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Departamento de Clínicas
Tema:
____________________________________
Bijorca Elisa João Nhanala
i
Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
Dedicatória
Dedico este trabalho aos meus pais, João Alberto Nhanala e Sandra Castigo Falcão.
Aos meus irmãos: Djot Nhanala, Adriano Nhanala, Valdete Nhanala, João Nhanala Jr., Célia
Nhanala e Uwanga Nhanala.
E a mim.
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
Agradecimentos
Em primeiro lugar agradeço a Deus, por ter iluminado meu caminho todos os dias da minha
vida, principalmente durante esta jornada, por doptar-me de saúde, amor, simplicidade,
protecção.
Em segundo lugar aos meus familiares, em especial aos meus pais, irmãos pelo amor
incondicional, por me incutirem a importância da aprendizagem e do desenvolvimento
académico, e por serem os impulsionadores da minha educação, pois sem eles não teria
chegado a este ponto.
À minha supervisora, Profa Doutora Otília Rafael Bata Bambo, pela disponibilidade, supervisão,
apoio ao desenvolvimento deste tema, pela paciência e por ser uma mãe para mim. Aos meus
Co-Supervisores Professor Dr. José Manuel da Mota Cardoso e Doutora Gaby Monteiro pela
disponibilidade e transmissão de conhecimento que permitiram a realização deste trabalho.
Ao Dr. Sérgio Oliveira, proprietário da Clínica VAL, por ter proporcionado a oportunidade de
estagiar na sua clínica e pelos ensinamentos transmitidos.
Aos professores da Faculdade de Veterinária no geral, em especial ao Sector de Medicina
Interna e Patologia Animal, pelos ensinamentos, disponibilidade e profissionalismo.
Aos médicos do Hospital Escolar Veterinário: Dr. Dimande, Dra. Cesaltina, Dra. Mónica, Dr.
Milton, Dra. Denise e Dra. Narcisa.
Aos médicos da Clínica VAL: Dra. Emy, Dra. Mónica Paes, Dra. Salma, Dra. Helga e Dra.
Mafalda pelos ensinamentos e ajuda.
Aos técnicos do Hospital Escolar Veterinário e da Clínica VAL pela recepcção, comodidade,
pelos ensinamentos e pelos momentos de diversão e descontração.
Ao grupo de estagiários que me acompanhou, por toda a ajuda prestada, pela amizade e pelo
trabalho de equipa.
Aos meus amigos, especialmente: Leucina António, Jescka Aleixo, Velosa Monis, Inácio David
e Ercílio Bila.
Aos meus colegas que me acompanharam ao longo do curso, e que tornaram estes 5 anos
memoráveis, especialmente: Dércia, Hagnésio, Augusto, Michele, Edmilson e Paula.
A todos que colaboraram directa ou indirectamente e que por um equívoco não foram citados,
mas que tiveram importância na realização deste trabalho o meu mas sincero obrigado.
A todos os animais que deram entrada no HEV e Clínica VAL, pois sem eles não teria adquirido
todo o conhecimento e prática.
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
Lista de abreviaturas, siglas e símbolos
Abreviaturas e Siglas
ALB – Albumina;
ALT - Alanina aminotransferase;
AST - Aspartato aminotransferase;
Av. - Avenida;
Dr. - Doutor;
Dra. - Doutora;
EDTA - Ácido Etilenodiamino Tetra-Acético;
et al. - E colaboradores;
FA - Fosfatase Alcalina;
FAVET - Faculdade de Veterinária;
FIV/FeLV – Vírus de Imunodeficiência Felina/Leucemia Felina;
fL – Femtolitro;
GGT - Gama Glutamiltranspeptidase;
g/L - Grama por litro;
HCT – Hematócrito;
HE – Hematoxilina e Eosina;
HEV - Hospital Escolar Veterinário;
HGB – Hemoglobina
I-MBG – Meta-iodo-benzil-guanidina;
Km - Quilómetro;
L1 - Primeira vértebra lombar;
L2 - Segunda vértebra lombar;
MAO – Monoamina Oxidase;
MCH - Hemoglobina Corpuscular Média;
MCHC - Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média;
MCV - Volume Corpuscular Médio;
mg/Kg - miligramas por quilo;
mL – Mililitro;
PAAF - Punção aspirativa por agulha fina;
Pg - Picograma;
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PNMT - Feniletanolamina N-metiltransferase;
Profa. - Professora;
Prof. - Professor;
RM - Ressonância Magnética;
SAP - Secção de Anatomia Patológica;
SRD - Sem Raça Determinada;
TAC - Tomografia Axial Computadorizada
TP - Tempo de protrombina;
TVTC - Tumor Venéreo Transmissível Canino;
UEM - Universidade Eduardo Mondlane;
U/L - Unidades por Litro;
VAL - Veterinários Associados Lda;.
WBC - Células Brancas do Sangue;
Simbolos
% - Percentagem;
® - Marca registada;
> - Maior;
< - Menor.
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
Lista de figuras
Lista de gráficos
Gráfico 1. Resumo das actividades mais realizadas em cães durante o período de estágio no
HEV.............................................................................................................................................. 7
Gráfico 2. Resumo das actividades mais realizadas em cães durante o período de estágio na
clínica VAL.................................................................................................................................... 8
Gráfico 3. Resumo das actividades realizadas em gatos durante o período de estágio no HEV 8
Gráfico 4. Resumo das actividades realizadas em gatos durante o período de estágio na
clínica VAL.................................................................................................................................... 9
Gráfico 5. Cirurgias realizadas em cães durante o período de estágio no HEV.......................... 9
Gráfico 6. Cirurgias realizadas em cães durante o período de estágio na clínica VAL..............10
Gráfico 7. Cirurgias acompanhadas em gatos durante o período de estágio no HEV...............10
Gráfico 8. Exames complementares de diagnósticos realizados durante o período de estágio
no HEV........................................................................................................................................ 11
Gráfico 9. Exames complementares de diagnósticos realizados durante o período de estágio
na clínica VAL..............................................................................................................................11
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
Lista de pranchas
Prancha 1. a. Glândula adrenal esquerda normal a objectiva de 4X; b. Hiperplasia da medula
adrenal direita. c. Medula adrenal normal (esquerda) com células cromafins redondas,
citoplasma abundante eosinofílico e núcleo central hipercrómico a objectiva de 40X; d. Medula
adrenal anormal (direita) com células cromafins redondas com núcleo central hipercrómico,
citoplasma abundante eosinofílico e células em divisão celular. Coloração HE.......................32
Prancha 2. a. Edema pulmonar; focos múltiplos de diferentes tamanhos com células
neoplásicas a objectiva de 4X; b. Pulmão com células redondas, núcleo redondo central
hipercrómico, citoplasma abundante eosinofílico (característica semelhante às da medula
adrenal) objectiva de 40X: c. Fígado: Hemorragia difusa no parênquima hepático, foco de
células similares às observadas na medula adrenal, pulmão, e massas mediastinais e lombares
(L1-L2) objectiva de 4X; d. Figado com células similares às observadas na medula adrenal,
pulmão, e massas mediastinais e lombares (L1-L2) e degenerescência hidrópica a objectiva de
20X. Coloração HE................................................................................................................... 33
Prancha 3. a. Massas metastáticas: proliferação de tecido conjuntivo com aspecto de ilhas
(Objectiva de 4X); b. Foram observadas células similares as da medula adrenal direita objectiva
de 20X. Coloração HE.............................................................................................................. 34
Lista de tabelas
Tabela 1 - Principais patologias que afectam as adrenais.........................................................14
Tabela 2. Classificação do feocromocitoma (Bohannon e Mauldin, 2001; Queiroz et al., 2017)17
Tabela 3. Manifestações clínicas de acordo com o excesso de catecolaminas em cães com
feocromocitoma......................................................................................................................... 18
Tabela 4. Manifestações clínicas de acordo com o efeito de massa, invasão local e metástases
em cães com feocromocitoma...................................................................................................18
Tabela 5. Resumo dos principais meios utilizados para o diagnóstico do feocromocitoma.......20
Tabela 6. Patologias a ter em conta no diagnóstico diferencial do feocromocitoma em cães e
humanos.................................................................................................................................... 21
Tabela 7. Resultado do exame hematológico............................................................................24
Tabela 8. Resultado do exame bioquímico...............................................................................25
Tabela 9. Patologias que foram tidas em conta durante o diagnóstico......................................28
Tabela 10. Lesões macroscópicas observadas durante a necrópsia........................................31
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Índice
1. Introdução............................................................................................................................ 2
2. Objectivos:............................................................................................................................ 5
4. Resultados........................................................................................................................ 7
4.1. Estágio.............................................................................................................................. 7
5. Revisão bibliográfica........................................................................................................... 12
5.3. Feocromocitoma............................................................................................................. 14
5.3.1. Características.....................................................................................................14
5.3.2. Etiologia............................................................................................................... 15
5.3.3. Fisiopatologia.......................................................................................................15
5.3.4. Classificação........................................................................................................ 16
5.3.5. Epidemiologia.......................................................................................................17
5.3.7. Diagnóstico........................................................................................................... 19
5.3.9. Tratamento........................................................................................................... 21
5.3.10. Prognóstico.......................................................................................................22
7. Exames complementares...................................................................................................24
8. Diagnóstico diferencial........................................................................................................28
9. Exame post-mortem/Necrópsia..........................................................................................29
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
10. Histopatologia................................................................................................................. 32
13. Discussão....................................................................................................................... 35
14. Conclusões..................................................................................................................... 39
15. Recomendações............................................................................................................. 40
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
I. Resumo
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
Parte 1. Relatório do estágio pré-profissional no Hospital Escolar
Veterinário (HEV) e na clínica privada Veterinários Associados Lda. (VAL)
1. Introdução
O estágio é uma forma de complementar, desenvolver e aperfeiçoar as competências do saber
fazer e saber estar, interligar a teoria com a prática, de modo a permitir a integração em novas
áreas ocupacionais no domínio da formação profissional ou académica. Por outro lado, permite
a troca de experiências e conhecimento dos obstáculos que o recém graduado enfrentará no
dia-a-dia da sua profissão. O estágio supervisionado foi realizado no Hospital Escolar
Veterinário (HEV) da Faculdade de Veterinária (FAVET) da UEM, com a supervisão da Profa.
Doutora Otília Rafael Bata Bambo e na Clínica privada VAL pelo Professor Dr. José Manuel da
Mota Cardoso, nas áreas de cirurgia, laboratório clínico e clínica médica de pequenos animais,
no período de três meses. Na Secção de Anatomia Patológica (SAP) foi supervisionado pela
Doutora Gaby Ermelindo Roberto Monteiro.
A descrição que segue resume as actividades acompanhadas e realizadas durante o estágio
pré-profissional que teve uma duração de 3 meses (1 de Abril a 30 de Junho 2019).
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
com dois gabinetes clínicos; Um anfiteatro para aulas; Um refeitório com uma pequena cozinha
e uma lavandaria do complexo clínico-cirúrgico. Também existem os serviços de Consulta
Externa e instalações anexas, localizado na Av. Emília Daússe, número 1695, composta por
um gabinete de administração, uma sala de consultas, um gabinete para o clínico em serviço,
um laboratório, uma enfermaria e sala de enfermeiros (Santos, 2003).
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Figura 2. Vista frontal da clínica VAL
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
2. Objectivos:
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3. Descrição das actividades realizadas durante o estágio
O estágio foi realizado em dois locais nomeadamente: HEV e VAL e obedeceu ao seguinte
horário: das 8 às 12 horas no HEV (consultas de urgência) e das 14:30 às 16:30 na Consulta
Externa de segunda à sexta e aos sábados das 8:00 às 12:00 na Consulta Externa. E na clínica
VAL as actividades foram realizadas em dias alternados (segundas, quartas e sextas) no
horário das 14:30 às 18:30.
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
4. Resultados
4.1. Estágio
As consultas com maior assistência no HEV e clínica VAL foram as de medicina preventiva e
gastroenterologia em canídeos e felídeos conforme os gráficos 1, 2, 3 e 4.
No âmbito cirúrgico, as intervenções mais realizadas em cães e gatos foram ao nível do
sistema reprodutor (vide gráficos 5, 6 e 7).
HEV
Ortopedia
5% 3% 3% Sistema reprodutor
Oncologia
2% 5%
2% Dermatologia
Sistema digestivo/gastroen-
terologia
20
% Medicina preventiva
Nutrição
60% Outros: corte de unha, banho
estetico
Gráfico 1. Resumo das actividades mais realizadas em cães durante o período de estágio no
HEV.
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
VAL
1 Dermatologia
4% 4 Sistema digestivo/gastroen-
24% % terologia
Medicina preventiva
Nutrição
12% Aparelho auditivo
Outros: corte de unha, banho
5% 41% estetico
Gráfico 2. Resumo das actividades mais realizadas em cães durante o período de estágio na
clínica VAL
HEV
Ortopedia
9% 9% Sistema digestivo/gastroen-
9% terologia
Uronefrologia
27% Medicina preventiva
Nutrição
36% Outras: Corte de unha, banho
9% estetico
Gráfico 3. Resumo das actividades realizadas em gatos durante o período de estágio no HEV
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
VAL
Ortopedia
11% Sistema digestivo/gastroen-
4% 4% terologia
Uronefrologia
22% Medicina preventiva
22%
Nutrição
Outras: Corte de unha, banho es-
tetico
11% 4% Dermatologia
Aparelho auditivo
22%
HEV
6%
12% Ovariohisterectomia
Drenagem de abcesso
12% 47% Oftalmologia
Oto-hematoma
Ortopedia
24%
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
VAL
29% Ovariohisterectomia
43% Gastrotomia
Drenagem de Abcessos
Oftalmologia
14%
14%
HEV
22%
Ovariohisterectomia
Orquidectomia
78%
Nota: Na Clínica VAL não acomponhou-se nenhuma cirurgia em gatos, pois muitas delas
aconteciam no período de manhã (sendo que o estágio decorria no período da tarde).
Dos exames complementares, os mais realizados foram a hematologia e coprologia no HEV
(gráfico 8); hematologia e ultrassonografia na clínica VAL (gráfico 9). Na hematologia os
resultados encontrados indicavram maioritariamente anemia e leucocitose. Quanto aos
exames coprológicos foram visualizados maioritariamente ovos de ancylostoma, toxocara e
coccidia.
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
O teste rápido mais realizado em felinos foi de FIV/FeLV.
HEV
3% 5%
1%
1% Ultrassonografia
Raio-X
Hemograma
Coprologia
46% 45% Urinálise
Liquido orgânico
VAL
6% Ultrassonografia
Raio-X
8% 2% 23% Hemograma
9% Coprologia
Urinálise
15% Liquido orgânico
Testes rápidos
38%
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
Parte 2. Caso estudo: Feocromocitoma canino disseminado
5. Revisão bibliográfica
A glândula adrenal é constituída por uma cápsula e duas camadas: a cortical (na periferia) e a
medular (no centro), sendo que a parte medular representa 10 a 20% da glândula e a cortical
80 a 90% (Silva, 2005; Fonseca, 2016).
A camada cortical divide-se em três zonas celulares distintas que são: zona glomerular (25%
do córtex), zona fasciculada (60%) e zona reticular (15%). Estas três zonas controlam a
produção de hormonas esteroidais derivadas do colesterol. Na zona glomerular ocorre a
produção de mineralocorticoides (aldosterona), na fasciculada de glicocorticoides (cortisol e
corticosterona) e na zona reticular são produzidas as hormonas sexuais ou esteróides
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
androgénicos (estrogénio, progesterona e andrógenos). Na camada medular são produzidas as
catecolaminas: dopamina, adrenalina e noradrenalina (Silva, 2005; Tochetto, 2015).
Grande número das células cromafins encontra-se na medula adrenal, porém podem estar
presentes nos gânglios simpáticos do sistema nervoso autónomo, cérebro, epitélio intestinal,
pele, junto à aorta e nas três camadas do córtex e cápsula da glândula (células cromafins
extra-adrenais com características morfológicas e funcionais semelhantes às células cromafins
presentes na medula adrenal) (Fonseca, 2016).
As principais alterações/doenças que afectam as adrenais encontram-se resumidas na tabela 1
(Tochetto, 2015).
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
Tabela 1 - Principais patologias que afectam as adrenais
Clínica
Desenvolvimento Degenerativa Inflamatória Circulatória Proliferativa Neoplasica Adrenocorticismo
5.3. Feocromocitoma
5.3.1. Características
O feocromocitoma é uma neoplasia neuroectodérmica rara, das células cromafins
(feocromócitos) da medula adrenal, que biossintetizam, armazenam, metabolizam e secretam
altas concentrações de catecolaminas (adrenalina, noradrenalina) e seus metabólitos ( Paturle
e Silva, 2002; Ângelo e Paiva, 2008; Thangapandiyan et al., 2014; Reusch, 2016; Pires, 2017).
Em humanos, a catecolamina produzida é a noradrenalina, mais do que a adrenalina ou
mistura de ambas, facto observado em cães (Bohannon e Mauldin, 2001; Manger, 2006;
Reusch, 2016).
Embora descrito em diversos animais domésticos e em humanos, é uma neoplasia bastante
rara, e pode ocorrer associada normalmente a outras doenças como hiperadrenocorticismo,
diabetes mellitus e outras neoplasias, o que torna difícíl o seu diagnóstico presuntivo (Paturle e
Silva, 2002; Couto e Nelson, 2006; Palm et al., 2006; Coelho et al., 2011; Pöppl, 2017). O
termo feocromocitoma deriva do grego: phaios (escuro), chroma (cor) e cytoma (tumor)
(Fonseca, 2016).
Grande parte dos casos de feocromocitomas em animais é identificada de forma acidental
durante a cirurgia ou exame post-mortem, pois os sinais clínicos são pouco específicos, visto
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
que os feocromocitomas funcionais são raros em animais, ao contrário do que é observado em
humanos (Bohannon e Mauldin, 2001; Carvalho et al., 2004; Couto e Nelson, 2006; Ângelo e
Paiva, 2008).
Em humanos, a maioria dos feocromocitomas são benignos, a taxa de malignidade varia de 5 a
35% e, em cães é mais de 50% (Fonseca, 2016).
Em cães, os sinais são: perda de peso, anorexia, taquipneia, letargia, depressão e colapso, e
em humana hipertensão sistémica, que leva a cefaleia, palpitações e sudorese (Coles, 1986;
Gilson et al., 1994; Thangapandiyan et al., 2014)
Ocorre como tumor solitário, com tamanho variável, unilateral (10% bilateral), multilobulados,
firmes e encapsulados, com coloração variável de castanho claro a amarelo e rosa ou
vermelho, devido à necrose e áreas hemorrágicas (Bohannon e Mauldin, 2001; Couto e Nelson,
2006; Ângelo e Paiva, 2008; Coelho et al., 2011; Queiroz et al., 2017).
5.3.2. Etiologia
Este tumor geralmente é benigno, sendo considerado maligno nas seguintes condições (Couto
e Nelson, 2006; Palm et al., 2006; Queiroz et al., 2017):
i) Massa de diâmetro superior a dois centímetros;
ii) Metástase para as células não-cromafins (linfonodos regionais, baço, rim, pâncreas,
peritoneu, pulmão, coração, coluna vertebral, ossos e cérebro);
iii) Compressão de órgãos adjacentes;
iv) Compressão e invasão de vasos adjacentes (veia cava, artéria/veia frénica-
abdominal, artéria/veia adrenal, a aorta, artéria/veia renal e veia hepática).
5.3.3. Fisiopatologia
A adrenalina e a noradrenalina são as catecolaminas mais secretadas pela medula adrenal,
sendo que a dopamina é produzida em menor quantidade. Devido à falta de inervação, a
secreção de catecolaminas nos feocromocitomas funcionais geralmente é paroxística
(momento de intensificação de secreção de catecolaminas) devido a alterações no fluxo
sanguíneo, produtos químicos ou fármacos ou pressão directa sobre o tumor (palpação
abdominal) (Bohannon e Mauldin, 2001; Queiroz et al., 2017).
A síntese de adrenalina e de noradrenalina inicia com a hidroxilação da tirosina em dopa,
passo limitante na taxa da síntese de catecolaminas. A noradrenalina é a hormona responsável
pela inibição da acção da tirosina hidroxilase (Bohannon e Mauldin, 2001; Fonseca, 2016). Em
casos de feocromocitoma não se verifica o feedback negativo pela noradrenalina. Este facto
15
Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
deve-se ao incremento da actividade da tirosina hidroxilase ou à rápida metabolização da
noradrenalina, interferindo negativamente na concentração da hormona. Desta forma, os níveis
desta hormona serão insuficientes para garantir o feedback negativo (Bohannon e Mauldin,
2001; Fonseca, 2016).
De acordo com Capen (2002), a noradrenalina é a principal catecolamina encontrada nos
feocromocitomas em cães, devido à baixa concentração da enzima feniletanolamina N-
metiltransferase (PNMT) quando comparado com a medula adrenal normal. As catecolaminas
secretadas exercem seus efeitos fisiológicos interagindo com receptores (α e β) nos tecidos-
alvo (Bohannon e Mauldin, 2001; Fonseca, 2016).
Os tumores não funcionais também podem produzir sinais clínicos devido à compressão e
invasão de órgãos e vasos adjacentes. Possui como complicações secundárias: trombose da
veia caudal, tromboembolismo aórtico, ruptura espontânea do tumor, paresia secundária à
compressão da medula espinhal, arritmias, hipertrofia cardíaca ou hipertensão sistémica. Cerca
de 15-38 % dos feocromocitomas invadem a veia cava caudal, causando ascite, edema de
membros posteriores ou distensão das veias epigástricas caudais (Fonseca, 2016; Queiroz et
al., 2017).
5.3.4. Classificação
Os feocromocitomas podem ser classificados de acordo com a sua funcionalidade, localização
e grau de malignidade (tabela 2).
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
Tabela 2. Classificação do feocromocitoma (Bohannon e Mauldin, 2001; Queiroz et al., 2017)
Critérios
Funcionalidade Localização Malignidade
Funcional: catecolaminas Unilteral: uma adrenal Benigno: sem metástase, <2 cm
Não funcional: sem catecolaminas Bilateral: ambas adrenais Maligno: metástase, >2 cm
5.3.5. Epidemiologia
O feocromocitoma é frequente em humanos, cães e raro em gatos, ratos, bovinos, ovelhas e
cavalos (Coles, 1986; Malachias, 2002; Ângelo e Paiva, 2008; Thangapandiyan et al., 2014;
Queiroz et al., 2017). Na espécie canina, este tumor representa cerca de 0,01 a 0,13 % em
relação os tumores que afectam esta espécie (Carvalho et al., 2004; Coelho et al., 2011).
Ocorre em animais com idade compreendida entre 1 a 18 anos, sendo mais frequente em cães
geriátricos (10 a 11 anos), sem predisposição por raça ou sexo (Palm et al., 2006; Seixas e
Alho, 2013; Fonseca, 2016; Queiroz et al., 2017). Embora alguns autores não descrevam a
predileção racial, as raças Poodle miniatura, Pastor alemão, Boxer, Golden Retriever, Labrador
Retriever, Pinscher e cães sem raça definida (SRD) são descritas como as que apresentam
maior predisposição (Carvalho et al., 2004; Pöppl, 2017; Queiroz et al., 2017). Em animais com
distúrbios metabólicos, como o hiperadrenocorticismo, algumas células cromafins da medula
adrenal são expostas excessivamente ao sangue venoso da cortical, estimulando a síntese de
catecolaminas e promovendo a hiperplasia ou neoplasia da medula adrenal (Queiroz et al.,
2017). Em humanos, 20-30% dos feocromocitomas são considerados hereditários (Palm et al.,
2006; Reusch, 2016).
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
Tabela 3. Manifestações clínicas de acordo com o excesso de catecolaminas em cães com
feocromocitoma
Tabela 4. Manifestações clínicas de acordo com o efeito de massa, invasão local e metástases
em cães com feocromocitoma
Sinais clínicos
Metástases
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
5.3.7. Diagnóstico
O diagnóstico de feocromocitoma divide-se em três etapas (Pereira et al., 2004; Fonseca,
2016):
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
Tabela 5. Resumo dos principais meios utilizados para o diagnóstico do feocromocitoma
Método Vantagem Desvantagem
Método propedêutico
Ultrassonografia Não é rotineiro
Disponibilidade e praticabilidade
Tomografia Não é rotineiro
Axial Indisponível
Detecção de tumor adrenal
Computadorizada Custo elevado
(TAC)
Ressonância Detecção de tumores extra-adrenais Não é rotineiro
Magnética (intra-cardíacos). Indisponível
(RM) Realização em gestantes Custo elevado
Não é rotineiro
Tumores extra-adrenais e metástases Limitação: alergia
Cintigrafia contraste
Detecção de tumores (< 2cm)
Custo elevado
Outros
Testes
Supressão com clonidina, estímulo com glucagon e metoclopramida.
funcionais Uso limitado em cães, inacessível e custo elevado
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
Tabela 6. Patologias a ter em conta no diagnóstico diferencial do feocromocitoma em cães e
humanos.
Hipertensão arterial
(inibidores do MAO)
Hiperadrenocorticismo
Tumor Adrenocortical
Neuroblastoma
Ganglioneuroblastoma
Quistos renais
Hiperplasias nodulares
5.3.9. Tratamento
i. Cirúrgico
A técnica cirúrgica consiste na adrenalectomia da glândula afectada e retirada total de todos os
focos de tecido tumoral, em casos de localização extra-adrenal, constitui o único tratamento
definitivo do feocromocitoma (Birchard et al., 1994; Couto e Nelson, 2006; Fonseca, 2016;
Queiroz et al., 2017). Para o tratamento cirúrgico é necessário o conhecimento dos fármacos
hipotensores adequados para uso nos períodos pré e intra-operatório, pois o controlo
hemodinâmico é importante para um bom prognóstico (Fonseca, 2016).
A fenoxibenzamina é um antagonista α-adrenérgico, não-selectivo e não-competitivo. Este
fármaco não bloqueia a síntese de catecolaminas, mas sim a resposta α-adrenérgica das
catecolaminas circulantes. Tem as seguintes funções: corrige a vasoconstrição crónica, auxilia
na expansão do volume sanguíneo e controlo da pressão arterial (Fonseca, 2016).
O hipotensor mais utilizado é a fenoxibenzamina uma a duas semanas antes da cirurgia até
atingir a normotensão (dose inicial em cães, é de 0,25 mg/kg, devendo ser aumentada
gradualmente, a cada dois ou três dias até um máximo de 2,5 mg/kg, duas vezes por dia)
(Birchard et al., 1994; Couto e Nelson, 2006; Fonseca, 2016; Queiroz et al., 2017).
21
Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
Para o tratamento da taquicardia ou taquiarritmia que podem ocorrer durante o período pré-
cirúrgico, pode usar-se o propanolol que é antagonista β-adrenérgicos (Fonseca, 2016).
Deve-se ter especial atenção durante o procedimento cirúrgico devido à instabilidade
hemodinâmica provocada por este tumor (Marcasso et al., 2011). Neste período, são descritas
outras complicações tais como: hipertensão, taquicardia grave; arritmias cardíacas,
hemorragias, hipotensão (Fonseca, 2016).
5.3.10. Prognóstico
Tumores passíveis de excisão cirúrgica apresentam prognóstico que varia de bom à reservado,
devido à alta taxa de morbilidade e mortalidade associada à cirurgia. Em 50% ou mais dos
casos varia de reservado a desfavorável, pois não é possível a remoção cirúrgica deste tumor
devido à invasão ou metástases através da veia cava caudal (Couto e Nelson, 2006; Coelho et
al., 2011; Pöppl, 2015).
O prognóstico pode também ser influenciado por outros factores tais como: a presença e
natureza de doenças concomitantes; tamanho do tumor, metástases; duração da cirurgia e
actividade endócrina do tumor (Couto e Nelson, 2006; Fonseca, 2016; Queiroz et al., 2017).
Com a cirurgia consegue-se um período de sobrevivência de aproximadamente três anos após
a remoção cirúrgica completa, desde que não haja metástase. Porém, é preciso frisar que
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
muitos cães são submetidos à eutanásia ou morrem antes da identificação do feocromocitoma
(Couto e Nelson, 2006; Oliveira et al., 2009).
Exame fisico
Ao exame físico, o paciente apresentava 24 movimentos respiratórios por minuto, 112
pulsações por minuto e 39,2º C de temperatura rectal. As mucosas estavam rosadas, o tempo
de reenchimento capilar inferior a 2 segundos e durante a palpação dos linfonodos, não foram
observadas anormalidades. A palpação abdominal sentiu-se uma massa.
Após o exame clínico geral foram realizados os seguintes exames complementares:
hematológico e bioquímico; radiográfico; ultrassonográfico e laparotomia exploratória.
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
7. Exames complementares
I. Hematologia e Bioquímica
®
Após desinfecção com solução de povidato de iodo a 5% (Oberdine , OberonPharmaPty,
RSA), realizou-se a venopunção na veia cefálica, com auxílio de uma seringa de 5 ml e uma
agulha 21G. Uma parte (2ml) foi colocada em um tubo com anticoagulante Ácido
Etilenodiamino Tetra-Acético (EDTA) para a hematologia e a outra parte (3ml) em um tubo sem
anticoagulante para a análise bioquímica. Para a leitura dos parâmetros hematológicos e
bioquímicos foi utilizado o analisador IDEXXlaser.
Ao exame hematológico observou-se uma ligeira policitemia e leucocitose, caracterizada por
uma neutrofilia e monocitose (vide perfil na tabela 7). A bioquímica não apresentou nenhuma
alteração (vide perfil na tabela 8).
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
Tabela 8. Resultado do exame bioquímico
Referência
Parâmetro Resultado
(Meyer et al., 1992)
ALB (g/L) 28 23 – 40
AST (U/L) 11 0 – 50
ALT (U/L) 18 10-100
FA (U/L) 133 23 – 212
Urea (mmol/L) 5,2 2,5-9,6
Creatinina (umol/L) 114 44 – 159
GGT (U/L) 0 0–7
Globulina (g/L) 36 25 – 45
TP (g/L) 64 52 – 82
ALB - Albumina; AST - Aspartato aminotransferase; ALT - Alanina aminotransferase; FA -
Fosfatase alcalina - GGT: Gama Glutamiltranspeptidase e TP - Tempo de protrombina.
II. Radiografia
Para a realização do exame radiográfico usou-se o raio-x digital da marca Poskom. O animal foi
colocado em posição lateral e ventro-dorsal, fez-se incidir o raio-x sobre o abdomén do animal,
por forma a gerar as duas imagens.
Ao resultado radiográfico foi observada uma massa abdominal radiopaca no corpo do ilio direito
(A) e osteofitóse (b) (vide figura 5).
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
a b
III. Ultrassonografia
No dia 6 de Maio o animal retornou à clínica. Continuava com falta de apetite e apático.
Terapia de suporte/sintomático
Como tratamento imediato, foi realizado uma antibioterapia com base em amoxicilina 250 mg e
àcido clavulânico (synolox®, Zoetis, South Africa) na dose de 12,5 mg/kg (Bula da Zoetis),
divididas em tomas (duas vezes ao dia) durante 7 dias para corrigir a neutrofilia e monocitose.
E prednisolona 5 mg (prednisolona, Intermed, India) na dose de 1 mg/Kg, que é um anti-
inflamatório esteroidal.
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
IV. Laparotomia exploratória
No dia 22 de Maio foi realizada uma laparotomia exploratória para auxiliar o diagnóstico
definitivo.
a) Protocolo Anestésico
Indução anestésica: com propofol 1 % (Propofol®, Phar e Vide, India), na dose de 4 mg/kg,
pela via endovenosa, seguida de intubação endotraqueal.
Durante todo o acto cirúrgico foi feita fluidoterapia com solução fisiológica NaCl 0,9 %.
b) Procedimento cirúrgico
c) Pós-operatório
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
Terminada a cirurgia realizou-se a limpeza da ferida cirúrgica, com peróxido de hidrogénio 6%
(peróxido de hidrogénio®, Kyron, South Africa), e aplicou-se uma pomada a base de vitamina E,
lanolin e clorexidina (Madaji rich milking cream®, Kyron, South Africa).
8. Diagnóstico diferencial
De acordo com sinais clínicos, achados do exame clínico e complementares, para o
diagnóstico foram consideradas as seguintes patologias (tabela 9)
Patologias Sinais/Semelhanças
Quisto Massa
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
9. Exame post-mortem/Necrópsia
Após a eutanásia do animal no dia 22 de Maio, o animal foi encaminhado para a Secção de
Anatomia Patológica (SAP) para a realização do exame de necrópsia.
Aspectos macroscópicos
a b c
d e f
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
a b
c d
Figura 8. Fotografias tiradas aquando da fixação da glândula adrenal. Seta mostrando medula
da adrenal direita com massa cor castanho claro.
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
As características das lesões observadas durante a necrópsia estão resumidas na tabela 8
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
10. Histopatologia
As figuras das pranchas 1, 2 e 3 ilustram as anormalidades microscópicas observadas nos
tecidos colhidos durante a necrópsia.
a b
c d
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
a b
c d
33
Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
a b
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
13. Discussão
Estágio
Caso clínico
O feocromocitoma é uma neoplasia das células cromafins (feocromócitos) da medula adrenal,
caracterizada pela secreção de altas concentrações de catecolaminas (adrenalina,
noradrenalina) e seus metabólitos (Paturle e Silva, 2002; Couto e Nelson, 2006; Ângelo e
Paiva, 2008; Fonseca, 2016; Pires, 2017).
Embora não exista predisposição racial, alguns autores descreveram a ocorrência em algumas
raças tais como: Poodle miniatura, Pastor alemão, Boxer, Golden retriever, Labrador retriever,
Pinscher e SRD (Carvalho et al., 2004; Fonseca 2016; Pöppl, 2017; Queiroz et al., 2017). A
raça animal do presente caso encontrase dentro do grupo de risco ao tratar-se de uma cadela
de raça resultante do cruzamento entre um Labrador e Leão da Rodésia.
Os sinais clínicos dos animais com feocromocitoma são inespecíficos, sendo os mais
observados a fraqueza generalizada, letargia e depressão (sinais manifestados em várias
patologias) dificultando assim o diagnóstico presuntivo (Thangapandiyan et al.,2014; Fonseca,
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
2016; Queiroz et al., 2017). A queixa principal do presente caso foi depressão, letargia e falta
de apetite, sinais que corraboram com o descrito na literatura. A fraqueza e/ou letargia são
causadas pela atrofia muscular devido à alteração no metabolismo dos carbohidratos e
proteínas incluindo as metástases ao nível do cérebro e do pulmão (Fonseca, 2016).
A prolapso da glândula da terceira pálpebra, também conhecida como membrana nictitante,
“olho de cereja” (cherry eye) é uma patologia que geralmente afecta cães com menos de um
ano de idade (Santos et al., 2012; Lorenset et al., 2018). Autores descreveram como causas: a
fragilidade dos ligamentos que unem a glândula ao globo ocular, neoplasias, ou em decorrência
de doenças sistêmicas como raiva e tétano ou devido à Síndrome de Horner (Moore, 1993;
Menezes, 2007). No presente caso o prolapso da terceira pálpebra provavelmente deveu-se ao
processo neoplásico (feocromocitoma disseminado).
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
A necrópsia é um método importante para elucidar a causa da morte assim como a extensão
da patologia. Embora a sua realização não contribua para a instituição da terapêutica
individual, é útil para fornecer dados epidemiológicos, e quando se trata de um grupo de
animais, com base nos resultados, pode-se instituir medidas preventivas e ou terapêuticas para
os demais animais (Gonçalves e Salgado, 2011). No presente caso, a necrópsia serviu para a
colheita de dados sobre o feocromocitoma tais como: aspecto, localização e extensão.
O feocromocitoma usualmente ocorre de forma unilateral e afecta a adrenal direita (Carvalho et
al., 2004; Couto e Nelson, 2006; Ângelo e Paiva, 2008; Fonseca, 2016). O que coincide com o
observado no presente caso.
O tamanho do feocromocitoma varia de 0,5 cm á 10 cm de diâmetro, podendo atingir dimensão
superior a dez centímetros (Couto e Nelson, 2006; Ângelo e Paiva, 2008; Coelho et al., 2011;
Queiroz et al., 2017). No presente caso, o tamanho das massas tumorais foi variável sendo:
quatro, oito e as maiores com dez centímetros de diâmetro.
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
ante mortem no cão do presente rela
14. Conclusões
1. O estágio foi importante pois permitiu desenvolver e aperfeiçoar as competências do saber
fazer e saber estar por forma a interligar a teoria com a prática. Foi o momento de colocar à
prova todo o aprendizado adquirido durante o curso, mostrando a nossa capacidade de
adaptação á diversas situações. A rotina hospitalar, as dificuldades encontradas, a tomada
de decisão, a condução de um caso de maneira ética, lidar com sentimentos dos
proprietários e os próprios sentimentos, fez desenvolver habilidades que não são ensinadas
na sala de aula e sim com a prática.
2. A realização deste estudo permitiu actualizar os aspectos clínico-patológicos e terapêuticos
do feocromocitoma em cães.
3. O diagnóstico do feocromocitoma é um desafio, pois é um tumor de ocorrência rara no cão
e requer um alto grau de conhecimento clínico. Tem sido identificado de forma acidental
durante a ultrassonografia abdominal, laparotomia, ou necropsia sendo o diagnóstico ante-
mortem extremamente raro.
4. Os achados bioquímicos e hematológicos foram inespecíficos.
5. O diagnóstico presuntivo foi feito com base na radiografia, ultrassonografia e laparatomia
exploratória, e o conclusivo através do exame histopatológico.
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
15. Recomendações
Ao HEV:
Ao pessoal clínico é importante realizar o exame de triagem completo, isto é, colher
máximo da história, pois é de grande utilidade no diagnóstico e algumas doenças não
possuem sintomatologia específica.
Recomenda-se a aquisição de outros meios de diagnóstico, em particular os testes
rápidos (FIV/FeLV, Parvovirose, Erlichiose).
Devemos também incentivar a discussão e publicação de casos clínicos entre os
médicos veterinários.
Adoptar medidas de separação no atendimento de animais saudáveis e animais com
doenças infecto-contagiosas.
Preenchimento adequado das fichas de necrópsia
A VAL:
Continue sempre a inovar.
Publicação de casos clínicos.
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Elaborado por: Bijorca Elisa João Nhanala
16. Referências Bibliográficas
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