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MALHADO
EA
ANDORINHA
SINHÁ
Texto de Jorge Amado
*MANHÃ
*VENTO
*TEMPO
*GATO
*ANDORINHA
*VACA
*PAPAGAIO
*CORUJA
*SAPO
*CASCAVEL
*PATA
*ROUXINOL
*GALO
COREOGRAFIA INICIAL
PRIMEIRA CENA
MANHÃ – Ai, que vontade de dormir sem despertador, até não ter
mais sono! (Manhã vai apagando as estrelas e é surpreendida
pelo Vento.).
MANHÃ – É de amor?
VENTO – Está bem: era uma vez, muito antigamente, numa manhã
como essa, e num parque muito bonito, que tudo começou. O vento
soprava nas árvores e as folhas caíam, formando uma linda dança.
(Vento tira Manhã para dançar e continua a contar a história,
num tom baixo, até acabar a dança e a história. A música que
dançam é um tango.).
MANHÃ (Emocionada) – Tadinho dos dois.
MANHÃ – Até.
TEMPO – De amor?
MANHÃ – É...
MANHÃ – Está bem, mas tenho certeza que não irá se arrepender,
Mestre.
TEMPO – Espero.
VACA – Oi, gatinho! (Gato nem bola. Brava.) Sujeito metido. Não
faz nem idéia de que está frente a uma figura respeitada por todos e
com descendência castelhana. Mas ele me paga. (Vaca aproxima-
se.) Un tipo tan chiquito y ya de bigotas!
VACA – E agressivo.
ANDORINHA – Eu pensei...
VACA – Agora, vamos, minha filha, que irei falar com o Reverendo
Papagaio, para realizarmos uma reunião no parque, com os
demais, para alertarmos sobre o gato.
ANDORINHA – Mas...
TERCEIRA CENA
PATA – Dizem que ele matará para comer a mais linda pomba-rola
do pombal, e desde então, certo pombo-correio perdeu a alegria de
viver.
GALO – Sem falar nos ovos que aquele assassino roubara dos
ninhos, para alimentar seu ignóbil corpanzil.
SAPO – Agrediu?
ANDORINHA – Feiíssimo.
QUARTA CENA
Final da Primavera
ROUXINOL – Mas, por via das dúvidas, não quero vê-la perto
daquele bichano feio. Combinado?
CORUJA – Ia tudo bem, mas, aí, certo dia acordei, e havia só uma
carta de despedida, onde dizia que ele havia tido uma conversa
com o Reverendo Papagaio, e tinha entendido tudo.
GATO – Pombogaio?
CORUJA – Dizem que a pomba-correio teve um filho estranho: um
pombo que falava a língua dos homens. Só o pombo-correio,
aquele tolo, não via quem, além do papagaio, falava a língua dos
homens.
CORUJA – Até mais, seu Gato. Devo ir, estou atrasada. (Gato
deita-se e adormece. Luz dando diferença entre dia e noite.
Papagaio entra em cena.).
ANDORINHA – Nunca.
QUINTA CENA
GATO – Bom dia, Sinhá. Que fizeste de ontem para hoje? Hoje
estás ainda mais linda do que ontem, e, mesmo mais linda do que
estavas essa noite, no sonho em que te vi...
GALO – Eu vou logo para casa, e você avisa a todos sobre esse
fato.
SEXTA CENA
Estação do verão
ANDORINHA – Oi...
SÉTIMA CENA
Outono
CASCAVEL – E vou arrumar mais, até você ser expulso por todos.
VACA – Eu sempre falei que esse gato era mau, e que nunca
mudaria.
SAPO - Averiguar o quê? Está tudo bem claro aos nossos olhos.
GALO – Esse gato não tem mais jeito. Temos que tomar uma
providência já.
OITAVA CENA
CORUJA – Não adianta lutar contra isso: é a lei, e tem que ser
respeitada.
CORUJA – Eu sei meu amigo, mas contra a lei não se pode nada.
GATO – Por favor. (Coruja sai e Gato fica só. Começa a escrever
uma poesia para a Andorinha. Pega o livro do Gramático
Tamanduá.) Para minha adorada Andorinha Sinhá:
A Andorinha Sinhá
A Andorinha Sinhá
Oi!
NONA CENA
ANDORINHA – Oi!...
A baratinha Yayá
A baratinha Yoyô
A baratinha bateu asas
E voou.
GALO – Coitadinho.
DÉCIMA CENA
ANDORINHA – Oi!...
ROUXINOL – Sim.
ANDORINHA – Sim.
TODOS – É...
FIM