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O enigma do Homem:
Entre imagem de Deus e animal
António Martins
Universidade Católica Portuguesa (UCP), Lisboa
1 Cf. C. Darwin, A Origem das Espécies, Lisboa 2005. A edição é da Europa-América com tradução de Dora
Batista.
2 Cf. J.-M- Maldamé, «Enquête de l’Homme. Notes de lecture sur la question de la place de l’humanité
perspective evolucionniste, Paris 1998; ID., Requiem pour Darwin, Paris 2009.
4 Cf. J. L. Ruiz de la Peña, Imagen de Dios. Antropología teológica fundamental, Santander 1988, 267-268.
5 J. Monod publica em 1970 a sua obra Le hasard et la nécessité. Três anos depois E. Morin publica Le pa-
radigme perdu.
6 Cf. E. O. Wilson, Sociobiology: The New Synthesis, Cambridge 1975; Id., On Human Nature, Cambridge
1978.
7 J.-M. Schaeffer, La fin de l’exception humaine, Paris 2007.
8 J.-M. Schaeffer, La fin de l’exception humaine, 154: «Tout l’ordre du vivant tel que nous le connaissons
sur Terre repose sur les mêmes “matériaux”, utilize les mêmes mécanismes moléculaires et cellulaires, se développe
selon les mêmes processus fondamentaux».
9 Cf. J.-M. Maldamé, «Enquête de l’Homme», 273.
10 J. L. Ruiz de la Peña, «La antropología y la tentación biologista», 513: «La homologación del hombre
con el animal [...] ha provocado – y sigue haciéndolo – una ola de rechazos: biólogos (Jacob, Ruffié), filósofos de
la biología (Gehlen, Portmann, Ruse), etólogos (Thorpe, Eibl-Eibesfeldt), genetistas y teóricos de la evolución
(Dobzhansky, Ayala), por no hablar de filósofos, teólogos y psicólogos, señalan en el hombre una originalidad es-
tructural, funcional y ontológica que, sin derogar su insoslayable dimensión biológica, lo hace irreductible a la ani-
malidad químicamente pura».
11 DH, 3896.
12 Cf. J. L. Ruiz de la Peña, Imagen de Dios, 255.
13 Cf. G. Colombo, «La teologia della “Gaudium et spes” e l’esercizio del magistero ecclesiastico», Scola Cat-
tolica 98 (1970) 477-511; L. Ladaria, «L’homme à la lumière du Christ dans Vatican II», in R. Latourelle (ed.),
Vatican II: Bilan et perspectives. Vingt cinq ans après (1962-1987), Paris 1988, 409-422; A. Martins, – «O círculo fé-
razão no Vaticano II», in C. Reimão (ed.), O círculo hermenêutico entre a fé e a razão. Colóquio 22 de Maio 2003, Lis-
boa 2004, 143-156; F. G. Brambilla, Antropologia teologica. Chi è l’uomo perchè te ne curi?, Bolonha 2005, 27-31.
holy_father/john_paul_ii/messages/pont_messages/1996/documents/hf_jpii_mes_19961022_evoluzione_sp.ht
ml (29.03.2011: 00.29).
15 Juan Pablo II, Mensage a los miembros de la Academia Pontifícia de Ciencias, 5.
can.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2008/october/documents/hf_ben-xvi_spe_20081031_academy-scien-
ces_sp.html (02.04.2011: 23.20). A citação entre aspas no texto papal é tirada do Catecismo da Igreja Católica, nº 366.
18 Cf. G. Martelet, Évolution et creation I, Paris 1998, 80-81; M. T. La Vecchia, L’evoluzione della psiche,
23 Cf. F.-X. Durrwell, Le Pére. Dieu en son Mystère, Paris 1988, 121.
tária. Criando por amor, o Deus uno e trino, torna amável toda a realidade.
«O amor é a fonte, o fundo, o sustento e o fim de todo o real»24. A procla-
mação da fé cristã na criação coloca como fundamento de toda a realidade
uma ontologia do amor25. A realidade é, pois, uma grandeza fundada e
digna de crédito. A fundamentação do real a partir de uma ontologia do
amor, ou da relação, constitui actualmente um dos aspectos mais promis-
sores da reflexão teológica, sobretudo quando a base dessa concepção on-
tológica é o ser da comunhão interpessoal da própria Trindade. Antes de ser
uma categoria ética, o amor é uma categoria ontológica26.
Uma ontologia trinitária da criação, como acabámos de esboçar, abre-se,
necessariamente, à cristologia. Cristo é o ponto de convergência e de plena
realização: «Por Ele e para Ele todas as coisas foram criadas» (Col 1,18). O Lo-
gos divino por quem tudo foi feito é o mesmo que se faz carne na história da
humanidade e da matéria (cf. Jo 1,5.14). Na encarnação do Filho de Deus
não é a apenas a condição humana que é assumida. Em sua humanidade,
Cristo encontra-se, ontologicamente com cada Homem em concreto, pes-
soalizando e filializando, «por um modo só de Deus conhecido» (GS 22).
Avançando na nossa reflexão, podemos ainda afirmar que toda a matéria,
toda a expressão de vida vegetal, animal e humana, em sua diferenciada com-
plexidade de estruturação, é assumida e integrada na Trindade pela encarna-
ção e consequente ressurreição do Filho de Deus feito homem. Se como
afirma o Concílio Vaticano II, «o mistério do Homem só no mistério do
Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente» (GS 22), não é forçoso con-
cluir que a complexa e enigmática evolução do universo e do Homem ad-
quirem um maior esclarecimento quando compreendidas à luz de Cristo,
«pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade» (Col 2,9).
Na sua homília da vigília pascal de 2006, o Papa Bento XVI ousa in-
terpretar a ressurreição de Cristo recorrendo à linguagem da evolução: «A
ressurreição de Cristo (…) – se nos é permitido utilizar, uma vez, a lingua-
Hall, Être image de Dieu, Montréal-Paris 1998, 199; P. CODA, «Trinità e ontologia dell’agape», Credere Oggi 21
(2001) 116-125.
27 Bento XVI, Homília da Vigília pascal (15 de Abril de 2006), . Cf. Círculo de Discípulos do Papa
Bento XVI, Criação e evolução. Uma jornada com o Papa Bento XVI em Castel Gandolfo, Lisboa 2007, 98.
28 Cf. K. Rahner, Curso fundamental sobre la fe, Barcelona 1984, 216-243; A. Martins, «A plenitude do
Homem em Cristo. A relação entre antropologia e cristologia em Karl Rahner», Didaskália 35 (2005) 311-325.
29 Cf. H. U. Von Balthasar, Córdula ou o momento decisivo, Lisboa 2009, 40.70; A. Martins, «A dimen-
30 J. L. Ruiz de da Peña, Nuevas antropologías. Un reto a la teología, Salamanca 19832, 128: Com palavras
do Autor «la reivindicación para aquél [el hombre] de un plus entitativo que, trascendiendo la mera biología funde
real y objectivamente (ontológicamente) la distancia estipulada entre lo humano y lo zoológico». Cf. Nosso estudo:
A. Martins, «A condição corpórea da pessoa em J. L. Ruiz de la Peña», Didaskalia 34 (2004) 79-182.
31 J. L. Ruiz de da Peña, «Sobre el alma: introdución, cuatro tesis y épilogo», Estudios Eclesiásticos 64 (1989) 383.
32 Cf. J. L. Ruiz de da Peña, «Sobre el problema mente-cerebro», Diálogo Filosófico 12 (1996) 41.
33 Cf. J. M. Maldamé, «L’émergence de l’homme comme avènement de l’âme», Revue Thomiste. 102 (2002)
73-105 que aplica o conceito de emergência à evolução do homem. Não sem ousadia mas no contexto de uma fi-
losofia fenomenológica, M. Henry, Incarnation, Paris 2000, 280, chega mesmo a referir o conceito de «chair vi-
vante» como sinónimo de alma: «L’âme, c’est-à-dire aussi bien notre chair vivante – l’ensemble de nos impressions,
des prestations de nos sens et de nos divers pouvoirs – s’aperçoit de l’extérieur sous l’aspect d’un corps objectif».
34 A. Wénin, D’Adam à Abraham ou les errances de l’humain, Paris 2007, 43-45; P. Beauchamp, L’un et l’au-