Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
TEXTO DE APOIO Parte II
TEXTO DE APOIO Parte II
TEXTO DE APOIO Parte II
1. Introdução
2. Tipologia de intervenção:
• Critério quantitativo
• Critério qualitativo
3. O Estado Produtor: A actividade empresarial do Estado e sector empresarial do Estado.
• Origem
• Componentes do Sector Empresarial do Estado
• Regime jurídico do SEE
4. A privatização.
• conceito de privatização.
• Fundamentos das privatizações.
• As privatizações em Moçambique.
• A concessão de bens e serviços públicos.
5. Estado como Regulador da Economia
• A regulação pública da economia: noção.
• Âmbito da regulação.
• Tipos de regulação.
• Procedimentos da regulação
• Entidades Reguladoras
3. O Estado Produtor
Visto que inicialmente o SEE era composto por EE, importa fazer uma breve abordagem deste
tipo de empresas.
A legislação aprovada historicamente à respeito das EE traz uma definição legal deste tipo de
empresa nos termos da qual as EE seriam as unidades sócio-económicas propriedade do Estado
que as cria, dirige e afecta os recursos materiais, financeiros e humanos adequados à aplicação
do seu processo de reprodução no cumprimento do plano. Portanto, as EE em Moçambique
eram entidades de natureza empresarial tituladas pela pessoa colectiva Estado Moçambicano
em sentido restrito que se dedicavam a produção de bens e serviços no estrito cumprimento do
estabelecido no Plano.
Em termos doutrinários a EP seria toda aquela que sujeita-se à direcção e orientação pública
(Waty, 2011: 241) já em termos legais, conforme o definido pela lei 17/91 de 3 de Agosto, a
Empresa Pública seria a entidade criada pelo Estado com capitais próprios ou fornecidos por
outras entidades públicas que realizam a sua actividade no quadro dos objectivos sócio-
económicos deste.
O regime jurídico das EP aprovado pela lei 17/91 de 3 de Agosto vigorou por cerca de 21 anos
tendo sido alterado em 2012 pela lei 6/2012 de 8 de Fevereiro que procurou adequar tal regime
jurídico à conjuntura que se vivia na altura. Esta lei, à semelhança da lei 17/91 de 3 de Agosto,
tinha como objecto exclusivo as EP deixando de lado as outras empresas do Sector Empresarial
do Estado (SEE), pois como abaixo se discutirá, com o PRE e a consequente alteração
constitucional e com o processo das privatizações, o SEE ampliou-se passando a integrar várias
outras empresas.
Com vista a estabelecer um regime jurídico aplicável a todo o SEE, o legislador moçambicano,
em 2018, através da lei 3/2018 de 19 de Junho, revogou a lei 6/2012 de 8 de Fevereiro e passou
a regular, num mesmo diploma legal, todo o Sector Empresarial do Estado.
Portanto, pertencem ao SEE as Empresas Públicas bem como quaisquer outras empresas ou
sociedades comerciais cujo capital pertença exclusivamente ou maioritariamente ao Estado.
No mesmo sentido, a lei 3/2018 de 19 de Junho dispõe, no n°2 do art.2 , que o SEE é composto
por todas as unidades produtivas e comerciais do Estado integrando Empresas Públicas, e
empresas exclusivamente ou maioritariamente participadas pelo Estado.
✓ Empresas Públicas; e
Como acima se referiu, actualmente o regime jurídico do SEE encontra-se estabelecido na lei
3/2018 de 19 de Junho e respectivo Regulamento o qual foi provado pelo Decreto 10/2019 de
26 de Fevereiro.
Portanto, diferentemente do que ocorreu no período após a independência até 2018 – onde as
empresas do SEE não eram reguladas de forma uniforme - o legislador, na legislação
actualmente em vigor, passou a regular de forma uniforme todo o SEE sem prejuízo de alguns
aspectos específicos próprios de cada um dos componentes deste sector.
▪ Natureza jurídica
Nestes termos, sendo as empresas do SEE empresarial entidades de natureza empresarial elas
estão viradas, diferentemente do Estado e de outras pessoas colectivas públicas, para a
actividade produtiva, nomeadamente para a produção de bens ou serviços e sua venda.
Nos termos do disposto no art. 5 da lei 3/2018 de 19 de Junho, as empresas do SEE são dotadas
de personalidade e capacidade jurídica própria, o que significa que elas são pessoas jurídicas
diferentes do Estado e das outras entidades públicas e, como tal, com direitos e obrigações
próprias podendo praticar todos os actos necessários para a prossecução do seu objecto social.
Nestes termos as empresas do SEE formam a sua vontade, expressam-na e executam-na através
dos seus órgãos, pelo que as mesmas devem estar estruturadas em órgãos com atribuições
concretas.
A personalidade jurídica das empresas do SEE é condição indispensável para que a actividade
empresarial possa ser a actividade principal da empresa (Moncada, 1988: 193) e para que a
responsabilidade dos actos praticados pela empresa recaiam apenas na sua esfera jurídica não
se estendendo à esfera jurídica do Estado ou de outras pessoas colectivas públicas. Com efeito,
sem personalidade jurídica própria a empresa do SEE confundir-se-ia com o Estado (que tem
múltiplos fins) ou com outras pessoas colectivas públicas (com fins específicos mas não
empresariais) impedindo que a actividade principal da mesma fosse a empresarial e impedindo
a determinação da responsabilidade de cada um.
A capacidade jurídica das empresas do SEE está sujeita, tal como as demais entidades jurídicas
de direito privado, ao princípio da especialidade nos termos do qual, como acima já se referiu,
a capacidade jurídica das empresas do SEE encontra-se limitada aos actos necessários à
prossecução do objecto social constantes dos estatutos da empresa (Moncada, 1988: 194).
Autonomia Administrativa:
Com efeito, como acima se referiu, as empresas do SEE são entes com personalidade jurídica
própria. Não obstante estas empresas serem tituladas pelo Estado ou por outras entidades
públicas (exclusivamente ou maioritáriamente) as decisões referentes a tais empresas são
tomadas pelos seus órgãos onde o Estado ou outras pessoas colectivas públicas estão
representados. Nesta óptica o processo decisivo das empresas do SEE é feito internamente no
âmbito da empresa pelos órgãos da mesma e não externamente pelos seus proprietários. Neste
sentido, a autonomia administrativa determina que as decisões ou os actos adotados pela
empresa do SEE, desde que o órgão que tomou a decisão ou adoptou um acto seja o competente
para o efeito, são definitivos e capazes de, por si só, serem executados sem necessitar de
qualquer confirmação externa.
Autonomia patrimonial
Autonomia Financeira
Desta definição deprende-se que as empresas do SEE, tal como qualquer outra empresa do
sector privado, devem ser capazes de desenvolver a sua actividade sem depender de
financiamento contínuo do Estado estando assim obrigadas a produzir receitas suficientes para
cobrir todos os custos que elas possam ter, daí estas disporem de orçamento próprio e, em
princípio, não dependerem do Orçamento do Estado para financiar as suas actividades.
Nos termos do art. 9 da lei 3/2018 de 19 de Junho, as empresas do SEE têm as seguintes
funções:
Desde a sua criação até a aprovação da lei 3/2018 de 19 de Junho, o âmbito de actuação do
IGEPE circunscrevia-se às empresas participadas (sociedades de capitais exclusivamente
públicos e sociedades mistas) pelo que as Empresas Públicas estavam excluídas do âmbito de
actuação do IGEPE.
Neste âmbito é a EGCSEE quem exerce a função accionista do Estado, que tem a competência
de gerir e coordenar o SEE controlando o seu desempenho económico e financeiro, gerindo as
participações sociais e financeiras do Estado, assegurando a implementação das políticas e
estratégias do SEE, propondo programas de investimentos para o SEE, promovendo o
desenvolvimento do capital humano do SEE, propondo instrumentos legais para o SEE,
desenvolvendo acções de coordenação e assessoria relativa à gestão das participações sociais
e elaborando estudos que visam a reestruturação das empresas do SEE.
Da análise das competências acima, as quais encontram-se descritas no art. 8 da lei 3/2018 de
19 de Junho, constata-se que o papel da EGCSEE é o de fazer a coordenação e gestão integrada
das empresas do SEE e não o de intervir na gestão de cada uma das empresas, tendo portanto
uma competência macro ao nível de todo o SEE e não uma competência micro ao nível de cada
uma das empresas do SEE.
No entanto, como acima se referiu, além das competências acima descritas, a EGCSEE exerce
também a função accionista do Estado. Com efeito, apesar de o disposto no n°1 do art. 7 da lei
3/2018 de 19 de Junho conduzir ao entendimento de que a função accionista corresponde ao
exercício dos poderes de gestão e coordenação do SEE reconduzindo-se às competências supra
descritas, o disposto no n°3 da mesma disposição legal conduz ao entendimento que o exercício
da função accionista extravasa as supra referidas competências e assegura à EGCSEE uma
intervenção micro em cada uma das empresas do SEE.
Nos termos do disposto no n°3 do art. 7 da lei 3/2018 de 19 de Junho, o exercício da função
accionista do Estado compreende:
a) Representar o Estado nas Assembleias Gerais de cada uma das empresas do SEE;
Como acima já se referiu, as empresas do SEE são entidades criadas pelo direito e como tal
dotadas de personalidade jurídica equiparando-se assim às pessoas físicas. No entanto,
diferentemente das pessoas físicas, as pessoas jurídicas necessitam de órgãos para formar,
exprimir e executar a sua vontade.
Nestes termos, a lei 3/2018 de 19 de Junho estabelece uma estrutura orgánica obrigatória para
todas as empresas do SEE.
As empresas do SEE devem ter, pelo menos, quatro órgãos estatutários, nomeadamente:
• Assembleia Geral;
• Conselho de Administração;
• Conselho Fiscal; e
• Comissões Especializadas.
Os órgãos das empresas do SEE são compostos por pessoas físicas, algumas das quais em
representação de pessoas colectivas, que exercem as suas funções nos órgãos por mandatos
fixados na lei ou nos estatutos de cada empresa do SEE.
Nos termos da lei em vigor, o mandato dos membros do Conselho de Admnistração é de 4 anos
e dos membros do Conselho Fiscal de 3 anos. A lei não estabelece o mandato dos membros da
mesa da Assembleia Geral e dos membros das Comissões Especializadas deixando esta
determinação para os estatutos de cada empresa.
Assembleia Geral
A Assembleia Geral (AG) é o órgão deliberativo da empresa do SEE e como tal toma as
decisões sobre os assuntos mais importantes da vida da empresa.
Como o próprio nome já indica, a Assembleia Geral é a reunião dos detentores do capital da
sociedade (órgão colegial composto por mais de uma pessoa) com o fim de decidir sobre os
assuntos relacionados com a vida da empresa.
Atendendo que o SEE é composto tanto por empresas públicas como por empresas participadas
as quais são sociedades comerciais que podem ter um único sócio – o Estado ou outras
entidades públicas - ou mais sócios – o Estado e entidades privadas; as características da
Assembleia Geral diferem conforme se trate de uma EP ou de uma Empresa Participada.
Nas EP a Assembleia Geral seria a reunião do detentor do capital social o qual é representado
pela EGCSEE que é quem exerce a função accionista do Estado participando na mesma os
representantes do ministério que superintende o sector de actividade da empresa em questão.
Nas Empresas Participadas, a Assembleia Geral seria a reunião dos sócios da empresa
participando o Estado representado pela EGCSEE e demais sócios da mesma.
As competências da Assembleia Geral encontram-se definidas na lei – vide art. 12 da lei 3/2018
de 19 de Junho – sendo de se destacar a competência deliberativa genérica nos termos da qual
compete à Assembleia Geral decidir sobre qualquer assunto que não caiba na competência dos
outros órgãos ou qualquer outro assunto à ele submetido pelo Conselho de Administração.
Sendo a Assembleia Geral a reunião dos detentores do capital social, esta reunião deve realizar-
se, pelo menos, duas vezes por ano – reuniões ordinárias, podendo reunir-se mais vezes –
reuniões extraordinárias.
A Assembleia Geral é presidida por uma mesa composta por um Presidente, podendo, além do
presidente, integrar um vice-presidente e um secretário. As reuniões da Assembleia Geral são
convocadas pelo Presidente da Mesa sendo que a convocatória deve ser feita nos termos
estabelecidos nos estatutos de cada empresa. Caso o Presidente da mesa não convoque a
Assembleia Geral, a lei admite que os sócios da empresa ou os outros órgãos possam convocar
tal Assembleia.
A AG só pode reunir-se e deliberar quando estejam presentes, pelo menos, metade dos
detentores do capital social sendo que as deliberações são tomadas, em princípio por maioria
simples dos votos dos que nela participam.
Conselho de Administração
O CA só pode reunir-se e deliberar estando presentes, pelo menos, metade dos seus membros
sendo que as deliberações são tomadas por maioria dos votos dos membros. No entanto, o PCA,
sempre que se verifique um empate na votação, tem um voto de qualidade permitindo, desta
forma, ultrapassar eventuais impasses no órgão de gestão da empresa.
Com efeito, sendo o CA o órgão que gere diariamente a empresa, esta deve prestar contas da
actividade desempenhada, aos detentores do capital social.
Conselho Fiscal
O CF é um órgão colegial composto por três membros sendo um deles o Presidente e sendo
que, pelo menos, um dos membros deve ser contabilista ou auditor certificado. A lei admite
que as atribuições do CF possam ser exercidas por uma firma de auditoria ou contabilidade
desde que tal firma seja distinta da que faz a auditoria externa da empresa.
Como órgão colegial que é, o CF deve reunir-se, pelo menos, uma vez por trimestre, podendo,
no entanto, reunir-se sempre que for convocado pelo respectivo Presidente por iniciativa
própria ou a pedido da maioria dos seus membros ou a pedido do CA.
Comissões Especializadas
As Comissões Especializadas (CE) são órgãos atípicos sendo portanto uma exclusividade das
empresas do SEE.
Embora as CE constituam, nos termos da lei em vigor, órgãos estatutários das empresas do
SEE, a legislação em vigor deixou ao critério de cada empresa, através do seu órgão
deliberativo, deliberar sobre a constituição efectiva destas Comissões em cada uma das
empresas do SEE, o que significa que a lei não determina quais as CE que devem ser
constituídas, o número de membros destas, as atribuições e competências destas, o mandato e
o mecanismo de funcionamento das mesmas.
Nestes termos, cada empresa tem a possibilidade de, em AG, fixar e constituir as CE que
efectivamente vão existir no seio das mesmas. No entanto, a lei, de forma genérica
exemplificou o objecto das CE que podem ser constituídas nas empresas do SEE,
nomeadamente:
• Remunerações;
• Regalias;
• Auditoria;
• Controlo interno;
• Conformidade; e
• Gestão de risco.
Neste sentido a lei sujeitou as relações laborais das empresas do SEE com os seus trabalhadores
à lei do trabalho (Lei 23/2007 de 3 de Agosto) admitindo, no entanto, que os funcionário do
aparelho do Estado possam exercer funções nas empresas do SEE em regime de destacamento
sujeitando-se, estes, ao fixado no Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado.
Come efeito, não obstante a lei admitir que as empresas do SEE possam contrair dívidas, ela
estabelece condições para o mesmo. Nos termos da lei 3/2018 de 19 de Junho e respectivo
regulamento, o endividamento das empresas do SEE estão sujeitos aos procedimentos relativos
à emissão e gestão de dívida pública e das garantias pelo Estado cabendo ao Ministério que
superintende a àrea das finanças fixar, anualmente, os limites do endividamento de todo o SEE.
Por outro lado, internamente, ao nível de cada empresa, deve existir uma política de
endividamento aprovada pela AG.
No que se refere à competência para decidir sobre o endividamento de cada empresa do SEE,
a legislação em vigor estabelece uma diferença de regime conforme se trate de endividamento
de longo prazo para investimento e endividamento de curto prazo para gestão corrente.
▪ Criação e estatutos
▪ Património
▪ Extinção
▪ Prerrogativas especiais
▪ Constituição
▪ Património
▪ Extinção.