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Capítulo 4: ELE0317 − Eletrônica Digital II

4. OS CIRCUITOS LÓGICOS SEQÜENCIAIS

4.1. Introdução e seus Modelos


DEFINIÇÃO: Um dispositivo é dito seqüencial, quando submetido a uma
excitação de entrada qualquer, sua resposta não depende apenas
desta excitação, mas também, da “história passada” das excitações
ocorridas anteriormente em suas entradas.

Um circuito lógico seqüencial pode ser representado por dois


modelos distintos, conhecidos por:
− Modelo de MEALY
− Modelo de MOORE.

É evidente que, sendo os modelos de MEALY e MOORE duas


representações diferentes para o mesmo dispositivo, será sempre possível a
conversão de um para o outro.

4.1.1. Modelo de MEALY para um Circuito Lógico Seqüencial

Z = w (x, y)
com: 
Y = δ (x, y)

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4.1.2. Modelo de MOORE para um Circuito Lógico Seqüencial

Z = w ( y)

Y = δ ( x, y)
Com:

Para os dois circuitos acima, representados pelos seus respectivos


modelos, tem-se:

 x1   Z1   y1   Y1 
x =  M  Z =  M  y =  M  Y =  M 
 xn   Zm   yr   Yr 

ENTRADAS SAÍDAS ESTADO ESTADO


PRESENTE SEGUINTE
OU ESTADO OU PRÓXIMO
ATUAL ESTADO

Um circuito lógico seqüencial, ou simplesmente circuito seqüencial, é


caracterizado por:

1. Um conjunto x, formado por ‘n’ entradas, ou vetor x de entrada;


2. Um conjunto y, formado por ‘r’ variáveis de estado, ou vetor y de estado;
3. Um mapeamento δ : ( x x y ) → Y, chamado de função de próximo estado;
4. Um mapeamento ω : ( x x y ) → Z para o modelo de MEALY ou w : ( y ) → Z
para o modelo de MOORE, denominado função de saída.

A notação < x,y,Z, δ,ω> é conhecida como quíntupla.

CONCLUSÃO:
Um circuito lógico seqüencial (ou simplesmente Máquina de Estado − MdE)
é uma quíntupla < x,y,Z, δ,ω> que obedece ao acima descrito.

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Embora as expressões lógicas de Y e Z, obtidas dos mapeamentos


δ e ω, sejam suficientes para descrever sem ambigüidade qualquer dispositivo
seqüencial, esta representação não nos permite ver claramente as relações
existentes entre as diversas variáveis lógicas, nem muito menos o comportamento
do dispositivo.

4.2. Representações para Circuitos Seqüenciais


As relações equivalentes para descrever um circuito seqüencial são
as seguintes:

1. Equações de saída e de próximo estado;


2. Diagramas de Estado (ou Máquina de Estado - MdE);
3. Tabelas de Estado.
4. Tabelas de Transição.
5. Matriz de Transição.

Sendo as três últimas as que mais dificilmente possibilitam uma boa visualização.

4.2.1. Equações de Saída e de Próximo Estado

É a relação funcional entre as variáveis de entrada, de saída, de


estado presente e de próximo estado. Elas podem ser descritas pelas equações:

Equações de próximo estado → Yi = gi ( x1, L , xn , y1, L , yr )

MEALY → Z i = fi ( x1, L , xn , y1, L , yr )


Equações de saída → 
MOORE → Z i = fi ( yi, L , yr )

As equações lógicas definem completamente o circuito seqüencial


para um dado dispositivo de memória, entretanto, nem sempre elas permitem
uma boa visualização das relações entre as variáveis do circuito e o seu
comportamento.

4.2.2. Diagrama de Estado e/ou Máquina de Estado

É uma representação gráfica na qual os estados são representados


por círculos e as transições entre estados indicadas por setas orientadas.

A diferença entre Diagrama de Estado e Máquina de Estado é sutil.


Enquanto que o diagrama de estado, representando o comportamento do circuito
seqüencial, possui sempre e obrigatoriamente um número total de estado igual a
uma potência de dois (2), a máquina de estado, que tem a mesma representação
gráfica do diagrama de estado, pode possuir um número qualquer de estado.

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Exemplos:

4.2.3. Tabela de Estado

É uma representação por meio de uma tabela onde são marcados


os estados seguintes e a respectiva saída, para cada combinação de estado
presente e entrada. As linhas da tabela de estado são estabelecidas pelos
estados e, as colunas, pelas combinações dos valores dados pelas entradas.

4.2.4. Tabela de Transição

Este é outro tipo de tabela onde os estados são especificados


através de um valor binário. Para se passar da Tabela de Estado para a Tabela
de Transição, basta atribuir valores binários às variáveis de estado e à saída.

Por exemplo:
y' = y1y2...yr = 01...0 Y’ = Y1Y2...Yr = 10...0
Za = Za1Za2...Zam = 00...1
x' = x1x2...xn = 11...0 Zb = Z1bZ2b...Zmb = 11...1

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Este procedimento de atribuir valores binários aos estados é


conhecido como Designação de Estado.

Como exemplo, são dadas duas Máquinas de Estado através de


seus respectivos diagramas de estado, um utilizando o modelo de MEALY e o
outro o modelo de MOORE, como é mostrado abaixo:

- As respectivas Tabelas de Estado:

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- As respectivas Tabelas de Transição com a seguinte designação de estado:

Designação de estado ⇒ A = 0 e B = 1, por exemplo, então:

OBS: Ver-se-á mais tarde que estas duas máquinas são equivalentes!

4.2.5. Matriz de Transição

Se o dispositivo em questão possuir “p” estados, a matriz de


transição associada ao dispositivo deverá possuir “p” linhas e “p” colunas. As
linhas representam os estados presentes e as colunas os estados seguintes.

O elemento Ejk na interseção da linha “j” com a coluna “k” indica


qual a entrada que levará o dispositivo do estado qi ao estado qk , bem como qual
será a saída correspondente.

Exemplo: MODELO DE MEALY:

q0 q1 q2 q3
q0 0 / 1 1/ 0 − −
q1 0 /1 − − 1/ 1
q2 − − 1/ 0 0 / 0
q3 − 0/0 − 1/ 1

O elemento Ejk na tabela, é definido onde ‘j’ é a linha e ‘k’ é a coluna.


O símbolo “−” significa transição inexistente.

Deve-se ressaltar ainda que, por serem os elementos da matriz de


transição símbolos, não se aplicam as propriedades algébricas válidas para
matrizes de números reais ou complexos.

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4.3. Conversão Entre os Modelos de Mealy e de Moore

4.3.1. A Conversão MOORE → MEALY

Seja S uma máquina de MOORE, onde S = x, y, Z, δ, w , deseja-se obter


uma representação de MEALY S’ equivalente, onde S′ = x′, y′, Z′, δ ′, w ′ ’.

Então tem-se:

1. x’ = x ; y’ = y .

2. δ ( xa , qj ) = δ‘ ( xa , qj )

δ( xa , qj ) = qk e
3. w’ ( xa , qj ) = Za se 
w( qk ) = Z a

Remarcas:

i) As seqüências de saída são idênticas, para uma mesma seqüência de entrada


para as duas representações, desde que não se leve em consideração o
estado inicial do modelo de MOORE.

ii) A conversão do modelo de MEALY é realizada sem aumento do número de


estados, o que não acontece geralmente no caso inverso.

Um outro exemplo de conversão MOORE → MEALY :

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4.3.2. A Conversão MEALY → MOORE

A conversão do modelo de Mealy para o modelo equivalente de


Moore, é mais trabalhosa. Isto se dá porque, normalmente, o número de estados
aumenta e, raramente se mantém no modelo equivalente de Moore.

Para determinar o conjunto dos estados no modelo equivalente de


Moore, basta observar as saídas dos arcos entrando em cada um dos estados no
modelo de Mealy, como se segue:

• Se as saídas de todos os arcos entrando em um estado no modelo de Mealy


possuírem o mesmo valor, então um único estado é estabelecido no modelo
de Moore e, associa-se a este estado aquele único valor de saída.
• Se as saídas dos arcos entrando em um estado no modelo de Mealy
possuírem valores diferentes, então serão estabelecidos tantos estados, cada
um com seu respectivo valor de saída no modelo de Moore, quanto forem o
número dos diferentes valores das saídas correspondentes àqueles arcos.

Exemplo de conversão de Mealy para Moore:

Representação pelo modelo de MEALY

Observa-se que os estados q1, q2 e q4 se mantêm no modelo de


Moore porque os arcos entrando em cada um deles (quando existem) possuem
os mesmos valores de saída quando especificadas. Já o estado q3 será
desdobrado em dois estados no modelo de Moore, isto porque os seus três arcos
entrando possuem dois conjuntos com saídas diferentes, que são ‘0’ e ‘1’, logo no
modelo de Moore existirão dois estados equivalentes, que são q’3 com saída ‘0’ e
q”3 com saída ‘1’.

Representação pelo modelo de MOORE

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4.4. Tipos de Circuitos Lógicos Seqüenciais


Um circuito seqüencial pode ser classificado de acordo com suas
entradas, saídas e características de memória. Os elementos de memória
estudados são divididos em duas categorias:
1- Com Relógio (“Clockados”);
2- Sem Relógio (“Não Clockados”).

Assim, os circuitos seqüenciais podem ser divididos em 4 tipos de


acordo com as excitações a que estão submetidos:
COM RELÓGIO:
Tipo -1 → Síncronos Pulsados
Tipo -2 → Síncronos de Nível
SEM RELÓGIO:
Tipo -3 → Assíncronos Pulsados (Modo Pulso)
Tipo -4 → Assíncronos de Nível (Modo Fundamental)

Os circuitos Síncronos normalmente têm todas as suas operações


realizadas sob controle de um sinal pulsado periódico denominado Relógio,
que é ligado simultaneamente a todos os elementos de memória (FLIP-FLOPS).

SÍNCRONOS PULSADOS: São aqueles que tem sinais de entrada pulsados e


todos os elementos de memória ligados ao mesmo
sinal do relógio.

SÍNCRONOS DE NÍVEL: São aqueles que têm sinais de entrada de nível e


todos os elementos de memória com mesmo relógio.

Os circuitos Assíncronos normalmente têm todas ou algumas


operações não realizadas sob controle de um sinal de Relógio. Normalmente os
seus elementos de memória mais utilizados são os LETCHES, linhas de retardo
e eventualmente FLIP-FLOPS.

ASSÍNCRONOS PULSADOS: São aqueles que têm sinais de entrada pulsados


e elementos de memória sem relógio.

ASSÍNCRONOS DE NÍVEL: São aqueles que têm sinais de entrada de nível e


elementos de memória sem relógio.

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4.5 As Famílias dos Circuitos Lógicos Seqüenciais


Os circuitos Lógicos seqüenciais são agrupados em duas grandes
famílias, conhecidas por:

• Completamente Especificado e,
• Incompletamente (não completamente) Especificado

4.5.1. Circuitos Lógicos Seqüenciais Completamente Especificados

Estes circuitos são aqueles nos quais todos os seus estados


seguintes e todas as suas saídas são especificadas para qualquer que seja o
estado presente e qualquer que seja o valor da entrada no circuito.

Exemplo: Uma máquina completamente especificada

0/0 0/0 Tab. de Estado


0/1 0/1
1/1 1/1
A B A B y x 0 1
0/1 A A/1 C/0
ou B A/0 B/1
1/1 ⇒ −/1 C B/1 B/1
1/0 C 1/0 C

4.5.2. Circuitos Lógicos Seqüenciais Incompletamente Especificados

Estes circuitos, também conhecidos como não completamente


especificados, são aqueles nos quais pelo menos um dos seus estados
seguintes e/ou pelo menos uma das suas saídas é não especificado para
qualquer que seja o estado presente e qualquer que seja o valor da entrada no
circuito.

Exemplo: Uma máquina incompletamente especificada


0/0
0/0 Tab. de Estado
A B
1/1 y x 0 1
A C/− B/1
1/− B −/0 C/−
0/− C C C/1 A/1

0/1

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