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O HOMEM DA CAPA PRETA: TRABALHISMO E

POLÍTICA ENTRE A ERA VARGAS E A DITADURA


MILITAR
(Aula 01 - Prof. Dr. Thales Biguinatti Carias, 4º Bimestre/2023.
O homem da capa preta:

■ Ano de produção: 1986


■ Diretor: Sérgio Rezende
■ País de origem: Brasil
■ Gênero: biografia/policial
Por que uma biografia?

■ Relação indivíduo/sociedade;

■ Olhar uma sociedade a partir da vida de um único indivíduo;

■ Compreender o que o diretor do filme quer narrar (tanto sobre


o indivíduo quanto sobre a sociedade onde este está inserido);

■ Elaborar uma reflexão entre o passado e o presente a partir


da ficção.
O recorte temporal do filme

■ 1946 – Fim do Estado Novo e início do mandato de deputado


estadual de Tenório;

■ 1964 – Ano do golpe militar e da cassação do mandato de


deputado federal de Tenório;

■ Dois grandes momentos: - década de 1940 e início da década


de 50 (violência e conflito local) – década de 1950 e início da
década de 1960 (tensões políticas e cassação do mandato).
A década de 1940 no interior do Brasil:

■ Modernização e expansão

■ Colonização

■ Levas migratórias

■ Luta por terra e poder

■ Formação de favelas por ocupações


Como isso é narrado pelo filme?

■ Briga de Tenório com Cabral;

■ Tenório ameaça o representante do banco de morte, caso o


mesmo ordene o despejo das famílias;

■ Tenório é o político que se constrói enfrentando os


poderosos locais.
Tenório X poderosos: o papel do
“calor” na narrativa do filme:

■ O calor como símbolo da tensão social;

■ Fumaça como componente estético do


calor e da tensão presente no combate
entre Tenório e os homens de Cabral.
(Influência dos filmes Noir)
O conflito pelas terras no filme:
■ Manezinho – É sobre aquele problema que eu lhe falei, deputado. São mais de
200 famílias. Tem gente que tá lá pra mais de 10 anos, trabalhando. E agora, o banco
mandou a polícia vir afrontar. A gente tem uma semana pra largar tudo. Pra
abandonar o terreno.

■ Tenório Cavalcanti – Isso não se faz, meu jovem.

■ Representante do banco – Mas deputado... Eles invadiram aqueles terrenos.

■ Tenório Cavalcanti – O que que o banco tem a ver com isso? Os terrenos são do
Cabral Pessoa.

■ Representante do banco – O banco comprou os terrenos. Eu não devia dizer,


mas...
1º momento do filme:

■ Tenório tira dos pobres a força para se insurgir contra os


poderosos locais;

■ No entanto, para se candidatar a deputado federal, Tenório


deve recorrer à UDN (União Democrática Nacional)

■ Ambiguidade realçada: Tenório precisa agradar tanto ao


povo quanto à UDN e tem que lidar com isso.
2º Momento: Tenório à frente do jornal

■ A UDN apoia Tenório e ele consegue se livrar da acusação


de homicídio do delegado Lino Maragato;

■ No entanto, ela abandona Tenório quando este resolve se


candidatar a governador da Guanabara;

■ Isolado, Tenório radicaliza-se por meio do jornal e apoia


abertamente as reformas de base.
A construção estética dos dois momentos e a criação narrativa do filme:
■ Tenório – Se eu errei ontem, hoje me rendo à realidade. Já vai longe o tempo em que se sustava, à pata
de cavalo, as justas reivindicações dos trabalhadores.

■ Adolfo – A UDN é um partido irremediavelmente inimigo do povo. Ela está disposta a ir às últimas
consequências na defesa de grupos privilegiados.

■ Tenório – O FMI já está mandando. O povo já está sofrendo! Pagando tudo mais caro. Pelo dobro!

■ Adolfo – Não nos cansamos de convocar as massas a se mobilizarem na defesa de seus direitos.
Lutando por suas reivindicações! Essa é a orientação do fundador desse jornal. O líder popular, Tenório
Cavalvanti.

■ Tenório – Não se assuste o senhor João Goulart. Sou eu quem luta abertamente contra os grupos
econômicos imperialistas. Sou eu quem enfrenta os agentes do imperialismo e outros encapuçados.

■ Adolfo – Pelas reformas estruturais. Todos no comício.

■ Tenório – As reformas de base são um compromisso que não se pode adiar.


Portanto:
■ Tenório Cavalcanti andou na corda bamba da história;

■ Se projetou politicamente como protetor dos pobres, mas também


teve que agradar a UDN para manter o apoio do partido;

■ O filme foca sua narrativa nesse conflito entre dois projetos de país: o
trabalhismo desenvolvimentista e o de integração ao capital
internacional;

■ Esse é o conflito pré-golpe de 1964. Ou seja, de 1945, quando Vargas


sai do poder, até o golpe, a história do Brasil anda na corda bamba e
abraça de vez a integração ao capital internacional com os militares.
Como é possível perceber essa disputa na história?

■ Manifesto dos coronéis – 8 de fevereiro de 1954. Disponível em :


http://memorialdademocracia.com.br/card/coroneis-batem-de-
frente-com-getulio/docset/1003

■ Comentário de Tenório sobre o manifesto em “A luta democrática” –


18 de fevereiro de 1954.

■ Carta testamento de Getúlio Vargas – 23 de agosto de 1954.


Voltando ao filme...

■ Tenório Cavalcanti está indeciso até o momento em que é


traído pela UDN;

■ A partir daí, ele se apega não ao populismo, mas ao


trabalhismo;

■ Essa corrente política e ideológica estava em alta nas


décadas de 1950 e 1960 e é a partir da organização
trabalhista que entendemos melhor o porquê do golpe em
1964.
■ O trabalhismo, diferente do populismo, não pretendia usar o povo
como simples massa de manobra;

■ A organização trabalhista tinha grande capilaridade em vários


setores sociais;

■ Os sindicatos, os movimentos estudantis, algumas associações


profissionais e os partidos de esquerda tinham um diálogo próximo
com o povo e, por meio das pautas trabalhistas, davam apoio ao
projeto de desenvolvimento nacional sem dependência do capital
financeiro.
A partir disso...

■ Vamos começar a montar o cenário que levou ao golpe de


1964, mas fica para a próxima aula.

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