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8. Endocrinologia da reprodução de peixes.

Os peixes são animais que têm uma capacidade incrível de adaptação, o que lhes
permite colonizar os mais diferentes habitats; esta plasticidade se reflete nas suas mais
variadas estratégias, principalmente de alimentação e reprodução. O animal desenvolve
mecanismos que lhe permitem tirar o máximo de vantagens do ambiente que dispõe.
Realizam migrações, constroem ninhos, incubam ovos e protegem os filhotes, entre
inúmeras outras particularidades. A reprodução é a fase mais importante na vida do
animal, pois através dela ele garante a manutenção da sua espécie. É um processo
fisiológico mediado pela complexa atuação de eventos neurohormonais que, desenca-
deados por estímulos ambientais, provocam no peixe reações especificas que culminam
com a desova.
A prática de indução à desova que se faz nas pisciculturas é extremamente
simples e nos leva a crer que a reprodução também é, bastando injetar os hormônios e
esperar a hora da desova. Mas não é assim que acontece. Para entender um pouco mais o
que é que estamos fazendo quando injetamos hormônios ou hipófises nos peixes, é preciso
rever alguns aspectos básicos da fisiologia da reprodução. Esse entendimento nos
auxiliará na escolha do melhor que hormônio que será aplicado, qual o custo/benefício e
o que podemos esperar como resultado.
Controle endócrino da reprodução
Situações ambientais diferentes fornecem sinais específicos que podem ser
explorados para predizer o tempo
em que a reprodução tem mais
probabilidade de sucesso.
Em ambientes
previsivelmente inóspitos como
extremas latitudes e altitudes,
fotoperíodo e temperatura são sinais
confiáveis associados com a
previsão de condições de primavera
ou semelhantes ao verão. Enquanto
que os ambientes tropicais não
sofrem extremos sazonais em
fotoperíodo e temperatura,
freqüentemente existem períodos de
seca e umidade regularmente
repetidos. É por isso que temos
períodos de reprodução
razoavelmente definidos, variáveis
conforme a região. Assim, o
momento da reprodução em peixes
pode ser influenciado por vários
fatores, incluindo temperatura,
fotoperíodo, salinidade, conteúdo
iônico da água, fluxo da água,
abundância de alimento,
disponibilidade de local para nidificar e condições sociais.
Peixes de zona temperada reproduzem em resposta a dias curtos e temperaturas
frias (por exemplo, trutas, salmões) e outros a dias longos e temperaturas quentes (por
exemplo, carpas e peixes de piracema). Entretanto, a temperatura pode atuar como um
sinal independente do fotoperíodo.
Mais comumente, peixes tropicais e subtropicais podem exibir reprodução
sazonal em associação com o
Fonte: Venturieri &Bernardino, 1999. estabelecimento da estação das
chuvas, que está correlacionado
com a disponibilidade de alimento, assim como ao habitat.
Em muitas espécies, a maturação gonodal freqüentemente precede o
estabelecimento da estação das chuvas, possivelmente em resposta à crescente
concentração iônica das águas que estão secando. Em espécies tropicais pode ser
encontrada reprodução durante todo o ano, embora exista um pico de reprodução em
associação com a estação chuvosa. Como um corolário, pode-se afirmar que a reprodução
é um processo que só deve ocorrer naturalmente em circunstâncias favoráveis para a prole
e para os reprodutores.
Os estímulos ambientais são captados pêlos peixes através de seus órgãos
sensoriais. Sistemas sensoriais e áreas especificas do cérebro servem para integrar eventos
internos e externos, que resultam em alterações no sistema reprodutivo. O estímulo pode
ser enviado, por exemplo, através dos olhos, sistemas olfatório, vomeronasal ou auditivo,
com entradas em núcleos cerebrais específicos.
Para compreender a entrada da informação no sistema neurohormonal, e como
o cérebro pode integrar a energia neurohormonal, para regular a atividade reprodutiva, é
preciso conhecer como os vários órgãos atuam como uma unidade: são os elementos do
sistema hipotálamo→hipófise→gônadas (ovários e testículos).
O hipotálamo é uma região específica do cérebro que, entre outros
neurohormônios, secreta o hormônio liberador de gonadotropinas - GnRH, e a dopamina,
que têm influencia na liberação de gonadotropinas - GtHs da hipófise.
A hipófise é uma glândula que produz vários hormônios, entre eles as
gonadotropinas, responsáveis pelo controle da reprodução. Essas gonadotropinas vão
atuar sobre as gônadas, promovendo a liberação de hormônios esteróides, estes com
atuação na maturação dos gametas, tanto durante o ciclo reprodutivo quanto nas fases
finais de maturação e ovulação. Os esteróides retornam ao hipotálamo e hipófise via
corrente sanguínea, para modular as funções subseqüentes desses órgãos.
Diferente do que acontece com mamíferos, onde o embrião é nutrido através da
mãe, o embrião da maioria dos peixes realiza o seu desenvolvimento às expensas da
reserva acumulada no ovo, sob a forma de compostos de lipofosfoglicoproteínas
chamados genéricamente de vitelo. Na maioria dos ovócitos de vertebrados, o vitelo não
é sintetizado in situ, mas sim derivado de uma proteína precursora conhecida como
vitelogenina, sintetizada no fígado do animal.
A importância prática de saber sobre o processo vitelogênico tem implicação
em vários aspectos. O primeiro deles diz respeito à alimentação adequada da fêmea, uma
vez que a reserva do embrião é dada através do vitelo acumulado no ovócito, um animal
com deficiência nutricional vai priorizar a sua própria manutenção e destinar para
incorporação no ovócito apenas parte do que seria necessário para o bom
desenvolvimento posterior do embrião. Conseqüentemente, vai resultar em larvas frágeis,
com mortalidade elevada. Em outras palavras, isto significa que devemos alimentar
adequadamente o animal muito antes do início do período reprodutivo, momento em que
o processo de vitelogênese já está na sua fase final ou mesmo completo. Outro aspecto
importante é o momento adequado para injetar o hormônio, pois se o ovócito não estiver
numa determinada fase avançada da maturação, não irá produzir os esteróides necessários
para a maturação final e ovulação.
Em peixes de piracema, na ausência de estímulo hormonal exógeno, o
desenvolvimento do ovócito não se continua além da fase vitelogênica; falta-lhe um
"gatilho" hormonal para que continue o seu desenvolvimento, e é isso que se fornece ao
animal quando se administra as preparações hormonais de indução artificial da re-
produção.
Uma vez ovulados, os óvulos de diferentes espécies permanecem férteis dentro
do ovário ou da cavidade do corpo por períodos que variam de uma hora a vários dias.
Depois desse tempo, os óvulos tornam-se "supermaduros" e começam a se desintegrar.
Esta característica deve ser bem entendida, para ser otimizada em casos de reprodução
induzida. Em um peixe onde os óvulos permanecem férteis apenas por um breve período
(piaus, pacus, etc. são um bom exemplo) a desova ou extrusão deve acontecer
rapidamente. Idealmente, a injeção dos hormônios deve ser cronometrada para produzir
ovulação em uma hora conveniente do dia. Ovulação e supermaturação dos óvulos
mantidos na cavidade do corpo são altamente temperatura dependentes. Depois que a
desova termina, os ovócitos vitelogênicos remanescentes são reabsorvidos, num processo
conhecido como regressão gonadal. Isso também acontece em peixes maduros que não
encontram as condições adequadas para a maturação final e desova.
A maturação final e a ovulação são os estágios de reprodução mais comumente
induzidos através de terapia hormonal. Mas é preciso lembrar que uma grande variedade
de protocolos é efetiva, inclusive a manipulação ambiental, em algumas espécies.
Objetivos da indução artificial da maturação e ovulação em peixes
A prática mais usual da utilização de hormônios na reprodução induzida de
peixes no Brasil está mais relacionada à desova de peixes de piracema, mas esse é apenas
um dos objetivos possíveis da manipulação hormonal com fins reprodutivos. Os
hormônios ou preparações hormonais podem ser utilizados para adiantar o período de
desova em uma população, por exemplo. Um período antecipado de reprodução permite
aos produtores maior flexibilidade na comercialização de larvas e alevinos. Além disso,
pode-se restringir a desova a um certo período, também, para maximizar tempo e
recursos, permitir maior rendimento e rotatividade dos viveiros de alevinagem. Podem
ser utilizados também para sincronizar a desova de machos e fêmeas e aumentar a
produção de sêmen, que é crítico em algumas espécies. Pode-se, ainda, com a ação
combinada de manejo ambiental, ampliar os períodos em que os animais estão aptos para
a reprodução. São infinitas as aplicações, existindo inúmeras técnicas e várias
preparações hormonais disponíveis no mercado.
Tipos de hormônios utilizados na indução artificial da reprodução em
peixes
Como já foi visto, a reprodução nos peixes é controlada pelo eixo hipotálamo-
hipófise-gônadas (Fig.2). Esse mecanismo seqüencial permite intervenções em vários
níveis, para promover ou interferir no processo de maturação, com o uso de compostos
específicos.
Ao nível hipotalâmico a intervenção seria possível com o uso de antiestrógenos
(compostos sintéticos capazes de competir com estrógenos por sítios de ligação, nos
receptores de estrógenos) que impediriam os hormônios de se ligar aos receptores e
eliminariam a resposta negativa dos esteróides sobre a produção de gonadotropinas;
Ao nível hipofisário, o uso de GnRHs e seus análogos estimulariam a produção
e liberação de gonadotropinas pelas células gonadotrópicas hipofisárias; por sua vez, o
uso de antagonistas de dopamina também é eficaz em várias espécies. A dopamina inibe
a secreção de gonadotropinas, e substâncias que eliminem essa inibição resultariam no
aumento dos níveis plasmáticos de gonadotropinas;
- Ao nível gonadal, o uso de preparações de extratos hipofisitários e de
gonadotropinas forneceriam as gonadotropinas, necessárias para a maturação final do
ovócito em fêmeas e espermiação nos machos. Por outro lado, progestinas e
corticosteróides também aluariam ao nível do folículo do ovócito para esse fim. Ainda no
ovário, a ação de prostaglandinas e catecolaminas são importantes para a ovulação.
O uso de antiestrógenos, progestinas, corticosteróides e prostaglandinas é mais
comum em pesquisas; na prática da reprodução artificial em piscicultura, os mais
utilizados são os hormônios liberadores de gonadotropinas, os antagonistas de dopamina
e os hormônios hipofisitários, principalmente a hipofiese da carpa comum (Ciprinus
carpius)
Extrato de hipófises de peixes
A hipofisação é um processo bastante conhecido, praticado desde a década de
30, e é uma simples terapia de substituição, ou seja, a gonadotropina de um peixe é
administrada em outro que não está produzindo o suficiente por si mesmo, e desencadeia
os passos da seqüência hormonal, levando à maturação final e ovulação. É a técnica de
indução mais utilizada. Pode ser efetuada a partir de hipófises frescas ou dessecadas em
acetona.
As glândulas pituitárias dos peixes doadores, coletadas frescas ou preservadas,
são usadas na hipofisação. É necessário, para o bom êxito da desova, que essas glândulas
contenham uma quantidade adequada de hormônios gonadotrópicos armazenados.
A glândula pituitária (hipófise) produz e armazena os hormônios
gonadotrópicos, os quais desempenham um papel decisivo na ovulação. No que concerne
a reprodução, o papel da glândula pituitária é de servir de intermediário entre o sistema
nervoso central e as gônadas. O os hormônios gonadotrópicos são produzidos pelo peixe
sexualmente maduro e as mudanças cíclicas da sua concentração na glândula pituitária,
estão correlacionadas com o ciclo reprodutivo do peixe. A sua concentração é máxima
durante o período da pré-desova, ao passo que ela é muito baixa ou quase nula durante e
após a desova. A liberação de gonadotropinas pela glândula pituitária é "comandada" pelo
hipotálamo, através da secreção do hormônio que libara a gonadotropina (gonadotropin
releasing hormone -GRH). As gonadotropinas são também responsáveis pela indução da
migração da desova, durante a qual sua concentração na glândula pituitária decresce
gradualmente. O desenvolvimento gonadal durante a migração de desova provavelmente
é controlado pelas gonadotropinas liberadas continuamente.
A glândula pituitária está situada no lado ventral do cérebro, abaixo do
hipotálamo, o qual está ligado à glândula pituitária por uma estrutura tipo funil, o
infundíbulo. A parte do crânio onde a glândula pituitária está localizada é conhecida como
cela túrcica. A glândula está normalmente envolvida por tecido adiposo.
Quando o cérebro é retirado do crânio, a glândula pituitária permanece ligada
ao cérebro em alguns peixes, ao passo que na maioria deles, o infundíbulo se rompe e a
glândula fica na base do crânio. No caso da carpa comum, uma pequena gota de sangue
indica o lugar onde a glândula pituitária estava ligada ao cérebro. O hipotálamo, abaixo
do qual se deve procurar a pituitária, é uma parte proeminente ventralmente no cérebro,
e é fácil de distinguir.
A coleta de glândulas pituitárias em escala comercial é possível, somente
quando estiverem disponíveis peixes vivos ou recém-mortos de tamanho adequado acima
de 1 kg, maduros e com desenvolvimento gonadal adequado.
Para se ter acesso à glândula pituitária, a parta de cima do crânio deve ser
removida com uma serra ou uma faca forte e afiada ou uma tampa cilíndrica do crânio na
região do cérebro é removida, usando-se para tal um cortador cilíndrico (serra) ligado a
uma broca elétrica.
A tampa que é removida da serra com a ajuda de uma chave de fenda contém a
parte de cima do crânio, o cérebro, a glândula pituitária e a base do crânio. Estes são
separados com o auxílio de uma tesoura, e a glândula pituitária é retirada com uma pinça
e preservada em acetona pura. A técnica de perfuração ajuda muito na coleta rápida de
um grande número de glândulas pituitárias.
Após coletar o número necessário de glândulas, a acetona na qual a glândulas
são mantidas é retirada e adiciona-se mais acetona. A acetona é novamente substituída
após 8-12 horas. No dia seguinte, quando as glândulas já tiverem permanecido na acetona
por um total de 24 horas, a acetona é escoada e as glândulas são secadas num tecido de
papel. A acetona desidrata e retira a gordura das glândulas. As glândulas dessecadas são
colocadas num frasco de vidro, pressionadas com um chumaço de algodão, arrolhadas
firmemente e lacradas com cera. O frasco deve ser rotulado, indicando a data da coleta e
a origem das glândulas.
As glândulas dessecadas com acetona podem ser armazenadas por muitos anos
se forem mantidas livres da umidade. Não é necessário refrigerar as glândulas. Os frascos
lacrados são conservados num saco plástico com um saco de absorvente de água (sílica
gel) ou num dessecador. Quando algumas glândulas são retiradas, as glândulas restantes
devem sar pressionadas com mais algodão, e novamente arrolhadas e seladas.
As glândulas podam também ser preservadas em álcool absoluto e nesse caso
elas são imersas em álcool absoluto imediatamente após a coleta. Depois de 24 horas, as
glândulas são lavadas com álcool absoluto, colocadas em álcool absoluto limpo, e
armazenadas em lugar frio e sombreado à temperatura ambiente sob refrigeração, até que
sejam usadas. Para evitar que a umidade penetre nos francos, estes deverão ser lacrados
com cera ou mantidos num dessecador.
Um outro método adotado para se preservar as glândulas é sujeita-las ao
congelamento instantâneo e armazená-las num congelador.
As glândulas pituitárias podem ser encontradas no mercado de algum países,
por exemplo, dos EUA, da Hungria, da Índia, da Alemanha e Canadá. Elas são
comercializadas em unidades inteiras e dessecadas. As glândulas são também
comercializadas em forme de pó e na forma de extrato pronto para injetar. Esta forma,
todavia, é a menos confiável devido a possibilidade de adulteração.

Aplicações da endocrinologia na reprodução de peixes


A reprodução de peixes mantidos em cativeiro pode ser controlada por meio da
manipulação do ambiente, como temperatura da água, fotoperíodo ou presença de abrigos
e ninhos para acasalamento e desova (Taranger et al., 2010). Porém, na maioria das
espécies criadas com objetivos comercias e principalmente as espécies reofílicas
brasileiras, o uso de hormônios é obrigatório para a prática de reprodução artificial. Nas
espécies reofílicas, a ausência da correnteza nos tanques de piscicultura é o principal
obstáculo à reprodução. Em cultivo intensivo, algumas espécies podem não maturar
sexualmente, quando não há o desenvolvimento testicular e/ou ovariano, ou apresentar
dificuldades na maturação final e/ou liberação dos oócitos e espermatozoides. Quando
em condições de confinamento, os machos geralmente apresentam reduzido volume de
sêmen e espermatozoides de baixa qualidade. As fêmeas na mesma situação não ovulam,
ou não ocorre a maturação final dos oócitos, que ficam retidos e são reabsorvidos nos
ovários. Portanto, terapias hormonais são comumente utilizadas para extinguir os
problemas relacionados à espermiogênese e à produção de fluido seminal, às falhas na
maturação oocitária e à ovulação.
A maioria das técnicas hormonais para indução da reprodução dos peixes
baseia-se na aplicação intramuscular ou intra-abdominal dos hormônios, principalmente
na base das nadadeiras peitorais. São administrados vários hormônios que atuam em
diferentes níveis do eixo hipófise-hipotálamo, sendo o mais antigo e ainda o mais
utilizado o extrato bruto da hipófise de peixes maduros. Atualmente se empregam
também gonadotropinas purificadas parcial ou totalmente, que são industrializadas
especificamente para essa finalidade (Criscuolo-Urbinati et al., 2012). Outro hormônio
muito usado é o GnRH de espécies variadas, devido a sua semelhança entre os vertebrados
superiores e inferiores. Da mesma forma, a buserelina, um análogo do GnRH, vem sendo
utilizada na indução reprodutiva de peixes. Antagonistas da dopamina bloqueiam o
mecanismo inibidor da dopamina, elevando a secreção de GnRH e induzindo a
maturação. E mais recente são os hormônios sintéticos similares às gonadotropinas, que
têm sido testados nas diversas espécies em busca de protocolos espécie-específicos, por
apresentarem longo tempo de estocagem e agirem diretamente nas gônadas.
A maturação final e a liberação dos gametas ocorrem em poucas horas após
administração do hormônio e dependem da espécie em questão. Vale ainda ressaltar que
a taxa de sucesso destes hormônios (sintéticos ou naturais; simuladores das atividades do
GnRH ou das gonadotropinas; etc.) varia entres as espécies de teleósteos. Adaptações em
diferentes protocolos (período e dosagem) é sempre o caminho para se alcançarem
resultados satisfatórios quando trabalhos de reprodução artificial em novas espécies de
peixes são iniciados. No entanto, independente da espécie em questão, a indução
hormonal apenas causa os efeitos desejáveis quando administrada em animais cujo
desenvolvimento gonadal inicial já tenha se iniciado previamente.

Endocrinologia da reprodução dos peixes


A reprodução é a atividade biológica mais vital para a preservação das espécies
animais, sendo determinada pela idade de maturação sexual, condições ambientais, época
do ano, local de desova e cuidados da prole exercidos pelos reprodutores e matrizes de
muitas espécies (MEIRELES et al., 2011).
As espécies de clima tropical mostram picos reprodutivos sazonais, em que
fatores como ciclo lunar, a condutividade da água, a intensidade luminosa, o suprimento
alimentar, os níveis de oxigênio, o aumento do nível do rio e até a estimulação acústica
produzida pelas chuvas podem influenciar o processo produtivo (WOYNAROVICH &
HOVARTH, 1993) Muitas espécies de peixes de água doce de importância econômica
necessitam migrar rio acima para realizarem a reprodução, fenômeno este conhecido
como piracema. É, justamente, essa viagem rio acima, esse esforço e os fatores
ambientais que provocam os estímulos para a reprodução (MEIRELES et al., 2011). A
temperatura da água, enxurradas provocadas pela chuva e a ampliação da quantidade de
horas de luz por dia (na primavera), induzem a hipófise a intensificar a produção de
hormônios para provocar a reprodução de muitas espécies de peixes. A “hipófise” é,
portanto, o órgão que comanda todo o processo de reprodução, sendo uma glândula
endócrina que é influenciada pelo hipotálamo, que é uma parte do cérebro que controla a
reprodução. Os neurônios do hipotálamo produzem um hormônio chamado de
“Hormônio Liberador de Gonadotrofinas” – GnRH que estimula a hipófise a secretar o
“Hormônio Folículo Estimulante” – FSH – e o “Hormônio Luteinizante” – LH – que estão
envolvidos com o processo reprodutivo (SENTHILKUMARAN, YOSHIKUNI &
NAGAHAMA, 2004). Nas fêmeas de peixes, o FSH estimula a produção de estrógeno
(17β-estadiol) que, por sua vez, estimula a produção de vitelogenina pelo fígado. A
vitelogenina então é transportada pelo sangue até o ovário e então incorporada no ovócito,
situação que faz este aumentar de tamanho (Figura 21). O LH em fêmeas estimula a
produção de Progesterona, um hormônio que está envolvido no processo de “Maturação
Final” (Figura 22) que compreende uma etapa importante no processo de ovulação
(SENTHILKUMARAN, YOSHIKUNI & NAGAHAMA, 2004).

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