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comunidade e, em muitos casos, levado a urn senso de alienayao entre no mais profundo de nosso intimo 0 agir do amor de Deus, que nao
pessoas jovens. Estamos confusos no que diz respeito a natureza da pode ser contido.
identidade humana e essa confusao pode ser vista tanto na destruiyao Muitos de nos evange1icos ja fomos ou ainda somos acomodados
da vida, por meio do aborto e da eutanasia, quanto em nossa intenyao irresponsaveis. A comunhao mutua na igreja e m~ito mais comoda do
de criar vida, por intermedio da genetica e da donagem. que 0 serviyo em urn ambiente indiferente e hos~lla fora. E daro que
Por que nos envolvermos em tal mundo? E extraordinario que pre- fazemos incursoes evangelisticas casuais no territorio inimigo (essa e a
cisemos fazer essa pergunta e que a controversia deva surgir na relayao nossa especialidade evangelica), mas depois nos retraimos novamente,
entre evangelismo e responsabilidade social. Todos esses assuntos e do outro lado do fosso, em nosso castelo cristao - a seguranya da nossa
muitos outros afetam tanto cristaos quanta os que nao tern fe religiosa e propria comunhao evange1ica -, puxamos nossa ponte levadiya e ate
desafiam nosso senso de identidade e proposito. Desafiam-nos a aplicar tampamos os ouvidos para os damores daqueles que batem no portao.
o raciocinio cristao a novas questoes, que nos atingem em proporyoes Quanto a atividade social, temos tendencia a dizer que e basicamente
elevadas. No proximo capitulo, observaremos como os cristaos sao cha- uma perda de tempo, em virtude da volta iminente do Senhor. Afinal de
mados a desenvolver uma mente crista, mas, neste capitulo, quero olhar contas, quando a casa esta pegando fogo, 0 que vale pendurar cortinas
para 0 chamado de se envolver neste mundo. Ainda existem pessoas que novas ou mudar a posiyao dos moveis? A unica coisa que vale a pena e
acreditam que os cristaos nao tern responsabilidade social no mundo, resgatar os que perecem. Assim nos temos tentado salvar nossa consci-
apenas a missao de evangelizar aqueles que ainda nao ouviram 0 evan- encia, com lima teologia espuria.
gelho. Porem, e evidente que em seu ministerio ptlblico Jesus "foi [... J
ensinando [.. .] pregando" (Mt 4.23; 9.35) e "fazendo 0 bern e curando"
A HERANCA DO INTERESSE SOCIAL EVANGELlC02
(At 10.38). Como consequencia, "0 evangelismo e 0 interesse social estao
intimamente relacionados por toda a historia da Igreja [... J 0 povo cristao Ainda que os evangelicos tenham uma historia notavel no que se refere
frequentemente se envolvia em ambas as atividades voluntariamente, sem ao sell envolvimento com justiya social e economica, isso aconteceu de
necessidade alguma de definir 0 que eles estavam fazendo ou 0 porque".1 forma especial na Europa e na America do seculo 18. 0 avivamento
Nosso Deus e urn Deus amoroso, que perdoa aqueles que se voltam evangelico, que agitou ambos os continentes, nao deve ser lembrado
para ele arrependidos, mas tambem e urn Deus que deseja justiya enos apenas em referencia apregayao do evangelho e aconversao de pecadores
chama, como seu povo, nao somente para vivermos de forma justa, mas a Cristo. Ele tambem levou a filantropia generalizada e afetou a sociedade
para advogarmos a causa do pobre e do fraco. profundamente, em ambos os lados do Atlantico. John Wesley continua
Por que os cristaos devem se envolver? No fim, existem apenas duas sendo 0 exemplo mais admiravel. Ele e lembrado principalmente como
atitudes possiveis que os crista os podem adotar em relayao ao mundo. evangl'iista itinerante e pregador ao ar livre, mas 0 evangelho que ele
Uma e a fuga e a outra e 0 envolvimento (voce poderia dizer que existe pregava inspirou pessoas a abrayarem as causas sociais em nome de
uma terce ira opyao, ou seja, a acomodayao. Mas, nesse caso, os cristaos se Cristo. II istoriadores tern atribuido a influencia de Wesley, mais que a
torn am indistinguiveis do mundo e por causa disso nao sao mais capazes qualqlll'r outra, 0 fato de a Gra-Bretanha ter sido poupada dos horrores
de desenvolver uma atitude distinta para com ele. Eles simplesmente se de lIllla revoluyao sangrenta como ada Franya. 3
tornam parte dele). Acomoda~do significa virar as costas para 0 mundo, A llllldanya qlle sobreveio a Gra-Bretanha durante esse periodo foi
em rejeiyao, lavando as maos (apesar de descobrirmos com Poncio Pilatos bem doclimentada no notavellivro de J. Wesley Bready England; Before
que a responsabilidade nao sai com a lavagem) e cobrindo 0 corayao com and After Wesley - the evangelical revival and social reform [Inglaterra: antes
ayo contra seus gritos agonizantes de pedido de ajuda. Em contrapartida, e dl'P( lis de Wesley - 0 avivamento evange1ico e a reforma social]. Sua
envolvimento significa voltar a face para 0 mundo, em compaixao, sujando pesqllisa 0 foryou a conduir que "0 verdadeiro sustentador do espirito
nossas maos, machucando-as e usando-as em serviyo deste, e sentindo e d( IS val ores de carater que criaram e sustentaram as instituiyoes livres
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NOSSO MUNDO MUTAVEL: 0 ENVOLVIMENTO CRIST~O ~ NECESsARIO? If
21 OS CRISTAos EOS DESAFIOS CONTEMPORANEOS
em todo 0 mundo de lingua inglesa", de fato "a linha divis6ria moral da Tei!,'11mouth), Thomas Babington, Henry Thornton e, eclaro, sua estrela-guia,
hist6ria anglo-saxonica", foi "0 tao negligenciado e muitas vezes satiri- William Wilberforce. Devido a varios deles viverem em Clapham - na epo-
zado avivamen to evangelico". 4 Bready descreveu "a profunda crueldade ca uma vila ha tres milhas do suI de Londres, pertencente a Clapham
de grande parte do seculo 18",5 que foi caracterizado da seguinte forma: Parish Church, cujo reitor, John Venn, era urn deles -, vieram a ser
conhecidos como 0 partido de Clapham, apesar de, no parlamento e na
A tortura gratuita de animais como esporte, a embriaguez irracional imprensa, serem zombados como os santos.
da multidao, 0 trafico desumano de negros africanos, 0 sequestro de
Foi 0 interesse deles pela situac;:ao dos escravos africanos que os uniu
conterraneos para exportayao e venda como escravos, a mortalidade de
pela prime ira vez. Tres dias antes de sua morte, em 1791, John Wesley
filhos de membros da igreja, a obsessao universal pelo jogo, a crueldade
do sistema penitenciario e do codigo penal, 0 monstro da imoralidade, escreveu a Wilberforce para assegura-lo de que Deus 0 havia levantado
a prostituiyao do teatro, 0 crescente predominio da ilegalidade, da su- para 0 seu empreendimento glorioso e para estimula-lo a nao se cansar de
perstiyao e da lascivia, a corrupyao e 0 suborno politico, a arrogancia e fazer 0 hem. Em grande parte, e ao partido de Clapham (sob a lideranc;:a
truculencia eclesiastica, as pretensoes superficiais do deismo, a insince- de Wilherforce) que pertence 0 credito pelo primeiro assentamento de
ridade e depravayao des en fread as na Igreja e no Estado - tais manifes- escravos libertos em Serra Leoa (1787), a abolic;:ao do trafico (1807),0
tayoes sugerem que 0 povo britanico era, na epoca, tao profundamente registro dos escravos nas colonias, que colocou urn Hm ao contrabando
degradado e pervertido quanto qualquer povo da cristandade. 6 (1820), e finalmente a emancipac;:ao dos escravos (1833). Everdade que
os santos eram aristocratas ricos, que compartilhavam algumas das obli-
Depois as coisas comec;:aram a mudar. No seculo 19 a escravidao e 0 terali1cs sociais de sua epoca, mas des eram extremamente generosos
trafico de escravos foram abolidos, 0 sistema presidiario foi humanizado, em slia filantropia e 0 alcance de seus interesses era extraordinario.
as condic;:oes nas fabricas e minas foram melhoradas, a educac;:ao se tornou Alem do assunto da escravidao, des se envolveram na reforma penal
disponivel para 0 pobre e os sindicatos trabalhistas tiveram seu inicio. e parlamentar, na educac;:ao popular (escolas dominicais, folhetos e
De onde veio, entao, essa humanidade pronunciada? Essa paixao pela jus- o jornal Christian Observer), na ohrigac;:ao da Gra-Bretanha com suas
tiya social e sensibilidade aos males humanos? Existe apenas uma res posta coll'ln ias (especialmente a india), na propagac;:ao do evangelho (eles
coerente com a imbativel verdade historica: a mudanya deriva de uma foram instrumentais na fundac;:ao tanto da Sociedade Biblica quanto
nova consciencia social. E se essa consciencia social, reconhecidamente, da Socicdade Missionaria da Igreja) e na legislac;:ao das fabricas. Eles
foi fruto de rna is de urn progenitor, ela foi gerada e alimentada pelo avi- tamhcm fizeram campanhas contra os duelos, jogatinas, embriaguez,
vamento evangelico de urn cristianismo vital e pratico - urn avivamento imoralidade e esportes crut~is com animais. Do comec;:o ao fim, eles
que iluminou os postulados centra is da etica do Novo Testamento, que
foram direcionados e motivados par sua forte fe evangelica. Ernest
tornou real a paternidade de Deus e a irmandade dos homens, que apon-
tou a primazia da personalidade sobre a propriedade e que direcionou Mnrshall Howse escreveu sobre des:
corayao, alma e mente ao estabelecimento do reino de justiya na terra. 7 ESSl' grupo de amigos de Clapham pouco a pouco foi entrelayado por uma
intimidade e solidariedade surpreendentes. Eles planejavam e trabalha-
o avivamento evangelico "fez rna is para transfigurar 0 carater moral valli como urn comite que nunca se dissolvia. Nas mansoes de Clapham,
do populacho geral do que qualquer outro movimento que a hist6ria dl'S se reuniam por urn impeto comum, a partir do qual escolheram
britanica pode recordar". 8 Pois Wesley foi pregador do evangelho e profeta chamar as reunioes de seu Conse1ho de Ministros, em que discutiam os
da justic;:a social. Ele foi "0 homem que restaurou a nac;:ao a sua alma".9 Illales e injustiyas que eram uma vergonha para 0 seu pais e as batalhas que
Os lideres evangelicos da gerac;:ao seguinte foram comprometidos, sl'fia necessario lutar para estabe1ecer a justiya. Depois, no Parlamento
l' f~)f;l dele, eles se movimentavam como urn corpo, delegando a cada
com igual entusiasmo, com 0 evangelismo e com a atuac;:ao social. Os
hI )Illem 0 trabalho que esse podia fazer melhor, para que os principios
mais famosos entre eles foram Granville Sharp, Thomas Clarkson, . . comuns, rea1-lzad os. 10
n )Illuns pud essem ser manti'dos e sells proposltos
James Stephen, Zachary Macaulay, Charles Grant, John Shore Oorde
.- -T---1)J-rnm~m~mmrMfJmmWJl~--------~~~----'r-""""IIII/I-IIIII!I"!'------;;N~OS~StiOMMjj;UNmDnoMiMU"iTTA~vfiEL~:o~EF;;NMvO;t;LvViiIM:1EE~Tmocc~RISSrTiC'AO~t~Nj8ECiE~SS;AAR~IOj??:---jI:2929-
Em sua biografia de Wilberforce, Reginald Coupland comentou que se tornaram as tropas do movimento de reforma de sua epoca". Em
oportunamente: "Foi realmente urn fen6meno singular - essa fraterni- particular, "as for<;:as antiescravidao [. .. ] vieram, em grande parte, dos
dade de politicos cristaos. Nunca mais houve qualquer coisa semelhante convertidos nos avivamentos de Finney" .15
na vida publica britanica".l1 o seculo 19 e conhecido tambem pela grande expansao das mis-
Anthony Ashley Cooper foi eleito para 0 Parlamento britanico em s6es cristas que ele testemunhou. Contudo, nao se deve imaginar
1826, aos 25 anos de idade. Primeiramente na Camara dos Comuns e que os missionarios se concentravam exclusivamente na prega<;:ao,
depois na Camara dos Lordes, como 0 setimo Conde de Shaftesbury, ou mesmo que seu interesse social se restringia a socorrer e prestar
ele se interessou sucessivamente pela condi<;:ao dos deficientes mentais, assistencia, negligenciando 0 desenvolvimento e ate mesmo a atividade
pelo trabalho infantil nas fabricas enos moinhos, pelos meninos que sociopolitica. E duvidoso ate mesmo que essas distin<;:6es tenham sido
limpavam chamines, pelas mulheres e crian<;:as nas minas e pelas crian<;:as tra~adas na pratica. Nao, eles acolheram a medicina e a educa<;:ao,
dos corti<;:os, das quais rna is de 30 mil estavam sem lar em Londres e mais a tccnica agricola e outras tecnologias como express6es de missao e
de 1 milhao estava sem escola em to do 0 pais. Sua biografa, Georgina compaixao. Eles fizeram campanhas contra a injusti<;:a e a opressao,
Battiscombe, que muitas vezes the faz criticas bern severas, conclui, en- em nome do evangelho. A missao deles nao era de palavras, mas de
tretanto, 0 registro de sua vida com este generoso tributo: "Na verdade, paIavras e obras.
nenhum homem fez tanto para diminuir a amplitude da miseria humana
ou para acrescentar asoma da felicidade humana".n Ele proprio se sentiu
apto a dizer que "a maioria dos grandes movimentos filantropicos do
A GRANDE INVERSAO
seculo se originaram dos evangelicos"Y , Entretanto, mais tarde aconteceu algo para desafiar 0 compromisso evan-
o mesmo pode ser dito dos Estados Unidos no seculo 19.0 envolvi- gclico com 0 interesse social. Isso ficou visivel especial mente durante os
. mento social foi tanto filho da religiao evangelica como irmao gemeo do primeiros 30 anos do seculo 20, sobretudo durante a decada seguinte
evangelismo. Isso e visto claramente em Charles G. Finney, que e mais :'t Primeira Guerra Mundial, quando uma mudan<;:a drastica aconteceu,
conhecido como 0 advogado que se tornou evangelista e autor de Lectures a qual 0 historiador americano Timothy L. Smith denominou a grande
on Revivals of Religion (1835) [Palestras sobre reavivamentos da religiao]. invcrsao, e que David O. Moberg investiga em seu livro com esse mesmo
Por meio de sua prega<;:ao do evangelho, varias pessoas foram trazidas a titulo. 16
fe em Cristo. 0 que nao e muito conhecido e que ele era interessado por
reformas tanto quanto 0 era por avivamentos. Ele estava convencido, como
A LUTA CONTRA 0 LlBERALISMO
Donald W. Dayton mostra em sua obra Discovering an Evangelical Heritage
[Descobrindo uma heran<;:a evangelica], de que 0 evangelho "lib era urn Primeiramente, houve a luta contra 0 liberalismo teologico, que negli-
poderoso impulso na dire<;:ao da reformasocial" e que a negligencia da gcnciava a prega<;:ao do evangelho. Os evangelicos sentiam que estavam
Igreja em rela<;:ao a reforma social entristece 0 Espirito Santo e impede contra a parede. 17 Compreensivelmente, eles se tornaram preocupados
o avivamento. E maravilhoso ler a declara<;:ao de Finney em sua 23 a com a defesa e a proclama<;:ao do evangelho, pois ninguem mais parecia
Conferencia sobre avivamento de que "0 grande trabalho da Igreja e l'star advogando 0 cristianismo biblico-historico. Esse foi 0 periodo
reformar 0 mundo [... ] A Igreja de Cristo foi organizada originalmente (1910-1915) em que uma serie de doze pequenos livros intitulada The
para ser urn grupo de reformadores. A propria profissao do cristianismo Fundamentals [Os fundamentos] foi publicada nos Estados Unidos, cujo
implica a profissao, a verdade no juramento, de fazer todo 0 possivel para IH lme deu origem ao termo fundamentalismo. Ocupados na tentativa de
a reforma universal do mundo".14 defender os fundamentos da fe, os evangelicos sentiam que nao tinham
Nao e de se surpreender, entretanto, que por intermedio do evan- tempo para quest(-leS sociais.
gelismo de Finney Deus levantou "urn exercito de jovens convertidos
10 os CRISTAoS EOS DESAFIOS OONTEMPORANEOS NORSO MlJNDO MlJTAvEL: 0 ENVQ1VIMENTO CRISTAe t NECESSARIO? 31
l
eles teriam sido politicamente ativos se tivessem tido a oportunidade e os trabalhadoresj alem de cuidar dos pobres, a melhoria - e, quando
a probabilidade de conseguir mudan<;as? Acredito que sim. Pois, sem necessaria, a transforma<;ao - do sistema economico, qualquer que seja
a a<;ao politica adequada, algumas necessidades sociais simples mente ele, e do sistema politico, novamente, qualquer que seja, ate que se facilite
nao poderiam ser satisfeitas. Os apostolos nao exigiram a aboli<;ao da a liberta<;ao da pobreza e da opressao". 27
escravatura. Mas nao estamos alegres e orgulhosos de que cristaos do
seculo 19 0 tenham feito? A campanha deles era fundamentada no
ensino biblico da dignidade humana e era urn emprego legitimo de sse
( Parece claro, entao, que 0 interesse cristao genuino adotara tanto 0
servi<;o quanto a a<;ao social. Nao seria algo natural divorcia-Ios. Algu-
mas necessidades nao podem ser satisfeitas a nao ser pela a<;ao politica,
I
ensino. Os apostolos tambem nao construiram hospitais, nem exigi- como 0 cruel tratamento de escravos, que poderia ter sido melhorado
ram que fossem construidos, mas criar hospitais cristaos e uma pr<itica pela a<;ao social, mas isso nao resolveria 0 problema da escravidao em si,
legitima do interesse compassivo de Jesus pelos doentes. Do mesmo ela precisava ser abolida. Continuar aliviando as necessidades imediatas,
modo, a a<;ao politica, que e 0 amor buscando justi<;a para 0 oprimido, apesar de necessario, pode se tornar uma desculpa para nao resolver a
e uma aplica<;ao legitima do ensino e do ministerio de Jesus. Como situa<;ao que as causa. Se os viajantes da estrada entre Jerusalem e Jerico
comentou 0 arcebispo Desmond Tutu, de seu modo particularmente fossem frequentemente espancados e sempre cuidados pelo born sama-
vivido, "nao entendo que Biblia as pessoas estao lendo quando sugerem ritano, a necessidade de leis melhores para eliminar os roubos a mao
que religiao e politica nao se misturam". 25 armada poderia ser negligenciada. Se acidentes de trftnsito acontecem
regularmente em urn determinado cruzamento, a necessidade nao e de
SERVIQO SOCIAL E AQAO SOCIAL mais ambulftncias, mas de semaforos, para bus car prevenir os acidentes.
Sempre e born alimentar os famintos, mas melhor e, se possivel, erradi-
Em segundo lugar, precis amos considerar a rela<;ao entre 0 social e 0 politico, car as causas da fome. Assim, se realmente amamos nossos proximos e
usando agora esta palavra em seu sentido rna is restrito. Em seu capitulo queremos servi-Ios, 0 servi<;o pode nos compelir a tomar, ou a solicitar,
final, 0 relatorio de Grand Rapids Evangelismo e Responsabilidade Social- um medidas politic as em favor deles.
Compromisso Evangelico fez-se essa pergunta. Ele distinguiu servifo social de
afao social e, de forma muito util, esquematizou 0 seguinte quadro:
A POLITIZAQAO DO CRISTIANISMO
Servic;o social Ac;ao social Em terceiro lugar, precis amos entender aqueles que sao hostis ao envol-
vimento politico da igreja. Eclaro que existe urn grande perigo na politi-
Remoc;:ao das causas da
Assistencia a necessidade humana necessidade humana za<;ao do evangelho, que e a identifica<;ao da fe crista com urn programa
politico. Isso e errado por duas raz6es. A prime ira e que a politiza<;ao
Atividade filantropica Atividade politica e econ6mica
ignora 0 interesse principal da fe crista, que e amar a Deus - 0 primeiro
Procura transformar as estruturas
Procura ministrar a individuos e familias e grande mandamento. Amar 0 nosso proximo como a nos mesmos
da sociedade
tambem e importante e ambos os mandamentos caminham juntos. A
Atos de misericordia A busca pela justic;:a26
segunda razao e que, em urn mundo caido, nenhum program a politico
pode declarar ser a expressao da vontade de Deus.
o relatorio continua, definindo a a<;ao sociopolitica nos seguintes termos: Como afirma William Temple, provavelmente 0 arcebispo de
"Ela considera, alem das pessoas, as estruturasj alem da reabilita<;ao Canterbury mais socialmente engajado do seculo 20, "a assevera<;ao da
dos prisioneiros, a reforma do sistema carcer<irioj alem da melhoria das igreja quanto ao pecado original deveria faze-Ia intensamente realista
- OS-CR-IS-TA-OS-E-O-S-D-ES-A-FI-OS-C-O-NT-E-MP-O-RA-N-Eo-s--------~--~!·Ji-I""""" -1 ==:::::'"
NOSSO MI INDO MIITIIVrI • (1 FNVOI VIMFNTO enlsTAn ( NrerssllnlO'1 39
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e visivelmente livre do utopismo". 28 Os cnstaos evangelicos que se como integridade - a igreja carece da pericia necess,'tria, apesar de alguns
juntaram em Lausanne, no grande Congresso Internacional de Evan- de seus membros possui-Ia -, prudencia - ela pode provar estar errada,
geliza<;:ao Mundial (1974), declararam sem rodeios em seu pacto: "N6s
[.•. J rejeitamos, como urn sonho orgulhoso e confiante em si mesmo, a
no<;:ao de que 0 homem possa construir uma utopia na Terra".29
f com 0 tempo, e assim ficar desacreditada - e justi~a - entre os cristaos ha
diferentes opinioes e a igreja nao deve defender urn lado, mesmo que seja
a maioria de seus membros contra uma minoria, que e igualmente leal.
Tambem nao devemos esquecer que nosso chamado para 0 envolvi-
mento social deve ser integrado anossa vida espiritual. N6s nao podemos,
(' Assim, a igreja provavelmente sera atacada de ambos os lados se cumprir
por exemplo, separar a a<;:ao social ou 0 servi<;:o social da ora<;:ao. Urn born o seu dever. Dido a ela que se tornou politica quando, na verdade, ela
foi cuidadosa para declarar apenas principios e apontar brechas neles,
I
exemplo disso vern do trabalho de Madre Teresa de Calcuta.
e defensores de determinadas diretrizes the dirao que ela e futil, porque
Muitos que visitam Madre Teresa e seus missionarios de caridade ficam nao os apoia. Se ela for fiel a sua missao, ignorara ambas as queixas e
surpresos ao notar que, nos horarios de almoyo, eles encerram seu tra- continuara, tanto quanto puder, a influenciar todos os orgaos governa-
balho de sustento das vidas que estao morrendo nos ambulat6rios enos mentais e agencias e a permear todos os partidos. 14
lares. Por que sair tao cedo? Para orar. Eles aprenderam que trabalhar
sem orayao e conseguir apenas 0 que e humanamente possivel, e 0 desejo E claro que precisamos reconhecer que cristaos, como individuos,
deles e conseguirem possibilidades divinas. 10 e ate mesmo organiza<;:oes cristas especializadas terao 0 conhecimento
necessario sobre questoes de orienta<;:ao politica e se manifestarao, farao
A igreja, portanto, nao deve se esquecer de seu chamado principal de campanhas e conduzirao pesquisas sobre esses assuntos. Pode acontecer
orar, cultuar, evangelizar e convidar outros para seguir a Cristo. Politica- tambem que urn grande numero de cristaos esteja de acordo sobre uma
mente, ela precisa tambem estar consciente de que, mesmo procurando
determinada diretriz e se una para apoiar ou protestar contra ela, depen-
o que e melhor para a sociedade humana e estudando a Palavra de Deus
dendo do caso. Entretanto, isso e diferente de comprometer a igreja com
em busca de uma mente crista, ela nao pode entronizar 0 pensamento
uma diretriz em particular. Mesmo se concordarmos com essa definiyao
cristao em urn programa politico particular. Como veremos, uma das
de papeis e reconhecermos que nem todos os cristaos sao responsaveis por
virtu des da democracia e que ela nos leva a humildade e a necessidade
elaborar as diretrizes politicas, ainda teremos de lutar com os principios,
de nos ouvir mutuamente, especialmente quando discordamos urn do
outro e tentamos achar urn caminho a seguir. { e esses costumam nao ser faceis de formular.
,
I
seja 0 cerne da sociedade civil; antes, sao desconfiados quanto as outras instituic;:oes cairem por meio da violencia e, na imaginac;:ao popular,
consequencias da liberdade humana e da escolha pessoal. Na historia anarquia e mais associada ao caos do que a uma ordem social. Assim, 0
humana, os governos autoritarios, sejam eles fascistas, comunistas ou problema e que, enquanto 0 autoritarismo tern uma visao pessimista da
uma ditadura, como se pode encontrar em alguns paises, nao creem condi~ao humana e nega ao povo liberdade e dignidade, a anarquia tern
(
no discurso social, como nao creem que se possa aprender alguma uma percep~ao otimista demais da natureza humana, aparentemente
coisa com as pessoas. Ja que as pessoas desejam ter direitos humanos ignorando 0 fato de que a ra~a humana e decaida e capaz de grande de-
e ser livres para escolher como viver suas vidas, 0 governo autoritario, prava~ao. Agora nos sabemos que nenhuma opiniao crista da sociedade
geralmente, nao so impoe sua visao de sociedade ao povo, mas 0 coage civil pode ser expressa como urn sonho utopico, pois as pessoas nao sao
I
a aceitar essa visao. Isso tern levado, em muitas sociedades, a violencia e apenas criadas a imagem de Deus, mas sao tambem decaidas, de forma
a supressao dos direitos humanos nao so dos que resistem em nome da que qualquer sociedade deve concordar com esses elementos da natureza
liberdade, mas tambem dos grupos que nao sao tolerados pelo regime humana. Epor essa razao que nos voltamos agora para a democracia.
autoritario. No seculo 20 isso levou, em sua forma mais extrema, aos
campos de concentra~ao nazistas e ao arquipelago Gulag, da antiga
DEMOCRACIA
Uniao Sovietica. Mesmo que uma autocracia fosse genuinamente
benevolente, ela desprezaria seus cidadaos, pois nao confiaria neles A democracia e a terce ira op~ao. Ela e a expressao politica da persuasao
para ter participa~ao alguma na tomada de decisoes. pelo argumento. Se 0 autoritarismo, por ser pessimista, impoe a lei arb i-
,
trariamente e a anarquia, por ser otimista, tern uma visao inadequada de
ANARQUIA autoridade, entao a democracia, por ser realista e considerar os homens
seres criados e tambem decaidos, envolve os cidadaos na estrutura de
Do outro lado do espectro esta a anarquia. Nessa filosofia existe tanto suas proprias leis. Pelo menos essa e a teoria. Na pratica, e facil para a
otimismo acerca do individuo, que a lei, 0 governo, na verdade qualquer
autoridade e vista nao somente como superflua, mas como uma amea~a
a liberdade humana. 0 filosofo russo Bakunin era contra qualquer dis-
tribui~ao desigual de poder. Ele comentou: "Voce quer tornar impossivel
I
1
midia manipular as pessoas e, para a corrup~ao, interferir no processo
politico. E em toda democracia existe 0 constante perigo de se esmagar
as minorias.
Varias filosofias politicas sao compativeis com a democracia. Muitas
I
uma pessoa oprimir seu companheiro? Entao fa~a tudo 0 que for possivel formas de socialismo veem a democracia como 6 centro da sociedade
para que ninguem possua poder". 35 0 escritor Brian Morris comentou: civil, como a social-democracia, que considera a provisao do bem-estar
o termo anarquia vem do grego e significa, essencialmente, "sem sobe- como necessaria para uma sociedade justa. Na social-democracia 0 alvo
rano". Anarquistas sao pessoas que rejeitam todas as formas de governo e que a sociedade seja conduzida para 0 bern de todos. Na democracia
ou autoridade coerciva, todas as formas de hierarquia e dominio. Eles liberal 0 foco esta na liberdade e no individuo e nao na igualdade e na
sao, portanto, opostos ao que 0 anarquista mexicano Flores Magon cha- comunidade. Os mercados econ6micos estao no centro da sociedade e a
maya de trindade sombria: Estado, capital e igreja. Anarquistas sao, entao,
fun~ao do Estado e vista como secundaria a escolha individual. A demo-
opostos tanto ao capitalismo quanto ao Estado, bem como a todas as
cracia social e a liberal sao, talvez, os do is modelos rna is familiares que
formas de autoridade religiosa. Mas os anarquistas tambem procuram
estabelecer ou realizar, por diferentes meios, uma condiyao de anarquia,
vemos na prarica hoje. Apesar disso, vale a pena mencionar do is outros
isto e, uma sociedade descentralizada, sem instituiyoes, uma sociedade modelos. 0 libertarismo focaliza total mente as escolhas dos individuos
organizada por intermedio de uma federayao de associayoes voluntarias. 36 e confina 0 Estado a proteger os individuos da coer~ao. Nesse ponto
de vista, proporcionar ajuda para aqueles que estao em desvantagem e
Apesar de tal defini~ao parecer inocua, a anarquia tambem tern sido interferir contra a liberdade. De certo modo, e uma forma mais extre-
associada a violencia. Alguns anarquistas tentam fazer 0 Estado ou ma de liberalismo. No comunitarismo a enfase esta na comunidade e
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2 OS CRISTAos Eas DESAFIOS CONTEMPORANEOS
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Nossn MlJNDO MUTAVEI : 0 ENVOLVIMENTO CRISTAo t NECESsARIO?
politica, seja de direita, de esquerda ou de centro, como se Fosse um uma Biblia antiquada e assuntos que s6 podem ser compreendidos por
monop6lio de verdade e bondade. Na melhor das hip6teses, uma ideo- especialistas. Eles nao creem que Deus fala conosco por meio das Es-
logia politica e seu program a sao apenas uma aproxima<;:ao da vontade e f crituras e nos leva a verdade. Em segundo lugar, podem ser ingenuos e
do prop6sito de Deus. Aqueles partidos que se rotulam explicitamente simplistas. Essas pessoas querem solu<;:oes rapidas e frequentemente veem
como cristaos tambem precisam estar cientes disso. 0 fato e que sao
encontrados cristaos na maioria dos partidos politicos e eles sao capazes
de defender sua participa<;:ao a partir de fundamentos cristaos sensatos.
( os assuntos em preto e branco, em vez de refletir sabiamente sobre eles a
luz das Escrituras. Elas negam os problemas, citam textos justificativos,
critic am aqueles que discordam e fazem qualquer coisa, exceto lutar
Assim, me deixando levar por uma grande simplifica<;:ao, ouso afirmar com os assuntos que nos confrontam, a luz das Escrituras. Assim, 0 que
que ambas as principais ideologias politicas ocidentais atraem os cristaos, e necessario, como discutirei no pr6ximo capitulo, e desenvolver uma
por diferentes razoes. 0 capitalismo atrai porque incentiva 0 empreendi-
mento e a iniciativa humana, mas tambem causa aversao, po is parece nao
f mente crista e isso significa analisar as questoes, ler as Escrituras, ouvir
outras pessoas e agir.
se importar com 0 fato de 0 fraco sucumbir a competi<;:ao selvagem que
ele produz. Por outro lado, 0 socialismo atrai porque demonstra grande
compaixao pelo pobre e pelo fraco, mas tambem repele porque parece
( Entretanto, mesmo se ja fizemos nosso dever de casa e discutimos,
debatemos e oramos juntos, precis amos nos perguntar: "Nos ombros
de quem esta a responsabilidade politica?". Nao fazer e responder a essa
nao se importar com 0 fato de a iniciativa e 0 empreendimento individual pergunta e uma das principais razoes da atual confusao sobre 0 envolvi-
serem sufocados pelo grande sistema politico que ele produz. Cada um mento cristao na politica. Precis amos distinguir entre individuos, grupos
atrai porque enfatiza uma verdade a respeito dos seres humanos: a neces-
e igrejas. Todos os cristaos, como individuos, deveriam ser politicamente
sidade de conceder liberdade a execu<;:ao de suas habilidades criativas ou
ativos, no sentido de, como cidadaos conscientes, votarem nas elei<;:oes,
.a necessidade de protege-los da injusti<;:a. Cada um cria aversao porque
informarem-se sobre assuntos contemporaneos, participarem de debates
deixa de considerar, com a mesma seriedade, a verdade complementar.
publicos e talvez escreverem para um jornal, argumentarem com seus
Ambos podem ser libertadores. Ambos tambem podem ser opressivos.
candidatos eleitos ou participarem de manifesta<;:ao. Alem disso, alguns
Como afirma 0 economista e estadista J. K. Galbraith, "no capitalismo,
individuos sao chamados por Deus para dar suas vidas ao servi<;:o politico,
o homem explora 0 homem. No comunismo, e apenas 0 contrario". E
tanto no governo local quanta no nacional. Os cristaos que compartilham
compreensivel que muitos cristaos sonhem com uma terceira op<;:ao, que
de preocupa<;:oes morais e sociais especificas deveriam ser encorajados a
supere as atuais e incorpore as melhores caracteristicas de ambas.
formar ou a se unir a grupos que estudarao mais profundamente 0 assunto
Na democracia somos convidados a ouvir humildemente uns aos
e poderao tomar as atitudes adequadas. Em alguns casos, esses grupos
outros e constatar que nao temos um monop6lio da verdade, enquanto
serao exclusivamente cristaos; em outros, os cristaos desejarao contribuir
continuamos perseguindo os prop6sitos de Deus para a nossa sociedade.
com grupos mistos - seja um partido politico, um sindicato operario ou
Devido ao homem ser caido, certamente existe uma lacuna entre 0 ideal
uma associa<;:ao profissional -, oferecendo sua perspectiva biblica.
divino e a realidade humana, entre 0 que Deus revelou e 0 que e possivel
a humanidade. Adequados 0 pensamento e a a<;:ao politica de individuos e grupos
cristaos, a igreja, como um todo, deve se envolver em politic a? Certamen-
te a igreja deve ensinar 0 evangelho e a lei de Deus. Esse e 0 dever dos
NOSSA RESPONSABILIDADE POLITICO-CRISTA pastores, professores e outros lideres da igreja. E "quando a igreja condui
Quando confrontados com a complexidade da vida moderna, os cristaos que a fe ou a integridade biblica requerem que ela tome uma posi<;:ao
podem ser tentados a se dirigir a do is extremos. Primeiramente, eles po- publica a respeito de algum assunto, entao ela deve obedecer a Palavra de
dem sucumbir ao desespero e ate mesmo ao cinismo. Eles mencionam, Deus e confiar a ele as consequencias" .40 Pensar que a igreja deve ir alem
;------~~-C-,R-IRT-Ao-S-E-O-S-DE-R-AF-IO-S-C-ON-T-EM-P-O-RA-N-m-R---------~---~---1 - - - ==::::::"
NORSO MIJNDO MIJTAvn : 0 rNVOI VIMFN 10 cnlSTAO t Nf cr ~;sAf11()? 47
I
do ensino e tomar atitudes politicas corporativas em rela<;:ao ao Estado se suplementam. Se uma oportunidade eventual e dada a eles para
e como se aderissemos a tradi<;:ao luterana, reformada ou anabatista em
rela<;:ao a igreja. Pelo menos devemos concordar que a igreja nao deve
entrar nesse campo sem a habilidade necessaria. Porem, se os lideres fazem
sua tarefa de casa com esmero, dedicam tempo e se esfor<;:am estudando
I apresentarem relatorios aos membros da igreja, a natureza representativa
de seu trabalho sera afirmada e eles poderao receber urn valoroso apoio
da igreja, por meio de conselhos, incentivo, ora<;:ao e sustento financeiro.
Nenhum cristao poderia, ou deveria, tentar se envolver em todos os
urn assunto juntos, a fim de alcan<;:ar urn pensamento cristao comum e
recomendar uma a<;:ao crista comum, a postura informada e unida deles
passar a ser extremamente influente.
(
~
tipos de ministerio. Mas cada igreja, independente do tamanho, pode e
deve se envolver em tantas areas quanta possivel, por meio de seus grupos.
Os grupos tornam possivel a igreja diversificar bastante seu interesse e
Observe primeiro 0 cristao de forma individual. Em termos gerais, a<;:ao. 41 Como veremos no proximo capitulo, os cristaos precisam ter urn
todo cristao e chamado para ser testemunha e servo. Assim, cada urn de conhecimento completo das Escrituras, que lhes proporcione fundamento
nos e urn seguidor do Senhor Jesus que testemunhou uma boa confissao
e disse: "Eu estou com voces como urn servo". Assim, diakonia (servico) e
I teologico para 0 envolvimento cristao. A reflexao e a a<;:ao cristas nao
podem ser separadas.
martyria (testemunho) sao gemeos inseparaveis. Apesar disso, diferentes
cristaos sao chamados para diferentes ministerios, especificos, assim
I Finalizo este capitulo com 0 que pode ser uma referencia ate surpre-
endente a missa catolica romana. Diz-se que a palavra missa e derivada da
como os doze foram chamados para 0 ministerio da palavra e da ora<;:ao, declara<;:ao final usada na antiga cerim6nia em latim: !te, missa est. Num
enquanto os sete foram chamados para se incumbirem da distribui<;:ao portugues educado pode significar: "Voces estao dispensados". Numa
diaria para as viuvas (At 6). A metafora da Igreja como corpo de Cristo linguagem mais aspera e direta, poderia ser apenas "Saia!" - sair para 0
refor<;:a a mesma li<;:ao. Assim como cad a membro do corpo humano tern mundo que Deus fez e onde os seres a sua imagem habitam, 0 mundo
uma fun<;:ao diferente, assim tambem cada membro do corpo de Cristo para 0 qual Cristo veio e ao qual ele agora nos envia. Pois e a esse mundo
tern urn dom diferente, portanto, urn ministerio diferente. Ao mesmo que pertencemos. 0 mundo e a arena na qual devemos viver e amar,
tempo, qualquer que seja 0 nosso chamado especifico, emergencias 0 testemunhar e servir, sofrer e morrer por Cristo.
ultrapassarao. Na parabola do Born Samaritano, 0 sacerdote e 0 levita
nao puderam desculpar sua vergonhosa negligencia com 0 homem que
havia sido assaltado ao dizer que seu chamado era trabalhar no templo.
Se somos chamados para urn ministerio predominantemente social,
ainda temos a obriga<;:ao de testemunhar. Se somos chamados para urn
ministerio predominantemente evangelistico, nao podemos dizer que
nao temos responsabilidades sociais.
Quanto a igreja local, a versatilidade de seu alcance pode ser grande-
mente aumentada se todos os seus membros fizerem uso completo dos
seus diferentes dons e chamados. E muito saudavel para a lideran<;:a da
igreja incentivar as pessoas que tern interesses semelhantes a se unirem
em grupos de interesses especiais ou de estudo e a<;:ao. Alguns terao urn
objetivo evangelistico - visita de cas a em casa, grupos de musica, missoes
mundiais etc. Outros grupos terao interesse social - visita a enfermos ou
de assistencia social, associa<;:ao de abrigo, rela<;:oes comunitarias ou de
ra<;:as, cuidado com 0 meio ambiente, defesa da vida, campanhas contra
o aborto, defesa das necessidades de uma minoria etnica etc. Tais grupos
9
A Política elo Poder
1) <J ( 'onsfr ulivi.1 mo Social. Srgnificado, moralidade eliminada, para SL~r subslituída por uma nova modalidad
e wrdi1dL' não exis- e de cxistC·11ci:1
tem objetivamente: ao contrário, são conslruidos pela comunitária, que por enquanto ainda não está clarament
sociedade. e delinida.
2) Dete rmin ismo Cultural. Os indivíduos são totalm
ente moldados por Quais são as implicações políticas dessas idéias?
forças culturais. A linguagem cm particular determina A crenç a de que a realidade seja socialmente construída
o que podemos , como jáapon(<lll
pensar, prendendo-nos numa "prisão da lin,guagem". David Horowitz, só pode ser uma fórmula para o totali
3) A Rejeição da Identidade Individual. As pessoas exist tarismo. A democraci;1
1
obi_cüv~ so hr~ st'.:1s posi~·ôcs,._iustificando suas açôcs simplesmente com um ,,;or negros. Que um acadêmico branco se atrevesse a falar pelos negros violava o
qw.: nos
~onvem . E c~n seguida empregam a força política e j uríclica esmagadora princípio pós-modernista de que uma pessoa de uma cultura (especialmente a do
na tentativa de desLnnr seus adversários.) opressor) nunca pode entender ou se colocar totalmente no mundo de outra
C~n.nor observa também "a herança apocalíptica de Nietzsche ... que sugere
cultura.
q~e a urnca fo1:ma ele val~r está na aceitação cio extremismo teórico" . ., Isso, para Um transexmll (um homem que se submeteu a wna cirnrgia para mudança de
dizer q uc os pos-modcrn1stas tendem a ser extremistas. sexo) apresentou um trabalho sobre sua ira por não ser aceito pelas lésbicas
,. -~nquanto ~esac_rcdita~lo nos países ex-comunistas, o mm-xismo clássico ainda como mulher. Ela (ou ele) prosseguiu analisando a "trnnsfobia" que infeta a cultu-
mrm mtelcctuais ocidentais, cm parte, sem dúvida, por purn rebeldia contra suas ra americana. Outro acadêmico apresentou um trabalho com o título "Por que Eu
próprias sociedades. Mas seu marxismo é um pouco diferente do rnarxismo de Apóio o Ataque aos Gays". O trabalho expressa sua ira contra homossexuais
Engels e Lenin. O marxismo clássico acredita gue a mudança econômica. culmi- que querem entrar na corrente principal da sociedade americana, seja casando-
nan_do no socialismo, irá transformar a cultura. Os novos marxistas, scg1;indo os se ou entrando para o exército. Ele ataca "os gays brancos egocêntricos ou as
ensmos do comunista italiano Antonio Gramsci, ensinam que a mudarn;'l cultural
1 '/
1, ·,;hic;1.•; lir: 111c;1s p1·L·su1H? isas" (chamar ulguém de "lxanc( 1" (· l 1111;1 ;1 li·( mta p('ls~ 1( llllc pm excclêncü1 d,1q11i lu q uc chamamos de '·védurL·:, ". 1.:m VL'I'. lk·
111o(krnista irrebatível), acusando-os de estarem endossando "n pluralismo libe- :q1elar para uma autoridade fr)ra de nós mesmos, só jl( idcmos procurnr
ral, a Iiberdadc de expressão, o sonho americano e outros tais". (As implicações ativar nossas capacidades retóricas pma travm as batalhas políticas ne-
:111tidernocrálicas elo pós-modernismo ficam evidentes na rejeição explícita da cessárias à defesa ele nossas próprias preferências e proibir expressões
··1 iherdade ele expressão" e presumivelmente de outros direitos humanos.) Ades- de prcforências que nos ameaçam ou initam. Fish é sincero sobre a falta
peito da hostilidade geral dos participantes, não só em rebção à sociecbde. mas de base de suas próprias crenças e sobre sua disposição de travar ba-
cm relação aos colegas vítimas, eles ti"veram muito cm comum. "Havia acordo talhas políticas para silenciar aqueles a quem desaprova. 8
geral'', registra Leo, "cm que a América é inerentemente opressiva e que a única
resposta correta é a organização em volta da vitímização grupal e da ira." "Alguém sempre vai ser restringido cm seguida", diz Fish, ''e sua tarcL, l'
Ce1iarnente, os participantes da conferência "Ira!" não parecem ser grande certificar-se de que esse alguém não seja você." 9
ameaça política. Sua histeria e a trivialidade de seus agravos não provocam tm1a Arthm Pontynen faz um resumo da ligação entre o pós-modernismo L' :1:;
reação séria. Tal exlrcmisrno, cstímulado pela sua indignaçfío hipócrita que não regras de "correção política" no campus tmiversitário:
reconhece nenhuma restrição mural ,tlc;rn dos interesses dos seus próprios gru- Porque não existe sabedoria, dizem-nos, não existe isso de livre ex-
pos, poderia quanto muito resultar cm terrorismo (a modalidnde pós-moderna pressão (e as políticas ou regras seio colocadas par::i limitar a livre ex-
de revolu~'.ãü). Já vemos isso na ação de espetar {irvores e colocar bombas nos pressão nos campus). Dizem-nos que não existe isso de responsabilid~1-
laboratórios dos ativistas pelos Direitos dos Animais (um movimento pós-mo- de individual e dignidade (e políticas são propostas para promoverem o
dernista cxcmplrn} J\ilas com certeza lais grupos hiperscgrncnladus. por sua pró- tratamento das pessoas nilo com base no merecimento individual, mas
pria natureza, s:."ío pequcn()s dcm~lis ptll'~l ler impacto politico. com base cm categorias tão rçstritivas corno raça, sexo e classe ... ).
>::::-:o('. V(;nladc e nos dú c~pcrançc1. íVL1s él dL:spl·ito de pruk:;larc1n tanto de
Dizem-nos até que não existe ciência, só iic~:Cics significativas; que não
q1,e lhes falta puder. esses grupos e especialn1entc a mentalidade que rcprcsen- existe cultura, só paradigmas de opressão. iu
tm1 tên1 poder, sim. Sua prcsrnça e ,luloridadc morní no mundu ac.ad('.micu 6
C mundo acadêmico n;fo é a [urre de marlim que ús VLJ.cs 1x1rL·ec, despren- Scrú que rcstt·içucs corno essas ü liberdade individuaJ não poderiam lrans
dida do "mundo real". Essa lorre de rnarlirn doutrina os proh.'.ssoi-cs, advogados, bordar dos carnpi para a sociedade corno um todo?
jornalist:1s e a liderança do governo. /\.s burncraci~1s, as legislaturas e os tribunais est:'ío C,'(ihimlo semelhank
A liberdade de expressão (co11cknadu cumu '·B.S." pelo ativista gov na ''sensitividade" no seu zelo de lutar contrn "rnokstmnento" r_' na sua aplicaçfíu
confr:ri:ncia da lra) jú está sendo rcstri ngicla nns Gm1pi, t,rnto pela prcss[Hi inJ or- cada vc·z mais ampb ck lei:-; de direi lo civil.. Se chegarmos ao ponlu de haver ''lei::
mal como por n:gulamcnto, cm num e da scnsilividade para com grupos melin- de a~:ão afimwtiva" que forcem a:; igrejas a ordenar mulheres contra os ensino,.
ciradus. :;1anky Fish,. teórico litcr(1rio ,~ adrniníslradur da Universidade DuKc. da igreja, ou leis '\mtidiscrim inalórias" que exijam que organizações cristãs co11
que se encontra no centro das controvérsias ''politicamente corretas··,, escreveu tratem homossexuais, ou "leis de lohhies políticos" que forcem as igrejas ao
urn artigo intitulado "Thcrc's rfo Such Thing as Frce Spccch and H's a Good silêncio sobre questões sociais como aborto, então a iibcrdadc religiosa terá sid11
Thing, Too' . lNão Existe Liberdade de Expressão e Ainda Bem!] 7 Ele argumenta extinta. Jú algumas sei tas pós-modernistas defendem tais rnccliclas; só lhes foi [;1
que as universidades devem censurar a fala ofensiva. Fish admite que ele não poder. Fernínbtas 1nilítantesjá têm suficiente poder para instituir o aborto quand( •
possui padrões objetivos pelos quais julgar. Rogcr Lundin resume o pc11samcnto requisitado, o que leva à matança ele mi ]hões de seres humanos; o próximo itet 11
dele: da sua agenda 1': silendar e prender os que protestam.
Connor reconhece "urna dialética estranha que pressiona à renúncia da au-
Visto que todos os princípios são preferências•·-·- e aocnas mcfen:ncias
J, ' toridade e da forma unificada até o ponto da absoluta impotência, a qual poder:'!
- eles nada mais são do que máscaras pela sede elo poder, que é a
então completar um circuito voltando a uma afirmação renovada de poder
1 ·,Lj
l 11-.11·, ,·. I'.,-, f\l,.1•11-·1111-. ;\ I '1 1i l 1 11 ,.,\ 1 H' l 1( ll 11 I\
11iilisl~1". 11 As revoluções tendem a percorrer umaordcrn prcdi,-íVt·l. ;\ princípio, lilrn1: 1s do povo. OI ~sl,tdl, 111')',;111ic1l, concebido como fónlc ck todus (lS v:111 lll'i,
l' dL'. todo o bem, estaria adquirindo um status místico, assumindo o papel lk-
os revolucionários renunciam a toda a autoridade e a todas as estruturas
estabelecidas. Uma vez derrubadas as autoridades e demolidas as estruturas, a 1)cus e recebendo a devoção de todos seus membros. Como nas antigas S(lC.Íl'
revolução entra em nova fase. Novas autoridades e novas estruturas são impos- d ades pagãs, antes ela alienação trazida ao Ocidente pela Bíblia, a cultura SLT1:1
tas. A maioria das revoluções, entretanto, teve alguns critérios para suas novas inteiramente integrada com a natureza e com os deuses.
sociedades - o racionalismo iluminista da revolução francesa, a economia mar- Muitas pessoas da época viam a ideologia fascista corno libertadora. M.is
xista para a revolução rnssa, o comprometimento com o Islã da revol uçâo ira- seu construtivismo social e seu determinismo cultmaL postos em prática, signi li-
niana. Uma revolução pós-modernista, rejeitando todos os absolutos desse tipo, caram a opressão totalitária. Sua rejeição do indivíduo significou a extinção (_Li
seria arbitrária, conscientemente construindo uma sociedade governada só pelo liberdade. Sua rejeição ele valores morais objetivos significou a impossibilidade
niilismo do seu poder. de restrições aos atos do Estado, resultando em programas de eugenia, terroris
"O extremismo teórico", "ira", "poder niilista" - tais temas recorrentes elo mo de polícia secreta e cut:másiados deficientes e "indesejados". Suahostilid,1-
pós-modernismo não são auspiciosos para a manutenção de uma sociedade li- clc ideológica à tradição judeu-cristã levou a uma apropriação, por pmie d,1
vre, democrática. A maioria das pessoas não percebe que os princípios do pós- igreja, das teologias sincrctistas, à supressão do Cristianismo confessional e ao
modernismo já foram experimentados num sistema político. O construtivismo extermínio ern massa dos judeus.
social, o determinismo cultural, a rejeição da identidade individual, a rejeição do Reaccir contra o moderno é em vários sentidos reverter ao primitivo, ao b{n-
humanismo, a negação do transcendente, o reducionismo do poder, a rejeição baro. O fuscismo dos anos 30 nunca foi um movimento conservador (a despl·i 1( 1
da razão e a crítica revolucionária da ordem existente são princípios não só do da propaganda marxista), e sim urna reação contra a objetividade, o rncionalis111( 1
pós-modernismo, mas também do fáscismo. e a alienação elo "mundo moderno", uma re::ição estrutmalmente paralela àqul'L1
Como já foi mencionado e como demonstro cm outro livro, Afodcrn Fascis1n: elos pós-modernistas. O fascismo, assim como o pós-modernismo, teve su,1,,;
Liquidating the .ludeo-Christian PVorldview" 12 [O Fascismo Moderno: Liqui- origens 110 romantismo, com seu primitivismo e subjetivismo, e no existcncia
dando a Visão de Mundo Judeu-Cristã], muitas elas idéias qlle se uniram no lis1~10 , com sua rcjeiçüo de absolutos e seu "triunfó da vontade". Talvez Hitler
fascismo da década de 30 sobreviveram à ScgunclaGuerraTVlunclial e continua- tenha fracassado por ser avançado para a época.
ram a ser desenvolvidas no pensamento pós-modernista. Os fascistas ensinaram
que a realidade é uma construção social, que a cultura determina todos os valo-
A Democracia Contemporânea
res. Cada cultma individual e os grupos étnicos específicos, port:mto, constituem
seus próprios mundos auto-suficientes, que devem ser conservados incon- As idéias pós-modernistas poderão ter implicações políticas perturbadoras, mas
taminados, embora esses grupos muitas vezes venham a competir uns com os certamente essas idéias são mantidas principalmente por acadêmicos isolados e
outros. A individualidade é um mito; seres humanos particubn_:s s<i se realizarão pelos lunáticos. Poucas pessoas comuns crêem na "construção social da realida-
quando se perderem num grupo maior. "Valores htm1anistas" são um mito; não há de" e outras ideologias pós-modernistas esotéricas. Parece pouco provável qm:
leis morais absolutas transcendentes pelas quais a cultura possa scrj ulgada. Es- a América se desfaça de suas liberdades democráticas em troca de algum total i-
sas são idéias 'judaicas" - ou seja, bíblicas-idéias que sãD n:spon:,:'1vcts pela tarismo marxista, pós-marxista ou fascista.
alienação, pelo sentimento de culpa e pela instabilidade da cultura ocich:ntal. A para dizer a verdade, tenho grande confiança nas instituições americanas e
força, e não o amor e a misericórdia, precisa ser a verdadeira cxpn:ssão do na força constrangedora ela democracia e da economia de livre mercado. Não
desejo de poder de uma cultura. A emoção coletiva, não a razüo abstrata (outra obstante, há razões que levam à preocupação pelo estado ele saúde da demo-
contribuição 'judaica"), deve ser cultivada como fonte de energia da cultura. cracia americana.
"O Socialismo Nacional" instituiria mna economia controlada, dirigida pelo Como vimos, Q relativismo do mundo acadêmico é compartilhado hoje por
Estado, que funcionaria pelo bem da nação. O Estado resolveria todos os pro- tí6 por cento dos americanos (o que inclui 72 por cento da "próxima geração" e
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"·• pnlít!rns
· extrapolar novos direi los 11unca mencionados na constituic;üo parn 1·c1m·ln :'t,;
d;i rda!1v1smo:
necessidades da sociedade. Seguindo esse raciocínio, o Supremo ·1 'ri huna! 1cg, 1··
lizou o abmio, denubando todas as leis que restringiam o ab01to em nome de lllll
1{111 nenhuma área é a existência de um padrão absoluto mais vital do
rccém-ínterido "direito à privacidade".
que na política e no governo, No Ocidente as nações edificaram sólidas
Tradicionalmente, o sistema judicial era responsável pela interpretação das
estruturas políticas, crendo que cm última análise as leis do homem de-
leis. Mas os novos ativistas judiciais, sem o impedimento ele legisladores ou de
veriam ser apenas um reflexo das leis morais imutáveis de Deus .... J\fas
diretrizes absolutos, estão fazendo leis. As questões mais divisivas das "guerras
se não e~iste a verdade- se não existem padrões objetivos elo que é
culturais" atuais vêm sendo precipitadas por esse ativismo judiciário. Alóm cll-
bom OU Justo, e, portanto, nenhum padrão do qLte é injusto-, então 0
tcrem legalizado o aborto, os tribunais já permitiram que vigore a pomografia,j:1
padrão social está sempre ameaçado pelo capricho do momento. E a
deram direitos especiais aos homossexuais, mantiveram a agenda feminista e lrn i-
~ira~ia, quer das paixões desenfreadas da nrnioria, quer de um ditador
çaram fora das escolas a oração e a leitura bíblica,
1mp1cdoso, há de se seguir inevitavclrnentc. 14
Como reconheceu o Juiz Alcx Kozinski: "Os juízes que adquirem o húhiln
. ~:omo Colso11 mostra, a tirania não vem só de ditadores; tambi:rn poderá ele brincar de legislador ficam tentados a começar a tratar todas as leis-inclui11
existir urna tirania "da maioria". do a Cons1ituiçflo-mcramente como um trampolim para implemcntai;ilu ti,·
. Uma ti_rania democn\tica, opcr,mdo sem rcstriL,:c"\cs morais, poder([ dcsenca- seu próprio senso do certo e do errado". 15 Opiniões pessoais substituem abst i 111
uear as "paixões'' da mainria e assim perpclrar toda espécie de maL Alualmcntc tos. As opiniões elo juiz, entretanto, tornam-se lei para todos, Como membro:;
as c~ues~ões mnr'.iis sJn 111uit1s VC/'.es resolvidas por pesquisa de opinifiu, que bem-instruídos do sistema intelectual, o sentimento de certo e errado deles p111
e1?tao sao traduz1dc1s pura mna pulílica pí1blica. /\s sarn,:ôcs que vêm vindo ele vavclmcnte serú o sentimento de seus pares pós-modernistas.
s,:culos contra (1 ahorlo <l;!ílnt :,;l· de~:1 nuronaram cm fovor du ·'direito de escolha Esse ativismo i udieial, LJUe pode cancelar leis passadas por legislaturas ,k
mãe, .. /\ qucst:io cLt moralidade cb c'ula11:·1sia c·stú .•;cndo cnl1 icada ao voto cm moera1icamcnte eleitas, concentra imenso poder nas m5os de uma mino ri a í11-
escrutínios c~;tadu;11s. C}mmdu umu suciccbde nJo aceita nrnlrnm absoluto fima e não dei la. "t sinal dos tempos'', observa John Lco, "que os rcformadorL·s
mor;_1;, n(io hú rnais alto lriixm;t] d,1 que u ()11i11ii1cs su1,·1,.t 1·\1• 1,, Stit,1•,· '. 1, .. 11 .•l-J~l.,
• ...__
·. , .
l ,1, 1. - .._ 1. Ll- .(_.
hoje já omitem rotineiramente o processo legislativo e passarn a levar suas ques-
cminic\,) ))l!Dlic:: - !11llll:1:-: H'>'.:.:s i111p1.:11s:1das, mutÚVCI:•: •,· Vllllli.T~lvc;,, tões diretamente ao tribunal." i<i Ali os "reformadores" são bem capazes ele con-
1c1c; s,1, 1 n1·u111u1g:1cb: .. 1\!n; IL'Í.'3 uivorc1;ie1as J:1 moralidall, seguir o que querem sem ler de primeiro persuadir o Congresso ou o público
1n 1 n~1n1-s•· c••"t('ll11' 'l]l,' · 'llll' 1•· ]l l' 1·1· • 1'l , l
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222 INTRODUÇÃO A COSMOVISÃO CRISTÃ VIDA NA INTERSECÇÃO: PERSPECTIVAS SOl1Hl: 1\1,GlJMAS AREAS DA VIDA PÚBLICA 223
A narrativa bíblica apresenta, assim, princípios importantes com os quais em menos de vinte minutos, um estudioso pode levar a vida inteira para
podemos desenvolver uma sólida abordagem cristã acerca do governo e da fazê-lo. 9 Relacionar �rativa bíblica à política de hoje é tarefa complexa, e
política: (1) o governo foi instituído por Deus para o nosso bem e precisa não ajudamos pessoa alguma quando formulamos ideias simplistas apoiadas
estar em conformidade com o desígnio de Deus; (2) o papel do governo é em alguns poucos textos-prova.
assegurar a justiça pública na sociedade e tem o direito de usar a força para Em segundo lugar, precisamos nos familiarizar com a longa tradição cristã
fazê-lo; (3) no entanto, governos podem ser corrompidos por diversas idola de reflexão política. Oliver O'Donovan e Joan Lockwood O'Donovan lamen
trias; 7 (4) os cristãos devem ser cidadãos exemplares e devem honrar e respei tam, com toda razão, nossa ignorância, por exemplo, da abundante reflexão no
tar o governo; no entanto (5), não podem jamais prestar obediência irrefletida pensamento cristão sobre o que vem a ser uma guerra justa. 10 Os cristãos pre
a governo humano algum, pois a lealdade primordial deles é para com Jesus, cisam realmente conhecer essa tradição, para que os recursos que ela fornece se
o Filho do Homem. tornem parte de nossa própria reflexão crítica quando participamos das decisões
Como essas constatações se aplicam ao contexto atual? Outra vez, con de nosso país de quando ir e quando não ir à guerra.
forme salientamos repetidas vezes neste livro, ao desenvolvermos uma cosmo Em terceiro lugar, precisamos conhecer algo da história da política, de como
visão cristã, é importante não somente viver a narrativa bíblica, mas também ela se desenvolveu ao longo dos séculos e de como herdamos as instituições
relacioná-la com a nossa situação atual. Aqui, um exemplo óbvio é que hoje a existentes hoje. Isso as colocará em contexto histórico e cultural e nos capacitará
forma predominante de governo é a democracia, um modelo completamente a reagir a elas com discernimento.
desconhecido no mundo bíblico. Os cristãos de hoje vivem em sociedades plu Em quarto lugar, cristãos talentosos precisam entrar na política, sendo
ralistas em que várias cosmovisões competem entre si e, como consequência, políticos, acadêmicos e líderes na sociedade que exercem influência direta no
não podemos simplesmente aplicar as leis veterotestamentárias à cultura con governo, mas também instruem outros cristãos sobre como levar em considera
temporânea. Veja, por exemplo, ª- pena de morte. Mesmo que possamos confi_r ção de maneira cuidadosa problemas políticos contemporâneos a partir de uma
mar sua legitimidade, não está nada claro como aqueles crimes que mereciam\ perspectiva cristã. Um bom exemplo disso é o trabalho liderado por Jim Skillen
pena de morte no Antigo Testamento (p. ex., adultério, idolatria, homossexua que o relativamente pequeno Center for Public Justice [Centro Pró-Justiça
lidade) estão relacionados com a legislação de nossa própria cultura pluralista. Pública] (CPJ) tem feito ao longo dos últimos anos pela reforma dos serviços
Assim, desenvolver uma cosmovisão cristã em relação à política de nos sociais. A lei conhecida como "Charitable Choice" [Lei da opção por entidades
sos dias não é tarefa fácil. Sugerimos que as considerações a seguir sejam filantrópicas] (promovida pelo CPJ) escancarou oportunidades para grupos cris
elementos-chave de uma tal abordagem. Em primeiro lugar, as orientações tãos e de outras religiões receber financiamento do governo para serviços sociais
bíblicas precisam ser levadas a sério. 8 Conforme Oliver O'Donovan assinala, e ao mesmo tempo manter sua integridade religiosa - um grande passo para
se as Escrituras são a Palavra de Deus, precisamos iniciar a caminhada com o eliminar o abismo secularizado e prejudicial entre igreja e Estado. 11
que Deus comunicou a Abraão até a maneira como lidar com o Iraque hoje Em nossas confortáveis comunidades de classe média é difícil ter uma ideia
(observando que Abraão viveu na região que hoje é o Iraque). O'Donovan de tudo aquilo que está em jogo na política salutar. Mas, se tivéssemos de viver
continua observando que, embora um pregador talvez percorra esse caminho em Ruanda durante o período de genocídio ou no Iraque ou em Darfur nos dias
7Para um livro excelente que faz um levantamento de várias ideologias que estão moldando -----
"Oliwr O'I )onovan, 1he desire ef tjlfnations.�discovering the roots ef political theology
a vida política atual, veja David T. Koyzis, Po!itica! vi.,io111 ,111d 1ll111iom: t1 survey and Christian (Camh1id�r ( '.1111!>11dw llnivcrsity Press/ 1996), p. ix.
critique ef contemporary ideologies (Downers Grow· 11111·1 V,11 �i, }, .IOO l) 1 t'diçf10 cm português: "'Vr 1,1 ( >li vt ,. (r l l,1111 ,v.111, Joan T,oc�1od O'Donovan, From Trenaeus to Grotius: a sourcebook.
Visões e ilusões poHtiras: uma and!ise 1• cr(tim rri.1l11 rl,11 1rltolr•.•; ,.�,, ,,,11,•11p111,/11t//1, t I adll\'ilO dt• l ,11rns 'illrtil tho11ghl (< ;, .111d Rapids Et·nl111:1ns, 199')). Vt·ja th. Oliver O'Donovan, 1he
G. Freire (S:to Paulo: Vida Nova, 2014) 1 ,,r,!irid p_,; < ',11nhridgc· 1 h11vc.-11y 1'11·�s, 100 l)
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