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A sala estava escura, tudo o que a iluminava eram os tubos gigantes.

Kaida, em sua curiosidade, não viu problema em checar. Todos os tubos


estavam vazios, exceto 1, que estava opaco, cheio de água dentro. Havia
um formulário ao lado da porta. Ela o pegou e, pelo que conseguiu ler com
a baixa presença de luz foi que aparentemente era um experimento de
resistência. Todos os tubos vazios agora, eram antes cheios de jovens, que
não resistiram o suficiente e faleceram.
O tubo opaco era o único que estava iluminado devidamente. Ela se
aproximou e então conseguiu ver a figura de um adolescente, era maior
que ela, talvez um pouco mais velho. Ele usava uma máscara interligada a
o que poderia ser tubos de oxigênio. No momento em que Kaida tocou no
vidro, os olhos do rapaz se abriram desesperadamente. Ele começou a se
remexer inutilmente dentro da água e danificou a máscara de oxigênio.
Ele se contorcia, ela a princípio não entendeu o porquê dele ter acordado
tão desesperado, mas sabia que ele ia acabar morrendo assim. Olhou em
volta e não viu ninguém, nem um botão. Então decidiu, por impulso, usar
sua individualidade parcialmente em um chute contra o vidro que era
visivelmente grosso. O mesmo se rachara, fazendo a própria pressão da
água expandir a rachadura e por fim, o quebrou. A água estava quase
escaldante, o garoto foi empurrado pra fora junto à força da água, Kaida
fez o possível para apará-lo da melhor forma possível, mesmo sentindo as
ardências causadas pela temperatura da água que, felizmente, ainda não
estava quente o suficiente para causar uma queimadura de fato. Ela podia
ver o vapor saindo da água e do garoto, que tentava respirar fundo, com
dificuldade.
A temperatura da sala em si estava muito fria. Era inverno, pensou na
possibilidade do garoto sofrer um choque anafilático. Retirou seu casaco
externo e enrolou no torso dele. Tentou ignorar o fato do rapaz estar nu.
Ela não era acostumada com isso, apesar de ter convivido mais com
homens do que com mulheres em sua vida, ainda não sabia como reagir
devidamente.
Ele ainda usava a máscara, agora inútil, mas se recusou a tirá-la em
frente a ela. Kaida não conseguiu discernir seu rosto muito bem devido à
baixa iluminação, mas conseguiu ver seus olhos. “São muito bonitos.” –
pensou.
Não pode notar diferença de cores devido à luz presente no local ser
azul. Buscou no corpo do garoto marcas de machucado, mas não achou
nenhum.
“Você está bem?” – ela perguntou.
“Foi você que me tirou dali?” – ele perguntou de forma ríspida.
“Sim.. você ia se afogar, eu...” – ela fez uma pausa. – “Você sabe onde
está?”
“Sim. Eu sei mais do que você. Não precisa me dizer!”
“O que estavam fazendo com você?”
“Isso não é da sua conta. Se continuar aqui vai ter problemas.” – ele
abaixou a voz.
Nesse momento, foi possível sentir uma presença pesada no ambiente.
Kaida olhou para trás e viu Van Kommer na porta. Ele estava escorado no
alizar da porta. Estava apenas observando até então.
“O que está fazendo aqui, Kaida?” – perguntou ele.
“Hum... Você está a demorando, e eu, vi, bom, vi essa sala aberta. O-o
garoto. Esse rapaz iria se afogar dentro do tubo.” – ela disse.
“E por que você se intrometeu?”
“Bom... É...” – ela tinha que pensar no que falar. Seria muito estranho
para uma criminosa responsável por matar e sequestrar pessoas
responder que iria salvar alguém. – “Porque eu quis.”
Um leve e rápido sorriso percorreu o canto dos lábios de Van Kommer.
Ela tinha o desobedecido. Isso era de fato ruim. Mas ela foi astuta o
suficiente para desobedecê-lo, e isso era interessante.
“Eu vim lhe dizer que você pode escolher como quer ser paga pela sua
parte das encomendas.” – ele disse, curioso.
Kaida olhou Van Kommer de cima abaixo, ela não esperava uma reação
tão indiferente ao incidente. Olhou para o garoto e ele estava olhando
para ela de uma maneira discreta. Desviou o olhar quando encontrou os
dela, parecia envergonhado e frustrado pelo acidente. Ela ponderou a
possibilidade de mudar o pedido dessa vez. Ela sempre escolhia
pagamento em dinheiro. O laboratório oferecia vários serviços e recursos
interessantes para os mais diversos tipos de pessoas. Ela poderia escolher
muitas coisas grandiosas, mas pensou que talvez devesse ter mais empatia
dessa vez. Afinal, ela fará outras entregas e poderá escolher outras vezes
pelas coisas que ela tinha prioridade.
“Eu quero que liberem esse garoto desse laboratório.” – ela disse, tímida
mas tentando parecer convicta, o que não sabia se realmente estava.
“Bom... Não perguntarei uma segunda vez. Eu conversarei com os meus
clientes sobre isso. Esteja ciente de que não receberá dinheiro nenhum,
desde que fez essa decisão.” – ele disse,e retirando da sala. – “E você vem
comigo. Não fique aí, não quero mais problemas.”
Kaida se levanta. Não olha para o menino uma segunda vez mas faz um
sinal de despedida com a mão. Quando vira as costas sente o olhar dele
secá-la pelas costas, então o escuta se levantar e ir para uma sala no
fundo do corredor. Ficou se perguntando se Van Kommer a puniria pelo
que ela fez. Ele nunca responderia essa pergunta.
Era interessante para Van Kommer o comportamento de Kaida. Ela era
amais imprevisível do que Kirill, mesmo sendo mais nova. Ele era uma
pessoa acostumada a ser obedecido, suas palavras eram como
mandamentos para seus servos, e agora havia alguém os desobedecendo.
Não foi a primeira vez. Ele admirava isso, estava cansado de conviver com
bonecos. Ele tinha certeza que tinha feito a escolha certa em levar Kaida
com ele em suas viagens. Se sentiu orgulhoso. Ela sabia como ganhar a
atenção dele.
As negociações foram um sucesso e os cientistas responsáveis negaram
libertá-lo, mas concordaram em mudar a intensidade dos experimentos
nele realizados. Ela estava fazendo aquilo para se sentir bem consigo
mesma ao ter ajudado alguém? Esse alguém queria ser ajudado? Decidiu
não pensar sobre isso e esquecer desse incidente assim que voltasse à
Europa. De alguma forma a preferência de Van Kommer se fortaleceu para
o lado dela, isso seria benéfico para ela no futuro.

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