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Por Emily Bazelon- The New York Times News Service/Syndicate

Definindo o bullying com precisão


A morte de Bailey O'Neill, menino de 12 anos de Upper Darby, Pensilvânia, no último
dia três de março, foi em grande parte atribuída ao bullying, com base em alegações
segundo as quais um colega de sala lhe deu um soco no rosto em janeiro. De acordo com a
família, ele teve uma concussão e, por fim, convulsões.

A morte de Bailey O'Neill, menino de 12 anos de Upper Darby, Pensilvânia, no último


dia três de março, foi em grande parte atribuída ao bullying, com base em alegações
segundo as quais um colega de sala lhe deu um soco no rosto em janeiro. De acordo com a
família, ele teve uma concussão e, por fim, convulsões.
O bullying também estava no título da morte de Amanda Todd, garota canadense de
15 anos que se suicidou após produzir um vídeo viral no qual descrevia ser seduzida,
perseguida e chantageada pela internet, provavelmente por um adulto.
Tais casos foram realmente bullying? É difícil dizer. O notável, porém, é que os
observadores supuseram automaticamente tratar-se disso, embora nós saibamos que o
'bullying' não se compara a uma provocação corriqueira ou a um conflito bilateral. A palavra
está sendo usada em excesso, se esticando feito uma sanfona para englobar tanto violência
ou molestamento estarrecedor quanto a mera troca de palavras maldosas. As leis estaduais
não ajudam: uma onda recente de legislação contra o bullying inclui pelo menos dez
definições diferentes, semeando confusão entre pais e educadores.
Todo esse diagnóstico equivocado do bullying está deixando o problema real e
limitado impossível de ser solucionado. Se todo ato de agressão contar como bullying, como
poderemos impedi-lo? No transcorrer desse caminho está a velha suposição de que o
bullying é um rito de passagem da infância, mas essa visão está errada.
O bullying é uma forma particular de agressão perniciosa, ligada a dano psicológico
real, tanto de curto quanto de longo prazo. Existem estratégias concretas que podem ter
êxito em sua solução, e todas começam com uma mudança na norma social para o que o
bullying passe de ser tratado com desdém a ser encarado como inaceitável. Não podemos
fazer isso, no entanto, se acreditarmos e afirmarmos às nossas crianças que ele se encontra
em toda parte.
A definição de bullying adotada por psicólogos é violência física ou verbal, repetida
ao longo do tempo e envolvendo um desequilíbrio de poder. Em outras palavras, ele tem a
ver com uma pessoa com maior status social tiranizando outra pessoa repetidas vezes para
tornar a vítima infeliz.
Quando toda coisa ruim que acontece com as crianças é chamada de bullying,
porém, nós terminamos com narrativas enganosas que obscurecem outras formas distintas
de danos. No caso de Bailey, o promotor público não encontrou indícios de bullying, tão bem
definido por ele: um histórico de intimidação ao longo do tempo. É uma tragédia se as
provas mostrarem que Bailey morreu em função dos ferimentos na cabeça causados pelos
socos de outra criança, mas é outro tipo de tragédia se essa criança era conhecida pelo
bullying, e seus pais e a escola deixaram de impedi-la.
No vídeo que Amanda Todd gravou antes da morte, seu relato da sedução online,
perseguição e chantagem implora condenação e investigação policial. Todavia, como ela
também relatou conflitos com garotos da escola, seu falecimento foi em grande medida
atribuído ao bullying. No outro extremo do espectro, definições jurídicas excessivamente
amplas do bullying – por exemplo, as que não levam em consideração os fatores da
repetição ou o desequilíbrio da força – podem levar os pais a chamar de bullying sempre
que o filho tiver conflitos com outra criança.
Classificar as acusações é um fardo para as escolas, principalmente quando leis
estaduais põem uma camisa de força em sua resposta a uma acusação de bullying, em vez
de lhes permitir utilizar seu julgamento e levar o contexto em consideração. E o rótulo
'bullying' carrega um estigma duro para uma criança escapar dele, tornando-a
permanentemente insensível, em vez de ser capaz de sentir empatia, coisa de que todas
são capazes.
Alarmar sem motivo sobre o bullying também não é bom para as crianças que
bancam a vítima. Quem mantém essa identidade tem menos chance de se recuperar do
momento adverso. As vítimas do bullying precisam de solidariedade, mas também precisam
aprender a ser resistentes.
Uma forma para identificar melhor o bullying de verdade é ouvir como os
adolescentes descrevem os conflitos interpessoais. A maioria dos adolescentes pode
identificar o bullying, mas também sabe distingui-lo do que costumam chamar 'drama', que,
como demonstraram as pesquisadoras Danah Boyd e Alice Marwick, é um nome perfeito e
comum para as escaramuças corriqueiras que marcam a vida de boa parte das crianças. Na
verdade, o drama é comum e o bullying, definido de forma adequada, é um pouco mais raro.
Compreender o que o bullying significa para as crianças é uma parte integral do
sucesso de toda iniciativa inteligente para preveni-lo, pois ela controla o poder da maioria.
Uma estratégia eficiente para as escolas é pesquisar os próprios estudantes em relação ao
bullying, e depois transmitir a eles os resultados. Quando enxergarem as provas do que a
maioria deles sabe intuitivamente – que o bullying é um comportamento discrepante – existe
uma chance menor de se envolverem nisso.
Também é crucial que os adultos da escola definam o tom. Eles precisam
compreender o que é bullying e o que não é, agir quando virem uma criança dominante
procurar uma vítima e fomentar os laços fortes com estudantes que fazem toda a diferença
para a noção de pertencimento da criança e as decisões sobre para onde correr quando
necessitarem de auxílio.
Muitas vezes, os adultos podem provocar um bem maior fazendo perguntas que
levem as crianças a criar suas próprias estratégias em vez de ditarem as soluções. Sob
muitos aspectos, os adolescentes de hoje em dia estão se saindo melhor do que na geração
passada. Os índices de gravidez adolescente, bebedeiras e dirigir bêbado são baixos. O
mesmo se dá com o crime juvenil violento e até mesmo com brigas dentro da escola.
Esses desdobramentos estimulantes ajudam a explicar por que o bullying prende
nossa atenção nacional. Enquanto sociedade, nós temos os meios para cuidar de um dano
psicológico que há muito tempo vem afetando profundamente as crianças, mas que tem sido
basicamente ignorado pelos adultos.
O bullying é um problema que podemos e devemos abordar, mas não se formos
erroneamente conduzidos a acreditar que ele está em tudo e em toda parte.
(Emily Bazelon, autora de 'Sticks and Stones: Defeating the Culture of Bullying and Rediscovering the Power of
Character and Empathy' – 'Paus e pedras: derrotando a cultura do bullying e redescobrindo o poder da
personalidade e da empatia', em tradução literal –, publicado pela Random House em 2013, é editora sênior da
revista 'Slate' e mora em New Haven, Connecticut.)

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