Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Unidade 3 - Ficha de Avaliacao Formativa 1
Unidade 3 - Ficha de Avaliacao Formativa 1
GRUPO I
— Sois letrado, reverendo padre: deveis ter visto algum traslado 1 da Divina comédia do florentino
Dante.
— Li já, e mais de uma vez — respondeu o prior. — É obra-prima daquelas a que os gregos
chamavam epos2, id est, enarratio, et actio3, segundo Aristóteles; e se não houvesse nessa escritura
5 algumas ousadias contra o papa…
— Pois sabei, reverendo padre — prosseguiu o arquiteto, atalhando o ímpeto erudito do prior — que
este mosteiro que se ergue diante de nós era a minha Divina comédia, o cântico da minha alma: concebi-o
eu; viveu comigo largos anos, em sonhos e em vigília: cada coluna, cada mainel, cada fresta, cada arco era
uma página de canção imensa; mas canção que cumpria se escrevesse em mármore, porque só o mármore
10 era digno dela. Os milhares de lavores 4 que tracei em meu desenho eram milhares de versos; e porque
ceguei arrancaram-me das mãos o livro, e nas páginas em branco mandaram escrever um estrangeiro!
Loucos! Se os olhos corporais estavam mortos, não o estavam os do espírito. O estranho a quem deram
meu cargo não me entendia, e ainda hoje estes dedos descobriram nessa pedra que o meu alento não a
bafejara. Que direito tinha o Mestre de Avis para sulcar com um golpe do seu montante a face de um
15 arcanjo que eu crera? Que direito tinha para me espremer o coração debaixo dos seus sapatos de ferro?
Dava-lhe o ouro que tem despendido? O ouro!… Não! O Mestre de Avis sabe que o ouro é vil; só é nobre
e puro o génio do homem. Enganaram-no: vassalos houve em Portugal, que enganaram seu rei! Este edi-
fício era meu; porque o gerei; porque o alimentei com a substância de minha alma; porque eu necessitava
de me converter todo nestas pedras pouco a pouco, e de deixar, morrendo, o meu nome a sussurrar
20 perpetuamente por essas colunas, e por baixo dessas arcarias. E roubaram-me o filho da minha imaginação,
dando-me uma tença!…5 Com uma tença paga-se a glória e a imortalidade? Agradeço-vos, senhor rei,
a mercê!… Sois em verdade generoso… mas o nome de mestre Ouguet enredar-se-á no meu, ou, talvez,
sumirá este no brilho de sua fama mentida…
Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
1. Explique em que medida a suposição acerca dos conhecimentos do «reverendo padre» (linha 1)
prepara a apresentação dos argumentos do arquiteto.
3. Identifique o recurso de estilo presente em «Com uma tença paga-se a glória e a imortalidade?»
(linha 22) e comente o seu valor expressivo.
D. Dinis
Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
2. Descreva o estado de espírito do sujeito poético e exponha os motivos desse estado de alma.
Ilustre a sua resposta com citações pertinentes.
Fernão Lopes excede a craveira1 de um cronista à maneira medieval. Se é verdade que parte da sua
obra faz a compilação2 de memórias anteriores, também é verdade que outra parte já resulta de uma inves-
tigação original e crítica. Isto representa um grande avanço sobre a historiografia 3 medieval, nomeadamente
sobre a francesa, que não passa de uma reportagem baseada em recordações pessoais ou relatos de teste-
5 munhas. Como guarda-mor da Torre do Tombo, Fernão Lopes tinha ao seu alcance os arquivos do Estado,
circunstância de que soube fazer uso, transcrevendo, resumindo e aproveitando a correspondência diplo-
mática, os diplomas legais, os capítulos das Cortes, e outra documentação, que ainda enriqueceu, exami-
nando, fora da Torre do Tombo, os cartórios das igrejas e lápides de sepulturas. Com este material foi-lhe
possível fazer a crítica e a correção das memórias existentes, segundo um método que se assemelha ao de
10 dois a três séculos mais tarde. Sempre que uma tradição ou uma memória é desmentida pelos documentos,
Fernão Lopes rejeita-a; e, avançando nesse caminho, declara submeter a uma revisão metódica todos os
relatos que lhe chegavam às mãos, notando as suas contradições e inverosimilhanças, 4 e decidindo-se,
à falta de documento, pela versão que julga «mais chegada à razão». Até hoje não foi possível desmentir,
em nada de importante, a informação desta obra sob o ponto de vista documental, e as polémicas que se
15 travaram sobre o valor histórico de Fernão Lopes, quando acusado de denegrir a figura de D. Pedro ou de
caluniar os inimigos de D. João I, nomeadamente D. Leonor Teles, só têm levado a confirmar o escrúpulo 5
do cronista de se estribar em documentos autênticos, embora sem as transcrições explícitas que apenas
principiarão a impor-se dois séculos mais tarde.
O primeiro cronista português pode, assim, ser chamado também com justiça o primeiro, em data,
20 dos historiadores portugueses, isto é, o primeiro que, não se limitando a compilar, se informa nas fontes
documentais, submetendo a tradição a uma análise crítica.
1. Para responder a cada um dos itens, de 1.1 a 1.6, selecione a opção correta. Escreva, na folha de
respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.
GRUPO III
Escreva um texto expositivo em que mostre que o patriotismo está presente em vários momentos da
narrativa «A abóbada».
Construa um texto bem estruturado, com introdução, desenvolvimento e conclusão, e que tenha um mínimo
de cento e trinta (130) e um máximo de cento e setenta (170) palavras.