TEXTO DE APOIO Parte II

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TEXTO DE APOIO

INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA

1. Introdução
2. Tipologia de intervenção:
• Critério quantitativo
• Critério qualitativo
3. O Estado Produtor: A actividade empresarial do Estado e sector empresarial do Estado.
• Origem
• Componentes do Sector Empresarial do Estado
• Regime jurídico do SEE
4. A privatização.
• conceito de privatização.
• Fundamentos das privatizações.
• As privatizações em Moçambique.
• A concessão de bens e serviços públicos.
5. Estado como Regulador da Economia
• A regulação pública da economia: noção.
• Âmbito da regulação.
• Tipos de regulação.
• Procedimentos da regulação
• Entidades Reguladoras
3. O Estado Produtor

3.1. Origem e evolução (Continuação)


Em Moçambique, o Sector Empresarial do Estado (SEE) passou a ser regulado por legislação
própria aprovada logo em 1977. Nestes termos, além da constituição económica então vigor e
demais legislação aprovada, o SEE foi objecto de regulação especial a qual foi evoluindo
consideravelmente ao longo do tempo.
Numa primeira fase, no período imediatamente após a independência nacional até a aprovação
da constituição de 1990, o SEE em Moçambique era composto por Empresas Estatais (EE) cujo
regime jurídico constava do Decreto-Lei 17/77 de 28 de Abril.
Em 1981 foi aprovada a lei 2/81 de 30 de Novembro que revogou o acima referido Decreto-
Lei estabelecendo um regime jurídico para as EE mais consentâneo com o objectivo
socializante da economia nacional nos termos da alteração constitucional ocorrida em 1978.
Com efeito, recorde-se que a CRPM aprovada em 1975 era neutra no que se refere ao regime
económico tendo, só em 1978, com a revisão constitucional ocorrida, sido estabelecido o
objectivo socializante da economia nacional. Portanto, esta alteração constitucional suscitou a
necessidade de adequar o regime jurídico das empresas do Estado a tal objectivo socializante
da economia.

Visto que inicialmente o SEE era composto por EE, importa fazer uma breve abordagem deste
tipo de empresas.

A doutrina define EE como sendo instrumentos ao serviço do Estado para o cumprimento de


actividades ou finalidades (Schirato, 2016:1) ou como empresas (organização de factores de
produção – terra, trabalho e capital - para a produção de bens ou serviços) cuja titularidade e
gestão são exclusivamente da pessoa colectiva Estado (Waty, 2011: 241). Portanto, nos termos
da definição doutrinárias só o Estado no sentido restrito do termo é que detém e gere as EE.

A legislação aprovada historicamente à respeito das EE traz uma definição legal deste tipo de
empresa nos termos da qual as EE seriam as unidades sócio-económicas propriedade do Estado
que as cria, dirige e afecta os recursos materiais, financeiros e humanos adequados à aplicação
do seu processo de reprodução no cumprimento do plano. Portanto, as EE em Moçambique
eram entidades de natureza empresarial tituladas pela pessoa colectiva Estado Moçambicano
em sentido restrito que se dedicavam a produção de bens e serviços no estrito cumprimento do
estabelecido no Plano.

Com as transformações introduzidas pelo PRE e pela alteração constitucional ocorrida em


1990, o regime jurídico constante da lei 2/81 de 30 de Novembro mostrou-se extremamente
inadequado pelo que a mesma foi revogada pela lei 17/91 de 3 de Agosto, que além de alterar
consideravelmente o regime jurídico das empresas do Estado atribuiu uma nova designação à
tais empresas passando estas a designarem-se de Empresas Públicas (EP). Portanto, nos termos
da lei 17/91 de 3 de Agosto as empresas do Estado passaram a ter uma nva designação e um
novo regime jurídico.

Em termos doutrinários a EP seria toda aquela que sujeita-se à direcção e orientação pública
(Waty, 2011: 241) já em termos legais, conforme o definido pela lei 17/91 de 3 de Agosto, a
Empresa Pública seria a entidade criada pelo Estado com capitais próprios ou fornecidos por
outras entidades públicas que realizam a sua actividade no quadro dos objectivos sócio-
económicos deste.

Portanto, comparando o conceito de EP com o conceito de EE verifica-se que as primeiras


perderam o elemento de exclusividade da pessoa colectiva Estado na titularidade e nagestão
destas empresas o que significa que diferentemente das EE, as EP podem ser tituladas por
outras pessoas colectivas públicas além do Estado.

O regime jurídico das EP aprovado pela lei 17/91 de 3 de Agosto vigorou por cerca de 21 anos
tendo sido alterado em 2012 pela lei 6/2012 de 8 de Fevereiro que procurou adequar tal regime
jurídico à conjuntura que se vivia na altura. Esta lei, à semelhança da lei 17/91 de 3 de Agosto,
tinha como objecto exclusivo as EP deixando de lado as outras empresas do Sector Empresarial
do Estado (SEE), pois como abaixo se discutirá, com o PRE e a consequente alteração
constitucional e com o processo das privatizações, o SEE ampliou-se passando a integrar várias
outras empresas.

Com vista a estabelecer um regime jurídico aplicável a todo o SEE, o legislador moçambicano,
em 2018, através da lei 3/2018 de 19 de Junho, revogou a lei 6/2012 de 8 de Fevereiro e passou
a regular, num mesmo diploma legal, todo o Sector Empresarial do Estado.

3.2. Componentes do Sector Empresarial do Estado


Não obstante a evolução legislativa acima referida ter conduzido à ideia de que o SEE é
composto por EP, o facto é que o SEE é, nos termos da lei 7/2012 de 8 de Fevereiro, composto
por todas as unidades produtivas participadas exclusivamente ou maioritariamente pelo Estado.

Portanto, pertencem ao SEE as Empresas Públicas bem como quaisquer outras empresas ou
sociedades comerciais cujo capital pertença exclusivamente ou maioritariamente ao Estado.

No mesmo sentido, a lei 3/2018 de 19 de Junho dispõe, no n°2 do art.2 , que o SEE é composto
por todas as unidades produtivas e comerciais do Estado integrando Empresas Públicas, e
empresas exclusivamente ou maioritariamente participadas pelo Estado.

Assim o SEE é actualmente composto pelas seguintes empresas:

✓ Empresas Públicas; e

✓ Empresas participadas pelo Estado – Nestas estão incluídas as sociedades de capitais


exclusivamente públicos e as sociedades de capitais misto onde o Estado tem a maioria
do capital.

3.3. Regime jurídico do SEE

Como acima se referiu, actualmente o regime jurídico do SEE encontra-se estabelecido na lei
3/2018 de 19 de Junho e respectivo Regulamento o qual foi provado pelo Decreto 10/2019 de
26 de Fevereiro.

Portanto, diferentemente do que ocorreu no período após a independência até 2018 – onde as
empresas do SEE não eram reguladas de forma uniforme - o legislador, na legislação
actualmente em vigor, passou a regular de forma uniforme todo o SEE sem prejuízo de alguns
aspectos específicos próprios de cada um dos componentes deste sector.

A lei 3/2018 de 19 de Junho está estruturada da seguinte forma:

✓ Regime jurídico comum a todo o SEE – capítulos I, II e III da referida lei;

✓ Regime jurídico específico das Empresas Públicas – capítulo IV da lei; e


✓ Regime jurídico específico das Empresas Participadas quer estas sejam sociedades de
capital exclusivamente público ou sociedades mistas cujo capital pertença
maioritariamente ao Estado – Capítulo V da lei.

3.3.1. Regime Jurídico comum do SEE

▪ Natureza jurídica

As empresas do SEE, não obstante serem propriedade do Estado ou de outras entidades


públicas, elas têm uma natureza empresarial, o que significa que elas são entidades jurídicas
que prossegum um fim lucrativo.

Entende-se por empresa a organização de factores produtivos para a produção de bens ou


serviços (Santos et al, 2014:156) sendo que o fim último de tal organização de factores
produtivos para a produção é a obtenção do lucro que é a diferença entre as receitas obtidas
pela venda dos bens ou serviços produzidos e das despesas incorridas na produção de tais bens
ou serviços.

Nestes termos, sendo as empresas do SEE empresarial entidades de natureza empresarial elas
estão viradas, diferentemente do Estado e de outras pessoas colectivas públicas, para a
actividade produtiva, nomeadamente para a produção de bens ou serviços e sua venda.

▪ Personalidade e capacidade jurídica e autonomia das empresas do SEE.

Nos termos do disposto no art. 5 da lei 3/2018 de 19 de Junho, as empresas do SEE são dotadas
de personalidade e capacidade jurídica própria, o que significa que elas são pessoas jurídicas
diferentes do Estado e das outras entidades públicas e, como tal, com direitos e obrigações
próprias podendo praticar todos os actos necessários para a prossecução do seu objecto social.

Nestes termos as empresas do SEE formam a sua vontade, expressam-na e executam-na através
dos seus órgãos, pelo que as mesmas devem estar estruturadas em órgãos com atribuições
concretas.

A personalidade jurídica das empresas do SEE é condição indispensável para que a actividade
empresarial possa ser a actividade principal da empresa (Moncada, 1988: 193) e para que a
responsabilidade dos actos praticados pela empresa recaiam apenas na sua esfera jurídica não
se estendendo à esfera jurídica do Estado ou de outras pessoas colectivas públicas. Com efeito,
sem personalidade jurídica própria a empresa do SEE confundir-se-ia com o Estado (que tem
múltiplos fins) ou com outras pessoas colectivas públicas (com fins específicos mas não
empresariais) impedindo que a actividade principal da mesma fosse a empresarial e impedindo
a determinação da responsabilidade de cada um.

A capacidade jurídica das empresas do SEE está sujeita, tal como as demais entidades jurídicas
de direito privado, ao princípio da especialidade nos termos do qual, como acima já se referiu,
a capacidade jurídica das empresas do SEE encontra-se limitada aos actos necessários à
prossecução do objecto social constantes dos estatutos da empresa (Moncada, 1988: 194).

Além da personalidade e da capacidade jurídica as empresas do SEE têm autonomia


administrativa, financeira e patrimonial, autonomias estas que constituem um meio de
concretização da capacidade jurídica atribuída a estas empresas.

Autonomia Administrativa:

A autonomia administrativa é definida no glossário da lei 3/2018 de 19 de Junho como sendo


a capacidade que a empresa tem de gerir os seus recursos. Esta definição legal de autonomia
administrativa é bastante simplista não permitindo alcançar os contornos da mesma.

A doutrina define a autonomia administrativa como sendo a capacidade de as empresas


poderem praticar, através dos seus órgãos e nos limites das competências atribuídas a tais
órgãos, actos definitivos e executórios não passíveis de recurso hierárquico.

Com efeito, como acima se referiu, as empresas do SEE são entes com personalidade jurídica
própria. Não obstante estas empresas serem tituladas pelo Estado ou por outras entidades
públicas (exclusivamente ou maioritáriamente) as decisões referentes a tais empresas são
tomadas pelos seus órgãos onde o Estado ou outras pessoas colectivas públicas estão
representados. Nesta óptica o processo decisivo das empresas do SEE é feito internamente no
âmbito da empresa pelos órgãos da mesma e não externamente pelos seus proprietários. Neste
sentido, a autonomia administrativa determina que as decisões ou os actos adotados pela
empresa do SEE, desde que o órgão que tomou a decisão ou adoptou um acto seja o competente
para o efeito, são definitivos e capazes de, por si só, serem executados sem necessitar de
qualquer confirmação externa.
Autonomia patrimonial

Nos termos do glossário da lei 3/2018 de 19 de Junho, a autonomia patrimonial seria a


capacidade de as empresas do SEE de adquirir, registar, gerir e dispor de bens patrimoniais
necessários à prossecução do seu objecto social.

No entanto, a autonomia patrimonial não se limita às capacidades referidas no glossário, ela


também relaciona-se com a responsabilidade pelas dívidas da empresa.

Nestes termos, a autonomia patrimonial refere-se não apenas à capacidade de as empresas do


SEE adquirir, gerir e dispor do seu património mas também ao facto de ser exclusivamente o
património da empresa do SEE a responder pelas dívidas da mesma. Portanto, os credores das
empresas do SEE apenas podem contar com o património de tais empresas para satisfazerem o
seu crédito não podendo atacar o património do proprietário da empresa seja ele o Estado ou
outras entidades públicas.

Autonomia Financeira

Conforme o glossário da lei 3/2018 de 19 de Junho, a autonomia financeira refere-se à


capacidade de as empresas do SEE gerar receitas através da activadade empresarial que
desenvolvem, receitas estas capazes de cobrir as despesas das mesmas.

Desta definição deprende-se que as empresas do SEE, tal como qualquer outra empresa do
sector privado, devem ser capazes de desenvolver a sua actividade sem depender de
financiamento contínuo do Estado estando assim obrigadas a produzir receitas suficientes para
cobrir todos os custos que elas possam ter, daí estas disporem de orçamento próprio e, em
princípio, não dependerem do Orçamento do Estado para financiar as suas actividades.

Decorre da autonomia financeira que as empresas do SEE têm a capacidade de cobrar as


receitas derivadas da sua actividade produtiva não dependendo, para o efeito, dos meios de
cobrança de receitas do Estado. Neste sentido, as empresas do SEE assemelham-se às empresas
privadas pelo que elas têm de recorrer aos mecanismos estabelecidos na lei geral para cobrar
as suas receitas.

▪ Funções das empresas do SEE


Não obstante as empresas do SEE serem entidades de natureza empresarial que devem gerar
receitas iguais ou superiores aos seus custos garantindo assim a sua autonomia financeira, estas,
pelo facto de serem entidades cujo capital pertence, total ou parcialmente, ao Estado ou outras
entidades públicas, têm algumas funções que lhes são próprias e que as distinguém das
empresas privadas.

Nos termos do art. 9 da lei 3/2018 de 19 de Junho, as empresas do SEE têm as seguintes
funções:

• Implementar as estratégias traçadas pelo Governo para o SEE;

• Prestar serviços e actividades do interesse público;

• Desenvolver actividades comerciais cuja viabilidade esteja comprovada em


estudos desenvolvidos; e

• Contribuir para o erário público.

Atente à descrição supra, constata-se que as empresas do SEE constituem um instrumento de


implementação das estratégias do Governo e de prestação de serviços público aos utentes sem
prejuízo destas desenvolverem actividades comerciais que lhes são próprias e gerarem receitas
para alimentar o erário público.

Portanto, as empresas do SEE assumem uma dupla função:

A. Função normal de qualquer empresa privada que é a desenvolver actividades


viáveis e gerar receitas superiores aos custos de produção;

B. Função específica de implementar estratégias do Governo e prestar serviços


públicos.

▪ Entidade de Gestão e Coordenação do SEE

A lei 3/2018 de 19 de Junho criou a Entidade de Gestão e Coordenação do SEE (EGCSEE)


que, nos termos do n° 2 do art. 62 do Regulamento aprovado pelo Decreto 10/2019 de 26 de
Fevereiro, é o IGEPE.
O IGEPE é uma pessoa colectiva de direito público que foi criada pelo Decreto 46/2001 de 21
de Dezembro para gerir, coordenar e controlar as participações que o Estado passou a deter em
várias empresas depois das privatizações.

Com efeito, com o processo de privatizações em Moçambique, o Estado alienou parcialmente


várias empresas tendo mantido participações em várias sociedades resultantes das privatizações
pelo que mostrou-se necessária a existência de uma entidade que fizesse a gestão, coordenação
e controlo das participações detidas pelo Estado nas várias empresas. Neste sentido foi cirado
o IGEPE que tem a natureza de um instituto público.

Desde a sua criação até a aprovação da lei 3/2018 de 19 de Junho, o âmbito de actuação do
IGEPE circunscrevia-se às empresas participadas (sociedades de capitais exclusivamente
públicos e sociedades mistas) pelo que as Empresas Públicas estavam excluídas do âmbito de
actuação do IGEPE.

Com a aprovação da lei 3/2018 de 19 de Junho e respectivo regulamento, o IGEPE tornou-se


na EGCSEE passando a ter, além das atribuições e competências constantes do seu Estatuto
Orgánico o qual foi aprovado pelo Decreto 46/2001 de 21 de Dezembro, as atribuições e
competências constantes dos arts. 7 e 8 da lei 3/2018 de 19 de Junho.

Neste âmbito é a EGCSEE quem exerce a função accionista do Estado, que tem a competência
de gerir e coordenar o SEE controlando o seu desempenho económico e financeiro, gerindo as
participações sociais e financeiras do Estado, assegurando a implementação das políticas e
estratégias do SEE, propondo programas de investimentos para o SEE, promovendo o
desenvolvimento do capital humano do SEE, propondo instrumentos legais para o SEE,
desenvolvendo acções de coordenação e assessoria relativa à gestão das participações sociais
e elaborando estudos que visam a reestruturação das empresas do SEE.

Da análise das competências acima, as quais encontram-se descritas no art. 8 da lei 3/2018 de
19 de Junho, constata-se que o papel da EGCSEE é o de fazer a coordenação e gestão integrada
das empresas do SEE e não o de intervir na gestão de cada uma das empresas, tendo portanto
uma competência macro ao nível de todo o SEE e não uma competência micro ao nível de cada
uma das empresas do SEE.

No entanto, como acima se referiu, além das competências acima descritas, a EGCSEE exerce
também a função accionista do Estado. Com efeito, apesar de o disposto no n°1 do art. 7 da lei
3/2018 de 19 de Junho conduzir ao entendimento de que a função accionista corresponde ao
exercício dos poderes de gestão e coordenação do SEE reconduzindo-se às competências supra
descritas, o disposto no n°3 da mesma disposição legal conduz ao entendimento que o exercício
da função accionista extravasa as supra referidas competências e assegura à EGCSEE uma
intervenção micro em cada uma das empresas do SEE.

Nos termos do disposto no n°3 do art. 7 da lei 3/2018 de 19 de Junho, o exercício da função
accionista do Estado compreende:

a) Representar o Estado nas Assembleias Gerais de cada uma das empresas do SEE;

b) Acompanhar e supervisionar a gestão de todas as empresas do SEE;

c) Elaborar relatórios consolidados sobre o desempenho do SEE;

d) Adquirir e alienar, em representação do Estado, participações no capital de


sociedades e subscrever quaisquer outras participações financeiras; e

e) Designar e destituir os membros dos órgãos sociais das empresas do SEE.

Da análise das competências integradas na função accionista do Estado, particularmente as


referidas nas alíneas a), d), e e) acima, depreende-se que a EGCSEE além da intervenção
macro, intervem directamente em cada uma das empresas do SEE, participando no processo de
tomada de decisões de cada uma destas empresas e na gestão diária das mesmas visto que é ela
quem designa e destitui os membros dos órgãos sociais destas empresas.

▪ Estrutura das empresas do SEE

Como acima já se referiu, as empresas do SEE são entidades criadas pelo direito e como tal
dotadas de personalidade jurídica equiparando-se assim às pessoas físicas. No entanto,
diferentemente das pessoas físicas, as pessoas jurídicas necessitam de órgãos para formar,
exprimir e executar a sua vontade.

Nestes termos, a lei 3/2018 de 19 de Junho estabelece uma estrutura orgánica obrigatória para
todas as empresas do SEE.

As empresas do SEE devem ter, pelo menos, quatro órgãos estatutários, nomeadamente:

• Assembleia Geral;
• Conselho de Administração;

• Conselho Fiscal; e

• Comissões Especializadas.

Os órgãos das empresas do SEE são compostos por pessoas físicas, algumas das quais em
representação de pessoas colectivas, que exercem as suas funções nos órgãos por mandatos
fixados na lei ou nos estatutos de cada empresa do SEE.

Nos termos da lei em vigor, o mandato dos membros do Conselho de Admnistração é de 4 anos
e dos membros do Conselho Fiscal de 3 anos. A lei não estabelece o mandato dos membros da
mesa da Assembleia Geral e dos membros das Comissões Especializadas deixando esta
determinação para os estatutos de cada empresa.

Assembleia Geral

A Assembleia Geral (AG) é o órgão deliberativo da empresa do SEE e como tal toma as
decisões sobre os assuntos mais importantes da vida da empresa.

Como o próprio nome já indica, a Assembleia Geral é a reunião dos detentores do capital da
sociedade (órgão colegial composto por mais de uma pessoa) com o fim de decidir sobre os
assuntos relacionados com a vida da empresa.

Atendendo que o SEE é composto tanto por empresas públicas como por empresas participadas
as quais são sociedades comerciais que podem ter um único sócio – o Estado ou outras
entidades públicas - ou mais sócios – o Estado e entidades privadas; as características da
Assembleia Geral diferem conforme se trate de uma EP ou de uma Empresa Participada.

Nas EP a Assembleia Geral seria a reunião do detentor do capital social o qual é representado
pela EGCSEE que é quem exerce a função accionista do Estado participando na mesma os
representantes do ministério que superintende o sector de actividade da empresa em questão.

Nas Empresas Participadas, a Assembleia Geral seria a reunião dos sócios da empresa
participando o Estado representado pela EGCSEE e demais sócios da mesma.

As competências da Assembleia Geral encontram-se definidas na lei – vide art. 12 da lei 3/2018
de 19 de Junho – sendo de se destacar a competência deliberativa genérica nos termos da qual
compete à Assembleia Geral decidir sobre qualquer assunto que não caiba na competência dos
outros órgãos ou qualquer outro assunto à ele submetido pelo Conselho de Administração.

Sendo a Assembleia Geral a reunião dos detentores do capital social, esta reunião deve realizar-
se, pelo menos, duas vezes por ano – reuniões ordinárias, podendo reunir-se mais vezes –
reuniões extraordinárias.

A Assembleia Geral é presidida por uma mesa composta por um Presidente, podendo, além do
presidente, integrar um vice-presidente e um secretário. As reuniões da Assembleia Geral são
convocadas pelo Presidente da Mesa sendo que a convocatória deve ser feita nos termos
estabelecidos nos estatutos de cada empresa. Caso o Presidente da mesa não convoque a
Assembleia Geral, a lei admite que os sócios da empresa ou os outros órgãos possam convocar
tal Assembleia.

A AG só pode reunir-se e deliberar quando estejam presentes, pelo menos, metade dos
detentores do capital social sendo que as deliberações são tomadas, em princípio por maioria
simples dos votos dos que nela participam.

Conselho de Administração

O Conselho de administração (CA) é o órgão gestão da empresa do SEE cabendo ao mesmo


fazer a gestão diária da empresa e executar as deliberações da Assembleia Geral. Este é um
órgão colegial pelo que é composto por um número ímpar de membros sendo que um dos
membros deve presidir o órgão. O número de membros efectivo do CA variará conforme a
natureza, dimensão e complexidade de cada empresa e é fixado definitivamente pela AG.

A pessoa que preside o Conselho de Administração é designada de Presidente do Conselho de


Administração (PCA) o qual é indicado pelo Conselho de Ministros sob proposta do Ministro
que superintende o sector de actividade da empresa em questão e depois de ouvido o Ministro
que superintende a área da economia (art. 13 do Regulamento aprovado pelo Decreto 10/2019
de 26 de Fevereiro). Os restantes membros do CA são eleitos em Assembleia Geral sob
proposta dos detentores do capital estatutário depois de harmonizada a proposta com o sector
de actividade da empresa.
O CA, como órgão colegial que é, reúne-se mensalmente podendo, no entanto, reunir-se sempre
que se mostrar necessário. A convocatória das reuniões do CA é feita pelo respectivo Presidente
por iniciativa própria ou quando solicitado por, pelo menos, dois membros do CA.

O CA só pode reunir-se e deliberar estando presentes, pelo menos, metade dos seus membros
sendo que as deliberações são tomadas por maioria dos votos dos membros. No entanto, o PCA,
sempre que se verifique um empate na votação, tem um voto de qualidade permitindo, desta
forma, ultrapassar eventuais impasses no órgão de gestão da empresa.

As competências do CA encontram-se descritas na lei as quais se subssumem à gestão corrente


e ao desenvolvimento da actividade da empresa e respectiva prestação de contas aos detentores
do capital social.

Com efeito, sendo o CA o órgão que gere diariamente a empresa, esta deve prestar contas da
actividade desempenhada, aos detentores do capital social.

A empresa do SEE é representada, em juízo (tribunais) ou fora dele, internamente ou


externamente, pelo respectivo PCA.

Conselho Fiscal

O Conselho Fiscal (CF) é o órgão de fiscalização da empresa que fiscaliza a actuação do CA e


sua conformidade com a lei, os estatutos, regulamentos e deliberações da AG.

O CF é um órgão colegial composto por três membros sendo um deles o Presidente e sendo
que, pelo menos, um dos membros deve ser contabilista ou auditor certificado. A lei admite
que as atribuições do CF possam ser exercidas por uma firma de auditoria ou contabilidade
desde que tal firma seja distinta da que faz a auditoria externa da empresa.

Como órgão colegial que é, o CF deve reunir-se, pelo menos, uma vez por trimestre, podendo,
no entanto, reunir-se sempre que for convocado pelo respectivo Presidente por iniciativa
própria ou a pedido da maioria dos seus membros ou a pedido do CA.

As competências do CF encontram-se descritas no art. 17 da lei 3/2018 de 19 de junho, as quais


circunscrevem-se ao controlo das contas da empresa e da conformidade da actuação do CA.

Comissões Especializadas
As Comissões Especializadas (CE) são órgãos atípicos sendo portanto uma exclusividade das
empresas do SEE.

Embora as CE constituam, nos termos da lei em vigor, órgãos estatutários das empresas do
SEE, a legislação em vigor deixou ao critério de cada empresa, através do seu órgão
deliberativo, deliberar sobre a constituição efectiva destas Comissões em cada uma das
empresas do SEE, o que significa que a lei não determina quais as CE que devem ser
constituídas, o número de membros destas, as atribuições e competências destas, o mandato e
o mecanismo de funcionamento das mesmas.

Nestes termos, cada empresa tem a possibilidade de, em AG, fixar e constituir as CE que
efectivamente vão existir no seio das mesmas. No entanto, a lei, de forma genérica
exemplificou o objecto das CE que podem ser constituídas nas empresas do SEE,
nomeadamente:

• Boas práticas de gestão e governação corporativa;

• Remunerações;

• Regalias;

• Auditoria;

• Controlo interno;

• Conformidade; e

• Gestão de risco.

▪ Regime Laboral, Fiscal, de Concorrência e de Endividamento das empresas do SEE

O Legislador Moçambicano, no que se refere aos regimes em epígrafe, atente à natureza


empresarial das empresas do SEE, equiparou-as às empresas privadas.

Neste sentido a lei sujeitou as relações laborais das empresas do SEE com os seus trabalhadores
à lei do trabalho (Lei 23/2007 de 3 de Agosto) admitindo, no entanto, que os funcionário do
aparelho do Estado possam exercer funções nas empresas do SEE em regime de destacamento
sujeitando-se, estes, ao fixado no Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado.

No que se refere ao regime fiscal o legislador também equiparou as empresas do SEE às


empresas privadas sujeitando-as ao regime fiscal comum o que significa que estas empresas
estão sujeitas aos impostos e taxas fixadas na lei geral. Assim, no que se refere ao regime fiscal,
não foi atribuído às empresas do SEE qualquer prerrogativa especial.

À semelhança do que acima se referiu, no que diz respeito ao regime de concorrência, o


legislador sujeitou as empresas do SEE ao regime de concorrência comum, estendendo deste
modo, a aplicação da legislação sobre a concorrência às empresas do SEE. No entanto, o
legislador admite a criação de regimes derrogatórios especiais para as empresas do SEE desde
que devidamente justificados e sempre que a aplicação das normas de concorrência sejam
susceptíveis de frustrar as missões confiadas às empresas do SEE incumbidas da gestão de
serviços de interesse público ou que apoiem a gestão do património do Estado. Portanto, a
derrogação do regime da concorrência funda-se e justifica-se nas funçõs especiais das empresas
do SEE as quais foram acima discutidas.

Diferentemente do que acima se referiu a respeito do regime laboral, fiscal e de concorrência,


no que se refere ao endividademento, as empresas do SEE não foram equiparadas às empresas
privadas.

Come efeito, não obstante a lei admitir que as empresas do SEE possam contrair dívidas, ela
estabelece condições para o mesmo. Nos termos da lei 3/2018 de 19 de Junho e respectivo
regulamento, o endividamento das empresas do SEE estão sujeitos aos procedimentos relativos
à emissão e gestão de dívida pública e das garantias pelo Estado cabendo ao Ministério que
superintende a àrea das finanças fixar, anualmente, os limites do endividamento de todo o SEE.
Por outro lado, internamente, ao nível de cada empresa, deve existir uma política de
endividamento aprovada pela AG.
No que se refere à competência para decidir sobre o endividamento de cada empresa do SEE,
a legislação em vigor estabelece uma diferença de regime conforme se trate de endividamento
de longo prazo para investimento e endividamento de curto prazo para gestão corrente.

O endividamento de longo prazo, além de sujeitar-se aos limites e procedimentos supra


referidos, só é admitido nos termos da política de endividamento aprovada e para responder às
necessidades de investimento cabendo a Assembleia Geral aprovar tal endividamento depois
de ouvido o Tesouro Público.

Já o endividamento de curto prazo, este só é admitido nos termos da política de endividamento


aprovada e deve ser destinado ao apoio à tesouraria, cabendo ao CA aprovar tal endividamento.

▪ Tribunal competente para resolução de litígios

No que se refere à resolução de litígios, à semelhança do que se referiu acima à respeito do


regime laboral, fiscal e de concorrência, o legislador equiparou as empresas do SEE às demais
empresas. Neste sentido compete aos tribunais judiciais resolver os litígios de que sejam partes
empresas do SEE admitindo-se ainda que estas empresas possam recorrer à arbitragem nos
termos estabelecidos da legislação da arbitragem.

3.3.2. Regime jurídico específico das Empresas Públicas

▪ Criação e estatutos

▪ Património

▪ Extinção

▪ Prerrogativas especiais

3.3.3. Regime jurídico específico das Empresas Participadas

▪ Constituição

▪ Património
▪ Extinção.

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