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MÚSICA CORAL COMO FORMA DE INTEGRAÇÃO

SOCIAL: concelho de Oliveira do Bairro

Licenciatura em Estudos Musicais Aplicados

Licenciando/a: Eduardo Pacheco Neves

1ª ano, Eduardo Pacheco Neves


MÚSICA CORAL COMO FORMA DE INTERGRAÇÃO SOCIAL: concelho de
Oliveira do Bairro

Licenciatura em Estudos Musicais Aplicados

Licenciando/a: Eduardo Pacheco Neves

Docente: Prof. Doutor Avelino Rodrigues Correia

Unidade Curricular: Etnomusicologia II

Coimbra, 2022
Licenciatura em estudos musicais aplicados

MÚSICA CORAL COMO FORMA DE INTEGRAÇÃO SOCIAL: concelho de Oliveira do Bairro.

RESUMO: Neste Trabalho pretende-se abordar a forma como a música coral no contexto
amador tem interferência na integração de determinado tipo de pessoas com diferentes
idades, e de que forma é que este tipo de atividade pode trazer benefícios aos seus
participantes, ao nível da socialização e integração. Visa-se também falar sobre a
importância que próprio maestro do coro pode ter interferência na forma como os
participantes se relacionam entre si. O foco deste trabalho é dedicado a este tema de
pesquisa que irá abordar sobre os pontos referidos acima, onde os inquéritos e resultados
serão obtidos em alguns coros amadores do concelho de Oliveira do Bairro.

Palavras-chave: Música Coral, interferência na integração, Coros de Oliveira do Bairro,


socialização

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ÍNDICE

ÍNDICE----------------------------------------------------------------------------------------------------------II

LISTA DE FIGURAS-------------------------------------------------------------------------------------------III

INTRODUÇÃO-------------------------------------------------------------------------------------------------1

I. INTRODUÇÃO---------------------------------------------------------------------------------1
II. QUESTÕES PROBLEMÁTICAS--------------------------------------------------------------2
III. OBJETIVOS -------------------------------------------------------------------------------------2
IV. FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA---------------------------------------------------3

Ponto 1. BENEFÍCIOS, INTEGRAÇÃO E RELAÇÕES INTERPESSOAIS QUE A PRÁTICA DA


MÚSICA CORAL PODE TRAZER AOS SEUS PARTICIPANTES----------------------------------------4

1.1 MÚSICA CORAL NA TERCEIRA IDADE -----------------------------------------------------7


1.2 MÚSICA CORAL EM CONTEXTOS SOCIAIS------------------------------------------------8

Ponto 2. O IMPACTO E INFLUÊNCIA DO MAESTRO NA GESTÃO DO CORO E NA FORMA


COMO ISSO INTERFERE NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS DOS PARTICIPANTES-----------10

Ponto 3. INTEGRAÇÃO E SOCIALIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DOS COROS DO


CONCELHO DE OLIVEIRA DO BAIRRO-----------------------------------------------------------------13

3.1 APRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA DO INQUÉRITO------------------------------------14

3.2 ANÁLISE E UNTERPRETAÇÃO DOS DADOS RECOLHIDOS---------------------------18

CONCLUSÃO-------------------------------------------------------------------------------------------------24

BIBLIOGRAFIA-----------------------------------------------------------------------------------------------25

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Lista de Figuras

Figura 1- PERGUNTAS 1 E 2 DO INQUÉRITO……………………………………………………………………14

Figura 2- PERGUNTAS 3, 4 E 5 DO INQUÉRITO………………………………………………………………..14

Figura 3- PERGUNTAS 6 E 7 DO INQUÉRITO……………………………………………………………………15

Figura 4- PERGUNTAS 8 E 9 DO INQUÉRITO……………………………………………………………………15

Figura 5- PERGUNTAS 10 E 11 DO INQUÉRITO………………………………………………………………..16

Figura 6- PERGUNTAS 12 E 13 DO INQUÉRITO……………………………………………………………….. 16

Figura 7- PERGUNTA 14 DO INQUÉRITO…………………………………………………………………………17

Figura 8- GRÁFICO REPRESENTATIVO DAS IDADES DOS INQUIRIDOS…………………………… …18

Figura 9- GRÁFICO REPRESENTATIVO DOS MOTIVOS PELOS QUAIS OS INQUIRIDOS


PARTICIPAM NOS COROS………………………………………………………………………………………………18

Figura 10- GRÁFICO REPRESENTATIVO DO RESPEITO ÀS DIFERENÇAS FINANCEIRAS ENTRE


OS MEMBROS DOS COROS…………………………………………………………………………………………….1 9

Figura 11- GRÁFICO REPRESENTATIVO DO RESPEITO ENTRE OS MEMBROS DOS COROS..19

Figura 12- GRÁFICO REPRESENTATIVO DO RELACIONAMENTO ENTRE MEMBROS DOS


COROS………………………………………………………………………………………………………………………….20

Figura 13- GRÁFICO REPRESENTATIVO DA INFLUÊNCIA QUE A MÚSICA CORAL TEM NAS
RELAÇÕES ENTRE OS INDIVDUOS DOS COROS……………………………………………………………….20

Figura 14- GRÁFICO REPRESENTATIVO DA INFLUÊNCIA QUE O MAESTRO TEM NAS


RELAÇÕES ENTRE MEMBROS DOS COROS……………………………………………………………………..2 1

Figura 15- GRÁFICO REPRESENTATIVO DO GOSTO DO REPERTÓRIO ESCOLHIDO PELO


MAESTRO……………………………………………………………………………………………………………………..21

Figura 16- GRÁFICO REPRESENTATIVO DA APRENDIZAGEM SOBRE MÚSICA PELA PARTE


DOS PARTICIPANTES AO PRATICAREM MÚSICA CORAL………………………………………………….22

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INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO AO TEMA

A prática da música coral é uma das formas que permite a integração social. Na história
o conta em grupo foi uma prática que esteve ligada com a socialização e em que vários
aspetos se manifesta e está presente na grande maioria das culturas Mundiais, o que
demonstra um tipo de ação especificamente social. A música coral é uma atividade que
proporciona alguns benefícios ao nível do desenvolvimento pessoal interpessoal e
comunitário, onde se confirma que a prática coral é rica de possibilidades formadoras de
humanização e socialização. Este tipo de atividade exige que o maestro tenha uma série
de habilidades que não somente o preparo musical técnico, mas também a gestão de
um conjunto de pessoas que necessitam de motivação, aprendizagens e convivência em
grupo.

Neste trabalho irão abordar-se os temas relativamente à integração, inclusão e bem-


estar mental dos participantes, como também a função do maestro como um meio para
criar relações e formas de motivação para com os participantes. Irão ser inquiridos
coristas de dois coros amadores do concelho de Oliveira do Bairro como dados
estatísticos e informativos que ajudem a ter uma noção pessoal destes processos.

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QUESTÕES PROBLEMÁTICAS

Que benefícios existem na prática da música coral e contribuições isso traz para a sua
vida?

Até que ponto é que a música coral tem interferência na integração dos seus
participantes no concelho de Oliveira do Bairro?

Qual é o papel do maestro do coro e de que forma é que isso ajuda na integração dos
coristas?

OBJETIVOS

Encontrar e refletir sobre de que forma a música coral pode motivar, integrar, incluir e
desenvolver as capacidades dos seus participantes.

Obter informações ao nível dos participantes e de que forma é esta prática musical
interfere na sua vida.

Discutir as dimensões pessoal, interpessoal e comunitária, presentes no processo de


socialização do canto coral.

Perceber de que medida é que os coristas dos coros do concelho de Oliveira do Bairro se
identificam e demonstram com os pontos abordados, de forma a ajudar na confirmação
dos pontos acima.

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FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA

Obtenção de alguma bibliografia e algumas publicações com informação tratada de


forma consistente.

Através de inquéritos obter-se informações dos próprios participantes sobre os temas


em questão.

Analisar o material obtido com a finalidade de encontrar as conexões entre a música


coral e as suas influências ao nível da integração e socialização.

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PONTO 1. BENEFÍCIOS, INTEGRAÇÃO E RELAÇÕES INTERPESSOAIS QUE A PRÁTICA DA


MÚSICA CORAL PODE TRAZER AOS SEUS PARTICIPANTES

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Ao termos contacto com a música entramos num mundo cheio de possibilidades e


aberturas onde nos podemos relacionar com outras pessoas na arte de fazer música.
Independentemente da sua idade ou condição social a música acaba por conectar o
homem, a sociedade e a cultura. A música em grupo, ou seja, a música coral e outros
tipos de música de conjunto demonstram uma necessidade de uma educação
abrangente em que o trabalho não é só pura e simplesmente ensinar os conteúdos
musicais aos aprendizes ou também unicamente preparar repertório segundo a
perspetiva de Amato:

“É relevante aludir que a participação em um coral, como em qualquer manifestação


musical, pode provocar um desejo pela interdisciplinaridade de conhecimentos
artísticos, pois, a partir da experiência musical vivenciada, os integrantes do coro podem
interessar-se pela literatura, pelas artes plásticas e até mesmo por outras ciências e
técnicas, como bem coloca Snyders (1992).” (AMATO, 2007, p.79).

A Música Coral é uma ferramenta importante para a socialização interpessoal que age
como facilitador destas mesmas relações. Na questão da integração Amato e Neto
(2009) referem que para ao nos incluirmos num grupo passamos a ter e a manter um
relacionamento estável com outras pessoas. O facto de se cantar em conjunto faz um
individuo aprender a lidar com o coletivo da Música coral, apercebendo-se da função de
grupo em si neste tipo de trabalho. Amato utiliza o termo “Carisma Grupal” para esta
questão da coletividade:

“Ao cumprir com as normas do coro, dedicar-se ao aprendizado da música nos ensaios e
em horas extras, o indivíduo se integra ao grupo na busca de metas comuns,
configurando um carisma grupal, por meio do qual todos os sentimentos e obstáculos
são transpostos (ELIAS; SCOTSON, 2000), para que todos os indivíduos contribuam para
o cumprimento dos objetivos comuns a todos os coralistas. Essa prática musical
desenvolve um senso de união grupal em torno de metas e objetivos comuns,
canalizando as ações e sentimentos individuais para uma produção artística coletiva, na
qual se conjuga a disciplina rigorosa, o estudo com afinco e dedicação de cada um dos
agentes, culminando na constituição do carisma grupal.” (AMATO, 2010, p.444)

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A música Coral necessita de compreensão e predisposição de um individuo na altura certa


perceber que a noção de egoísmo e individualismo excessivo não existem. Assim

individuo acaba por valorizar dentro de si a ideia de necessidade de renuncia e de


disciplina para com todos os participantes e gerentes desse mesmo coro. Segundo Vila-
lobos:

“O canto coletivo, com o seu poder de socialização, predispõe e indivíduo a perder no


momento necessário a noção egoísta da individualidade excessiva, integrando-o na
comunidade, valorizando no seu espírito a ideia da necessidade de renúncia e da
disciplina ante os imperativos da coletividade social, favorecendo, em suma, essa noção
solidariedade humana, que requer da criatura uma participação anónima na construção
das grandes nacionalidades.” (VILLA-LOBOS apud AMATO, 2010. p. 620).

Muitas vezes algumas crianças e adolescentes nalguma fase da sua vida acabam por
sobre alguns problemas relacionados à autoestima e não só como também de diversos
assuntos a cerca da sua personalidade laços patológicos e sexualidade que provem
muitas vezes do ambiente desfavorável das condições consideradas desfavoráveis de
onde vivem. É aqui onde Música Coral entra como um caminho ou até mesmo uma
solução que poderá ajudar neste tipo de medos e complexos. Segundo Zanini (2003, p.
284) “o cantar é meio para autoexpressão e autorrealização; as canções revelam a
subjetividade /existencialidade interna do ser; e a autoconfiança do ser participante do
coro faz com que ele tenha expectativas para o futuro.”

O nivelamento social é um dos fatores que permite demonstrar o quão acessível e o


quão é fácil uma pessoa mais desfavorecida socialmente pode ser “igual” dentro deste
meio da música coral. Como esta atividade não exige nenhum tipo de recurso financeiro
todos indivíduos acabam por estar todos nas mesmo condições e no mesmo nível de
aprendizes e buscam pelos objetivos comuns da realização pessoal e em grupo.

Segundo Schmelig e Teixeira (2003, p.27) o desenvolvimento dos indivíduos “é


propiciado pelas relações travadas entre as pessoas, porém tendo como canal e vínculo
entre elas aquilo que seria o elemento principal – a música, que traz novas formas de

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agir, pensar e sentir”. Com esta afirmação podemos concluir que a inclusão social
existente neste tipo de música acaba por melhorar a qualidade de vida dos seus
participantes.

1.1 MÚSICA CORAL NA TERCEIRA IDADE

As pessoas com mais de sessenta anos atualmente passaram a tentar obter mais
conhecimento e aprendizagem em diversos temas ou em diversas atividades, uma delas,
sendo o tema abordado é a música.

Devido a esta idade ser uma fase da vida onde algumas das capacidades precisam de ser
motivadas como o prazer estético e a criatividade. Na nossa sociedade o conceito
“velhice” é considerado perda de capacidades e muitos idosos acabam por sofrer neste
período um processo de afastamento e reclusão social que provêm geralmente das
limitações físicas da idade e também das barreiras sociais impostas pela sociedade.

Segundo Rodrigues e Pederiva “Ao atingir a terceira idade, as pessoas passam por
modificações fisiológicas. Isso abrange tanto o biológico quanto o psicológico,
interferindo nas questões emocionais, afetivas e sociais (JOÃO et al.2005, p. 03). Em
decorrência desses factos, somando-se o afastamento causado pela aposentadoria ou
redução de suas capacidades laborais, o idoso tende a manter um grande isolamento
social, que pode gerar sérios comprometimentos psicológicos, atingindo de maneira
direta a sua qualidade de vida.” (RODRIGUES; PEDERIVA, 2006, P.230)

A música coral pode ser uma das soluções que poderá ajudar estes idosos a voltar a ter
uma maior integração social e também assegura o direito à educação e à cultura que está
presente no estatuto idoso. A música coral inclui um cenário de qualidade de vida e
equilíbrio social que segundo Neto e Amato, “após o cumprimento das necessidades
básicas e de segurança de dada população, a participação em atividades que promovam
o aumento da autoestima e do senso de autorrealização constitui significativo aspeto da

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formação do indivíduo. Nessa perspetiva, o canto coral auxilia a pessoa no seu


crescimento pessoal e, a partir de então, em sua motivação” (NETO; AMATO, 2009, p.90).

Com base nisto considera-se que a música coral pode ter o papel de ajudar os indivíduos
com estas necessidades a resolver os seus problemas com interação social que em
conjunto com os membros se acaba por melhorar significativamente para além das outras
vantagens ao nível da aprendizagem como por exemplo a criatividade, autoestima,
memoria e concentração.

Com isto conclui-se, que o idoso enquanto ser humano tem direito de uma melhor
qualidade de vida o que faz com que seja necessário haver alguns projetos que englobem
saúde, lazer, cultura e aprendizado. A música Coral é uma dessas soluções que segundo
Reis e Oliveira, “o trabalho de música coral para a terceira idade torna-se importante por
propiciar experiência musical incomum, que ajuda no desenvolvimento musical, cultural
e individual/grupal porque as pessoas que cantam em conjunto estão juntas, cantam
juntas, vivem uma parte do tempo juntas, e por isso, tem de praticar um viver no aspeto
de respeitabilidade, responsabilidade, compromisso, paciência, ajuda mútua entre
outros.” (REIS; OLIVEIRA, 2004, p.121)

1.2 MÚSICA CORAL EM CONTEXTOS SOCIAIS

Com uma sociedade cada vez mais conturbada onde a prática e apreciação musical são
cada vez menores existe uma grande ausência de estímulos para que as pessoas tenham
acesso à cultura e se possam desenvolver musicalmente desde a infância.

Muitas vezes os indivíduos não têm conhecimento dos benefícios que a música pode
trazer às suas vidas o que se deve ao facto de há uns anos este tipo de educação musical
não ser obrigatório.

Tendo em conta as afirmações em cima tem-se verificado um aparecimento de vários


projetos sociais que têm ascendido ao longo do tempo no país. Isto devido ao facto de
ser mais conveniente ao país apoiarem este tipo de projetos do que apostar numa boa
qualidade de ensino de música nas escolas. A música Coral é um destes projetos que

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consegue integrar vários membros de diferentes idades, permitindo assim uma


aprendizagem para todos onde também existe convivência entre participantes. Sobre
este ponto Fernando Ferreira dia que: “o coral visa propiciar às apenadas, quando da
sua soltura, um trabalho com reais possibilidades de ascensão, dentro de um contexto
livre de preconceitos e de um mercado em expansão e combater a depressão e o stress
inerentes à situação de clausura”. (PORTAL O DIA, 2008).

Analisando as citações acima referidas constata-se que independentemente da condição


social dos participantes é importante haver uma educação musical de qualidade, que
permitirá à música coral contribuir significativamente para a melhoria de vida dos seus
participantes.

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PONTO 2. O IMPACTO E INFLUÊNCIA DO MAESTRO NA GESTÃO DO CORO E NA FORMA


COMO ISSO INTERFERE NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS DOS PARTICIPANTES

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Um maestro do coro tem o papel de o unir o grupo para que todos os participantes
possam seguir de forma coesa o tempo, a dinâmica e o andamento indicado na regência
porque sem ele muito provavelmente os coralistas iriam perder a noção do tempo em
relação aos outros, principalmente nos coros amadores. Mas mais do que isso o maestro
coral pode assumir diferentes funções neste tipo de Coros. Como já abordado a música
coral pode ter o papal motivacional que traz diversos benefícios aos seus participantes. O
coro acaba por se tornar um local onde diferentes num espaço de convivência onde
vínculos e amizades poderão ser criados. Tendo isso em consideração é importante
realçar o papel do maestro neste processo de maneira geral e de que forma ele pode
contribuir para que estes tipos de relações possam acontecer. Para isso, o Maestro tem
de ter determinadas habilidades que o permitam gerir e conduzir as pessoas e também
estar preparado para poder lidar com situações que vão alem da atividade musical em si.
Segundo Amato:

“Os trabalhos com grupos vocais nas mais diversas comunidades, empresas, instituições
e centros comunitários pode, por meio de uma prática vocal bem conduzida e orientada,
realizar a integração entre os mais diversos profissionais, pertencentes a diversas classes
socioeconômicas e culturais, em uma construção de conhecimento de si e da realização
da produção vocal em conjunto, culminando no prazer estético e na alegria de cada
execução com qualidade e reconhecimento mútuos (enquanto fazedores de arte e
apreciados por tal, por exemplo, em apresentações públicas). Além disso, os
conhecimentos adquiridos pelos participantes do coral influenciam na apreciação artística
e na motivação pessoal de cada um, independentemente de sua faixa etária ou de seu
capital cultural, escolar ou social.” (AMATO, 2007, p.77).

O maestro tem de estar atento ao comportamento do coro e trabalhar também em


função do bem-estar e boa convivência entre os membros para que a sua motivação e
disposição para aprender esteja presente. É necessário ser-se extremamente cauteloso
nos coros amadores pois geralmente, ao contrário dos coros profissionais, os
participantes estão neste tipo de atividade para se satisfazerem e conviverem com outros
sem qualquer tipo de remuneração.

Tendo em conta este tipo de situação é bastante importante ficar-se atento à convivência
e motivação do grupo, onde o regente precisa de priorizar o grupo nas suas ações e ao

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mesmo tempo conhecer a individualidade de cada um dos participantes para se seja


possível respeitar e explorar o melhor de cada um. Segundo Amato:

“Essa liderança pode ser traduzida em bases de autoridade, que podem ser aplicadas ao
regente coral em três níveis: carisma, autoridade técnica (competência musical e
educacional do regente) e autoridade política (condução do grupo com o estabelecimento
de metas e bom nível de relacionamento do regente com o coro). [...] [...] Assim, um
regente inovador é facilitador, considera-se parte integrante do coro, cobra resultados
dentro de metas estabelecidas, divulga o conhecimento, valoriza a educação, patrocina
as boas ideias e sempre busca o consenso do grupo [...]” (AMATO, 2007, p.78 e 79).

O Repertório escolhido também é muito importante para que haja mais entusiamo dentro
do coro, o que varia consoante a idade e condições técnicas de execução das peças
escolhidas.

Por último aborda-se a questão da postura e comportamento do maestro no coro que é


considerado um exemplo pelos participantes. Dependendo da forma como o maestro se
expressa e a maneira como age poderá trazer ao de cima uma melhor aceitação às
propostas que o mesmo deseja oferecer ao conjunto. Amato e neto com base nas ideias
de McElheran falam sobre a postura do Maestro:

“McElheran (1966) também denota a relevância de o regente buscar, ao mesmo tempo,


a autoridade para conduzir o processo educativo e interpretativo e a compreensibilidade
dos problemas e expectativas individuais. Em suas palavras: O requisito mais importante
em um regente é a habilidade para inspirar os intérpretes. A isso podem ser dados
outros nomes: liderança, poder hipnótico, entusiasmo contagiante, ou apenas boa
habilidade de ensino (um ensaio é simplesmente uma aula na qual o regente ensina os
intérpretes como fazer música). Talvez isso seja mais bem descrito pela simples frase:
fazer os intérpretes quererem fazer seu melhor. […] Nos ensaios, o regente tem de
demonstrar uma prudente mistura de persuasão amigável, severidade, humor,
paciência, compreensão simpática, elogio, correção, fervor emocional e,
ocasionalmente, um toque de rigidez.” (McELHERAN apud AMATO; NETO, 2009, p.9

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PONTO 3. INTEGRAÇÃO E SOCIALIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DOS COROS DE


OLIVEIRA DO BAIRRO.

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3.1 APRESENTAÇÃO DA ESTRUTURA DO INQUÉRITO

Figura 1-perguntas 1 e 2 do inquérito

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Figura 2-perguntas 3,4 e 5 do inquérito
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Figura 3-perguntas 6 e 7 do inquérito

Figura 4-perguntas 8 e 9 do inquérito

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Figura 5-perguntas 10 e 11 do inquérito

Figura 6-perguntas 12 e 13 do inquérito

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Figura 7-pergunta 14 do inquérito

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3.2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS RECOLHIDOS

Foram recolhidas informações de 21 coralistas de dois coros do concelho de oliveira do


bairro são eles, o “Grupo coral de Oiã” e “Grupo coral da cas do povo do Troviscal”. Nestes
dois coros verificou-se uma taxa maior de população mais velha, sendo que a população
com idades medias, entre o 18 e 30 e menos de 18 anos seja uma minoria nestes coros.

Figura 8-gráfico representativo das idades dos inquiridos

Verificou -se que os participantes dos coros inquiridos têm uma diversidade de interesses
e motivos pelos quais as pessoas procuram uma atividade coral. A partir das respostas aos
inquéritos é possível verificar-se alguns elementos pertencentes às motivações,
integração dos coralistas e também o papel do maestro no ponto de vistas dos coralistas.
Nos resultados é notável que as respostas mais comuns em relação às motivações da
participação neste tipo de coros, devido a maior taxa de população idosa, acabem por ser
mais ligadas à falta de convivência e necessidade de não se sentir sós. Este tipo de situação
é bastante comum pois neste tipo de idades, para além do começo da perda da
mobilidade, o fator psicológico tende a decair também um pouco o que leva à
desmotivação dos próprios indivíduos.

18 Figura 9-gráfico representativo dos motivos pelos quais os inquiridos


participam nos coros
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Relativamente à integração 13 de 21 participantes consideram que existe respeito nas


diferenças ao nível da situação financeira, pondo-se de lado a “vida real”.

Figura 10-gráfico representativo do respeito às diferenças financeiras


entre os membros dos coros

Verificou-se também que a maioria dos participantes tem interesse na participação deste
tipo de coros pelo interesse, pelo lazer, pela necessidade interna sem obter uma
recompensa monetária que está mais ligada à felicidade e realização pessoal.

Notou-se entre os coristas que cerca de 16 de 21 dos inquiridos são respeitados pelos
outros membros o que permite uma facilidade de integração entre os mesmos. Estas
respostas estão diretamente ligadas à pergunta 4 do inquérito, onde cerca de 14 de 21
dos inquiridos consideram que têm uma boa relação entre si.

Figura 11-gráfico representativo do respeito entre membros dos coros

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Figura 12-gráfico representativo do relacionamento entre membros


dos coros

Verificou-se também que maior parte dos inquiridos consideram que o facto do
participarem neste tipo de coros e praticarem música coral tem influência nas suas
relações com os outros membros do grupo. Para alem de estarem todos no coro para
cantar existem outros fatores para alem da prática coral que permitem a criação de
relações entre os membros. O seguinte gráfico representa que cerca de 15 de 21
participantes consideram que a pratica e participação de música coral tem influência nas
relações com outros indivíduos do coro.

Figura 13-gráfico representativo da influência que a música coral tem


nas relações entre os indivíduos dos coros

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Em relação à regência do maestro e relação com o mesmo verificou-se uma boa


apreciação da opinião dos coristas para com o maestro, relativamente aos elementos de
condução do trabalho, escolha de repertório e importância do maestro na integração e
socialização dos coristas. De acordo com os resultados cerca de 11 de 21 inquiridos
acreditam que o maestro tem influência na integração dos membros onde se verifica que
os maestros dos dois coros têm um papel na integração.

Figura 14-gráfico representativo da influência que o maestro tem nas


relações entre membros dos coros

Cerca de 16 de 21 inquiridos referem que o maestro escolhe um repertório que lhes


agrada o que ajuda também na motivação para continuar no coro. Relativamente à
condução do trabalho verificou-se que cerca de 14 de 21 dos membros consideram que
os sensos de pertencimento e autonomia foram conseguidos por parte do maestro, o que
permite um auxílio de internalização do comportamento, já que nem sempre os coristas
executam tarefas por interesses nelas mesma, mas sim pelo que lhes pode trazer ao nível
dos seus objetivos pessoais.

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Figura 15-gráfico representativo do gosto do repertório escolhido pelo


maestro
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De acordo com os inquiridos verifica-se que cerca de 9 de 21 participantes consideram a


evidência do reconhecimento e aprendizagem de vários aspetos relacionados à prática
coral, mas não se limitando apenas aos aspetos musicais deste tipo de atividade.

Figura 16-gráfico representativo da aprendizagem sobre música pela parte dos


participantes ao praticarem música coral

Com estes resultados apresentados conclui-se que nestes dois coros existem uma análise
positiva por maior parte dos coristas relativamente aos às questões da integração,
interesse, motivação; papel do maestro na integração dos coristas, escolha de repertório
e na condução do trabalho.

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CONCLUSÃO

Com este trabalho consegue-se concluir que os objetivos socioculturais estão


relacionados com a música coral, onde a sua efetivação acontece graças às relações
interpessoais tanto por parte do regente como também dos coralistas. Este tipo de canto
é talvez uma das mais antigas expressões artísticas e comunicativas do ser humano que
tem demonstrado bastante potencial ao nível da integração social. É um tipo de música
que permite integrar pessoas de diferentes condições socioeconómicas e culturais, onde
se dão a conhecer novas formas de expressão ao mesmo tempo individuais e coletivas.
Cria possibilidades de lazer, convivência e também a conceção de compromisso de união
de grupo, responsabilidade, respeito e dedicação, independentemente das condições
económicas e da faixa etária dos participantes.

Cantar em coro é uma forma de se manter saudável o nosso corpo em vários aspetos e
que aos mesmo acaba por trazer a sensações de lazer, integração e motivação.

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BIBLIOGRAFIA

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