Você está na página 1de 10

Escola Estadual Julio Strubing Muller

Disciplina: História
Professores: Thales Biguinatti Carias e Wellington Ernani Porfírio
Material apostilado para o mês de outubro (1ºs anos)
Habilidade trabalhada: (EM13CHS104) Analisar objetos e vestígios da cultura
material e imaterial de modo a identificar conhecimentos, valores, crenças e práticas que
caracterizam a identidade e a diversidade cultural de diferentes sociedades inseridas no
tempo e no espaço.

Nome do(a) Aluno(a):


Turma:

Propriedade e Civilização: Noções básicas para pensarmos a


humanidade e suas realizações na história

Vocês já pararam para pensar no quão difícil foi o ser humano construir tudo o
que existe hoje? Não raras vezes, somos provocados a pensar na pequenez do homem
diante da vastidão do universo. Com frequência, a ideia de que o universo compreende
um mundo do qual nós sequer somos capazes de conhecer por inteiro nos assalta à mente,
mostrando o quanto o ser humano é insignificante diante do infinito. No entanto, quando
olhamos para o desenvolvimento proporcionado pelo próprio ser humano ao longo das
gerações, temos a sensação completamente oposta. Você já imaginou o quão incrível é
uma espécie que tem o conhecimento científico capaz de operar processos em níveis
atômicos e subatômicos? A capacidade de ir ao espaço; de ter pisado na lua! Tudo isso
são feitos incríveis. Por outro lado, o mesmo ser humano capaz de tantas façanhas também
é responsável por inúmeras atrocidades. Genocídios, massacres, miséria. Conhecer o ser
humano é estar numa montanha russa, repleta de excitação e desespero; de esperança e
de rancor.
A história de como isso se tornou possível; a história de como o ser humano saiu
da condição de animal e se tornou um construtor de maravilhas e desastres é a história
que aqui nos interessa. Para falar desse processo; de como o ser humano atinge um nível
de criação invejável, é preciso falar da ideia de “civilização”.
Para entendermos melhor o que é uma civilização, vejamos o seu significado. O
dicionário online “Michaelis” aborda quatro significados diferentes para a palavra
“civilização”. São eles:

1 – Ato, processo ou efeito de civilizar(-se).


2 – Conjunto de aspectos próprios da vida social, intelectual, artística, cultural,
econômica, política e moral de uma sociedade.
3 – Estágio de desenvolvimento econômico, científico e tecnológico de uma
sociedade.
4 – Conjunto de valores que caracterizam uma sociedade; tipo de cultura.

Pense um pouco sobre esses 4 significados possíveis para o termo “civilização”.


Consegue pensar naquilo que é comum a todos? Consegue nos dizer o que une cada um
desses significados? A resposta é simples: sempre que falamos de civilização, falamos do
domínio do ser humano. A civilização é o conjunto das realizações humanas ao longo do
tempo. Pense, por exemplo, no primeiro significado. Ato, processo ou efeito de civilizar
se remete à capacidade que o ser humano tem de transformar outros povos em povos
civilizados como também transformar a si mesmo em um ser civilizado. A ambiguidade
dessa definição é proposital, pois o ser humano tanto consegue civilizar o outro quanto
consegue construir a sua própria civilização do “zero”; a partir, unicamente, do seu
próprio relacionamento com a natureza.
Como nós veremos mais adiante, a ideia de civilizar o outro traz consigo inúmeros
problemas, porém, é importante afirmarmos que a civilização não é só um legado; é
também uma capacidade humana. Além do primeiro significado, se vocês repararem nos
demais, perceberão que todos eles dizem respeito a uma dada condição da humanidade.
Ser civilizado é ser algo que vai além da própria natureza; ser civilizado é transformar a
natureza e transformar a si mesmo enquanto você opera essa transformação. Por isso, a
civilização é algo que vai além das construções materiais do ser humanos e também se
traduz nas suas realizações intelectuais e culturais.
No conjunto da nossa história, é inequívoco o avanço civilizacional que tivemos
na mesma medida em que é indiscutível que os custos que tivemos para esse avanço
podem ter sido altos demais. Pensar sobre a civilização é sempre estar entre dois mundos;
um de realizações e maravilhas e outro de frustrações e descasos. Um grande filósofo que
pensou afundo sobre isso foi o genebrino Jean Jacques Rousseau. A partir de uma das
muitas reflexões de Rousseau, nós iremos pensar sobre a civilização tomando como
percurso do pensamento as seguintes perguntas: qual foi o fator que determinou o
surgimento da civilização? Quais foram os pontos mais marcantes desse processo? Como
a civilização se impôs na história da humanidade?
Para pensar um pouco mais sobre isso, vamos analisar o argumento central
elaborado por Rousseau no livro intitulado “Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos
da Desigualdade entre os Homens”. Esse texto foi elaborado como resposta para um
concurso de filosofia lançado pela Universidade de Dijon no ano de 1754. O concurso
consistia em, basicamente, responder, de forma original, à pergunta: “Qual é a origem da
desigualdade entre os homens, e ela é respaldada pela lei natural?” Lembrem-se que
estamos em meados do século XVIII. A Europa sofre um longo processo de
transformação, porém, o absolutismo ainda está em voga. Isso significa que a nobreza é
ainda muito forte e detém uma série de privilégios contra um povo cuja obrigação é
“trabalhar para a todos sustentar”.
Diante desse quadro, a pergunta tem um sentido, que é justificar essa desigualdade
com base nas leis naturais. De acordo com a doutrina católica da época, era aceita a ideia
de que cada indivíduo, na sociedade, fazia parte de uma classe que tinha um papel
definido já pelo nascimento da pessoa em cada uma dessas classes. Era muito difícil você
mudar de uma classe para outra, para não dizer impossível. E, no limite, pertencer a uma
classe significava sua sorte ou azar. Com o Iluminismo vai tomando espaço, nos debates
intelectuais, a ideia de uma “lei natural”, ou seja, uma lei que não obedecesse tanto aos
homens em sociedade, mas que fosse de acordo com o ser humano no seu estado natural.
Daí vem a pergunta; que também pode ser entendida da seguinte forma: “Essa nossa
sociedade, extremamente desigual, obedece a uma ordem natural ou não?”
Rousseau irá responder que não. Para entendermos sua resposta, precisamos
entender o que ele considera ser o “natural” para os seres humanos. De acordo com
Rousseau, no estado de natureza, o ser humano não seria nem bom e nem mau. Ele estaria
contente desde que suas necessidades fossem supridas. Para Rousseau, as necessidades
naturais do ser humano seriam, basicamente, três: 1 – ter o que comer; 2 – ter onde (e
como) descansar/restabelecer suas energias e 3 – ter com quem se reproduzir. Satisfeito
dessas 3 necessidades, o ser humano não teria sequer motivos para impor guerras e
dominações uns contra os outros.
Acontece que, ainda seguindo o raciocínio de Rousseau, os seres humanos foram
aprendendo a “dominar” a natureza e, a partir daí, criaram o senso do trabalho e da
reserva. Quando o ser humano apenas pensava no presente (no aqui e agora), ele se sentia
em igualdade com seus irmão. Quando eles se preocupam em garantir não apenas o
sustento de agora como, também, o de amanhã, abre-se um precedente para que a
ganância e os interesses pessoais tomem conta dos seres humanos. De acordo com
Rousseau, é nesse ponto que nasce tanto a civilização quanto a desigualdade entre os
homens. Sobre isso, vale a pena vermos o momento mais marcante do seu discurso, onde
ele vai refletir sobre as consequências dessa “inauguração” da civilização. Diz Rousseau:

O primeiro que, tendo cercado um terreno, se lembrou de dizer: Isto é


meu, e encontrou pessoas bastante simples para o acreditar foi o
verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras,
assassínios, misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano
aquele que, arrancando as estacas ou tapando os buracos, tivesse gritado
aos seus semelhantes: “Livrai-vos de escutar esse impostor; estareis
perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e a terra de
ninguém!” Parece, porém, que as coisas já tinham chegado ao ponto de
não mais poder ficar como estavam: porque essa ideia de propriedade,
dependendo muito de ideias anteriores que só puderam nascer
sucessivamente, não se formou de repente no espírito humano: foi
preciso fazer muitos progressos, adquirir muita indústria e luzes,
transmiti-las e aumenta-las de idade em idade, antes de chegar a esse
último termo do estado de natureza. (ROUSSEUAU, p. 91)

De acordo com esse trecho do discurso, existe uma relação de causa e efeito entre
a propriedade e a civilização. É a propriedade a criação do homem que vai não só fundar
a civilização como também irá ser a causa direta da desigualdade entre os homens. Pois,
de acordo com o raciocínio de Rousseau, a propriedade é a marca de um ser humano que
reserva para si o conforto futuro mesmo que em desrespeito ao conforto geral no presente.
Como vocês podem ver, o raciocínio de Rousseau é puramente especulativo, ou seja, ele
não traz uma série de dados e fatos que comprovem aquilo que ele diz. Nesse sentido, é
difícil dizer que ele está certo ou errado, porque ele não possui provas do que fala, mas,
se acompanharmos o seu raciocínio, conseguimos entender o sentido daquilo que ele fala.
E a importância de Rousseau, para nós, está justamente nesse sentido. É
importante compreendermos que a civilização é um fenômeno da humanidade que precisa
ser compreendido na sua relação com a propriedade. A ideia de propriedade é a ideia
fundamental para qualquer civilização. O que vai mudar é o modo como determinada
civilização lida com a propriedade. Em outras palavras, o conceito de propriedade não é
único. Ele não existe desde o início da humanidade e, conforme se passam as eras, muda-
se o conceito de propriedade e, conforme sua mudança, muda-se toda uma sociedade.
Para entendermos como uma propriedade muda ao longo das eras, precisamos
entender como cada uma das diferentes sociedades se relaciona com a “terra”. Por mais
que propriedade não seja sinônimo de terra (pensemos nas propriedades intelectuais, por
exemplo), é importante termos a noção de que a relação com a terra, ao longo da história,
vai determinar uma certa relação com a propriedade.
Numa narrativa de milhares de anos, podemos traçar uma espécie de “linha
evolutiva” que irá desde o ser humano no seu estado natural, ou seja, sobrevivendo apenas
da coleta de frutas e tudo o mais que já estivesse à disposição até a chamada “Revolução
agrícola” que vai ser o momento em que o ser humano passa a dominar técnicas de plantio
e de domesticação de animais que irão possibilitar a formação de povos sedentários; ou
seja, fixos à terra. Essa Revolução Agrícola data de, pelo menos, 10.000 anos antes de
Cristo.
Até que isso acontecesse, o ser humano foi povoando a terra. É no seu nomadismo
(modo de vida que não se prende a um lugar e segue viajando conforme suas
necessidades) que se supõe que os primeiros seres humanos tenham saído do continente
africano e chegado até a América. A hipótese mais veiculada até então é a do estreito de
Bering; onde se supõe que, em épocas específicas do ano, essa região, que fica entre a
Ásia e a América do Norte, ficava totalmente congelada, possibilitando a travessia de um
continente para o outro. Esse é um mapa que traça as rotas que são hipóteses prováveis
para a chegada de seres humanos na América:

Estudar o início da civilização significa, em outras palavras, estudar as formas


como os seres humanos se relacionaram com a terra até que eles pudessem nelas trabalhar
e se estabelecerem como sociedade. Será que é justo pensar como Rousseau? Será que é
tão simples afirmar que esse é o início do declínio da humanidade, ou será que estamos
diante de uma história que ainda se encontra aberta às possibilidades e às realizações
ainda inimagináveis? É a partir dessas reflexões que iremos pensar em como os diferentes
usos da terra geram diferentes tipos de sociedade e como podemos aprender com essas
sociedades diferentes para sermos melhores do que somos hoje.

A PESQUISA REALIZADA PARA A ELABORAÇÃO DESTE


MATERIAL RECORREU AOS SEGUINTES DOCUMENTOS

ROUSSEAU, Jean Jacques. Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da


Desigualdade Entre os Homens. Domínio Público. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000053.pdf (último acesso em 28
de setembro de 2020).
Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa. Disponível em:
http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=civiliza%C3%A7%C3%A3o
(último acesso em 28 de setembro de 2020).

Atividades:

O pensamento filosófico de Rousseau nos fez viajar para o início da história da


civilização. Será que é possível definir se o ser humano é bom ou mau por natureza? Será
que a propriedade é uma forma de dominar a natureza? Será que, desde 10.000 anos antes
de Cristo, quando aconteceu a Revolução Agrícola e a formação dos primeiros povos
sedentários, o mundo inteiro traçou uma rota de desigualdade e opressões? Ou será que é
possível pensarmos numa noção de propriedade que seja mais fraterna e garanta a
existência sustentável da sociedade? Todas essas são perguntas muito atuais e pertinentes
para os nossos estudos. Como cidadãos, precisamos refletir sobre o nosso lugar no mundo
e sobre como os seres humanos podem ser melhores daqui para frente.
Pensar sobre isso é, também, pensar sobre os momentos da história em que a
humanidade teve progressos e retrocessos. Em que nutrimos grandes esperanças no
futuro, mas também nos momentos em que toda esperança parecia perdida. Para, então,
refletirmos melhor sobre isso, seria importante colocarmos, frente a frente duas
concepções totalmente diferentes de propriedade. O texto que vamos ler a seguir é uma
carta enviada pelo chefe Seattle ao presidente dos Estados Unidos da América, no ano de
1854. Na ocasião, os Estados Unidos tinham feito uma oferta para a “compra” das terras
dos indígenas. Essa foi a resposta de seu chefe:

Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa ideia nos
parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível
comprá-los? Cada pedaço desta terra é sagrado para o meu povo. Cada ramo brilhante de
um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra da floresta densa, cada clareira
e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência do meu povo.
A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do
homem vermelho. Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando
vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é
a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores
perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a águia, são nossos irmãos. Os picos
rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem – todos
pertencem à mesma família.
Portanto quando o grande chefe em Washington manda dizer que deseja comprar
nossa terra, pede muito de nós. O Grande chefe diz que nos reservará um lugar onde
possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós
vamos considerar a sua oferta de comprar a nossa terra. Mas isso não será fácil. Essa terra
é sagrada para nós.
Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue
de nossos antepassados. Se lhe vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é
sagrada, e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas
límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O
murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e
alimentam nossas crianças. Se lhe vendermos a terra, vocês devem lembrar e ensinar seus
filhos que os rios são nossos irmãos e seus também.
E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção da
terra para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem
à noite e extrai da terra aquilo que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e
quando ele a conquista, prossegue o seu caminho.
Deixa para traz os túmulos de seus antepassados e não se incomoda.
Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu
pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe terra, e seu irmão, o céu,
como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites
coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere
os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é selvagem e não
compreenda.
Não há um lugar nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa
ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto.
Mas talvez porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece
somente insultar os ouvidos. E o que resta da vida não pode ouvir o choro solitário de
uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, a noite.
Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio
do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou
perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o
mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira.
Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se
vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós,
que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém.
O vento que deu a nosso avô seu primeiro inspirar também recebe seu último
suspiro.
Se lhe vendermos nossa terra vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um
lugar onde até mesmo o homem branco possa saborear o vento adoçado das flores dos
prados. Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos
aceitar, peço uma condição: o homem branco deve tratar os animais dessa terra como seus
irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir. Vi um milhar
de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de
um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante
cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos apenas para
permanecermos vivos.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem o homem
morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve
acontece com seus irmãos.
Vocês devem ensinar as suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos
avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas
de nosso povo. Ensinem as suas crianças o que ensinamos as nossas, que a terra é nossa
mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem
no solo, estão cuspindo em si mesmos.
Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence a terra.
Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas, como o sangue que une uma família.
Há uma ligação em tudo.
O que ocorrer com a terra recaíra sobre os filhos da terra. O homem não tramou o
tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si
mesmo.
Mesmo que o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para
amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar
de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos, e o homem branco poderá vir a descobrir
um dia: nosso deus é o mesmo Deus. Vocês devem pensar que o possuem, como desejam
possuir nossa terra, mas não é possível.
Ele é o Deus do homem, e Sua compaixão é igual para o homem vermelho e para
o homem branco. A terra lhe é preciosa, e feri-la é desprezar seu criador.
Os brancos também passarão, talvez mais cedo que todas as outras tribos.
Contaminem suas camas e, uma noite, serão sufocados pelos próprios dejetos.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela
força de Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu domínio
sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não
compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos
domados, os recantos secretos da floresta densa impregnada do cheiro de muitos homens,
e a visão dos morros obstruída por fios que falam.
Onde está o arvoredo? Desapareceu.
Onde está a águia? Desapareceu.
E este é o final da vida e o início da sobrevivência.
Depois da leitura dessa carta, pergunta-se:
1 – Quais são as noções de propriedade que estão em jogo na carta? Como você
descreveria uma e outra?
2 – “Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence a terra.
Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas, como o sangue que une uma família.
Há uma ligação em tudo.” Quando o chefe Seattle alega essas duas coisas, a qual noção
de propriedade ele está se opondo? Como é possível descrever a propriedade da terra, de
acordo com os brancos, por meio desse trecho?
3 – Quando o chefe Seattle coloca uma condição para a venda da terra, você
consegue identificar qual condição é essa? De acordo com a noção de propriedade para o
homem branco, é possível que essa condição tivesse sido cumprida? Justifique sua
resposta.

A partir dessas 3 perguntas, elabore um texto de 30 linhas sobre as relações entre


civilização e propriedade e sobre como a ideia que nós temos de propriedade pode definir
o comportamento de toda uma sociedade.

Você também pode gostar