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Introdução

O presente trabalho foi proposto pela professora de


Português, Eugénia Pinto para a avaliação do módulo 6 – Os Maias,
de Eça de Queirós.
Pretende-se seguir os tópicos sugeridos de forma a conhecer
melhor esta obra tão importante da literatura portuguesa.

I
A Questão Coimbrã e os seus antecedentes históricos

O primeiro sinal da renovação literária e ideológica foi dado na Questão


Coimbrã, onde se defrontaram os defensores do statu quo literário e um grupo
de jovens escritores estudantes em Coimbra, mais ou menos entusiasmados
pelas leituras e correntes estrangeiras.
            O motivo da "Questão" foi aparentemente trivial. O conjunto de
acontecimentos que a rodearam pode resumir-se da seguinte forma:
-» Publicação, em 1862, do poema D. Jaime, de Tomás Ribeiro;
-» A Conversação preambular, escrita, em 11 de Julho de 1862, por António
Feliciano de Castilho, para apadrinhar o poema D. Jaime, ultrapassa todos os
limites, traçando um confronto entre essa obra e Os Lusíadas, considerando-a
uma epopeia superior à epopeia camoniana.
-» Leitura a Castilho dos poemas, até então inéditos, de Antero e Teófilo, que os
acolheu com hiperbólica ironia.
-» Escaramuças jornalísticas entre Pinheiro Chagas, crítico dos «coimbrões», e
Germano Meireles, seu apologeta.
-» Em agosto de 1865, Antero de Quental publica Odes Modernas, influenciado
por escritores e filósofos franceses, afirmando no prefácio que “A poesia é a
voz da Revolução”.
-» Em 27 de setembro de 1865, Castilho (uma espécie de padrinho oficial de
escritores mais novos, tais como Ernesto Biester, Tomás Ribeiro ou Pinheiro
Chagas, à volta do qual se constelou um grupo de admiradores e protegidos
-«escola do elogio mútuo», chamar-lhe-á Antero - em que o academismo e o
formalismo anódino das produções literárias correspondiam à hipocrisia das
relações humanas, e em que toda a audácia tendia a neutralizar-se), em carta
ao editor António Maria Pereira que serve de posfácio ao Poema da Mocidade,
ingénua biografia lírica em quatro cantos, típica do saudosismo ultrarromântico,
escrita por Pinheiro Chagas, aproveita a oportunidade para fazer o elogio deste
escritor, recomendando Pinheiro Chagas ao rei D. Pedro V para a cadeira,
então vaga, de Literaturas Modernas no Curso Superior de Letras, e censurar
um grupo de jovens de Coimbra, acusando-os de exibicionismo livresco, de
obscuridade propositada e de tratarem temas que nada tinham a ver com a
poesia. Os escritores mencionados eram Teófilo Braga, autor dos
poemas Visão dos Tempose Tempestades Sonoras (futuro candidato a essa
cadeira de Literatura); Antero de Quental, que publicara Odes Modernas; e
Vieira de Castro, um jovem e verboso deputado.
-» Antero responde, em novembro de 1865, com um folheto intitulado Bom Senso
e Bom Gosto (as duas virtudes que Castilho negara aos dois academistas).
Nele defendia a independência dos jovens escritores; apontava a gravidade da
missão dos poetas na época de grandes transformações em curso, a
necessidade de eles serem os arautos do pensamento revolucionário e os
representantes do «Ideal»: ridicularizava a futilidade, a insignificância e o
provincianismo da poesia de Castilho. Estava despoletada a Questão
Coimbrão e estavam também lançadas as sementes do Realismo em Portugal.

O cenáculo e as conferências do casino

  Assim designadas por terem decorrido na sala alugada do Casino


Lisbonense, as Conferências do Casino foram uma série de cinco palestras
realizadas em Lisboa, na primavera de 1871, pelo chamado grupo do
Cenáculo, constituído por jovens escritores e intelectuais de vanguarda
(Geração de 70), que passaram a reunir-se em Lisboa depois de concluídos os
seus estudos em Coimbra, restaurando a antiga fraternidade académica
numCenáculo com sede em casa de um deles. Do grupo faziam parte Antero,
Teófilo, João Augusto Machado de Faria e Maia, Manuel de Arriaga, Eça de
Queirós, e mais tarde Jaime Batalha Reis, Oliveira Martins, Ramalho Ortigão,
Adolfo Coelho, Augusto Soromenho, Guilherme Azevedo e Guerra Junqueiro.
            Das discussões do Cenáculo, em que se aliavam a literatura e a
boémia, tinham saído de começo obras de pura ficção, como as últimas Prosas
Bárbaras de Eça de Queirós e os «satânicos» Poemas de Macadam, atribuídos
a um imaginário Carlos Fradique Mendes; a chegada de Antero vem disciplinar
as leituras e os interesses e dar um objetivo mais preciso ao grupo.
            O grande impulsionador das Conferências foi Antero de Quental, que, a
partir de 1871, regressando de viagens a França, América e à ilha de S.
Miguel, logo começara a influir nos gostos e interesses do grupo, iniciando-o na
leitura de Proudhon. A ideia das Conferências surgiu na Casa da Rua dos
Prazeres, onde o Cenáculo reunia então. Antero e Batalha Reis alugaram a
sala do Casino Lisbonense, no largo da Abegoaria, hoje de Rafael Bordalo
Pinheiro. O jornal A Revolução de Setembro encarregou-se da propaganda. A
18 de maio surgiu naquele jornal um manifesto (que já fora distribuído em
prospeto), assinado por doze nomes, onde se indicavam as intenções dos
organizadores das chamadas Conferências Democráticas.

A 4ª Conferência

A 4ª Conferência: «A Literatura Nova ou o Realismo como Nova


Expressão de Arte», a 12 de Junho de 1871, teve como palestrante Eça de
Queirós.

Esta conferência tem também a sua inspiração em Proudhon, no aspeto


programático, e no espírito revolucionário destas Conferências referido
por Antero nas palestras que proferiu.

Eça salientou a necessidade de operar uma revolução na literatura,


semelhante àquela que estava a ter lugar na política, na ciência e na vida
social. A revolução é um facto permanente, porque manifestação concreta da
lei natural de transformação constante, e uma teoria jurídica, pois obedece a
um ideal, a uma ideia. É uma influência claramente proudhoniana. O espírito
revolucionário tem tendência a invadir todas as sociedades modernas,
afirmando-se nas áreas científica, política e social. A revolução constitui uma
forma, um mecanismo, um sistema, que também se preocupa com o princípio
estético. O espírito da revolução procura o verdadeiro na ciência, o justo na
consciência e o belo na arte.

A arte, nas sociedades, encontra-se ligada à seu progresso e decadência,


sendo condicionada por causas permanentes e causas acidentais – ideias que
formam os períodos históricos e determinam os costumes, também
denominadas históricas.

Esta teoria indicia a conciliação da teoria determinista de Taine, com a


influência do meio e do momento histórica na criação artística, e o princípio
moral de Proudhon, que refere o papel social do artista e a utilidade da arte.

A revolução, que inspirara tantos escritores, como Rabelais e Beaumarchais, é


renegada e esquecida pela arte contrarrevolucionária. Faz uma crítica cerrada
ao Romantismo, a Chateaubriand, refere a separação entre o artista e a
sociedade que conduz à arte pela arte e, por fim, anuncia o princípio da reação
salutar que começava a acontecer contra a "impostura oficializada" –
o Realismo, que coincide com o despertar do espírito público.

"Que é, pois, o realismo? É uma base filosófica para todas as concepções do


espírito – uma lei, uma carta de guia, um roteiro do pensamento humano, na
eterna região do belo, do bom e do justo. Assim considerado, o realismo deixa
de ser, como alguns podiam falsamente supor, um simples modo de expor –
minudente, trivial, fotográfico. Isso não é realismo: é o seu falseamento. É o
dar-nos a forma pela essência, o processo pela doutrina. O realismo é bem
outra coisa: é a negação da arte pela arte; é a proscrição do convencional, do
enfático e do piegas. É a abolição da retórica considerada como arte de
promover a comoção usando da inchação do período, da epilepsia da palavra,
da congestão dos tropos. É a análise com o fito na verdade absoluta. Por outro
lado, o realismo é uma reacção contra o romantismo: o romantismo era a
apoteose do sentimento; o realismo é a anatomia do carácter. É a crítica do
homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para nos
conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para
condenar o que houver de mau na nossa sociedade."
Dando uma noção mais concreta, Eça sistematiza:

"1º - O Realismo deve ser perfeitamente do seu tempo, tomar a sua matéria na
vida contemporânea.(...);
2º - O Realismo deve proceder pela experiência, pela fisiologia, ciência dos
temperamentos e dos caracteres;

3º - O Realismo deve ter o ideal moderno que rege a sociedade – isto é: a


justiça e a verdade”

Foca aqui as relações da literatura, da moral e da sociedade. A arte deve visar


um fim moral, auxiliando o desenvolvimento da ideia de justiça nas sociedades.
Fazendo a crítica dos temperamentos e dos costumes, a arte auxilia a ciência e
a consciência. O Realismo conduzirá à regeneração dos costumes.
Concluindo:

"A arte presente atraiçoa a revolução, corrompe os costumes. De tal forma, ou


se há de tornar realista ou irá até à extinção completa pela reação das
consciências. – O modo de a salvar é fundar o realismo, que expõe o
verdadeiro elevado às condições do belo e aspirando ao bem, - pela
condenação do vício e pelo engrandecimento do trabalho e o da virtude”

II

A 25 de Novembro de 1845, nascia na praça do


Almada, na Póvoa do Varzim, José Maria de Eça de
Queirós, filho de José Maria d’Almeida Teixeira de Queirós
(nascido no Rio de Janeiro em 1820) e de Carolina
Augusta Pereira de Eça (nascida em Monção em 1826).

Eça de Queirós foi batizado na Igreja Matriz de Vila


do Conde, como filho natural de José Maria d’Almeida Teixeira de Queirós e de
“mãe incógnita”. Isso acontecia quando mulheres de extratos sociais elevados
davam à luz antes do casamento.

Ao que parece, provavelmente os pais de Eça de Queirós não se tinham


casado antes do nascimento deste visto que, devido à idade, Carolina Augusta
Pereira de Eça precisava do consentimento da sua mãe, já viúva do Coronel
José Pereira de Eça, consentimento esse que esta se negava a dar-lhe pois,
José Queirós era um brasileiro de um extrato social inferior.

Assim, seis dias após a morte da avó de Eça de Queirós, tendo estes
quatro anos na época, e não havendo nada que o impedisse, os seus pais
casaram-se.

Devido a essas contingências, Eça de Queirós foi entregue a uma ama,


aos cuidados de quem ficou até passar para a casa de Verdemilho em Arada,
no distrito de Aveiro, naquela que era a casa da sua avó paterna que em 1855
morreu.

O seu pai tornou-se magistrado, tendo-se formado em Direito, em


Coimbra. Foi ele o juiz instrutor do célebre processo de Camilo Castelo Branco,
sendo também juiz da Relação e do Supremos Tribunal de Lisboa e ainda,
presidente do tribunal do Comércio, deputado por Aveiro, par do Reino e do
Conselho de Sua Majestade e fidalgo Cavaleiro da Casa Real.

Foi ainda escritor e poeta, servindo de alavanca para a carreira que Eça
de Queirós, seu filho, acabaria por fazer.

Após a morte da sua avó paterna, Eça de queirós foi internado no


Colégio da Lapa, no Porto, de onde sairia aos dezasseis anos, em 1861, para
começar a estudar Direito na Universidade de Coimbra. Foi aí que Eça de
Queirós conheceu e se tornou amigo de Antero de Quental.

Inicialmente, Eça publicou os seus trabalhos de forma avulsa na revista


“Gazeta de Portugal”. Mais tarde, estes foram agrupados e publicados, já após
a sua morte, num livro com o tema “Prosas Bárbaras”.

Durante seis semanas, entre 23 de Outubro de 1869 e 3 de Janeiro de


1870, Eça de Queirós viajou para o Oriente, acompanhando o 5º Conde de
Resende, irmão de Emília de Castro, sua futura esposa. Entre outros locais,
estes estiveram presentes num dos acontecimentos mais importantes do Egito
para assistir à inauguração do canal do Suez. Esse fato foi noticiado nos
jornais locais da seguinte forma: “Le Comte de Rezende, grand amiral de
Portugal et chevalier de Queiroz”.

Outro dos locais visitados foi a Palestina. Dessa forma, Eça de Queirós
pode aproveitar as notas de viagem para alguns dos seus trabalhos, sendo os
mais notáveis “O mistério da estrada de Sintra” e “A relíquia”, publicados em
1870 e 1887 respetivamente. No ano de 1871, Eça de Queirós foi um dos
participantes das Conferências do Casino.

Mais tarde, em 1875, quando Eça de Queirós foi despachado como


administrador municipal de Leiria, escreveu a sua primeira novela realista, com
o tema “O Crime do Padre Amaro”.

Depois de entrar na carreira diplomática, os anos mais produtivos de


Eça de Queirós foi passado em Inglaterra, onde serviu como cônsul de
Portugal em Newcastle e em Bristol. Foi em Bristol que ele escreveu aquela
que é talvez a sua obra mais conhecida: “Os Maias”. Depois disso, Eça de
Queirós foi viver para Paris onde escreveu “O Mandarim”.

Eça de Queirós morreu em Paris a 16 de Agosto de 1900, tendo tido


direito a funerais nacionais. O seu corpo foi sepultado em Santa Cruz, no
Douro. Mais tarde, os seus trabalhos acabariam por ser traduzidos em cerca de
vinte línguas.
As categorias do texto narrativo
O contexto ideológico e sociológico e valores e atitudes culturais

A sociedade portuguesa após 1850: a época da Regeneração

A partir de meados do século XIX, Portugal é governado por um


movimento político conhecido pelo nome de Regeneração. Trata-se de um
período que vai de 1851 até à implantação da República, em 1910.

A Regeneração ou o movimento político regenerador divide o século XIX


em 2 partes distintas: separa o período das ideias revolucionárias que
caracterizam a época do chamado 1º Romantismo  (cujos expoentes máximos
na literatura portuguesa foram Alexandre Herculano e Almeida Garrett), época
esta dominada pela instabilidade política, social e económica, da época
seguinte – a Regeneração  – caracterizada pela estabilidade associada ao pré-
industrialismo.

Os políticos regeneradores pretendiam, numa 1ª fase, aproximar


Portugal, país atrasado a todos os níveis relativamente aos restantes países
europeus, do progresso que se fazia sentir “lá fora”; no entanto, essas
tentativas de modernizar o país foram, em geral, malogradas e o progresso
apregoado pelos políticos, mais aparente que real visto que se limitou à
construção de linhas férreas que agora ligavam Portugal à Europa e ao
desenvolvimento dos transportes, em geral.

A verdade é que os políticos regeneradores foram sobretudo


demagógicos na medida em que prometeram uma nova era de «bem-estar
para todos» à burguesia descontente com a lenta evolução das estruturas
económicas da altura, que não passou de miragem devido à elevada corrupção
existente entre os políticos nacionais. Assim, os deputados, divididos em dois
grandes partidos constitucionais, ignoravam comodamente o estado da nação
e, recrutados entre engenheiros, doutores, professores e bacharéis, iludiam o
povo com banalidades porque sabiam argumentar a seu favor e deturpar,
através de um discurso rebuscado, as maiorias iletradas, contribuindo para a
centralização política e administrativa do país.

A nível económico, Portugal estava dependente do empréstimo


estrangeiro, sobretudo inglês, e a riqueza nacional aproveitava mais aos
estrangeiros residentes no país do que aos portugueses. Consequentemente, o
país caiu no marasmo económico, salvando-se apenas a burguesia capitalista.

A nível cultural, o pretenso progresso apregoado pelo movimento


regenerador nada trouxe de novo, proporcionando, assim, a instauração da
mediocridade entre os intelectuais apoiados pelo regime político do governo;
neste clima degradado, o tédio invadia tudo e todos e a grande preocupação
dos portugueses letrados da época era poder imitar o que se fazia no
estrangeiro, sobretudo em França, país do qual Portugal estava dependente
em matéria de moda, cultura e pensamento.

A política levada a cabo pelos regeneradores será alvo de ataques


cerrados por parte de um grupo de jovens intelectuais formados em Coimbra e
que farão parte da célebre Geração de 70, à qual pertenceu Eça de Queirós,
entre outros nomes ilustres das Letras portuguesas.

Características da prosa queirosiana

- uso do gerúndio;
- uso do diminutivo;
- uso da ironia;
- uso da dupla adjetivação;
- uso dos estrageirismos: - anglicismo- inglês
galicismo- francês
- uso do discurso indireto livre (quando o narrador fala ou descreve
acontecimentos e nos percebemos que aquelas palavras saíram da boca de
uma das personagens);
- uso da hipálage: atribui-se características de uma pessoa a objetos que ela
traz "fazia uma malha sonolenta";
- uso do advérbio de modo.

1. A ESTRUTURA
1.1 A ESTRUTURA DA INTRIGA CENTRAL

1- Carlos da Maia vê Maria Eduarda no Hotel Central;

2. - Carlos visita Rosa, a pedido de Miss Sara;


3. - Carlos conhece Maria Eduarda na casa desta;
4. - declaração de Carlos a Maria Eduarda;
5. - consumação do incesto inconsciente;
6. - encontro de Maria Eduarda com Guimarães;
7. - revelações de Guimarães a Ega;
8. - revelações de Ega a Carlos;
9. - revelações de Carlos a Afonso;
10.- consumação do incesto, agora consciente;
11.- encontro de Carlos com Afonso;
12.- morte de Afonso;
13.- revelações a Maria Eduarda;
14.- partida de Maria Eduarda
14.1 OS ANTECEDENTES
Os amores de Pedro da Maia e Maria Monforte condicionam o
desencadeamento da intriga principal. São os amores infelizes de
Pedro e Maria Monforte que levam à separação dos filhos, que
desconhecem a existência um do outro.

Outros antecedentes relevantes são a história de Afonso da Maia e


a infância e juventude de Carlos da Maia.

14.1.1 A EDUCAÇÃO DE CARLOS DA MAIA (dois


sistemas educacionais em confronto)
14.2 OS AMORES

14.3 O DESFECHO TRÁGICO


15. CRÓNICA DE COSTUMES

Ao subtítulo de “Os Mais”, Episódios da Vida Romântica, corresponde a


crónica de costumes. Estes episódios, descritos ao longo da obra, têm
como objectivo fazer o relato da sociedade portuguesa na segunda metade
do século XIX. Eça utiliza um desfile de personagens (personagens tipo)
que representam grupos, classes sociais ou mentalidades por forma a
mostrar aos leitores o estado de corrupção, providencialismo e parasitismo
da sociedade portuguesa, bem como, seus costumes e vícios.

O jantar no Hotel central

Neste jantar, Ega pretende homenagear Cohen, o marido de Raquel, a


quem Ega estava apaixonado e com a qual mantinha uma relação. Em
roda da mesa surgiram assuntos do foro literário e politico que permitem
ter uma noção da situação de Portugal.
Literário: Alencar defende o Ultrarromantismo enquanto que Ega o
Realismo/Naturalismo (mostra uma sociedade dominada por valores
tradicionais, que se opõe a uma nova geração, a geração de 70
representada por Ega). Este defende exageradamente a inserção da
ciência na literatura.

Político: Ega crítica a decadência do país e afirma desejar a bancarrota e


a invasão espanhola.

A maneira de ser português revelada, através das visões de Carlos


(começa por pensar, a propósito da mouraria, que "esse mundo de
fadistas, de faias" merecia um estudo, um romance) e de Craft, que fica
impassível perante a feroz discussão entre Alencar e Ega (a propósito de
um verso "o homem da ideia nova", o paladino do Realismo), discussão
que quase termina em agressão física, reconhecendo que "a torpeza do
Alencar sobre a irmã do outro fazia parte dos costumes de crítica em
Portugal", até porque sabia que "a reconciliação não tardaria, ardente e
com abraços".

Provocando Sousa Neto, Ega percebe que este nada sabe do socialismo e
não é capaz de um diálogo consequente.

A corrida de cavalos

É uma sátira ao desejo de imitar o que se faz no estrangeiro, por um


esforço de cosmopolitismo, e ao provincianismo do acontecimento. As
corridas de cavalos permitem apreciar de forma irónica e caricatural uma
sociedade que vive de aparências.

O comportamento da assistência feminina é naturalmente caricaturado. A


conformidade do vestuário à ocasião parece não ser a melhor e acaba por
traduzir a falta de gosto e, sobretudo, o ridículo de uma situação que se
pretende requintada sem o ser.

As corridas servem, para Eça, criticar a mentalidade e o comportamento da


alta burguesia:
- O aborrecimento, motivado pelo facto das pessoas não revelarem
qualquer interesse pelo evento.

- A desordem, originada pelo jóquei que montava o cavalo "Júpiter" e


que insultava Mendonça, o juiz das corridas, pois considerava ter
perdido injustamente em detrimento do Pinheiro, que montara o
Escocês e que obtivera a vitória por ser íntimo de Mendonça.
Tomava-se partido, havia insultos, até que Vargas resolveu com um
encontrão para os lados desafiar o jóquei – foi, então, que se ouviu
uma série de expressões como "Morra" e "Ordem", se viram chapéus
pelo ar, se ouviam baques surdos de murros.

O jantar na casa do Conde Gouvarinho

O espaço social permite através das falas, observar a gradação dos


valores sociais, o atraso intelectual do país, a mediocridade mental de
algumas figuras da alta burguesia e da aristocracia.

Desfilam perante Carlos as principais figuras e problemas da vida política,


social e cultural da alta sociedade lisboeta: a crítica literária, a literatura, a
história de Portugal, as finanças nacionais, etc. Todos estes problemas
denunciam uma fragilidade moral dessa sociedade que pretendia
apresentar-se como civilizada.

No jantar podemos apreciar duas concepções opostas sobre a educação


das mulheres: salienta-se o facto de ser conveniente que "uma senhora
seja prendada, ainda que as suas capacidades não devam permitir que ela
saiba discutir, com um homem, assuntos de carácter intelectual" (Ega,
provocador, defende que "a mulher devia ter duas prendas: cozinhar bem e
amar bem").

A falta de cultura dos indivíduos que são detentores de cargos que os


inserem na esfera social do poder – Sousa Neto (oficial superior de um
cargo de uma grande repartição do Estado, da Instituição Pública),
desconhece Proudhon, começando por responder a Ega que, provocante,
lhe pergunta a sua opinião sobre o socialista, que não se recorda
textualmente, depois "que Proudhon era um autor de muito nomeada", e
finalmente, perante a insistência de Ega, sintetiza a sua ignorância,
afirmando que não sabia que "esse filósofo tivesse escrito sobre assuntos
escabrosos", como o amor, acrescentando que era seu hábito aceitar
"opiniões alheias, pelo que dispensava as discussões". Posteriormente,
perguntará a Carlos se existe literatura em Inglaterra.

O deslumbramento pelo estrangeiro – Sousa Neto manifesta a sua


curiosidade em relação aos países estrangeiros, interrogando Carlos, o
que revela o aprisionamento cultural de Sousa Neto, confinado ás terras
portuguesas. 

Os Jornais, “A Corneta do Diabo” e “A Tarde”

Critica-se, neste episódio, a decadência do jornalismo português, pois os


jornalistas deixavam-se corromper, motivados por interesse económicos (é
o caso de Palma Cavalão, do Jornal A Corneta do Diabo) ou evidenciam
uma parcialidade comprometedora, originada por motivos políticos (é o
caso de Neves, director do Jornal A Tarde).

A Corneta do Diabo: Carlos dirige-se, com Ega, a este jornal, que


publicara uma carta, escrita por Dâmaso Salcede, insultando e expondo,
em termos degradantes, a sua relação amorosa com Maria Eduarda.
Palma Cavalão revela o nome do autor da carta e mostra aos dois amigos
o original, escrito pela letra de Dâmaso Salcede, a troco de "cem mil réis"

A Tarde: Neves, o director do jornal, acede a publicar a carta em que


Dâmaso Salcede se confessa embriagado ao redigir a carta insultuosa,
mencionando a relação de Carlos e de Maria Eduarda, por concluir que,
afinal, não se tratava do seu amigo político Dâmaso Guedes, o que o teria
levado a rejeitar a publicação.

O sarau do Teatro da Trindade

Evidencia-se o gosto dos portugueses, dominados por valores caducos,


enraizados num sentimentalismo educacional e social ultrapassados. Total
ausência de espírito crítico e analítico da alta burguesia e da aristocracia
nacionais e a sua falta de cultura.
Rufino, o orador “sublime”, que pregava a “caridade” e o “progresso”,
representa a orientação mental daqueles que o ouviam: a sua retórica
vazia e impregnada de artificialismos barrocos e ultra-românticos traduz a
sensibilidade literária da época, o seu enaltecimento á nação e à família.

Cruges, que tocou Beethoven, representa aqueles que, em Portugal, se


distinguiam pelo verdadeiro amor à arte e que, tocando a Sonata patética,
surgiu como alvo de risos mal disfarçados, depois de a marquesa dizer que
se tratava da Sonata Pateta, o que o tornaria o fiasco da noite.

Alencar declamou “A Democracia”, depois de “um maganão gordo”


lamentar que nós Portugueses, não aproveitássemos “herança dos nossos
avós”, revelando um patriotismo convincente. O poeta aliava, agora,
poesia, e política, numa encenação exuberante, que traduzia a sua
emoção pelo facto de ter ouvido “uma voz saída do fundo dos séculos” e
que o levava a querer a República, essa ”aurora” (e os aplausos foram
numerosos) que viria com Deus.

 
Conclusão

Depois de concluído este trabalho, posso afirmar que aprendi muito sobre os Maias e
que tenho curiosidade em aprofundar mais os meus conhecimentos da obra.

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