência; segundo, porque os hélices do navio
Manobrando um navio, nunca assuma um risco apenas para se são menos eficientes quando acionados a ré. As ordens de “máquinas
exibir. atrás um terço” e “máquinas atrás dois terços” normalmente
Os navios não se movimentam para ré com precisão. requerem, respectivamente, um terço e dois terços da potência
Sempre saiba a direção das águas favoráveis quando em disponível a ré. As mudanças para “máquinas adiante um terço” e
viagem. “máquinas adiante dois terços” baseiam-se em um terço e dois terços,
O Oficial de Manobras deve sempre observar o indicador do respectivamente, da velocidade-padrão. Não existe “velocidade-
ângulo do leme para se certificar de que o timoneiro o colocou na padrão a ré”. As ordens de “máquinas adiante um terço (ou dois
direção certa. Da mesma forma, o bordo da guinada deve sempre ser terços)” e “máquinas a ré um terço (ou dois terços)” provavelmente
checado antes que a guinada seja realizada. não terão o mesmo efeito. Em conseqüência, ao invés de girar no
Ao manobrar com outro navio, o Oficial de Manobras da ponto quando um hélice está acionado a ré e outro avante (ambos um
outra unidade deve estar absolutamente ciente de qualquer guinada terço ou dois terços), é esperado que o navio avance.
iminente.
Logo que avistar um navio no horizonte, comece FATORES QUE AFETAM A ACELERAÇÃO E A
imediatamente a fazer marcações visuais para determinar se ele está à DESACELERAÇÃO
deriva. Se isso lhe parecer insignificante, vá à rosa de manobras e
compare as soluções encontradas com as do CIC/COC. A maneira com que os navios ganham ou perdem seguimento,
O vento pode amenizar ou piorar o problema. Pense nas mantêm seu rumo e respondem às mudanças de velocidade varia de
conseqüências de seu efeito. acordo com o tamanho, sistema de propulsão, calado, condições das
A parte mais sensível da maioria dos navios modernos é a obras vivas, vento e condições do mar. Um navio pesado, com casco
proa, onde o domo do sonar está localizado. Entretanto, na popa estão liso e estrutura esguia tende a manter seu rumo e ter resposta imediata
o(s) eixo(s) e o(s) leme(s). às mudanças de velocidade, ao contrário de outro, com características
Quando um navio se move para vante próximo a um banco de opostas. Os navios movidos por turbina a gás possuem melhor
areia, a proa se elevará, e a popa afundará. Para ré, o efeito é inverso. resposta a alterações de velocidade do que aqueles movidos a vapor.
Nunca dependa de uma espia, particularmente no caso de
manobrar um navio grande próximo a um cais. FATORES QUE AFETAM A GUINADA
Antes de assumir qualquer situação como Oficial de Manobra,
reveja as regras atinentes ao assunto. O Oficial de Quarto deve saber não somente a forma de
efetuar uma guinada padrão, mas também como fazê-la no menor

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tempo e espaço possível. Um navio guina no menor tempo quando O Oficial de Manobras deve sempre ter visão prospectiva, e
vai toda força adiante com leme próximo ao esbarro. Os não se prender a detalhes da administração rotineira do serviço ou aos
procedimentos a serem adotados para guinar um navio no mais curto circuitos de comunicação.
espaço possível dependem do navio propriamente dito e, em algumas Desenvolva e pratique seu “sentimento marinheiro” e persista
vezes, das condições do vento. na manobra por comandos de leme, não por determinação de rumos.
Um navio dotado de dois lemes e dois eixos é o mais fácil e, Lembre-se sempre de que, quando o Oficial de Manobras dá uma
provavelmente, mais rápido de guinar, como também o menos sujeito ordem ao leme, ele efetivamente está no seu controle, ao passo que,
de ser afetado pelas condições do vento. Seus lemes devem ser quando determina um rumo a ser adotado, o timoneiro é quem o
posicionados para o bordo da guinada desejado, e assim serem controla.
mantidos. Caso seja necessário reduzir, ainda mais, a curva de giro do Ao se aproximar de um cais, de um fundeadouro ou de outro
navio, poderemos determinar: “máquinas adiante dois terços”, para o navio, o Oficial de Manobra deve sempre ter em mente o plano a ser
eixo oposto ao bordo da guinada, e “máquinas atrás dois terços”, para seguido para a consecução da manobra, e um outro alternativo.
o eixo do bordo da guinada. A partir daí, a velocidade do eixo do Sempre esteja atento às forças que atuam sobre o navio. Um
bordo da guinada poderá ser ajustada, de forma a evitar que o navio nó de corrente marítima equivale a trinta de vento.
se movimente para vante ou para ré enquanto guina. Saiba como usar o ferro, pois ele poderá salvar o navio em
Um navio com apenas um leme e dois eixos é um pouco mais muitas situações difíceis.
difícil de guinar em curto espaço. Se os hélices estão lateralmente A proa se alinhará com o vento se o navio estiver ganhando
bem afastados da quilha e a manobra não vai sofrer efeito contrário seguimento; do contrário, o navio acabará com vento pelo través. Ao
do vento, a guinada pode ser realizada com o eixo oposto avante e o dar máquinas atrás, principalmente nos navios de um eixo, o navio
outro a ré. Quando o vento afeta desfavoravelmente a manobra ou os dará a popa ao vento.
hélices não são muito afastados, deve ser ordenado “máquinas Alguns aspectos inerentes a reabastecimento no mar:
avante” ou “máquinas a ré”, para complementar o efeito do leme. - uma proa ultrapassando uma popa tenderá a se afastar dela;
Como regra geral, quando o movimento é para vante, próximo à - quando emparelhados, os navios tendem a se movimentar
mínima velocidade de governo, o leme deve ser posicionado na um em direção ao outro; e
direção desejada para a guinada; quando o movimento, nessas - quando duas popas se cruzam, elas se atraem.
mesmas condições, for para ré, o leme deve ser direcionado para o As máquinas têm resposta relativa; turbinas a gás são, de
bordo oposto ao da guinada. Quando o navio está parado ou em longe, as mais rápidas a responder às ordens dadas, porque suas
velocidade abaixo da mínima de governo, deve-se manter leme a válvulas de aceleração na casa do leme estão conectadas diretamente
meio. A distância a percorrer e a posição do leme devem ser às máquinas. Os motores a diesel respondem de modo regular, e os a
continuamente considerados. Alguns navios de leme único de vapor são os mais lentos.
proporções mais avantajadas apresentam tendência similar aos de Ao dar ordens ao leme ou às máquinas, em geral siga a “regra
leme duplo quando fazem as manobras aqui expostas. Essas dos trinta”: o valor da soma do ângulo do leme e da velocidade do
observações reiteram a necessidade do Oficial de Quarto conhecer navio não deve ultrapassar a trinta, a menos que você queira que o
bem as características de seu navio.

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REGRA PARA ATINGIR O PONTO DE FUNDEIO O navio que possui apenas um eixo é o mais difícil de guinar
em curto espaço. A maioria deles possui hélices de passo à direita e
A tabela a seguir fornece as regras a serem observadas para o necessitam de espaço à frente para manobrar. Por essa razão, para
navio atingir o ponto de fundeio: guinarem em curto espaço, deve-se alternar o movimento das
máquinas para vante e para ré. Quando as máquinas estiverem para
DISTÂNCIA TIPO DE PROPULSÃO vante, o leme deve ser posicionado para a direção da guinada. O
DO PONTO VAPOR TURBINA A GÁS momento de se desfazer o leme, após dar máquinas atrás, depende do
(JARDAS) conhecimento das características do navio, mas, em linhas gerais,
1.000 5 nós 10 nós deve ocorrer logo após o navio perder seguimento, e essa situação ser
800 Máquinas Paradas - mantida até o acionamento das máquinas para vante.
500 - 5 nós
250 Atrás 1/3 Máquinas Paradas MANOBRANDO EM FORMATURA
100 - Atrás 1/3
Dando Ré Largar o Ferro Largar o Ferro Manobrar um navio com outros por perto requer um perfeito
conhecimento das instruções táticas em vigor e total compreensão do
COMPRIMENTO DA AMARRA FORA DO ESCOVÉM movimento relativo dos navios.
(FILAME) As informações essenciais sobre esse assunto podem ser
encontradas nas publicações ATP-1C, volumes 1 e 2, MTP-1D,
O filame exigido para ventos com força inferior a sete é dado Manobra de Contratorpedeiros e Arte Naval. Todo oficial que
a seguir: concorre à escala de serviço no passadiço deve estar de tal forma
familiarizado com as orientações contidas nessas publicações ao
PROFUNDIDADE ponto de sempre poder obter, da forma mais imediata possível e sob
AMARRA quaisquer circunstâncias, a devida orientação para a condução das
(BRAÇAS)
7 30 manobras que venham a ser necessárias nesse tipo de cenário. Devem
7 a 12 45 ser estudados os capítulos que informem os conceitos básicos e as
definições que respaldam as instruções subseqüentes.
12 a 20 60
O segundo item essencial para habilitar um oficial a realizar
manobras em formatura de maneira eficiente e dar-lhe perfeita
compreensão do movimento relativo dos navios é o estudo e a prática
ALGUMAS REGRAS RÁPIDAS SOBRE MANOBRAS
de situações as mais diversas possíveis na rosa de manobras.
O efeito mais importante que se obtém em decorrência da
Todas as ordens devem ser dadas em tom forte, claro e
prática constante de exercícios na rosa de manobras é a habilidade de
imperativo.
visualizar problemas e de resolvê-los mentalmente. Para evoluções
complicadas, como assumir uma posição distante em determinada

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Manobrando o navio Manobrando o navio

formatura, uma solução mental naturalmente seria aproximada e DISTÂNCIA DO APROXIMAÇÃO


sujeita a alterações por aquele que efetivamente for lidar com o NAVIO 120 PÉS 150 PÉS
problema, seja o CIC/COC ou o Ajudante do Oficial de Quarto. Não REABASTECEDO
obstante, uma solução mental permite imediata mudança de rumo e R
velocidade, que apressa a manobra, demonstra vivacidade e mantém 600 4 graus 5 graus
o navio em curso. Para problemas simples, tais como um incremento 500 5 graus 6 graus
de dez graus na marcação do guia, enquanto se mantém a distância 400 6 graus 7,5 graus
relativa, uma solução mental é suficiente, porque estará sujeita a 300 8 graus 10 graus
confirmação por marcações periódicas. 200 12 graus 15 graus
Assim, o desenvolvimento de um aguçado “sentimento
marinheiro” deve ser uma das mais importantes metas de um bom Em outras palavras, a 600 jardas do navio reabastecedor, com
navegador. Embora algumas pessoas possuam mais habilidades um rumo de 150º, quando a bandeira ROMEO for atopetada, a
naturais do que outras nesse sentido, o sentimento de um verdadeiro marcação do bordo de boreste daquele navio deve ser de 146º (150º –
homem do mar se desenvolve somente através da experiência, da 4º), para uma aproximação-padrão (120 pés), ou 145º (150º – 5º) para
prática e da cuidadosa observação de toda e qualquer manobra. O aproximação a 150 pés.
navegador deve aprender a visualizar e “gravar a fotografia” de tudo
o que ocorre durante a realização de uma manobra, como também a DISTÂNCIA DO HORIZONTE
praticar o exercício de estabelecer a correlação entre o que é visto das
asas do passadiço com o que é detectado pelo radar de busca de A distância do horizonte, em milhas náuticas, é 1,14 vezes a
superfície. A busca da perfeição quanto a esta habilidade não apenas raiz quadrada da altura do olho em pés. A seguir, é dada uma tabela
aguça o olho; ela também proporciona um meio confiável para checar com algumas correspondências:
a solução apresentada pela rosa de manobras com o que realmente é
observado. ALTURA DO OLHO DISTÂNCIA DO
Quando um sinal tático para a realização de uma manobra é (PÉS) HORIZONTE (MILHAS
executado, o seu condutor deve estar preparado para atingir NÁUTICAS)
imediatamente a velocidade desejada e, mesmo que não se disponha 50 8,1
de uma solução completa na rosa de manobras, acionar o leme de 75 9,9
forma a assumir a direção correta. As correções de rumo levadas a 85 10,5
efeito para se assumir determinada posição não causam grandes
100 11,4
problemas; ser o único navio a permanecer no rumo anterior, sim.
110 12,0
Sinais para manobrar em formatura comumente requerem
ações simultâneas executadas por vários navios. É responsabilidade
do navegador, além de assumir a nova posição, evitar interferir ou
atrapalhar na manobra de outras unidades, como também de fazer

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REGRA PARA ASSUMIR POSIÇÃO seus movimentos e suas intenções serem claramente entendidos. Para
tanto, deve-se ter como hábito considerar sempre a possibilidade de
Multiplique a diferença de velocidade em nós por cinqüenta uma manobra evasiva nessa situação, bem como saber
(navios a vapor) ou vinte e cinco (turbina a gás) para obter a distância antecipadamente o que fazer e em que direção guinar quando,
em jardas a partir da qual as máquinas devem ser reduzidas para se repentinamente, é necessário esquivar-se de mais de um navio ao
chegar à posição desejada. Por exemplo: se você quer assumir mesmo tempo. Uma falha comumente observada em navegadores
posição paralela a um navio-tanque a dezesseis nós e sua velocidade inexperientes é o fato de se esquecer que há navios também à ré. Isto
de aproximação é de vinte e três nós, ou seja, sete nós acima, para um pode ser fatal. Um navio a uma milha de distância da alheta de outro,
navio a vapor tal distância seria 7 x 50 = 350 jardas; para navio os dois estando em rumos paralelos, pode se transformar em um
movido a turbina a gás, 7 x 25 = 175 jardas. grande problema se este for obrigado a cortar-lhe a proa para se
esquivar de um terceiro navio.
MÁQUINAS PARADAS Operações em formatura com navios aeródromos trazem
maiores responsabilidades ao Oficial de Quarto. A maior parte dos
Para parar em uma distância correspondente ao comprimento navios desse tipo estabelece um “santuário” ao seu redor, ou seja,
de um navio que esteja a cinco nós, dê máquinas atrás dois terços; se uma área que os outros devem evitar. No mínimo, esses “santuários”
essa distância for duas vezes o comprimento, a uma velocidade de adotam a regra do 3:2:1, isto é, os demais navios nunca devem se
dez nós, dê máquinas atrás toda força. aproximar a menos de 3.000 jardas da proa, 2.000 jardas do través e
1.000 jardas da popa do navio aeródromo. Muitos deles chegam a
REGRA DOS BINÓCULOS prescrever dimensões maiores para esses “santuários”. Não apenas o
tamanho desses navios impõe limitações em suas manobras, mas
A imagem de uma fragata preencherá o campo visual de um também a banda induzida pelo leme deve ser restrita se houver
binóculo padrão (7 x 50) a uma distância de trezentas jardas; um aeronaves em seu convés. Um navio que estiver por ante avante de
contratorpedeiro, a cerca de 350; e um navio aeródromo, a 450. um aeródromo nunca deve guinar em sua direção, exceto em caso de
emergência; se isto for mesmo necessário, ele deve indicar-lhe
REGRA PARA REABASTECIMENTO NO MAR claramente suas intenções. O oficial (seja o Oficial de Quarto ou seu
Ajudante) deve sempre ter o navio aeródromo sob constante
Para se aproximar a 120 pés (padrão) ou 150 pés (largo, em observação.
caso de rumo difícil de ser mantido, ou de condições desfavoráveis de
tempo), a marcação do desvio entre a linha de base do rumo e a POSICIONAMENTO EM FORMATURA CERRADA
tangente ao bordo do navio reabastecedor deve ser feita da seguinte
forma: A visualização de problemas simples em movimento relativo
é a chave para se obter proficiência no posicionamento em formação
cerrada. Embora atualmente os navios não operem em formatura
cerrada com a freqüência de antigamente, ser proficiente nessa área

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continua a ser um importante requisito. Os navios de superfície ainda diretamente, modificando as ordens do prático ou, educadamente,
devem estar capacitados a assumir formaturas em coluna ou em linha ignorando-as. O Oficial de Quarto, então, deverá prestar atenção no
de marcação, a uma distância padrão, e em círculo, na escuridão da que o timoneiro e o sota-timoneiro estão fazendo, porque ambos
noite e em alta velocidade. A formatura em coluna cerrada, que, em podem ficar confusos quanto a que ordens obedecer.
sua quase totalidade, é questão apenas de ajuste de velocidade, requer
acurada observação da velocidade e da forma com que o navio se
desloca. RÁPIDAS REFERÊNCIAS PARA O OFICIAL DE SERVIÇO
O estadímetro é um instrumento essencial para navios em
formação cerrada. Todo Oficial de Serviço deve estar familiarizado Todo oficial necessita de um pouco de cálculo aritmético para
com seu uso, e, também, conhecer suas capacidades e limitações. Em o exercício de seu quarto de serviço. Ao lado da rosa de manobras e
distâncias curtas, esse aparelho é mais acurado que muitos radares, e, de todo o pessoal de serviço no CIC/COC, que podem disponibilizar
particularmente, de grande ajuda para fornecer informações rápidas e ao Oficial de Quarto soluções detalhadas para a execução de
precisas sobre distâncias, estejam estas abrindo, fechando ou manobras, é de grande utilidade dispor-se de um meio que forneça
permanecendo estáveis. Os estadímetros a laser são ainda mais rumos iniciais, velocidades e distâncias, e que também sirva para
precisos. checar soluções por outros métodos. Algumas das “dicas” mais
Às vezes, não é possível fazer a leitura de estadímetros à comuns são:
noite, quando não há luz suficiente, ou quando a curta distância
impossibilita a leitura radar ou mesmo o silêncio é imposto a este REGRA DOS TRÊS MINUTOS
equipamento. Nessas situações, binóculos podem ser utilizados para a
obtenção de uma razoável estimativa da distância se, durante o dia, Um navio percorrerá, a cada três minutos, distância em jardas
quando a distância exata de um navio pode ser medida, a extensão do equivalente ao valor de sua velocidade em nós multiplicado por cem.
campo visual do binóculo a comporta. Por exemplo: a uma velocidade de 15 nós, um navio cobrirá 1.500
O primeiro navio em coluna, ou o guia, deve se esforçar por jardas a cada três minutos.
garantir boa manobra e velocidade estabilizada. O Oficial de Quarto REGRA DO RADIANO
deve observar se as alterações de rumo e velocidade estão sendo
realizadas conforme previsto na diretiva, o que será bastante Cada grau de diferença de marcação dividido por sessenta e
apreciado por seu colega do navio a ré. multiplicado pela distância de um alvo fornece seu Ponto de Maior de
A manutenção da distância adequada entre navios em coluna Aproximação (PMA). Exemplificando: se o contato de um alvo
depende em grande parte na habilidade do Oficial de Quarto em parado ou em rumo oposto é feito a três graus de marcação relativa, a
detectar antecipadamente indicações de abertura ou redução na uma distância de 4.000 jardas, o seu PMA se dará a 3/60 x 4.000 =
distância, e de introduzir os devidos ajustes de rumo e velocidade. 200 jardas.
Em relação a isso, o Oficial de Quarto deve se lembrar de que,
quando um navio está na esteira de outro, ele requer uma quantidade
um pouco maior de evoluções do que se estivesse em mar calmo,

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Manobrando o navio Manobrando o navio

PRATICAGEM para acompanhar a velocidade do navio à sua frente; isto ocorre


porque é necessário vencer a turbulência causada por aquele navio.
O prático é meramente um assessor do Um timoneiro, que alternadamente coloca e tira o navio da esteira do
Comandante. A sua presença a bordo não que o precede, indubitavelmente complica o problema de ajuste de
exime este, nem qualquer de seus
subordinados, de suas responsabilidades
velocidade. Por isso, os timoneiros devem estar sob constante
pelo adequado desempenho das tarefas observação. A velocidade tem que ser corrigida com cuidado, pois
que lhe competem, inerentes à navegação e não pode ser esquecido o fato de que há sempre um lapso de tempo
à condução do navio. considerável entre a ordem ser dada e o efeito esperado acontecer. Se
isto não for levado em conta, o mesmo erro pode ser corrigido em
Quando um prático é admitido a bordo, o Oficial de Quarto duplicidade, o que demandará que outra correção, provavelmente
deve certificar-se de que o pessoal de serviço no passadiço sabe maior, seja processada em direção oposta, e assim sucessivamente, o
perfeitamente quem está com a manobra, e de quem são as ordens que pode se transformar em um efeito “bola de neve” de difícil
dadas às máquinas ou ao timoneiro que devem ser obedecidas. controle. É aconselhável, assim, que o Oficial de Quarto estude
Muitos práticos estão acostumados a manobrar navios mercantes, e, intensamente o tempo de resposta de seu navio às ordens dadas, até
freqüentemente seus comandos ao timoneiro e às máquinas diferem que ele lhe seja perfeitamente conhecido. Os efeitos de uma correção
do padrão adotado na Marinha. Assim, o Comandante deve devem ser observados atentamente, antes que outra correção seja
determinar que o Oficial de Quarto a transmita as ordens do prático aplicada. O excessivo uso do leme atua como um freio; por isso, as
ao timoneiro, usando o padrão naval. suas correções devem ser introduzidas antes que as de velocidade.
O prático deverá ser alertado sobre as diferenças em termos Em geral, é mais seguro para um navio em coluna estar a uma
de efeito e rapidez entre suas ordens e as do Oficial de Quarto. distância menor que a estabelecida, pois será sempre mais fácil o
Quando ele determinar devagar adiante, o Oficial de Quarto acionará afastamento do que a aproximação. No entanto, o Oficial de Quarto
o telégrafo da máquina a um terço e lhe dirá quantos nós isso precisa saber a faixa de tolerância permitida para isso, e se manter
representa. Quando o Comandante, o prático e o Oficial de Quarto dentro de seus limites, uma vez que será também muito fácil abalroar
souberem a quantidade de potência que está sendo empregada, as o navio na sua proa se ele desacelerar, sem que se perceba. Da
diferenças em terminologia poderão ser superadas. mesma forma, não se deve descuidar do navio a ré, mantendo o rumo
Muitos práticos são excelentes marinheiros e navegadores, e a e a velocidade o mais estáveis possível.
maior parte deles tem prazer em compartilhar suas experiências e seu O Oficial de Quarto deve ter em mente o número
conhecimento. Freqüentemente o Comandante deixa a manobra com correspondente à posição de seu navio na coluna, e para que bordo
o Oficial de Quarto, e pede ao prático que aja como seu assessor, com guinar em caso de emergência, pois este será o mesmo para os navios
o propósito de treiná-lo. O oficial que tiver a sorte de vivenciar tal de mesma ordem, de acordo com o padrão: ímpares para boreste,
situação, deve tirar o máximo proveito da experiência. pares para bombordo. Se, por alguma razão, a posição do navio for
Ocasionalmente um navio se depara com práticos que não muito próxima à do que estiver na sua proa, o que pode ser feito é
entendem suas características, ou que não preenchem os devidos abater levemente a proa para o bordo que se deverá guinar em
requisitos profissionais. Nesse caso, Comandante manobra situação de emergência.

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Manobrando o navio Manobrando o navio

Mudanças de rumo para uma formação em coluna podem ser desativada, tal galhardete deverá ser arriado. Quando o bordo estiver
processadas de duas formas: simultaneamente, com os navios pronto, o Oficial de Manobras determinará acréscimo de cinco a dez
guinando ao mesmo tempo, ou sucessivamente, com cada navio nós na velocidade, dependendo do tipo de navio, avançando e
manobrando logo após o precedente. No primeiro caso, o leme deve gradativamente alterando o rumo, de forma a se afastar do navio
ser carregado imediatamente após ser dado o sinal; o Oficial de reabastecedor. O turbilhão causado na água pelas pás do hélice,
Quarto, então, informa ao timoneiro o novo rumo e acompanha seus devido às bruscas variações de velocidade, induzirá efeito negativo
movimentos, para saber se ele não ultrapassou a marca determinada no governo do navio reabastecedor, e isso poderá levar a situação de
ou carregou demasiadamente o leme para atingi-la, pois qualquer perigo se houver navios no bordo oposto.
desses erros fará com que o navio venha a se posicionar atrás da linha A tarefa mais importante do Oficial de Quarto durante uma
de marcação que resultar da manobra. O Oficial de Quarto deve faina de reabastecimento no mar é coordenar a pluralidade de
manter o navio que estiver mais próximo ao bordo de guinada sob preparações e a condução do pessoal de serviço no passadiço,
constante observação, verificando, também, a marcação do guia, enquanto o foco das atenções de todo o navio (e também do
durante o processamento da manobra, de forma a poder detectar Comandante) é a faina propriamente dita. O Oficial de Quarto deve
qualquer tendência de redução ou de aumento dessa marcação. manter a tripulação a postos, mas evitando desperdiçar tempo com
Na prática, os navios não assumem posições perfeitamente esperas infrutíferas e desnecessárias. Duzentas pessoas,
corretas, em particular quando guinam sucessivamente; assim, o desnecessariamente, em prontidão por trinta minutos significam horas
Oficial de Quarto precisa saber como ajustar a guinada de forma a que poderiam ser mais bem aproveitadas. A coordenação com o EGA
melhorar o posicionamento. Esse conhecimento é adquirido através e com o Imediato, além da observação do progresso das fainas de
da experiência em visualizar situações e antecipar-se a elas. reabastecimento no mar efetuadas em outros navios ao mesmo tempo
Naturalmente que qualquer ajuste dessa natureza deve considerar os ajudarão o Oficial de Quarto a agir no tempo correto. Durante todo o
navios próximos a ambos os bordos. processo, ele deve assegurar-se de que as funções críticas, tais como
Uma vez havendo a guinada se processado satisfatoriamente, navegação e comunicações, estão sendo conduzidas da forma correta.
o navio a ré seguirá as mesmas águas. A curva feita pela esteira do Outro aspecto de capital importância é um plano a ser aplicado no
primeiro navio deverá tangenciar a proa do segundo, na direção da estágio posterior ao reabastecimento. O Oficial de Quarto deve
guinada. O trecho de água plana dentro da esteira é causado pelo atentar para quaisquer indícios de problemas relacionados a governo
deslizamento da proa decorrente da guinada; o bordo interno desse e propulsão. Antecipar-se a tais ocorrências é tão importante quanto
trecho assinala o trajeto da proa, e o externo, da popa. possuir o conhecimento técnico sobre elas.
As manobras devem ser conduzidas das asas do passadiço, de
onde se pode avistar ambos os navios, a vante e a ré. Saber o
momento exato de iniciar uma guinada exige experiência. Se a
guinada for corretamente cronometrada, a proa do navio seguirá o
bordo interno da esteira do navio de vante.
Se a guinada for feita com atraso, o navio ultrapassará aquele
limite, e o sulco deixado por aquela esteira irá retê-lo naquela

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Manobrando o navio Manobrando o navio

Para iniciar uma faina de reabastecimento no mar, o navio posição. Se isso ocorrer, o Oficial de Quarto não deverá se atirar
reabastecedor assume rumo e velocidade estáveis, que são apressadamente para o novo rumo; ao invés disso, permanecerá
normalmente ditados pelas condições de mar e de vento, ou, se o estacionário e paralelo à coluna recém-formada. Assim que o navio a
tempo estiver calmo, pelo rumo da formatura. O navio recebedor se ré completar sua guinada, ele deverá, gradativamente, recuperar sua
posiciona a ré do reabastecedor, e aguarda o seu sinal de “pronto para posição, para o que, normalmente, é necessário aumentar a
reabastecer”. velocidade.
Se as condições do tempo permitirem, a velocidade normal do Se a guinada for feita antecipadamente, o navio ficará aquém
guia deve ficar entre treze e quinze nós. Velocidades menores que daquele limite; um pequeno ajuste no leme poderá corrigir isso, mas,
oito nós não são recomendáveis porque reduzem o efeito do leme. certamente, a velocidade deverá ser reduzida para evitar muita
Em velocidades maiores que quinze nós, o Efeito Venturi (a diferença proximidade com o navio a vante. Um erro comum nessa situação é
de pressão criada em volta do casco de um navio em movimento) aliviar o leme de forma que o navio cruze a esteira à frente, e, assim,
tende a aproximar os dois navios um do outro. acabe ficando fora dela.
O navio reabastecedor indica que está se preparando, içando a O perigo de efetuar uma guinada repousa no fato de se fazer
bandeira ROMEO à meia adriça do bordo por onde se processará a uma mudança de rumo muito próximo do navio de vante. As opções,
faina. O navio recebedor responde, da mesma forma, que está se neste caso, se resumem em determinar um ângulo de leme maior, de
preparando para a aproximação. Quando o primeiro estiver pronto, forma a permanecer dentro do círculo, e fazer os necessários ajustes,
ele atopetará a bandeira ROMEO, e o segundo fará o mesmo, ou aliviar o leme e assumir posição fora dele. É mais seguro se
aumentando a velocidade de três a dez nós acima da velocidade posicionar do lado de dentro; qualquer hesitação em se aliviar o leme
determinada para reabastecimento. No momento em que estiver em para ficar do lado de fora pode posicionar o navio junto à proa do
posição, ele a reduzirá para a velocidade do reabastecedor. Quando navio de vante, expondo-o a perigo de colisão.
ambos estiverem na posição adequada, os cabos de transferência O navio que estiver a ré daquele que guina adiantadamente ou
deverão ser passados e amarrados; logo que o primeiro deles estiver com atraso não deverá segui-lo; em vez disso, deverá guinar
firme, ambos arriam suas bandeiras ROMEO. Se o material conforme a esteira do guia. Se ele estiver um pouco afastado de
transferido for combustível ou munição, ambos atopetam a bandeira posição no momento em que essa manobra é determinada, as devidas
BRAVO. correções poderão ser feitas. Se estiver a ré da posição que deve
Quinze minutos antes da hora esperada para o término do assumir, ele poderá guinar antes; do contrário, ele poderá guinar
reabastecimento, o Oficial de Quarto determinará o içamento, a meia pouco depois, a todo leme.
adriça, do galhardete PREP, para notificar o próximo navio a ser À noite, ou sob neblina, é provável que não se identifique a
reabastecido. Quando o reabastecimento for completado, todas as curva da esteira. Se o Oficial de Quarto tem o controle do tempo
redes, cabos, estropos e mangueiras devem ser recolhidos ao navio decorrido após o sinal de execução da manobra, ele poderá, baseado
reabastecedor. na velocidade e distância do guia, determinar o momento em que o
Imediatamente antes de desengajar, quando a transferência de ponto de guinada for atingido, o que poderá ser feito com a utilização
combustível estiver completa, o navio recebedor atopeta o galhardete da “regra dos três minutos”, segundo a qual um navio, em três
PREP, e, assim que a última linha de reabastecimento tiver sido minutos, percorre tantas centenas de jardas quanto sua velocidade em

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Manobrando o navio Manobrando o navio

nós. Isso quer dizer, por exemplo, que um navio a quinze nós Tão logo o anúncio de “Homem ao mar” tenha sido dado, o
percorre 1.500 jardas em três minutos; assim, o navio que estiver a CIC/COC deverá automaticamente marcar sua posição e manter o
mil jardas a ré do guia, a uma velocidade de quinze nós, guinará dois passadiço informado das marcações e distâncias sucessivas.
minutos após o guia. Independentemente do método utilizado, os mesmos
princípios básicos se aplicam. Deve ser ordenado “todo leme” para
LINHA DE MARCAÇÃO afastar a popa do navio da pessoa. Se o eixo do bordo pelo qual a
pessoa caiu puder parar antes que ela se aproxime dos hélices, isso
Em linha de marcação, a manutenção da posição é um assunto deve ser feito; se isso não for possível, o que é mais provável, o
complexo, porque tanto distância como marcação estão envolvidas. resgate deverá continuar de qualquer maneira.
Por isso, um completo entendimento de movimento relativo de navios Manobras relacionadas à ocorrência de homem ao mar em
é de grande ajuda. Quando o navio está em formação cerrada, o navios envolvidos em evoluções táticas podem ser encontradas em
Oficial de Quarto raramente tem tempo de plotar marcações e documentos operativos. Nessa situação, é muito importante conhecer
distâncias para obter uma solução; assim, o problema terá que ser as instruções para a formação da coluna, pois o navio do qual a
visualizado, e, então, o rumo e a velocidade alterados adequada e pessoa caiu toma a iniciativa de se afastar dela, da mesma forma que
prontamente, tão logo o Oficial de Quarto perceba algum desvio. os demais, os ímpares guinando para boreste e os pares para
O Oficial de Quarto pode rapidamente determinar se o navio bombordo. O navio que estiver em melhor posição para resgatar o
está adiantado ou atrasado em relação à marcação pelo alinhamento homem ao mar poderá fazê-lo, e manter os outros informados de suas
da alidade na marcação determinada para o guia, e ajustá-la. ações.
Quando há navios em linha pelo través, velocidades acima ou O homem deve ser recolhido o mais rapidamente possível.
abaixo do guia sugerem acertos desprezíveis de marcação. Pequenas
alterações de rumo para acompanhar o guia podem causar perda de REABASTECIMENTO NO MAR
marcação; portanto, acréscimos de velocidade podem ser usados para
neutralizar esse efeito. A habilidade da Marinha em projetar poder a grandes
Quando a linha de marcação é uma coluna, qualquer alteração distâncias no oceano depende da capacidade em se manter no mar por
de velocidade causa aproximação ou afastamento. Mudanças de rumo longos períodos, sem apoio com base em terra.
acarretam alterações de marcação, com pequeno afastamento. O reabastecimento no mar é a faina que mais freqüentemente
Alterações temporárias de velocidade podem ser usadas para se acontece, e a maneira com que é executado constitui-se em um dos
contrapor a esse efeito. padrões básicos da medida do desempenho do navio. Ele representa
Para linhas de marcação entre esses dois extremos – formação uma das mais desafiadoras, emocionantes e recompensadoras
em coluna e pelo través – os efeitos de mudanças em rumo e oportunidades de manobras com navios que um oficial de serviço
velocidade são um pouco mais complexos, pois uma combinação de pode experimentar, visto que, nessa faina, aprende-se muito mais
ambos será necessária para manter a posição. sobre lides marinheiras e arte de navegar do que em qualquer outra.
Quando guinadas simultâneas são feitas em linha de Atualmente, a doutrina para isso consta das publicações MWP 4-01.4
marcação, é importante observar o navio em direção ao qual a e Manual de Procedimentos Marinheiros (CAAML-3002).

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Manobrando o navio Manobrando o navio

HOMEM AO MAR guinada é feita, para, se for o caso, advertí-lo de que está guinando
para o bordo errado.
A doutrina da manobra de Homem ao Mar consta da
publicação Manual de Procedimentos Marinheiros (CAAML-3002). MANTER A POSIÇÃO EM FORMATURA
O primeiro requisito a ser observado em caso de homem ao
mar é a ação imediata. Um Oficial de Quarto atento certamente se Manobrar um navio dentro do corpo principal de uma
certificará de que todos os elementos de serviço em seu quarto sabem formatura em círculo é um pouco mais fácil do que fazê-lo em
exatamente o que fazer em tal situação, e estará preparado, formatura cerrada, porque a distância entre navios, no primeiro caso,
dependendo do tempo e das condições de operação, para: é muito maior. Entretanto, devido ao fato de que a posição deve ser
- guinar o leme para o bordo da ocorrência, para afastar a mantida em determinada marcação em relação ao guia, e a uma
popa do navio do homem que caiu no mar; distância definida, os problemas enfrentados naquela situação são
- atirar imediatamente, por esse mesmo bordo, uma bóia similares àqueles existentes em linha de marcação. A única
salva-vidas com luz estroboscópica e fumígeno, para sinalizar o local determinação adicional a ser feita será à distância e à marcação em
da ocorrência o mais próximo possível; relação ao guia a serem adotadas quando o navio estiver se
- ordenar a seu Ajudante, a um vigia e a qualquer tripulante movimentando para uma nova posição. O CIC/COC será de grande
disponível que aponte para o homem que caiu no mar, e permaneça ajuda ao Oficial de Quarto nesse assunto.
assim até que ela esteja pelo través; Para determinar a marcação e a distância em relação ao guia,
- determinar que seja dada, por duas vezes, pelo fonoclama, a o Oficial de Quarto deve estar familiarizado com o a rosa de
seguinte ordem: “Homem ao mar por boreste (ou bombordo)! manobras. Uma vez plotada a formatura, o Oficial de Quarto poderá
Guarnecer Detalhe de Homem ao Mar!”; facilmente determinar a distância e a marcação do guia. A partir daí,
- emitir seis apitos curtos, e os sinais visuais apropriados, sucessivas plotagens deverão ser feitas, de forma a que quaisquer
conforme especificado em documentos operativos: “de dia, içar a mudanças determinadas possam ser rapidamente transformadas em
bandeira OSCAR, e, à noite, em tempo de paz, acionar duas vezes a novas marcação e distância do guia.
luz vermelha ou deflagrar um foguete iluminativo branco”; É necessário ter em mente que o guia nem sempre estará no
- notificar o CIC/COC do ocorrido, para que ele forneça centro da formatura, e que imediatamente após a execução de um
marcações e distâncias contínuas do homem ao mar; determinado sinal, ele automaticamente estará em posição, não
- notificar os demais navios da formatura e o Oficial de importa qual seja. Tal situação às vezes resulta em se ter o centro da
Comando Tático (OCT); formatura se movimentando ao redor do guia, e, quando isso ocorre,
- informar o Comandante e ao Imediato; os demais navios se movem na mesma direção.
- determinar o método de recolhimento, que pode ser feito Em qualquer manobra, quando a distância e a marcação do
pela proa, por lancha, por bote ou por helicóptero, e dar as devidas guia tiverem sido determinadas a partir de plotagens relativas, os seus
ordens; e valores reais devem ser buscados, porque serão de grande ajuda na
- manter a equipe de resgate informada do bordo pelo qual determinação do rumo e da velocidade necessários a colocar o navio
deverá ser feita a operação. na posição adequada. Exceto no caso de o navio ser determinado a

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Manobrando o navio Manobrando o navio

assumir uma nova posição, as mudanças no eixo da formatura ou na Há ainda duas coisas a serem ditas em relação a este assunto.
formação propriamente dita são as únicas manobras que alteram a Primeiramente, que a posição deve ser mantida de forma exata, com
marcação, a distância ou ambas, em relação ao guia. o Oficial de Quarto assegurando-se de que o navio está onde deve, a
qualquer momento. Se o plano de cobertura determina que o navio
NAVEGAÇÃO EM COBERTURA patrulhe um setor que não lhe permita manter, continuamente,
marcação e distância exatas em relação ao guia, os rumos e as
Os procedimentos para manobrar um navio em cobertura, ou velocidades adotados nesse patrulhamento devem ser controlados
para manter sua posição, são bastante similares aos adotados para com exatidão. Feito isso, o Oficial de Quarto poderá dispensar sua
formatura em círculo. A determinação da distância e da marcação, no atenção a outros afazeres, e, até, delegar, sob sua supervisão, o
entanto, são mais complexas, porque a distância em relação ao guia é serviço ao seu Ajudante.
maior. O Oficial de Quarto de um escolta deve saber as regras O segundo aspecto é que, quando uma cobertura está sendo
necessárias às manobras requeridas nessa situação. Plotagens reorientada, ou sua posição modificada, o Oficial de Quarto deve
contínuas, de minuto a minuto, devem ser feitas, da mesma forma que estar alerta quanto à formatura como um todo, utilizando ao máximo
para formatura em círculo, de modo a que qualquer mudança possa seus próprios olhos. Soluções na rosa de manobras, para checar a
ser rapidamente processada, no sentido de se obter novas distância e exatidão dos cálculos feitos rapidamente pelo Oficial de Quarto,
marcação em relação ao guia. podem ser elaboradas por outros membros do quarto de serviço, pois,
O Oficial de Quarto deve saber sob que condições o eixo sob tais condições, a principal função daquele é ser o Oficial de
desse tipo de formatura pode se alterar sem que seja dado sinal segurança do navio.
específico, e como determinar sua nova direção nesses casos. Ele não
deve poupar esforços para assumir a nova posição imediatamente, e, DISTÂNCIA EM RELAÇÃO AO GUIA
para isso, um pouco de perspicácia pode ajudar. Após cada manobra,
o Oficial de Quarto deve se preparar para a próxima. Ele deve checar Quando o navio estiver em formatura, o Oficial de Quarto
a plotagem e, então, determinar as possíveis alterações no rumo da deverá sempre saber a final do guia (marcação e distância).
formatura que possa exigir reorientação. Quando apropriado, ele deve Entretanto, para obter essa informação, não há necessidade de se
também determinar as alterações que demandarão a execução de uma sobrecarregar o operador do radar de superfície no CIC/COC, de
guinada na direção oposta à mudança de rumo. Com esses números forma a que ele seja forçado a mantê-lo em escala reduzida e só se
bem memorizados, o Oficial de Quarto poderá rapidamente executar preocupe com esse detalhe. À noite, ou sob baixa visibilidade,
o sinal e iniciar a guinada antes que a solução final seja obtida. quando esse radar deve ser utilizado na detecção e no
Na busca de soluções, o Oficial de Quarto deve certificar-se acompanhamento de navios para evitar a ocorrência de colisões, essa
de usar o rumo e a velocidade reais do guia necessários a levá-lo à prática pode ser perigosa. Por isso, é aconselhável que o Oficial de
posição determinada. Essa regra é particularmente aplicável quando o Quarto use o estadímetro sempre que possível; ele pode ser utilizado
navio começa a se dirigir para sua posição antes de ser dado o sinal à noite, em condições de boa visibilidade, com luzes de navegação
que altera o rumo, a velocidade, ou ambos, do guia. como alvos. O radar do passadiço também pode ser usado com esse
intuito, aliviando, assim, o do CIC/COC.

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