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Curitiba
2013
LUIS FELIPE BARIDÓ INDÁ
Curitiba
2013
LUIS FELIPE BARIDÓ INDÁ
EXAMINADORES
__________________________________________________
Prof. e orientador Sidnei Machado
__________________________________________________
__________________________________________________
ii
Dedico este trabalho à minha esposa Alessandra, pelo amor, companheirismo e
compreensão em todos os momentos.
Ao meu filho Lucas e à minha filha Manuela, esta, ainda no ventre materno, motivos
mais que suficientes para persistir e concluir o presente trabalho.
À Deus, porque dele, por ele e para ele são todas as coisas.
iii
AGRADECIMENTOS
iv
Trata-se de, utopicamente, desvelar que a fraternidade que se almeja ao trabalhador
não deve depender exclusivamente das medidas intervencionistas do Estado, o que
configuraria a vitória de uma (des)proteção regulatória com perversos excessos
sobre uma proteção emancipatória, ou seja, o primado da outorga (e controle) sobre
a conquista. Ao contrário, a perspectiva que se coloca é resgatar, na história
companheira, a importância fundante da atuação coletiva na luta pela fraternidade e
proteção nas relações de trabalho.
v
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................... viii
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
vi
vii
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 54
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57
vii
RESUMO
viii
INTRODUÇÃO
1
Cf. REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito, 26 ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 1-3.
Sobre a NOÇÃO ELEMENTAR DE DIREITO.
2
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São Paulo:
Malheiros, 2008. p. 90.
3
ALEXY, R. Op. cit. p. 91.
4
BORGES, Rodrigo Lanzi de Moraes. O conceito de princípio: uma questão de critério. Revista de
Direitos Fundamentais e Democracia. Curitiba, v. 7, n. 7, jan./jun. 2010. p. 267.
6
princípios. Isso, todavia, não exclui a possibilidade de que um princípio seja uma
norma fundamental, situando-se no topo do sistema jurídico ou de um determinado
ramo da ciência jurídica, ou que tenha um maior grau de abstração e generalidade.
Apenas, para o jusfilósofo alemão, esses não são os caracteres que servem para
distinguir o que são e o que não são princípios.
Considerando essa característica de concreção dos princípios, em maior ou
menor grau, interessante observar o que diz Américo Plá Rodriguez, ainda que com
uma visão bem distinta sobre sua natureza e conceituação: “Os princípios têm
suficiente fecundidade e elasticidade, para não ficar presos a fórmulas legislativas
concretas. Têm de possuir a devida maleabilidade para inspirar diferentes normas
em função da diversidade de circunstâncias”5.
Importante destacar, ainda, a diferenciação feita por Alexy entre princípio e
valor, no sentido de que através do primeiro é possível estabelecer o que é devido, e
por meio do segundo estabelece-se o que é melhor6. Dessa maneira, a
diferenciação entre ambos se dá em virtude do caráter deontológico dos princípios e
axiológico dos valores, tendo o modelo de princípios vantagem sobre o modelo de
valores, uma vez que o direito delimita o que deve ser e, como dito pelo jusfilósofo
alemão, no modelo de princípios “o caráter deontológico do direito se expressa
claramente”7.
Em face desse caráter normativo-deontológico e de sua característica de
mandamentos de otimização, é que os princípios se colocam na base do
ordenamento jurídico, fornecendo as razões que informam as demais normas
jurídicas, sem perder, contudo, sua normatividade, o que possibilita a tomada de
decisões com base em princípios. Nesse ponto, remete-se novamente às lições do
professor uruguaio: “É preciso saber extrair, da riqueza potencial dos princípios, toda
a seiva que possam ter para gerar diferentes modelos prático ou para funcionar em
ambientes diferentes”8.
Sem maiores delongas, tendo em vista que não é objeto do presente trabalho
a abordagem aprofundada da teoria dos princípios, é possível afirmar, com base na
teoria de Robert Alexy e de Américo Plá Rodriguez, a centralidade e importância dos
5
RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. 3 ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 80.
6
Cf. ALEXY, R. Op. cit. p. 153.
7
Loc. cit.
8
RODRIGUEZ, A. P. Op. cit.. p. 81.
7
11
“A trajetória do Direito do Trabalho […] se inicia em meio à chamada questão social e é em função
dela que surge e se propaga um novo direito”.(BARBAGELATA, H. Op. cit., p. 16 – grifo do original).
12
BARBAGELATA, H. Op. cit., p. 19 (grifo do original).
13
RODRIGUEZ, A. P. Op. cit.. p. 66.
9
Eis a proteção, tema central do presente estudo, que será analisada enquanto
princípio especial do direito laboral na próxima seção.
14
OLIVEIRA, Murilo Carvalho Sampaio. (Re)Pensando o princípio da proteção na
contemporaneidade. São Paulo: LTr, 2009. pp. 66-67.
15
OLIVEIRA, M. C. S. Op. cit. p. 67.
16
CUEVA apud OLIVEIRA, M. C. S. Op. cit. p. 56.
10
17
O magistrado baiano Murilo Oliveira – na obra citada, pp. 107-108 –, exemplifica essa diversidade
de enumerações de princípios especiais do Direito do Trabalho, dentre os diversos estudiosos, com
os ensinamentos de Américo Plá Rodriguez que enumera sete princípios especiais, e de Pinho
Pedreira que lista nove princípios peculiares desse ramo do saber jurídico.
18
RODRIGUEZ, A. P. Op. cit.. p. 83.
19
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 11 ed. São Paulo: LTr, 2012. p.
194.
11
20
OLIVEIRA, M. C. S. Op. cit. pp. 62-68. e SILVA, Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da;
FIGUEIRA, Luiz Eduardo. A proteção na cultura jurídica trabalhista: revisão conceitual. Revista de
Direitos Fundamentais e Democracia. Curitiba, v. 12, n. 12, pp. 302-325, jul./dez. 2012.
21
RODRIGUEZ, A. P. Op. cit.. p. 107. Quanto à essas três regras, Sampaio Oliveira salienta que “a
maioria da doutrina trabalhista lhes atribui.a qualidade de regra de aplicação do princípio da
proteção”. Op. cit. p.108.
22
RODRIGUEZ, A. P. Op. cit.. p. 107.
23
Loc. cit.
24
Loc. cit.
25
RODRIGUEZ, A. P. Op. cit.. pp. 43-47.
12
26
OLIVEIRA, M. C. S. Op. cit. p. 103.
27
A diferenciação entre princípio e valor na teoria de Alexy foi abordada na seção 1.1. supra. A
importância da força normativa dos princípios, e especialmente do princípio da proteção, será
abordada mais adiante no capítulo 3, quando será feita uma leitura desse princípio à luz da
Constituição Brasileira de 1988.
13
28
Ver por todos ROMITA, Arion Sayão. O princípio da proteção em xeque: e outros ensaios.
São Paulo: LTr, 2003.
29
MOREL, Regina Lucia M. e PESSANHA, Elina G. da Fonte. A justiça do trabalho. Tempo social,
São Paulo, v. 19, n. 2, pp. 87-109, nov. 2007. p. 88.
30
Loc. cit.
14
31
VIANNA apud SILVA, S. G. C. L. e FIGUEIRA, L. E. Op. cit. p. 304.
32
SILVA, S. G. C. L. e FIGUEIRA, L. E. Op. cit. pp. 304-305.
33
OLIVEIRA, M. C. S. Op. cit. p. 78.
15
34
Ver por todos Murilo Carvalho Sampaio Oliveira e Arion Sayão Romita que apresentam visões e
propostas antagônicas para a questão.
2 A PROTEÇÃO EM CRISE: MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO,
PRECARIZAÇÃO E AS TENTATIVAS DE FLEXIBILIZAÇÃO E
DESREGULAMENTAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO
35
DELGADO, Gabriela Neves. Terceirização: paradoxo do direito do trabalho contemporâneo. São
Paulo: LTr, 2003. p. 44 – grifos do original.
36
HOFFMANN, Fernando. O princípio da proteção ao trabalhador e a atualidade brasileira. São
Paulo: LTr, 2003. pp. 142-143.
37
HOFFMANN, F. Op. cit. p. 146.
17
38
HOFFMANN, F. Op. cit. p. 147.
39
DELGADO, G. N. Op. cit. p. 52.
18
42
DELGADO, G. N. Op. cit. p. 97.
43
Loc. cit.
20
47
ROMITA, A. S. Op. cit. p. 62.
48
Loc. cit.
49
MAGANO apud HOFFMANN, F. Op. cit. p. 170.
22
Para os defensores dessa ideia, o Direito do Trabalho deve ser norteado pela
autonomia privada coletiva, valorizando assim, a participação dos sujeitos das
relações de trabalho (trabalhadores e empresas) na formação do ordenamento
jurídico trabalhista, através de uma ampla e irrestrita liberdade sindical, em
detrimento da atuação/regulação estatal. Em suma, o negociado deve prevalecer
sobre o legislado.
De se notar, por fim, que levada ao extremo, essa concepção conduz ao
fenômeno da desregulamentação, que pode ser entendido como supressão da
regulação estatal no tocante às relações havidas no mundo do trabalho.
50
ROMITA, A. S. Op. cit. pp. 69-70.
23
51
ROMITA, A. S. Op. cit. p. 71.
52
Esses dois últimos temas, da precarização e da vulnerabilidade do trabalhador serão tratados na
última seção do presente capítulo.
53
SOUTO MAIOR apud OLIVEIRA, M. C. S. (Re)Pensando o princípio da proteção na
contemporaneidade. p. 48.
24
54
DALLEGRAVE NETO apud ROMITA, A. S. Op. cit. p. 63.
55
DALLEGRAVE NETO apud HOFFMANN, F. Op. cit. p. 172.
25
56
SENNETT, Richard. A cultura do novo capitalismo. Trad. Clóvis Marques. Rio de Janeiro:
Record, 2006. pp. 20-21.
57
CASTEL apud SANTANA, Marco Aurélio; RAMALHO, José Ricardo. Trabalhadores, sindicatos e a
nova questão social. In: _____. Além da fábrica: trabalhadores, sindicatos e a nova questão social.
São Paulo: Boitempo, 2003. p. 20.
58
BRANDÃO, André Augusto. Conceitos e coisas: Robert Castel, a “desfiliação” e a pobreza
urbana. Revista Emancipação, Ponta Grossa, v. 2, n. 1, 2002. p. 144.
26
59
Loc. cit.
60
CASTEL apud BRANDÃO, A. A. Op. cit. p. 144.
61
Nesse sentido: BRANDÃO, A. A. Op. cit. p. 145.
62
CASTEL apud BRANDÃO, A. A. Op. cit. p. 145.
63
Loc. cit.
27
64
BRANDÃO, A. A. Op. cit. p. 146.
65
BRANDÃO, A. A. Op. cit. p. 154-155.
66
CUEVA apud OLIVEIRA, M. C. S. Op. cit. p. 67.
28
67
BINEMBOJM, Gustavo. Uma Teoria do Direito Administrativo: direitos fundamentais,
democracia e constitucionalização. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 61.
30
68
Nesse sentido: BINEMBOJM, G. Op. cit. p. 63-64. Essa normatividade dos princípios foi abordada
na seção 1.1 (Capítulo 1) do presente estudo.
69
BARROSO apud BINEMBOJM, G. Op. cit. p. 65-66. Grifo de agora.
31
70
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Art. 1º, II, III e IV, e 170, caput.
71
Ver por todos: MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gonet.
Curso de Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 150.
32
72
OLIVEIRA, M. C. S. (Re)Pensando o princípio da proteção na contemporaneidade. p. 154.
73
SARLET apud CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 4. ed. Salvador:
Editora Juspodivm, 2010. p. 529-530.
74
OLIVEIRA, M. C. S. Op. cit. p. 154.
33
3.2.2 Cidadania
Por sua vez, Gabriela Delgado aponta para dois conceitos de cidadania, um
tradicional e outro contemporâneo. O conceito tradicional teria um sentido mais
estreito de efetiva participação e exercício dos direitos políticos pelos seres
75
CUNHA JÚNIOR, D. Op. cit. p. 529. Em relação a esse caráter inclusivo da cidadania nos Estados
democráticos, o professor emérito de ciência política da Universidade de Yale, nos Estados Unidos
da América, Robert Dahl afirma que uma das instituições necessárias para uma democracia em
grande escala é a “cidadania inclusiva”. Ele entende que todo governo democrático deve
corresponder à plena inclusão dos adultos, a qual pode ser definida pela seguinte expressão: “O
corpo dos cidadãos num estado democraticamente governado deve incluir todas as pessoas sujeitas
às leis desse estado, com exceção dos que estão de passagem e dos incapazes de cuidar de si
mesmos”. Vide a propósito DAHL, Robert A. Sobre a democracia. Trad. Beatriz Sidou. Brasília:
Editora Universidade de Brasília, 2001. p. 91-94.
34
76
DELGADO. G. N. Terceirização. p. 73.
77
WANDELLI, Leonardo Vieira. O direito humano e fundamental ao trabalho: fundamentação e
exigibilidade. São Paulo: LTr, 2012. p. 222.
35
78
WANDELLI, L. V. Op. cit. p. 224 – grifo do original.
79
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 1º, IV, e 170, caput.
80
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 1º, IV.
81
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 170, caput.
36
seja, que o Estado e a Sociedade devem empregar os meios necessários para que
toda forma não degradante de trabalho realizado pelo ser humano seja efetivamente
respeitada e valorizada.
Interessante notar, ainda, que os termos adotados pelo constituinte (valor
social e valorização) apontam para uma dimensão positiva do fenômeno “trabalho”.
Se por um lado, o ideário da proteção representa uma reação à realidade de
exploração do trabalho humano, expressando assim, uma dimensão negativa desse
fenômeno, qual seja, a mercantilização do trabalho e a “reificação” do trabalhador,
por outro lado, a valorização do trabalho humano, tal como expressa na
Constituição, revela a opção pelo aspecto positivo.
Quanto a esse lado positivo, citam-se novamente as lições do professor
Leonardo Wandelli, ao afirmar o trabalho “enquanto atividade intencional de
transformação do real no curso da qual se dá a descoberta e o desenvolvimento das
potencialidades humanas”82. Dentro dessa compreensão, o trabalho é visto em sua
dimensão de autorrealização do ser humano e expressão da sua liberdade.
Pode-se mencionar, ainda, a lição do professor paranaense de que o trabalho
também se apresenta enquanto satisfação das necessidades e a obtenção de
reconhecimento em dois níveis, material e simbólico. As necessidades, segundo o
autor, apresentam quatro relações com o trabalho, a saber: o trabalho é em si uma
necessidade (primeira relação), que produz os bens que satisfazem necessidades
(segunda relação), e é por intermédio do trabalho que “os seres humanos atualizam
e criam novas necessidades” (terceira relação), e, por fim, o trabalho é visto como
um conjunto de relações e atividades, que se transforma em um bem que também
satisfaz necessidades (quarta relação)83.
No tocante ao reconhecimento, a dimensão simbólica se referiria à
subjetividade do indivíduo que trabalha e sua relação com a coletividade em uma
esfera psicossocial. Já a dimensão material teria relação com ações concretas,
como, por exemplo, a retribuição em dinheiro ou a promoção na carreira, sendo essa
materialidade, indissociável do reconhecimento simbólico84.
82
WANDELLI, L. V. Op. cit. p. 59.
83
WANDELLI, L. V. Op. cit. p. 151-152.
84
Vide a propósito o capítulo 3 da obra mencionada.
37
85
Vide seção 1.1, do capítulo 1 do presente trabalho, quanto a percepção dos princípios como
“mandados de otimização”.
86
BOCORNY apud OLIVEIRA, M. C. S. Op. cit. p. 155.
87
Expressão utilizada por Leonardo Wandelli (Op. cit. p. 158).
38
88
Nesse sentido: OLIVEIRA, M. C. S. Op. cit. p. 155.
89
Murilo Oliveira explana que na teoria marxista adota-se igualmente a concepção do antagonismo,
do embate de forças quase inconciliáveis. (Vide local citado na nota 19).
39
90
Essa aliás a expressão utilizada pelo constituinte originário que no inciso IV do art. 1º utilizou o
termo valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, a indicar que ambos, trabalho e livre iniciativa
eram encarados como valores sociais do Estado brasileiro.
91
GRAU apud SILVA, Paulo Henrique Tavares da. A valorização do trabalho como princípio
constitucional da Ordem Econômica Brasileira. Curitiba: Juruá, 2003. pp. 108-109.
40
92
ALEXY, R. Teoria dos direitos fundamentais. pp. 103-104.
93
GUERRA FILHO, Willis Santiago. Processo Constitucional e Direitos Fundamentais. 4 ed. São
Paulo: RCS Editora, 2005. p. 92.
41
94
GUERRA FILHO. W. S. Op. cit. pp. 94-95.
95
GUERRA FILHO. W. S. Op. cit. pp. 95-96.
96
OLIVEIRA, M. C. S. Op. cit. p. 155.
42
97
OLIVEIRA, M. C. S. Op. cit. p. 160.
4 NOVAS PROPOSTAS PARA UMA EFETIVA PROTEÇÃO AO CIDADÃO-
TRABALHADOR
98
Nesse sentido: SILVA. P. H. T. A Valorização do Trabalho Humano como Princípio Constitucional
da Ordem Econômica Brasileira. pp. 113 e 132.
99
DELGADO. M. G. Curso de Direito do Trabalho. p. 403.
45
100
Vide a propósito o Capítulo 4 da obra do aludido autor: WANDELLI. L. V. O direito humano e
fundamental ao trabalho.
101
Art. 7º., caput, e inciso I, da CRFB: “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
outros que visem à melhoria de sua condição social” e “relação de emprego protegida contra
despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização
compensatória, dentre outros direitos”.
102
“Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art. 7º, I, da Constituição: I – fica
limitada a proteção nele referida ao aumento, para quatro vezes, da porcentagem prevista no art. 6,
‘caput’ e § 1º, da Lei nº 5.107, de 13 de setembro de 1966”. Nessa linha, afirma o autor que essa
temática “foi praticamente erigida à condição de tabu – é vedado falar, é vedado repensar, é vedado
agir diferentemente”. Op. cit. p. 311.
103
WANDELLI, L. V. Op. cit. pp. 307-308.
104
Loc. cit.
46
Destaca-se, nesse particular, ainda com base no que diz Leonardo Wandelli,
que um dos direitos fundamentais dos trabalhadores que sofre maior
vulnerabilização em face da falta de proteção contra a despedida arbitrária é o de
organizar-se coletivamente, seja em sindicatos ou associações de trabalhadores, o
que consequentemente afeta o exercício do direito de greve105. Note-se, como dito
alhures, que a efetiva participação do cidadão-trabalhador na regulação das
relações de trabalho, através das ações coletivas, é uma das condições para a sua
emancipação. A partir disso, já é possível afirmar que o incremento e a
potencialização das negociações coletivas depende de mais regulação (ou proteção,
no caso contra a dispensa imotivada), do que desregulamentação ou flexibilização
como querem alguns106.
Acima disso, o reconhecimento à um direito potestativo do empregador à
dispensar arbitrariamente (sem qualquer fundamentação ou motivo plausível)
qualquer de seus empregados, vinculado ao pagamento de uma indenização
tarifada, viola o próprio núcleo essencial do direito ao trabalho, em virtude do caráter
supra patrimonial que este tem. Lembra-se, nesse ponto, que o trabalho, para além
de propiciar a subsistência do ser humano através do pagamento de um salário, é
fonte de significação e satisfação de necessidades não materiais, dentre outros
elementos essenciais do direito ao trabalho e da dignidade da pessoa humana.
A partir desse pressuposto e do que consta na Constituição, Wandelli
argumenta que o núcleo essencial do direito a não ser despedido de forma arbitrária
não pode ser reduzido à mera compensação financeira pelo ato injustificado por
parte do empregador.
Em consequência, a limitação contida no inciso I do artigo 10 do ADCT deve
ser interpretado de forma a não esvaziar o conteúdo protetivo constante do inciso I
do artigo 7º da CRFB. Como assevera o citado autor, “diante do texto constitucional
compromissório e propositalmente truncado, não se pode presumir que tal
ponderação tenha significado o esvaziamento, pelo acessório, da proteção que, no
105
Loc. cit.
106
A questão da desregulamentação e da flexibilização foi analisada no Capítulo 2 da presente
monografia, ao qual se remete, por questão de brevidade.
47
107
WANDELLI, L. V. Op. cit. pp. 318. Neste caso, o acessório seria a limitação à indenização
constante do ADCT, e o principal seria o próprio direito à proteção contra a dispensa arbitrária inserta
no texto constitucional.
108
WANDELLI, L. V. Op. cit. pp. 324.
48
113
Nessa linha de argumentação, colaciona-se o que dito pelo autor em estudo: “Essa visão
fragmentada das qualidades do protecionismo reduz a influência do Direito do Trabalho a um espaço
quase que estritamente privado, contratual por excelência, relegando ao esquecimento as regras
justrabalhistas de um modelo ambiental-laboral protetivo da saúde do trabalhador, hábil a ser imposto
tanto administrativamente quanto judicialmente, pelas respectivas vias do direito administrativo
sancionador e das tutelas judiciais inibitória e de remoção do ilícito”. CESÁRIO. J. H. Op. cit. p. 64.
114
CESÁRIO. J. H. Op. cit. p. 67.
115
CESÁRIO. J. H. Op. cit. p. 70.
50
116
CESÁRIO. J. H. Op. cit. p. 80.
117
CESÁRIO. J. H. Op. cit. pp. 71-72.
118
CESÁRIO. J. H. Op. cit. p. 88.
119
OLIVEIRA. M. C. S. (Re)pensando o princípio da proteção na contemporaneidade. p. 168.
51
120
MACHADO apud OLIVEIRA. M. C. S. Loc. cit.
121
Loc. cit.
122
“Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a
empregador, sob a dependência deste e mediante salário” (grifo de agora). BRASIL. Consolidação
das Leis do Trabalho.
123
OLIVEIRA. M. C. S. Op. cit. p. 171.
124
COUTINHO apud OLIVEIRA. M. C. S. Op. cit. p. 169.
125
OLIVEIRA. M. C. S. Op. cit. p. 170.
52
incongruente com esta, uma vez que o constituinte originário, como salientado pelo
professor Oliveira, optou por utilizar a expressão trabalhador, não cogitando sequer
da ideia de trabalho subordinado como sendo o destinatário das normas
constitucionais de cunho protetivo126.
Considerando todos esses elementos, Murilo Oliveira conclui que
Por fim, destaca-se que, essa releitura não exclui a concepção de que às
relações de trabalho constituem-se em verdadeiras relações de poder, ao contrário,
isto é confirmado.
Ora, a proteção ao trabalhador justifica-se pelo desequilíbrio de poder havido
entre as partes na relação trabalhista. Este desequilíbrio que é o gerador da
dependência do trabalhador em relação ao capital, e a consequente necessidade de
proteção, ainda que em diferentes níveis, dependendo do grau de dependência do
trabalhador.
126
Loc. cit.
127
OLIVEIRA. M. C. S. Op. cit. p. 173.
53
Considerando tudo o que exposto até este ponto, parece forçoso reconhecer,
juntamente com Mario De La Cueva, que o Direito do Trabalho tem uma dupla
finalidade: “uma imediata e outra mediata. A primeira se dirige ao hoje, à limitação
da exploração do homem trabalhador do presente; e outra, mediata, pertence ao
amanhã, ao reino da utopia”128.
Nesse sentido, e em face do princípio da dignidade da pessoa humana, é que
reside o caráter emancipador da proteção ao trabalhador, sendo essa não uma mera
concessão estatal a um trabalhador débil, porém, uma consequência da luta da
classe trabalhadora por uma vida digna, tendo em vista que no Estado Democrático
de Direito todo o poder emana do povo, o próprio direito, e mais especificamente o
Direito do Trabalho, assumem essa conformação de expressão da vontade geral.
Logo, a proteção ao cidadão-trabalhador assume a característica de defesa
da vida, da saúde e dos meios de sobrevivência desse, com a finalidade de
propiciar-lhe uma inserção efetiva na vida política e social, possibilitando-lhe a
realização de projetos de vida e a participação nas decisões que lhe dizem respeito,
tanto no âmbito individual, quanto no coletivo.
128
CUEVA apud SILVA, S. G. C. L. da; FIGUEIRA, L. E. A proteção na cultura jurídica trabalhista:
revisão conceitual. p. 311.
CONCLUSÃO
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva.
São Paulo: Malheiros, 2008.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. São Paulo:
LTr, 2012.
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 26. ed. rev. São Paulo: Saraiva,
2002.
SILVA, Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da; FIGUEIRA, Luiz Eduardo. A proteção
na cultura jurídica trabalhista: revisão conceitual. Revista de Direitos
Fundamentais e Democracia. Curitiba, v. 12, n. 12, pp. 302-325, jul./dez. 2012.
Disponível em
<http://revistaeletronicardfd.unibrasil.com.br/index.php/rdfd/article/view/302/287>.
Acesso em: 03 mai. 2013.