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SECRETARIA DA ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA

CHEFIA DE GABINETE
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA “DR. LUIZ CAMARGO WOLFMANN”

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO TÉCNICO PROFISSIONAL


PARA AGENTES DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA-2018

VALORIZAÇÃO HUMANA
DA PUNIÇÃO À RESSOCIALIZAÇÃO

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO SISTEMA PENITENCIÁRIO


COM VISTAS A VALORIZAÇÃO DO SER HUMANO

AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA


2018
SECRETARIA DA ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA
CHEFIA DE GABINETE
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA “DR. LUIZ CAMARGO WOLFMANN”

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

MÁRCIO FRANÇA
Governador do Estado

LOURIVAL GOMES
Secretário de Estado

LUIZ CARLOS CATIRSE


Secretário Adjunto

AMADOR DONIZETI VALERO


Chefe de Gabinete
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COORDENADORIAS REGIONAIS DE UNIDADES PRISIONAIS

ANTONIO JOSÉ DE ALMEIDA


Coordenador de Unidades Prisionais da Região Metropolitana de São Paulo

NESTOR PEREIRA COLETE JUNIOR


Coordenador de Unidades Prisionais do Vale do Paraíba e Litoral

JEAN ULISSES CAMPOS CARLUCCI


Coordenador de Unidades Prisionais da Região Central do Estado

CARLOS ALBERTO FERREIRA DE SOUZA


Coordenador de Unidades Prisionais da Região Noroeste do Estado

ROBERTO MEDINA
Coordenador de Unidades Prisionais da Região Oeste do Estado

SOLANGE APARECIDA G. DE MEDEIROS PONGELUPI


Coordenadora de Saúde do Sistema Penitenciário

MAURO ROGÉRIO BITENCOURT


Coordenador de Reintegração Social e Cidadania
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ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA

“Dr. LUIZ CAMARGO WOLFMANN”

LEDA MARIA GONZAGA


Diretor Técnico III

GISELE ANGÉLICA SILVEIRA RODRIGUES RAMPAZZO


Diretor Técnico II

CILENE FERNANDA SANT’ANA


Diretor Técnico I

MÁRCIA CLEMENTINO COSTA CORTELLINI


Diretor Técnico I

VALÉRIA RONCATTI
Diretor Técnico I
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ELABORAÇÃO

Cilene Fernanda Sant’Ana – Escola de Administração Penitenciária


Ricardo Vieira da Silva – Centro de Detenção Provisória IV de Pinheiros

COLABORAÇÃO

André Luiz Alves – Centro de Detenção Provisória IV de Pinheiros

COORDENAÇÃO

Cilene Fernanda Sant’Ana – Escola de Administração Penitenciária


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SUMÁRIO

Apresentação ................................................................................................ 7
Módulo I – Evolução histórica da punição e do sistema prisional .......................... 8
Aula 1 – Introdução .................................................................................... 9
Aula 2 - Punição e prisão na Idade Antiga .....................................................11
Aula 3 - Punição e prisão na Idade Média .....................................................15
Aula 4 - Punição e prisão na Idade Moderna ..................................................19
Aula 5 – Formas de punição implementadas ao longo da evolução humana. ......23
Módulo II – Implementação e organização do Sistema Penitenciário ...................25
Aula 1 – Sistemas Penitenciários .................................................................26
Aula 2 – Sistema Celular ............................................................................28
Aula 3 – Sistema Auburniano ......................................................................30
Aula 4 – Sistema Progressivo ......................................................................32
Módulo III – Sistema Prisional Brasileiro ..........................................................34
Aula 1 – Breve histórico .............................................................................35
Aula 2 – Sistema Penitenciário Paulista – Complexo do Carandiru ....................37
Módulo IV – Direitos Humanos .......................................................................40
Aula 01 – Breve processo histórico ..............................................................41
Aula 02 – Em busca por proteção, igualdade e justiça. ...................................46
Aula 03 – O desenvolvimento dos Direitos Humanos no contexto carcerário. .....50
Aula 04 – A evolução carcerária como consequência da evolução humana e da
globalização. .............................................................................................53
Aula 05 – Regras de Bangkok – novo instrumento de trabalho no contexto
carcerário – Um olhar específico a um público-alvo. .......................................56
Aula 06 - Mas afinal, em que tudo isso implica para nós, agentes? ...................61
Bibliografia: .................................................................................................64
ANEXO ........................................................................................................67

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Apresentação

Olá,

Seja bem-vindo ao Curso de Especialização Técnico Profissional para Agentes


de Segurança Penitenciária!

Este curso é um convite a viajarmos pela história atrás da origem das penas
e, consequentemente, dos modelos de prisão até chegarmos nos modelos de sistema
prisional que temos hoje, com vistas à ressocialização da pessoa presa.

Longe de pretender abordar o que é certo ou errado, nossa pretensão é


apresentar, de forma sucinta, algumas legislações e orientações sobre os direitos do
preso, com foco em nossa sobrevivência administrativa, pois acreditamos que é
muito importante que o ASP e o AEVP tenham clareza de como fazer valer a Lei, sem
se sobrepor a ela.

Esse curso está dividido em módulos, cada um composto por aulas e


exercícios de fixação.

Realize o curso um módulo por vez e volte a leitura sempre que achar
necessário. Leia o conteúdo e faça os exercícios com calma e atenção. Os exercícios
não têm caráter eliminatório, mas só será possível passar para o próximo módulo
após sua conclusão.

Ao final, terá uma avaliação contando com 10 (dez) questões, valendo de


0,0 a 10,0 pontos, cujo aproveitamento mínimo será de 6,0. Você terá até 2
tentativas para realizá-la. Lembre-se que cada questão, só terá uma alternativa
correta e depois de enviada, não será possível alterá-la.

A emissão do certificado só será possível após responder a ‘Avaliação de


Reação’, que é um breve questionário sobre o que você achou do curso. Não deixe
de responder, sua opinião é muito importante para nós!

Então vamos embarcar juntos nessa viagem em busca da origem e evolução


do nosso sistema penitenciário!

Bom curso,

Equipe EAP-E@D

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Módulo I – Evolução histórica da punição e do sistema prisional

Objetivo:

Nesse módulo veremos como surgiu e evoluiu o conceito de punição e de


prisão desde a Pré-história até a atualidade, para compreendermos melhor a
importância do papel social que nós, enquanto servidores da Secretaria de
Administração Penitenciária, desempenhamos.

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Aula 1 – Introdução

Há momentos marcantes na história da humanidade, os quais acarretaram,


em episódios significativos, um marco para o desenvolvimento social e da capacidade
do “homem” em conviver de maneira pacífica em grupos de pessoas, aos quais
desejavam, de forma latente, a possibilidade de viver em uma sociedade coesa.

É sabido que, por instinto de sobrevivência, a raça humana, desde seu


surgimento, tem buscado viver em grupos. Isso porque a convivência em grupo dava,
a seus integrantes, a segurança necessária para crescer e multiplicar.

No início, esses grupos eram nômades, ou seja, viviam andando de um lugar


para outro em busca de alimento, o que diminuía a possibilidade de viver muito
tempo.

Geralmente morriam por doenças, eventos climáticos, ataque de animais


selvagens ou em conflito com outros grupos. Sendo assim, era imprescindível
estabelecer regras para garantir a sobrevivência do bando. E, embora não tenham
registros claros sobre o assunto, pode-se afirmar que a partir do ‘surgimento’ das
regras, surgiram também seus transgressores e, em consequência, as punições.

Com o descobrimento do fogo e o


cultivo da terra (agricultura), as
possibilidades de sobrevivência aumentaram
significativamente, pois os grupos não
precisavam mais se arriscar, percorrendo
https://www.pinterest.com/pin/495255290248126647/

grandes distâncias atrás de alimento e o fogo


que aquecia e iluminava a noite, também era
arma poderosa contra animais selvagens.
Essas descobertas fizeram com que as
populações da época crescessem
consideravelmente e as regras estabelecidas
precisavam ser eficazes para a manutenção
dos povos. Mesmo que cada bando tivesse
suas próprias regras, eles tinham na punição
ao infrator, sua única saída para preservar os membros do grupo.

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Nessa aula você viu que:

 Desde o surgimento da raça humana já se tinha a ideia de


ordem e disciplina como meio de sobrevivência.

 O descumprimento das ordens poderia afetar o grupo e por isso


criaram as punições.

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Aula 2 - Punição e prisão na Idade A ntiga

É fato que a civilização, desde o surgimento do homem, vem se


modernizando em um processo constante e embora os homens já procurassem viver
em grupos desde o Período Pré-Histórico (10.000 a 4.000 a.C.), é na Idade Antiga
que esses grupos começam a se organizar, dando início às primeiras civilizações.

Esses grupos, também chamados de ‘bandos’ ou ‘clãs’ eram formados por


aqueles que tinham graus de parentesco, afinidade ou interesses comuns e se uniam
para preservar esses direitos e garantir a sobrevivência deles, assim como na Pré-
História, cada qual, de acordo com suas necessidades, criavam suas próprias normas
de conduta.

Independente das regras criadas, em todas as civilizações existiam as


punições como sanções para aqueles que as descumprissem, pois, a transgressão
dessas normas poderia refletir diretamente no grupo, podendo até ameaçar sua
existência.

Esse modo de punição, chamado de Vingança Privada, tinha por objetivo


fazer com que o infrator ‘perdesse a paz’. Essa sanção poderia ser expulsando-o do
grupo, deixando a mercê da própria sorte. No entanto, se o infrator fosse de fora do
‘bando’, sua punição era, quase sempre, a Vingança de Sangue, ou seja, a morte
que, de forma desproporcional, atingia a si e, de forma recorrente, àqueles que
tinham algum vínculo, mesmo que não tivessem relação com o fato.

Chamamos de Vingança Privada porque, como reação natural, a própria


vítima e/ou seu bando é que puniam o infrator, em outras palavras, podemos chamar
vulgarmente de “justiça com as próprias mãos”. Então, se um dos membros do bando
agisse em desacordo com as ordens daquele grupo, ou prejudicasse um dos seus, o
próprio grupo o expulsava, ou a vítima fazia-o “pagar o prejuízo”, também de forma
desproporcional. Por exemplo, esse infrator poderia ser severamente espancado ou
torturado e depois abandonado pelo grupo, por ter comido a refeição de outro.
Embora de maneira arcaica, a intenção era além de fazer o infrator perder a paz,
servir de lição para os demais integrantes e o que impulsionava essa vingança era a
emoção e não a razão.

Além da Vingança Privada e da Vingança de Sangue, o homem, desde


tempos remotos, sempre teve a crença em algo maior, uma força invisível que os
vigiava a todo tempo, algo onipresente e onipotente que, por sua vontade, poderia
criar ou dizimar mundos. Essa civilização antiga, embora não tivesse a ideia de um
deus, tinha nos fenômenos naturais, a ira desse invisível e acreditavam que, se
alguém perturbasse a ordem natural das coisas e atrapalhasse, de qualquer forma,
o desenvolvimento do grupo e nada fosse feito, poderiam despertar a ira desse(s)
deus(es) trazendo má sorte para o grupo. Partindo desse pressuposto, expulsar o
infrator, significava também, afastar o mal comportamento do grupo, evitando que
os demais fossem “contaminados”, acalmando assim, a ira dos deuses.

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Nesse ponto da história, deve-se considerar que os grupos já não são mais
bandos ou clãs, em alguns casos, são grandes vilarejos ou até cidades, regidos por
seus administradores (sacerdotes).

Como essa força das divindades era algo muito presente nas civilizações
antigas, a religião e rituais religiosos tinham muito peso sobre as pessoas e a forma
de punir passa a ser encarada como Vingança Divina.

É importante ressaltar que nessa época as leis não eram escritas e eram
passadas de geração para geração verbalmente, cada qual com seu ritual e a punição
ficava a critério da “vontade divina”, normalmente interpretada por sacerdotes ou
suseranos, que, para eles, eram pessoas capacitadas pelos deuses para interpretar
suas vontades e por isso estariam capacitados para gerir as cidades. E, por sua vez,
o condenado aceitava seu destino imposto pelo medo de que, caso não se
submetesse a pena, o castigo dos deuses poderia ser ainda maior e pior, poderia
recair sobre seus semelhantes.

Até essa época, não existem registros de prisão ou similares. Somente a


imposição de castigos, em sua maioria “divinos” como forma de punição. Isto é,
existia a ideia de obediência às regras e necessidade de mantê-las e a imposição do
castigo como forma de condenação e prevenção.

Posteriormente, para se ter mais praticidade e melhor organização, as leis


passaram a ser escritas, com o intuito de que permanecessem registradas de geração
para geração.

Com as leis escritas, o poder decisório do sacerdote aumenta ainda mais.


Esse, desempenha de forma superficial e, usualmente irresponsável, o papel de juiz.

Como a Vingança Privada e a Divina eram desmedidas, surge, após o


advento das leis escritas, a Lei de Talião. Uma verdadeira inovação para a época.
Basicamente, o talião limitava ao ofendido, reação idêntica ao mal praticado, “sangue
por sangue, olho por olho e dente por dente”. Após a criação do talião, muitos outros
códigos e leis foram criados, com o intuito de estabelecer critérios de punição para
infratores, como por exemplo, o Código de Hamurabi, criado por volta de 1.700 a.C.
pelo rei Hamurabi, que serviu de base para muitos códigos e leis da atualidade, mas
que, por algumas vezes, estabelecia penas assustadoras (e até absurdas) para os
transgressores.

Outro fator significativo da época é que as leis eram estabelecidas de acordo


com a vontade de alguns em detrimento de outros, sendo assim, pessoas de classes
sociais diferentes, tinham tratamentos e punições diferentes, para um mesmo crime.

Não há, até então, muitos relatos sobre prisões, mas já se tem registro de
que existiam lugares específicos onde condenados eram “depositados” até o
cumprimento da pena. Dessa forma, a prisão não era o fim e sim o meio, um local
(in)adequado para o sentenciado aguardar a data de seu ditame.

Embora sejam poucos os relatos, no Egito é que se tem registro de prisões


como pena punitiva. Pois o governo do faraó, em sua “benevolência”, era contra

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penas arbitrárias, então, seus condenados eram encarcerados em masmorras e


obrigados a trabalho forçado, sem distinção de crime, gênero ou idade.

Também, assim como no Egito, na Grécia se tem relatos da utilização da


prisão para finalidades além da custódia.

Através de registros históricos é possível constatar a


existência de prisões na Grécia Antiga. Segundo Platão, no
livro As Leis, subsistiam três espécies de prisão, sendo a primeira
para manter as pessoas presas, com o intuito de prevenir novos
delitos, a segunda era destinada para os indivíduos que
podiam se recuperar, de forma que não funcionava como
punição, mas como correção, a terceira era designada para a
função punitiva, destinada aos “criminosos” que cometessem os
delitos mais graves (PLATÃO, 1999, p. 430).

Com o passar do tempo, ainda na Idade Antiga, com a modernização das


cidades e o aumento populacional, aumenta a necessidade de centralizar os
interesses comuns em uma pessoa. Então, o poder do suserano ganha ainda mais
espaço e passa a ser considerado crime aquilo que, de alguma forma, atingisse o
Estado (suserano) e seus interesses, em outras palavras, a punição não era mais
aplicada pelos envolvidos e sim pelo sacerdote (ou suserano), no entanto, os
requintes de crueldade e desproporcionalidade continuavam os mesmos. E essa nova
forma de punição, ficou conhecida como Vingança Pública.

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Nessa aula você aprendeu sobre:

 Os tipos de vinganças existentes na Idade Antiga.

 A influência do Estado nas formas de punir.

 A função da prisão na Idade Antiga.

 As razões que levaram à mudança da Vingança Privada para a

Vingança Pública.

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Aula 3 - Punição e prisão na Idade Média

Na Idade Média, período que compreende a queda do Império Romano


(século IV até o século XV), como resposta as diversas crises que atingiram os povos
daquela época, podemos destacar, no que concerne às formas de prender, punir e
ressocializar, três grandes movimentos, sendo o Direito Germânico, Direito Canônico
e Direito Penal Comum.

O principal aspecto desse período foi o aparecimento da ideia de reclusão


como forma de regeneração do infrator.

Direito Germânico

Com a invasão dos bárbaros e o declínio do Império Romano, houve uma


descentralização política. Os povos, com medo, abandonavam suas residências e iam
buscar refúgio no campo. Isso fez com que o sacerdote perdesse poder e as cidades
ficassem abandonadas. A economia vigente passa a ser a agrária, o que deu origem
ao feudalismo. A grosso modo, passou a existir os senhores das terras, ou senhores
feudais, e seus servos e cada feudo tinha suas próprias regras, provocando uma
dissociação do poder. Assim, como já havia acontecido na Idade Antiga, começaram
a surgir ambiguidades nas resoluções de conflitos entre os diferentes feudos.

Quando não havia entendimento entre os envolvidos, a resolução do conflito


se dava por meio de rituais sangrentos exibidos em locais públicos, embora também
houvessem sanções tais como a expulsão do réu ou a imposição de fianças. Essa
última, por sua vez, só era imposta a um seletivo público que tinha condições de
pagar a dívida, enquanto, para a maior parte da população, a sentença era convertida
em castigo físico. Em outras palavras, podemos dizer que a punição estava
intimamente ligada a posição que o réu ocupava na sociedade.

As prisões continuavam sendo somente o depósito daqueles que


aguardavam a condenação, exceto nos casos em que o crime era de baixa gravidade.

Direito Canônico

Declínio do Império Romano, cidades devastadas por bárbaros, sistemas


feudais divergentes, necessidade de centralização do poder decisório na figura
daquele que poderia representar o Estado.

É diante desse cenário que a Igreja Católica começa a ganhar força. Muitos
bárbaros viraram adeptos ao cristianismo e a Igreja vai gradativamente ganhando
espaço e no fim do século III d.C. o Édito de Tessalônica torna o cristianismo a religião
oficial do Império. Um fator que impulsionou essa decisão foi o de que a Igreja era
uma das únicas instituições organizadas da época, capaz de administrar esses
conflitos, além de serem detentoras de imensas áreas de terras.

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Com o aumento do poder da Igreja, os crimes passaram a ser julgados de


acordo com seus interesses, paulatinamente, as formas de punição foram se
modificando. Agora o poder era um só e a Igreja estava responsável por manter a
disciplina e a ordem.

A grande contribuição da Igreja Católica para o sistema penitenciário que


conhecemos hoje foi a idealização da pena privativa de liberdade, com vistas a
humanização do apenado. Então, já não eram mais permitidas as barbáries como
sentenças de criminosos fazendo com que a reclusão do infrator substituísse a pena
de morte e o único veredito válido era o da ‘Vingança Pública’.

O isolamento como forma de punição, tinha a intenção de fazer com que o


pecador (infrator), no silêncio da reclusão, meditasse sobre seus pecados e se
arrependesse deles. Os locais destinados para esse fim, normalmente ficavam no
subsolo das igrejas e mosteiros e se tornaram as prisões eclesiásticas.

A prisão eclesiástica, por sua vez, destinava-se aos


clérigos rebeldes e respondia às ideias de caridade, redenção
e fraternidade da Igreja, dando ao internato o sentido de
penitência e meditação. Recolhiam-se os infratores em uma
ala dos mosteiros, para que por meio da penitência e da
oração, se arrependessem do mal causado e obtivessem a
correção ou emenda (BITENCOURT, 2011, p. 25).

Porém, no século XIII, buscando manter o poder e a supremacia, o Papa


Inocêncio IV autoriza a tortura àqueles que praticassem heresias contra a Igreja.
Sendo assim, as penas de morte e castigos corporais banidos pela Igreja, agora
podiam ser aplicados, embora só a própria Igreja tivesse poder para delegar isso. Foi
nesse período que se iniciou a Santa Inquisição.

Nos moldes da Igreja, a pena do indivíduo tinha por objetivo sua


recuperação, pois o infrator era visto como pecador e, na condição de pecador,
deveria se arrepender de seus pecados por meio da penitência que, na Idade Média,
era encarada como um “fazer sofrer” impondo sofrimento ao transgressor por meio
da anulação de seus direitos, com a ideia de regeneração, pois o infrator recluso em
um ambiente controlado, afastado de toda e qualquer tentação, poderia refletir e se
arrepender de seus pecados alcançando a salvação.

Segundo Guzman (apud BITENCOURT, 2011, p. 28) foi a partir da palavra


penitência que surgiu o termo penitenciária, intitulando o local onde hoje, se cumpre
a pena privativa de liberdade.

Direito Penal Comum

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No século XII a economia sofre modificações, com a melhora no transporte


e na comunicação entre os feudos, há uma intensificação nas atividades,
proporcionando, consequentemente, melhora nas condições de vida da população.

O que deveria ser visto como um avanço, em pouco tempo transformou-se


em problema. Com a redução da taxa de mortalidade, a população começa a crescer
descontroladamente. Passa a existir muita mão-de-obra, mas a terra era a mesma
que, com sua exploração, deixou de ser produtiva, gerando desemprego e o povo
que outrora saíra das cidades para o campo, agora saem do campo em busca de
meios de subsistência nas cidades causando um empobrecimento da população.
Começa aí um esboço do capitalismo, fomentado pela classe burguesa que emergia
em decorrência dessa migração. Essa classe burguesa contemplava uma minoria,
enquanto a grade maioria se via obrigada a mendigar e cometer crimes para
sobreviver.

Essa grande massa populacional, buscando um respaldo do Estado, por


diversas vezes provocavam motins e rebeliões, isso fez com que a burguesia e o
poder da época estabelecessem diretrizes para banir esse tipo de comportamento.
Com isso foram criadas leis penais severas objetivando, principalmente, manter o
controle social e espalhar o medo.

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Nessa aula vimos:

 O surgimento do conceito de reclusão como forma de regeneração.

 A mudança na forma de punir para atender interesses específicos.

 Surgimento e evolução dos Direitos Germânicos, Canônicos e Penal


Comum.

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Aula 4 - Punição e prisão na Idade Moderna

Para entendermos o processo evolutivo do cumprimento de penas, primeiro


é preciso destacar alguns acontecimentos importantes que ocorreram nesse período:

 Imposição do Absolutismo – regime político em que o poder


ficava centralizado na mão de uma única pessoa (o rei) que só estaria abaixo
de Deus.

 Por interesses econômicos e acompanhando as transformações


políticas a percepção religiosa monoteísta perde força para a visão
antropocêntrica.

 Há o retorno de estudos voltados para a arte, filosofia e ciência,


outrora banidos pela Igreja Católica.

Esses pontos elencados acima nos dão uma noção do cenário da época.
Imagine:

“As terras já não produzem mais como antes, a mão-de-obra existente


vivendo em condições precárias, grande massa populacional migrando para as
cidades em busca de trabalho, a nobreza, o clero e a burguesia sendo vítimas do
descontentamento da população. ”

Essa rebeldia social fez com que a classe dominante se sentisse acuada e
buscaram no rei a proteção necessária, em contrapartida, ofereceram a ele
investimentos em tribunais de justiça, organização e segurança do reino, a unificação
da moeda e padronização no recolhimento de impostos.

Com isso, mais uma vez, as leis referentes a condenação são reformuladas,
agora com vistas a atender as necessidades dos atuais detentores do poder. Em
outras palavras, essas leis se transformaram em instrumentos de preservação e
reprodução da ordem política e social, reprimindo as forças sociais (rebeliões) para
garantir a expansão da política mercantil. Essa repressão acontece de forma violenta,
com requintes de crueldade por meio de um espetáculo de suplícios, flagelos, torturas
e mutilações.

A Idade dos Mendigos exigiu uma centralização do


poder punitivo e medidas radicais de contenção da
animosidade crescente. Em função disso, a sanção penal se
tornou pública e a pena de morte foi aplicada de forma cruel e
com frequência, eliminando as pessoas que perderam seu
tempo e espaço e não conseguiram se incorporar ao novo

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modelo social com rapidez imprescindível à sobrevivência


(CHIAVERINI, 2009, p. 77).

Porém, esse formato de punição não conseguia atender as necessidades do


rei e da classe dominante, pelo contrário, causava mais revolta da população que
vivia em condições sub-humanas e aumentava o índice de violência e crimes, além
do fato da falta de mão-de-obra qualificada para trabalhar nesse novo cenário
mercantil.

Diante desses fatos, surge a teoria de que o homem era ocioso por
excelência, ou seja, o homem só trabalharia se fosse obrigado a isso porque seria da
natureza do homem fazer somente aquilo que lhe trouxesse prazer. E partindo desse
pressuposto, juntamente com a imprescindibilidade de mão-de-obra e necessidade
de controle social, surgiu a ideia de dominar os ociosos que tivessem condições
(físicas) para trabalhar e usá-los de forma coercitiva e disciplinada a favor do
capitalismo. Essa ideologia deu origem a “Ética ao trabalho” (ética pensada como
garantia de condições para que o sujeito se aprimore por meios legítimos).

Em outras palavras, de acordo com a classe dominante, essa grande massa


precisava trabalhar por bem ou por mal. Vamos entender que por bem, seria por
meio de contrato, nem sempre escrito, estabelecido com o empregador e por mal,
seria de forma coercitiva, por meio das prisões.

É nesse contexto que, embora visasse aspectos pontuais, o sentido de


penitenciária começa a mudar de fato. Rapidamente surgem as casas de correções
ou casas de trabalho para onde os criminosos, pobres, ociosos e quem mais
perturbasse os interesses do Estado eram mandados. O objetivo dessas instituições
era “recuperar” os internos através do trabalho (obrigatório) e da disciplina,
intentando também, desencorajar os outros de manterem a inatividade,
preconizando que o trabalho deveria ser a principal meta para assegurar o auto
sustento do indivíduo.

A partir daí é possível notar que a prisão, antes vista como local de custódia
até a execução da pena, agora era o fim por si só. A prisão era a pena e essa pena
era vista como um processo de ressocialização do infrator que só podia ser obtido
por meio do trabalho. No entanto, usualmente as estruturas eram inadequadas para
a execução do trabalho, haja vista que eram prisões em que a elite instalava seus
maquinários e equipamentos para a produção. Existia também o descaso com a
pessoa presa, por meio da obrigatoriedade de trabalhar até a exaustão e a inexatidão
de tempo em que o criminoso deveria permanecer na instituição, haja vista que seu
processo de ressocialização demoraria o tempo necessário para sua reeducação.

Já no fim da Idade Moderna surge o Iluminismo, movimento intelectual que


prezava pela centralidade da ciência e da racionalidade crítica no questionamento

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filosófico, processo desenvolvido para corrigir as desigualdades da sociedade e


garantir os direitos naturais do indivíduo, como a liberdade e a livre posse de
bens. Uma das críticas do Iluminismo era com relação ao sistema da justiça penal
vigente na época e algumas de suas reivindicações estavam relacionadas ao
tratamento mais humano do apenado e maior racionalidade na fixação das penas.
Acreditavam que a pena deveria ser proporcional ao crime e de acordo com a
sanidade do delinquente, voltada para a eficácia da ressocialização do indivíduo e
menos cruel fisicamente. A ideia era mais ou menos a seguinte:

Amparados pelo Estado, existiria um contrato entre os cidadãos e como


consequência da quebra desse contrato, existiriam as penas, estabelecidas de forma
proporcional ao ato. Logo, todo cidadão, (agente participativo desse acordo) que
violasse essas regras, recairia sobre ele a pena que seria justa e proporcional visando
sua reinserção social.

Alguns apontamentos decorrentes desse movimento foram:

 Somente a Lei poderia fixar as penas e essa deveria ser gerida pelo Legislativo
(corpo colegiado responsável por elaborar as leis);

 A pena deveria ser necessária e proporcional ao delito;

 Abolição da tortura e da pena de morte;

 Clareza das leis;

 Igualdade de todos perante a Lei Penal.

É uma grande qualidade da pena poder servir para a


emenda do delinquente, não só pelo temor de ser castigado
novamente, mas também pela mudança em seu caráter e em
seus hábitos. (Bentham apudBITENCOURT, 2011, p. 53).

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Nessa aula estudamos sobre:

 O surgimento das regulamentações das penas, de forma mais


coerente.

 A influência do descontentamento populacional que refletiu


diretamente no sistema prisional vigente na época.

 Como a questão de trabalho e sua ética foi sendo construído.

 A importância do Iluminismo para a humanização do cumprimento da


pena.

 Como os fatos históricos influenciaram na ideia de ressocialização da


pessoa presa.

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Aula 5 – Formas de punição implementadas ao longo da evolução


humana.

No decorrer dos estudos desse módulo foi possível perceber o surgimento da


punição como forma de reparação e, sobretudo, como e porque esse conceito se
transformou ao longo do tempo em ressocialização. Vimos também a influência dos
diferentes pensamentos predominantes que interviram, decisivamente, no sistema
penitenciário até chegar ao que conhecemos hoje.

Sendo assim, podemos observar que, com a modernização dos processos


(trabalhistas, educacionais, artísticos, etc.), o sistema penitenciário também evoluiu
substituindo o caráter cruel pelo regenerativo. A partir daí é possível entender porque
persistem alguns comportamentos (herança histórica) com relação ao tratamento da
pessoa presa e a necessidade de mudança dessa visão.

Se colocarmos a evolução do sistema penitenciário em uma cronologia


observaremos que da Pré-História até a Idade Antiga vigorava somente a punição,
sem ideia de ressocialização, o objetivo era afastar o mal, não se tinha a concepção
de penitenciária como meio de “melhorar” o infrator. Esse conceito surge somente
na Idade Média, por meio da Igreja, porém, de acordo com interesses políticos da
época, a própria Igreja acaba por retroceder a forma punitiva. Somente no século
XII surgem diretrizes para o tratamento do criminoso que ainda era um show de
horrores e sofrimento, tendo um retrocesso na função social da prisão.

Na Idade Moderna surge uma mudança na forma de pensar, além de um


grande avanço mercantil. Com isso, o sistema prisional é revisto e chegam a
conclusão de que a delinquência só poderia ser “curada” por meio do trabalho. Desse
modo, algumas diretrizes foram traçadas nessa época e serviram de base para a
implantação das leis e diretrizes que temos hoje.

Até a presente data são mais de 12000 (doze mil) anos de história, que
morosamente, foram contribuindo para a questão do tratamento do delinquente em
tentativas de erro e acerto no que concernem a concepção da regeneração humana.
Conhecendo a evolução histórica do sistema prisional, é possível entender porque
algumas leis não são instituídas ou foram abolidas de nossa legislação, tais como a
tortura ou castigos corporais. Pois, partindo do princípio que a missão do sistema
prisional é ressocializar, ainda que muitos acreditem que o exemplo tem maior
eficácia na regeneração do indivíduo, a experiência mostra que essas ações não
contribuíram para a diminuição da delinquência durante a evolução dos povos, pelo
contrário, auxiliou no aumento ao descontentamento e indignação social.

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Nessa aula foi possível analisarmos:

 A evolução do conceito de penitenciária.

 Como e porque as penas foram instituídas em nosso contexto social.

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Módulo II – Implementação e organização do Sistema Penitenciário

Objetivo:

Agora que já sabemos como surgiram e se desenvolveram os conceitos de


punição e ressocialização ao longo do processo evolutivo da humanidade, veremos
nesse módulo, como se deu a organização das instituições de correção e sua
evolução, até chegarmos no sistema penitenciário que temos hoje, resultante da
aplicação de diversos modelos de sistemas testados anteriormente, em especial,
como esse processo se deu em São Paulo.

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Aula 1 – Sistemas Penitenciários

Embora o conceito de regeneração exista desde a Idade Média, com a Igreja


Católica, é por volta do século XVIII que essa ideia é melhor estruturada, com vistas
a eficácia da penitenciária na readequação do infrator. Era fato que, nesse período
histórico a pena privativa de liberdade era a penalidade mais usual e era preciso
torná-la cada vez mais eficiente sem ferir os interesses do Estado.

Também é válido mencionar que, somente no século XVIII, começa a surgir


um tendencialismo a uma pena menos abrupta e desumana para os infratores, dando
origem a pensamentos e concepções sobre a verdadeira intencionalidade da aplicação
de penas aos condenados e sua real funcionalidade.

Com isso, podemos evidenciar 3 (três) modelos que mais se destacaram e


dos quais alguns persistem até hoje: Sistemas celular, auburniano e progressivo, que
veremos nas próximas aulas.

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Nessa aula pudemos observar:

 A aplicação, de fato, de penas mais humanas que começaram a surgir


no século XVIII.

 O surgimento de modelos penitenciários com vistas a efetividade da


reclusão como forma de ressocialização.

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Aula 2 – Sistema Celular

Também conhecido por Sistema Filadelfiano, tinha por ideia central


recuperar o infrator de forma mais humana. Acreditava-se que “o isolamento celular,
a oração e a total abstinência de bebidas alcoólicas seriam capazes de criar os meios
para salvar tantas criaturas infelizes” (BARNES apud Melossi; Pavarini, 2006, p.187).
Por isso defendiam que o isolamento seria a melhor forma de obter a redenção,
separando o condenado de outras pessoas, mantendo-o sozinho na cela.

Dessa forma de pensar, em 1790 é inaugurado o Walnut Street Jail, na


Filadélfia.

Esse modelo em que isolava os


sentenciados impossibilitava a introdução de
https://en.wikipedia.org/wiki/Walnut_Street_Prison

estações de trabalho para os presos, em


contrapartida, havia uma redução
considerável com gastos relativos a
vigilância.

O trabalho nas penitenciárias


existia, mas a produção (em grande escala)
não era o fator predominante. Atividades
relacionadas ao trabalho artesanal eram
desenvolvidas objetivando transformar o sentenciado em ser subordinado e educado
para o trabalho.

Ou seja, o infrator passava todo o tempo trancado em uma cela individual,


sem contato com outros presos ou outras pessoas. Normalmente a cela era disposta
de tal forma que o agente vigilante pudesse observar os movimentos dos
sentenciados, sem ser visto por eles. O trabalho, quando existia, era manual,
realizado dentro da própria cela.

Outras penitenciárias foram criadas, mas pouco a pouco esse tipo de sistema
foi declinando. Primeiro porque o mercado já não podia mais explorar a mão-de-obra
advinda desse público, decorrente da redução da capacidade de labor e também
porque a solidão levava o apenado à extenuação ou a loucura. Esse sistema acabou
ficando caro demais para o Estado, sem um retorno lucrativo ou um processo
regenerativo significativo para a sociedade.

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Nessa aula estudamos sobre:

 O que era e como funcionava o sistema celular.

 Os motivos que levaram ao declínio desse sistema.

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Aula 3 – Sistema Auburniano

O Sistema Auburniano ganhou esse nome porque a Penitenciária de Auburn,


localizada em Nova Iorque, foi a primeira a utilizar esse modelo. Alguns
procedimentos foram mantidos do sistema celular e outros foram aperfeiçoados de
acordo com a necessidade daquele tempo.

A célula individual permanecia somente durante a noite e durante o dia, os


presos trabalhavam nas fábricas instaladas dentro da penitenciária, assim como
realizavam as refeições em conjunto, no entanto, em silêncio absoluto, como
sinônimo de disciplina e meditação constante. Deveria funcionar como um recorte da
sociedade perfeita e as atividades em conjunto (e em absoluto silêncio) garantiriam
o não adoecimento mental da pessoa condenada, para tanto, atividades como
exercícios físicos, estudos e conhecimento da bíblia eram impostos aos presos.

Desse modo, o trabalho dentro das penitenciárias se torna visivelmente mais


barato e lucrativo do que o trabalho dos homens livres, gerando um
descontentamento que, a longo prazo, poderia criar um colapso no mercado de
trabalho, pois geraria desemprego, em detrimento da mão-de-obra barata. Uma
grande insatisfação por parte dos sindicatos começou a surgir e foi um dos fatores
predominantes para o fim desse sistema prisional.

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Nessa aula vimos sobre:

 A ineficácia do sistema celular.


 O surgimento do sistema auburniano.
 As razões que não permitiram a manutenção desse modelo
auburniano.

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Aula 4 – Sistema Progressivo

Esse sistema foi impulsionado após a Primeira Guerra Mundial e sua máxima
era substituir o castigo pelo prêmio, ou seja, ao invés de castigar o transgressor, ele
seria gratificado pelo bom comportamento no cumprimento da sentença.
Basicamente, esse formato dividia a pena em 3 (três) estágios: isolamento celular
dia e noite, isolamento celular a noite e trabalho durante o dia (em silêncio) e
livramento condicional.

Na Irlanda esse mesmo regime foi implantando com uma etapa a mais, o
período intermediário, que consistia em uma espécie de semiaberto, onde o preso
saía para trabalhar durante o dia em estabelecimentos fora da unidade prisional antes
de obter seu livramento condicional.

A disposição gradativa do “peso” da pena tinha por objetivo estimular a boa


conduta do preso e através disso alcançar sua reforma moral. Em outras palavras,
visava fazer com que o preso desenvolvesse um comportamento adequado
mostrando sua aptidão para reintegrar-se a sociedade, atenuando sua pena.

No Brasil, até os dias de hoje, usamos muitas características do regime


progressivo como forma de ofertar à pessoa presa a oportunidade de se ver como
cidadão atuante no convívio em sociedade.

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Nessa aula você viu:

 O surgimento do modelo de progressão de regime.

 A funcionalidade que se esperava do novo modelo.

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Módulo III – Sistema Prisional Brasileiro

Objetivo:

Apresentar de forma sucinta a evolução do sistema prisional no Brasil em


paralelo a outros países, sob uma visão sistêmica. Em especial, como esse processo
se desenvolveu em São Paulo.

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Aula 1 – Breve histórico

Em abril de 1500 o Brasil foi “descoberto” por Portugal que, acreditando que
os povos que aqui viviam eram inferiores, julgou necessário catequizá-los e impor os
padrões de comportamento advindos da Europa.

Não obstante, o mesmo aconteceu com as formas de penalização e


processos de prisionização. É válido lembrar que até 1830 o Brasil era uma Colônia
de Portugal que foi dividida em capitanias hereditárias e os donatários (donos dessas
capitanias) eram responsáveis por fazer valer a lei em seu território. Esse cenário
assemelha-se ao visto na Idade Média, durante o feudalismo. Sendo assim é possível
imaginar as formas de sanções que tínhamos naquela época enquanto o restante do
mundo já tinha a ideia de ressocialização do infrator por meio do trabalho. De fato,
penas de morte, torturas, humilhação pública, confisco de bens, exílio e multas eram
as penas mais usuais, cada qual de acordo com a posição que o acusado ocupava na
sociedade. Não se tinham leis estruturadas quanto aos crimes e suas penas, a única
normativa existente eram as Ordenações Filipinas. Nesse contexto a prisão era
depositária, local de permanência até a data do cumprimento da pena.

Após a Independência do Brasil, é outorgada a primeira Constituição do país,


a Constituição do Império do Brasil (1824) e algumas mudanças no sistema punitivo
são realizadas (pelo menos no papel), tais como, a proibição de penas cruéis,
separação dos presos por tipos de crime, unidades prisionais seguras, limpas e
ventiladas.

Já em 1830, com a criação do Código Penal do Império, é instituída a prisão


simples e a prisão com trabalho. Os condenados à prisão com trabalho deveriam
executar seu labor dentro da unidade prisional de acordo com a sentença e
regulamentos, no entanto, não havendo local adequado para esse condenado, a pena
poderia ser substituída pela prisão simples, com o acréscimo de sexta parte da pena,
enquanto não fossem estabelecidas prisões adequadas. Essa sentença poderia ser
cumprida em qualquer prisão.

Como já era de se esperar, as condições dessas casas de correção eram


precárias e a divisão dos presos por delito, ineficientes. Sabendo disso, o Império
determinou que uma comissão visitasse as prisões (civis, militares e eclesiásticas)
para verificação. Esse trabalho resultou em relatórios que foram de grande valia para
a mudança no sistema penitenciário brasileiro.

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Nessa aula vimos:

 A evolução do sistema prisional brasileiro.

 As ações que contribuíram para o aprimoramento dos modelos de


unidades prisionais que temos na atualidade.

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Aula 2 – Sistema Penitenciário Paulista – Complexo do Carandiru

Em consequência da Proclamação da República ocorrida em 15 de novembro


de 1889, foi necessário implementar um novo código criminal, então, em 1890 foi
criado o Código Penal dos Estados Unidos do Brasil. O novo Código, como medida
“inovadora”, abolia as penas de morte, perpétuas, açoites e galés, também
estabelecia que menores de 21 anos cumprissem pena em estabelecimentos
específicos e determinava que o tempo limite para o cumprimento de qualquer pena
não poderia ser superior a 30 (trinta) anos. No entanto, devemos ressaltar que esses
tipos de pena não contemplavam os escravos que ficaram submetidos aos mesmos
tipos de punições já existentes (penas de morte, perpétuas, açoites e galés). O fato
de não serem englobados nessas determinações seria com base em supostos estudos
científicos que acreditavam na inferioridade biológica da raça negra.

Todavia, em pouco tempo, o que fora previsto em lei estava longe de ser
cumprido. Estávamos diante de um quadro de superlotação, deterioração dos
estabelecimentos prisionais e condições insalubres para o cumprimento da pena. Até
que em 1905, visando minimizar esse quadro, é aprovada a construção de um novo
estabelecimento prisional em São Paulo e em 1920 é inaugurada a Penitenciária do
Estado.

http://www.sap.sp.gov.br/common/museu/museu.php

Esse estabelecimento tinha por objetivo ser a inovação do sistema


penitenciário vigente. Fora um grande feito que tornou São Paulo o único estado
capaz de cumprir as disposições do Código Penal de 1890, com relação ao tratamento

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dado aos presos, também conhecido como Instituto de Regeneração, foi considerado
um padrão de excelência, atraindo vários estudiosos e autoridades. A Penitenciária
era tão promissora que chegou a ser considerada cartão postal da cidade de São
Paulo.

A Penitenciária do Estado
adotou o regime progressivo da pena,
dividido em 4 (quatro) estágios, como
fora adotado na Irlanda, no pós-guerra,
primando pela regeneração por meio do
trabalho e da reeducação por meio da
recompensa, tornando a pena mais
leve.
Porém, em 1940 a
penitenciária atinge sua capacidade
https://acessajuventude.webnode.com.br/historia-do-carandiru/

máxima de lotação (1200 presos) e começa a passar por sucessivas crises.


A estimativa de presos mortos por tuberculose (doença respiratória
agravada pelo número de sentenciados que compartilhavam o mesmo espaço)
chegou a 12% do total de presos.
Mesmo com a criação da Casa de Detenção, em 1956, pelo governo Jânio
Quadros, ampliando a capacidade para 3250 detentos, não foi possível resolver o
problema da superlotação.
A partir desse momento, cada novo governo, intentando resolver o problema
do agora “Complexo do Carandiru”, assinavam decretos para a ampliação da Casa
de Detenção, transformando-a no maior presídio do continente.
No entanto, ampliar sua capacidade não foi o suficiente para solucionar os
problemas do Complexo que atingiam diversos setores da administração pública e as
constantes crises culminaram, em 1992, no massacre do Carandiru e, por
conseguinte, em 1993 na criação da Secretaria de Administração Penitenciária,
destinada a promover a execução administrativa das penas privativas de liberdade,
das medidas de segurança detentivas e das penas alternativas à prisão, cominadas
pela justiça comum, bem como a proporcionar as condições necessárias de
assistência e promoção ao preso, para sua reinserção social, preservando sua
dignidade como cidadão.

Com base no histórico apresentado, nota-se que no processo de constituição


do sistema prisional muitas legislações a esse respeito foram traçadas. O fato é que
a consolidação desse sistema sofreu diversas alterações visando o bem-estar social,
mas só recentemente esse regime criou aspectos mais humanos voltados, de fato,
para a ressocialização do homem preso.

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Nessa aula analisamos:

 O longo processo evolutivo do sistema penitenciário paulista.

 As dificuldades para se instaurar um processo efetivo, com vistas a


ressocialização.

 Fatores que culminaram na criação da SAP.

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Módulo IV – Direitos Humanos

Objetivo:

Neste módulo teremos a oportunidade de analisar o processo histórico


desenvolvido ao longo do tempo, que resultou na expedição de direitos da
humanidade, regras essas que têm por função nos proteger, quanto seres humanos,
de inúmeras arbitrariedades que podem ser causadas por alguns sistemas, como já
acontecera em outros tempos, em que houveram total desamparo e sofrimento em
razão da ausência de ordenamentos jurídicos, de leis, regras e direitos que nos
protegessem.

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Aula 01 – Breve processo histórico

Como já vimos, a humanidade, desde seu início, conta com registros de


desvios de conduta ética e moral no contexto social. Com tais fatores presentes no
cotidiano da sociedade, estipularam-se diversos moldes de castigo aos homens que
destoassem dos comportamentos estabelecidos e desenvolvidos pelas comunidades.

Inicia-se então, maneiras de imposição de penas aos que deixassem de agir


conforme os ditames sociais, aplicando aos infratores penas severas, com o intuito
de inibir práticas de atos que não condiziam com os valores e princípios determinados
para a convivência social.

Todas as reprimendas eram executas de maneira punitiva aos criminosos e


exemplificativa aos demais cidadãos, com o objetivo de demonstrar a todos que, ao
infringirem as regras da sociedade, lhe recairiam o castigo por tais condutas
errôneas.

É nesse contexto que a humanidade se inicia no processo evolutivo do


cumprimento de pena que conhecemos hoje, havendo inúmeros episódios onde o
próprio homem foi capaz de praticar atos de barbaridade contra seus semelhantes,
baseando-se apenas no fato de que o comportamento divergente daquele cidadão
deveria ser punido, sendo que, por inúmeras vezes, essa punição era imposta com
severidade imensurável.

A sociedade por sua vez, mediante a um processo contínuo de evolução,


ampliou todos os seus conhecimentos e suas práticas de convivência em coletividade,
bem como a adoção de medidas coerentes com a realidade a qual a raça humana
estava inserida e para chegarmos nas condições de sistema carcerário que
conhecemos hoje, ocorreram inúmeros episódios os quais a humanidade sofreu
consequências árduas passando, por vezes, por situações que não demonstravam
qualquer resquício de respeito, urbanidade, talvez até de compaixão para com o
próximo.

A exemplo de episódios bárbaros, cuja a humanidade foi submetida, não há


como deixar de elencar o holocausto causado por um fascista, que resultou no
extermínio de milhares de judeus nos campos de concentração, contexto aquele que
extirpou milhares de seres humanos.

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http://www.jornalgrandebahia.com.br/2017/05/nazismo-e-fascismo-em-qual-espectro-do-pensamento-politico-se-situam/
http://www.vanialima.blog.br/2012/05/bomba-de-hiroshima-e-nagasaki.html

Em circunstâncias
similares, temos explosões
de bombas em Hiroshima e
Nagasaki, que levaram a
morte de milhares de
cidadãos inocentes, um
episódio épico registrado no
decorrer da história e do
desenvolvimento das
sociedades atuais.

Na contextualização nacional, não há como deixar de expor os séculos de


escravidão existentes no país. Foram tempos horrendos onde seres humanos eram
submetidos a condições desumanas de trabalho e sobrevivência em razão exclusiva
de sua raça e da cor de sua pele.

Os momentos de angústia, sofrimento e tortura foram severos demais


àquele grupo de pessoas, os quais não tinham qualquer amparo ou proteção.

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Era evidente que precisávamos de legislações que amparassem essas


grandes minorias. Tivemos lideranças que, por motivos torpes, faziam das
civilizações o que bem queriam, negligenciando o direito à vida dos demais cidadãos
e foi dessa necessidade e como forma de reação contra as atrocidades cometidas
durante a Segunda Guerra Mundial, que em 10 de dezembro de 1948, foi adotada
pela Organização das Nações Unidas – ONU, a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, que veremos nas aulas a seguir, mas que, no entanto, traz em seu
preâmbulo as razões que culminaram na elaboração desse documento, que é de
suma importância para todos os cidadãos:

“Considerando que o reconhecimento da dignidade


inerente e dos direitos iguais e inalienáveis de todos os
membros da família humana é o fundamento da liberdade,
justiça e paz no mundo,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos
direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram
a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo
no qual os seres humanos gozem de liberdade de expressão e
de crença e da liberdade do medo e da miséria, foi proclamado
como a mais alta aspiração do homem comum,
Considerando que é essencial, para que o Homem não
seja obrigado a recorrer, como último recurso, à rebelião

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contra a tirania e a opressão, que os direitos humanos sejam


protegidos pelo estado de direito,
Considerando que é essencial para promover o
desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,
Considerando que os povos das Nações Unidas, na
Carta, reafirmaram a sua fé nos direitos humanos
fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na
igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que
decidiram promover o progresso social e melhores condições
de vida em maior liberdade,
Considerando que os Estados–Membros se
comprometeram a promover, em cooperação com as Nações
Unidas, a promoção do respeito universal e observância dos
direitos humanos e liberdades fundamentais,
Considerando que uma compreensão comum desses
direitos e liberdades é da maior importância para o pleno
cumprimento desse compromisso,

Agora, portanto,

A Assembleia Geral,

Proclama a presente Declaração Universal dos


Direitos do Homem como um ideal comum a atingir por todos
os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos
e todos os órgãos da sociedade, tendo–a constantemente no
espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por
desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por
promover, por medidas progressivas de ordem nacional e
internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação
universais e efectivas tanto entre as populações dos próprios
Estados–membros como entre os povos dos territórios
colocados sob a sua jurisdição.”
(Preâmbulo - Declaração Universal dos Direitos
Humanos – 1948)

No vídeo “A história dos Direitos Humanos” podemos ter um panorama da


conquista desses direitos. Vale a pena assistir!

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Nessa aula vimos:

 Inúmeras situações em que a humanidade foi submetida a horrores e


sofrimentos pela falta de conscientização do direito de ir e vir que todos
os cidadãos livres deveriam ter.

 A falta de amparo legal que desse às pessoas o direito de exercerem a


cidadania de fato.

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Aula 02 – Em busca por proteção, igualdade e justiça.

Em situações de extremo desespero e total desamparo, a humanidade,


cansada de tantas injustiças, clamou por proteção, respeito e dignidade, buscou a
construção de alicerces palpáveis, capazes de garantir os direitos básicos de
sobrevivência do homem em sociedade, não medindo esforços para o alcance de tais
propósitos.

Nesse processo de desenvolvimento, inúmeros homens tiveram que pôr à


prova a sua coragem e seus ideais, colocando, por vezes, em risco suas próprias
vidas e de seus familiares. Foram travadas batalhas árduas para o alcance do início
dessas conquistas, havendo verdadeiros heróis que enfrentaram toda uma ideologia
deturbada de sociedade, objetivando a reconstrução para o alcance de uma
sociedade digna e justa para todos os homens sem exceção.

Com a pretensão de propiciar uma convivência harmônica, respeitosa e


digna a todos, sem qualquer distinção, começou-se a pensar em ferramentas capazes
de abranger todos os seres humanos, levando em conta todos os ambientes
existentes no contexto social.

Um marco para todas essas conquistas tem, como episódio de total


relevância, a concepção da Declaração Universal dos Direitos Humanos
(DUDH), documento mundialmente utilizado como amparo legal para garantir os
direitos básicos da humanidade, estando disponível em 403 (quatrocentos e três)
traduções.

Nessa toada, a humanidade passa a evoluir, por vezes a passos lentos, no


contexto de respeito e dignidade dos seres humanos e suas distintas realidades.

Para ilustrar melhor essa evolução no que se refere a proteção, igualdade e


justiça e para que possamos refletir melhor sobre os acontecimentos que culminaram
nas diretrizes que temos nos dias de hoje no que diz respeito aos direitos humanos,
como também em nosso papel como agentes executores da Lei, assista ao vídeo “O
tecido e o tear” apresentado pela Comissão de Direitos Humanos do Conselho
Regional de Psicologia de São Paulo – CRP-SP.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos que declina de forma objetiva


os direitos básicos da humanidade, como já mencionado, foi constituída e
definitivamente aderida pela Organização das Nações Unidades em 10 de dezembro
de 1948.

Em sua essência, tinha por objetivo central promover direitos inerentes a


todos os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia,
idioma, religião ou qualquer outra condição.

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Mesmo não sendo um documento de obrigatoriedade legal, a Declaração


Universal dos Direitos Humanos serviu como alicerce para a concepção de tratados,
pactos e constituições. Em sua essência, governantes que aderiram a esse
instrumento se comprometem, em parceria com sua sociedade, a desenvolver formas
constantes de garantir os direitos básicos da humanidade.

Em sua totalidade a DUDH, tornou-se uma ferramenta de auxílio para


garantir, em todos os contextos, o cumprimento dos direitos e garantias destinados
à pessoa humana, servindo de auxílio fundamental para proteger a humanidade de
possíveis arbitrariedades.

Você pode consultar a Declaração Universal dos Direitos Humanos na


íntegra, em nosso anexo, no final dessa apostila.

Para complementar seus estudos, assista ao vídeo intitulado “Direitos


Humanos” que vem ilustrar, de forma singela, a essência dos nossos direitos
enquanto cidadãos.

Todavia, mesmo com seu excepcional alcance, por ser uma declaração e não
um tratado, esse documento não possui efeito vinculante entre os países signatários,
deixando de haver reprimendas explícitas para o descumprimento de tais segmentos.

Mas afinal, o que é um tratado?

Um tratado é um acordo entre Estados, que se comprometem com regras


específicas. Tratados internacionais têm diferentes designações, como
pactos, cartas, protocolos, convenções e acordos.

Um tratado é legalmente vinculativo para os Estados que tenham consentido


em se comprometer com suas disposições – em outras palavras, que são parte do
tratado e um Estado pode fazer parte de um tratado através de uma ratificação,
adesão ou sucessão.

E declaração, o que é?

Declaração pode ter várias definições, mas no nosso caso, vamos entender
declaração como sendo uma proclamação oficial de algum ato ou vontade.

Sendo assim, diante da magnitude que a DUDH alcançou, a sociedade partiu


em rumo a melhorias constantes, buscando de forma coesa e justa o alcance de uma
igualdade, sem qualquer distinção.

Não há o que se questionar quanto a necessidade clamada pela sociedade


por algo de tão grande valia, a ponto de colocar a todos em um patamar de equidade,
partido desse contexto para conquistas mais amplas e justas.
No entanto, para que alcancemos a tão almejada equidade e justiça, no que
tange a DUDH, também é necessário que façamos nossa parte. Para melhor
compreensão, assista ao vídeo “O que é um órgão de tratado dos direitos humanos?”

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e veja as formas de acompanhamento do cumprimento dos Direitos Humanos em


nosso país.

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Nessa aula aprendemos sobre:

 A concepção da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

 Como a Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH


desencadeou uma séria de questões protetivas a todas as pessoas
sem qualquer distinção.

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Aula 03 – O desenvolvimento dos Direitos Humanos no contexto


carcerário.
Como base para tratados e constituições, a Declaração Universal dos Direitos
Humanos despertou olhares voltados aos homens na condição do cárcere, aqueles
cidadãos que se encontravam apartados da sociedade por eventuais desvios legais,
éticos e morais, mas que voltaram a ser enxergados e respeitados.

A Pena Privativa de Liberdade é a sanção máxima que está sujeito o indivíduo


que transgrida as leis no Brasil, neste caso, ao Estado cabe privar o infrator da
disposição de sua liberdade durante o tempo de condenação. Essa medida implica
em criar um ambiente que permita a vida dos encarcerados em condições adequadas,
com dignidade consoante com as disposições da DUDH, Constituição Federal entre
outros aparatos legais.

Essa contextualização da sociedade era uma vertente por vezes esquecida,


deixando a mercê do poder, absoluta aplicabilidade de penas por vezes desumanas,
não havendo nada concreto que freasse as possíveis arbitrariedades cometidas pelo
“Estado” e seus agentes.

Nessa seara, com respaldo ao declinado da DUDH, de que todos somos


seres humanos em todos os lugares sem qualquer distinção, surgem alicerces
legais, os quais trazem, em seu bojo, um olhar mais humano e justo para as pessoas
em condições de cárcere.

Em 1955, surge com o intuído de estabelecer formas mínimas de


atendimentos dispensados às pessoas na condição do cárcere, as Regras Mínimas
para o Tratamento de Reclusos. Essas regras buscam estabelecer princípios e
normas para uma boa organização penitenciária, assim como as práticas relativas ao
tratamento dispensado aos reclusos.

Levando em consideração as condições sociais, econômicas e legais


existentes no mundo, é certo que nem todas as regras serão aplicadas em todos os
contextos carcerários; todavia, devem servir de alavanca para que haja esforços
constantes para transformar as dificuldades existentes no cenário carcerário.

Na intenção de propiciar condições mínimas para os reclusos para o devido


cumprimento da pena imposta por sua infração, essa contextualização diversa abre
margem para que a Administração Penitenciária nacional obtenha algumas exceções
às regras, pois o contexto carcerário de cada localidade tem suas especificidades.

Entretanto, mesmo com algumas alternâncias, os encarcerados no Brasil têm


previsão de garantia de suas integridades física e moral em diversas legislações,
tanto nacionais quanto internacionais.

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São exemplos de legislações brasileiras que garantem esses direitos, a


Constituição Federal, Lei de Execuções Penais – LEP, Regimento Interno Padrão -
RIP, decretos e normativas específicas, dentre outros.

Em suma, as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos, aborda


os princípios e as regras de uma boa organização penitenciária e da prática relativa
ao tratamento de prisioneiros, devendo ser aplicadas de forma imparcial, não
existindo qualquer discriminação com base em raça, cor, orientação sexual, religião,
opinião política, nacionalidade ou recursos financeiros.

Para ler na íntegra as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos,


consulte o link que consta na versão EaD.

Você deve estar se perguntando:

O que exatamente eu, Agente de Segurança Penitenciária, tenho com isso?


O que isso implica em meu trabalho?

Com certeza você já sabe qual é nosso papel profissional diante do que
estudamos até o momento e também já entendeu como e porque chegamos onde
chegamos. Mas para ilustrar melhor, imagine a cena:

“Seu primeiro dia no setor de inclusão da Penitenciária X, de Marte. Você


sabe que essa penitenciária atende, preferencialmente, presos estrangeiros.

Chega Hari, um indiano condenado pela justiça brasileira por tráfico


internacional de drogas.

Ele não conhece nosso idioma, mas durante o processo de inclusão ele
informa que pertence ao sikhismo (religião de origem indiana).

No entanto, você não se atenta a isso (considerando que você também não
tem domínio do idioma dele) e dá continuidade aos procedimentos e, dessa forma,
você corta o cabelo de Hari que fica extremamente nervoso e desorientado.

Como um bom ASP, você registra tudo e dá continuidade aos seus afazeres.
Por outro lado, Hari, quando consegue contato com seu advogado, manifesta sua
indignação e pede providências.

E um belo dia, ao iniciar o plantão, você é notificado de que responderá


judicialmente por crime de intolerância religiosa por tentar contra um dos preceitos
da religião de Hari que diz que o cabelo nunca deve ser cortado, por ser um símbolo
da espiritualidade e da dedicação a crença. “

Você já imaginou o problema que teria arrumado?

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Nessa aula conhecemos:

 As Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos.

 Seu objetivo e aplicabilidade no sistema prisional.

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Aula 04 – A evolução carcerária como consequência da evolução


humana e da globalização.

O mundo em um contexto geral está em uma espiral evolutiva que não para,
a cada amanhecer uma novidade, a cada hora um acontecimento que impacta
diretamente na vida das pessoas em sentido individual e coletivo.

Para tanto, temos como ponto claro a tecnologia, uma ferramenta que auxilia
as pessoas em vertentes distintas, aproxima-as, facilitando a maneira de trabalhar,
de cumprir com nossas obrigações e nos deixando cada vez mais conectados com o
mundo.

Com isso, a humanidade, por sua vez, está cada vez mais acelerada, vivendo
em velocidade astronômica, desenvolvendo todo o seu modo de viver com a
contextualização disponibilizada pelo processo evolutivo da globalização.

No cenário carcerário não há diferença, os seres humanos inseridos no


cárcere são pessoas que até pouco tempo (antes da prisão) estavam ligadas a todo
o processo evolutivo existente, afinal fazem parte de toda a sociedade.

Diante de tantas controvérsias e mudanças significativas, o meio carcerário


também necessitava ser reavaliado, colocando as necessidades atuais em
considerações para disponibilizar àquele público, alterações condizentes com suas
novas necessidades. Ademais, sempre que tudo se modifica, é válida uma reavaliação
do cenário, ponderando todos os fatores ligados às pessoas ali inseridas.

Tendo as Regra Mínimas para Tratamento de Reclusos (algo estudado e


discutido em 1955) como instrumento norteador de como conduzir os ambientes
carcerários no país, se fez necessário uma revisão ponderada dessa ferramenta,
afinal, no decorrer dos anos a humanidade evoluiu significativamente.

Assim sendo, em 2015 aportam as Regras de Mandela, um instrumento


baseado nas regras mínimas, mas reestruturado para o tempo contemporâneo,
buscando atender de maneira digna o encarcerado. Esse novo ordenamento traz
novas doutrinas de direitos humanos, apontando-as como parâmetros na
reestruturação dos modelos atuais do sistema carcerário, bem como, a percepção da
função do encarceramento para a sociedade.

Esse viés repaginado levou em consideração inúmeros instrumentos legais


vigentes nos país a exemplo do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, o
Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e a Convenção contra
a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes e seu
Protocolo Facultativo.

Todas as diretrizes contidas nas Regras de Mandela nos apresentam um


panorama de orientações atualizadas, tendo instruções palpáveis para o

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enfrentamento de possíveis negligências estatais, preservando a dignidade das


pessoas que se encontram em condição de privação de liberdade, sempre propondo,
com maneiras dignas, a devolução daquele cidadão à convivência em sociedade,
assim como a proteção contra qualquer tipo de tratamento desumano ou degradante,
buscando de forma justa disponibilizar acomodações razoáveis para essas pessoas,
respeitando suas adversidades, tais como deficiências físicas e mentais, dentre outras
contextualizações.

Resumindo...

As Regras de Mandela são as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos


reformuladas, sendo que tais alterações foram concluídas na África do Sul, então do
ex-presidente Nelson Mandela. O intuito dessas regras é manter uma boa
organização penitenciária. Porém, variam muito das condições políticas, geográficas,
e econômicas existentes no mundo.

No novo documento ampliou-se o respeito e a dignidade aos presos, o acesso


e garantia a saúde, regulou as punições disciplinares, tais como; isolamento e a
redução da alimentação, trazendo em sua essência um novo prognóstico ao cenário
carcerário instituído na sociedade.

Consulte a Regras de Mandela no link que consta na versão EaD e após assista
ao vídeo “UNODC Reglas Nelson Mandela” e veja, de forma sucinta, o
desenvolvimento e objetividade dessas regras.

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Nessa aula obtivemos conhecimento sobre:

 Como e porque se deu a evolução das regras Mínimas para

tratamento de Reclusos para as Regras de Mandela.

 A necessidade de revisão e atualização das diretrizes que dizem

respeito aos ambientes carcerários e sua população.

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Aula 05 – Regras de Bangkok – novo instrumento de trabalho no


contexto carcerário – Um olhar específico a um público-alvo.

No início, os estabelecimentos prisionais foram construídos para pessoas


presas do sexo masculino, não havendo qualquer registro histórico de
desenvolvimento de estruturas específicas para atender a mulher na condição do
cárcere. Tal demanda tecnicamente nem era expressiva a ponto de ser analisada,
afinal, mulheres presas eram uma quantidade irrisória em comparativo com o
montante de homens recolhidos em unidades prisionais.

Todavia, após análise e pesquisas significativas quanto a situação do cárcere


atualmente, constatou-se um aumento bem expressivo na quantidade de mulheres
recolhidas em estabelecimentos prisionais. Diante de tais circunstâncias se fez
necessário um trabalho conjunto de reavaliação do cenário do cárcere,
desenvolvendo medidas eficazes e específicas para o atendimento da mulher presa.

Para termos uma melhor visão sobre essa nova realidade, analise a tabela
abaixo e com base nesses dados estatísticos, verifique a necessidade de se assistir a
esse público específico:

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De acordo com o Relatório Nacional sobre A População Feminina No Brasil


[INFOPEN MULHERES], publicado em 2014 pelo Ministério da Justiça, através do
Departamento Penitenciário Nacional, a população penitenciária feminina subiu de
5.601 para 37.380 detentas entre 2000 e 2014, um crescimento de 567%
em 15 anos.

Ainda de acordo com o relatório, o Brasil apresentava em 2014 a quinta


maior população carcerária feminina do mundo, atrás apenas dos Estados
Unidos [205.400], China [103.766] Rússia [53.304] e Tailândia [44.751]. Desse total
de mulheres, cerca de 58% estão presas pelo crime de tráfico de drogas.

Nesse cenário crescente despertou-se um olhar específico para o tratamento


adequado ao sexo feminino no contexto prisional. Aprimorou-se um recorte de
política pública que está agregado ao atendimento adequado a pessoas (mulheres)
em situação de vulnerabilidade, reconhecendo as variações jurídicas, sociais,
econômicas, geográficas existentes entre países e gêneros.

Esse ordenamento tem por objetivo estimular os Estados membros a


desenvolver ferramentas e a aplicabilidade de métodos para execução de ações
direcionadas às mulheres no cárcere.

Nascem desse ponto as Regras de Bangkok, com o objetivo de considerar


as distintas necessidades das mulheres presas. Em sua aplicabilidade, busca agregar
efetividade nos trabalhos carcerários, mas de forma alguma é um instrumento
excludente das demais regras e leis existentes no âmbito prisional.

Assim como as demais regras, para a devida funcionalidade das Regras de


Bangkok, se faz necessária a atenção de todas as entidades e órgãos envolvidos
(Executivo, Judiciário, Secretária da Administração Penitenciária).

Caso ainda não conheça, leia na íntegra as Regras de Bangkok no link que
consta na versão EaD.

Em sua essência, as Regras de Bangkok têm objetivos específicos e claros


no atendimento adequado às mulheres presas. Priorizam fatores relevantes como a
possibilidade de que as mulheres presas devam ser alocadas em prisões próximas ao
seu meio familiar, receber auxílio para contatar parentes, acesso à assistência
jurídica (antes, durante e depois o enclausuro), permissão de tomar as providências
necessárias em relação aos filhos, incluindo a possibilidade de suspender por um
período razoável a medida privativa de liberdade, levando em consideração o melhor
interesse da criança.

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As acomodações devem
oferecer instalações e materiais
exigidos para satisfazer as
necessidades de higiene específica
das mulheres, deverá ser
incentivado e facilitado por todos os
meios razoáveis o contato delas com
seus familiares, incluindo seus
filhos/as, quem detêm a guarda e
seus representantes legais.

Em meio a toda a
tramitação e estudos quanto ao
desenvolvimento dessas regras para
o tratamento das mulheres presas, o governo brasileiro esteve engajado,
participando das negociações para a elaboração das Regras de Bangkok e a sua
aprovação na Assembleia Geral das Nações Unidas – ONU, declarando-se signatário
após a conclusão do projeto.

O sistema prisional brasileiro e em especial, o paulista, vem passando por


significativas transformações nas últimas décadas, em consonância com o atual
cenário internacional de engajamento e esforços em prol dos direitos da pessoa
presa, das minorias, das diversidades, dentre outros.

Muito já se foi feito, porém ainda há um longo caminho a ser trilhado para
estar em consonância com as prerrogativas de todos os pactos que dizem respeito a
realidade do cárcere. O trabalho é árduo, no entanto, enquanto servidores da
Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo – SAP, somos todos
agentes de mudança e protagonistas deste cenário tão controverso.

Você poderá ver um pouco dessas mudanças por meio da reportagem


extraída do CN Notícias, datada de 03/02/2012.

Procedimentos e medidas adotadas pela Secretaria da


Administração Penitenciária.

O Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Administração


Penitenciária (SAP), vem ao longo dos últimos anos realizando atos concernentes a
esse cenário.

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Como modelo nacional de


trabalho carcerário, o Estado de
São Paulo promove
constantemente medidas
humanitárias para realizar o
tratamento da pessoa privativa de
liberdade.

Com esse viés de Política


Pública, a Secretaria cercou-se de
medidas legais para garantir o
atendimento à mulher presa.
(RIP/Resoluções/Decreto)

De maneira visionária, a SAP está desenvolvendo seus projetos de expansão


dos estabelecimentos prisionais com ferramentas apropriadas para atender a todas
as determinações indicadas do encarte das Regras de Bangkok.

Na construção dos novos estabelecimentos prisionais, estão inseridos os


ambientes para atender, de maneira adequada, as mulheres em condições de
cárcere.

Com a disponibilização de ambientes mais adequados para o tratamento da


mulher presa, a Secretaria já está em busca, de maneira árdua, atender as
especificações contidas nas Regras de Bangkok, objetivando consolidar as imagens
ilustradas acima.

Outro exemplo real de nossos esforços está na inauguração da Penitenciária


Feminina de Mogi Guaçu, onde podemos ver claramente a efetividade do trabalho
desenvolvido no âmbito do Estado de São Paulo.

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Nessa aula analisamos sobre:

 O surgimento e os objetivos das Regras de Bangkok.

 A aplicabilidade dessas regras no contexto prisional no que diz

respeito a mulher presa.

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Aula 06 - Mas afinal, em que tudo isso implica para nós, agentes?

Muito se fala da proteção aos Direitos Humanos voltados para a proteção


das pessoas encarceradas, sempre pontuando a importância de praticar ações
coerentes com o respeito a integridade física e moral dos reclusos, mas pouco se
pontua as consequências e benefícios que essas práticas têm no corpo funcional.

Por diversas vezes se constroem concepções equivocadas quanto à execução


de boas práticas de vivência no ambiente prisional, pré-julgando como algo que é
benéfico apenas aos reclusos, sempre voltando a ideia de maneira simplória de que
se está passando a mão na cabeça do preso.

Esse tipo de posicionamento deve ser desconstruído por nós servidores,


afinal, somos nós que conhecemos, na íntegra, a funcionalidade e executoriedade
das ações realizadas no ambiente prisional.

A germinação e multiplicação de práticas honrosas e dignas no sistema


penitenciário são ações que devemos desenvolver frequentemente, uma vez que tais
atitudes irão impactar positivamente no nosso ambiente de trabalho.

Boas práticas no trabalho penitenciário resultam em ambiente menos


insalubres, mais harmônicos e pacificadores, onde a convivência com os apenados
se torna menos árdua e conflitante.

Todas as ações desenvolvidas de maneira respeitosa e virtuosa, farão com


que o ambiente prisional no qual existem seres humanos em situação de privação de
liberdade e demais cidadãos (servidores e visitante), se torne um local menos hostil,
no qual se possa haver a existência do cumprimento de pena por delitos de maneira
humanitária e digna.

No cumprimento das especificidades do âmbito legal, consequentemente se


desenvolve a possibilidade de constituir um sistema prisional mais humano, sendo
que, do desdobramento dessas práticas, a qualidade de trabalho alcançada pelo
corpo funcional é proporcionalmente positiva com relação as melhorias e benfeitorias
realizadas nesses ambientes.

Lutamos constantemente por formas dignas de trabalho, por ferramentas


que possam garantir a nossa segurança e nossa integridade, instrumentos que por
vezes não nos são disponibilizados em sua totalidade, todavia temos que enxergar
que quando há realização de práticas de desenvolvimento humano e digno
dispensado para com as pessoas presas, estamos propiciando a nós mesmos o
alcance desse latente desejo de um local menos dificultoso para a realização de
nossas atividades de trabalho.

Obviamente que as legislações existentes têm a finalidade de proteger as


pessoas em situações de vulnerabilidade (por vezes os reclusos), entretanto o que

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precisa ficar claro para nossa função é que são instrumentos dessa mesma vertente
que nos protegem também, garantindo a nós, como cidadãos e servidores, inúmeros
direitos de sermos tratados com dignidade e respeito pelos demais.

Pautados em assegurar a dignidade da pessoa humana, essas ferramentas


legais que tivemos contato ao longo do nosso curso têm a finalidade de proteger e
alcançar a todos os seres humanos sem qualquer distinção, ou seja, é algo
constituído para a realização de boas práticas funcionais e serve de mecanismo que
protege a todos, não afastando o corpo funcional de seu alcance.

O que deve ficar claro também é que as boas práticas e ações dignas e justas
resultam em ambientes mais harmônicos e mais coesos para todos os indivíduos
inseridos em qualquer cenário.

Embora as adversidades em nosso ambiente de trabalho nos tente convencer


de que essas diretrizes são utópicas, devemos acreditar que a força impulsionadora
da transformação está em nós e que as conquistas que temos hoje só se
concretizaram graças a nossos esforços.

Com essa visão em ascendência de que boas práticas resultam em bons


ambientes para se viver é que devemos encerrar este nosso curso, o qual foi
concebido com o intuito de nos proporcionar um aprendizado dinâmico e
enriquecedor para nossa profissão.

Lembre-se:

“Eu devo ser o agente da mudança que quero ver!

Até breve...

Equipe EAP-E@D 2018

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Nessa aula vimos sobre:

 A aplicabilidade das diretrizes, normas e regras existentes na DUDH

para todos os cidadãos, sem distinção.

 A importância e eficácia da conscientização do papel profissional do

ASP, nas unidades prisionais, no que diz respeito aos direitos do

homem e da pessoa presa.

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ANEXO
Declaração Universal dos Direitos Humanos

Adotada e proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas (resolução 217 A
III) em 10 de dezembro 1948.

Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da


família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da
liberdade, da justiça e da paz no mundo,

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram


em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da humanidade e que o advento de
um mundo em que mulheres e homens gozem de liberdade de palavra, de crença e
da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a
mais alta aspiração do ser humano comum,

Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império
da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião
contra a tirania e a opressão,

Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas


entre as nações,

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos
direitos fundamentais do ser humano, na dignidade e no valor da pessoa humana e
na igualdade de direitos do homem e da mulher e que decidiram promover o
progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,

Considerando que os Países-Membros se comprometeram a promover, em


cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades
fundamentais do ser humano e a observância desses direitos e liberdades,

Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais


alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso,

Agora portanto a Assembléia Geral proclama a presente Declaração Universal dos


Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as
nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade tendo
sempre em mente esta Declaração, esforce-se, por meio do ensino e da educação,
por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas
progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu
reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos
próprios Países-Membros quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Artigo 1
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São

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dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com
espírito de fraternidade.

Artigo 2
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça,
cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou
social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica
ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de
um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a
qualquer outra limitação de soberania.

Artigo 3
Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de
escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Artigo 5
Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano
ou degradante.

Artigo 6
Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como
pessoa perante a lei.

Artigo 7
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual
proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação
que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 8
Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes
remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam
reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Artigo 9
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10
Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência
por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir seus direitos e
deveres ou fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Artigo 11
1.Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido

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inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em
julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias
necessárias à sua defesa.
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento,
não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não
será imposta pena mais forte de que aquela que, no momento da prática, era
aplicável ao ato delituoso.

Artigo 12
Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua família, no seu lar
ou na sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser
humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Artigo 13
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das
fronteiras de cada Estado.
2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio e a
esse regressar.

Artigo 14
1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar
asilo em outros países.
2. Esse direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente
motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e
princípios das Nações Unidas.

Artigo 15
1. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de
mudar de nacionalidade.

Artigo 16
1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça,
nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma
família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua
dissolução.
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos
nubentes.
3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção
da sociedade e do Estado.

Artigo 17
1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo 18
Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião;
esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de

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manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público
ou em particular.

Artigo 19
Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; esse direito inclui
a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir
informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Artigo 20
1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica.
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21
1. Todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo de seu país
diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.
2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.
3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; essa vontade será
expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto
secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo 22
Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à
realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a
organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais
indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo 23
1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a
condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por
igual trabalho.
3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e
satisfatória que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível
com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de
proteção social.
4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para
proteção de seus interesses.

Artigo 24
Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das
horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.

Artigo 25
1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à
sua família saúde, bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados
médicos e os serviços sociais indispensáveis e direito à segurança em caso de
desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios
de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas

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as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção


social.

Artigo 26
1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos
nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A
instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução
superior, está baseada no mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da
personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do ser humano
e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a
tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos e
coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será
ministrada a seus filhos.

Artigo 27
1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da
comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus
benefícios.
2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais
decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.

Artigo 28
Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos
e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente
realizados.

Artigo 29
1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno
desenvolvimento de sua personalidade é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito
apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar
o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de
satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma
sociedade democrática.
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos
contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo 30
Nenhuma disposição da presente Declaração poder ser interpretada como o
reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer
atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos
e liberdades aqui estabelecidos.

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