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Émile Durkheim João Albertino Rodrigues

A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM

SITUAÇÃO DO AUTOR
- A obra de Durkheim se dá no contexto do “vazio moral da III República”,
marcado principalmente por medidas de ordem política que romperam com tradições, como
a instituição legal do divórcio e a instrução laica; o “vazio” é em decorrência da ausência
do ensino religião na escola pública; ao mesmo tempo, havia disputas e conflitos
decorrentes da oposição entre o capital e o trabalho;
- No entanto, a virada do século XIX para o século XX, há grande euforia e
esperança no futuro, até porque é o momento de inauguração da era do aço e da
eletricidade;
- Manifestações artísticas passam a focar também o cotidiano e homem comum,
pois é este “que se vê diante dos grandes problemas representados pelo pauperismo, pelo
desemprego, pelos grandes fluxos migratórios. Ele é objeto de preocupação do movimento
operário, que inaugura, com a fundação da CGT no Congresso de Limoges, uma nova era
do sindicalismo, que usa a greve com instrumento de reivindicação econômica e não mais
exclusivamente política”;
- Principais traços da época: progresso da ciência (que passa a ser
transformadora da realidade), progresso da democracia, generalização e progresso da
instrução e do bem-estar; além disso, “a moral viria a ser considerada como um setor da
ciência das condições das sociedades humanas (a moral é ela própria um fato social)”.

A OBRA
- Com a morte de Auguste Comte, a atividade intelectual sociológica foi
sobrepujada pelas preocupações políticas na França, prosseguindo seu caminho com
Spencer e o organicismo, na Inglaterra, o que leva Durkheim a caracterizar o período que o
antecedeu como “acalmia intelectual que desonrou o meado do século e que seria um
desastre para a nação”;
- Apesar da França ter sua Sociologia revigorada com Espinas, introdutor do
organicismo no país, Durkheim considera que tais teorias são próprias de uma fase heróica,
na qual os sociólogos procuram abranger todas as ciências, de modo que ele propõe que
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seja determinado e aplicado um método apropriado à natureza das coisas coletivas; a tarefa
proposta foi que os sociólogos ocupassem-se apenas das regras jurídicas e morais, seja por
meio da História, da Etnografia, ou da Estatística;
- Tal tarefa se tornou possível no final do século XIX, quando a França voltava a
desempenhar seu papel no desenvolvimento da Sociologia, graças ao enfraquecimento do
tradicionalismo e ao estado de espírito racionalista;
- Durkheim trás uma nova concepção de ciência e sociologia, apontando um reino
social, que diverge dos reinos animal e mineral; além disso, fala também de um reino
moral, ao dizer que “a vida social não é outra coisa que o meio moral, ou melhor, o
conjunto dos diversos meios morais que cercam o indivíduo”;
- A Sociologia é definida como “uma ciência no meio de outras ciências
positivas” e, portanto, deve ter um estudo metódico e estabelecimento de leis, ou seja, de
acordo com Durkheim “tudo se passa segundo as leis necessárias”;
- Durkheim define como objeto da Sociologia os fatos sociais, e como método a
observação e experimentação indireta (método comparativo);
- “Uma ciência não se constitui verdadeiramente senão quando é dividida,
subdividida, quando compreende um certo número de problemas diferentes e solidários
entre si”;
- A Sociologia é colocada como fruto da evolução da ciência, já que nasce à
sombra das ciências naturais, a duras penas;

O MÉTODO
- “As Regras do Método Sociológico” é a primeira obra metodológica escrita por
um sociólogo e se volta para a investigação e a explicação sociológica, definindo os
princípios da pesquisa sociológica, que são aplicados na monografia O Suícidio, escrita por
Durkheim, na qual a manipulação de variáveis e dados empíricos é feita pela primeira vez;
- “Durkheim empreende os primeiros delineamentos da sociologia do
conhecimento. Sua originalidade consiste em que, através da análise das religiões
primitivas – o totemismo como sua forma primeira e mais simples –, podemos perceber
como os homens encaram a realidade e constroem uma certa concepção do mundo e, mais
ainda, como eles próprios se organizam hierarquicamente, informados por tal concepção”;
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- Além das verbalizações, o homem procura representar a realidade pela maneira


como se dispõe territorialmente, face a essa realidade; além disso, suas formas
organizacionais da vida social são portadoras de uma ideologia implícita; é necessário um
método apurado para analisar o que é mais importante do ponto de vista científica e
classificar a realidade;
- Acredita-se que a influência de Montesquieu foi decisiva para Durkheim, pois
naquele acha-se implícita a idéia das “relações necessárias” que se estabelecem no âmbito
dos fenômenos sociais;
- De acordo com Durkheim “Montesquieu compreendeu não somente que as
coisas sociais são objeto de ciência, mas contribuiu para estabelecer as noções-chave
indispensáveis para a constituição dessa ciência. Essas noções são em número de dois: a
noção de tipo e a noção de lei”;
- A descoberta americana de “O Suicídio” colocou a obra no rol dos clássicos
imperecíveis e sempre modernos, ganhando elogios de autores importantes: Merton define
como “uma generalização segura à base de dados empíricos tratados com precisão e
segurança”; Stinchcombe diz que “Durkheim pôs à prova a noção vulgar de seu tempo de
que o suicídio resultaria de uma enfermidade mental, e comparou populações diferente para
mostrar que, se fosse o caso, as populações com altas taxas de enfermidade mental teriam
altas taxas de suicídio; Madge elenca três razões para a escolha do tema: a fácil definição
do termo suicídio, o fato de haver muita estatística a respeito e a importância do tema;
- As Regras do Método Sociológico constituem a elaboração de uma teoria de
investigação sociológica voltada para a busca de regularidades que são próprias do “reino
social” e que permitem explicar os fenômenos que ocorrem nesse meio;
- “(...)Durkheim sintetiza seu método em três pontos básicos: a) independe de toda
filosofia; b) é objetivo; c) é exclusivamente sociológico – e os fatos sociais são antes de
tudo coisas sociais”;
- Há divergências sobre o enquadramento da obra de Durkheim em uma ou outra
corrente sociológica, já que tal enquadramento só é válido para aspectos parciais de sua
obra; “a divergência básica consiste na precedência ou proeminência do indivíduo e da
sociedade. Durkheim, na medida em que desenvolve sua teoria mediante a adoção de
conceitos básicos de coerção, solidariedade, autoridade, representações coletivas etc. está
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na realidade fundamentalmente preocupado com a manutenção da ordem social. (...) A


posição durkheimiana do propósito das relações indivíduo-sociedade talvez seja uma das
mais universais e coerentes em toda sua obra”;
- O “fator social” de Durkheim é o elemento básico para explicar tudo os
fenômenos que tinham lugar no “reino social”, ou seja, o social só se explica pelo social;
- “A clareza das posições conceituais de Durkheim obedece a uma constante
metodológica: discute primeira mente as concepções correntes (vulgares ou não) a respeito
de um fenômeno para, em seguida, apresentar a sua própria, solidamente construída em
termos coerentes com uma interpretação estritamente sociológica”;

SÍNTESE
- A obra de Durkheim não está aberta a reformulações, e sim a continuidades, e é
marcada pela prioridade do social na explicação da realidade natural, física e mental em
que vive o homem
- A principal lacuna da obra de Durkheim é a ausência das classes sociais, mas
isso não diminui o seu valor específico; “Essa ‘falha’, bem como a ausência da pesquisa de
campo notada por Kroeber, não seriam antes de indagações e preocupações posteriores a
ele e não propriamente de seu tempo?”.

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