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2022 by Editora Alfa Ciência
Copyright © Editora Alfa Ciência
Copyright do Texto © 2022 Os autores
Copyright da Edição © 2022 Editora Alfa Ciência
Direitos para esta edição cedidos à Editora Alfa Ciência pelos autores.
As ilustrações e demais informações contidas desta obra são integralmente de
responsabilidade dos autores.
CORPO EDITORIAL
Editor Chefe:
Dr. Charlyan de Sousa Lima
Editora Adjunta:
Ma. Bruna Cruz Magalhães
Conselho Editorial
Dr. Antonio da Costa Cardoso Neto
Dr. Cláudio Gonçalves da Silva
Dr. Diego Amorim dos Santos
Dr. Ivandro Carlos Rosa
Dra. Karlyene Sousa da Rocha
Dra. Kaiomi de Souza Oliveira Cavalli
Dr. Leonardo De Ross Rosa
Dra. Luana Lopes Padilha
Dra. Marcele Scapin Rogerio
Dra. Mayara da Cruz Ribeiro
Dr. Nítalo André Farias Machado
Dra. Paula Michele Lohmann
Dr. Renato Santiago Quintal
Dra. Thiessa Maramaldo de Almeida Oliveira
Dr. Wellyson da Cunha Araújo Firmo
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Diagramação: Editora Alfa Ciência
Edição de Arte: Editora Alfa Ciência
Revisão: Os Autores
Organizadores: Ellano José da Silva
Carlos Antônio Beserra da Silva Júnior
Ítala Alves de Oliveira
Jonas Eloi de Vasconcelos Filho
Vários autores.
Outros organizadores: Carlos Antônio Beserra da
Silva Júnior, Ítala Alves de Oliveira, Jonas Eloi de
Vasconcelos Filho
Bibliografia.
ISBN 978-65-84518-03-2
22-100445 CDD-639.30981
3
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ....................................................................................................................................6
4
Nicole Stakowian
Flavia Duarte Ferraz Sampaio
Carolina Arruda de Oliveira Freire
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1. 2.
APRESENTAÇÃO
6
PERSPECTIVAS ATUAIS DE TECNOLOGIAS
PARA O DESENVOLVIMENTO DA
AQUICULTURA BRASILEIRA
INTRODUÇÃO
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flexibilidade e mobilidade, ressaltando os negócios e mantendo vantagens
competitivas no mercado. Neste capítulo iremos compreender a relevância
desse conceito para o desenvolvimento da aquicultura, a exigência que essa
transformação exerce sobre os profissionais do setor aquícola, e
principalmente, exemplos dessas tecnologias, como métodos estatísticos
avançados, redes móveis, Big Data Analytics, computação em nuvem,
Inteligência Artificial (IA), machine learning, internet das coisas, que já são ou
poderão ser aplicadas na aquicultura Brasileira atual.
DESENVOLVIMENTO
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conceituação teórica e característica dessa nova indústria que vem surgindo.
Em função da complexidade do fenômeno e multidisciplinaridade da sua
aplicação é muito difícil definir o conceito da Indústria 4.0 em uma frase. No
entanto, tanto Nosalska e colaboradores (2019), quanto Culot e colaboradores
(2020), concordaram que na quarta revolução industrial alguns termos e
tecnologias são muito frequentes, tais como: cadeia de valor, sistemas ciber-
físicos (CPS), internet das coisas (the internet of things - IoT), fábrica
inteligente, novas tecnologias como: IA, big data ou fabricação em nuvem,
modelos de negócios, personalização e produto inteligente. A maioria dos
artigos mencionam novas tecnologias como big data, IA, computação em
nuvem, realidade virtual ou realidade aumentada e impressão 3D como a força
motriz básica por trás do desenvolvimento do conceito da Indústria 4.0 (PFOHL
et al., 2015; MITTAL et al., 2017). Na figura 1 mostra os resultados encontrados
por Culot e colaboradores (2020) para as principais inovações tecnológicas
oriundas da revisão bibliográfica realizadas em artigos científicos e também em
estudos de negócios.
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Fonte: Figura com tradução livre do artigo de Culot et al. (2020).
É válido ressaltar que toda essa concepção dessa nova indústria surge a
partir de um histórico de conhecimentos que contribuíram para a indústria
moderna. A primeira revolução industrial foi a introdução de instalações de
produção mecânica a partir da segunda metade do século XVIII e se
intensificando ao longo de todo o século XIX. A partir da década de 1870, a
eletrificação e a divisão do trabalho (ou seja, o taylorismo) levaram à segunda
revolução industrial. A terceira revolução industrial, também chamada de
―revolução digital‖, ocorreu por volta da década de 1970, quando a eletrônica
avançada e a tecnologia da informação (TI) desenvolveram ainda mais a
automação dos processos de produção. Uma iniciativa denominada ―Indústria
4.0‖, na qual se reuniram representantes do empresariado, da política e do
meio acadêmico (KAGERMANN et al. 2011), promoveu a ideia da digitalização
junto com alguma autonomia e auto comportamento das máquinas como forma
de fortalecer o poder competitivo da indústria manufatureira. A Figura 2 mostra
o progresso industrial em perspectiva histórica.
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também as atualizações dos profissionais já inseridos nesse universo,
acompanhando a evolução que naturalmente é exigida pelo mercado.
Albuquerque e colaboradores (2019) estimam que aproximadamente 30
milhões dos postos de trabalhos no Brasil poderão competir com algum tipo de
tecnologia da indústria 4.0, caso as empresas Brasileiras invistam em
automação até 2026. Talvez esse cenário seja mais preocupante para os
futuros empregos da aquicultura, pois já encontramos forte propensão das
empresas na busca de alimentadores automáticos, sistema de softwares de
gestão e automação de tarefas que aumentam a eficiência dos seus processos,
reduzem os custos e muitas vezes, são mais atrativos para os empregadores,
por prestarem serviços de 24 horas, sem interrupção e sem encargos, tarifas
ou impostos trabalhistas, além de fazer tudo isso com maiores precisões.
Dessa forma, assim como as empresas sofrem pressões em adaptações ao
mercado competitivo exigido pela estrutura econômica capitalista, os
profissionais também sofrem forças de adequações para especializações cada
vez mais qualificadas. Atividades tipicamente rotineiras, não cognitivas e
mecânica repetitiva irão dar espaço cada vez mais a atividades que utilizam a
capacidade de resolução de problemas, criatividade e intuição (tarefas
cognitivas não rotineiras). Todas essas diretrizes são importantes até mesmo
para a reformulação da estrutura curricular do ensino superior, médio e básico
da educação brasileira. A seguir, seguimos com alguns exemplos de como
essas tecnologias já estão influenciando o mercado ou podem ser aplicadas na
aquicultura moderna.
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aquicultura, uma tendência eminente que ocorre na atualidade com a
carcinicultura Brasileira, visto os grandes desafios epidemiológicos enfrentado
pelo setor.
Uma ferramenta estatística aplicada recentemente ao crescimento do
camarão Litopenaeus vannamei é o Modelo Bayesiano Hierárquico (MBH). É
notório a importância de modelar o crescimento do camarão ao longo do cultivo
em sistema de produção. Naturalmente na aquicultura, se monitora o peso
médio e ganho de peso dos organismos cultivados que consequentemente
dificulta estimar a biomassa através da sobrevivência/mortalidade, sendo
realizadas por intermédio das biometrias que usualmente é semanal. Portanto,
modelar o crescimento do animal dentro das empresas modernas através da
perspectiva Bayesiana, possibilita a atualização da informação ou do
aprendizado contínuo da fazenda no processo de produção a nível de várias
hierarquias desejadas. Por exemplo, a nível da fazenda como um todo,
facilitando a tomada de decisão, a nível de tanque, possibilitando a
comparação dos seus sistemas de produção ou estratégia de manejo, ou até
mesmo a nível de seus ciclos de produção investigando novos tratamentos no
desempenho do animal como por exemplo: rações inovadoras no mercado,
lotes de diferentes larviculturas, prebióticos e probióticos, ou qualquer fator que
influencie a produção da empresa.
Os modelos mais adequados para modelar o crescimento dos camarões
com a perspectiva dos MBH são os modelos sigmoidais. São um subconjunto
dos modelos não lineares que compartilham características semelhantes na
sua forma sigmoidal (formato em ―S‖) (Figura 3A). Embora outras modelos não
lineares, são usualmente empregados para modelar o crescimento de
camarão, como por exemplo o modelo exponencial ou até mesmo modelos
lineares polinomiais, os modelos sigmoidais possuem a grande vantagem da
interpretação dos seus parâmetros pelo fato de muitas vezes terem um
significado biológico mais claro. Ao contrário dos modelos não lineares
polinomiais que comumente trazem a desvantagem de usar mais parâmetros
de difícil interpretação (PINHEIRO e BATES, 2000). Apesar dos modelos
exponenciais também terem interpretações biológicas com relação aos seus
parâmetros (pois também são modelos não lineares), geralmente suas
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previsões tendem a ser menos robustas em contraste com os modelos não
lineares sigmoidais, especialmente fora da faixa de dados observados.
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mão de obra mais especializada. Tais experimentos são caracterizados por um
alto grau de controle e uniformidade de variáveis dependentes, o que
normalmente não é encontrado dentro das fazendas comerciais. Dessa forma,
a hipótese do experimento muitas vezes é generalizada para o universo
comercial, no qual em alguns casos (como no nosso exemplo), é preferível
fazer qualquer inferência diretamente na população investigada do que em
ambientes controlados em laboratórios. Na indústria aquícola 4.0 utiliza-se toda
informação até então produzidas na fazenda, contida nos dados de produção
(através das biometrias e ciclo de produção anteriores e etc.), a luz de novas
evidências para chegar em alguma conclusão que auxilie o gestor,
concomitantemente com outros fatores administrativos, na escolha da ração
mais eficiente especificamente para sua fazenda. Dessa forma, na prática,
pode-se reservar de 3 a 4 tanques (com 2 a 3 ciclos de produções anuais no
caso de camarão, por exemplo) como teste piloto para comparação e análise
da nova ração através das curvas de crescimento (Figura 3).
A ferramenta estatística MBH proporciona a análise gráfica comparativa
(Figura 3) considerando toda informação gerada pela fazenda até o momento
(denominado nesse exemplo de cultivo médio de número 4) e a nova
informação oriunda da ração a ser testada no específico ciclo de produção
(Cultivo 1, 2 e 3 da fazenda) discriminado para pesquisa interna da empresa
através da modelagem de crescimento. Na figura 3A, se refere à modelagem
do peso do animal ao longo da semana com os modelos no formato em ―S‖
(modelos sigmoidais). A figura 3B se refere à variação instantânea do peso ao
longo das semanas (derivada da função peso ao longo do tempo), podendo ser
interpretado como o ganho de peso instantâneo do animal. A função
matemática utilizada para a modelagem possui parâmetros (que são os
responsáveis por dar a característica do modelo no formato em ―S‖) e em
muitas vezes possuem significados biológicos como já foi enfatizado. Por
exemplo, a equação 1 é a expressão peso (weight) em função do tempo (t em
semanas) conhecida como Michaelis Menten Generalizada (Lopez et. al.,
2000):
( ) , Equação 1
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O parâmetro α tem significado biológico conhecido em algumas áreas de
pesquisa como capacidade de suporte, no entanto, na aquicultura (na
modelagem do crescimento do animal) definimos como peso assintótico
teórico. Teórico porque ele representa o peso do animal no final da vida dele
(em alguns casos simbolizado como ), no limite de t tendendo ao infinito, ou
seja, quando ( ) . O parâmetro β é interpretado como a média aritmética do
peso no começo e no final da vida do camarão, ou seja, , onde
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parâmetro Kappa ( ) (fortemente associado ao ponto de inflexão da curva de
crescimento, ou também tamanho de maturação).
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outro não paramétrico. E ainda indicam sua ferramenta para seleção genética
de plantéis de reprodutores com as características de um α maior, menor e
um k menor nesse exemplo da curva de crescimento para Michaelis-Menten.
Além do mais, é um método vigorosamente recomendado para ser utilizado em
pesquisas científicas.
No contexto da Indústria 4.0, todas essas análises, toda essa
modelagem, e esse arcabouço teórico podem estar encapsuladas em um
software, ou até mesmo em um aplicativo na nuvem, de fácil acesso ao
usuário, auxiliando os produtores no dia a dia na produção, nos centros de
pesquisas, nos laboratórios de reprodutores e qualquer área que se beneficiam
dessa tecnologia. E assim vão surgindo os apps que já estão sendo
introduzidos no mercado atual da aquicultura Brasileira.
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3. A IoT em combinação com aprendizado de máquina com dados
adquiridos ao longo do tempo pode ser aplicada para gerar modelos
preditivos que auxiliará na tomada de decisão mais precisas, permitindo
alertas de potenciais riscos na fazenda de produção.
No fim, a tecnologia IoT aliada com todas as ferramentas propostas pela
quarta revolução, torna a aquicultura mais produtiva, sustentável, lucrativa e
muito mais segura no sentido de gerenciamento de seus riscos, tornando toda
a cadeia de produção interconectados.
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bilionária do salmão como a supervisão, inspeção e limpeza das gaiolas
através de robôs subaquáticos em tempo real (PASPALAKIS et al., 2020).
Os Drones são uma ótima ferramenta para coleta de dados acima ou
abaixo da água, podendo inspecionar fazendas aquícolas continentais ou
marítimas como aquicultura offshore. Operação como sondagem de danos nas
gaiolas de produção já são realizados por drones (SOUSA et al., 2019). E uma
das suas utilizações mais relevantes para a indústria é a coleta instantânea de
novas informações, que dificilmente poderia ser aferido por alguma pessoa,
onde combinada com algoritmos poderosos (IA), computação na nuvem já
estão proporcionando reduções de custos, melhoria significativa nas
operações, evidenciando eficiência na produção na aquicultura (YOO et al.,
2020). Obviamente que apenas os dornes e os robôs não poderiam dar conta
de tamanha contribuição, os sensores são usados na coleta de parâmetros de
qualidade da água compreendendo o oxigênio dissolvido (OD), valores de pH,
salinidade, turbidez e concentração de poluentes (XING et al., 2019) e mais
surpreendentemente biossensores para o monitoramento do OD, salinidade da
água e temperatura na ―nova‖ aquicultura de precisão (SU et al., 2020;
ANTONUCCI e COSTA, 2020). Para o salmão o nível de precisão chega a ser
admirável com monitoramento até da frequência cardíaca dos indivíduos
(SVENDSEN et al., 2020). A nutrição adequada respeitando a demanda dos
peixes podem aumentar o consumo alimentar e reduzir os desperdícios que
causam significativos custos nas fazendas de camarão e peixes (LI et al., 2020;
SU et al., 2020), através de sensores subaquáticos e internet das coisas (IoT)
níveis de fome dos indivíduos são categorizados e dessa forma a alimentação
é conduzida conforme sua requisição (ZHOU et al., 2019). Sensores na água,
outros inseridos nos peixes vivos, em combinação com gerenciamento de
nuvem e conectividade móvel manterão o ambiente ideal para peixes,
compreenderão níveis de estresse dos organismos e fornecerão alimentação
ideal para crescimento e conversão alimentar para a indústria aquícola (YUE e
SHEN, 2021).
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Entretanto, a IA na aquicultura ainda tem seus limites devido aos poucos
dados disponíveis para a pesquisa. O conjunto de dados está se tornando cada
vez mais importante e valioso para a indústria 4.0. E como consequência se
estabelece uma visão muito forte no sigilo e centralização dessas informações
por parte das empresas. O que é compreensível no mercado competitivo da
aquicultura. Contudo sem essas informações não é possível que os
pesquisadores desenvolvam a tecnologia da indústria 4.0 para esse setor
produtivo. Apenas com tamanho de amostras suficientemente grande sobre a
produção (incorporando as diferentes espécies, sistemas de produção, a
origem genética, tipo de manejo, ração, entre quaisquer outras informações) é
que os pesquisadores e os próprios aquicultores poderão se beneficiar
coletivamente dela para o desenvolvimento de algoritmos aprimorados na
tomada de decisões cada vez melhores e mais precisas nessa indústria. Dessa
forma é preciso que fazendas de peixes, camarões e grandes empresas
tenham uma visão cooperativista com relação aos seus dados. Vários
exemplos de empresas de tecnologias enxergaram o retorno de forma mais
rápida, quando seus dados estavam de domínio público como a Google,
Kaggle, Instagram, Facebook, Global Financial, softwares livres como R,
Python, Github, e vários governos no mundo todo como Canadá, União
Europeia entre outros.
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simplesmente toma como base o ambiente material e o combina com
elementos virtuais para criar uma realidade mista.
Dado a complexidade de um ambiente de cultivo, condições variáveis,
imprevisíveis que estão em função da espécie a ser cultivada, localização e o
tipo de sistema aquícola, o AR é capaz de diminuir custos, tempo ocioso e
facilitar operações subaquáticas de drones e robôs, incluindo monitoramento
do comportamento dos peixes, buracos de rede e peixes mortos (STENE,
2019), entre outras operações. Isso é possível obtendo uma visão além do que
observamos através dos nossos sensores orgânicos oculares (os nossos
olhos), ou seja, ao mesmo tempo que enxergamos a gaiola embaixo da água,
os peixes e todo entorno, em paralelo características são apontadas
virtualmente como por exemplo descrições de cada peixe capturado na tela
(peso, dia do povoamento, estado alimentar, bem-estar, vitalidade, etc.),
característica do tanque (estado atual, lote de fabricação, data de validade ou
da próxima manutenção, probabilidade de ruptura, etc.). O AR tem sido usado
na indústria de aquicultura para aumentar a eficiência da produção no campo,
monitorar e analisar mortalidade, estado de saúde e medir muitos parâmetros
da água. Com o auxílio da nuvem, hoje em dia essa tecnologia já é uma
realidade na aquicultura segundo o projeto de Xi e colaboradores (2019), no
qual melhora a coleta e consulta de dados de qualidade de água in-situ. Outra
aplicação da AR na indústria da aquicultura é no ensino técnico e na educação.
A Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NUST) desenvolveu e
aplicou AR e realidade virtual (VR) para ensinar os futuros técnicos sobre o
bem-estar dos peixes, prevenção de doenças, fuga de peixes e condições
perigosas de trabalho (STENE, 2019).
Já VR pode ser assistida por meio de muitas experiências, o que permite
aos usuários localizar modelos 3D em tamanho real em seu ambiente. Na
China, na Dalian Ocean University foi desenvolvida uma plataforma de
simulação virtual, que pode contar com VR, multimídia e interação homem-
computador para o ambiente de alto risco, alto custo, alto consumo e condição
de ensino experimental tradicional da faculdade (CHEN e ZHANG, 2017). O
que é uma forte tendência para empresas de consultoria que buscam um
diferencial no mercado competitivo.
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A impressão 3D pode ser definida como conjunto de processos que
constroem objetos por camadas transversais de materiais a partir de um
modelo 3D. Ela permite construir qualquer forma imaginável de designer
digitais 3D em objetos cada vez mais personalizados, que estão
revolucionando a indústria 4.0. Na aquicultura, a aplicação da impressão 3D,
vai de protótipos para alimentadores automáticos, dosadores de insumos
aquícolas, construção de dispositivos para sistema de hidroponia ou aquaponia
(TAKEUCHI, 2019), robôs ou drones subaquáticos em formato de peixes (Clark
et al., 2012). Protótipos de dispositivos de verificação tridimensional de
espermatozoides para espécies aquáticas foram impressos usando a
tecnologia de impressão 3D, permitindo a preservação e consequentemente a
economia para o futuro da larvicultura (TIERSCH et al., 2020). A impressão 3D
também possibilitou um desenvolvimento do protótipo de um designer de um
conjunto de sensores para aferir parâmetros da qualidade de água (BANNA et
al., 2017).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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equipe que compartilham diferentes fundamentos para resolver um
problema/demanda comum que porventura pode surgir dentro da empresa. Se
você for um dos visionários dessa atual tendência mundial e tem interesse de
ocupar um espaço desse contexto recomenda-se primeiro entender os
exemplos e aplicações de algumas tecnologias (os exemplos dados neste
capítulo do livro e suas referências é um bom começo), recomenda-se as
tecnologias de seu interesse ou de maior afinidade. Uma vez compreendido o
segundo passo é estudar mais a fundo os métodos e as ciências que lhe
carece, complementando todo seu conhecimento e aprendizado, assim, pouco
a pouco você estará familiarizado com os termos técnicos e o princípio de
funcionamento da tecnologia e que possa compartilhar ideias com a equipe
interdisciplinar. É uma área que demanda aprendizado contínuo pois sempre
surgem novas tecnologias, novos conceitos, ferramentas, insights, e está
fortemente relacionado ao espírito de pesquisador. Por fim, só posso desejar
boas-vindas ao presente da aquicultura Brasileira.
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26
TRENDS AND OPPORTUNITIES IN LARGE-
SCALE MACROALGAE CULTIVATION IN
BRAZIL
Gamze Turan1,2
1
Bachelor in Fisheries - Ege University (EU), Master‘s degree in Marine Biological Resources -
University of Maine and PhD in Aquaculture - EU, Faculty member at EU, Fisheries Faculty,
Aquaculture Department, 35100 Bornova, Izmir, Turkey. e-mail: gamze.turan@ege.edu.tr
2
Federal University of Rio Grande, EMA, Rua do Hotel, 96210-000, Rio Grande-RS, Brazil
Abstract: Macroalgae (or seaweeds, sea vegetables) are amazing aquatic plants that
have been widely used for human food, animal feed, including aquafeeds, medicine,
pharmaceuticals, nutraceuticals, cosmetics, agrochemicals, etc. Today, the
Macroalgae Industry uses approximately 32.1 million tonnes of wet macroalgae
annually with an annual value of 12.6 billion USD (FAO, 2020). The industry uses
approximately 220 macroalgae species and most commonly culture genera are:
Laminaria, Undaria, Macrocystis, Sargassum, Porphyra, Euchema, Kappaphycus,
Gracilaria, Monostroma, Ulva which are also found in Brazil. From the point of
macroalgae aquaculture, Brazil is one of the countries producing industrial
phycocolloids, such as agar and carrageenans however the country is still highly
dependent on imports of macroalgae and their products. Since natural resources
necessary for intensive macroalgae cultivation in Brazil, such as, sunlight, water,
under-exploited coastlines, and diversity of macroalgae are abundant, it is believed that
it will expand undoubtedly in following years. In this chapter, large-scale macroalgae
production potential of Brazil with previous and present studies and recent international
projects at FURG (Rio Grande, RS) to develop mass production of macroalgae and to
design of the most efficient food production systems, such as macroalgae-based Multi-
trophic Aquaculture (IMTA), Macroalgae-based Aquaponics to secure food and
environmental health is presented.
Key words: Macroalgae, Seaweed, IMTA, Brazil Aquaculture
INTRODUCTION
The global demand for food has increased significantly in the last years
due to world population growth, prospected to reach 9.7 billion people in 2050
(UN, 2019) and to maintain current consumption trends the world will need to
produce 50–70% more food by 2050 (WORLD BANK TECHNICAL REPORT,
2016). Providing them with healthy and safe food is a major global challenge,
27
especially in the current scenario of limited natural resources (CONIJN et al.
2017; FAO, 2018). Producing large volumes of macroalgae (or seaweed) for
human food, animal feed, including aquafeeds could represent a
transformational change in the global food security equation.
Today, global macroalgae production is growing by 9% per annum (FAO,
2020) and increasing the growth of seaweed farming up to 14% per year would
generate 500 million tons dry weight by 2050 and provide almost 10% to the
world‘s present supply of food, generating revenues and improving
environmental quality (Table 1) (WORLD BANK TECHNICAL REPORT, 2016).
Macroalgae Industry uses approximately 32.1 million tonnes of wet
macroalgae annually with an annual value of 12.6 billion USD (FAO, 2020).
Today, the Industry uses approximately 220 seaweed species and most
commonly culture genera are Most commonly culture genera are: Laminaria,
Undaria, Macrocystis, Sargassum, Porphyra, Euchema, Kappaphycus,
Gracilaria, Monostroma, Ulva, Enteromorpha (changed to Ulva) which are also
also found in Brazil. Macroalgae cultivation in Brazil is limited only to red
macroalgal species of Kappaphycus and Gracilaria spp. with less than 1,000
tons of production (FAO, 2020). For this reason Brazil is highly dependent on
imports of macroalgae and their processed products. For example, from
January 2016 to January 2017, Brazil imported 1.3 t of fresh, refrigerated,
frozen or powdered edible algae (including macroalgae and microalgae)
spending approximately US$ 9 million. In the same period, Brazil imported 2
tonnes of carrageenan and paid US$ 15.7 million dollars. The country imports
agar and alginate, In the same period, 107 tonnes of agar and 927 tonnes of
alginate and paid US$ 1.8 million and US$ 13.5 million, respectively (MDIC,
2016). On the other hand, natural resources are abundant for necessary
commercial seaweed cultivation, such as diversity of seaweed species, clean
water, sunlight, and coastlines are abundant. For example, in Brazil, more than
1000 seaweed species have been identified and species of Porphyra, Juvenil
Laminaria or Petalonia, Cystoseira, Sargassum, and Ulva being particularly
abundant in addition to Kappaphycus and Gracialaria species.
The potential of Brazil on large-scale macroalgae production is
enormous. The country has a total of 3,830,955 km square area called
exclusive economic zone (EEZ) is a sea zone prescribed by the 1982 United
28
Nations Convention on the Law of the Sea over which a country has special
rights regarding the exploration and use of marine resources. According to data
adapted from World Bank Technical Report (2026), If Brazil use its EEZ just for
macroalgae cultivation, Brazil can produce 3,830,955,000 (approximately 4
billion) mt dry macroalgae (3,830,955 km square * 1000 tons dry
macroalgae/km square). This amount of macroalgal biomass can supply 400
million tons of protein for human and animals, 120 million tons of algal oil for
human and animals, 80 million tons of nitrogen and 8 million tons of phosphorus
can be removed, 1.080 billion tons of carbon can be assimilated, with 10 billion
MWH bio-energy, 8 million square km land sparing and 4,500 cubic km
freshwater sparing. According to the data provided by World Bank Technical
Report (2016), the country can provide almost 80% to the world‘s supply of food
for 2050 by itself. Or, when we calculate the potential of Brazil to produce
macroalgae from the coastline formulation (TURAN AND NEORI, 2010), we will
see that Brazil has the potential to produce with 920,000 dry macroalgae (8000
km coastline * 115 tons dry macroalgae per km coastline). Since macroalgae
contains 80-90 % water, 920,000 dry macroalgae means 9.2-18.4 million tons of
fresh or wet macroalgae. At this point, we need to remember that today the
global macroalgae production is approximately 32.1 million tons of fresh or wet
macroalgae annually with an annual value of 12.6 billion USD (FAO, 2020). So,
today Brazil has the potential to produce 1/3-1/1.75 of the global macroalgae
production by itself and generate income from this production around 4.2-7.2
billion USD.
29
fish oil in animal feeds.
30
commercially important species, such as Codium, Dictyopteris etc. have also
high potential in IMTA systems.
IMTA provides exciting new opportunities for valuable crops of aquatic
species and for IMTA approaches in Brazil and the IMTA component may
include species of:
● Gracilaria, Gelidium, Gigartina, Hypnea, Kappaphycus, Porphyra, Juvenil
Laminaria (Petalonia), Sargassum, Ulva, Monostromo and Caulerpa
(macroalgae).
● Salicornia neei (halophytes)
● Desmapsamma, Mycala, Haliclonai and Monochoea (sponges).
● Ostrea, Crassostrea, Nodipecten, and Donax (molluscs).
● Echinometra, and Lytechinusaracentrotus (echinoderms).
● Scolelepis, Loimia and Thoracaphelia (polychaetes).
● Penaeus and Homarus (crustaceans).
● Epinephelus, Rachycentron, Mugil, Trachiotus and Coranx (fish)
Today, Several IMTA projects are being conducted in different parts of
the world, including in Brazil. The goal is to develop for different aquaculture
environments profitable modern IMTA macroalgae farming components. IMTA
technologies with macroalgae culture are bound to play a major role worldwide
in sustainable expansions of the aquaculture operations within a balanced
ecosystem (NEORI, 2007). Similarly, macroalgae culture is ready to respond to
the worldwide increasing demands for food, feed, renewable fuel and efficient
nutrient and CO2 removal.
DEVELOPMENT
Macroalgae
Macroalgae form a large group of amazing aquatic plants, widely used
for human food in China, Japan and Korea. It is also an ingredient in animal
feeds, cosmetics, and fertilizers (CRITCHLEY AND OHNo, 1997, 1998, and
2001; CRITCHLEY et al., 2006; FAO, 2003; MCHUGH, 2003). Various
macroalgae are also used to produce the hydrocolloids (or phycocolloids)
alginate, agar and carrageenan as thickening and gelling agents in the food and
31
biomedical industries. Macroalgal extracts are to be found in a wide range of
common products we use daily such as toothpaste, shaving foam, ice cream,
cheeses, candy, beer, shower gels, bacteriological agar and paper. Increasingly
seaweeds are being investigated for the biological activity of their extracts,
which are finding applications in pharmaceuticals, biotechnology and food
preservatives (SCHUENHOFF et al., 2006). In addition, macroalgal products
are used in textiles and printing to achieve the desired consistency in dyes,
paint and ink. Several companies produce a range of macroalgae based
therapy (Thalassotherapy) products, which include seaweed bath salts, bubble
bath, shampoos, shower gel, soaps, facial scrubs, body masks, moisturizers
and foot bath salts (DE ROECK-HOLTZHAUER, 1991). Developments in the
paper pulp industry have made macroalgae practical alternatives to the use of
wood (DE POLI et al., 1994; YOU, 2008).
In recent decades, several studies have investigated the possible use of
macroalgae as source of biofuel (BIRD AND BENSON, 1987; FLOWERS AND
BIRD, 1987; HANISAK AND RYTHER, 1986; MORAND et al., 1991; GAO and
MCKINLEY, 1994; KELLY AND DWORJANYN, 2008). Potential uses for
macroalgae in wastewater treatment due to their ability to absorb nutrients,
heavy metal ions such as zinc and cadmium from polluted water have also been
developed (RYTHER et al., 1975; SCHRAMM, 1991a). The effluent water from
fish farms usually contains high levels of nutrients that can cause problems to
other aquatic life in adjacent waters. Use of macroalgae as biofilters for
mariculture effluents has been developed (COHEN AND NEORI, 1991; KROM
AND NEORI, 1989; NEORI AND SHPIGEL, 1999; NEORI, et al., 1989, 1996,
2004; NUNES et al., 2003; FEI, 2004; KANG et al., 2007; XU et al., 2008).
Macroalgae are now being advanced in polyculture systems as an
integral component of integrated multi-trophic aquaculture (IMTA)
(BUSHMANN, et al., 1994, 2001, 2008; CHOPIN, 2006, CHOPIN, et al., 1999b,
2001, and 2008; CIRIK, et al., 2006; NEORI, 2007 AND 2008; NEORI, et al.,
1996, 2000, and 2004; NEORI AND SHPIGEL, 1999; SCHUENHOFF, et al.,
2003 and 2006; SHPIGEL AND NEORI, 1996; SHPIGEL, et al., 1993a; TROEL,
et al., 1997, 1999, 2003, and 2006; TURAN, et al., 2006; WHITMARSH, et al.,
2006; YANG et al., 2004). The IMTA approach, besides being a form of
ecologically balanced aquaculture management, diminishes possible
32
environmental impacts from aquaculture (EDWARDS, 2004; FEI, 2004; YANG,
et. al., 2006).
33
Paraná State
Pellizzari et al. (2007) studied the biological and technical aspects of
cultivating Monostroma on a pilot scale at Maciel Tidal Creek (Paranaguá Bay,
Paraná). The alga cultivated in nets in floating rafts. In the field, the highest GR
occurred during periods of lower temperature (20-22ºC), low rainfall, and
salinities between 25 and 30 psu (PELLIZZARI et al., 2006). Therefore, the
development is mainly limited by temperature, this being the primary physical
parameter guiding the selection of cultivation areas.
34
Tormenta et al. (2006) studied the performance of Ulva clathrata and U.
ramulosa in a shrimp Litopenaeus vannamei tank and observed a reduction in
ammonium, nitrite and nitrate concentrations, while phosphate concentrations
were reduced only during the first week. These data suggest that U. ramulosa
was efficient mainly for the assimilation of nitrogenated compounds.
Copertino et al. (2009) studied the growth rate, biofiltration efficiency and
uptake rates of Ulva clathrata in outdoor tanks that received wastewater from a
shrimp (Litopenaeus vannamei) aquaculture pond adjacent to the Patos Lagoon
estuary. U. clathrata was efficient at removing the main inorganic nutrients from
effluent water, stripping 70-82% of the total ammonium nitrogen and 50% of the
phosphate within 15 h.
More recently, three international projects and one international
SeaWheat COST Action supported by The European Cooperation in Science
and Technology (COST) Association were developed on Macroalgae production
on the land-based RAS and IMTA with BFT (Biofloc Technology) at EMA-
FURG. The first international Project titled ―The culture of seaweeds on solid
substrates with the spray irrigation approach‖ developed between FURG
(Brazil)-EGE (Turkey) Universities to provide economically attractive low-cost
biofiltration modules for land-based IMTA systems. Benefits in macroalgae
spray culture were related to construction and pumping cost, temperature
control, gas (CO2 and oxygen) exchange, nutrient uptake, pests, and epiphytes
control with significant biofiltration capabilities. The objective of the research is
to create a culture collection of several of Brazil's native seaweed species such
as Gracilaria, Ulva, Hypnea etc. and then evaluate their performance in culture
on solid substrates, using the spray irrigation approach. The second
international Project is titled ―AQUAVITAE: All Atlantic Consortium‖ has
received funding from the European Union‘s Horizon 2020 research and
innovation programme under grant agreement No 818173. The overall objective
of AQUAVITAE is to develop new, sustainable, profitable, and resilient value
chains for aquaculture production within the framework of existing, emerging
and potential Atlantic markets. And land-based RAS system with BFT at EMA-
FURG focuses on new RAS AQUAPONICS for fish, mollusc, shrimp and
macroalgae (Ulva spp.) production in a biofloc system. The third international
Project is titled ―ASTRAL: All Atlantic Ocean Sustainable, Profitable and
35
Resilient Aquaculture‖ has received funding from the European Union‘s Horizon
2020 research and innovation programme under grant agreement No 863034.
The overall objective of ASTRAL is to develop new, sustainable, profitable and
resilient value chains for integrated multi-trophic aquaculture (IMTA) production
within the framework of existing, emerging and potential Atlantic markets. And
IMTA inshore system laboratory at EMA-FURG focuses on new management
for fish, mollusc, shrimp and macroalgae (Ulva spp.) production in biofloc
system.
As a group of experts at FURG with other international 105 specialists
from 28 countries have identified green seaweed Ulva (commonly known as
‗sea lettuce‘) as the most suitable candidates and model organisms for a novel
kind of mariculture and developed a networking COST Action Program tittled
the SeaWheat COST Action (CA 20106 - TOMORROW‘S ‗WHEAT OF THE
SEA‘: ULVA, A MODEL FOR AN INNOVATIVE MARICULTURE). The
SeaWheat COST Action combines interdisciplinary approaches to the
sustainable use of marine resources, encompassing all facets of Ulva biology,
ecology, aquaculture, engineering, as well as economic and social sciences.
36
of food products for human consumption contribute US $ 4-5 billion of this, with
the single most valuable crop being Porphyra (‗Nori‘ and 'Laver'), worth over US
$1.3 billion (FAO, 2014). Substances that are extracted from macroalgae -
hydrocolloids - account for a large part of the remaining value. Smaller,
miscellaneous uses, such as fertilizers and animal feed additives, make up the
rest. The farming of macroalgae has expanded rapidly as demand has
outstripped the supply available from natural resources. Over 90% of the market
is supplied by cultivation.
China is the largest producer of macroalgae followed by the Philippines,
Indonesia, the Republic of Korea and Japan (FAO, 2020). While the bulk of
China‘s contribution comes from the cultivation of Laminaria japonica, 50% of
Korea's production is contributed by Undaria pinnatifida and 75% of Japan‘s
contribution comes from the cultivation of Porphyra sp. The Philippines and
Indonesia are involved mainly in the cultivation of Kappaphycus alvarezii and
Eucheuma denticulatum (carragenophytes) as well as Gracilaria species
(agarophytes) (FAO, 2020).
Macroalgae growth rate and yield depend on species, the site of
cultivation, the season, and the cultivation methodology. For example, the daily
growth rate (DGR) of Kappaphycus alvarezii usually varies between 2-3% and
that of Gracilaria spp. between 3.3-8.4%, depending on factors, such as CO2
level of surrounding seawater (CHUNG et al., 2007). Temperature increase may
also affect the ability of macroalgae to perform in particular geographic areas
(BREEMAN, 1990), while both increased storm events and run-off from land are
likely to impact macroalgae growth (DAYTON AND TEGNER, 1984; NIELSEN,
2003).
Large-scale macroalgae culture is attractive due to low-cost technologies
that have been in operation for decades, and the multiple uses of the product.
Yields of macroalgae can be as high as 80 mt dw ha -1 y-1 in modern intensive
pond farms, while extensive low technology coastal farms regularly get yields
above 20 mt dw ha-1 y-1 (NEORI et al., 2004). Macroalgae can take up 29 mt
carbon ha-1 y-1 in modern intensive farms and 7.3 mt carbon ha-1 y-1 in low
technology farms (SINHA et al. 2001). Possibilities also exist for promoting
intensive growth of macroalgae in integrated aquaculture (IMTA).
37
IMTA macroalgae farming provides exciting new opportunities for
valuable crops of macroalgae with higher production. IMTA practice combines
the cultivation of fed finfish with extractive shellfish and macroalgae for an
ecologically balanced aquaculture. IMTA can increase the long-term and overall
sustainability and profitability per cultivation unit as the wastes of the main
cultured species are bio mitigated through conversion into fertilizer, food, and
energy through additional commercially valuable species. In this way, otherwise
costly waste mitigation processes become revenue-generating cultivation
components, which, by their harvest, export nutrients outside of the coastal
ecosystem. It is important to note that 830 tons of CO2 y-1 can be thus exported
by an IMTA farm that produces 1,000 mt fish, 2,000 mt shellfish and 500 mt
macroalgae. An IMTA farm that produces 1,000 mt fish and 7,000 mt
macroalgae can export 1,230 tons of CO2 y-1 (NEORI, 2008).
The macroalgae IMTA component may include species of Gracilaria,
Porphyra, Eucheuma/Kappaphycus, Laminaria, Undaria, Ecklonia, Macrocystis,
Ulva, and Caulerpa. However, other commercially important species, such as
Palmaria, Chondrus, Gigartina, Hypnea, Sargassum, Cystoseira,
Asparagopsis/Falkenbergia etc. have also high potential in IMTA systems.
Today, Several IMTA projects are being conducted in different parts of the
world, including in Brazil. The goal is to develop for different aquaculture
environments profitable modern IMTA macroalgae farming components. IMTA
technologies with macroalgae culture are bound to play a major role worldwide
in sustainable expansions of the aquaculture operations within a balanced
ecosystem (NEORI, 2007). Similarly, macroalgae culture is ready to respond to
the worldwide increasing demands for food, renewable fuel, and efficient CO2
removal.
38
It is clear that large-scale macroalgae will be produced in Brazil. The
timely transition to food supply from macroalgae critically depends on scientific
progress in three areas, which are:
● Macroalgae biology and biotechnology: identification and development of
macroalgae varieties that maximize production of food
● Engineering: development of and culture technologies and farm designs
that sustainably produce large quantities of macroalgae feedstock at low
cost
● Social sciences: communication to the relevant parties of the social,
socio-economic, and environmental benefits that large scale macroalgae
production can have; overcoming opposition to innovation, gaining socio-
political support and public involvement.
Critical to this and other innovative developments is the acceptance by
the public financial system of its obligation to support long-term research and
innovation programs, ensuring that emerging ideas that are explored consider
overall societal needs. Only the public financial systems, e.g., governments and
the World Bank, have the resources and time to fund the required investments.
Such efforts need a strong political will for their active steering in the right
direction. Preconditions for an accelerated development for industrial
applications will be:
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Ponzan, Poland.
46
A RANICULTURA BRASILEIRA:
HISTÓRICO, DESAFIOS, PATOLOGIAS E
PERSPECTIVAS
1
Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Carlos, campus São Carlos.
Professora colaboradora no Programa de Pós-graduação em Biotecnologia e Monitoramento
Ambiental da Universidade federal de São Carlos, campus Sorocaba;
2
Doutora em Zoologia pelo Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro;
Pesquisadora no Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas;
3
Mestra em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas. Aluna de doutorado em
Ecologia na Universidade Estadual de Campinas;
4
Mestre em Biotecnologia e Monitoramento Ambiental pela Universidade Federal de São
Carlos, campus Sorocaba. Aluno de doutorado no Centro de Pesquisas para Compostos
Tóxicos e Meio Ambiente, Faculdade de Ciências da Universidade de Masaryk, República
Tcheca;
5
Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Carlos, campus São Carlos.
Professora Associada na Universidade Federal de São Carlos, campus Sorocaba;
6
Doutor em Zoologia pela Universidade Estadual Paulista, campus Rio Claro. Professor Livre-
docente no Departamento de Biologia Animal, Universidade estadual de Campinas.
Resumo: A ranicultura é uma das áreas da aquicultura que ainda pode se desenvolver
muito no Brasil. Embora o Brasil seja um dos grandes produtores mundiais de carne
de rãs, a regulamentação da produção ranícola ainda é muito deficiente, e a atividade
ainda enfrenta obstáculos culturais, econômicos, governamentais e de ordem
sanitária, o que dificulta o deslanchar desta atividade no país. Assim, neste capítulo
reunimos alguns dos fatores que vêm ganhando espaço entre as pesquisas da área,
com um destaque especial para as múltiplas enfermidades que os anfíbios podem
sofrer ao longo do processo de criação em cativeiro, e as perspectivas necessárias
para uma possível solução desses desafios.
Palavras-Chave: ranicultura brasileira; enfermidades de anfíbios; anuros; aquicultura.
INTRODUÇÃO
47
maioria das espécies tem ciclo de vida bifásico, sendo uma fase larval
predominantemente aquática e uma fase adulta terrestre, tornando os anfíbios
excelentes indicadores da qualidade do ambiente onde vivem (SEWELL e
GRIFFITHS, 2009). Por outro lado, essa alta sensibilidade às mudanças
ambientais, como desmatamento, poluição e aquecimento global, vem levando
o grupo ao declínio (GRANT et al., 2020).
Essa classe de vertebrados é dividida em três ordens: Anura (sapos,
pererecas e rãs), Caudata (salamandras e tritões) e Gymnophiona (cecílias ou
cobras-cegas) (FROST et al., 2021), sendo que espécies da ordem Anura
podem ser internacionalmente comercializadas para o consumo humano.
Dentre as espécies destinadas a essa prática, a rã-touro norte americana
(Aquarana catesbeiana) ganhou destaque por ter facilmente se adaptado às
condições de manejo em diferentes partes do mundo (OLIVEIRA, 2015). A
criação de rãs representa um potencial de crescimento econômico para o país
produtor, pois não somente a carne de rã é comercializada como também
diversos coprodutos como farinha, patê, hambúrguer e conservas podem ser
produzidos (OLIVEIRA, 2015). Por outro lado, o comércio internacional dessas
rãs se tornou o grande vilão da introdução de patógenos emergentes no mundo
(JENKINSON et al., 2016; O‘HANLON et al., 2018; SCHLOEGEL et al., 2009),
pois essa espécie parece tolerar altos níveis de infecção (BRUNNER et al.,
2019; DASZAK et al., 2004).
O Brasil possui inúmeros criadouros de rãs-touro (ranários), distribuídos
principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país (BOTH et al., 2011;
RODRIGUES et al., 2010), e é atualmente um dos maiores produtores
mundiais. Inicialmente, na contramão da maioria dos outros países produtores,
que priorizavam a captura ou o cultivo extensivo, os ranários brasileiros
aproveitaram as ótimas condições climáticas do país e focaram no
desenvolvimento de técnicas para a criação mais eficiente da rã-touro em
cativeiro (LIMA; CRUZ; MOURA, 1999). A criação controlada dentro dos
ranários garantiria maior proteção contra a dispersão dos animais e a
predação, além de ser possível controlar a alimentação dos animais e prover
condições mais adequadas ao desenvolvimento dos espécimes nas diferentes
etapas do seu ciclo de vida dual (OLIVEIRA, 2015). Porém, devido à falta de
logística adequada à ranicultura no país, ao longo do tempo, muitos ranários
48
acabaram encerrando suas atividades (CRIBB; AFONSO; MOSTÉRIO, 2013),
ocasionando a introdução dessas rãs exóticas em ambientes naturais (BOTH et
al., 2011). Nesse sentido, o presente capítulo buscou resumir os principais
tópicos acerca da história da ranicultura no Brasil, destacando os desafios
culturais, econômicos, patológicos e ambientais que estão relacionados à
ranicultura brasileira.
DESENVOLVIMENTO
49
imigrantes europeus. A ranicultura propriamente dita somente foi introduzida
em meados de 1935 com a vinda do canadense Tom Cyrill Harrison, que
possuía conhecimentos técnicos de aquicultura (CRIBB; AFONSO;
MOSTÉRIO, 2013; SILVA et al., 2013). Harrison teria sido responsável pela
importação dos primeiros 300 espécimes de rã-touro dos Estados Unidos a fim
de inaugurar o primeiro criadouro comercial no país (LONGO, 1987). Fato este
que também representou um marco histórico para a introdução desta espécie
exótica no Brasil (CRIBB; AFONSO; MOSTÉRIO, 2013; FERREIRA et al.,
2002; SILVA et al., 2013). Dotado de uma estrutura ainda muito simples e
rudimentar, o primeiro criadouro de rãs do Brasil consistia basicamente em
uma área com tanques escavados na terra, cercada por vegetação e que
dispunha de um bom suprimento de água. Suas instalações foram fundadas no
município de Itajaí, Rio de Janeiro, sendo batizado por técnicos da então
Secretaria de Agricultura e Pesca Interior do estado do Rio de Janeiro sob o
nome de ―Ranário Aurora‖ (CRIBB; AFONSO; MOSTÉRIO, 2013; SILVA et al.,
2013).
Embora algumas espécies nativas brasileiras mais robustas também
tivessem grande potencial para serem criadas para a alimentação humana,
como por exemplo a rã-manteiga Leptodactylus latrans, a rã-gia Leptodactylus
pentadactylus, e a rã pimenta Leptodactylus labyrinthicus (CRIBB; AFONSO;
MOSTÉRIO, 2013), a alta produtividade das rãs-touro criadas em cativeiro
acabou dominando os interesses comerciais pelo país. Tal preferência
provavelmente ocorreu devido a algumas especificidades dessas rãs que as
tornam uma espécie de fácil manejo (baixa sensibilidade ao estresse), rápido
crescimento, alta taxa reprodutiva (grande produção de ovos) e vasta
resistência e tolerância às enfermidades (VIEIRA, 1993).
Com o passar do tempo, os criadores independentes, junto à iniciativa
privada, foram desenvolvendo novas técnicas e métodos para o manejo dos
ranários, que, posteriormente, foram apoiados por instituições de pesquisa e
universidades. Em 1978, se instituiu o primeiro Encontro Nacional de
Ranicultura (ENAR), que marcou o início das grandes pesquisas científicas
voltadas para o avanço tecnológico da ranicultura (CRIBB; AFONSO;
MOSTÉRIO, 2013). A partir desse momento, diversos sistemas de criação
foram sendo aprimorados e a ranicultura brasileira foi finalmente impulsionada.
50
Os protocolos de alimentação deixaram de se basear prioritariamente em
insetos e o uso de rações comerciais passou a ser adotado em escala
nacional. Nesta mesma década também surgiram os primeiros estudos sobre
as patologias dos anfíbios e as dificuldades que os produtores poderiam
enfrentar (CRIBB; AFONSO; MOSTÉRIO, 2013; OLIVEIRA, 2015).
No entanto, embora a ranicultura brasileira tivesse todos os requisitos
para crescer dentro do agronegócio, ao longo dos anos 1980, a falta de
investimento e de políticas públicas governamentais acabou gerando uma forte
retração das atividades deste setor (OLIVEIRA, 2015). Os avanços nos estudos
científicos eram lentos, a problemática sanitária crescia em virtude de doenças
emergentes nos anfíbios, e as limitações do mercado interno tornavam a
ranicultura pouco competitiva, o que causou uma redução drástica no número
de ranicultores no país (OLIVEIRA, 2015).
Apesar de todos estes percalços, com o passar dos anos, as pesquisas
científicas voltadas para a ranicultura no Brasil viabilizaram o desenvolvimento
de novas tecnologias para o melhoramento na produção de rãs em cativeiro.
Atualmente, o Brasil é considerado um dos maiores produtores de rãs,
ficando atrás somente da Indonésia e Taiwan, onde as rãs ainda são criadas
segundo modelos extensivos (OLIVEIRA, 2015). Isso nos mostra que a
ranicultura ainda tem grande potencial de fornecer novas perspectivas para a
aquicultura nacional. Porém, para que isso seja possível, será necessária uma
ampliação das redes de colaboração entre os produtores, a rede privada, os
institutos de pesquisa e os órgãos governamentais.
51
2004; SEIXAS FILHO et al., 2020). Além do avanço tecnológico, as condições
climáticas brasileiras, especialmente das regiões Sul e Sudeste, são propícias
para o desenvolvimento da rã-touro (BOTH et al., 2011; FEIX et al., 2006;
GIOVANELLI et al., 2008; RODRIGUES et al., 2010).
Embora a ranicultura brasileira esteja próxima de completar seus 90
anos de história, existem diversos desafios a serem superados para o sucesso
da atividade. De forma geral, sempre houve um alto interesse e
deslumbramento financeiro em relação à produção de rã-touro no Brasil, e
muitos produtores iniciam na atividade sem um planejamento prévio ou sequer
instruções zootécnicas (RODRIGUES et al., 2010). A falta de logística têm
acarretado um cenário de instabilidade na ranicultura, somando um número
considerável de produtores que iniciam e encerram a atividade em poucos
anos (CRIBB; AFONSO; MOSTÉRIO, 2013; FEIX et al., 2006). A ineficácia na
regulamentação da ranicultura e a falta de padrão na gestão dos ranários e dos
sistemas produtivos também dificultam o sucesso da atividade no país
(PAHOR-FILHO et al., 2019).
O consumo de carne de rã-touro ainda não se tornou rotineiro entre os
brasileiros. Os principais produtos comercializados no Brasil são as coxas da
rã-touro, as quais estão aliadas a preços elevados, e a carcaça inteira do
animal, cujo consumidor muitas vezes possui aversão (CRIBB et al., 2009;
RAMOS et al., 2004). Esses aspectos limitam as práticas de consumo e a
demanda pela carne está restrita a restaurantes e petiscarias de classe média
e alta (FEIX et al., 2006; FERREIRA et al., 2002; GAVIÃO, 2016; MOREIRA,
2011) e a um público específico que preza pelas qualidades nutricionais da
carne de rã (OLIVEIRA et al., 2017; RODRIGUES et al., 2014). Como
alternativa para aumentar o consumo, o mercado brasileiro tem desenvolvido
coprodutos, como patê, hambúrguer, farinha e conservas elaborados com
peças menos nobres da rã e que costumam ser descartadas (AFONSO et al.,
2017; CRIBB et al., 2009; FURTADO, 2006; GONÇALVES e OTTA, 2008;
SEIXAS FILHO et al., 2020). Esses coprodutos poderiam proporcionar
qualidade nutricional e baixo preço de mercado (AFONSO et al., 2017;
RODRIGUES et al., 2014). Entretanto, tais produtos ainda não estão
disponíveis em grande escala no mercado. O baixo consumo é, então, reflexo
primariamente da falta de hábito de consumo devido à aparência insatisfatória
52
e altos preços, mas também da falta de conhecimento e irregularidade na
oferta de produtos variados (CARRARO, 2008; COSTA et al., 2017; CRIBB et
al., 2009).
Desafios econômicos
A cadeia ranícola é composta por fornecedores de insumos e
equipamentos, pelos produtores de rãs-touro, indústrias de abate e pelos
comerciantes dos produtos finais (SEIXAS FILHO et al., 2017). De modo geral,
o objetivo dos produtores é realizar, em cativeiro, a reprodução e o
desenvolvimento dos indivíduos desde a fase larval (girinos) até o final da fase
de engorda, ou seja, quando as rãs-touro atingem peso adequado para o abate
(CRIBB; AFONSO; MOSTÉRIO, 2013; SEIXAS FILHO et al., 2017). O abate e
processamento da carne de rã-touro deve ocorrer em estabelecimentos com
registro oficial, os quais seguem as normas de qualidade e sanitárias definidas
pelo Regulamento e Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem
Animal (RIISPOA) do MAPA (Brasil, 2017). Entretanto, é notável o número de
produtores que desenvolvem todas as etapas da produção da rã-touro, além do
abate e até mesmo a comercialização dos produtos.
A ranicultura brasileira é composta majoritariamente por pequenos
produtores, que geralmente dependem de mão de obra familiar e praticam a
ranicultura como uma atividade econômica secundária (CORRÊA et al., 2008;
CRIBB; AFONSO; MOSTÉRIO, 2013; SOUSA e MALTAROLO, 2019). A falta
de especialização dos pequenos produtores exige um grande esforço e
investimento financeiro. As distintas fases de produção da rã-touro demandam
a utilização de estrutura e manejo diferenciados. Enquanto os girinos requerem
grandes quantidades de água e controle rígidos dos seus parâmetros de
qualidade (CRIBB; AFONSO; MOSTÉRIO, 2013; SEIXAS FILHO et al., 2017),
as fases pós-metamórficas e, portanto, terrestres, necessitam de uma extensa
área construída, que pode corresponder cerca de 70 % da área de um ranário
(OSTRENSKY et al., 2008). Quanto à alimentação, os girinos são onívoros,
enquanto indivíduos pós metamórficos são exclusivamente carnívoros e
exigem uma dieta rica em proteínas (CASALI et al. 2005). Entretanto, mesmo
entre os indivíduos pós metamórficos a alimentação difere, principalmente em
percentual de proteína (LIMA et al., 2003; OLVERA-NOVOA et al. 2007).
53
A alimentação das rãs é mais uma dificuldade enfrentada pelo produtor
(OSTRENSKY et al., 2008). Além de representar um dos principais custos da
ranicultura, os produtores alimentam os animais com rações para peixes, uma
vez que não há uma ração comercial específica para rãs (MOREIRA et al.,
2013). Dietas com tais rações pode desempenhar baixa eficiência na
assimilação de proteínas e alta eficiência na deposição de gorduras (PEREIRA
et al., 2015). Alterações histopatológicas e mortalidade dos indivíduos também
estão associadas à utilização de rações não específicas para rãs (HIPOLITO et
al., 2004; SEIXAS FILHO et al., 2009, 2008). Portanto, é essencial elaborar
uma dieta específica para a rã-touro, investigando todas as necessidades
nutricionais, visando reduzir os custos de produção e melhorar a qualidade
nutricional da carne de rã (OLVERA-NOVOA et al., 2007; PEREIRA et al.,
2015).
Diante de todos os desafios da ranicultura brasileira, nós temos
vivenciado há anos os chamados ciclos viciosos de oferta e demanda. O baixo
hábito brasileiro de consumir carne de rã, aliado à irregularidade e falta de
opções no mercado, resultam em um nicho de mercado. Que por sua vez,
ocasiona em baixa demanda e exige a redução da produção e,
consequentemente, aumenta seu custo (Lima, 2005; OSTRENSKY et al.,
2008). Os custos altos da produção elevam os preços dos produtos no
mercado, mais uma vez restringindo o consumo e impulsionando o
funcionamento do ciclo vicioso (LIMA, 2005; OSTRENSKY et al., 2008).
Um modelo de cooperativismo, amplamente utilizado em outras
produções animais, como suínos e aves, seria uma alternativa para alavancar a
ranicultura brasileira. Esse modelo seria vantajoso para pequenos produtores
ou mesmo os iniciantes, uma vez que envolve menos investimentos e riscos,
pois gera uma especialização das etapas de produção (BELUSSO e
HESPANHOL, 2010; MOREIRA, 2011). A articulação entre produtores,
técnicos e pesquisadores desempenharia um papel importante na melhoria da
ranicultura através de troca de informações e experiências sobre aspectos
produtivos e comerciais (ALMEIDA et al. 2017). Por fim, o incentivo de órgãos
governamentais, através de incentivos fiscais e subsídios, poderiam alavancar
a ranicultura e gerar visibilidade, garantindo vantagem competitiva da atividade
dentro da aquicultura.
54
Desafios sanitários: a crescente problemática das doenças emergentes
Um dos principais problemas enfrentados por ranários que se baseiam
na alta densidade de animais tem sido o frequente surgimento de doenças
entre os organismos (SILVA et al., 2020). O manejo sanitário inadequado pode
facilitar o surgimento de eventos que os patologistas chamam de surtos
epizoóticos, nos quais a grande quantidade de patógenos e de hospedeiros
infectados compartilhando um mesmo espaço amplificam ainda mais a
disseminação de uma doença (GREEN; GRAY; MILLER, 2010; RIBEIRO et al.
2019). A alta densidade de organismos frequentemente vem acompanhada do
oferecimento excessivo de ração, ou ainda da utilização de rações com baixa
qualidade (porém com um custo mais acessível), o que pode afetar diretamente
a saúde das rãs e o rendimento da produção final (GREEN; GRAY; MILLER,
2010). Além disso, o excesso de animais convivendo em um espaço reduzido
frequentemente acentua o comportamento de competição entre eles. Este
estresse pode induzir diversas alterações fisiológicas que levam à
imunossupressão e a alterações hematológicas, tornando-os mais susceptíveis
a doenças (MILLER; GRAY; STORFER, 2011).
Outro fator de grande importância que deve ser considerado pelos
ranicultores é o controle sanitário da produção. Durante todo o processamento
da carne de rã, os protocolos devem garantir a manipulação correta e ética dos
animais durante o abate, e a qualificação ideal dos profissionais envolvidos em
todas as etapas da produção (SILVA et al., 2020). Dessa forma, reduzem-se os
fatores de risco associados aos surtos de infecção e intoxicação alimentar
pelos humanos devido à ingestão dos patógenos que não foram devidamente
tratados e eliminados pelo controle sanitário dos ranários. Nesse sentido, as
próximas seções deste capítulo reuniram os principais conhecimentos acerca
das patologias enfrentadas pela ranicultura, suas possíveis consequências
ecológicas, sanitárias e até mesmo econômicas.
Quitridiomicose
Uma das principais doenças de anfíbios é a quitridiomicose, causada
pelos fungos Batrachochytrium dendrobatidis (Bd) (LONGCORE et al., 1999) e
Batrachochytrium salamandrivorans (Bsal). Ambos são patógenos emergentes,
55
com provável origem na Ásia (BYRNE et al., 2019). O Bd ocorre em todos os
continentes e já foi detectado em mais de 50% das espécies de anfíbios
(OLSON et al., 2021). Atualmente, a quitridiomicose é considerada uma das
principais ameaças aos anfíbios e configura a maior perda de biodiversidade
associada a uma doença (SCHEELE et al., 2019). O desenvolvimento da
quitridiomicose é caracterizado pela infecção e proliferação do fungo em
regiões queratinizadas dos anfíbios. Nos girinos, o Bd infecta o aparato bucal,
podendo interferir no seu comportamento alimentar (FU e WALDMAN, 2017).
Já nos indivíduos pós-metamórficos, o fungo infecta a pele do hospedeiro,
causando hiperqueratose e morte celular, além de comprometer o equilíbrio
das funções osmorregulatórias, eletrolíticas, cardíacas, e hepáticas, podendo
levar os indivíduos à morte (CARVER et al., 2010; PESSIER et al., 1999;
SALLA et al., 2018, 2020; VOYLES et al., 2007, 2009). Além disso, o Bd produz
toxinas que interferem na proliferação e atuação de linfócitos, reduzindo as
respostas imunes do hospedeiro (FITES et al., 2013).
O Bd foi detectado em todos os ranários amostrados nas regiões Sul e
Sudeste do Brasil (RIBEIRO et al., 2019; SANTOS et al., 2020). Embora a rã-
touro tenha sido referida como uma espécie tolerante à infecção por Bd
(DASZAK et al., 2004; ESKEW et al., 2015), a presença do fungo nos ranários
pode influenciar negativamente o desenvolvimento dos indivíduos e causar
prejuízos econômicos aos produtores (RIBEIRO et al., 2019). Girinos
infectados pelo fungo tendem a reduzir a alimentação conforme a intensidade
da infecção aumenta (DEMARCHI et al., 2015). Como consequência, reduzirão
seu desempenho alimentar e darão origem a indivíduos menores e, portanto,
com menos carne do que indivíduos saudáveis. A infecção também acarreta
alterações cardíacas em girinos de rã-touro, podendo afetar a metamorfose,
reduzir o crescimento e potencialmente a sobrevivência das rãs-touro (SALLA
et al., 2015). Adicionalmente, a redução das respostas imunes aumenta a
susceptibilidade do hospedeiro a outras infecções (MILLER et al., 2008).
A introdução desse patógeno em novas áreas e populações
imunologicamente ingênuas é frequentemente associada ao tráfico
internacional de animais, principalmente o da rã-touro americana, uma espécie
norte americana comumente comercializada para o consumo humano
(O‘HANLON et al., 2018; SCHLOEGEL et al., 2009).
56
Ranaviroses
As ranaviroses são causadas por vírus do gênero Ranavirus (Rv), família
Iridoviridae, e responsáveis por causar mortalidade e morbidade em peixes,
anfíbios e répteis em todo o mundo (DUFFUS et al., 2015). São vírus grandes
(150-200 nm), constituídos de DNA dupla fita com cerca de 170 mil pares de
bases, que podem se replicar tanto no núcleo celular quanto no citoplasma do
hospedeiro (CHINCHAR et al., 2017). O Rv também é um patógeno emergente
associado ao comércio de animais (PICCO et al., 2010; SCHLOEGEL et al.,
2009) e já foi associado a eventos de mortalidade de muitas espécies de
interesse econômico e ecológico (CHINCHAR, 2002; DUFFUS et al., 2015).
Sua rápida propagação e alta letalidade tornaram a notificação desse vírus
obrigatória à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, 2021).
Três espécies de Rv são conhecidas por infectarem anfíbios: Frog virus
3 (FV3), Common midwife toad virus (CMTV) e Ambystoma tigrinum virus
(ATV). As linhagens FV3 e símiles (FV3-like) são globalmente distribuídas e
altamente transmissíveis aos anfíbios (BRENES et al., 2014; MAZZONI et al.,
2009; PRICE et al., 2017). Essas linhagens são associadas a mortalidade em
massa de vertebrados ectotérmicos em todo o mundo (DUFFUS et al., 2015).
Por outro lado, as linhagens CMTV e símiles (CMTV-like) são associadas a
eventos de mortalidade de anfíbios na Europa (PRICE et al., 2014) e parecem
ser mais virulentas do que a FV3 (PRICE et al., 2017). A linhagem ATV é
associada ao declínio de populações de salamandras na América do Norte e
parece ser restrita à porção Oeste do continente (SCHOCK et al., 2008).
Recentemente, linhagens recombinantes, hipervirulentas, vem sendo isoladas
durante eventos de mortalidade em massa em ranários (CLAYTOR et al.,
2017). De fato, os ranários são ambientes favoráveis ao surgimento de
linhagens hipervirulentas, pois o confinamento das rãs não somente facilita a
rápida propagação do vírus como também aumenta a suscetibilidade dos
indivíduos à diferentes tipos de infecções (HOVERMAN et al., 2010).
No âmbito da ranicultura brasileira, infecções por Rv já foram
identificadas em rãs-touro de ranários em diferentes estados (CANDIDO et al.,
2019; MAZZONI et al., 2009; OLIVEIRA et al., 2020). Em Goiás, por exemplo, o
Rv foi detectado e isolado durante um surto de girinos de rã-touro que gerou
57
grande perda econômica (GALLI et al., 2006). Nesse cenário, foi identificada
uma linhagem FV3-like, que mostrou >99% de semelhança com o FV3 isolado
na América do Norte (MAZZONI et al., 2009). Recentemente, um caso de
mortalidade de girinos de rã-touro de uma população feral no estado do Rio
Grande do Sul foi reportado (RUGGERI et al., 2019), sendo o primeiro registro
de mortalidade associado à presença de Rv fora de ranários no Brasil. Além
disso, o vírus foi detectado em espécies nativas da fauna brasileira (RUGGERI
et al., 2019) e o estudo molecular da região do capsídeo proteico (MCP) indica
que essas linhagens também pertencem ao grupo FV3.
Assim, não somente o Rv exerce impacto negativo na produção de rãs-
touro (GALLI et al., 2006), como constitui uma ameaça aos anfíbios nativos
(LAMBERTINI et al., 2021). Uma vez que a rã-touro é tolerante a esse
patógeno e, portanto, potencial vetor do Rv (BRUNNER et al., 2019), é
extremamente necessário conter a disseminação do vírus para ambientes
naturais.
58
patologistas em virtude dos principais sintomas que os animais apresentam
quando infectados, como edemas, eritemas e úlceras hemorrágicas cutâneas,
além de inchaço e descamação da pele (DENSMORE; GREEN, 2007;
RAFIDAH et al., 1990). Diversas bactérias têm sido associadas ao
desenvolvimento desta síndrome, destacando-se as espécies Aeromonas
hydrophila (LATNEY e KLAPHAKE, 2013), Pseudomonas aeruginosa
(DOUGLAS e AMUZIE, 2017; SEIXAS FILHO et al., 2017), Staphylococcus
aureus (PASTERIS; BUHLER; NADER-MACÍAS, 2006), e Citrobacter freundii
(PASTERIS et al., 2011), os quais podem atuar de forma isolada ou em
associação.
Nos humanos, as infecções estão associadas à ingestão de produtos
contaminados com os patógenos (por exemplo: carne bovina, de peixes ou rãs
doentes, e até mesmo através de água não tratada) (BERNAGOZZI et al.,
1997; BUCHANAN e PALUMBO, 1985; YADAV et al., 1996), levando a
quadros graves de intoxicação alimentar, gastroenterite ou até mesmo
septicemia nos casos mais graves (QUINN et al., 1994). Os relatos brasileiros
para essa síndrome ainda são escassos, e a ocorrência das bactérias
associadas a essa doença se limitam a amostras de carne bovina (ROSSI et
al., 1996) e a peixes comerciais (HOLANDA et al., 1998). O registro dessas
ocorrências pelos ranários e a identificação dos focos de infecção se tornam
muito restritos devido à ausência de bases de dados nacionais abertas que
permitissem o compartilhamento dessas informações. Isso dificulta a atuação
das instituições de pesquisa no sentido de auxiliar os produtores a sanar esses
problemas.
Outra bacteriose que também vem se mostrando frequente nos ranários
de criação intensiva é causada por espécies do gênero Streptococcus
(MOSTÉRIO; MAZZONI; HIPÓLITO, 2014). Nesta septicemia de alto potencial
letal, os animais infectados podem apresentar sintomas de anorexia e letargia,
alteração na natação, escurecimento cutâneo, e nos casos mais severos
podem chegar à morte (MOSTÉRIO; MAZZONI; HIPÓLITO, 2014). Embora a
literatura internacional já possua alguns estudos clínicos, a distribuição dos
focos desta doença pelos ranários brasileiros ainda permanece desconhecido
(SILVA et al., 2020). Para ambas essas bacterioses, o diagnóstico na maioria
das vezes acaba sendo feito de modo informal pelos próprios funcionários dos
59
ranários, e a utilização de antibióticos inespecíficos acaba tornando o
tratamento ainda mais dificultado.
Além das bactérias, os anfíbios também podem atuar como hospedeiros
de outros parasitas como protozoários, nematóides e trematódeos (LATNEY e
KLAPHAKE, 2013; NAGUIB e REID, 2016). No Brasil, os principais grupos de
protozoários reconhecidos como parasitas de rãs-touro são Giardia agilis,
Entamoeba sp., Trichomonas sp., Hexamita sp. e Karotomorfa sp.
(GUIMARÃES e MARTINS, 1999). Quando infectados por esses protozoários,
as rãs tendem a apresentar sintomas como anorexia e alterações nas fezes,
além de alterações estruturais nos rins e intestinos (O‘ROURKE e
ROSENBAUM, 2015).
Helmintos como os Longibucca catesbeianae, por sua vez, não
costumam causar altos graus de patogenia, de modo que algumas infecções
sequer chegam a causar sinais clínicos visíveis nos hospedeiros. Entretanto,
essas enfermidades podem gerar efeitos menores como a perda de peso, um
crescimento tardio ou ainda aumentar a predisposição à outras doenças mais
graves, o que pode trazer prejuízos maiores para os ranicultores a longo prazo
(ANTONUCCI et al., 2012).
De modo geral, grande parte das enfermidades sofridas pelos anfíbios
dos ranários são consequência direta de condições inadequadas das criações.
O uso de fármacos para o tratamento dos animais e eliminação dos patógenos
ainda não representa a melhor alternativa, principalmente se considerarmos
que o uso exacerbado de antibióticos pode propiciar o surgimento de
patógenos resistentes (OLIVEIRA, 2015). Dessa forma, o investimento em
pesquisas que foquem em terapias imunoestimulantes, aliado a um
acompanhamento adequado e preventivo da saúde dos animais, ainda
representa a melhor solução para os produtores.
60
laboratoriais e, ainda, possuírem peculiaridades fisiológicas potencialmente
extrapoláveis à outras espécies como os mamíferos, têm feito desses
vertebrados basais uma importante ferramenta em diversos estudos que têm
por objetivo responder às mais variadas questões levantadas pela comunidade
científica e autoridades governamentais (BURGGREN e WARBURTON, 2007;
NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1974; OECD, 2009; OSSANA; CASTAÑÉ;
SALIBIÁN, 2013).
Entre os anfíbios, as rãs têm se mostrado um ótimo recurso quando
utilizada como modelo animal em diversos campos da ciência. De fato, desde a
Grécia Antiga, Aristóteles já utilizava rãs para ilustrar as estruturas anatômicas
necessárias para a produção de sons (SMITH e STOSKOPF, 2007). Desde
então o uso de rãs têm aumentado consideravelmente o conhecimento humano
sobre fisiologia e biologia celular (BURGGREN e WARBURTON, 2007; SMITH
e STOSKOPF, 2007). Inclusive tendo servido como instrumento para diversas
pesquisas que foram laureadas com Prêmios Nobel (BURGGREN e
WARBURTON, 2007; SMITH e STOSKOPF, 2007).
Nos dias atuais, estudos diversos tentam responder os mecanismos
responsáveis pelo drástico declínio nas populações destes animais (HOPKINS,
2007) utilizando-se, inclusive, de animais criados em cativeiro. De fato, rãs-
touro criadas em cativeiro têm sido utilizadas por pesquisadores no escopo
ecológico com o intuito de construir dados sobre o risco ambiental de diversos
estressores ambientais (Tabela 1).
61
*Sulfonato de alquilbenzeno linear
** Clomazone
*** Herbicida contendo Glifosato
**** Estrogênio 17α-etinilestradiol
62
metais pesados também são altamente recomendados, uma vez que condições
de criação insalubres ou incorretas podem induzir prejuízos à saúde dos
animais o que poderia influenciar nos resultados dos experimentos científicos
(BROWNE et al., 2007; NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1974; SMITH;
STOSKOPF, 2007). Condições de transporte que reduzam o estresse e a
orientação em relação à correta inserção destes animais no período de
aclimatação (como a lenta e controlada substituição da água usada no
transporte pela água que será utilizada no acondicionamento em laboratório)
também garantiriam a qualidade das rãs-touro cogitada à utilização por grupos
de ensino e pesquisa (NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 1974).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ranicultura é uma atividade que possui grandes potencialidades para
crescer dentro do agronegócio brasileiro. No entanto, diversas dificuldades vêm
retardando o seu desenvolvimento dentro da cultura nacional. Além dos
63
desafios econômicos relatados neste capítulo, a falta de incentivos
governamentais e privados, a ausência de uma regulamentação adequada e o
diálogo limitado entre as instituições de pesquisa e os produtores somente
criam barreiras para que esta atividade possa ser alavancada dentro da
aquicultura. Além disso, é preciso ampliar as fontes de acesso ao
conhecimento para os produtores, especialmente no que diz respeito às
pesquisas sobre as enfermidades dos anfíbios juntamente aos métodos de
prevenção e tratamento adequado dos animais. Dessa forma, reforçamos a
necessidade de uma ação integrada entre as diversas esferas nacionais a fim
de proporcionar melhores perspectivas para a ranicultura brasileira.
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do Instituto de Pesca, v. 43, n. 1, p. 112–123, 2017.
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York, 2001.
75
“GRUPO DE LIMPEZA”: SUBSÍDIOS PARA
O CULTIVO DE GASTRÓPODES
MARINHOS VISANDO AQUARIOFILIA
SUSTENTÁVEL
1
Doutora em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Professora Associada da
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG); 2Mestre em Aquicultura e Recursos
Pesqueiro pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); 3Biológa pela UEPG; 4Mestre
em Aquicultura e Recursos Pesqueiro pela UFSC. Doutorando do Programa de Pós-graduação
em Genética Evolutiva e Biologia Molecular da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
INTRODUÇÃO
A classe Gastropoda, ocupa uma maior diversidade de espécies e é a
única que ocupa o ambiente terrestre, apresentando uma grande variação
morfológica, fisiológica e ecológica (SCHULTE- OEHLMANNHULTE-
OEHLMANN et al., 1995; BRUSCA; BRUSCA, 2007). Consequentemente
devido a essas características, possuem diversas espécies com potencial
econômico, sendo vários grupos comercializados como invertebrados
ornamentais (GURJÃO, 2016; RAVINESH et al., 2018), utilizados pelo homem
como adornos, zooartesanatos e aquariofilia. A aquariofilia pode ser definida
como a prática da manutenção de peixes, plantas e invertebrados aquáticos
em aquários com fins científicos ou ornamentais, sendo uma atividade distinta
76
da aquacultura por não haver relação com a produção como alimento
(GURJÃO, 2016).
Porém, registros históricos indicam que o comércio de grupos
ornamentais se deu na década de 30 no Sri Lanka, com peixes marinhos e
posteriormente foi expandido com o início das exportações aéreas na década
de 50 (WOOD, 2001). Já em 2000, o Brasil era considerado um importante
abastecedor do mercado mundial de peixes marinhos ornamentais (WODD,
2001; BRUCKNER, 2005; NOTTINGHAM et al., 2005), porém com capturas na
natureza, que poderia acarretar um problema na capacidade de exploração dos
estoques naturais o que difere dos peixes de água doce, onde a maior parte da
produção é oriunda de cativeiro (CHAPMAN et al., 1997; GASPARINI et al.,
2005). Apesar do conhecimento quanto aos grupos de peixes ornamentais
utilizados no aquariofilismo, existem poucos dados efetivos em relação à
captura de invertebrados marinhos, em especial para os gastrópodes marinhos.
Não existe legislação específica para remoção ambiental de
invertebrados marinhos para o comércio ornamental (BRASIL, 2003). Porém,
segundo Wood (2001) os impactos da extração ornamental variam entre as
espécies, e a exploração excessiva pode prejudicar a conservação dos
organismos e seu habitat. Olivotto et al. (2011) enfatizam que o cultivo de
moluscos deve ser desenvolvido de forma a reduzir os impactos negativos da
exploração. Além disso, é necessário aumentar as pesquisas para o
conhecimento biológico dos invertebrados marinhos, a fim de estimar o total
permitido de capturas e apoiar o desenvolvimento da aquicultura das espécies
com potencial de produção. Um exemplo ocorre com a espécie Agathistoma
viridulum (Gmelin, 1791), como relatado por Silva (2014) onde a seleção de
classes de tamanhos maiores para venda pode alterar a proporção sexual da
espécie, já que existe uma diferença entre o tamanho das conchas entre
machos e fêmeas. Os maiores indivíduos atingem um valor mais alto no
mercado (SILVA, 2014). Ravinesh et al. (2015), discutem estudos sobre a
comercialização sustentável de vinte e quatro espécies de moluscos na Índia,
sendo a maioria coletado no ambiente, similar a A. viridulum no Brasil.
Carvalho (2020) relata que ambientes como costão rochoso, poça de maré,
praia e mangue explorados com coletores ou mergulho livre com captura
manual de vários invertebrados, entre eles destaca-se os gastrópodes
77
intitulados como ―grupo de limpeza‖. Decorrente a isto, neste capítulo,
realizaremos uma breve divulgação sobre a biologia das referidas espécies e a
lacuna do conhecimento relacionada a produção das principais espécies
comercializadas.
DESENVOLVIMENTO
Gastrópodes marinhos geralmente são utilizados na ornamentação e
como ―grupos de limpeza‖, responsáveis por controlar a presença de alguns
organismos incrustantes e algas em aquários (GURJÃO; LOTUFO, 2018).
Dentre estes moluscos marinhos comercializados em lojas de aquário,
destacam-se as quatro espécies: Vitta virginea (Linnaeus, 1758), Agathistoma
viridulum, Astralium latispina (Philippi, 1844) e Cerithium atratum (Born, 1778),
pertencentes às famílias Neritidae, Tegulidae, Turbinidae e Cerithiidae,
respectivamente.
Vitta virginea
A espécie V. virginea (=Neritina virginia) é conhecida como ―neritine
snails” pelos aquariofilistas, encontrada desde o estado norte do Pará até o
estado sul de Santa Catarina (MATTHEWS-CASCON et al., 1990; RIOS,
2009), apresenta um tamanho entre 1 a 5 cm, espira baixa e com padrões e
cores variáveis na concha e com opérculo (FARIAS; ROCHA-BARREIRA,
2007; ABSHER et al., 2020) (Figura 01). São dióicas, com fecundação interna.
Após a fecundação a fêmea deposita seus ovos no interior de uma cápsula
rígida em substrato consolidado (INOUE et al., 2018)
78
Foto: Patricia Akemi Inoue (esquerda) e Walter
Ishikawa (direita).
Agathistoma viridulum
A espécie A. viridulum (=Tegula viridula) conhecida popularmente como
caracol turbo e ―turbo snails” pelos aquariofilistas, pode ser encontrada do
Ceará a Santa Catarina, em substratos consolidados da zona entremarés
(MATTHEWS-CASCON; ROCHA-BARREIRA, 2006; RIOS, 2009; SILVA,
2014). Apresenta uma concha globosa, de coloração verde com manchas
marrom ou brancas e parte interna da concha nacarada e tamanho variando de
1 a 5 cm (ABSHER et al., 2020) (Figura 02). Estudos sobre a reprodução são
escassos, porém sabe-se que pode existir um dimorfismo sexual em relação ao
tamanho dos indivíduos (SILVA, 2014).
79
Fotos: Ksenia Skorupa Ribeiro dos Santos (esquerda) e Matias Ilhabela (direita).
Astralium latispina
A espécie A. latispina (=Astrea latispina) conhecida como ―turban snails‖
pelos aquariofilistas, ocorre do Ceará a Santa Catarina, na região entremares.
Apresenta uma concha cônica, de coloração marrom ou esverdeada, com a
parte interna da concha fortemente nacarada, opérculo calcário e com tamanho
em torno de 5 cm (RIOS, 2009) (Figura 03).
Cerithium atratum
A espécie C. atratum conhecida como ―nishi snails‖ pelos aquariofilistas,
ocorre do Maranhão a Santa Catarina. Apresenta uma concha turriforme de
espiral alta e alongada com linhas espirais com nódulos, ápice agudo e
opérculo, com tamanho em torno de 5 cm e coloração azinzentada. Vivem em
substrato areno-lodoso (ABSHER et al., 2020) (Figura 04). A desova ocorre em
substratos na forma de cordões espiralados (RIOS, 2009).
80
Figura 04. Cerithium atratum (Born, 1778).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em relação a comercialização de espécies utilizadas no aquariofilismo, o
Brasil se destaca principalmente em relação a sua diversidade, tendo peixes
ornamentais como principal foco de estudo. Porém, a escassez de dados sobre
a totalidade de moluscos e outros invertebrados capturados na natureza são
preocupantes, já que muitas espécies estão incluídas na lista brasileira de
espécies ameaçadas, cujo status é desconhecido. Portanto, o desenvolvimento
de planos de manejo, técnicas de reprodução em cativeiro e uma legislação
direcionada a invertebrados marinhos podem garantir um incremento
sustentável da aquariofilia ornamental.
81
REFERÊNCIAS
82
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Conservation Issues and Management Strategies, Marine Conservation
Society, Ross-on-Wye, 56pp.
83
ORGANISMOS ASSOCIADOS ÀS OSTRAS
NATIVAS Crassostrea spp. CULTIVADAS
NO LITORAL SUL POTIGUAR, BRASIL
INTRODUÇÃO
O cultivo de ostras constitui uma alternativa para o aumento da renda
para diversas comunidades. No Brasil esta atividade é desenvolvida,
principalmente, nas regiões Sul e Sudeste. O estado de Santa Catarina é o
84
maior produtor nacional de moluscos, alcançando quase 14 milhões de
toneladas em 2020 (IBGE, 2021), por apresentar condições ambientais e
geográficas que favorecem o cultivo da ostra do Pacífico Crassostrea gigas, a
principal espécie cultivada no país. No Nordeste o estado do Rio Grande do
Norte se destaca na produção de moluscos, tendo como representante a ostra
nativa Crassostrea spp. (FAO, 2010).
Em cultivos de ostras do mangue, crescimento e mortalidade são fatores
que afetam a produtividade (NASCIMENTO e PEREIRA, 2004), entretanto
durante o cultivo, alguns fatores podem interferir e contribuir para a queda na
produção. Um deles é a presença de organismos associados ao cultivo
(também conhecidos como biofouling) que habitam o sistema de cultivo e
alojam-se na superfície da concha e estruturas de engorda, competindo por
espaço e alimento com as ostras.
A presença do biofouling pode afetar negativamente a malacocultura,
diminuindo o desempenho zootécnico e sobrevivência das ostras. Além disso,
pode comprometer as estruturas de cultivo, devido ao crescente aumento de
peso total do sistema (RAMSAY et al., 2008). O processo de remoção destes
organismos, implica em desvantagens, como o aumento do estresse nos
animais, dificuldades no manejo e aumento dos custos de produção (ROMA et
al., 2009).
Conhecer as espécies que compõem o biofouling em um sistema de
cultivo de ostras é crucial para o seu sucesso. Ao conhecer as espécies que
competem diretamente com as ostras, podemos traçar estratégias específicas
para combatê-las, maximizando a eficiência do sistema. Deste modo, o objetivo
deste estudo foi identificar os principais organismos associados e determinar o
padrão de incrustação por outros moluscos na concha da ostra nativa
Crassostrea spp.
DESENVOLVIMENTO
Metodologia
Neste estudo foram utilizados exemplares da ostra Crassostrea spp.,
cultivada em viveiro, numa fazenda aquícola estuarina situada no município de
Tibau do Sul (6º 11‘ 15‘‘ S e 35º 03‘ 45‘‘ W), litoral sul do estado do Rio Grande
85
do Norte, região Nordeste do Brasil (Figura 1). O sistema de cultivo utilizado foi
do tipo suspenso, com as ostras cultivadas em travesseiros de engorda, com
dimensões de 99 x 50 cm e fabricados com polietileno, os quais eram fixados
numa linha principal (long-line) e flutuavam com o auxílio de bóias. Como as
sementes eram coletadas do estuário e não foi possível identificar
detalhadamente os organismos amostrados, eles foram denominados de
Crassostrea spp., devido a existência de mais de uma espécie de ostra nativa
com ocorrência no RN.
86
concha foi dividida em quatro regiões (Figura 2) (A = dorsal anterior; B = dorsal
posterior; C = ventral anterior e D = ventral posterior) e o número de indivíduos
incrustados em cada região foi contabilizado. A frequência de ocorrência de
moluscos nas valvas da ostra, foi verificada utilizado o teste do Qui-quadrado
(χ2) e a correlação linear de Pearson foi aplicada para verificar a relação entre
a altura da concha e altura dos moluscos incrustantes. O processamento das
análises foi realizado utilizando o Software R, Versão 2.10.1. (R
DEVELOPMENT CORE TEAM, 2008).
Figura 2. Valores médios de temperatura e salinidade no viveiro de cultivo de
ostras ao longo do período amostral no ano de 2013.
Resultados
A temperatura média±desvio padrão da água do viveiro no período de
coleta variou de 27,44±1,04 °C a 30,24±2,91 °C, para a salinidade a
média±desvio padrão variou de 19,71 ±0,69 a 47,29 ±2,19 (Figura 3). A
pluviosidade variou de 15 mm a 253 mm (Figura 4), sendo julho, o mês com
maior acúmulo de precipitação.
87
Figura 3. Valores médios de temperatura e salinidade no viveiro de cultivo de
ostras ao longo do período amostral no ano de 2013.
60
50
40
Temperatura
30 (°C)
Salinidade
20
10
0
Janeiro Abril Maio Julho
300
Pluviosidade (mm)
250
200
150
100
50
0
Janeiro Abril Maio Julho
Organismos incrustantes
Foram identificadas 11 espécies de invertebrados que se encontravam
distribuídos em quatro táxons (Tabela 1). O táxon que apresentou maior
riqueza de espécies foi o Crustacea, seguido de Mollusca, Annelida e Porifera.
88
Amphipoda
Mytella strigata
Mytilidae
Mollusca Bivalvia Brachidontes cf. exustus
Dreissenidae Mytilopsis cf. sallei
Sabellidae Morfotipo 1
Polychaeta
Annelida Eunicidae Marphysa sp.
Spionidae Polydora sp.
Porifera Demospongiae Clionidae Cliona sp.
89
Figura 4. Percentual de incrustação por região (A, B, C e D) nas valvas direita
e esquerda da concha de Crassostrea spp.
45%
40%
Percentual de incrustação
35%
30%
25%
20% Valva direita
15% Valva esquerda
10%
5%
0%
A B C D
Região da valva
Discussão
As espécies do gênero Crassostrea são consideradas eurialinas e
euritérmicas (GALTSOFF, 1964). Em nosso estudo observamos maior
temperatura média no mês de abril (30,24±2,91°C) e maior salinidade média no
mês de janeiro (47,29 ±2,19). O decréscimo dos parâmetros no mês de julho
coincide com o acúmulo de precipitação neste mês (253 mm). Em cultivo na
costa da África, verificou-se que ostras do mangue se desenvolvem bem em
variações de 23 °C a 31 °C (ANSA e BASHIR, 2007), todavia um aumento da
temperatura da água e diminuição da salinidade influencia no desenvolvimento
do ciclo reprodutivo da espécie (GOMES et al., 2014), logo, esses parâmetros
podem influenciar a presença de organismos associados ao cultivo a depender
da biologia de cada espécie.
A característica do ambiente a qual foi realizado as coletas como sendo
uma região estuarina, áreas ricas em alimento, pode ser um critério importante
para a frequência de diversas espécies aqui observadas dentro das estruturas
90
de cultivo. ALVES (2010) na observação e identificação do biofouling na ostra
perlífera Pteria hirundo em cultivos de lanternas em Santa Catarina, propõe
que a diversidade encontrada pode ser favorecida pela localização da área
estudada. Neste estudo, o material foi coletado somente num viveiro, onde o
microambiente formado nas estruturas possui características semelhantes.
Acreditamos que os organismos aqui identificados podem associar-se ao
cultivo devido à constância de características propícias para reprodução e
alimentação. Segundo Alves (2010), a ocorrência de siris, caranguejos e cracas
nas estruturas de cultivo pode ser um indício de que esses entram para
realização de atividades vitais. O autor ressalta ainda que as elevações de
temperatura também proporcionem o aumento da Cliona sp., a qual foi
observada em nosso estudo durante todo o período amostral, podendo este
parâmetro, ser um fator de impacto, portanto, sendo essa espécie perfurante
em substrato calcário, a concha da ostra fica fragilizada e quebradiça. Já a
presença de poliquetas perfuradores, pode somente ser considerada uma
ameaça quando instalada na fase inicial do cultivo devido às estruturas
formadas comprometerem o fechamento da valva (MACIEL et al., 2010), assim
medidas para mitigar esses organismos principalmente nas fases de semente e
juvenil devem ser adotadas. Já a presença de algas impregnadas nos
travesseiros de cultivo pode ter um efeito menos danoso, todavia um acúmulo
destas pode tornar o petrecho mais pesado e dificultar a abertura das valvas
para alimentação.
As espécies de moluscos bivalves observados em nosso estudo são
peculiares pela formação de bancos naturais, fixando-se em qualquer substrato
duro com o auxílio do bisso. A presença da espécie exótica do gênero
Mytilopsis no cultivo pode ter sido decorrente após o primeiro registro na região
portuária de Recife, Pernambuco relatada por Souza et al., (2005) que
posteriormente foi confirmada por Fernandes et al. como Mytilopsis cf. sallei,
embora M. leucophaeta exista no Brasil, sua distribuição estava restrita ao Rio
de Janeiro (FERNANDES et al., 2018). Quanto à preferência da fixação nas
valvas direita e esquerda da concha, bem como nas regiões incrustadas
verificou-se não haver um padrão de incrustação, isso pode ser explicado
devido a fixação ocorrer em superfícies que melhor se adaptem.
91
BUENO et al. (2010) relatam que taxas menores de incrustação podem
acontecer devido a movimentação da água do mar, promovendo efeito de
limpeza nas estruturas de cultivo da vieira Nodipecten nodosus. Em viveiros de
cultivo, tal fator é pouco influente, visto que se trata de um ambiente confinado
e de menores dimensões, portanto, os fatores físicos naturais que podem
implicar na menor ocorrência dos organismos associados nesses ambientes,
são o vento e as variações de maré.
Muito embora não haja um padrão na incrustação, a não remoção
desses organismos podem ocasionar em perdas de estruturas e o valor de
mercado do produto final quando comercializado in natura. Além disso, pode
haver competição por alimento, contribuindo para a mortalidade ou reduzindo a
taxa de crescimento (LACOSTE et al., 2014).
CONCLUSÃO
Os resultados apresentados neste trabalho são importantes para a
aquicultura, pois podem auxiliar na busca de técnicas de manejo adequadas,
de baixo custo e alta eficiência para combater os organismos aqui identificados
no cultivo da ostra Crassostrea spp.
Não houve relação entre o tamanho do molusco incrustante e a ostra
nem preferência de fixação destes na valva e regiões da concha. A limpeza
periódica das ostras e estruturas de cultivo é indicada para remoção dos
organismos. Sugere-se que sejam realizados estudos sobre a bioecologia das
espécies aqui apresentadas e seu impacto sobre as populações de ostras
cultivadas nesses ambientes.
REFERÊNCIAS
92
ANSA, E.J.; BASHIR, R.M. 2007 Fishery culture potentials of the mangrove
oysters (Crassostrea gasar) in Nigeria. Research Journal of Biological
Sciences, 2: 392-394.
GOMES, C.H.A.M.; Silva, F.C.; Lopes, G.R.; Melo, C.M.R. 2014 The
reproductive cycle of the oyster Crassostrea gasar. Brazilian Journal of
Biology, 74 (4): 967-976.
93
RAMSAY, A.; DAVIDSON, J.; LANDRY, T.; ARSENAULT, G. 2008 Process of
invasiveness among exotic tunicates in Prince Edward Island, Canada.
Biological Invasions, 10: 1311-1316.
94
DESENVOLVIMENTO E ENTRAVES ATUAIS
DA CARCINICULTURA BRASILEIRA
INTRODUÇÃO
A atividade aquícola, segundo a FAO (2020), é a que mais cresce na
produção de animais destinados para o consumo humano no mundo,
apresentando uma elevada tendência de crescimento, com uma estimativa de
produção de 195,9 milhões de toneladas para 2025. Dos grupos de animais
produzidos na aquicultura, destaca-se a produção de crustáceos que em 2016
foi de 7,9 milhões de toneladas, ficando em 3º lugar no ranking da produção
aquícola, com 64 espécies diferentes (FAO, 2018; TACON, 2020).
95
A carcinicultura é a atividade de maior expansão em termos
volumétricos, devido à intensificação dos cultivos nos últimos anos. Essa
atividade produtiva teve início no Brasil na década de 70, com tecnologias
importadas, obtendo grandes transformações no período de 1978, ano de início
da produção comercial, até o ano de 1996. O cultivo do camarão branco-do-
pacífico (Litopenaeus vannamei) e o desenvolvimento de tecnologias para o
cultivo dessa espécie geraram grandes transformações tecnológicas no setor e,
posteriormente, com os avanços no ano de 2000, essa atividade atingiu o auge
na produtividade (NATORI et al., 2011). Atualmente, a espécie de camarão
marinho Litopenaeus vannamei domina a carcinicultura mundial, somando 5,51
milhões de toneladas, o que equivale a 65% do total de crustáceos produzidos
em ordem global, equacionado em US$ 34,2 bilhões de dólares (FAO, 2018;
TACON, 2020).
No Brasil, diversos estados produzem camarão com destaque para a
espécie Litopenaeus vannamei com sistemas de cultivo em água de baixa ou
alta salinidade. As regiões com menores produções são as regiões Sul e
Sudeste. No Norte do país, o maior representante é o estado do Pará, que
produziu 105 toneladas em 2019, tendo ainda como atividade dominante a
piscicultura (ABCC, 2020).
A maior região produtora de camarão no Brasil é a região Nordeste,
tendo como destaque o estado do Ceará e do Rio Grande do Norte, que
somados, são responsáveis por mais da metade da produção nacional (ABCC,
2020). Com uma tendência de crescimento controlada, a carcinicultura
brasileira tem uma perspectiva de aumento na produção. Porém, para que esse
crescimento aconteça, é necessário incentivo governamental, financeiro e um
melhor entendimento da atividade em diversos segmentos da produção.
Apesar dos dados e perspectivas positivas de crescimento, é necessário
realizar uma análise do contexto geral. A carcinicultura brasileira cresceu na
produção de camarão marinho cultivado, entre 1997 (3.600 t) e 2003 (90.190 t),
com números bastante competitivos. Entretanto, ao longo dos últimos anos,
perdeu bastante mercado e oportunidades (ROCHA, 2021).
O volume produtivo de camarões começou a reduzir a partir de 2004
devido ao Vírus da Mionecrose Infecciosa (IMNV). A infecção desse patógeno
sempre está relacionada a distúrbios ambientais, associados às excessivas
96
chuvas e inundações, responsáveis pelas contaminações do cultivo pelo
carreamento de resíduos de agrotóxicos de lavouras, esgoto doméstico e
industrial (CARVALHO et al., 2017).
Entre os anos de 2014 e 2018, a atividade sofreu com o impacto de
enfermidades virais e bacterianas sobre a produção. Assim, houve a
necessidade de priorização dos investimentos para a melhoria da genética dos
plantéis e das pós-larvas, seguida por um manejo que auxilie na manutenção
da saúde do camarão cultivado. Também foi necessário a realização de
pesquisa para a utilização de ingredientes alternativos à farinha de peixes,
associado a plena adoção das boas práticas e medidas de biossegurança.
Apesar da recente crise econômica gerada pela pandemia da Covid-19 e
da falta de apoio financeiro governamental ao setor produtivo (micro, pequeno
e médio produtor), houve um crescimento de 24,4% na produção em 2020
comparado ao ano anterior. Existe uma crise econômica e financeira no setor,
devido à alta de insumos ocasionada pela valorização do dólar. Isto eleva os
custos do produtor e o torna refém de uma cadeia intermediária. Esta, por sua
vez, aplica uma política de baixos preços, enquanto no mercado internacional o
produto é cada vez mais valorizado (ROCHA, 2021).
A aquicultura de um modo geral vem passando por transformações, que
impactam diretamente a produção mundial de alimentos (FAO, 2020). O
desenvolvimento de inovações tecnológicas em instituições públicas e privadas
podem possibilitar novas aplicações que visem cultivos mais sustentáveis,
economicamente viáveis e, como consequência positiva, principalmente com
índices zootécnicos melhores. A maturidade técnica da carcinicultura nacional
vêm se desenvolvendo através da oferta de produtos, insumos e novas
tecnologias. Isto exige dos carcinicultores atender a demanda de mercado e a
se preocuparem em produzir com profissionalismo e segurança sanitária. O
surgimento de empresas de tecnologia no formato startup que queiram resolver
problemas do setor produtivo é uma tendência positiva. Alguns destes serviços
são: consultoria especializada, softwares para controle da alimentação dos
animais e venda de insumos e rações, desenvolvimento de estruturas para
sistemas intermediários de produção, tecnologias para melhorar o
beneficiamento, softwares para a venda de pós-larvas, insumos para controle
97
de qualidade de água, equipamentos para oxigenação da água, entre outros
serviços e produtos.
DESENVOLVIMENTO
O clima do Brasil, a grande disponibilidade de espaço territorial e de
insumos, e a demanda do mercado interno e externo são importantes fatores
que contribuem para o crescimento da carcinicultura no país. Ao avaliar o
desenvolvimento da atividade ao longo dos anos no Brasil, é possível identificar
três segmentos importantes para o investimento em inovações tecnológicas: a
larvicultura, com objetivo de produzir pós-larvas de qualidade, as fazendas de
cultivo dos camarões para engorda e o setor de beneficiamento.
O primeiro segmento que mantém a atividade carcinícola é a larvicultura.
É um dos principais elos para a expansão do cultivo, viabilizando a produção
de pós-larvas de qualidade e em quantidade capaz de atender a demanda do
setor produtivo. Uma tendência para a aclimatação e melhoramento na
produtividade dos sistemas de cultivo é a utilização de berçários intensivos,
com o intuito de desenvolver pós-larvas maiores e mais resistentes,
promovendo a redução do ciclo de engorda e favorecendo a existência de mais
ciclos anuais de cultivo (ABCC, 2018).
Uma grande necessidade na atividade de larvicultura é a melhoria nas
técnicas de reprodução e cultivo de pós-larvas (pLs) e a busca de variedades
de rápido crescimento e mais resistentes a doenças. A necessidade de
importação de material genético para o cruzamento com o material genético
existente no Brasil proporciona linhagens com uma melhor diversidade,
auxiliando no enfrentamento das enfermidades. O melhoramento genético de
reprodutores é primordial para a continuidade das demais etapas do cultivo,
pois as enfermidades causam elevadas mortalidades e interferem no processo
produtivo. Porém, o investimento em melhoramento genético deve estar
atrelado a uma boa nutrição, manejo e instalações adequadas (TEIXEIRA et
al., 2018).
As pós-larvas melhoradas geneticamente recebem as siglas SPR
(resistentes a patógenos específicos), SPF (livre de patógenos específicos),
SPT (tolerantes a patógenos específicos), APE (pós-larvas expostas a todos os
patógenos envolvidos) HIGH HEATH (pós-larvas cultivadas em alto padrão de
98
cultivo) (ABCC, 2021). As pLs do tipo SPR e SPF já existiram no Brasil e
atualmente são utilizadas pLs do tipo APE, cujos reprodutores são expostos a
patógenos. É fundamental a garantia de sanidade das pós-larvas quanto à
inexistência de patógenos que causam a síndrome da mancha branca (WSSV),
síndrome da Mionecrose infecciosa (IMNV), entre outras doenças notificadas
pela Organização Mundial de Saúde Animal.
Devido às perdas relacionadas às enfermidades na carcinicultura, o
investimento em sistemas de cultivo mais biosseguros é uma tendência que
vem sendo adotada mundialmente. No Brasil, ainda é uma tendência a se
buscar, pois predominam sistemas de cultivo extensivo, onde a produção é
realizada em viveiros abertos com grandes extensões, dificultando o manejo e
tornando o ambiente de cultivo mais instável e inseguro. Uma tendência para a
manutenção desses sistemas e o convívio com as enfermidades é a redução
das densidades de estocagem nos viveiros e a boa nutrição dos animais. Esta
redução em sistemas de engorda consiste em uma boa prática de manejo, pois
permite o desenvolvimento de um ambiente mais favorável para o cultivo dos
animais em relação às pressões ambientais ao longo do regime de engorda,
permitindo uma melhor convivência com as enfermidades (ABCC, 2021).
Outros pontos relacionados a manejos mais seguros, consistem no
cultivo de camarões em regiões mais afastadas do litoral com a utilização de
águas subterrâneas devidamente salinizadas e livre de patógenos (FONSECA
et al., 2009). Porém, alguns aspectos devem ser priorizados nesse tipo de
cultivo, como a manutenção do balanço iônico (Ca2+, Mg2+, K+ e Na+), cuidados
com as concentrações de nitrito, a utilização de rações específicas com
suplementação de sais minerais e o uso de revestimentos no fundo dos
viveiros para reduzir o contato da água com o solo (DAVIS et al., 2004; ROY et
al., 2007).
A biossegurança e o uso eficiente das Boas Práticas de Manejo (BPMs)
necessitam do envolvimento e da conscientização dos produtores sobre sua
importância, de tal maneira que, conscientemente, assumam o compromisso
de adotar regularmente essas práticas e disseminá-las para outros produtores,
porém anteriormente tendo presente, a segurança de seus próprios
empreendimentos (ABCC, 2021).
99
Um outro segmento que tem grande desenvolvimento na atividade
carcinícola é a nutrição animal. Uma mudança que ocorrerá no Brasil é a maior
adoção de cultivos em múltiplas fases, pois reduz a dependência e melhora o
aproveitamento das rações a partir da redução de desperdícios. As rações
utilizadas para camarões são produzidas especificamente para cada fase do
ciclo de produção sendo essas rações de maturação, larvais, iniciais, engorda,
funcionais e de terminação com rações muito similares utilizadas em todo o
mundo. Para os reprodutores são utilizados alimentos frescos que geram riscos
de infecções por patógenos, sendo necessário o desenvolvimento de mais
pesquisas para essa fase. As rações de engorda que consistem em uma
grande parte dos custos de produção, em média 70%, e são formuladas
utilizando subprodutos tendo como formulação os níveis proteicos variando
entre 30 e 38% (QIU; DAVIS, 2018). Essas proteínas são oriundas de produtos
vegetais (37,41%), animais terrestres (5%) e de animais marinhos (15%), boa
parte importados, gerando custos no preço das rações (TACON, 2020).
Portanto, há necessidade de buscar fontes de proteínas nacionais, mais
baratas ou alternativas com boa digestibilidade.
O mercado brasileiro oferece uma linha de produtos bem diferenciada,
mantendo uma boa relação custo-benefício, em preço e qualidade de conteúdo
nutricional. Esta variedade visa atender as diferentes fases e sistemas
produtivos em operação no país, abrangendo do sistema extensivo ao
superintensivo, e da baixa a alta salinidade (NUNES et al., 2021). Porém, muito
se acredita que a escolha de uma ração nutricionalmente completa está
apenas relacionado ao teor de proteínas brutas. Mas, o que precisa de fato ser
evidenciado, é a qualidade e quantidade dos nutrientes essenciais (proteínas,
lipídeos, minerais e vitaminas), pois a falta desses nutrientes causa deficiência
nutricional, ocasionando maiores mortalidades nos sistemas de produção
(NUNES et al., 2021).
Para a escolha das rações, faz-se necessário uma análise da sua
constituição nutricional, sendo necessário levar em consideração outros fatores
como o estágio de crescimento, a intensificação do cultivo, as metas de
produção e a digestibilidade dos nutrientes utilizados. Assim, a avaliação da
escolha do melhor alimento está diretamente relacionada ao modo de produção
do animal. Por exemplo, rações com menor custo de formulação apresentam
100
um menor valor nutricional e menor digestibilidade de forma a justificar seu
valor de mercado. Consequentemente, possuem maior potencial poluidor nos
viveiros e resultam em um menor desempenho zootécnico, pois são menos
aproveitadas. Essas situações podem não representar um problema em
sistemas de cultivo menos intensivos em que o aporte de material orgânico
(excretas dos camarões, resíduos de ração) é baixo, e, portanto,
remineralizado (NUNES et al., 2021). Porém, em sistemas intensivos em que
há um aumento significativo dessa matéria orgânica, o uso dessas rações de
baixa qualidade trazem prejuízos ao desempenho zootécnico dos animais
cultivados e acarretam uma piora na qualidade da água do cultivo.
Uma tendência no mercado de carcinicultura, devido às enfermidades, é
o uso de aditivos alimentares. A utilização desse tipo de produto tem como
objetivo a melhoria das dietas e oferecem, como efeito secundário, a melhoria
no sistema imunológico dos animais através da colonização benéfica do trato
intestinal por bactérias. Isto fortalece diretamente o sistema imune, bem como
gera efeitos de ciclagem de nutrientes no ambiente de cultivo através da
degradação da matéria orgânica. No mercado nacional é possível encontrar pré
e probióticos, bem como simbióticos e biorremediadores (ABCC, 2021). Porém,
para a utilização desse tipo de produto é necessário conhecimento e seguir
protocolos específicos. A utilização correta desse tipo de produto ajuda a evitar
o gasto energético fisiológico nos camarões.
Em relação a mecanização dos sistemas de cultivo, o uso de
alimentadores, que analisam variáveis para controlar a quantidade de alimento
ofertado, promete ser uma boa estratégia para reduzir custos e melhorar o
aproveitamento das rações. Esse tipo de alimentador possui sondas acopladas
a computadores que, a partir de variações nos parâmetros físico-químicos da
água, controlam a oferta diária de ração. Porém, como medidas de boas
práticas de manejo, além do uso de alimentadores, é fundamental a
determinação da biomassa estocada, o uso de bandejas alimentares, a
realização de biometrias semanais, a inspeção de mortalidade dos animais e o
uso de tabelas de alimentação para controle adequado da oferta de ração
(ABCC, 2021).
Uma das estratégias complementares de caráter nutricional é o estímulo
da produção de alimento vivo em viveiros de camarão, através do uso de
101
subprodutos fermentados. O material fermentado utilizado para as fertilizações,
além de favorecer um ganho nutricional aos animais cultivados, através do
estímulo a produtividade natural, também atuam na ciclagem de nutrientes. O
alimento natural, em sistemas de cultivos semi-intensivos, auxilia na melhoria
do desempenho zootécnico dos organismos cultivados. Neste contexto,
estimular o desenvolvimento da comunidade planctônica no ambiente de cultivo
é tão importante quanto o uso de uma ração nutricionalmente completa e
balanceada (NUNES, 2001).
Outro setor da carcinicultura em regime de expansão é o setor de
beneficiamento, pois grande parte dos produtores de pequeno e médio porte,
comercializam o camarão in natura para indústrias de processamento,
intermediários e distribuidores. Para que se possa comercializar o camarão
proveniente da carcinicultura em boas condições higiênicas e com alta
qualidade, faz-se necessário a aplicação de técnicas de beneficiamento, já que
a própria legislação exige o uso do frio como recurso mínimo para a venda do
produto. O setor de processamento necessita de investimento financeiro e
tecnológico e ao se fazer o processamento, está sendo agregado valor ao
produto que deixa de ser uma matéria prima perecível e passa a ser um
produto com maior vida útil e com novas opções de consumo.
O controle de qualidade é um componente de extrema importância na
industrialização do camarão cultivado. Essas etapas iniciam com a aquisição
dos insumos que serão utilizados no processo produtivo, passando pela
Biossegurança e BPMs adotadas na fazenda e na unidade processadora, até o
produto final que chega ao consumidor. A sistematização do controle de
qualidade compreende na aplicação de normas e padrões que estão inseridos
nas Boas Práticas de Fabricação (BPF), Procedimentos Padrão de Higiene
Operacional (PPHO) e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle
(APPCC) e fazem parte do Programa de Autocontrole descrito no Ofício
Circular GAB/DIPOA n°25/09 (Brasil, 2009) que dividiu todos os requisitos em
18 elementos de inspeção.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
102
A cadeia produtiva de camarões, uma rica fonte de proteína animal, tem
como responsabilidades além da alimentação humana, o compromisso de
garantir o bem-estar animal em todo o seu processo produtivo, minimizando os
impactos sociais e ambientais decorrentes da atividade. A busca por minimizar
os entraves, por melhores resultados de conversão alimentar e menor custo
com rações vem incentivando o desenvolvimento de pesquisas com o intuito de
reduzir significativamente os níveis de inclusão de farinha de peixe em rações,
substituindo por fontes alternativas.
O desenvolvimento econômico, social e ambiental da carcinicultura
necessita de ações que melhorem o processo de produção e de ações que
envolvam os setores público e privado. Os problemas que afetam
principalmente os pequenos produtores, como a obtenção do licenciamento
ambiental e a concessão de linhas de crédito rural, podem ser facilitados
através de medidas adotadas pelo setor público permitindo que os pequenos
produtores iniciem suas atividades conforme as legislações vigentes e
suportem as crises econômicas e financeiras do setor.
É possível perceber o crescimento do setor e a incorporação de
tecnologias mais voltadas à realidade nacional. As pequenas empresas,
embora sejam maioria no Brasil, operam utilizando pacote tecnológico simples.
As principais inovações adotadas estão associadas a melhorias no controle e
nas práticas de manejo dos cultivos, melhorando as condições da água dos
viveiros, melhorias nas práticas do arraçoamento e no tipo de alimento
utilizado, preparo e manejo dos viveiros e cuidados sanitários. Os
equipamentos primordiais utilizados são aeradores, equipamentos para avaliar
a qualidade da água e principalmente bandejas fixas para alimentação.
REFERÊNCIAS
103
ABCC - Associação Brasileira de Criadores de Camarão. Produção Brasileira
de camarão marinho cultivado por estado (2015 a 2019). 2020. Disponível
em: https://abccam.com.br/wp-content/uploads/2020/10/Producao-de-Camarao-
2020.pdf. Acesso em: 17 set. 2021.
FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. The Stats
of World Fisheries and Aquaculture, 2018. Disponível em:
https://www.fao.org/documents/card/en/c/I9540EN/. Acesso em: 19 de set. de
2021.
FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. The Stats
of World Fisheries and Aquaculture, 2020. Disponível em:
https://www.fao.org/documents/card/en/c/ca9229en/. Acesso em: 20 de set. de
2021.
104
NUNES; A.J.P.; LEITE; J.S.; ALENCAR; R. Alternativas para Enfrentar o
Aumento no Preço da Ração como Resultado da Pandemia do Novo
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https://abccam.com.br/wp-content/uploads/2021/07/Revista-ABCC_Versao-
Online-21.07.pdf. Acesso em: 17 set. 2021.
ROY, L. A., DAVIS, D. A., SAOUD, I. P., AND HENRY, R. P. Effects of varying
levels of aqueous potassium and magnesium on survival, growth, and
respiration of the Pacific white shrimp, Litopenaeus vannamei, reared in low
salinity waters. Aquaculture, 262,.2:.461-469. 2007. Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S004484860600740X.
Acesso em: 17 set. 2021.
105
O CULTIVO DE PEQUENA ESCALA COMO
ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL PARA O
DESENVOLVIMENTO DA AQUICULTURA
NO BRASIL
INTRODUÇÃO
A discussão sobre o uso humano dos recursos naturais é urgente,
forçada pela intensidade e grau de interferência causada pelo ser humano na
natureza. Nota-se aumento na frequência e intensidade dos eventos climáticos
extremos, como secas devastadoras e incêndios provocados ou naturais,
enchentes, temperaturas de intensidade rara, todas indicativas das mudanças
climáticas globais (IPCC, 2013; IPCC, 2019; FAO, 2020; PERNET e
106
BROWMAN, 2021). Contudo, ao mesmo tempo em que vivenciamos a
destruição que causamos, vemos o aumento da população humana e a
consequente necessidade de aumento na produção de alimentos. Com quase
8 bilhões de pessoas ocupando o planeta, e perplexos com os enormes
desafios vivenciados com a pandemia de Covid19, a necessidade de se pensar
e agir em prol de saúde humana e de todos os seres vivos fica cada dia mais
evidente. Neste contexto emerge o conceito de "Saúde única" (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2017). O conceito, criado pela Organização
Mundial de Saúde das Nações Unidas, inicialmente se ocupa em zelar,
globalmente, pela segurança alimentar, pelo controle de zoonoses e no
combate da resistência a antibióticos. Contudo, especialmente no rastro de
devastação da pandemia do COVID19, nos parece que este conceito pode ser
ampliado e intensificado.
É evidente que o modelo atual de produção de proteína animal para a
espécie humana não atende aos critérios de sustentabilidade - propostos pelos
ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU (NAÇÕES UNIDAS,
2021). É necessário compreender que não será possível conciliar aumento no
consumo humano (pelo aumento populacional) com a redução na quantidade
de recursos naturais disponíveis (CASTELLO, 2010). Como exemplo mais
evidente deste dilema, temos o consumo de carne bovina. O rebanho bovino
brasileiro em 2020 era composto por mais de 218 milhões de cabeças,
registrando crescimento de 1,5% (CANAL RURAL, 2021). Sua contribuição em
gás de efeito estufa (metano, consequência da digestão ruminante) para a
atmosfera é em quantidade comparável à de toda a frota de veículos
automotores no Brasil (CANAL RURAL, 2018). Claramente, este volume de
consumo de carne bovina, seja doméstico ou de exportação, não é sustentável.
Embora seja sugerido que o manejo adequado da pastagem de bovinos pode
gerar prática com menor impacto ambiental (EMBRAPA, 2016), um volume tão
grande de bovinos desafia em muito as metas de sustentabilidade que devem
ser mantidas caso queiramos contribuir de fato para mitigar e reverter as
mudanças climáticas.
DESENVOLVIMENTO
107
A produção de proteína animal em terra passou pela transição da caça
para a agropecuária, em especial de bovinos e, hoje, o oceano é visto como a
fronteira para a produção de alimentos. Devido à sua disponibilidade hídrica,
extensa região costeira, clima favorável e biodiversidade, o Brasil é conhecido
por seu potencial promissor para o desenvolvimento do cultivo aquícola
(PEIXEBR, 2021). Contudo, a aquicultura, em particular a piscicultura, no
Brasil, é completamente dominada pela produção de tilápia, espécie exótica. A
produção de tilápia representa aproximadamente 60% da produção de peixe de
cultivo no país, tendo aumentado em 12,5% no ano de 2020, em plena
pandemia de Covid19, superando 486 mil toneladas produzidas (PEIXEBR,
2021). Por outro lado, a produção de peixes nativos caiu 3,2% em 2020, tendo
sido de > 278 mil toneladas em 2020 (PEIXEBR, 2021). Ainda assim,
considera-se que o Brasil tenha mais de 60 espécies nativas com potencial
para cultivo (ROUBACH et al., 2003), incluindo também crustáceos e moluscos.
A atividade da aquicultura, no Brasil e no mundo, pode ter escalas de
produção diferentes, assim como a pesca. Existem grandes produtores, em
escala industrial, e muitos pequenos produtores. Não apenas no Brasil, a
produção de pequena escala é na maior parte das vezes não "reportada",
assim como ocorre com a pesca. De forma esperada, a produção aquícola
conhecida no Brasil atualmente é majoritariamente de grande escala. Apesar
de ao longo da costa várias comunidades estarem envolvidas no extrativismo e
cultivo de espécies aquáticas, a informalidade desse setor não permite
quantificar sua real participação no consumo de pescado brasileiro.
108
que, nos locais onde ocorrem, os cultivos de pequena escala protegem as
populações naturais (como exemplificado por Brumbaugh et al., 2000),
contribuindo no suprimento da demanda do mercado local sem contribuir para
a sobrepesca. Incentivar sua implementação (especialmente) nos locais em
que os estoques pesqueiros estão em declínio é uma via prática e objetiva em
busca da conservação da biodiversidade costeira e ainda da segurança
alimentar de pescadores artesanais.
O sistema de cultivo em pequena escala vem sendo visto como
promissor na geração de renda, aumento da segurança alimentar, redução da
pobreza, desenvolvimento sócio-econômico e redução dos impactos
ambientais provenientes da aquicultura industrial (MOEHL, 2005; FAO, 2010;
HYUHA et al., 2011; EDWARDS, 2013a; SALAZAR et al., 2018). Além disso,
com o incentivo ao uso de espécies nativas, evita o escape de espécies
invasoras para o ambiente natural, escape este que causa inúmeros problemas
bem relatados pela comunidade científica (SILVA et al., 2016; KIRCHNER et
al., 2016; FREIRE e MARAFON, 2018; SALAZAR et al., 2018). Por tudo isso,
claramente o fortalecimento e popularização do cultivo de pequena escala pode
inclusive contribuir com o conceito de "Saúde Única" da ONU, tanto por causa
da segurança alimentar, quanto da preservação do ambiente e da
biodiversidade local.
109
econômicas e ambientais do continente asiático, possibilitaram uma extensa
gama de cultivos de pequena escala com suas especificidades locais
(EDWARDS, 2013b). A África e em especial a África subsaariana recebem
atenção especial em relação à demanda pelo desenvolvimento de aquicultura
de pequena escala com o objetivo principal de aumentar a segurança alimentar
em várias localidades (MOEHL, 2005). Dentre os países da América do Sul,
destaca-se o Chile que não só possui cultivos de pequena escala
estabelecidos, como também investe em tecnologia e inovação para os
mesmos (SALAZAR et al., 2018). Como se pode observar, o desenvolvimento
da aquicultura de pequena escala em diferentes regiões do mundo pode
auxiliar a cumprir vários objetivos relacionados à agenda 2030 que dizem
respeito a questões estreitamente ligadas à redução das desigualdades sociais
e conservação dos recursos naturais.
110
a piscicultura brasileira, tais como o mapará (Hypophthalmus marginatus),
sardinha-verdadeira (Sardinella brasiliensis), corvina (Micropogonias furnieri),
bonito-listrado (Katsuwonus pelamis), pescada-amarela (Cynoscion acoupa),
tainha (Mugil spp.), curimatã (Prochilodus spp.), piramutaba (Brachyplatystoma
spp.), pescada (Plagioscion spp.), jaraqui (Semaprochilodus spp.), pacu
(Myleus spp.), jundiá (Rhamdia quelen), pirarucu (Arapaima gigas), matrinchã
(Brycon amazonicus) e o lambari-do-rabo-amarelo (Astyanax lacustris)
(ALMEIDA et al., 2018; BRABO et al., 2016; BARONE et al., 2016;
ASSUNÇÃO, 2017; MEDEIROS, 2017). Dentre os peixes exóticos estão a
"campeã" tilápia (Oreochromis spp.), o bagre-americano (Ictalurus punctatus), o
truta arco-íris (Onchorhynchus mykiss) e o panga (Pangasius sp.), este último
introduzido recentemente (BRABO et al., 2016; PeixeBR, 2019). Estes dados e
estas espécies abrangem os ambientes marinhos e continentais ou dulcícolas.
A malacocultura no Brasil é substancialmente sustentada pelos cultivos
de bivalves (BARONE et al., 2016), sendo o estado de Santa Catarina o
principal produtor, responsável por cerca de 90% da malacocultura do país
(KIRCHNER et al., 2016). Os principais bivalves nativos cultivados são Perna
perna, Crassostrea gasar, C. rhizophorae e Nodipecten nodosus. Apesar disso,
a produção em maior escala é da ostra exótica C. gigas (ANDRADE, 2016;
BRABO et al., 2016; LEGAT, 2015; SOARES, 2015; ENES, 2017). Quanto à
carcinicultura, os camarões da Família Penaeidae são os crustáceos mais
produzidos no país (ver Madrigal, 2018). Dentre os principais decápodes
nativos cultivados estão o camarão-da-amazônia (Macrobrachium spp.),
camarão branco (Litopenaeus schmitti), camarão rosa (Farfantepenaeus
brasiliensis) e o camarão sete barbas (Xiphopenaeus kroyeri). Embora
tamanha diversidade de crustáceos nativos cultiváveis, a produção em grande
escala é invariavelmente a do exótico camarão-branco-do-pacífico
(Litopenaeus vannamei) (ENES, 2017; ALMEIDA et al., 2018; BARONE et al.,
2016; BRABO et al., 2016; SILVA et al., 2016; ASSUNÇÃO, 2017; FRANCHINI,
2019; MEDEIROS, 2017; MACHADO et al., 2018).
Como visto, apesar de muitas espécies nativas serem comercializadas e
outras apresentarem alto potencial para a aquicultura, os mais elevados
números de produção permanecem relacionados às espécies exóticas, como
as tilápias, o camarão-branco-do-pacífico e a ostra C. gigas (BRABO et al.,
111
2016; MACHADO et al., 2018). Um exemplo disso são os números de
produção de C. gigas e C. gasar em Santa Catarina e em São Paulo no ano de
2014: foram produzidas 3.670,36t da espécie exótica e 70,5t da espécie nativa
(LEGAT, 2015). Outro exemplo é visto na piscicultura: em 2018 o Brasil
produziu 400.280t de tilápia (55,4% da produção total), enquanto a produção
de peixes nativos (presentes em todo o país, com exceção do Ceará e Distrito
Federal) foi de 287.910t (39,84% da produção total). O Paraná,
especificamente, produziu 123.000t de tilápia e 3.400t de peixes nativos (Peixe
BR, 2019). O Paraná é o estado com maior produção de tilápia no Brasil (Peixe
BR, 2021).
Dentre os principais desafios que impedem um maior avanço no
desenvolvimento da aquicultura brasileira estão o pouco domínio da fisiologia e
da biologia reprodutiva das espécies nativas de interesse (BRUMBAUGH et al.,
2000); doenças parasitárias (DA COSTA et al., 2021); dificuldades no manejo
dos alevinos durante a transição da alimentação endógena para a exógena, o
que acaba envolvendo alto custo na produção de rações que comprometem a
qualidade da água (HYUHA et al., 2011; YAMAMOTO, 2013); falta de
comunicação entre pesquisadores, técnicos e os pescadores e comunidades
envolvidas com a prática, limitando o acesso à informação (MOEHL, 2005) e
pouco incentivo público para implementação e manutenção dos cultivos
(HYUHA et al., 2011).
112
para criação, transferência dos dados gerados nas instituições de pesquisa e
avaliação do mercado para aceitação dos produtos. Um primeiro passo para
superar esses desafios pode ser a identificação das áreas com maior potencial
(Moehl, 2005) e quais as espécies com melhores perspectivas de sucesso para
que pacotes tecnológicos sejam desenvolvidos. Para isso, é necessário que as
universidades e instituições de pesquisa forneçam dados empíricos que
contribuam para o desenvolvimento e manejo do sistema como um todo
(HYUHA et al., 2011), desde a determinação dos melhores locais até o manejo
das espécies. Além disso, estudos neste setor indicam que o acesso à
educação e internet, direitos de propriedade seguros, participação ativa em
organizações e sociedades e incentivos governamentais promovem o
desenvolvimento e a inovação neste setor (SALAZAR et al., 2018).
113
substâncias nutritivas que podem ser acrescidas à ração aumentando seu valor
nutricional e diminuindo o custo com a compra de ingredientes.
No Brasil, pesquisas vêm sendo realizadas com policultivo envolvendo
bivalves nativos (como C. gasar e C. rhizophorae) atuando como
biorremediadores no tratamento de efluentes da carcinicultura (PEREIRA et al.,
2007). Moluscos podem ser utilizados também, além do conhecido emprego
como filtradores naturais, para o bio sequestro de carbono, incorporando-o em
suas conchas (ANDRADE, 2016). O cultivo integrado de peixes e camarões, da
mesma forma, é uma prática que vem sendo disseminada, mas nem sempre
priorizando espécies nativas (ALMEIDA et al., 2018; MEDEIROS, 2017).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aquicultura brasileira é promissora, muito embora o país invista em
sistemas pouco sustentáveis, utilizando frequentemente espécies exóticas e
sistemas de monocultivo. A busca por sistemas de policultivos utilizando
espécies nativas deve ser tomada como prioridade para a produção
sustentável da aquicultura brasileira. Sendo um país com tamanhas
possibilidades no setor da aquicultura, deve-se investir cada vez mais em
sistemas sustentáveis, preservando sua biodiversidade e a qualidade ambiental
e social de sua produção aquícola (VALENTI, 2002).
É evidente a importância de oferecer recursos humanos especializados
na instalação, manejo e desenvolvimento dos cultivos de pequena escala
(Moehl, 2005; Hyuha et al., 2011). Os técnicos de campo irão requerer altos
níveis de treinamento para manipular os princípios gerais de maneira flexível e
ajustá-los à realidade das comunidades para que possa suceder a
implementação dos pacotes tecnológicos. A transferência tecnológica de dados
obtidos em laboratório nem sempre se mostra viável em escala comercial e
essa interação entre diferentes setores da sociedade se faz muito relevante.
Investir nesses produtores e apoiar o desenvolvimento de pesquisas para esse
setor, considerando as condições, o interesse e as necessidades das
comunidades é um caminho promissor (MOEHL, 2005).
Além do apoio técnico, a participação em organizações pode ajudar os
produtores na aquisição de habilidades de gestão, organização, transmissão e
difusão de conhecimento (MOEHL, 2005; YAMAMOTO, 2013; SALAZAR et al.,
114
2018). A informalidade está entre os principais desafios do atual modelo de
cultivo de pequena escala; esta acaba prejudicando o acesso a informações de
mercado, concessões e estratégias de comercialização (YAMAMOTO, 2013).
Devido a importância do cultivo de pequena escala para a Agenda para
o Desenvolvimento Sustentável, o próximo ano foi declarado pela Organização
das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) o Ano
Internacional da Pesca e da Aquicultura Artesanais na América Latina e no
Caribe, onde a atividade gera mais de 2,8 milhões de empregos diretos. O
objetivo é valorizar e incentivar os cultivos artesanais para o fortalecimento do
setor.
Do ponto de vista do planejamento político, são necessárias políticas
públicas que priorizem o desenvolvimento da aquicultura de pequena escala
em áreas costeiras de forma a privilegiar as comunidades tradicionais de
pescadores. Tais pescadores dificilmente têm acesso a linhas de
financiamento e assistência técnica profissional para o cultivo e ficam
impossibilitados de investirem em cultivos de grande escala. Estes últimos
podem ser desenvolvidos em áreas offshore, como em países tais como Chile
e Noruega, com altos investimentos e tecnologia avançada.
Um outro aspecto que necessita de melhorias é a comercialização do
pescado proveniente de profissionais que atuam em pequena escala. No Brasil,
as cadeias produtivas do pescado possuem muitos intermediários, fazendo
com que quem pesca ou produz pescado receba muito pouco e o consumidor
final pague um valor muito alto pelo produto. Isto torna o pescado pouco
competitivo quando comparado a outras fontes de proteína animal,
perpetuando uma situação de exploração cada vez maior de trabalhadores e
recursos naturais e aumento cada vez maior de desigualdade social.
Tendo em vista o potencial da costa brasileira para o desenvolvimento
da aquicultura, a ideia do futuro é capacitar pescadores artesanais para
tornarem-se aquicultores de pequena escala, com espécies nativas que
conhecem e dominam. Para que isso possa se tornar realidade serão
necessárias pesquisas com essas espécies a partir da própria percepção dos
pescadores. Dessa forma, o conhecimento acumulado por gerações será
incorporado à atividade que obedece e reitera os princípios do
115
Desenvolvimento Sustentável e garantirá segurança alimentar às famílias que
dependem do extrativismo e da pesca artesanal para subsistência.
REFERÊNCIAS
116
de ALMEIDA, E. O.; dos SANTOS, R. B.; Coelho Filho, P. A.; JUNIOR, A. C.;
de SOUZA, A. P. L. & Soares, E. C. 2018. Policultivo do curimatã pacu com o
camarão canela. Boletim do Instituto de Pesca, 41(2), 271-278.
FAO. 2020. The State of World Fisheries and Aquaculture 2020. Sustainability
in action. Rome. https://doi.org/10.4060/ca9229en
IPCC. 2013. Climate Change 2013: The Physical Science Basis. Contribution of
Working Group I to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel
on Climate Change. Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom
117
and New York, NY, USA, 996 p.
IPCC. 2019. Summary for Policymakers. In: IPCC Special Report on the Ocean
and Cryosphere in a Changing Climate. Geneva, Switzerland, 1170 p.
KIRCHNER, R. M.; CHAVES, M. A.; SILINSKE, J.; ESSI, L.; SCHERER, M. E.;
DURIGON, E. G. 2016. Análise da produção e comercialização do pescado no
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MOEHL, J., HALWART, M., & BRUMMETT, R. E. 2005. Report of the FAO-
WorldFish Center workshop on small-scale aquaculture in Sub-Saharan Africa:
revisiting the aquaculture target group paradigm. Rome, 55 p.
PEIXE BR. 2019. Anuário PeixeBR da Piscicultura 2019. São Paulo, 148 p.
PEIXE BR. 2021. Anuário PeixeBR da Piscicultura 2021. São Paulo, 138 p.
118
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SALAZAR, C., JAIME, M., FIGUEROA, Y., & FUENTES, R. 2018. Innovation in
small-scale aquaculture in Chile. Aquaculture Economics & Management,
22(2), 151-167.
SHPIGEL, M., GUTTMAN, L., SHAULI, L., ODINTSOV, V., BEN-EZRA, D., &
HARPAZ, S. 2017. Ulva lactuca from an integrated multi-trophic aquaculture
(IMTA) biofilter system as a protein supplement in gilthead seabream (Sparus
aurata) diet. Aquaculture, v. 481, p. 112-118.
119
TRANSPORTANDO COM A ÁGUA: O QUE
PODEMOS LEVAR DE CARONA?
1
Mestre em Aquicultura e Recursos Pesqueiro pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Doutorando do Programa de Pós-graduação em Genética Evolutiva e Biologia
Molecular da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); 2Licenciada em Ciências
Biológicas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Mestranda do Programa
de Pós-graduação em Biologia Evolutiva da UEPG; 3Doutor em Genética Evolutiva pela
UFSCar. Professor Associado da UEPG; 4Doutora em Zoologia pela Universidade Federal do
Paraná. Professora Associada da UEPG.
INTRODUÇÃO
A aquicultura inclui a produção e manutenção de organismos aquáticos
para consumo humano e não alimentar, como por exemplo o comércio de
espécie ornamental e/ou controle biológico (BARTLEY, 2011; NAYLOR;
WILLIAMS; STRONG, 2001). Com uma população global em expansão e
desafios como a mudança do clima e a degradação ambiental iminentes, a
aquicultura deve desempenhar um papel fundamental para a presença de
120
alimentos seguros e com sustentabilidade em escala global (FOOD AND
AGRICULTURE ORGANIZATION, 2016).
Embora a aquicultura de água doce desempenhe um papel significativo
no fornecimento de alimentos em muitos países, esta possui alguns riscos e
impactos ambientais (WELCOMME et al., 2010). Um dos mais significativos
riscos é o potencial de escape das espécies produzidas, o que pode levar a
introdução/invasões dos ecossistemas receptores e assim impactam
severamente na fauna nativa (NAYLOR; WILLIAMS; STRONG, 2001). Em
geral, ambas as liberações acidentais e intencionais de espécies não indígenas
são comumente bem documentadas e monitoradas (PEARSON; DUGGAN,
2018; SEPÚLVEDA et al., 2013; SVENNING et al., 2017). No entanto, fugas de
fauna não-alvo, como grupos de organismos (taxa) microscópicos liberadas na
água em conjunto com os estoques de cultura alvo, são potencialmente
esquecidos (DUGGAN; PULLAN, 2017; GOLLASCH, 2006). Este viés
exemplifica a "regra dos pequenos" na ecologia de invasão, segundo a qual
invasões envolvendo organismos menores são raramente reconhecidas
(WYATT, 2002). Assim a gestão da biossegurança das águas utilizadas para o
transporte de alevinos, larvas e adultos é de suma importância para a proteção
contra a potencial degradação dos valores ambientais e econômicos
associados à introdução silenciosa deste grupo de organismos microscópicos.
Assim, visa-se nesta breve divulgação alertar sobre a lacuna do conhecimento
presente no transporte de organismos aquáticos e algumas vias preocupantes.
DESENVOLVIMENTO
121
(2004) apresenta uma lista de associações de espécies de copépodes a
espécies de bivalves no litoral coreano associados ao seu líquido intervalvar.
Inventários de parasitas e patologias que possuem ciclo relacionados com o
zooplâncton, aperfeiçoamento de técnicas de diagnóstico, formação de
recursos humanos e o aprimoramento do manejo para combater as
enfermidades podem contribuir para a sustentabilidade da malacocultura no
Brasil (BOEHS et al., 2012) e a elaboração de propostas de monitoramento
para mitigação do impacto da "regra dos pequenos". Outro grupo de espécies
preocupantes associadas ao líquido intervalvar são os protozoários, em
especial do gênero Perkinsosis (LUZ et al., 2017; QUEIROGA et al., 2015;
SILVA et al., 2015). Estes podem ser transportados via líquido intervalvar de
distintas regiões produtoras, podendo posteriormente afetar a produção de
bivalves (VILLALBA, 2008).
122
O rotífera Kellicottia bostoniensis (Figura 1c), é uma espécie planctônica
Norte Americana, que vem sendo considerada como invasora no Brasil, já foi
reportado em 28 reservatórios brasileiros de água doce, incluindo três no
Paraná, na localidade de Iraí, Segredo e Ponta Grossa (LANDA, 2002;
MACÊDO et al., 2020), estes locais frequentemente observamos atividades
relacionadas com a aquicultura e pesca esportiva recreativa. As possíveis
causas da introdução dessa espécie têm sido relacionadas ao transporte de
ovos em estado de dormência, estocagem de peixe e água de lastro, havendo
uma rápida propagação na região neotropical (MACÊDO et al., 2020). Além
disso, tal ocorrência tem sido relacionada a efluentes ricos em matéria
orgânica, cuja presença de bactérias e outras espécies fitoplanctônicas
favorece o rotífera K. bostoniensis, assim como a sua alta adaptabilidade aos
ambientes tropicais (LANDA, 2002; MACÊDO et al., 2020). Condições similares
são observadas para outros grupos, como copépodes ciclopóides e outros
organismos do zooplâncton límnico (DUGGAN; PULLAN, 2017; HAVEL;
MEDLEY, 2006).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
123
REFERÊNCIAS
BARTLEY, D. M. Aquaculture. In: Encyclopedia of Biological Invasions.
Berkeley: University of California Press, 2011. p. 27–32.
MACÊDO, R. et al. Small in size but rather pervasive: the spread of the North
American rotifer Kellicottia bostoniensis (Rousselet, 1908) through Neotropical
basins. BioInvasions Records, v. 9, n. 2, p. 287–302, 2020.
124
PEARSON, A.; DUGGAN, I. A global review of zooplankton species in
freshwater aquaculture ponds: what are the risks for invasion? Aquatic
Invasions, v. 13, n. 3, p. 311–322, 2018.
SVENNING, M.-A. et al. Incidence and timing of wild and escaped farmed
Atlantic salmon ( Salmo salar ) in Norwegian rivers inferred from video
surveillance monitoring. Ecology of Freshwater Fish, v. 26, n. 3, p. 360–370,
jul. 2017.
125
1. 2.
ORGANIZADORES
126
ÍTALA ALVES DE OLIVEIRA
127