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PÓS-NEOLIBERALISMO?

UMA LEITURA CRÍTICA DA OBRA DE EMIR SADER


Alessandro Rodrigues Chaves1

RESUMO
Em A nova toupeira (2009) Emir Sader desenvolve a tese de que grande parte dos
governos que tomaram posse em finais da década de 1990 na América Latina formam um
“conjunto híbrido de forças” que colocam em prática alternativas ao até então hegemônico
modelo neoliberal, trata-se da possibilidade de um pós-neoliberalismo. Pelo critério utilizado
por Sader, o Brasil do governo Lula/Dilma seria um dos países que estaria avançando em
direção à superação do modelo neoliberal. O texto contido neste papper contém o eixo pelo
qual o autor constrói a tese do que vem a ser o pós-neoliberalismo e a estratégia para
superar o neoliberalismo. Diante das teses e propostas sugeridas por Emir Sader
passaremos a verificar, com base em uma bibliografia especializada, em que medida se
pode afirmar que o atual governo brasileiro avança em direção a superação do
neoliberalismo. Entendendo este, como um rearranjo do capital para superar a crise de
superprodução da década de 1970, pressuposto não desenvolvido em totalidade na obra de
Sader. Também é presente nas páginas seguintes, que o neoliberalismo assume feições
diferentes em países da periferia, pelo fato desses países terem se introduzido no
capitalismo pela via colonial, o que resulta em uma particularidade que traz elementos que
os impedem de avançar, no que iremos identificar como progresso social.

PALAVRAS-CHAVE: pós-neoliberalismo; neoliberalismo; crise de superprodução; América


Latina; Governo Lula; via colonial.

1
Discente de graduação de Ciências Sociais do Centro Universitário Fundação Santo André e
Bolsista pelo PIBIC/CNPQ com a pesquisa “Pós-neoliberalismo: A superação do Modelo Neoliberal
pelo ideário de Emir Sader”.

1
1. A CRISE HEGEMÔNICA DO NEOLIBERALISMO

Emir Sader utiliza em A Nova Toupeira 2009 a expressão de Karl Marx2 para
designar os processos atuais por qual passa a América Latina. Evidencia que a atual
configuração política3 destes países indica a existência de uma alternativa em curso ao
modelo neoliberal hegemônico desde finais dos anos 1970.
A construção de uma alternativa ao neoliberalismo tem suas origens, identificadas
pelo autor, nos movimentos sociais que resistiram às consequências das políticas
neoliberais. Encontramos como os sujeitos dessa resistência movimentos como, por
exemplo, os Piqueteiros na Argentina, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no
Brasil, Zapatistas no México, e movimentos indígenas na Bolívia e no Equador.
A ação dos movimentos que combateram as consequências neoliberais, em alguns
casos, desembocou em vitórias eleitorais que representaram os campos opostos ao
neoliberalismo (casos de Venezuela, Bolívia e Equador); em outros países, embora tenham
triunfado eleitoralmente governos também opostos ao neoliberalismo, o processo não se
deu de forma semelhante (Brasil4, Argentina, Uruguai, Paraguai). No primeiro caso, diz
Sader, a base social crítica ao modelo neoliberal partiu da fase defensiva (resistência) para
a ofensiva (alternativas políticas ao modelo neoliberal); no segundo caso, os movimentos
reivindicatórios limitados, segundo o autor, pela ideia de “autonomia dos movimentos
sociais” 5, tese que afasta os movimentos sociais da esfera do poder e acaba por não
elaborar uma alternativa política ao neoliberalismo, não compuseram o poder como no
primeiro caso. Dessa forma, se percebe que Venezuela, Bolívia e Equador possuem em
suas intenções políticas, ações e discursos antineoliberais fortalecidos pela sustentação de
uma base oposta ao neoliberalismo; enquanto que para Brasil, Argentina, Uruguai e
Paraguai, os governos eleitos tiveram de adotar a estratégia de ampliação de alianças para
se sustentarem no poder.

2
A expressão é utilizada por Marx em O Dezoito Brumário de Napoleão Bonaparte, no seguinte
trecho: “Mas a revolução é radical. Ainda está passando pelo purgatório (...). E quando a revolução
tiver concluído essa segunda metade de seu trabalho preliminar, a Europa se levantará de um salto e
exclamará exultante: Belo trabalho, minha boa toupeira!” (MARX. 2010, p. 131)
3
A configuração a qual se refere Sader se expressa em governos eleitos em finais da década de
1990, a começar por Hugo Chávez em 1998 na Venezuela; Lula no Brasil em 2002; Nestor Kirchner
na Argentina em 2002; Tabaré Vázquez no Uruguai em 2004; Evo Moralez na Bolívia em 2006;
Daniel Ortega na Nicarágua em 2007; Rafael Correa no Equador em 2007 e Fernando Lugo no
Paraguai em 2008.
4
Elemento para discussão posterior pretendida pelo projeto em andamento se dá em verificar o
destacamento por parte da ala predominante do partido (PT) em relação a sua base – identificado na
obra do próprio autor. Aspecto que dificulta a possibilidade de pós-neoliberalismo no Brasil de
Lula/Dilma.
5
Exemplos dessa tese se encontra em John Holloway, principalmente em sua obra Mudar o mundo
sem tomar o poder.

2
Um ponto fundamental nos escritos de Sader – e não o único para compreender de
fato sua tese – está na identificação por parte do autor de uma “crise hegemônica” do
modelo neoliberal. É importante utilizar algumas linhas para entender o motivo da crise
hegemônica do neoliberalismo da forma demonstrada por Emir Sader, para
compreendermos como foi possível, sempre segundo o autor, a abertura para uma proposta
alternativa.
Em primeiro lugar, devemos ter em mente que de fato, e Sader se preocupa em
demonstrar, ocorreu em finais da década de 1970 a hegemonia neoliberal no mundo
ocidental. A imposição do “pensamento único” ou “consenso de Washington”, contaram com
a adesão na América Latina – de forma semelhante ao ocorrido nos países europeus – de
partidos tradicionalmente identificados como socialdemocratas e nacionalistas. Dessa
forma, aderiram ao neoliberalismo governos de direita (Pinochet), nacionalistas (PRI
mexicano e os Peronistas na Argentina) e socialdemocratas (Brasil, Venezuela e Chile).
No entanto, diz Sader, esses governos não conseguiram “criar as bases sociais de
sua reprodução e legitimação” (Sader. 2009, p. 50), exatamente pelas consequências
intrínsecas do neoliberalismo: investimentos localizados no setor financeiro e não no
produtivo; concentração de renda, exclusão dos trabalhadores e desemprego, e a
desindustrialização das economias do continente. (Sader, 2009, p. 51) Já podemos adiantar
que tal tese não está isenta de críticas por parte de outros autores. Veremos adiante que o
bloco de sustentação do neoliberalismo não é homogêneo, resultando em diversas frações
em disputa (Boito Jr. 1999).
O autor de A Nova Toupeira identifica o sucesso do neoliberalismo ao alcançar a
estabilidade monetária, mas já percebe que “os governos neoliberais não conseguiram
consolidar no poder um bloco de classes que lhes dessem sustentabilidade.” Vale citar a
análise do autor referente aos motivos do isolamento dos governos neoliberais,

“Fraturaram radicalmente as camadas médias, cooptando um setor


superior para os processos de modernização da economia, mas
empurraram para o empobrecimento o contingente majoritário delas,
ao mesmo tempo que neutralizaram relativamente as reações de
massa, com a fragmentação, a informalização e o desemprego no
mundo do trabalho. O modelo passou assim, precocemente, da
euforia à depressão, ao dos governos que o mantiveram.” (Sader.
2009, p. 51)

Diante do exposto, vale ressaltar que para o nosso autor, as maiores vitórias do
neoliberalismo não se deram no plano econômico, mas no plano social e ideológico. No
plano social por conseguir fragilizar e fragmentar os setores antes organizados do trabalho,
como sindicatos, por exemplo, diminuindo o poder de reivindicação destes setores frente ao
desemprego crescente e o aumento do trabalho informal. No plano ideológico, a

3
predominância, principalmente após a queda da União Soviética, dos valores e do modo de
viver norte-americano. Conseqüências da passagem de um mundo bipolar para um
unipolar.

Vale enfatizar que o entendimento da crise do neoliberalismo apontada por Sader,


deve passar pela constatação de que as políticas neoliberais não conduziram a uma
retomada do crescimento econômico. O neoliberalismo não conseguiu alavancar o
crescimento aos moldes das décadas em que o Estado se mostrava como regulador da
economia. O motivo da não retomada do crescimento se dá, segundo Sader, pela crítica
neoliberal ao Estado regulador e pela apologia destes críticos à livre-circulação de
mercadorias, o que resulta em uma “maciça transferência do capital do setor produtivo para
o especulativo”; ainda, segundo o autor,

“Este, como expressão do fenômeno estrutural do período de


excedentes de capitais, não apenas bloqueia a possibilidade de um
novo ciclo longo expansivo da economia, como também significa a
hegemonia do capital financeiro, sob sua forma especulativa”.
(Sader. 2009, p. 60)

Dessa forma, nota-se no livro de Emir Sader, uma crise de hegemonia do


neoliberalismo. Crise gerada, em síntese, principalmente por dois aspectos: a não
consolidação de uma base de sustentação no poder, devido principalmente as ofensivas
neoliberais contra as classes mais baixas por não distribuir renda e aumentar a
desigualdade social; o segundo aspecto atinge o próprio bloco no poder, trata-se da não
retomada do crescimento econômico, o que resulta em um questionamento do modelo
neoliberal pelos setores não contemplados com as políticas neoliberais.

Os efeitos da crise hegemônica do neoliberalismo, na América Latina, foram,


segundo nosso autor, manifestados nas urnas, fazendo com que as forças “antineoliberais”
e “progressistas”, transformassem os países que um dia foram “paraísos neoliberais” em
“oásis antineoliberais”, termos utilizados pelo autor.

1.1 . O PÓS-NEOLIBERALISMO

Em poucas linhas vamos expor por quais caminhos Emir Sader busca definir o que seria
o pós-neoliberalismo. O subtítulo de sua obra, a saber, os caminhos da esquerda latino-
americana evidenciam o que será a investigação do autor e por quais caminhos irá traçar a
sua tese. Vale enfatizar que o autor se coloca no campo da esquerda e é com esta que
busca dialogar, sendo assim, busca uma nova estratégia para a esquerda latino-americana,
uma estratégia que tente superar incorporando os elementos positivos das estratégias

4
anteriores6. Dessa forma, nosso autor irá descrever a terceira estratégia da esquerda latino-
americana, e esta tem como principal objetivo a superação do modelo neoliberal.
Com o intuído de justificar tal estratégia – e conseqüentemente sua tese – Sader irá
resgatar o debate presente na esquerda até os dias atuais entre reforma e revolução. Expõe
– e o espaço não permite que façamos o mesmo – as concepções de diversos teóricos da
esquerda mundial que elaboram teses sobre essa polarização. Para nossos fins, que condiz
com a conclusão do autor, basta identificar que Emir Sader busca se afastar da –
identificada por ele – lógica ultra-esquerdista. Segundo Sader, tal lógica por reduzir sempre
as lutas a uma luta contra o capitalismo não consegue identificar a verdadeira configuração
e particularidade da América Latina; exemplifica nosso autor que todas as revoluções não
se iniciaram como lutas contra o capitalismo em favor do socialismo, mas nasceram da
realidade imediata concreta (“paz, pão e terra”, na Rússia; expulsão do invasor japonês e a
revolução agrária na China; a derrubada da ditadura batistiana em Cuba etc.). Assim, a
dicotomia Reforma/Revolução deve ser superada, em prol da reformulação de uma
estratégia que condiz com a realidade concreta atual.
Com isso em mente, a saber, o afastamento de concepções denominadas ultra-
esquerdistas que buscam combater diretamente o capitalismo, e assumindo alternativas
que levem em consideração a junção entre as reformas democráticas, estas no sentido de
retomar o poder do Estado, pois é este que pode garantir os direitos sociais ainda
existentes e devolver os tirados pelo neoliberalismo, e a guerra de guerrilhas que ressalta o
caráter de movimento de reivindicação direta, é que se dá a perspectiva de uma nova
formulação de uma estratégia para a esquerda. Assim o pós-neoliberalismo enquanto
estratégia,
“/.../ traz novos desafios teóricos que, pelas condições novas que as
lutas sociais e políticas enfrentam no continente, iluminam uma
prática necessariamente nova, e, mais do que em qualquer outro
momento, requerem reflexões e elaborações estratégicas que
apontem para as coordenadas de novas formas de poder.” (p. 100)

Buscando, então, explicitar o que seriam as “novas formas de poder” pós-


neoliberais, devemos recorrer à forma como expõe Sader em A Nova Toupeira, a alguns
aspectos da elaboração do conceito de hegemonia em Gramsci, pois é nele que nosso
autor se apoia. Para isso é necessário uma longa citação, pois é exatamente desta
formulação que a terceira estratégia irá emergir teoricamente:

6
As estratégias anteriores, segundo Sader, são respectivamente as estratégias de reformas
democráticas e a guerra de guerrilhas. Da primeira preserva-se o caráter democrático e a retomada
do crescimento econômico, mas rejeita aliança com a burguesia; da segunda preserva o caráter
insurrecional espontâneo exemplificado pelas ações de movimentos sociais, mas rejeita-se a ideia de
aniquilação do inimigo. Ressalta-se que ambas as estratégias foram derrotadas devido a erros de
compreensão sobre a realidade posta, no caso da primeira, e a desproporção da correlação de
forças, no caso da segunda.

5
“Como disse corretamente Gramsci, Lenin [ao analisar situação e
crise revolucionária] referia-se à estratégia em sociedades atrasadas,
nas quais os eixos determinantes do poder se articulam em torno do
aparelho do Estado, cuja posse permitiria desarticulá-los e partir para
a construção de um novo poder. Em termos gramscianos, a
hegemonia nessas sociedades apoia-se fundamentalmente na
coerção, e não nos consensos. Tal análise aponta para a construção,
muito mais complexa, de estratégias políticas em sociedades em que
o poder se assenta sobre consensos fabricados e os eixos do poder
são coordenados pelo aparelho do Estado, mas seus pilares
determinantes se situam fora dele. Assim, construir uma estratégia
de poder nessas sociedades consiste em construir projetos
hegemônicos alternativos (contra-hegemônicos) que desembocarão
no aparelho do Estado, mas cujas batalhas determinantes se darão
nas extensas e complexas tramas das relações econômicas, sociais
e ideológicas da sociedade em seu conjunto.” (Sader. 2009, p.107)

No primeiro momento da análise – nas sociedades em que a hegemonia se


estabelece não pelo consenso, mas pela coerção – percebe-se que a disputa pelo poder
estatal se mostra coerente, no sentido de possibilitar uma mudança que passe a
caracterizar a hegemonia como consenso e não mais somente na coerção. Agora, no
segundo momento – em sociedades em que a hegemonia se dá pelo consenso – tal
proposta, adotada por Sader, se mostra como uma disputa de ideias, no sentido de se
construir outro consenso que não o hegemônico (“contra-hegemônico”).
Notamos, com apoio na teoria de Gramsci que a terceira estratégia ganha corpo. Em
síntese, e grosso modo, trata-se de um campo de disputa do consenso, que tem sua esfera
determinante fora do Estado, mas que o resultado, a fabricação do novo consenso (“contra
hegemônico”, no caso antineoliberal) ganha feições concretas com a conquista do Estado.
Vale reforçar a defesa dessa estratégia com uma citação:
“É necessário recordar que as estratégias antineoliberais, as únicas
possíveis no marco das correlações de forças nacionais e
internacionais, supõem uma disputa hegemônica prolongada, porém
não significam nem a aliança subordinadas a frações burguesas
dominantes – como na estratégia reformista tradicional – nem o
aniquilamento do adversário – como na estratégia da luta armada.
Significam antes recolocar a disputa hegemônica como guerra de
posições – no sentido gramsciano –, passando pelas conquistas de
governos, de programas que revertam os processos
mercantilizadores e retomem a capacidade reguladora e de
implementação de medidas sociais por parte do Estado, que
impulsionem a recomposição de sujeitos sociais antineoliberais e
anticapitalistas e, numa etapa superior, a partir de um Estado
refundado, cristalizem a nova relação de forças e de poder entre os
grandes blocos sociais.”(Sader. 2009, p. 174)
Mesmo que a citação já indique, de forma sumária as características principais do
pós-neoliberalismo, vamos buscar sistematizar os eixos essenciais da formulação do pós-
neoliberalismo de Sader.

6
O que vem a ser a superação do neoliberalismo para Emir Sader é o que irá se opor
ao que o sociólogo entende por neoliberalismo. Em poucas linhas, Sader tem uma
concepção do que é o neoliberalismo com base nas ações dos governos. Os governos
neoliberais são, segundo o autor, os que privilegiam a mercantilização das relações sociais
a privatização das empresas públicas, a precarização do trabalho, principalmente
incentivando a informalidade pela flexibilização dos contratos, e em geral, a redução de
direitos para a população mais pobre, na medida em que tudo passa a ser mercantilizado.
Tal concepção – com a qual este trabalho buscará dialogar mais a frente – não pode ser
separada da forma como Sader entende o Estado capitalista atual:
“Por outro lado, o polo oposto [ao neoliberalismo] não é o Estado. O
Estado não se define, por si só, sua natureza, por que pode ser um
Estado socialista, de bem-estar social, fascista, liberal ou neoliberal.
É um espaço de disputas sobre suas determinações. No
neoliberalismo, é um Estado mercantilizado, financeirizado, que
arrecada recursos no setor produtivo e os transfere, em grande
medida, para o capital financeiro através do pagamento das dívidas.
Ou pode ser um Estado refundado por governos que buscam superar
o neoliberalismo, constituindo novas estruturas de poder. O Estado é,
assim, um espaço de disputas.” (Sader. 2009, p.147)

Com esses pressupostos a alternativa pós-neoliberal, tem por principal fundamento a


seguinte característica:
“/.../ é a esfera pública, aquela constituída em torno dos direitos, da
universalização deles, o que necessita de um profundo e extenso
processo de desmarcantilização das relações sociais. Democratizar
significa desmercantilizar, tirar da esfera do mercado para transferir
para a esfera pública os direitos essenciais à cidadania, substituir o
consumidor pelo cidadão. Sendo assim, superar o neoliberalismo
requer a refundação do Estado em torno da esfera pública,
incorporando-lhe espaços como o de orçamento participativo, que
representa a colocação de decisões fundamentais nas mãos da
cidadania organizada.” (Sader. 2009, p. 147)

Alguns exemplos da atuação da esfera pública podem ser encontrados durante a


obra de Sader de ações pós-neoliberais. Entre essas ações se destaca o exemplo da
Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA), na qual os países membros buscam formas
alternativas de comércio, as relações comerciais buscam se pautar pelo “comércio justo” e
não como no neoliberalismo pela mercantilização. Assim, a Venezuela fornece petróleo
para Cuba em troca de médicos e professores, o resultado é praticamente a eliminação do
analfabetismo no país de Hugo Chávez e diversos mutirões a fim de diminuir doenças entre
as populações mais pobres.
Essas medidas (ALBA, Banco do Sul e demais processos de integração entre os
campos progressistas da região) tem o fim de superar o “consenso” estabelecido pelo
Banco Mundial, pelo Fundo Monetário Internacional, enfim, por instituições representantes

7
do imperialismo norte-americano. Por esse motivo, o combate e o isolamento dos Estados
Unidos, entre os países que caminham (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), ou já podem
ser considerados pós-neoliberais (Venezuela, Bolívia e Equador) deve ter prioridade. E
segundo Sader, a rejeição aos Estados Unidos serve como critério fundamental para unir os
governos tanto do campo progressista como os pós-neoliberais em um único bloco de
oposição ao modelo:
“Portanto, a linha divisória fundamental na América Latina não se dá
entre uma esquerda boa e uma esquerda ruim /.../ A linha divisória
fundamental é aquela que separa os países que assinaram tratados
de livre-comércio com os Estados Unidos e os que privilegiaram os
processos de integração regional. Esse é o critério determinante para
julgar os governos.” (p.154)

É neste sentido que Sader identifica como fundamental a rejeição a Área de Livre
Comércio entre as Américas (ALCA). Se em finais da década de noventa do século passado
existia um consenso ao tratado de livre comércio, em 2005 todos os governos citados
rejeitaram o acordo proposto pelos norte-americanos.
O ponto central nesta parte de nosso trabalho é ressaltar que, embora as
especificidades, todos os países compõem um único bloco – “híbrido de forças” diria Sader
– que colocam em maior ou menor medida projetos pós-neoliberais. Portanto o Brasil do
governo petista é objeto de nosso trabalho, assim como ganha um bom número de páginas
de A Nova Toupeira.
Quanto ao governo do Partido dos Trabalhadores (PT), diz Sader que este recebe
críticas tanto da direita quanto dos que se encontram à esquerda do PT. No entanto,
percebemos nas análises e posições emitidas por Sader, que embora o autor tenha acordo
com as críticas oriundas dos que se colocam a esquerda do governo do PT7, utiliza de suas
páginas para enfatizar o caráter progressista do governo. Para Sader o governo petista
pode ser considerado como uma expressão da esquerda, pelos seguintes aspectos:
“/.../ suas políticas sociais, pelo bloqueio à ALCA e pela prioridade
dada aos processos de integração regional e Sul-Sul, por ter freado
as privatizações e os processos de enfraquecimento da capacidade
de intervenção do Estado e de precarização das relações de
trabalho, assim como ter aumentado sistematicamente o emprego
formal, diminuído o desemprego e elevado o poder aquisitivo do
salário mínimo.” (Sader. 2009, p. 72)

O nosso autor entende que existe elementos de continuidade das políticas


neoliberais implantadas pela gestão de Fernando Henrique Cardoso, principalmente pela
manutenção da autonomia do Banco Central, pelo não rompimento com o capital financeiro

7
De forma sistemática as críticas emergem da esquerda e são assumidas por Emir Sader são: 1) não
romper com o capital financeiro em sua forma especulativa; 2) aliança com o grande capital
exportador, com forte presença do agronegócio; 3) não caracterizar os Estados Unidos “como
cabeça do imperialismo mundial”.

8
especulativo, altas taxas de juros e manutenção do superávit primário. Mas identifica a partir
do segundo mandato de Lula (2006 – 2010) até os dias atuais do governo Dilma, a
retomada do crescimento econômico e a prioridade, segundo Sader, das políticas sociais. O
segundo mandato de Lula, para o nosso autor, teria diversificado e ampliado o mercado de
exportações, fortalecido o consumo interno, principalmente de consumo popular e ainda,
com as palavras do autor, o governo do PT:

“/.../promovia, pela primeira vez em nossa história, uma reversão na


distribuição de renda a favor dos setores mais pobres: as chamadas
classes D e E deixaram de ser maioria na população, posição
ocupada agora pela classe C /.../ O emprego formal, ainda que, em
geral, de baixa qualificação, cresceu de maneira sustentada,
revertendo um dos piores, senão o pior efeito negativo direto do
neoliberalismo sobre a massa da população.” (Sader. 2009, p. 87)

Tais políticas colocam o Brasil de Lula/Dilma no mesmo bloco de países que já podem ser
considerados pós-neoliberais (Venezuela, Bolívia e Equador) por prevalecer, diante do
critério estabelecido por Sader, os aspectos progressistas do governo:

“/.../ o critério que definimos como fundamental para a América Latina


vale também para o Brasil: a prioridade da integração regional em
relação aos tratados de livre-comércio e a promoção dos direitos
econômicos e sociais dos mais pobres, ainda mais que se trata de
um país com altos graus de desigualdades. Diante desse elemento
caracterizador da natureza dos governos latino-americanos, o caráter
progressista do governo Lula é predominante /.../” (Sader. 2009, p.
89)

2 . O NEOLIBERALISMO

A nossa investigação sobre o neoliberalismo tem como ponto de partida uma


formulação de Giannotti, citado por Chasin: “/.../ o decisivo não é tanto o que um nome
possa designar, “mas como o objeto nomeado se objetiva, se individualiza, enquanto
entidade social” (Giannotti. apud. Chasin. 2000, p. 44). Pois levar em consideração a
nomeação esquecendo-se da manifestação real que o nome tende a representar, pode nos
levar a análises apressadas e equivocadas, como ocorreu quando houve um consenso
geral ao se falar de globalização (Chenais, 1996).
Dessa forma partimos para a compreensão das origens do neoliberalismo em sua
ação prática, o que nos fez tomar distância dos teóricos que na década de 1940 (Hayek,
principalmente) fundaram a doutrina neoliberal, que, podemos desde já afirmar, muito se
difere do neoliberalismo enquanto prática (Harvey. 2008).

9
O neoliberalismo não pode ser entendido senão como resultado da crise capitalista
de meados da década de 1970, para Mandel crise de superprodução, como veremos8.
Mesmo sabendo que a obra do fundador da teoria neoliberal data da década de 1940 - O
Caminho da Servidão, de Frederich Hayek9 - tal teoria só ganhou de fato o ambiente
acadêmico, os escritórios das principais instituições internacionais e o gabinete dos
governos dos países centrais, em finais da década de 1960, no momento em que um longo
período de acumulação que seguia desde os fins da Segunda Guerra sinalizava seus
limites. Assim, o Estado interventor com respaldo na teoria keynesiana e o movimento dos
trabalhadores e seus sindicatos, ambos alvos dos ataques de Hayek, foram os grandes
responsabilizados pela crise.
No entanto tal reflexão não esgota o assunto; é somente descobrindo as
determinações que fizeram as ideias de Hayek e de seu principal propagador Milton
Friedman emergirem em finais da década de 1960 e principalmente em meados da década
de 1970, que se pode encarar de fato o problema de uma superação do modelo neoliberal;
em poucas palavras, só podemos compreender de fato uma superação de tal modelo se
soubermos identificar sua gênese e a função que ele acabou por desempenhar desde a
crise dos anos 1970. E para isso não resta outro caminho a não ser compreendendo a crise
de superprodução dos anos 1970 e seus desdobramentos – mesmo que minimamente.

2.1 - A crise dos anos 1970 e a forma emergida de sua superação


Ernest Mandel não tem dúvidas de que a crise que se manifestou nesta década é
uma crise de superprodução, – embora suas especificidades – típica do capital, “A recessão
de 1974/75 é a conclusão de uma fase típica de queda da taxa média de lucros”. (Mandel,
1990, p. 23)
É possível perceber se tratar de uma crise de superprodução por ter aprofundando o
desemprego sinalizando a desaceleração da economia em geral, e pela identificação da
capacidade ociosa encontrada no processo de produção, fato ao qual Mandel chama
atenção. Isso se dá pelo que Marx chamou de bifurcação do valor, a saber,
“As condições da exploração imediata e as de sua realização não
são idênticas. As primeiras apenas são limitadas pela força produtiva
da sociedade; as outras, pela desproporcionalidade dos diferentes
ramos da produção e pela capacidade de consumo da sociedade”.
(Marx. 1980 apud. Mandel. 1990, p. 209)

8
Tal formulação – já podemos adiantar – se diferencia das concepções que entendem o
neoliberalismo como um tipo de governo que coloca em práticas políticas neoliberais. Emir Sader,
pelas nossas leituras, se identifica com essa concepção, o que o afasta de tomar como determinante
os pressupostos que fazem emergir o neoliberalismo.
9
Que segundo Perry Anderson é “um ataque apaixonado contra qualquer limitação, por parte do
Estado, dos mecanismos de mercado. Qualquer interferência nessa direção é denunciada como uma
ameaça letal à liberdade, não somente econômica, mas também política.” (Anderson. 1995. p, 9)

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Entendemos dessa forma, a não possibilidade encontrada pelas forças produtivas
incorporadas pelo capital de realizar sua valorização, devido – entre outros fatores – a
desproporcionalidade entre a capacidade de produção instaurada – intensamente
aumentada pelo emprego de novas tecnologias – e a capacidade de realização desse valor
no mercado, pelo mercado consumidor. Vale uma passagem do artigo do professor Cotrim
para melhor compreender a, chamada por Mandel, crise estrutural
“A modificação revelada em relação às anteriores – mesmo à de
1929 – a despeito de sua extensão, está fundada nas condições para
o uso da capacidade instalada, já que sua produção, em função da
concorrência e da expansão das forças produtivas sem capacidade
correspondente de realização do valor produzido, limita, na
radicalidade, sua plena ocupação: “Podemos deduzir uma não
utilização quase permanente, para fins produtivos, de perto de um
terço da capacidade instalada de produção nos Estados Unidos”
(Mandel, 1990, p. 26, grifo do autor) – isso reflete bem o novo caráter
da crise resultante da acumulação de capital.” (Cotrim, 2011, p. 154)

Tal ociosidade de grande parte da capacidade produtiva instalada se manifesta no


declínio do processo de produção de massa, caracterizada pelo período fordista, no qual
era frequente a mediação do Estado na relação capital-trabalho promovendo acordos
coletivos e políticas compensatórias típicas dos Estados de bem-estar social, como assinala
Teixeira:
“A partir do final dos anos sessenta, esse modelo de acumulação
entra em crise. De acordo com os teóricos da economia política da
social-democracia, assiste-se, a partir de então, uma erosão
crescente do compromisso entre capital e trabalho, da chamada
“relação salarial fordista.” (Teixeira. 1996, p. 214)

Perceber essa modificação no processo de produção é fundamental para os nossos


objetivos, pois, é exatamente como consequência da crise dos anos setenta e também,
como vimos, de seu processo de produção, o modelo fordista, que serão elaboradas pelos
neoliberais novas formas de produção com o intuito de superar a crise,
“A crise vem sendo enfrentada através de um processo de
reestruturação produtiva, que se faz acompanhar de novas
tecnologias, que permitem uma produção flexível capaz de satisfazer
as novas exigências do mercado e, assim, criar condições para que a
oferta de bens e de serviços possa acompanhar as mudanças de
hábitos no consumo. Se, antes, no chamado modelo de acumulação
fordista, as empresas produziam sem se preocupar com a demanda
de mercado, a partir de então as mercadorias não são mais
produzidas para serem lançadas no mercado /.../ Para tanto, as
empresas procuram reestruturar a sua organização produtiva. Em
lugar de grandes corporações produzindo desde a matéria-prima até
o produto final /.../ busca-se uma estrutura mais enxuta, mais flexível,
capaz de responder aos movimentos de mudanças na composição
da demanda. A terceirização, como é conhecida no Brasil, é um dos

11
expedientes mais utilizados pelas empresas hoje em dia.” (Teixeira.
1996, p. 215)

Além da reestruturação da produção, novas formas de conseguir com que o capital


complete seu ciclo vão surgir, o montante de capital acumulado nas décadas anteriores,
não podendo se revalorizar internamente, exatamente pela bifurcação mencionada, irão
buscar a sua ampliação em outros países onde existem condições para isso. É neste
contexto que identificamos o que Chesnais(1996) irá chamar de mundialização do capital,
se opondo ao termo globalização, pois segundo Chesnais:
“A expressão “mundialização do capital” é a que corresponde mais
exatamente à substância do termo inglês “globalização”, que traduz a
capacidade estratégica de todo grande grupo oligopolista, voltado
para a produção manufatureira ou para as principais atividades de
serviços, de adotar por conta própria, um enfoque e conduta “globais”
/.../ A interação internacional dos mercados financeiros resulta, sim,
da liberalização e desregulamentação que levaram à abertura dos
mercados nacionais e permitiram sua interligação em tempo real.”
(Chesnais. 1996, p. 17)

Dessa forma, percebemos que não se trata de uma interação do comércio exterior
entre nações, mas de grandes grupos, que se beneficiando das aberturas de mercados e da
desregulamentação da economia, encontraram um vasto campo de ação para a sua
mundialização.
Durante a crise dos anos 70, a solução encontrada pelos países desenvolvidos –
devido à bifurcação que já mencionamos – foi a de exportar o excedente de capital e os
problemas sociais decorrentes da crise. Assim se exportava produtos industrializados e
também os problemas como uma alta taxa de desemprego. Neste aspecto, e para a
propagação do “pensamento único”, os países do terceiro mundo tiveram papel
fundamental. Pois,
“Foi para exportar uma produção que se tornara monumental, e não
só para reciclar os “petrodólares”, que os países centrais do sistema
mundial ajudaram, ou até incentivaram, os países do Terceiro Mundo
a acumularem uma dívida externa gigantesca, que logo iria se tornar
um fardo insuportável.” (Chesnais. 1996, p. 218)

O neoliberalismo se torna o “pensamento único” de meados da década de oitenta,


até os dias atuais – que é a tese que este trabalho visa elucidar – por ser a opção
encontrada pelo capital de voltar a acumular como antes e não como uma teoria utópica do
melhor funcionamento da sociedade. Neste sentido é lúcida a tese que David Harvey
assume em sua obra ao colocar as duas interpretações possíveis sobre o neoliberalismo, a
saber, uma é entendê-lo como “um projeto utópico de realizar um plano teórico de
reorganização do capitalismo internacional”; outra é como um “projeto político de
restabelecimento das condições de acumulação do capital e da restauração do poder das
elites econômicas”. (Harvey, 2008, p.27) O autor se filia a segunda interpretação.

12
O movimento do capital para buscar superar sua crise inerente pode ser sintetizado
em quatro movimentos, que aparentemente distintos, não podem ser tratados isoladamente:
“desmantelamento do aparato burocrático do Estado, desverticalização produtiva,
flexibilização do mercado de trabalho e desregulação da economia.” (Teixeira. 1996, p.
224).

3 - Especificidade brasileira: neoliberalismo pela via colonial


A análise desenvolvida até aqui buscou encontrar na crise do modelo fordista a
origem do neoliberalismo – este entendido não como uma doutrina ideológica, mas como
um rearranjo das possibilidades de acumulação do capital. No entanto, a localização da
ofensiva neoliberal mencionada acima se refere – por ser feita de forma genérica – aos
países do centro, pois tal modelo, nestes países, propiciou a inclusão dos trabalhadores no
processo de acumulação; não por vontade política ou dos capitalistas, mas principalmente
para garantir a reprodutividade do próprio modelo, pois, este, “/.../ implicava a necessidade
de o capital dividir, com os trabalhadores, os ganhos de produtividade alcançados, através
do aumento real dos salários.” (Filgueiras, 2012, p. 50) Procuraremos mostrar, nas linhas
que se seguem, que o Brasil – pela sua especificidade – não passou por um processo
semelhante. Aqui, ao contrário, a forma encontrada para garantir a acumulação capitalista
se deu através da exclusão da grande massa da população.
Dessa forma é insuficiente a compreensão da radical abertura do mercado brasileiro
durante a década de 1990 sem levar em conta os aspectos que caracterizam a sua
especificidade. Faz-se necessário entender a receptividade de capitais em solo brasileiro
não como oriundo da vontade da burguesia brasileira, ou como simples adesão ao
“pensamento único” ditado pelo Fundo Monetário Internacional e demais órgãos
propagadores das políticas neoliberais; mas sim é necessário demonstrar que a inserção
definitiva do Brasil no capital mundializado aos moldes neoliberais, se deu com
características especificas que tem seus germes na chamada via colonial de objetivação
capitalista. As características que garantem a especificidade do processo de acumulação
capitalista no Brasil são as que ainda se encontram na sociedade brasileira dos dias atuais,
embora com significativas modificações.
A análise que diz respeito à objetivação do capitalismo em países que cumpriram o
papel de colônia durante a fase mercantilista e imperialista possui características
especificas que além de diferir dos países que seguiram o modo clássico no qual as
revoluções burguesas exerceram o papel fundamental ao romper com o modelo precedente
(Inglaterra, França), também se diferem dos países de capitalismo tardio (Alemanha, Itália).
Esta configuração específica evidencia que a subordinação aos países do centro data
desde a inserção dos países periféricos no processo de acumulação primitiva do capital.

13
Autores como Caio Prado Jr. e José Chasin demonstram que a especificidade brasileira –
via colonial – resulta em uma classe burguesa inerentemente atrelada ao capital
metropolitano sem possibilidade de rompimento e desenvolvimento autônomo. Em outras
palavras, sem revolução burguesa que poderia efetivar a possibilidade de um
desenvolvimento capitalista que incluísse, na medida do possível – como diz Chasin – parte
da população, como ocorreu nos moldes clássicos.
Por isso o caráter autocrático da burguesia brasileira. Ao não se por como classe
revolucionária, por ser originalmente atrelada ao capital externo, essa usufrui do poder
político-econômico excluindo as massas da participação política, realizando as transições
de forma acordada, pelo alto. Assim a burguesia brasileira é autocrática em sua origem,
impossibilitada de realizar uma revolução burguesa do tipo clássico europeu, de romper
com amarras de um antigo regime, esta se valeu do velho para projetar o novo10. Essa
simbiose – para lembrar Francisco de Oliveira (2003) – resulta em uma impossibilidade da
burguesia nacional de se constituir hegemônica e principalmente de completar o processo
capitalista por inteiro no Brasil, resultando em uma insuperável subordinação ao capital
externo. Tal cenário se mostra em uma especifica configuração,
“que particulariza formações sociais economicamente subordinadas,
socialmente inconsistentes e desastrosas, politicamente instáveis em
sua natureza autocrática e culturalmente incapacitadas de olhar para
si com os próprios olhos e traçar um horizonte para seus dilemas
específicos na universalidade dos impasses mundiais. Sob influxos e
refluxos do capital metropolitano, produzem e reproduzem a miséria
de sua incontemporaneidade, armada sobre a incompletude de seu
capital incompletável e, por isto, sobre a natureza invertebrada de
suas categorias sociais dominantes e, por decorrência, sobre a
inorganicidade de suas categorias sociais subalternas.” (Chasin.
2000, p. 212)
Em um cenário de crise do capital – manifestada de forma intensa em meados dos
anos setenta, como vimos acima – a configuração particular do Brasil e dos demais países
que passaram pelo árduo processo capitalista da via colonial se apresentam como locais
por excelência para a recepção dos capitais excedentes oriundos do capital superproduzido.
Com efeito, o que se notará, após a década de 1970, e principalmente, após o
complexo – e ainda questionável – processo de democratização no Brasil é a recepção de
uma chuva de capitais, principalmente em sua manifestação financeira, a fim de buscar
completar o seu ciclo inerente nos países subdesenvolvidos. Creio que o importante a se
ressaltar é que a possibilidade de uma forma de desenvolvimento que tenha como
finalidade a superação do caráter autocrático da burguesia nacional resultante do modo de

10
Sem pretensões de desenvolver aqui a dualidade cepalina entre atrasado e moderno, mas sim
demarcar no espaço e na forma de acumulação a passagem do modo de produção
predominantemente agrário exportador para o de base urbano industrial, no entanto sem ruptura
radical entre os dois.

14
acumulação do capital configurado pela via colonial, ou seja, um desenvolvimento, como diz
Chasin, que priorize o progresso social e não a evolução nacional não se dará pela adesão
ao “bonde da história”, pela adesão ao “pensamento único”; em termos mais claros, pela
receptividade incontrolável de capitais externos, exatamente pelo fato de que,
“/.../ pela via colonial da objetivação do capitalismo o receptor tem de
ser reproduzido sempre enquanto receptor, ou seja, em nível
hierárquico inferior da escala global de desenvolvimento. Em outras
palavras, pelo estatuto de seu arcabouço e pelos imperativos
imanentes de sua subordinação, tais formações do capital nunca
integralizam a figura própria do capital, isto é, são capitais
estruturalmente incompletos e incompletáveis. Pelo que são e vão
sendo, em todo fluxo de sua ascensão, ponto a ponto, reiteram a
condição de subalternidade do “arcaico”, para a qual todo estágio de
“modernização” alcançado é imediatamente reafirmação de sua
incontemporaneidade. O receptor é assim a desatualidade
permanente, o “arcaico” irremissível, por si e pela relação com o
outro; dito ao inverso, o “arcaico” é a condição de existência do
receptor.” (Chasin. 2000, p. 214)
A citação acima de Chasin, se completa com a de Theotonio dos Santos, que
embora adepto da teoria da dependência, percebe o resultado do processo de ampliação do
capital que se expande de forma desigual e combinada:
“O sistema econômico dependente é obrigado a competir em
condição de desigualdade com o capital internacional no interior de
suas fronteiras, impondo condições de sobre-exploração da força de
trabalho em seu interior para dividir o excedente econômico gerado
entre os dominadores internos e externos.” (Santos. apud. Cotrim.
2005, p. 449.)
A super-exploração da força de trabalho torna-se o meio segundo o qual o país –
isso é evidente durante o “milagre econômico” – consegue atingir seus “milagres”, usando
como artifício o rebaixamento dos salários, resultando em uma das particularidades da via
colonial, ou seja, a busca pelo progresso nacional excluindo e não fornecendo
possibilidades do progresso social, condenando a massa da população a perpetuar na
miséria.
Situação agravada durante a década de 80 na qual a “crise da dívida”, evidenciada
no sucateamento dos aparatos estatais, se manifesta. O Estado devedor – devedor aos
credores externos que financiaram o “milagre econômico” – resulta na atribuição ao Estado
de ser o grande culpado pela crise. Assim a “caça aos marajás” e a adesão a efetiva
modernização, ao “bonde da história” aparecem como alternativa para superação da crise.
O projeto vencedor tendo a frente a figura de Collor de Mello não era mais do que a adesão
ao neoliberalismo, ou seja, não era mais do que propiciar as condições para que o capital
superproduzido encontrasse as fronteiras abertas para sua ampliação em solo brasileiro. E
mais, mostrava a continuidade do projeto autocrático da burguesia nacional, ao agrupar, em

15
torno da figura de Collor, os interesses que iriam impedir qualquer avanço de progresso
social.
Como tentamos demonstrar acima o motivo que faz com que o capital brasileiro não
tenha a “capacidade de organizar por si só o estatuto de seu ordenamento”, resulta em uma
insuperável dependência ao capital externo. Sendo assim, faz sentido Leda Paulani retomar
a concepção de Paul Singer ao dizer que nos encontramos em uma fase, a partir de 1973,
de dependência desejada, a saber, dependência crescente do capital financeiro. Abandono
do desenvolvimentismo e abertura dos mercados internos para a importação e à entrada de
capital estrangeiro,
“Em suma, estaríamos assistindo, em outra clave, a um retorno à
11
dependência consentida , pois mais uma vez teria se instaurado o
consenso de que o processo em curso é inexorável e de que todos
devem a ele se adaptar se quiserem desfrutar das possibilidades de
desenvolvimento.” (Paulani. 2008, p.80)

O retorno (se de fato se tratar de um retorno) a uma configuração na qual a


subordinação é consentida, é a prova da impossibilidade de superação da dependência
externa. Dessa forma, não estamos enquanto possibilidade de progresso social avançando,
mas permanecendo na mesma configuração determinante do capital atrófico, ao não ser
possível o rompimento com os pressupostos da via colonial
“Assim, ao cabo de sua formação, o capital incompleto e
incompletável abandona definitivamente qualquer ilusão de
autonomia, se é que a teve concretamente alguma vez, e identifica
modernidade com integração subordinada. De modo que seu sonho
passa a ser o estabelecimento da boa parceria, da vivência e gozo
da boa cumplicidade com o titã que vem de fora, a um tempo mestre
e senhor, o que ensina e eleva, orienta e dirige. O capital inconcluso,
sôfrego em sua alma prostituta, se transvete em noiva obsequiosa,
disposta aos sacrifícios da purificação, para que o impossível
himeneu seja celebrado, inclusive com uma gota de sangue
sintético.” (Chasin. 2000, p. 224)
O Brasil neoliberal perpetua o país na eterna divisão internacional do trabalho,
distante dos grandes centros de pesquisas e desenvolvimento e muito distante de um
progresso social. Verifica-se, diante do exposto, a continuidade da subordinação brasileira
ao capital externo e as inovações externas. Pois como demonstra Chesnais, os grandes
grupos, os quais são a ponta das invenções tecnológicas, localizadas, principalmente em
seus setores de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) não se alastram pelo mundo como
seus capitais, mas sim, encontram-se em regiões específicas dos países da tríade (E.U.A,
Europa Ocidental e Japão). Restando aos países de capitalismo hiper-tardio uma cruel

11
Consentida (1822-1914) compreende o período no qual inexistiu qualquer dinâmica interna capaz
de impulsionar o desenvolvimento. Era uma fase pelo qual todos os “retardatários teriam que passar”.

16
participação na divisão internacional do trabalho, fazendo do Brasil um “enorme chão de
fábrica”, perpetuando a má qualificação da mão-de-obra, a precarização do trabalho e a
absorção de mais valia absoluta, como exemplificado por Paulani:
“O Brasil, por exemplo, é hoje um dos grandes produtores de
celulares, mas sua atuação limita-se às atividades já rotinizadas de
fabricação e montagem, estando muito longe das atividades de
pesquisa e tecnologia responsáveis pela evolução assombrosa de
conteúdo tecnológico.” (2008, p.130)
O papel atual do Brasil frente ao capital mundializado, depois de propiciar as
condições para a recepção da liquidez externa, se dá pela necessidade de se constituir em
um grande receptor de capital externo, entendendo por essa posição, ainda a chance de
propiciar o tão desejado desenvolvimento nacional; como identifica Paulani, esta tese e
essa contínua subordinação concretiza
“/.../ a vitória avassaladora da doutrina neoliberal e, com ela, a
política econômica e as providências ainda em curso para
transformar o Brasil num locus de valorização financeira,
particularmente num instrumento que, por meios os mais variados,
permite substantivos ganhos reais em moeda forte, em detrimento de
nossa capacidade de aumentar o estoque de riqueza, de crescer e
de conter o aumento da miséria e da barbárie social. Entramos assim
na fase da “dependência desejada”, como se a servidão financeira
fosse a tábua de salvação ainda capaz de produzir a inclusão do país
no sistema, mesmo que no papel o mais subalterno possível.”
(Paulani. 2008, p103)
Dessa forma, a direção tomada pela política econômica até os dias atuais é, segundo
Paulani conquistar,
“um lugar de destaque em meio aos “emergentes”, com direito a
investment grade, uma espécie de medalha de honra ao mérito que
“os mercados” (leia-se, o capital financeiro internacional) conferem
aos países considerados os mais seguros do ponto de vista dessas
aplicações.” (2008, p.136)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a descrição da crise de superprodução inerente ao capital da forma como foi
exposta acima, percebemos que o neoliberalismo é a forma atual na qual o capitalismo
busca retomar seu ciclo de acumulação. É importante enfatizar este aspecto, pois ele não é
desenvolvido na obra de Emir Sader – embora seja mencionado. Ao não assumir os
pressupostos que caracterizam o neoliberalismo que se torna possível – pela elaboração
exposta por Sader em A Nova Toupeira – se pensar em uma estratégia por parte da
esquerda que combata o neoliberalismo sem se combater o capitalismo. Ocorre que o
combate de Sader passa a ser um combate contra a ideologia neoliberal e sua hegemonia
fortalecida no que vem a ser o Estado neoliberal; desvia-se assim o foco das determinações
que originam o neoliberalismo; e as sua manifestação especifica pelas determinações do
capitalismo brasileiro.

17
Assim, vale resgatar uma formulação do professor Armando Boito Jr. No que remete ao que
pode ser o Estado neoliberal enquanto prática:

“Esse processo de “atualização prática” da ideologia neoliberal não


se dá sem alguns conflitos e desentendimentos entre a ala
doutrinária e a ala política do neoliberalismo. Os doutrinários, como
Friedman e Hayek, produziram a doutrina em condições de estrito
isolamento político, durante os trinta anos de hegemonia do
keyneisianismo e do Estado de bem-estar. Fizeram-na rígida e se
tornaram sectários. Os políticos práticos que se servem de suas
ideias têm de adaptá-las às condições de cada país. Por isso, muitos
doutrinários do neoliberalismo ostentam uma certa decepção frente
aos governos neoliberais”. (Boito Jr. 1999, p. 28)

Tal fato evidenciado por Boito Jr. – e também por Harvey (2008) – nos sugere que
tomar o Estado como referência para as práticas neoliberais pode nos levar a alguns
enganos, o neoliberalismo enquanto prática sofrerá interferências especificas diferentes em
cada país. O que nos permite dizer que se pode encontrar um Estado que realize certa
intervenção na economia e intensifique políticas sociais aprofundando ainda mais as
características neoliberais. Em poucas palavras, não podemos tomar como elemento
caracterizador do neoliberalismo o tipo de Estado, mas sim identificá-lo em seus
pressupostos básicos em conjunto, em suma, em sua totalidade, da forma exposta por
Teixeira: “desmantelamento do aparato burocrático do Estado, desverticalização produtiva,
flexibilização do mercado de trabalho e desregulação da economia.” (Teixeira. 1996, p.
224).
Na impossibilidade de verificar como cada um dos aspectos do neoliberalismo se
concretizou e se existem processos em andamentos que sugerem a sua superação –
ressalte-se, aspecto não encontrado no ensaio de Emir Sader – podemos propor outra
forma de conduzir este último tópico do trabalho, ainda que em caráter parcial: partiremos
por verificar, nas poucas linhas que nos restam, os eixos principais sugeridos por Sader que
indicam estar o Brasil de Lula/Dilma avançando para o pós-neoliberalismo. A saber, a
rejeição a ALCA e o privilégio pelas políticas sociais12.
Com relação a rejeição a ALCA, Boito Jr. (1999) e Filgueiras (2006), fornecem
algumas indicações. Para Boito Jr. os elementos norteadores do neoliberalismo não
beneficiam de forma igual todos os setores das classes dominantes. Por exemplo, a
desregulação do mercado de trabalho e supressão de direitos sociais privilegia tanto a
indústria quanto o capital financeiro, no entanto, uma política de juros altos e abertura
comercial prejudicam a segunda. Porém, ambas aderem e apoiam o ideário neoliberal,

12
Ainda é enfatizado por Sader como elemento caracterizador do governo petista como possível pós-
neoliberal os processos de integração regional. Quanto este aspecto a pesquisa ainda não conseguiu
desenvolver conclusões a respeito do que venha a ser o papel assumido pelo Brasil em tais
processos de integração.

18
convivendo com uma intensa disputa pelas decisões que os governos possam tomar. A
rejeição a ALCA pode ser explicada pela pressão dos setores industriais com interferência
nos governos para não prejudicar a indústria do país13, e evidentemente não prejudicar a
política de superávit primário, ou seja, não se trata de uma oposição ao neoliberalismo,
somente de uma disputa entre as frações das classes dominantes que preferem uma ou
outra política, ambas neoliberais.
Quanto as políticas sociais, devemos lembrar que Sader enfatiza que o caráter do
pós-neoliberalismo se dá em fortalecer a esfera pública ante a privada, privilegiar o cidadão
ao invés do consumidor. Um otimista colunista de um respeitável jornal utilizou a seguinte
expressão a pouco tempo atrás: “A revolução no Brasil não acontece com cidadãos
pegando em armas, mas pegando em cartões de créditos”14. Este mesmo “lúcido” – no
sentido de identificar a aparências dos fenômenos que descreve – colunista em outra
coluna compara o momento atual do Brasil ao Welfare State norte-americano15. O ponto em
comum segundo o colunista se dá pela intensificação do consumo e pela nova “classe
média”.
Boito Jr. (1999) já havia identificado que uma das peculiaridades do neoliberalismo
na periferia é sua capacidade de atrair multinacionais pelo amplo mercado consumidor
destes países, no caso do Brasil o maior mercado consumidor da América Latina. A
introdução de um grande contingente de antes excluídos do consumo, principalmente pelos
subsídios governamentais, e facilidade de crédito evidenciam tal cenário. No entanto, o que
o nosso colunista não identifica é que junto a ascensão do mercado consumidor norte-
americano durante a década de 1950 – efeito semelhante ocorreu na Europa Ocidental – é
que o Estado garantia amplos direitos aos cidadãos e altos salários.
Como já mencionamos, no Brasil – e certamente isso é válido para a maioria dos
países da América Latina – temos um processo no qual esta inclusão das massas por parte
do capitalismo não ocorreu, em outros termos, não tivemos progresso social.
E dizer que estamos evidenciando tal progresso no atual momento, encontra
divergência entre um dos principais pesquisadores sobre o trabalho no Brasil. Marcio
Pochmann (2012) desenvolve a tese de que a “nova classe média” brasileira está localizada
na “base da pirâmide social” e sua ascensão reforça o caráter mercantil da sociedade atual
brasileira, fortalecendo os planos privados de saúde, a educação privada e a previdência,
setores nos quais o Estado ainda atua de forma parca.

13
Ainda para Filgueiras, a adesão a ALCA, “implicaria em uma nova rodada de abertura comercial,
com conseqüências complicadas para inúmeras cadeias produtivas internas e, por conseguinte, para
a estratégia de obtenção de elevados saldos comerciais.” (p.193)
14
Nizan Guanaes O Brasileiro do Ano. Folha de São Paulo 30/10/2012, caderno MERCADO, B8.
15
Nizan Guanaes O Sonho Brasileiro. Folha de São Paulo 18/09/2012, caderno MERCADO, B8.

19
Diante disso, as políticas sociais do governo petista tendem a intensificar o caráter
mercantil do neoliberalismo, diferente do que seria a esfera pública do pós-neoliberalismo
de Sader, pautada por valores não mercantis, que privilegie o cidadão ao invés do
consumidor. Neste cenário, o governo do Partido dos Trabalhadores continua adiando
qualquer efetividade de algum progresso social com base em garantias e ampliação de
direitos, transformando esta “nova classe média”, assim como nos beneficiários do Bolsa
Família, em sua nova base eleitoral, já que não exerce mais com a mesma intensidade a
influência que antes tinha nos setores organizados do trabalho (Filgueiras, 2006). Em outras
palavras, o governo Lula/Dilma aprofunda o neoliberalismo no Brasil incentivando as
relações mercantis e se valendo, como pressuposto para manter suas “políticas sociais”, da
capacidade de atrair o capital estrangeiro, perpetuando assim, a insuperável subordinação
ao capital internacional, característica intrínseca do desenvolvimento capitalista pela via
colonial.

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