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Aula 2
Estudos da Deficiência:
Modelo Social da Deficiência x Modelo Feminista
Recapitulação:
Na ú ltima aula, começamos a ver como o conceito de deficiência nã o é
auto-evidente, mas suscita uma série de controvérsias e problemas conceituais
importantes, com repercussõ es tanto epistemoló gicas quanto políticas.
A estratégia de aula que eu adotei na ú ltima vez foi traçar alguns paralelos
entre a obra O Normal e o Patológico, de Georges Canguilhem, que é um
clá ssico, e a primeira geraçã o dos Estudos da Deficiência. Do mesmo modo
como normal e patológico nã o sã o conceitos autoevidentes, passíveis do
estabelecimento de medidas objetivas, a deficiência também é um conceito
problemático. Isso significa que nã o é com protolocolos experimentais de
pesquisa que se dará fim à s controvérsias que esses conceitos suscitam. Por
isso, instrumentais da filosofia, da psicologia teó rica e da sociologia entram
nesse debate.
Desta forma, vimos como, nos anos 1970, sociólogos reagiram à
hegemonia do chamado modelo médico em relaçã o à definição do conceito de
deficiência. Para esses teó ricos, o modelo médico, além de reducionista era
ideologicamente reacionário. Concebia o conceito de deficiência por alguns
aspectos: 1) o primeiro deles é a noçã o de “desvio da norma”: deficiência é tudo
aquilo que está em desconformidade a um padrã o normal médio de
funcionamento. Isso conduz a um paradigma exclusivo do déficit, já que nã o se
vê ali qualquer positividade na experiência de alguém com deficiência. Pessoas
com deficiência visual, auditiva, intelectual, física, etc. seriam, segundo o modelo
médico, primordialmente pessoas a quem falta algo que deveria estar lá . 2) o
segundo aspecto é o da compreensã o da deficiência como uma espécie de
“tragédia pessoal”. Em que sentido? No sentido de que haveria uma linha
causal natural, que começaria na lesão e terminaria na deficiência e no
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termos por Canguilhem: raro, insó lito, fora da curva de distribuiçã o normal. Isso
quer dizer que uma lesão nã o precisa implicar, de forma alguma, em uma
experiência de deficiência. Basta que se produza um mundo adaptado às
especificidades corporais de todos os indivíduos. Por exemplo, para levar em
conta pessoas com baixa estatura, nã o vou construir escadas com degraus altos
em locais de grande circulaçã o; a escada também passa a ser um problema para
um cadeirante; por isso, é necessá rio que nó s produzamos um mundo com
rampas e elevadores; no caso das pessoas cegas, é importante construir um
mundo que inclua dispositivos como piso tá til e sinais de trâ nsito sonoros; no
caso de pessoas surdas, tenho que pensar em soluçõ es para o uso de simples
interfones, e assim por diante. A deficiência é assim redefinida:
desvantagem ou restrição de atividade provocada pela organização
social contemporânea, que pouco ou nada considera as pessoas que
possuem lesões e as exclui das principais atividades da vida social.
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A crítica feminista
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Igualdade e interdependência
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Ética da interdependência
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Cuidado e deficiência
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da autonomia: essa ética vem junto com a desconfiança do outro, com uma
sensaçã o de constante da possibilidade de ser abandonado pelo outro. A
autonomia vem junto com a sensação de isolamento nos laços sociais. A
imagem do sujeito moderno é a de um sujeito autô nomo, mas isolado e
relativamente desconfiado. Uma vez que Richard Pryor viu que, para
simplesmente se locomover de um cô modo para o outro em sua casa, ele passou
a necessitar do cuidado de outras pessoas, ele, pela primeira vez na vida,
aprendeu o que era um laço de confiança. Entã o, ele explica: “esse aprendizado
foi transformador nas minhas relaçõ es humanas, no meu olhar para a vida, e, por
isso, a Esclerose Mú ltipla foi a melhor coisa que já me aconteceu”.
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