Você está na página 1de 25

Japão

.2
A narratíva quevocê acabou de lel sobre a saga de Kiyoshie Fumie, foiescri-
ì
ta, na sua quase totalidade, com base em fatos reais e não ficcionais. Hoje, porém,
a situação econômica e social japonesa não é a mesma do início do século XX: a
Terra do Sol Nascente é uma das maiores potências econômicas mundiais.
Mas, infelizmente, não podemos dizer o mesmo do país que recebeu os des-
cendentes de japoneses para trabalhar nas imensas lavouras de café e indústrias
de São Paulo, o Brasll. Ao longo desses anos, muita coisa rnúdóu. Atualmente são
os descendentes dos imigrantes que vão para o Japão trabalhar nas grandes fá-
bricas. Ouais são os motivos dessas mudanças? Como o Japão conseguiu se reer-
guer após ser derrotado pelos aliados no final da Segunda Grande Guerra Mundial?
Nesta SinÍese Geográfica, você terá a oportunidade de conhecer um p0uco
mais desse fantástico país e concluir por si mesmo como Íoi possível para o Ja-
pão retomar 0 seu processo de desenvolvimento. Neste percurso, você conhecerá
um Japão com características geográficas completamente diÍerentes do Brasil,
que soube mudar tecnologicamente, mas sem abrir mão de suas tradições cultu-
rais. Um Japão que valoriza o princípio de coletividade dentro e fora das empre-
sas e que, devido à falta de espaço, soube adaptar-se e criar seu próprio modelo
Griança iaponesa em traje iípico de lestividade. de desenvolvimento. É esse Japã0, que tem recebido os descendentes daqueles
que emigraram para outros países, os dekassegurs, que você conhecerá a seguir.

Para reÍletir
0 Japão tem sido nos últimos anos um país de destaque na mídia internacional, tanto pelo aspecto da atual pujan-
ça econômica bem como pela riqueza de sua milenar cultura oriental. Boa parte dessa história encontramos também no
Brasil, trazida pelos imigrantes japoneses que aqui chegaram em 1908, gerando em nosso país a maior colônia de des-
cendentes fora do Japã0.
Sugestão:0ual a influência da imigração japonesa no Brasil? De que maneira a cultura e a história dos imigrantes
japoneses ainda nos influencia nos dias de hoje? Reúna-se em grupo com seus colegas e discuta sobre essas questões.
Vocês podem fazer uma lista e trazer para a sala de aula objetos típicos que revelam a presença japonesa no Brasil.
Japão - mapa político
Asociedadeeoespaço
geográÍico
0 território japonês está localizado na porção leste do
continente asiático o chamado Extremo Oriente, ou seja,
-
delimitado ao norte pelo estreito de La Pérou-
o Japão está
se (também chamado de Soya); a oeste pelo Mar do Japão;
a leste e ao sul pelo Oceano Pacífico; e a sudoeste pelo Es-
treito da Coréia.
Mar do Japao
0 Japão tem hoje cerca de 127 291000 habitantes. A maio-
K, (Mar do Leste)

ria (75%)vive nos grandes centros urbanos, que, por essa ra-
zã0, possuem uma elevada densidade demográfica média, de
334 habitantes por km'. Essa população se concentra em es-
pecial em duas grandes planícies litorâneas: Kanto que
-
Saitama, Gun-
compreende os distritos de Kanazawa, Tóquio,
ma, Tochigi, lbaraki e Chiba e Kansai que compreende
- -
o distrito de Kinki, abrangendo as preÍeituras de Shiga, Mie, Mar da n'ILizï Miyasaki
E
OCEANO
Kioto, Nara, Osaka, WakaYama e HYogo.
PACíFICO
$\: Em conjunto, essas regiões resultam em uma imensa È

megalópole (área superurbanizada). Tóquio, a capital do país,


forma com algumas cidades vizinhas um imenso conglome- o 223
rado urbano. um dos maiores do mundo, com aproximada-
r+Í cm-223km
tl46km

mente 20 milhões de habitantes, ou seja. 16% da população


r Cspital
do país. e Cidad6 muito importante

um arquipélago formado por aproximadamen- . Cidade importante


Q !,.p_ão é
o Outrascidades
te 4 mil ilhas, e as principais são: Hokkaido, n0 extremo nor- Rodovia
te (83 514 km'); Honshu, no centro (230 948 km'); Shikoku, no *- Fêmviã

centro-sul (18 798 km'); e Kiushu, no sul (44 358 km'?). Desta- .9

cam-se ainda as ilhas Ryukyu, no extremo sul do arquipéla-


go, e Kurilas, a nordeste. Estas últimas, ao final da Segunda E

Guerra Mundial, passaram a pertencer à Rússia, embora os


japoneses insistam na possibilidade de reintegrá-la ao seu 2


território.
Ouanto ao relevo, a maior parte da superfície do Japão é
constìtuída por elevados planaltos e montanhas, aproxima-
damente 80% do total do territór|o, apresentando de eleva-
das a médias declividades. A junção de norte a sul entre os
relevos montanhosos, principalmente na ilha de Honshu, for-
mou uma grande cordilheira em forma de espinha dorsal' di- Vista aérea de Tóquio: a impressionante ocupação do espaço de um dos
vidindo o arquipélago. É nessa área central que ocorre a maiores conglomerados urbanos do mundo.

36
Japão - mapa Íísico as planícies costeiras
- que ocupam somente 20% do ter-

@rn cõ-nïrçõespara a fixação de gran-


de parte da populaçã0.

" 5g lelA?q_q;eob31tq1a vegetal, 67% do território é co-


berto por árvores, sendo que as montanhas das ilhas Honshu,
l. Etorofq
'se y/ Sh\oku é Kiushu apresentam uma vasta vegetação sub-
Kunashiri /-^ç
tropical, enquanto a ilha de Hokkaido é coberta de Flores-
x'#/s:lu'"
iàs Temperadas e frias do tipo coníferas. Nas áreas de
W"'i".'w m onta n has Ìnóspita s a Ì nda resta m f Io reglas-1qtiv_a s. Toda -

,o&o v via grande parte dar áreas de ryratas dcnsas são de reflo-
,rol'' 511:1
10

ièStãmènto. o que também ocorre nas áreas litorâneAS. N0


caso desta última, principalmente nas áreas meridionais
(subtropicãis), encontram se veggtaqto_de mangue e de
pântanos.
' Mas como surgiram as montanhas, os planaltos e as pla-
V
E Fossa nícies do território japonês? 0 arquipélago do Japão está lo-
m do Japão
10 374 m calizado no chamado Círculo do Fogo, no Oceano Pacífico, na
confluência entre as placas tectônicas Eurasiana, Norte-ame-
ricana, das Filipinas e do Pacífico. Como essas placas estão
P
Mar da phìna ,ACíFICO em constante movimento, o Japão freqüentemente sofre uma
È Oriental
N série de pequenos e médios abalos sísmicos. No territórÌo
"
I

Ë
$::,-, "+'
.'a{"6z

O 223
lcm-223km
446 km
que abrange o Círculo do Fogo é comum a ocorrência de ter-
remotos, maremotos e vulcões.
Nos últimos 400 milhões de anos, o deslocamento das
Altitudes (em metros)
placas litosféricas gerou sucessivos movimentos orogenéti-
Pico
^v cos e erupções vulcânicas; estes, associados aos naturais
Profundidade
Acima de 2 000 metros processos erosivos das rochas, fizeram surgir as diferentes
De1000a2000
formas de relevo encontradas no Japã0.
De 200 a 400
Até 200 Dessa forma, atualmente 260/o do território é formado
por rochas vulcânicas, existindo mais de '180 vulcões no
país, dos quais mais de 40 estão em estado de atividade,

maior quantidade de terremotos (abalos sísmicos), principal- õom-o no Càsoìoíúúhões Sátr"l'm, Aso, Asama, Bandai e

mente em Tóquio, Nagano, Kobe, Shizouka, Aichi, Gifu, To- Mihara. É importante destacar que a mqjotparladasativi-
yama, lshikawa, Fukui, Shiga, Kioto e Osaka. Em vários lo- dades vulõânicas seconCentra nos setores pL-qìflos atQ-MnJ
cais da faixa litorânea, as montanhas têm um contato direto OoTabãã e ao sut enXiushu. Já o famoso Fujiyama (literal-
com 0 mar. sem formação de praias, apresentando escarpas mente, Monte Fuji), encontra-se atualmente adormecido.
de falhas íngremes e abruptas. _Ouanto ao clima, o Japão se posiciona em zona climáti-
Y Nas áreas interioranas, entre as montanhas, formaram- ca de latitudes médias (entre 300 e 45' N), sofrendo a in-
'
íáuales estr.jtor r rnrãixados nas Íormações rochosas, de fluência dossisternas de transição climática, que se carac-
*difícil ocupação. Já em direção às áreas litorâneas, 0s vales terizam póiúa alterttênciEpntre ós sistemas tropicais no ve-
dos rios são amplos e abertos. 0 contato desses vales com rão e ob sistemas polares no inverno. Desse modo, conforme

Síntese Geosráfica
3l
r
. Regiões de Shikoku, Kiushu e Ryukyu (0kinawa): in-
õl
fluência das massas tropicais quentes e úmidas e das cor-
rentes quentes de Tsushima e Kuro Shio, apresentando cli-
ma subtropical, e tropical ao extremo sul.

0 terremoto de Kobe
'17
cie janeiro, 1995. 5h 46 m. 0s habitantes de Kobe começavam a
acordar para mais um dia de trabalho. Vinte segundos depois, a ci-
dade, com seus ediÍícios modernos, estava reduzida a ruÍnas. Pré-
dios, aparentemente preparados para enfrentar qualquer abalo sÍs-
mico, destruÍdos, viadutos caídos, linhas de trem totalmente retor-
cidas, fendas enormes abertas no asfalto, encanamentos rompidos,
fazendo o fogo se alastrar, davam à paisagem urbana, antes calma
e ordenada, um clima de terror e desolaçã0.
Essa tragédia foi conseqüência da tensão originada peìo atrito das
placas tectônicas, pois o Japão se situa exatamente na ìntersecção
de quatro delas. 0 tremor principal, que alcançou 7.2 na escala
Bichter (medida que vai de zero a dez pontos, usada para determi-
0 Monte Fuii, símbolo sagrado para os iaponeses e inspiração para músi- nar a intensidade de um abalo sísmico), deixou um saldo de pelo
eos, poetas e escritores, é uma das imagens mais conhecidas do Japão menos 5 500 pessoas mortas e mais de 30 000 Íeridos. 0 pior de-
pelos ocidentais.
sastre da hisÌória do Japão desde a Segunda Guerra Mundial.

a regiã0, as quatro estações do ano se sucedem de forma


bem deÍinida.
Dependendo da circulação atmosférica geral, associada
aos Íatores de latitude e de relevo, em determinadas épocas

F;
do ano o território japonês sofre influência das monções con-
tinentais, massas de ar polar frio e seco, que se deslocam do
continente (altas pressões atmosféricas), e das monções ma-
rítimas, massas tropicais de ar quente e úmido, que vêm d0 A principal via expressa de Kobe não resistiu ao terremoto que as-
solou a cidade no início de 1995.
0ceano Pacífico (baixas pressões atmosféricas).
Além dos sistemas atmosféricos, as correntes maríti-
mas quentes {Tsushima e Kuro Shio) e Írias {Oya Shio} exer-
cem também sua influência. Pode-se dizer então que 0 Ja-
A ]cuPAÇA] D0 ESPAÇ0
pão apresenta as seguintes variações climáticas ao longo de Protegida por um conjunto de montanhas que se esten-
seu território: dem de norte a sul, a parte leste da ilha de Honshu e suas
. Hegião norte (Hokkaido): influência das massas pola- planícies litorâneas enc0ntram-se livres das massas de ar
res e da corrente fria de Oya Shio, com seis meses de inver- polares frias vindas da Ásia continental. No passado, essa
no rigoroso (neve abundante) e seis meses de verão ameno, óaracteríStica foL de suma importância para a ocupação do
com clima temperado frio; teÍitóÌio japònOs. Em Honshu mais especificamente na
-
desenvolveram-se as principais p0v0a-
o Begião central (Honshu): influência das massas pola- planície de Kanto
-
res e tropicais, associadas às correntes fria (Oya Shio) e ções do Japã0. Lá, além de Tóquio, encontram-se hoje as
quentes (Tsushima e Kuro Shio), com níveis de chuva eleva- mais importantes cidades do arquipélago, c0m0 0saka, Na-
goya e Yokohama.
dos e clima temperado oceânico;

30

I
0 relacionamento dos japoneses com o meio ambiente
em que vivem é determinado basicamente pela relação des-
proporcional que existe entre um território pequeno e uma
população bastante numerosa. A falta de espaço físico ge-
rou a necessidade da conquista de terreno ao longo do lito-
ral: muitas áreas foram e estão sendo aterradas, para fins
agrícolas, industriais ou habitacionais.
A questão da moradia no Japão é grave, como mostra a

construção de inúmeros conjuntos residenciais populares na


periferia das grandes cidades. 0s apartamentos são dÌminu- *
tos, embora aceitáveis para 0s padrões do país. Nas últimas s
décadas, os japoneses têm procurado c0mpensar esse pro-
blema com o uso de produtos eletroeletrônicos de alta tec-
Para resolver os problemas da Íalta de espaço, os iaponeses têm aterrado
nologia e compatíveis com 0 p0uc0 espaço, em busca de mais
áreas costeiras, como no caso deste complexo industrial em Mizushima.
conforto e praticidade.
A tecnologia, entÍetanto, nem sempre foi sinônimo de

conforto para os japoneses. Até meados da década de 1970,


por exemplo, a poluição ambiental era extremamente elevada

em Tóquio, pois durante cerca de trinta anos foram feitos in-


vestimentos n0 setor industrial, sem grandes preocupações
com a preservação do meio ambiente e com a qualidade de
vida da populaçã0. Atualmente, porém, foram estabelecidos
novos critérios para nortear o desenvolvimento sem desequilí
brio ecológlco.
Além disso, tanto para a capital como também para to-
..f, dos os grandes centros urbanos, existem Planog D_1p!orqs- de
Desenvolvimento Urbano, que regulamentam 0 crescimento
das cidades.
A escassez de espaço no Japão levou a uma falta de deli-
mitação entre as zonas industriais e habitacionais, bem como *ff
entre estas e as voltadas para a agricultura, principalmente As vielas estÌeitas, a ausência de quintais e a proximidade das residên-
cias revelam que um dos grandes problemas do Japão é o da habitação.
nas regiões de planície. Todo terreno disponível é utilizado
para uma finalidade. No caso agrícola, para o cultivo do ar-
roz (rizicultura), que é a base alimentar do povo japonês.. N_as

áreas de montanhas, o arroz é cultivado nos terraços, ou de- pão estão interligadas p0r uma extensa malha ferroviária,
graús feitos nas escarpas, mas sempre vinculados às peque- que inclui desde os trens mais comuns aos modernos trens-

nal propriedades. Mesmo nas áreas planas, o cultivo é fei- balas(shinkansensl, que viajam a uma velocidade média de
to por pequenos proprietários. 250 km/h
De outro lado, a concentração das empresas nas cidades Fato muito importante, já que a maioria da população
grandes levou a uma ampla implementação dps transportes precisa percorrer distâncias consideráveis diariamente, para
coletivos, privilegiando as ferrovias. Todas as cidades do Ja- ir de casa ao local de trabalho.

Síntese Geosráfica
3g
ASPECTOS AMBIENTAIS
A preocupação com 0 meio ambiente no Japão de hoje
é um fenômeno recente. Pode-se notar isso pela grande quan-
tidade de áreas reÍlorestadas e pelas p0ucas reservas de
matas nativas, que se encontram somente nas regiões
mais inóspitas, c0m0 a0 n0rte de Hokkaido e ao sul de
0kinawa.
A década de 1960 marca 0 início de uma maior preocu-
paçã0 quanto à qualidade ambiental e à reciclagem do lixo
Íormado por resíduos sólidos e líquidos, originários basica-
mente da indústria.
Foi nessa época que ocorreu um grave acidente ecológi-
Secagem da palha de arroz. A produção desse cereal divide espaços com
residôncias em praticamente todo o país. co na baía de Minamata, localizada na ilha de Kiushu. Des-
de 1932, algumas indústrias próximas a Minamata lançavam
seu lixo n0 mar. Com resíduos principalmente à base de mer-
cúrio e sem nenhum tratamento adequado, esse despej0 de
aproximadamente 600 toneladas contaminou os peixes do
local. Consumidos pela população da baía, eles causaram
danos físicos irreparáveis, tais como a perda da coordena-

ção motora e até a paralisia cerebral.


0s sintomas da chamada doença de Minamata começa-
ram a ser diagnosticados somente em 1962, quando pelo
menos quarenta pessoas já tinham morrido e muitos de seus
descendentes apresentavam problemas congênitos.
Essa tragédia e mais a crescente preocupação interna-
cional com a ecologia levaram as autoridades governamen-
tais do Japão a desenvolver um amplo programa de contro-
0 Japão Íoi o primeiro país a implementar o tÍansporte Íerroviário de alta
velocidade. Atualmente, os trens-bala iaponeses Íoram desenvolvidos le ambiental e do uso racional dos escassos recurs0s natu-
para ultrapassar 550 km/h, embora se mantenham na velocidade de 400 km
rais do país.
horários.
Entre as medidas postas em prática, todas as empre-
sas foram obrigadas a tratar seus dejetos líquidos, sólidos
0u gasosos, para evitar a poluiçã0. Da mesma forma, ne-
Também no caso das rodovias 0 país se destaca. Extrema- nhuma obra de porte pode ser executada sem a apresen-
mente sinalizadas, suas estradas se destacam entre as mais tação de relatórios de impacto ambiental às autoridades
modernas do mundo. Ligando o Japão de ponta a ponta, apre- competentes.
sentam trânsito rápido e número reduzido de acidentes. A população é obrigada a separar o lixo orgânico (como
De qualquer modo, independentemente dos avanços tec- restos de alimento, por exemplo) do inorgânico (latas, vi-
n0lógicos no setor dos transportes, nada substitui as bicicle- dros, plástico) para aproveitamento posterior, através da

tas para as distâncias curtas. Há um grande número de ci- reciclagem. A própria água proveniente da cozinha dos la-
clovias n0 país e estacionamentos especiais para esses veí- res japoneses é utilizada para a irrigação das plantações
culos em todas as estações de trem. de arroz.

40
0 Protocolo de Kioto
Em 1997, na cidade de Kioto n0 Japão, foi realizada uma reunião
com cerca de 10.000 delegados de diversos paÍses do mundo, para
elaboração e aprovação do Protocolo de Kioto, objetivando a im-
plantação de medidas rígidas para diminuìção da emissão de gases
que causam o efeito estufa, em aproximadamente 5% em relaÇão
aos níveis de 1990, até o período de 2008-2012. Neste evento foi
criada a Convenção de lt/ludança Climática das Nações Unidas e as
condìções para implementação da referida Convençã0.
Para entrar enr vigor o protocolo deve ser aprovado, principalmente
pelo parlamento dos países industrìalizados, que sã0 responsáveis
por pelo menos 55% da emissão dos gases (C0,) que provocam 0
eÍeito estufa. Dos grandes países industrializados, até 0 pÍesente
momento, os Estados Unidos, responsável por25% da emissão de
gases, têm-se negadO a aderiÍ a0 pr0l0c0l0. Este Íato não permitia
que o protocolo de Kioto entrasse em vigor.
Com a adesão oficial da Rússla (6/1 112004) o acordo, que antes con-
tava com a ratificação de 122 países (inclusive o Brasìl), passaÍá a
vigorar a partir de 2005, pois atingiu o índìce de 55% de participa-
ção de países emissores de C0,.
Dessa forma, deverão ser implemenÌadas ou aprim0radas, c0nforme
a sìtuação de cada país, as seguintes medidas:
o f0mento da efìciência energética n0s setores pertinentes da eco-
nomia nacìonal;
. proteção e melhora dos sumidouros e depósÌtos de gases, tendo em
conta, 0s acordos internacionais pertinentes a0 Mei0 Ambiente;
. promoção de prátìcas sustenláveis de manejo Ílorestal, floresta-
mento e reÍlorestamento;
. promoção de Íormas sustentáveis de agrìcultura à luz das consi-
derações sobre a mudança do clima;
. pesquisa, promoçã0, desenvolvimento e aumento do uso de for-
mas novas e renováveis de energia, de tecnologias de seqüestro de
dióxido de carbono e de tecnologias ambientalmente seguras, que
sejam avançadas e inovadoras;
. medidas para limitar e/ou reduzir as emissões de gases de e{eito
estufa no setor de transportes;
o redução progressiva ou eliminação gradual das deÍiciências de
Canal para escoamento da água utilizada na cozinha e destinada à iniga-
mercado, incentivos fiscais, ìsenções tributárias e subvenções que se-
ção. Atualmente são Íeitas campanhas paÍa que essa água seia tratada jam contrários ao objetivo da convenção em t0d0s 0s setores emis-
antes de seu ÍeapÍoveitamento.
soÍes de gases;
. fomento de reÍormas apropriadas dos setores pertinentes, visan-
do promover polítìcas e medidas que limitem ou reduzam as emis-
sões de gases.
(0 texto originaÌ do Protocolo de Kioto pode ser enconÍado no sile:
www.mct.gov.brlupd blob 10012/ 12425.pdf\

A coleta seletiva de lixo e posterior reciclagem já está incorporada aos


Mudanças climáticas alertam para a entrada em vigor do Protocolo
hábitos dos iaponeses. Na Íoto, três recipientes: um paÍa iornais e revis-
de Kioto.
tas, outÍo para latas e garraÍas, e um último para outros tipos de lixo.

Síntese Geosráfica
4l
r
-t
Tradição e mudança
"Vápara Kioto se quiser conhecer o Japão antigo, o país ã
.9
E
dos samurais, das gueixas, dos templos budistas, dos jardins
de pedra. Tóquio é o Japão moderno, ocidentalizado." Esse é
o conselho que um turista de primeira viagem ouve com Íre-
qüência quando viaja para o Japã0. Essa frase, porém, é

mais do que um conselho, pois ela reflete a verdadeira ima-


gem desse país e mostra um fator fundamental para ter al-
cançado o lugar que ocupa hoje: a capacidade de preservar
as tradições do passado sem perder a sintonia com o futuro.
Detalhe de Kioto, a cidade dos 1 500 templos religiosos. Ao Íundo, os edi-
Foi o que aconteceu em 1868, quando o Japão buscou a fícios contemporâneos Íazem contÍaste com a arquitetura seculal da anti-
ga capital iaponesa.
modernização com a reÍorma Meiji, iniciando um processo
de reestruturação econômica. Uma missão foi enviada à Eu-
r0pa e a0s Estados Unidos, para estudar os sistemas legais,
educacionais e industriais adotados pelos países ocidentais.
Entre a pesquisa e a realização passaram-se apenas alguns
an0s e, no início do século XX, o país já podia ser considera-
do Industrializado.
Esse acontecimento revela uma c0nstante na história do
Japão: o de assimilar e aproveitar 0 que há de melhor de
uma cultura estrangeira para sua realidade.
Assim no campo da religiã0, o budismo e o confucionis-
mo, vindos da China, acabaram adquirindo características

Pequenas manuÍaturas como esta Íoram responsáveis pela produção in-


dustrial japonesa duÍanle o período Meiii.

próprias no Japã0, sem com isso entrar em conflito com o


xintoísmo, a religião original do povo japonês. No caso do
conÍucionismo, 0s seus preceitos, que enfatizam principal-
mente a unidade Íamiliar e a obediência às autoridades
-
os pais, o professor, 0 patrão acabaram inÍluenciando
-,
também o modo como está organizada a sociedade japone-
sa, que valoriza mais o grupo do que o indivíduo e enaltece
a disciplina e o trabalho.
Um outro fator fundamental para o sucesso econômico
Mutsuhito, o imperador em cuio reinado teve início 0 pÍocesso de moder-
nização do Japão, conhecido como reÍorma Meiii. do Japão está na ênfase dada à educaçã0. 0 respeito ao

42
q
q
Japoneses, mas nem tanlo...
c
Embora predominantemente homogênea, a população japonesa é
è composta também por minorias, como as formadas por imigrantes ou
descendentes de chineses, coreanos e filiplnos; por grupos étnicos,
c0m0 0s ainos, que vivem em sua maior parte na ilha de Hokkaido,
a0 noÍte do Japã0, e os habitantes das ilhas de 0kinawa, n0 extÍe-
mo sul do arquipélago japonês; e ainda por uma comunidade margi-
nalizada, os burakunin-todos vítlmas de forte discriminaçã0, prin-
cipalmente n0 que se reÍere a casamento, educação e trabalho.
0s ainos foram um dos primeiros grupos a p0v0aÍ o Japã0, mas aca-
baram dominados pelos japoneses, de origem mongólica, terminan-
do por se reÍugiarem em Hokkaido. Devido às suas características
físicas, acredita-se que sejam provenientes do Cáucaso. Existem
atualmente cerca de 20 000 descendentes dessa raça, que corre 0
risco de se extinguir.
Monges xintoístas dirigem-se para o santuário de Yasukuni em Tóquio. 0
xintoísmo é a religião original, portanto mais antiga, do povo iaponês. Já os nativos de Okinawa descendem provavelmente dos povos do
sudeste asiátlco. A proximidade com a China fez com que os habi-
tantes dessas ilhas sofressem a inÍluência do povo chinês, acaban-
aprendizado é tradicional n0 país. A educação é gratuita e do por desenvolver uma cultura distìnta da japonesa, inclusive com
uma língua própria.
obrigatória para crianças de seis a quinze an0s e o currícul0 Existem também os burakuminl"aldeões"), descendentes de comu-
é nacional. Apesar de críticas a0 seu ensin0 superior e a0 nldades marginalizadas do período pré-moderno japonês. Formando
um grupo de cerca de 3 milhões de pessoas, os burakuminvivem em
fato de a metodologia se basear muito mais na memorização guetos, praÌicamente isolados do resto da sociedade. 0 preconceito
do que n0 pensamento crítico (algo que as autoridades têm contra eles teve origem na religião budista, que proibia seus segui-
dores de tocar em carne ou de comê-la, e condenava os que lidavam
pÍocurado mudar nos anos 1990), 0 sistema educacional japo-
com sangue e morte, justamente as profissões em que os buraku-
nês é considerado por muitos especialistas como um dos mrn trabalhavam: em sua maÌoria, eles eram açougueiros, coveiros
e curtidores de couro.
mais eficazes do mundo: os alunos ficam oito horas por dia
Embora a lei japonesa proÍba a discriminaçã0, os burakumin são
nas escolas, inclusive aos sábad0s, e existe uma grande ên- obrigados até hoje a esconder sua origem, se quìserem obter em-
pregos que não envolvam serviço manual 0u se casar com alguém
fase nas lições práticas, tais como excursões, estudos do
que não seja de sua comunidade.
meio, visitas a fábricas e museus, utilização de laboratórios
e computadores, etc.

! n nrcuPERAçÃo Do pos-GullftA
" Disciplina e trabalho foram, sem dúvida, de vital impor-
tância para a recuperação do país após a derrota na Segun-
da Guerra Mundial. Unidos em t0rn0 de um objetivo único,
autoridades e p0v0 c0ncentraram seus esÍorÇos em reerguer
um país humilhado e devastado pela guerra.
Arrasado pelos aliados durante a Segunda Guerra Mun-
dial (1939-45), o Japão soube superar a derrota e é atual-
mente a malor potência econômica do Oriente, e a segunda
do mundo. Sua produção econômica anual, que em 1 950 cor-
respondia a 8,5% da norte-americana e metade da inglesa,
atualmente representa 60% do produto anual dos Estados
Unidos e quase quatro vezes o do Reino Unido. 0s métodos
A importância dada à educação está na base do desenvolvimento econômi-
co do Japão. Na Íoto, crianças participam de um concurso de caligraÍia. de trabalho empregados em suas fábricas estão sendo cada

Síntese Geosráfica
43
... e completamente reconstruída nos dias atuais: uma moderna metrópole
de concreto e vidro.

te, usinas nucleares. Para se ter uma idéia do potencial ener-


Vista aérea de Tóquio em agosto de 1945: a capital iaponesa reduzida a gético obtido, pode-se mencionar que somente estas últi-
escombros pela aviação norte-ameÍicana...
mas respondem p0r 16% da energia produzida no planeta
porcentagem ampliada para 20o/o no ano 2000.
- Vários outros setores receberam empréstimos financei-
vez mais copiados por outros países. Como pôde ocorrer em
tão pouco tempo (cerca de quatro 0u cinco décadas) tama- ros, mas o automobilístico e o microeletrônico foram os mais

nha transformação? privilegiados.

No período imediatamente após a guerra, a nação japo- Militarista no período anteri0r à Segunda Guerra, o Ja-
nesa estabeleceu para si um pact0 de reconstruçã0. Previa- pão já havia desenvolvido tecnologia própria para a produ-
guerra e carÍos
se que em um sécul0 o Japão iria retornar a0 grup0 dos paÊ ção de armas pesadas, c0m0 tanques de
ses desenvolvidos. Técnicos, professores, 0perári0s, cientis- blindados. Esse conhecimento não podia ser desprezado e
tas, agricultores, enfim, toda a população do país assumiu e foi direclonad0 para a fabricação de motores de utilização
aceitou os sacriÍícios e os desafios a serem enfrentados nos civil. 0s gastos militares foram reduzidos ao extremo, repre-
anos e décadas seguintes. sentando nas últimas décadas bem menos de 1% do PNB do

Com a economia destruída e 0 governo sem dinheiro país. 0 Produto Nacional Bruto (PNB) é a soma do valor de

para financiar a reconstrução do país, a saída foi a busca de toda a produção econômica anual de um país.
recursos nas Instituições bancárias internacionais. lnteressa- No campo da microeletrônica, os recursos Íoram aplica-

dos em que o Japão viesse a se tornar um forte aliado eco- dos após a constatação de que várias nações estavam inves-

nômico na Ásia (onde havia a ameaça de expansão socialis- tindo somas volumosas em pesquisas sobre semicondutores
ta com a Rússia e a Chlna), os norte-americanos transÍorma- e radiotransistores. Acreditava-se ainda que o novo setor da

ram-se em seus principais credores. computação seria estratégico para agilizar e aperfeiçoar os

0btidos 0s recursos financeiros, a maior parte foi aplica- investimentos empresariais, tornando o Japão competitivo

da no setor energético. A produção de energia era funda- no mercado internacional.

mental para a criação de um novo complexo industrial. Cons- Embora estando sob ocupação norte-americana, em c0n-

truíram-se várias usinas hidroelétricas e, mais recentemen- seqüência da guerra, o MlTl (Ministério da lndústria e Co-

44

I
E

E
mórcio do Japão) estabeleceu uma série de medidas prote-
cionistas, para incentivar o desenvolvimento da indústria na- s
cional e também das exportações. :
.e

Foi a partir da década de 1960, entretanto, que a expan-


são econômica japonesa se acentuou. com resultados cada
vez mais surpreendentes na conquista de novos mercados.
Em 0 desafio japonês livro que se tornou célebre em
1969
-
o estudioso Hedberg Hakan apresentava 25 fatores
-,
que concorriam para o superdesenvolvimento do Japã0.
Entre eles, devem ser mencionados: a colaboração efeti-
va entre o Estado e as classes produtoras; a incrível capaci-
dade japonesa de imitar e posteriormente criar equipamen-
tos tecnológicos eÍicientes, sofisticados e velozes; o espíri-
to esportivo de competiçã0, introduzido não só no interior de e
cada empresa, mas envolvendo também as empresas entre
si; a crença na expansão contínua do mercado mundial, in-
=
dependentemente de questões político-ideológicas; o nacio-
nalismo exaltado e um extremado orgulho nacional, que pre-
tendia resgatar o Japão derrotado pela guerra diante dos
olhos da comunidade internacional.
A injeção de capital estatal e privado n0 campo automo-
bilístico e da microeletrônica, assim como no da siderurgia,
da construção civil e da indústria naval, durante as últimas
cinco décadas. fez com que 0s produtos japoneses viessem
a se tOrnar quase imbatíveis em relação aos dos outros paí-
Estudantes vão à escola vestidas com o uniÍorme tradicional.
ses concorrentes no mercado. 0 rápido crescimento econô-
mico-social do Japão acabou por assustar a comunidade in-
ternacional. Ao longo da década de 1980, isso chegou a criar
sérios atritos com 0s países da Comunidade Européia e tam-
bém com os Estados Unidos, sobretudo devido à crise que
atingiu a economia norte-americana nos anos 1980.

O OCIDENTE É AOUI?

Domingo à tarde em Tóquio: um passeio por um dos prin-


cipais parques do centro da cidade pode dar ao estrangeiro
a estranha sensação de que a nova geração de japoneses
cultua mais os valores ocidentais do que os de seu país. Gru-
pos de jovens vestidos no rigor da moda nade in USÁ se di-
vertem ao som de músicas pop.0s fast foods proliferam, as-
Gena de uma peça do teatro kahuki,uma das tradições da cultura iapone-
sim como as máquinas de refrigerantes. As conversas são en- sa, caracterizada pela exuberância de suas apresentações.

Síntese Geosráfica
45
tremeadas de palavras de origem americana, perÍeitamente
incorporadas ao vocabulári0 cotidian0.
Segunda{eira de manhã: 0s mesmos jovens que um dia
antes se divertiam n0 parque agora se preparam para ir ao
trabalho ou à escola. 0 café da manhã de alguns será ao es-
tilo ocidental, outros tomarão a tradicional sopa de mt,ssÓ,

acompanhada de arroz e alguma mistura de legumes, e ha-


verá ainda quem opte por uma mistura dos dois estilos.
As estudantes estão vestidas com o uniforme tradicio-
nal, que há décadas é o mesmo: sapato, meia soquete, ves-
tido azul-marinho abaixo do joelho, gola marinheiro. 0s que
vão ao trabalho pegarão 0 metrô lotado e, antes de come- Navio Kasato Maru atracado no porto de Santos.

çar mais uma jornada, participarão da ginástica matinal e


i da leitura dos princípios da companhia, em que se compro- Mas o que fazia os japoneses abandonarem sua pátria
metem a dar o máximo de si para 0 sucesso da empresa. para trabalhar num país distante, que lhes era totalmente des-
Esses dois comportamentos podem parecer, a princípio, conhecido, de cultura e língua completamente diferentes?
conflitantes. De um lado a negaçã0, de outro a aceitação dos
valores de seu país. Mas talvez seja a síntese perÍeita de
uma nação que em toda a sua história soube oscilar entre a UM PAíS EM DIFICIJLDADES
tradição e a mudança.
0 ano de 1868 marca o início de uma transformação ra-
Muitas das milenares tradições da cultura japonesa são
dical na economia japonesa: de nação tradicionalmente agrÊ
mais do que simples memórias do passado: elas ainda mar- cola, a Terra do Sol Nascente pretendia transformar-se numa
cam sua presença nos dias atuais. potência industrial e moderna.
Para abandonar o sistema Íeudal e atingir o capitalismo,
0 governo japonês 0pt0u por não procurar dinheiro n0 exte-
rioç preferind0 recorrer às reservas existentes no interior de
A imigração iaponesa seu próprio território. Criou impostos pesados sobre as pro-

para o Brasil priedades rurais e, principalmente, sobre os produtos agríco-


las. Com isso, prejudicou pequenos e médios agricultores,
dificultando suas condições de vida.
Em 18 de junho de 1908, atracava no p0rt0 de Santos,
0s resultados imediatos dessa política foram o desem-
após 51 dias de viagem, o navio Kasato Maru, ïrazendo a
preg0, a escassez de comída e a miséria, além da conseqüen-
bordo os primeiros 781 imigrantes japoneses. Vinham para te tensão social. Em 1904, o país entrou em guerra contra a
trabalhar nas lavouras de café, que faziam a riqueza do Esta- Bússia. Saiu vitorioso, mas as perdas foram grandes, prejudi-
do de São Paulo e do país. Após o desembarque, os recém- cando mais uma vez a agricultura, que tinha visto sua mão-
chegados enfrentavam mais uma viagem, dessa vez pela es- de-obra ser levada para o camp0 de bataiha. Para piorar, em
trada de ferro São Paulo Bailway, rumo à Hospedaria dos lmi- 1905, as chuvas excessivas prejudicaram a colheita de arroz,
grantes, na cidade de São Paulo. De lá eles eram encami- trazendo fome para aproximadamente 280 mil pessoas.
nhados para diversas fazendas do interior d0 Estado, dando Todos esses problemas fizeram com que o governo japo-

início a um fluxo migratório que acabaria por fixar a maior nês passasse a incentivar a emigraçã0, através de empresas
colônia japonesa fora do Japã0. privadas, as Companhias de Emigraçã0. Elas se incumbiam

4$
Com a diminuição da oÍerta de imigrantes europeus, o
governo brasileiro assinou um acordo com a Companhia lm-
perial de Emigraçã0. Ficou estabelecido que seria permitida
a entrada de três mìl imigrantes, divididos em, n0 máximo,
mil por ano, sendo dada preferência a famílias de agriculto-
res compostas de três a dez pessoas aptas para o trabalho,
que seriam distribuídas nas fazendas de café ou em núcleos
coloniais.
A expectativa dos japoneses não era a de se fixar defini-
tivamente no Brasil. Ao contrário, pretendiam trabalhar no
máximo cinco anos, fazer uma boa poupança e retornar.
A realidade, porém, não correspondeu ao sonho. 0 des-
conhecimento da língua portuguesa, as grandes diferenças
culturais, entre as quais uma alimentação completamente
diversa da de seu país de origem, os maus-tratos dos patrões
e as péssimas condições de trabalho e moradia levaram
muitos imigrantes à rescisão do contrato de trabalho, à fuga,
à loucura ou ao suicídio.
Cartaz de propaganda iaponês incentivando a emigração para o Brasil.
Dois anos depois do estabelecimento no Brasil, frustra-
dos seus planos de retorno, os japoneses procuraram se or-
ganizar, de modo a encontrar outras formas de trabalho que
de propagandear as vantagens dos trabalhos existentes em
países do exterior, de recrutar e seleci0nar 0s candidatos à lhes trouxessem mais benefícios. Uma delas foi a de tor-

emigraÇão, além de se responsabilizar pelo transporte e pe- narem-se responsáveis pelo cultivo dos cafezais, desde a

los contratos de trabalho. plantação até a colheita. Com esse sistema de arrendamen-
to, muitos imigrantes conseguiram dinheiro suficiente para
comprar pequenas propriedades e se tornar seus próprios

OS PRIMEIROS IMIGRANTES JAPONESES patrõqs.

0s primeiros japoneses a deixar seu paÍs, isso em 1868,


foram tentar a sorte nas plantações de cana-de-açúcar do
Havaí. Mais tarde, outras levas deslocaram-se para 0s Esta-
dos Unidos, o Canadá e o Peru, trabalhando nas indústrias
madeireira e pesqueira. Finalmente, 0 grupo do Kasato Maru
veio formar colônias nas Íazendas de café do Brasil.
No início do século XX, a economia brasileira tinha o

café como principal produto na sua balança comercial. Com


o fim da escravidã0, em 1888, os cafeicultores foram buscar
mão-de-obra estrangeira para trabalhar nas lavouras. A prin-
cípio, foram contratados imigrantes eur0peus que passavam
diÍiculdades em seus países de origem. Após algum tempo,
porém, muitos não aceitavam as condições de trabalho ofe-
recidas pelos fazendeiros e acabavam fugindo. Família iaponesa, iá no Brasil, em uma cultura de caÍé.

Síntese Geográfica
U
í'

PROSPERIDADE E CRISE logo na sua chegada. Além disso, obtinham financiamento


para sua produção e auxílio na formação das colônias.
0 sucesso dos Ìmigrantes fez com que o Brasil passasse
Com isso, várias regiões se desenvolveram rapidamente.
a receber novas levas de trabalhadores de origem nipônica.
Foram os casos do vale do lvaí, no Paraná', da Alta Paulista
0 número de imigrantes crescia:de cerca de 35 mil pessoas
(destacando-se a cidade de Marília), do vale do Paraíba, do
que chegaram entre 1908 e 1924, a cifra saltou para aproxi-
vale do Ribeira {principalmente Registro), da Alta Sorocaba-
madamente 140 mil, entre 1925 e 1935.
na, em São Paulo.
Lá, os imigrantes se dedicaram às culturas de algodã0, fei-
Período Nl de pessoas
jã0, milho, amendoim, chá e arroz, além de hortifrutigranjeiros.
1 908-1 924 34 899
Houve ainda estabelecimento de colônias no Norte do
1 925-1 935 141 132
Brasil: no vale médio do rio Amazonas (Maués, Parintins), na
1 936-1 950 14 662
região bragantina e em Tomé-Açu, no Pará, onde cultivaram
Fonte: Sano, Rui Kban. "Japoneses: sonhos e pesadelos", in Trabalhadores. Cam- juta, pimenta-do-reino, guaraná.
pinas, 1989. Publicação mensaÌ do Fundo de Assistência à Cultura.
A prosperidade diminuiu o desejo de retorno ao Japã0.
Essa última década foi o auge da imigração japonesa. As Em decorrência de sua organizaçã0, muitas colônias vieram

c0ndiÇões de vinda e estabelecimento n0 Brasil eram muito a se tornar cìdades, com estradas, escolas, postos de saúde
melhores do que as anteriores. Graças às Companhras de e bancos. A maioria delas apresentava condições de sanea-
Emigração e com 0 apoio do governo japonês, as famílias mento básico melhores que as de municípios vizinhos, habi-
de imigrantes conseguiam adquirir pequenos lotes de terra tados principalmente por brasileiros.

Após as diÍiculdades iniciais, os imigrantes passaÍam a se dedicar a díversas culturas, como a do algodão.

40
I =

Já adaptados às condições do país, os iaponeses passaram a se pÍeocupaÍ com a inÍra-estrúura de suas colônias.
Na Íoto, a inauguração de uma escola.

Esse desenvolvimento acabou por incomodar as popula- I NTERCAM B I A CA M EB C IAL B RAS I L_J APÃO
ções originais dessas regiões e, na década de 1 g30, campa-
Com a vinda de emigrantes japoneses para o Brasil. co-
nhas antinipônicas chegaram a ser feitas, apregoando uma
pretensa invasão japonesa n0 Brasil. meçou-se a intensiÍicar o comércio entre 0s dois países.

Assim, o f luxo migratório decaiu drasticamente entre 1g36 0s acordos comerciais e de projetos de desenvolvimento

e 1950, período em que o número de imigrantes não ultra- entre Brasil e Japão iniciaram na década de 1g50, mas s0-
passou os 15 mil. Aliás, durante a Segunda Guerra Mundial mente começaram a crescer a partir das décadas de 1960 e
(1942-451, quando o Brasil entrou n0 conflito ao lado dos 1970, tendo como principais projetos a Cenibra (Celulose
aliados, muitos japoneses foram perseguidos e presos, acu- Nìpo-Brasileira S. A.), operando desde 1977; a Usiminas, ini-

sados de espionagem para 0s países do Eixo (Alemanha, ltá- ciativa pioneira de cooperação bilateral, fundada em 1g62 e
lia e Japão). que vem obtendo aumentos significativos de lucratividade; a

Com o final da guerra e o restabelecimento da demo- Companhia Siderúrgica de Tubarã0, em funcionamento des-
cracia no Brasil, em 1945, e mesmo sob os governos mili- de 1976, e que apresenta alta lucratividade e baixos custos;
tares que se impuseram no país, a partir de 1964, os japo- o projeto Albras/Alunorte, para exploração de jazidas de
neses pr0grediram e se integraram à sociedade brasileira. bauxita e produção de alumínio, funcionando desde a déca-
Hoje formam uma comunidade de cerca de 1,4 milhão de da de 1970, e o Prodecer (Programa de Cooperação Nipo-
pess0a s. Brasileiro para o Desenvolvimento do Cerrado).

Síntese Geosráfica
4g
Esse projeto, iniciado há mais de 20 anos, terminou sua Para eles, exportamos basicamente em 2003 os seguin-
terceira Íase no começo de 2001. 0 principal objetivo do tes produtos semimanufaturados: alumínio em forma bruta
Prodecer foi o incentivo à expansão do cultivo de grãos, 142,401,1, minério de feno (13,2"1"1, carne de frango (13,9%), soja

principalmente a soja, em áreas de bioma de cerrado. Já as (3,3%), ferro-liga, pasta química de madeira (6,1"/rl,café cru em

décadas de 1980 e 1990 foram marcadas pela retração eco- grãos (B,B%), suco de laranja (8,4%), madeira em estilhas 0u

nômica brasileira, que se refletiu nas relações comerciais em partículas e fumo i14,7'/"\. Em menor porcentagem, também

com o Japã0. são exportados milho em grãos, álcool etílico e fios da seda.
Esses produtos representaram em 2003, no mercado japo-

* nês, aproxlmadamente as seguintes porcentagens. feno-niÓ-


Unidade: US$ mil FOB
bio (94,7% do total importado pelos japoneses), suco de laran-
INTEBGAMBIO
COMERCIAL 1999 2000 2m1 2Jm/i2 20Ít3 ja congelado (79,8%), café em grãos (26,1%), carne de frango
enlsrL-JnpÃo (35,7o/o do total importado), minério de Íerro (21.1%), caulim
Exportações brasìleiras
2.1 92.598 2 412314 1 .986.280 2.097.954 2 310 546 (19,0%), Íerro-silicone (14,8"/"1, soja (15,4%). fumo (13,8%), ce-
para o Japão (F0B)

Variação em relação lulose (15,1%) e alumínio (9,1% das importações nipônicas).


-0,670 12.8o/o -19,7% 5,670 10,1 %
ao ano anterior Em relação às importações predominam os manufatura-
Part. {%) no total das
19,8%
dos, tendo como principais produtos: peças para veículos au-
exportações brasileiras 38,3% 39,1% 28,60k 23.9%
para a Ásia tomotores e tratores (US$ 201 milhões); motores, geradores
Part. {%) no total das
4.60k 4,50k 3,40/o 3,5% 3,ZVo
e transformadores elétricos (US$ 152 milhões), e circuitos
exportações brasileiras
integrados e microconjuntos eletrônicos (US$ 139 milhões).
lmportações brasileiras
2.575.833 2.959.535 3.063.751 ?341 545 2 520.595 Um dos desafios para a economia brasileira será o de
do Japão {F0B)

Variação em relação
-23,40k
ampliar as relações comerciais com o Japão: mesmo sendo
-21.30k 14,9t0 3,5% 1,40k
ao ano anterior
o Brasìl o país da América latina que mais exportou para 0
Part. {70) no total das
importações brasileiras 39,8% 34,40k 343% 29,4to 28,20k Japão (0,8% das importações japonesas) sua expressivida-
da Ásia de na balança comercial de importações japonesas é peque-
Part. {%) no total das
5.210 5,30/o 5,5% 5.00/o 5,20/o na, se comparado com países como a China (19.7%), que
importações brasììeiras
4.831 141
desbancou os EUA desde 2002, os EUA (15,4%) e a Repúbli-
lntercâmbio Comercial 4.768.431 5.431.909 s 050.031 4.445.499

Variação em relação
ca da Coréia do Sul (4,7%).
-1 3,070 13,S% -1.0% -12,00k 8,70/o
ao ano anterior 0utra questão importante que tem envolvido os dois paÊ
Part. (%) no total do
ses é a ida de brasileiros, descendentes de japoneses, para
intercâmbio brasìleiro 39,1 % 36.4% 31,8% 26,50k 23,5Y"
com a Ásìa trabalharem como operários no Japã0. Dekasseguis, como
Part. {%) no total do têm sido chamados, esses brasileiros têm partido em uma jor-
4,gok 4,go/o 4.4o/o 4,1% 4,00k
intercâmbio brasileiro
nada inversa à realizada pelos seus antepassados, quando vie-
Balança comercial
toa n2E -487.1 61 1.077 .471 -249.591 -21 0.049
ram para o Brasil.
Fonte: MinistérÌo do Desenvolvimento. lndústria e Comércio Exterìor (MDIC) / Se-
cretaria de Comércio Exterior {SECEX) / Sistema ALICE.

Como se pode observar, a balança comercial com o Japão


continua Íavorável aos japoneses, todavìa esse ritmo vem
Dekassegaisi
caindo anualmente devido à dimìnuição das importações e os brasileiros no Japão
aumento das exportações pelo Brasì1.
0 Japão contìnua, conforme dados do SECEX/MDIC (2003), Atraídos pela possibilidade de ganhal dependendo do
c0m0 0 7l maior destino das nossas exportações e 43 maior trabalho, até U$ 5.000 por mês, brasileiros e outros sul-ame-
país em importações. ricanos (peruanos, chilenos e argentinos), descendentes de

50
japoneses, têm-se deslocado milhares de quilômetros para gulamentação maior, do ponto de vista da diplomacia inter-
trabalhar no Japã0. naciona l.
Durante a década de 1980, com o crescimento econômi- No começo s0mente isseis, nisseis e sanseis tiveram
co do Japã0, as pequenas empresas daquele país passaram acess0 ao trabalho em solo japonês. Depois, já no início
a receber um volume enorme de encomendas dos grandes dos anos 1990, com o crescimento contínuo da economia
conglomerados empresariais japoneses, em especial as m0n- japonesa, aumentou a procura por trabalhadores estran-
tadoras, sob a forma de subcontratações. geiros. Surgiu então a possibilidade da entrada de brasi-
Esse fato, associado à melhoria de vida da população leiros sem origem nipônica, desde que fossem casados
japonesa, levou a um processo de escassez de mão-de-obra com descendentes.
para tarefas que exigiam menos qualificaçã0, isto é, o traba- A partir desse momento, ampliaram:se as agências de
lho subalterno, pesado e até insalubre, Em muitos desses lo- emprego ou empreiteiras, tanto no Brasil como n0 Japã0, in-
cais, como não havia perspectiva de carreira ou ascensão teressadas no recrutamento de trabalhadores. Agilizando a
profissional, os jovens não raro recusavam-se a trabalhar en- documentação necessária para a entrada e a permanôncia
quanto os trabalhadores existentes apresentavam em média dessas pessoas no Japã0, muitos prometiam altos salários,
40 a 50 anos. serviços leves e excelentes condições de moradia.
Diante desse panorama, surglu naquele período uma sé-
rie de ofertas de empregos e vagas para as quais os empre-
sários japoneses não tiveram outra opção senão recorrer a
trabalhadores estrangeiros originários de países pobres ou
em crise econômica principalmente do sudeste asiático
-
(Coréia do Sul, China, Bangladesh, Filipinas, Paquistão
lândia)-
e Tai-
ou, c0m0 no caso do Brasil, devido à existência de
-@mffip"
enorme colônia de descendentes de japoneses, vivendo igual- .*r*99,11i,i1:l:'
l :':u''
-rl):r'1

"*tt*ffi
^^uco69ilÍ&
mente em situação desfavorável.

W
A vanïagem desses trabalhadores não qualificados. os
chamados gaijin (lerno utilizado para designaÍ 0 estran-
geiro), é sua disposição em ir até o Japão para ganhar di-
nheiro. Com essa perspectiva, eles não deixariam de Íazer
horas extras nem faltariam ao serviç0, mesmo que este
lhes fosse desagradável. Entre os japoneses, esses traba-
lhos eram conhecidos c0m0 0s "3K" . kìtanai(sujo), kitsui
(penoso) e kiken (perigoso).
Anúncios convocando trabalhadores para o Japão
Com a imposição da reforma da Lei de Controle de lmi,
grantes do Japã0, junto com as alterações na Leide lmigra-

ção do Brasil, a partir do ano de 1990 passou a ser liberada


uma quantidade maior de vistos de residência por longos FALSAS PROMESSAS
períodos para nisseis, sanseis e seus cônjuges brasileiros. Com o retorno dos primeiros dekasseguisbrasileiros, des-
Antes somente se conseguia entrar em território japonês cobriu-se que a situação verdadeira era muito diferente das
com visto de turista. Para os países que apresentavam gran- promessas recebidas. Não tardou muito para surgirem pro-
des colônias de descendentes de japoneses, isso significa- blemas do tipo: cobranças de comissões exorbitantes, des-
va a possibilidade de transÍerência sem necessidade de re- contos salariais abusivos pelos agenciadores, falta de inscri-

Síntese Geográfica
5l
í-

çã0 no seguro contra acidentes de trabalho e n0 seguro s0- tudo, são 0s que as agências repassam para 0s trabalhadores
cial, não-cumprimento dos compromissos assumid0s com os estrangeiros, pois elas recebem cerca de 30 a 50% a mais
trabalhadores, etc. Em síntese, do valor do salário ao local das empresas japonesas.

de moradia, a realidade p0uc0 correspondia ao sonho de Evidentemente, a remuneração dos dekasseguis depende

uma vida agradável e farta. do desempenho geral da economia japonesa. Com a crise
Ao chegar ao Japã0, muitos brasileiros tinham que ficar instalada em meados da década de 1990, os salários dimi-

algum tempo sem trabalh0, aguardando em alojamentos ou nuíram cerca de 15%, permanecendo sem muita alteração

apartamentos coletivos. Descobriram também que não seriam até os dias atuais, devido à fraca recuperação da economia

funcionários das empresas nas quais iam trabalhat mas das interna e externa japonesa.

agências que 0s tinham recrutado. Conforme dados de uma


enquete realizada em 1992, ano em que 0 governo japonês
legalizou a presença de brasileiros, B0% deles tinham sido
UM ESTRANGEIRO NUMA TERRA ESTRANHA
agenciados por empreiteiras. Esse percentual quase não so- 0s dekasseguis enfrentam também o problema das dife-
freu alteração ao longo dos últimos 10 anos. renças culturais, para as quais geralmente nã0 estão prepa-
Preocupado com a situaçã0, o Ministério do Trabalho do rados. Esse confronto torn0u-se mais evidente com a chega-
Japão iniciou um processo de racionalização de empregos da em número cada vez maior dos estrangeiros no Japã0.
para nikkeis no país, criando dois Centros de Assistência de Em primeiro lugat a cultura japonesa valoriza o nacional

Empregos para Níkkeis em Tóquio (julho de 1991)e Nagoya e desvaloriza ou até despreza o gaiiin (isso no que se refere

{outubro de 1993). ao trabalhador braçal). Em segundo lugal o sistema de traba-

Paralelamente, no Brasil, foi criado em outubro de 1992 lho, sustentado pelo binômio hlerarquia-disciplina, não apre-

o Centro de lnformação e Apoio aos Trabalhadores no Exte- senta facilidades de adaptação para 0s dekasseguis, ainda

rior (Ciate), reconhecido oficialmente pelo governo japonês que de origem oriental. E em terceiro, a oÍerta de serviço está

somente em 1 994. Em junho de 1 993, com a alteração do ar- na maior parte dos casos restrita às áreas que não interes-

tigo 206 do Código Penal Brasileiro, o recrutamento e alicia- sam aos próprios japoneses.

mento de trabalhadores brasileiros para trabalhar n0 exieri0r, Serviços que vão dos mais pesados aos mais leves. 0s

mediante fraude, passaram a ser considerados crime passi pesados, tais como construção civil, prensa, Íornos (siderur-

vel de detenção de um a três anos, além de multa. gia), linha de montagem de veículos, são os que oferecem

Mesmo com toda a rigidez das leis trabalhistas, por que os melhores salários. Em compensação são considera-
as empresas japonesas preferem que a contratação de es-
trangeiros seja feita por agências ou empreiteiras? Com è
exceção do acerto de salário a ser pago por hora normal e E

exïra(zangyo), grande parte das obrigações com o trabalha- ã


dor, como moradia, transporte, alimentaçã0, bônus por tem-
.9
=
po de serviço e assistência médica fica por conta da agência

de empregos.
De outro lado, é fato que as empresas pagam mais ao
i

trabalhador estrangeiro (no caso dos brasileiros) pela hora


trabalhada. Dependendo do emprego, enquanto um funcio-
nário japonês recebe 1 200 ienes por hora, um dekassegui
ganha de 1 300 a 1 400 ienes. lsso no caso dos homens, pois
Dekasseguitahalhando em uma Íábrica de peças para automóveis no in-
as mulheres recebem cerca de 750 ienes. Esses valores, con- terior do Japão.

52

r---

F
dos mais perigosos, pois neles ocorre o maior número de mais do que o dobro da linha em que trabalham operários
acidentes. japoneses.

Já os serviços leves, principalmente os ligados a0s se- E a recíproca também é verdadeira. Por ano, os dekasse-
tores alimentíci0 e de eletrodomésticos, pagam menos, gurs remetem ao Brasil aproximadamente US$ 2 bilhões, re-
porque não utilizam o sistema de koutai, no qual há um re- sultado das doze horas de trabalho por dia, em média, e de
vezamento de turmas: uma trabalhando uma semana de dia uma poupança mensal entre US$ 1 500 e US$ 2 000.

e a outra, de noite. Nesse sistema, trabalha-se geralmente Para capitalizar esse dinheiro economizado, bancos brasi-

das22 horas até as 5 horas, pagando-se um adicional no- leiros têm aberto filiais nas cidades japonesas onde há maior

turno de 25% sobre o salário. Caso o trabalho se estenda concentração de brasileiros. Há até casos de cidades que

do horário diurno para o noturn0, a remuneração adicional apresentam um boom imobiliário, caso de Assaí e Londrina,

será de 50%. no Paraná. É o dinheiro dos dekasseguts sendo aplicado na

Se no início do século os próprios japoneses tiveram mo- compra de imóveis.

tivos econômicos para sair de seu país, rum0 a0 Brasil, e so- Atualmente, o número de brasileiros no Japão é de cer-

freram as dificuldades da adaptação cultural, hoje são os ca de 250 mil, trabalhando em indústrias automobilísticas,

emigrantes brasileiros que Íorçosamente têm que se adap- eletrônicas 0u n0s setores de construção civil, serviços (ho-

tar aos costumes japoneses. téis, restaurantes, hospitais), etc.


Mas a rigidez do tradicionalismo japonês opõe-se fron-
talmente ao modo de vida "solto" e informal do brasileiro.
0 habitual descaso pelas coisas públicas, a freqüente fal- O JAPAO VERDE-AMARELO
ta de apego ao trabalho e até os deslizes corriqueiros de Assim como o grande número de japoneses na cÍdade de
costumes de boa parte dos dekasseguis causaram espanto São Paulo fez surgir até um bairro oriental, com restaurantes
aos japoneses. Em certas cidades, como Hamamatsu, cujo e inúmeras lojas especializadas na venda de alimentos e
número de estrangeiros está entre 0s maiores do Japã0, produtos do Japã0, 0 mesmo Íenômeno, em menor propor-
ocorrem muitos casos em que brasileiros quebram telefones çã0, está ocorrendo nas cidades com maior concentração de
internacionais para falar gratuitamente ou cometem peque- trabalhadores brasileiros. É muito c0mum agora encontrar
nos furtos em supermercados. lojas que vendem jornais, revistas, r0upas e alimentos im-
Esses fatores, sem dúvida, tornaram-se responsáveis pelo portados do Brasil; até fitas com programas e novelas são
aumento do preconceito c0ntra os brasileiros, que passaram comercia lizadas.
a ser considerados vândalos e preguiçosos em sua maioria. Um outro aspecto da presença dos brasileiros tem sido
Em Íunção disso, medidas discriminatórias, inaceitáveis sob algumas mudanças nos hábitos e costumes dos japoneses.
0 ponto de vista moral, passaram a ser adotadas explicita- Até bem pouc0 temp0, o sumô e o beisebol eram 0s espor-
mente. Algumas lojas, discotecas e restaurantes chegaram a tes mais populares, mas a presença de jogadores brasileiros
proibir a entrada de brasileiros que não estivessem acompa- impulsionou o futebol no país e hoje os estádios vivem
nhados de japoneses "legítimos". cheios. Na alimentaçã0, churrascarias "rodízio" fazem gran-
Apesar de toda a discriminação e do comportamento de- de sucesso entre 0s japoneses, p0uc0 acostumados a ver
saconselhável de muitos dekasseguis, entretanto, um fato é tanta variedade de carne sendo servida numa só refeiçã0.
inegável: a economia japonesa ganha muito com a mão-de- 0utro fato importante assinalando que a presença brasi-
obra estrangeira. Por exemplo, na fábrica de eletrodomésti- leira deixa de ser temporária e começa a se toÍnar atuante é

cos da Sony, na cidade de Kisarazu, a linha de montagem o número de escolas brasileiras homologadas no Ministério
de vídeos mais rápida é a dos gaijíns. Ela chega a produzir de Educação do Japã0.

Síntese Geosráfica
53

;. i,*
Atualmente são 31 escolas presentes nos seguintes
esta d os:'

Estado Gidade Total de escolas


Aichi-ken Handa

Nagoya

Hekinan

Toyota 3

Toyohashi

Anjo

Gìfu-ken 0gaki
Kani 1

Minokamo 1

Gunma 0ta 2

Azumamura 1

0 número cada vez maior de brasileiros tem estimulado os loiistas iapo'


0izumi
neses a importar uma série de produtos do Brasil. Esta loia em 0izumi ven-
1

I barakì Shimotsuma 1 de desde iornais, livros e revistas, até enlatados de marcas bem conheci-
2
das dos dekassegurs.
lVÌie Suzuka

Nagano Tobu

Matsumoto 1

0 "modelo iaponês"
lna

Saitama Kamìsato

Sh iga Koka-gun

Echi-gun 1
de desenvolvimento
Shizouka Hamamatsu 2

Yaizu 1

A indústria automobilística serve perfeitamente para


Fukuroi 1

exemplificar o desempenh0 econômic0 japonês. No início da


Fujì 1

lwata
década de 1970, quando 0s carros desse país começaram a
Tochigì Moka 1 entrar n0 mercado norte-americano, ninguém acreditava n0
Total 31 potencial de empresas como a Toyota, a Honda, a Nissan ou
{Fonte: Ministérìo da Educação do Japão) a Mitsubishi. Entretanto, em aproximadamente dez anos, elas

Além das escolas brasileiras de nível fundamental e mé- geraram uma crise sem precedentes nas vendas de carros
dio, existem universidades particulares e nacionais que têm Íabricados pelos Estados Unidos.
departamento de estudos brasileiros, traduzindo 0 crescen- A General Motors, uma empresa poderosa do setor, viu-
te interesse dos japoneses pela nossa realidade: se obrigada a fechar 21 fábricas, 0 que ocasionou a demissão
. Sophia University (particular) Departamento de Es- de72 nrloperários. Da mesma forma, a Ford e a Chrysler tam-
tudos Luso-Brasileiros, Tóquio;
- bém Íoram aÍetadas. Chamadas de "as gigantes de Detroit",
. T0ky0 University of Foreign Studies (Nacional) De- essas empresas sofreram prejuízos na ordem de US$ 6 bi-
partamento de Estudos Luso-Brasileiros, Tóqui0,
- lhões somente n0 ano de 1991, em função da concorrência
. Kyoto University of Foreign Studies (Nacional)- De- japonesa.

partamento de Estudos de Português do Brasil, Kioto; Oual o segredo dessa eficiência? Certamente, a extrema
o Osaka University of Foreign Studies (Nacional) De- organização que reina nas empresas, fruto de uma filosofia
partamento de Estudos Luso-Brasileiros, Osaka;
- de trabalho que leva o trabalhador japonês a 0bservar reli-
o Tenri University (Particular) Departamento de Estu- giosamente a hierarquia e a disciplina, fatores que na verda-
dos Brasileiros, Nara"
- de estão milenarmente arraigados na cultura daquele país.

54
equìpamentos sofisticados e, a0 mesmo tempo, relativa-
A JAP]N\ZAÇA]
mente baratos.
Mas o "modelo japonês" não consiste somente na hie-
0s robôs de hoje fazem melhor que 0s seres humanos
rarquia e na disciplina. Existe uma série de traços 0u carac- pintura industrial' solda, ferra-
uma série de tarefas
terísticas que costuma ser chamada de
"japonizaçã0" e, em -
mentaria, torno, serviços em condições insaìubres 0u c0m
muitos casos, é hoje imitada total ou parcialmente por vá-
peças minúsculas, etc. além de oÍerecerem uma série
rios países. -,
de varrtagens para as empresas, já que não precisam repou-
Podemos mencionar como traços marcantes a robottza-
de
sar, não tiram férias nem fazem greves. Em muitos casos,
ção, o just-ìn-frme, a produção f lexível, o rigor no c0ntrole
eles até economizam energia, pois não precisam de luz ace-
qualidade e o trabalho polivalente, a descentralização e as
sa nem de ar-condicionado para funcionar.
novas relações trabalhistas. Algumas dessas características
Aliás, uma das razões que fizeram com que as potências
foram inventadas ou criadas por outros países bem antes do
ocidentaìs (Estados Unidos, Alemanha, França e outros paí-
Japã0, mas íoi esse país que melhor as desenvolveu ou apri-
ses) ficassem bem atrás do Japão na robotização foram as
m0r0u, sobretudo a empresa Toyota, o que acabou originan-
pressões dos sindicatos.
do o termo "toYotismo".
A robotização consiste na substituição de trabalho hu- 0s sindicatos ocidentais organizam-se por categorias
I (bancários, metalúrgicos), a0 contrário da maioria dos sindi-
I man0 p0r máquinas inteligentes, isto é, máquinas que tra-
(o da
balham sozinhas a partir de um programa de computador' 0 catos iaponeses, que se formam a partlr das empresas

Japão foi, e continua sendo, o país que mais avançou na Toyota, o da Honda). 0ra, os sindicatos p0r categ0rias sem-
pre foram radicalmente contrários à introdução de robôs nas
robotização; ele possui sozinho maìs robôs que todo o res-
to do mundo somado. lsso se revelou uma estratégia mui- firmas, pois isto cosiuma criar desemprego e enfraquece 0

to rnteligente, pois no início nos anos 1960 e 1970 poder de paralisação (as greves) dos trabalhadores' Já os
- -
quase ninguém acreditava que aqueles desajeitados e ca- sindicatos japoneses por empresas sempre incentivaram a

ros robôs da época fossem rapidamente se transformar em robotlzaçã0, pois eles se preocupam antes de mais nada com
o desempenho de "sua" firma, com 0 seu avanço Írente aos
i

I concorrentes.
"modelo japo-
;!:*!:ìla::ì r:!:,!::;q:iì: ii 0 just-intíme, 0utr0 traço marcante no
nês" e que atualmente se expande por quase todo o mun-
do, constste na produção das mercadorias no tempo exato
e na quantidade estritamente necessária. lsso representa
uma mudança muito grande nas técnicas de produçã0,
poìs a regra geral no século XX sempre foi a de produzir
em excesso (daí o desperdício de recursos naturals e ma-
térias-primas, 0s preç0s mais altos, as mercadorlas com
defeito, etc.) e antes mesm0 de haver procura p0r parte
dos consumidores.
Junto com o just-Ìn'tìme, portanto, deve haver um rigo-
roso controle de qualidade (para não se fabricar mercadorlas
defeituosas e evitar devoluções) e uma produção flexível,
Hoie, o emprego maciço de robôs na indústria automobilística iaponesa isto é, v0ltada para atender às necessidades do consumidor'
nãã causa mais surpresa: uma idéia bem-sucedida que foi copiada
em
Além disso, como 0 estoque de componentes nas fábricas é
muitos outros países.

5fi
sempre mínimo, as empresas fornecedoras entregam as en- balhar arduamente para Íazê1a prosperar. Afinal, o aumen-
comendas num fluxo quase contínuo. to da produtividade, sempre é bom lembrar, é repassado
Para coordenar o ritmo intenso de entregas, existe o aos próprios funcionários na forma de aumentos salariais
kanban, uma peça de plástico que acompanha cada compo- ou bonificações.
nente. Ouando este chega ao seu destino na fábrica, o kanban
é enviado de volta para o fornecedol sinalizando que é hora
de produzir outro componente.
0 trabalho é polivalente, ou seja, não existe a figura do
0s dilemas atuais
operário superespecializado em apenas uma função repetiti-
0 Japão registrou nas décadas de 1950 a 1970 as mais
va. Formam-se equipes que operam uma ilha de produção
altas taxas de crescimento mundiais. Nos anos seguintes, o
com um grupo de máquinas. Cada membro da equipe cuida país se viu ameaçado pelos "tigres asiáticos" Coréia do
em média de cinco máquÌnas: enquanto quatro estão traba- Sul, Cingapura, Formosa (ou Taiwan) e China
- mas ainda
lhando, ele vistoria a quinta máquina. A equipe controla a
-,
era o que apresentava o crescimento mais rápido entre as
qualidade de produçã0, realiza serviços simples de manuten- nações desenvolvidas. Esse processo, porém, chegou ao seu
ção e faz a limpeza dos equipamentos. final. Em 1994, o Japão apresentou 0 menor índice de cres-
A descentralização implica na delegação de tarefas cimento dos países do Primeiro Mundo. Pela primeira vez,
para funcionários ou na c0ntratação de Íirmas terceiriza- nos últimos cinqüenta anos, o país teve de encarar uma rea-
das geralmente menores, especializadas em certas ta- lidade diferente da que estava habituado.
-
refas, tais como treinar pessoal, limpar edifícios e equipa- lnúmeros países, notadamente alguns vizinhos na Ásia e
mentos, cuidar do lazer de funcionários, etc. que, se Íicas- em especial a imensa China, seu tradicional adversário no
sem centralizadas na própria empresa, gerariam um exces- Extremo 0riente, crescem economicamente nos dias de hoje

so de funcionários e de encargos, podendo atrapalhar seu a um ritmo mais acelerado que 0 Japã0.
desempenho. Eles, por sinal, procuram rívalizar com o Japã0, imitando

Por fim, destacam-se no sistema de produção japonês as seus próprios métodos. lnvestem pesadamente na educação

relações trabalhistas entre as firmas e seus funcionários.


Como vimos, a maioria dos sindicatos no Japão não se orga-
niza por categorias profissionais mas por empresas. lsso quer
dizer que os trabalhadores identiÍicam-se com a "sua" em-
presa, buscando sempre aumentar a produtividade. Esta, em
troca, procura garantir um emprego permanente para seus
funcionários (não os estrangeiros, é bom ressaltar, apenas
os japoneses).
Se um funcionário executa um serviço que se torna ob-
soleto (pelas mudanças tecnológicas ou pela robotização),
a firma japonesa normalmente o encaminha para cursos de
atualizaçã0, a fim de mantê-lo em seus quadros. Muitas
vezes ela até garante um futuro emprego para 0s filhos de
seus funcionários, mesmo para os que ainda não nasce-
ram. Em contrapartida, os trabalhadores japoneses em ge- A China é um dos países que hoie ameaça a supremacia econômica do Ja-
pão no Oriente, como se pode ver pela imponente arquitetura da cidade de
ral "vestem a camisa" de suas empresas, procurando tra- Shenzhen.

Síntese Geosráfica
57
e na tecnologia, possuem um Estado que incentiva o desen- desses gastos, que são improdutivos e representam um
volvimento e particularmente a indústria, procuram melhorar desperdício de recursos. lsso foi possível nas últimas déca-
a qualidade de seus produtos e abaixar 0s preços. das devido à proteção militar norte-americana, que garan-
Tal como o Japão desde os anos 1950, as economias des- tia a segurança do Japã0. A "ameaça comunista" fazia
ses países estão voltadas para o exterior e começam a con- com que os Estados Unidos temessem um avanço socialis-
quistar mercados (inclusive de automóveis, artigos eletrôni- ta na Ásia e investissem pesadamente no Japã0, procuran-
cos e microcomputadores, além de produtos têxtels, calça- do criar uma sociedade próspera, sem o perigo de uma
dos, brinquedos, etc.) e a incomodar as firmas japonesas. "revolução socialista".

0 Japão também sempre enfatizou as exportações, mas 0 final da guerra fria parece não ter sido bom para o Ja-
elas parecem ter atingido seu limite, constituindo o grande pã0. Visto agora c0m0 um rival e não mais como um aliado,
problema atual do país. Nas últimas décadas. o Japão ex- são cada vez maiores as pressões norte-americanas para
portou bem mais que importou, criando enormes superávits que o Japão equilibre a balança do comércio internacional e
(saldo comercial positivo) a cada an0, 0 que lhe possibilitou passe a compraÍ mais. Além disso, sem a proteção dos Es-
passar da categoria de país devedor para a de maior credor tados Unidos, o país vai ter de se preocupar com sua própria
mundial. Só que hoje há n0v0s competidores nas exporta- defesa.

ções e o mundo inteiro começa a ficar incomodado com Tentando reverter o quadro de estagnação da economia
qualquer país que venda muito e compre pouco. japonesa principalmente durante a década de 1990. o gover-

Dessa forma, a economia japonesa deve se orientar n0 vem implementando várias medidas de revitalização atra-

cada vez mais para o mercado interno, pois o crescimento vés de ampla reforma estrutural, gerando por parte das em-
com base nas exportações parece ter se esgotado. 0 mer- presas privadas uma transformação nas relações capital
trabalho, nas quais se rompeu com formas tradicionais de
-
cado interno japonês (1 26 milhões de pessoas), contudo, é
bem menor que 0 norte-americano (260 milhões) e o euro- empregos vitalícios, salários elevados e promoções por tem-
peu (380 milhões). E a possibilidade de se associar com paÊ po de serviç0, aumentando assim a competitividade entre as

ses vizinhos e criar um "bloco" ou mercado regional. tal empresas e conseqüentemente entre 0s produtos japoneses

como ocorre com a União Européia* 0u com o Nafta*", pa- no mercado internacional.

rece ser mais remota n0 caso do Japã0, pois ele tradicional- Todavia, as reformas econômicas realizadas pelo gover-

mente manteve com seus vizinhos asiáticos uma relação de no japonês não têm sido facilmente implantadas, devido à

rivalidade e até de expansionismo, 0 que se reflete numa resistência de vários setores da sociedade civil organizada.
permanente desconfiança dos chineses e c0reanos para Mesmo assim, houve um real aumento das exporta-
com os japoneses. ções japonesas entre 2001 e 2003 com países como Chi-
Há ainda o problema dos gastos militares. Um dos se- na. Coréia do Sul, Taiwan e Hong Kong (antigos rivais) e
gredos do dinamismo econômico japonês foi a ausência uma redução das exportações para os Estados Unidos,
eterno aliado do Japã0. Esses resultados refletem bem
* União Européia: o mais importante dos mercados comuns. Aos quinze os interesses atuais da política econômica do governo
países que dela já faziam parte Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamar- japonês.
-
ca, Espanha, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Grécia, Holanda, lrlanda,
Itália, Luxemburgo, Portugal, Suécia reuniram-se outros dez: Chipre, Sem dúvida, não são poucas as questões colocadas no
-,
Bepública Tcheca, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia, Es- horizonte japonês e elas podem ser reunidas numa pergunta
lováquia e Eslovênia (dados de 'll de maio de 2004).
*" Iìlafta mais geral: Oual o lugar do Japão no atual contexto ge0p0-
{North America Free Trade Agreement }: Tratado de Livre Comér-
cio da América do Norte. Acordo comercial entre Estados Unidos, Canadá lítico? Tentar encontrar a resposta é o mais novo desafio da
e México. Terra do Sol Nascente.

50
ãJnra HISTÕftià re*{
Em 1991, recém-casados e formados em Geografia, as possibilidades de empregos eram poucas, principalmente em uma
cidade pequena como Presidente Epitácio-SP Como nesta época vários descendentes de japoneses iam trabalhar no Japã0,
surgiu a oportunidade de também participarmos desta empreitada. Assim, em agosto do mesmo ano embarcamos para a Terra
do Sol Nascente com muitas expectativas e com 0 planejamento de ficarmos um ano, a fim de juntarmos dinheiro suficiente
para comprar uma casa. Mas o que serla um ano... acabou se tornando cinco. Durante este período, aprendemos a conviver
com outro país, de modo de vida e cultura completamente diÍerentes do Brasil.
Mesmo com o sentlmento de discriminação que sentíamos por parte de alguns japoneses, principalmente no interior das
fábricas onde trabalhávamos c0m0 operários, a experiência durante os cinco anos foi extremamente válida e positiva, sobretudo
pela possibilidade de conhecermos um p0v0 orgulhoso das suas tradições milenares, de sua cultura, de sua língua, de sua forma
de organização e convivência coletìvas. E foi assim, compartilhando dessa realidade, que cultivamos novas amizades. E foram
esses amigos que, nos finais de semana, nos levaram a conhecer paisagens diferentes de tudo que havia no Brasil.
Foram esses passeios que nos deram a oportunidade de entendermos um pouco mais do Japã0, voltando nossos olhos para
0s aspectos urbanos, de meio ambiente, a história do povo japonês, o cotidiano das pessoas, o impacto das novas tecnolo-
gias, dentre tantas outras peculiaridades de uma cultura milenar.
De volta ao Brasil, após retomarmos as atividades como professores de Geografia, sabíamos que não poderíamos perder
a oportunìdade de registrar tudo aquilo que vivemos no Japã0. Foram dias em que escrevemos com muita satisfação sobre
tudo o que passamos juntos naqueles cinco anos. E Manira recordou-se de seus avós que deixaram o Japão rumo ao Brasil
em 1932, daí a idéia de incorporar a sua história à nossa trajetória.
ïudo que escrevemos neste livro faz parte de uma história verdadeira, vivida por duas gerações de uma mesma família,
retratando a trajetória enïre o passado e 0 presente de um povo, de uma nação chamada JAPÃ0.

Você também pode gostar