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Experiência de um professor de ensino médio sobre as aulas remotas na

pandemia

Aspectos fundamentais:

- Relação Estado X oferta da educação:


1 - Baixo planejamento objetivando atender os alunos. O planejamento e as
ações do estado foram mais no sentido de fiscalizar o trabalho docente do que
proporcionar o estudo discente.

2 - Baixo investimento: Em decorrência do ponto 1, observamos falta dos


investimentos necessários para aplicação de uma coisa que era, até então, inédita na
educação básica. A apostila impressa, ao invés de um plano de subsídios de
equipamento e internet aos alunos e professores, é um indicativo disto. Além do mais,
as parcerias que proporcionaram uma formação via EAD, colocando em segundo plano
os serviços do CREFAPRO, mostram não só uma falta de investimentos, como uma má
aplicação do que foram destinados a sanar o problema.

- Relação Estado X Unidades escolares:


1 – Na linha dos baixos investimentos, as gestões escolares viram-se diante de
um grande problema: como adequar o espaço escolar e manter o atendimento aos alunos
com as verbas deficitárias fornecidas pelo estado? Isso se reflete num problema grave:
nem todas as escolas, por exemplo, conseguiram distribuir cestas básicas (medida
paliativa diante da impossibilidade de oferta da merenda escolar). Outro ponto crítico é
que, por exemplo, na minha escola, a verba destinada não foi suficiente para adquirir
todos os equipamentos sanitários previstos pelo próprio documento de protocolo
sanitário elaborado pela SEDUC em conjunto com a SES. Não temos, na escola, tapete
sanitário, por exemplo. Nossos banheiros são precários e não conseguem atender
mesmo a um número reduzido de alunos sem que haja lotação. Um problema antigo de
nossa escola também não se resolveu e mostra-se como risco adicional em tempos de
pandemia: a sala dos professores é compartilhada com a sala da coordenação, que
recebe alunos frequentemente.
2 – Fora essas questões de investimento, o estado não se mostra voltado a
atender o objetivo de oferta de uma educação de qualidade quando força a volta ao
ensino presencial nessas condições precárias. Ao invés de um programa sério de aulas
remotas, eles preferem nos acumular com funções burocráticas e sustentar um sistema
apostilado falho.

- Relação Unidades escolares X Alunos:

1 – Dificuldade muito grande dos alunos se sustentarem nas turmas online.

2 – Pelo contexto do momento, os alunos são instados a buscar trabalho.

3 – Excesso de demandas burocráticas e uma formação continuada estéril


dificultam a manutenção de um trabalho dialógico entre professores e alunos.

Nesse sentido... gostaria de pensar um pouco sobre a primeira apostila preparada


para esse novo contexto.

- Minha preocupação não era com um conteúdo específico, mas com trazer para
os alunos algumas reflexões sobre a educação no Brasil a partir do olhar do historiador.

- Assim, o grande desafio foi trazer uma discussão historiográfica que, muitas
vezes é travada longe dos alunos porque restrita ao campo universitário.

- 2 questões: 1 – como podemos analisar a nossa realidade a partir da história e 2


– como a história dos sistemas educacionais pode nos orientar para a compreensão da
realidade social que eu apresentei acima?

- A escolha do estado de MT pelo caminho mais fácil, em detrimento dos


investimentos necessários, não é uma imposição do momento. Na verdade, se trata do
mesmo estado que sempre nos negou o direito pleno à educação resolvendo uma
situação de urgência pelo caminho de nos negar novamente alguns pontos básicos desse
direito que já havíamos garantido. Foi isso o que eu busquei discutir com os alunos por
meio dessa apostila.
O debate central do texto é o embate entre concepções pública e privada de
escola e como esse embate de concepções pode ser observado em momentos chave da
nossa história, bem como no atual momento. Essa discussão orientou a apostila para
pensar no significado do governo transferir suas responsabilidades de promotor da
educação pública para as escolas e professores.

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