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Besen, B. O., & Ansara, S. Violência estrutural e marcas ditatoriais: análise psicossocial a partir de narrativas
periféricas
Violência estrutural e marcas ditatoriais: análise psicossocial a partir de
narrativas periféricas

Structural Violence and Dictatorial Marks: Psychosocial Analysis from


Peripheral Narratives

Violencia estructural y huellas dictatoriales: análisis psicosocial desde


narrativas periféricas
Beatriz Oliveira Besen1
Soraia Ansara2

Resumo

O presente artigo tem como objetivo analisar a permanência de marcas ditatoriais pós-transição democrática no
Brasil a partir de narrativas obtidas em dois estudos psicossociais realizados em Heliópolis – periferia urbana da
cidade São Paulo. O primeiro focou a construção e elaboração das memórias de violências do/no Estado de nove
jovens moradores, enquanto o segundo reconstruiu as memórias sobre as violações aos direitos humanos de um
grupo de mães de adolescentes em medida socioeducativa e de técnicos dos serviços que os acompanham. A
partir dos conceitos de violência, trauma psicossocial e memória histórica de Ignacio Martín-Baró, apresenta-se
uma análise da persistência das marcas ditatoriais na sociedade brasileira, que atingem, sobretudo, a população
jovem negra e periférica sob a forma do genocídio, exclusão, suspeita e violência sistemática dos agentes de
Estado.

Palavras-chave: Memória política. Violência. Trauma psicossocial. Racismo. Marcas ditatoriais.

Abstract

This article aims to analyze the permanence of dictatorial marks after the democratic transition in Brazil from
narratives obtained in two psychosocial studies carried out in Heliópolis – urban outskirts of the city of São
Paulo. The first focused on the construction and elaboration of the memories of State violence of nine young
residents, while the second reconstructed the memories about the human rights violations of a group of
adolescent’s mothers in correctional measures and technicians from the services that accompany them. Based on
the concepts of violence, psychosocial trauma and historical memory rescued from Ignacio Martín-Baró, an
analysis of the persistence of dictatorial marks in Brazilian society is presented, which mainly affects the young
black and peripheral population in the form of genocide, exclusion, suspicion and systematic violence by State
agents.

Keywords: Political memory. Violence. Psychosocial trauma. Racism. Dictatorial marks.

Resumen

El presente artículo tiene como objetivo analizar la permanencia de huellas dictatoriales después de la transición
democrática en Brasil desde las narrativas obtenidas en dos estudios psicosociales realizados en Heliópolis –
periferia urbana de la ciudad de São Paulo. El primero se centró en la construcción y elaboración de los
recuerdos de violencia en / del Estado de nueve jóvenes residentes, mientras que el segundo reconstruyó los
recuerdos sobre las violaciones de los derechos humanos de un grupo de madres de adolescentes que cumplen
medidas socioeducativas y técnicos de los servicios que los acompañan. Desde los conceptos de violencia,

1
Doutoranda no ProMuSPP EACH-USP/SP; Mestre em Estado, Gobierno y Políticas Públicas na FLACSO/BR.
Graduada e mestra em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). E-mail:
bia_besen@hotmail.com.
2
Doutora em Psicologia Social. Professora do Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação
Política (EACH-USP/SP) e do Curso de Especialização em POT da Universidade Mackenzie. E-mail:
soraiansara@hotmail.com.

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trauma psicosocial y memoria histórica de Ignacio Martín-Baró, se presenta un análisis de la persistencia de
huellas dictatoriales en la sociedad brasileña que afecta, sobre todo, a la población joven negra y periférica en la
forma de genocidio, exclusión, sospecha y violencia sistemática por parte de agentes estatales.

Palabras clave: Memoria política. Violencia. Trauma psicosocial. Racismo. Huellas dictatoriales.

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Introdução organização das comunidades investigadas
(Ansara, 2014a).
“O mundo é diferente da ponte para As pesquisadoras se conheceram no
cá”, já diziam os Racionais MC’s acerca da ano de 2018, em uma mesa-redonda sobre
realidade da periferia paulistana. O trecho Memórias e Resistências da ditadura
refere-se à ponte que cruza a marginal na militar e da atualidade no bairro, no Centro
zona sul da cidade, mas se aplica também Educacional Unificado (CEU) de
ao Viaduto Almirante Delamare e à Ponte Heliópolis, onde compartilharam suas
do Sacomã, que adentram a Estrada das reflexões e resultados. As semelhanças das
Lágrimas e a Avenida Delamare, questões abordadas em torno da violência
demarcando as extremidades da Cidade suscitaram o interesse de empreender uma
Nova Heliópolis. análise que aprofundasse o tema da
Nesse bairro da periferia urbana, persistência das marcas ditatoriais, a partir
também localizado na zona sul da cidade dos pressupostos teóricos de Ignacio
de São Paulo, foram realizados dois Martín-Baró (1989, 1998, 2003, 2004)
estudos psicossociais durante os anos de acerca da violência estrutural, do trauma
2014 a 2018. Esses estudos ocorreram em psicossocial e da memória histórica. Tal
períodos diferentes e cada um teve seus análise é aqui apresentada e enfatiza os
objetivos específicos, no contexto em que elementos presentes nas memórias
foram realizados. Um deles, realizado em construídas e reveladas nos dois estudos
2014, reconstruiu as memórias sobre as que indicam a presença de abuso de poder,
violações aos direitos humanos de um autoritarismo e violência praticada por
grupo de mães de adolescentes em medida agentes do Estado.
socioeducativa e dos técnicos do Serviço Os achados dessas pesquisas
de Proteção Social a Adolescentes em mostram-se extremamente atuais e revelam
Cumprimento de Medida Socioeducativa uma realidade que vem se agravando no
de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação Brasil, nos últimos quatro anos, com o
de Serviços à Comunidade – PSC (Ansara, aumento de homicídio de jovens negros e
2014a); o outro, realizado no período de de bairros periféricos, como evidenciado
2016 a 2018, focou a construção e pelo Atlas da Violência 2019 (Instituto de
elaboração das memórias de violências Pesquisa Econômica Aplicada [Ipea] &
do/no Estado de nove jovens moradores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
território (Oliveira, 20193). [FBSP], 2019).
Ambos os estudos partiram de Desde março de 2020,
referenciais da Psicologia Política e da acompanhamos um aprofundamento dos
Psicologia Social Comunitária (Montero, traços autoritários do atual governo federal
2004) e se constituíram como pesquisas- brasileiro, seguido de um negacionismo
ação-participantes (Fals Borda, 1981) – quanto à realidade e gravidade da atual
metodologia coletiva e participativa que pandemia de covid-19. Mesmo diante da
busca o fortalecimento comunitário, quarentena exigida pelas autoridades de
partindo da premissa de que os sujeitos da saúde, a violência contra os jovens nas
pesquisa devem estar presentes em todo o periferias seguiu ocorrendo com formatos
processo de investigação/ação. Dessa cruéis – um exemplo foi o assassinato de
forma, as duas pesquisas envolveram um João Pedro,4 menino de 14 anos morto em
compromisso ético-político que exigiu uma violenta ação policial dentro de sua
trabalho diligente de acompanhamento e casa no Complexo do Salgueiro, no Rio de
de conhecimento da dinâmica de Janeiro. Ações como esta têm se repetido
frequentemente neste período de
3
Atualmente, a autora é citada como Besen, mas na 4
O assassinato ocorreu em 18 de maio de 2020.
publicação ainda consta Oliveira.

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isolamento social e, lamentavelmente, Na reconstrução da memória
conforme dados publicados no Diário histórica, entra em jogo o processo de
Oficial do Estado de São Paulo, de 30 de conscientização que rompe com a
maio de 2020, o número de mortes naturalização da violência por parte do
provocadas por ações de policiais militares Estado, o que supõe a desideologização da
em serviço aumentou 43,6% em relação ao vida cotidiana. Isso significa, como sugere
mesmo mês do ano anterior. Martín-Baró (1998), desmascarar o senso
No atual cenário de polarização comum que justifica o sistema explorador
política no Brasil, em que discursos de e opressor e desconstruir a rede de crenças
ódio e intolerância em relação às minorias e representações sociais, que ao longo dos
e à igualdade de direitos são disseminados séculos foram dadas como boas e
entre a população, torna-se urgente encobriram falácias teóricas sustentadas
retomarmos e reforçarmos os estudos e as em valores que defendem o predomínio
contribuições de Ignacio Martín-Baró natural de uns sobre os outros.
(1968/2015) sobre a importância da O trabalho de reconstrução da
construção da memória histórica e de uma memória dos grupos que sofrem violência
análise realista do caráter de violência é uma possibilidade concreta de interrogar
permanente em que se encontram os países o passado e o presente a partir das
latino-americanos. múltiplas versões e discursos sobre as
Como afirma Martín-Baró experiências vividas por esses sujeitos
(1968/2015, p. 452), privados dos seus direitos. Para tanto, faz-
se necessário reconhecer
a injustiça institucionalizada e a desordem
legalizada – na qual somente uma ínfima [...] que há uma memória oficial hegemônica
minoria pode ser verdadeiramente humana, e uma memória coletiva daqueles que estão
enquanto grandes massas de seres humanos situados abaixo na pirâmide social, uma
se debatem na mais infame miséria – não memória a partir dos centros de poder e uma
admitem dúvidas ou demora. Em nossa memória a partir dos oprimidos, uma
sociedade, existe uma violência permanente, memória intelectual hegemônica e uma
amparada por uma legislação injustificável. memória de saberes historicamente
subalternos. Dessa forma, podemos
O autor denuncia a violência considerar que o posicionamento, a
presente na situação de desigualdade, de localização e a memória são centros
relevantes do debate político e intelectual
fome e miséria que condena as classes contemporâneo. Em última instância, isso
menos favorecidas e grupos minoritários à significa desenvolver também um debate
exclusão social, às práticas autoritárias e à crítico em torno da diversidade e das
injustiça social na América Latina. Tal contradições das experiências vividas, dos
violência pode ser percebida na poderes de representação social e das lutas
por reconhecimento. (Sherer-Warren, 2010,
insuficiência e precariedade de políticas p. 22).
públicas, na negação de direitos básicos e,
de maneira mais ostensiva, na violência O artigo, que ora apresentamos, tem
policial amparada pela ineficiência e como base as memórias e narrativas
parcialidade jurídicas. obtidas nos dois estudos psicossociais
Fundamentado no realismo crítico, realizados em Heliópolis e pretende
Martín-Baró propõe a reconstrução da contribuir com esse debate crítico e atual
memória histórica como possibilidade de em torno da violência e da memória
“descobrir seletivamente os elementos do coletiva construída pela população da
passado que foram eficazes para defender periferia urbana de São Paulo. Para tanto,
os interesses das classes exploradas e que tem como objetivo analisar a permanência
se tornam úteis para os objetivos de luta e de marcas ditatoriais pós-transição
conscientização” (Fals Borda, citado por democrática no Brasil a partir de narrativas
Martín-Baró, 1998, p. 301).

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e memórias de jovens, famílias e voltando suas preocupações à libertação
profissionais que cotidianamente sofrem dos homens de sua situação de opressão.
ou entram em contato com a violência. Para ele, “a conscientização levaria as
Iniciamos apresentando as pessoas a recuperar a memória histórica, a
contribuições da Psicologia da Libertação assumir o mais autêntico de seu passado, a
de Martín-Baró (1989, 1998, 2003, 2004) e depurar o mais genuíno de seu presente e a
os conceitos de violência, trauma projetar tudo isso em um projeto pessoal e
psicossocial e memória histórica, a partir nacional” (Martín-Baró, 1998, p. 171,
de sua perspectiva dialética e crítica; na tradução nossa). Nesse sentido, propôs
segunda seção, destacamos as marcas uma Psicologia Social que teve como
ditatoriais na América Latina e, ponto de partida o conhecimento da
particularmente, na sociedade brasileira realidade latino-americana, que incorporou
que atingem, sobretudo, a população o estudo e análise da violência estrutural e
jovem, negra e periférica (Adorno, 1994; simbólica (que são centrais nos dois
Caldeira, 2000; Gagnebin, 2010; Sherer- estudos analisados neste artigo); contribuiu
Warren, 2010; Kehl, 2010; Gaborit, 2011; para a desideologização dos elementos que
Santos & Chauí, 2013); em seguida, legitimam e justificam a realidade de
fazemos uma breve descrição dos dois violência e opressão e estabeleceu como
estudos, analisando, a partir das memórias compromisso central a transformação
e narrativas dos jovens e das mães de social.
adolescentes, a persistência da violência, A preocupação com a
suspeita e abusos de poder pós-transição desideologização também tem relação com
democrática. a maneira como as sociedades
institucionalizam suas memórias,
Violência e trauma psicossocial a partir encobrindo aspectos que evidenciam a
de Ignacio Martín-Baró desigualdade social e a persistente
repressão das minorias. A violência e o
Ignacio Martín-Baró nasceu na conflito muitas vezes ficam mascarados
Espanha e se juntou à Companhia de Jesus, nas memórias hegemônicas, contadas
que o designou a trabalhar em El Salvador, somente pelos “vencedores” ou por
na América Central. Quando inicia seus aqueles que monopolizavam e seguem
estudos em Psicologia na década de 1960 monopolizando os meios de registro e
(após os estudos em Filosofia e Teologia), disseminação de informações.
percebe que há uma tradição no interior da Nesse sentido, um dos grandes
Psicologia Social de copiar modelos objetivos da Psicologia da Libertação de
americanos, os quais se amparavam em Martín-Baró é a recuperação da memória
uma visão funcionalista e sistêmica, que histórica, que implica na desideologização
apontavam uma suposta homogeneidade e da experiência cotidiana e da própria
integração societal. Martín-Baró se dá Psicologia por meio do reconhecimento
conta de que essa suposta harmonia é algo das relações de opressão e da elaboração
muito distante do que se observava no dos traumas psicossociais decorrentes da
cotidiano dos países colonizados do centro violência praticada no território latino-
e sul do continente americano. Durante as americano. Na construção da Psicologia da
décadas de 1960 a 1980, esses países Libertação, o autor assume uma posição
viviam sob repressão e guerras, em meio a sócio-histórica que considera um novo
sociedades extremamente marcadas pela sujeito que deveria reconhecer sua
desigualdade social. condição de oprimido, analisar
Martín-Baró é uma das principais criticamente a realidade em seu entorno e
referências da luta pela construção de uma lutar contra a condição de opressão
Psicologia para e pelos povos colonizados, vigente. Essa perspectiva não reformula

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apenas a práxis social, ela produz uma de uma classe social sobre as outras, a
inversão de referencial epistemológico, conclusão mais importante também a mais
óbvia: a violência presente na própria
pois implica considerar a necessidade de ordem social e, portanto, não arbitrário
“desalienação” da própria ciência falar de violência estrutural. - ,
psicológica. Dessa maneira, a Psicologia 1985/2012, p. 406, tradução nossa)
deve tornar-se: “por necessidade uma
psicologia política, [...] e que, portanto, Está estabelecida uma sociedade
contribua para construir um novo sujeito cujos direitos humanos mais fundamentais
histórico como requisito de uma nova são estrutural e sistematicamente negados;
identidade psicossocial das maiorias até nesse sentido, o uso da força e da coerção é
hoje dominadas” (Martín-Baró, 1998, p. parte constitutiva das instituições sociais,
341, tradução nossa). originando todos os demais tipos de
O psicólogo social, portanto, tem um violência. Para Martín-Baró, as raízes das
compromisso ético e político: ou reproduz violências estão nas condições estruturais
as estruturas sociais dominantes ou adota de injustiça e desigualdade. A violência
uma atitude de resistência e contestação institucional seria derivada da primeira, e
diante da situação de opressão das se expressaria em estruturas hierárquicas;
sociedades latino-americanas. Sua tarefa é nessa modalidade de violência se incluiria
contribuir com a desconstrução da a repressão efetivada pelo Estado por meio
ideologia dominante, ou seja, de seus agentes, a qual se dirige,
desideologizar a realidade cotidiana: “que potencialmente, contra “inimigos” que
consiste em desmontar os discursos perturbam a estrutura social produtora de
ideológicos, capazes de justificar o sistema injustiça e desigualdade. O autor analisa
social e legitimar condutas como a em profundidade a violência estatal no
passividade, a resignação e o fatalismo” contexto da Guerra Civil em El Salvador,
(Ansara, 2012, p. 98). apontando que tal violência funciona como
A discussão de Martín-Baró sobre a meio de justificar e legitimar a violência
violência e o trauma psicossocial está estrutural e ocorre sob a forma de
circunscrita no contexto da guerra civil em terrorismo, presente principalmente nos
El Salvador (1981 a 1992), realidade de governos ditatoriais, mas não exclusivo
extrema violência e violação dos direitos destes. “O terrorismo é o uso sistemático
humanos. Assim, os efeitos da violência da violência para conquistar um objetivo
estrutural são analisados por ele em várias por meio do terror e é uma das principais
publicações (1985/2004, 1989, 1998, estratégias de governos ditatoriais que
2003), nas quais ele denuncia a situação de buscam se manter no poder” (Martín-Baró,
repressão política em que vivia a 1985/2012, p. 422).
população salvadorenha. Para o autor, a O terrorismo político e a
violência estrutural no interior da internalização do medo provocam a
sociedade capitalista seria a base de todas polarização social, a mentira
as demais formas de violência. institucionalizada e a militarização da vida
social, levando a rupturas no tecido social
A violência estrutural não se reduz e à cristalização de um trauma
distribuição inadequada dos recursos psicossocial: “Na medida em que o
disponíveis que impede a satisfação das
necessidades básicas da maioria; além disso,
ordenamento interiorizado das exigências
a violência estrutural exige o ordenamento sociais apropriadas requer a submissão das
da desigualdade opressiva por meio de uma pessoas a uma ordem repressiva que as
legislação que ampara os mecanismos de aliena e desumaniza, o processo de
distribuição social da riqueza e que produz socialização constitui um mecanismo de
uma forca coercitiva que obriga a maioria
respeitar tais mecanismos. [...]. Posto que a
violência institucional” (Martín-Baró,
ordem social produto e reflexo do domínio 1985/2004, p. 408, tradução nossa).

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Para Martín-Baró (1989), o trauma 9). Apresentamos a seguir outras análises
psicossocial está diretamente relacionado que contribuíram para os estudos,
ao processo de desumanização produzido indicando especificidades da realidade
pelas formas de exploração e acumulação, brasileira e de suas marcas ditatoriais.
que tem na guerra sua expressão mais
afrontosa. Por isso, ele não separa o trauma A persistência das marcas ditatoriais no
vivenciado pelo sujeito da realidade social Brasil
em que ele está inserido. Em sua definição
de trauma psicossocial, enfatiza “o caráter Os países da América Latina, para
essencialmente dialético da ferida causada além dos processos relativos à colonização
pela vivência prolongada de uma guerra e ao capitalismo dependente (Fernandes,
civil como a de El Salvador” (Martín-Baró, 2009), tiveram longos períodos de
1989, p. 101, tradução nossa). Nessa governos ditatoriais que culminaram em
perspectiva, a ferida é gerada pelas um número ainda incalculável de mortos e
condições de opressão impostas pelas desaparecidos. De 1964 a 1985, o Brasil
situações-limite provocadas pela guerra. O esteve submetido a uma ditadura militar
trauma psicossocial tem, portanto, dois que deixou marcas profundas na sociedade
aspectos a serem considerados: “a) a ferida brasileira. A legitimidade atribuída às
que afeta as pessoas foi produzida instituições estatais para matar, torturar e
socialmente; b) sua natureza se alimenta e fazer desaparecer é uma marca histórica
se mantém em relação ao indivíduo e à que diversos autores (Coimbra, 1995;
sociedade, por meio de diversas mediações Teles, 2005; Teles & Safatle, 2010)
institucionais, grupais e, inclusive, apontam como determinante para a
individuais, que têm óbvias e importantes compreensão da fragilidade da transição e
consequências na hora de determinar o que construção democrática (Oliveira, 2019).
deve ser feito para superar esses traumas” O processo de transição democrática
(Martín-Baró, 1989, p. 102, tradução no Brasil teve traços de acordos
nossa). orquestrados pela elite brasileira. Tratava-
Essa compreensão relacional e se daquilo que Florestan Fernandes (1982)
dialética do trauma psicossocial evidencia denominava de liberalização outorgada ou
os aspectos de desumanização que autorreforma do regime militar, que
caracterizam as práticas de violência conduziu o país de “volta à democracia”,
institucionalizada identificadas na análise sem disputa, sem luta, sem revolução, ou
dos dois estudos. Além disso, o seja, mantendo as coisas como estavam,
reconhecimento de que esses traumas são mas com uma aparente orientação
produzidos social e estruturalmente democrática. Nesse sentido, a transição à
contribuíram para que ambas as pesquisas democracia, com a “abertura política”, foi
tivessem um compromisso ético com a resultado de um “consenso nacional” que
reparação do tecido social, rompido e aspirava ao desmonte da ditadura sem
desgastado pela violência. qualquer tipo de rupturas ou conflitos
Com base nessas proposições, profundos no interior da própria burguesia
recorremos à construção da memória (Fernandes, 1982). Não fosse essa abertura
política como possibilidade de elaboração “lenta, gradual e segura”, a supremacia
do trauma psicossocial, por meio do militar estaria seriamente comprometida, já
compromisso em conhecer o passado de que, como aponta o autor, se abriria espaço
repressão e resistência, denunciar as para as classes populares lutarem pela
formas de violência social e ampliar o tomada do poder.
“diálogo, possibilitando a proposição de A “abertura política” foi amplamente
ações e estratégias de resistência em favor apoiada pela classe média e por aqueles
dos direitos humanos” (Ansara, 2014b, p. que defendiam o regime, o que permitiu

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espaços para a elaboração da Constituição ocorreram durante a ditadura militar
de 1988, mas que teve como mote uma (Ansara, 2012). Maria Rita Kehl (2010, p.
reconciliação extorquida. O processo de 126) aponta a tendência a repetições diante
anistia não acabou com as atrocidades dos de um trauma silenciado.
governos militares e propôs um
apaziguamento entre militares e opositores Não há reação mais nefasta diante de um
ao regime militar, operando como uma trauma social do que a política do silêncio e
do esquecimento, que empurra para fora dos
política de esquecimento, pois, além de limites da simbolização as piores passagens
garantir a impunidade dos envolvidos em da história de uma sociedade. Se o trauma,
crimes de tortura, desaparecimentos e por sua própria definição de real não
mortes, também gerou o silenciamento das simbolizado, produz efeitos sintomáticos de
vítimas e familiares por diversos anos. repetição, as tentativas de esquecer os
eventos traumáticos coletivos resultam em
Gagnebin (2010) aponta como a sintoma social. Quando uma sociedade não
anistia, desde a Grécia Antiga, era consegue elaborar os efeitos de um trauma e
apresentada como um processo de não opta por tentar apagar a memória do evento
lembrar para seguir, ou seja, um acordo de traumático, esse simulacro de recalque
reconciliação com o passado para seguir coletivo tende a produzir repetições sinistras.
em frente e restabelecer a paz cívica e a
vida comum. Trata-se de um processo de A literatura que aborda o trauma
apaziguamento, de pacificação da história, político e psicossocial gerados pelos
tal como aquele evidenciado por Galeano regimes ditatoriais tem enfatizado as
(1976/2010) em “As veias Abertas da violações sistemáticas dos direitos
América Latina”, em relação a todo o humanos nas últimas décadas na América
passado da colonização latino-americana. Latina e revelam que estas continuam a ser
A memória oficial é institucionalizada e o praticadas em contextos democráticos
passar do tempo lhe dá a aparência de (Lira, 1993). No caso brasileiro, como
verdade: aponta Ansara (2012), os legados da
ditadura militar ainda permanecem na
[...] a história oficial, com o peso que lhe sociedade, sobretudo porque a estrutura
confere o uso do poder e o sequestro ao qual policial continua igual à do período militar.
este submete o imaginário social, indica que As duas pesquisas realizadas em
fatos transcorreram, quem atuou, com que Heliópolis evidenciaram que a polícia
motivações e como devem ocorrer as coisas
no futuro, em virtude das justificativas
continua utilizando práticas violentas
apresentadas para o consumo popular. [...] contra a população e agindo com
Mais ainda, busca desvirtuar ou aniquilar preconceito contra negros e pobres,
esses interesses mediante dois processos considerados quase sempre como
inter-relacionados: o esquecimento e a “suspeitos”. O uso de torturas e
suspeita. (Gaborit, 2011, p. 259).
espancamentos por policiais, além do
abuso da autoridade policial com ameaças,
O Estado é capaz de produzir e
constrangimentos e agressões físicas, é
bloquear narrativas acerca de
recorrente, sobretudo nas periferias.
acontecimentos passados e presentes,
Diante de alguns corpos
pacificando-os com a omissão de seu
considerados desviantes (Caldeira, 2000),
aspecto conflituoso. O direito ao
exerce-se uma violência indiscriminada
esquecimento só é real diante da efetivação
que perpassa tempos coloniais, ditatoriais e
do direito à memória e à verdade. A
democráticos. O Estado e suas instituições
continuidade da violência e a violação dos
utilizam técnicas de controle e extermínio
direitos humanos são resultado das
contra aqueles que já são os que mais
políticas de esquecimento e da ineficácia
sofrem com as outras formas de exclusão:
do Estado em solucionar os atos de
“Principais vítimas da violência urbana,
violação aos direitos humanos que
alvos prediletos dos homicidas e dos

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excessos policiais, os jovens negros breve caracterização do território e dessas
lideram o ranking dos que vivem em pesquisas sobre as quais desenvolvemos
famílias consideradas pobres e dos que nossa análise.
recebem os salários mais baixos do Heliópolis está localizado no sudeste
mercado” (Bento & Beghin, 2005, p. 194). da cidade de São Paulo e é um território
O Atlas da Violência confirma a cuja história é marcada pela presença de
determinação racial nas mortes violentas. vulnerabilidades sociais e violação de
direitos, ao mesmo tempo em que é palco
No Atlas da Violência 2019, verificamos a de diversas conquistas e de experiências de
continuidade do processo de solidariedade. Segundo a Secretaria
aprofundamento da desigualdade racial nos
indicadores de violência letal no Brasil,
Municipal de Habitação de São Paulo, o
apontado em outras edições. Em 2017, bairro cresceu rapidamente, tornando-se
75,5% das vítimas de homicídios foram uma das maiores favelas da cidade (Sehab,
indivíduos negros (definidos aqui como a 2016).5 Ao mesmo tempo, desde a década
soma de indivíduos pretos ou pardos, de 1980, as lutas por melhores condições
segundo a classificação do IBGE, utilizada
também pelo SIM), sendo que a taxa de
de vida marcam a história de Heliópolis. A
homicídios por 100 mil negros foi de 43,1, população local vivenciou um processo
ao passo que a taxa de não negros (brancos, intenso de urbanização e participou do
amarelos e indígenas) foi de 16,0. Ou seja, desenvolvimento de uma trajetória
proporcionalmente respectivas exemplar de organização social, na qual a
populações, para cada individuo não negro
que sofreu homicídio em 2017,
mobilização promovida pelas organizações
aproximadamente, 2,7 negros foram mortos. comunitárias locais rendeu frutos e a
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada reinvindicação por projetos de intervenção
[IPEA] & Fórum Brasileiro de Segurança urbana, cultural e educacional foi
Pública [FBSP], 2019, p. 49). direcionada ao poder público (Oliveira,
2019).
A impunidade dos agentes do Estado As lutas e a articulação entre os
quando atuam sobre os corpos, violando-os movimentos sociais, Organizações não
de diversas maneiras – desde revistas, Governamentais e poder público têm
agressões, até assassinatos, extermínios e despertado o interesse de muitos
desaparecimentos –, é uma realidade pesquisadores em realizarem seus estudos
observada e comprovada nos dois estudos. no território em parceria com a União de
Os períodos ditatoriais caracterizam Núcleos e Associações dos Moradores de
tempos em que a violação dos corpos toma Heliópolis em Região (Unas), figura
outras formas que tornam a tortura um central para a realização dos dois estudos
meio legítimo de ação do Estado, mas tem aqui analisados.
caráter de exceção principalmente porque Embora os relatos acentuem a
neles todas as classes se tornam sujeitas à violência de Estado, tomamos o cuidado de
violência estatal. Os estudos que não estigmatizar o território ou ocultar o
apresentamos a seguir retratam uma que há de mais potente e inspirador em
continuidade na violência e nos abusos de Heliópolis: suas lutas em defesa dos
poder dos agentes de Estado pós-transição direitos humanos. Por isso, ressaltamos
democrática. que nesse território há várias ações de
resistência, uma intensa produção de
Marcas ditatoriais: memórias e cultura, um projeto exemplar de educação
narrativas periféricas
5
A Secretaria de Habitação produziu um estudo de
Nesta seção, trataremos de discorrer caso no ano de 2016, para aplicação de um
sobre as marcas ditatoriais identificadas projeto-piloto de desenvolvimento sustentável. As
nas memórias e narrativas reveladas nas autoras tiveram acesso ao documento físico
duas pesquisas. Para tanto, faremos uma durante o tempo de pesquisa.

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Besen, B. O., & Ansara, S. Violência estrutural e marcas ditatoriais: análise psicossocial a partir de narrativas
periféricas
democrática e uma organização, que é que fortalecessem a participação política
referência para todo o Brasil, em dos sujeitos envolvidos na pesquisa.
desenvolvimento comunitário, além de um A segunda pesquisa, A sua memória
Centro Educacional Unificado, cuja gestão agora é a minha memória: a construção
é referência em articulação comunitária em da memória política e o re-
toda a cidade de São Paulo. estabelecimento do reconhecimento
Neste artigo, tratamos de analisar recíproco (Oliveira, 2019), foi realizada no
parte dos aspectos comuns aos dois estudos período de 2016 a 2018, quando a
que descrevemos a seguir. Os recortes aqui pesquisadora ocupava um cargo
selecionados consideram narrativas e comissionado de coordenação no CEU
relatos das duas pesquisas que evidenciam Heliópolis gerido pela Prefeitura de São
experiências de violência do/no Estado. Paulo. A pesquisa-ação-participante foi
Na primeira pesquisa, Memória feita no projeto “Memórias e resistências: a
política e direitos humanos: resistência e ditadura na quebrada”, que envolvia uma
luta de grupos oprimidos contra a parceria entre a União dos Núcleos e
violência do Estado, realizada em 2014, Associações de Moradores de Heliópolis e
Ansara (2014a) estabeleceu uma relação Região (Unas), o Instituto de Psicologia da
entre memória política e direitos humanos, Universidade de São Paulo (USP), o
a partir das memórias e narrativas de mães coletivo “Margens Clínicas” e o CEU
de adolescentes em medida socioeducativa Heliópolis Profa. Arlete Persoli. Tal
e dos profissionais do Serviço de Proteção projeto envolveu a formação de oito jovens
Social a Adolescentes em Cumprimento de moradores do território no campo dos
Medida Socioeducativa de Liberdade direitos humanos, tendo como matriz
Assistida (LA) e de Prestação de Serviços central o resgate, compartilhamento e
à Comunidade (PSC). A pesquisa-ação- construção da memória política dos
participante baseou-se nos estudos prévios moradores, movimentos sociais e
acerca da memória política (Ansara, 2009, anistiados políticos da ditadura civil-
2012) e envolveu dois grupos focais6 com militar brasileira. Os jovens, que atuavam
12 pessoas, um com as mães dos jovens e como pesquisadores da memória local,
outro com os profissionais7 do serviço, nos recebiam uma remuneração mensal e
quais os participantes descreviam situações tinham encontros e atividades de pesquisa
de violação dos direitos humanos semanais. Além de realizar entrevistas,
vivenciadas por eles. Segundo Ansara eles apresentavam seus materiais e achados
(2014a), o estudo trouxe à luz as vivências de pesquisa em atividades como cine-
de violações e revelou a violência política debates e conversas públicas realizadas no
praticada pelo Estado, sobretudo em CEU Heliópolis.
regiões periféricas da cidade. Durante o Os registros da pesquisa-ação-
trabalho com esses grupos de mulheres e participante envolveram as concepções e
profissionais, buscou-se criar condições relatos dos jovens sobre violências, direitos
para que emergissem as denúncias e as humanos, conflitos, política, cotidiano,
resistências, abrindo espaço para lazer e amizades, mas aqui apresentamos
elaboração e formulação de ações futuras apenas algumas narrativas que retratam a
constância de abusos de poder e violência
6
Todos os sujeitos que participaram da pesquisa – dos agentes do Estado. Os primeiros
conforme informado nos procedimentos éticos do encontros entre os jovens e os
relatório de pesquisa de Ansara (2014a) – coordenadores do projeto foram feitos de
assinaram Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido e autorizaram o uso de suas falas
modo a apresentar o contexto da ditadura
exclusivamente para fins acadêmicos, mantendo o militar no Brasil a partir de filmes, livros e
sigilo de suas identidades. pesquisas on-line. Ao lerem e discutirem o
7
Todos os profissionais residiam em Heliópolis. material coletado, os jovens imediatamente

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Besen, B. O., & Ansara, S. Violência estrutural e marcas ditatoriais: análise psicossocial a partir de narrativas
periféricas
apontaram a semelhança com a violência acabou revelando que tinha drogas em seu
da polícia no presente. carro, os policiais tentaram implantar mais
Oliveira (2019, p. 70) apresenta o drogas – que traziam consigo – na cena
relato de Lucas,8 feito em um encontro em para levar o jovem e o técnico presos por
2016, no início do projeto. Ele descreve o tráfico. Por interferência da irmã e da mãe
espaço onde é realizado o baile funk do rapaz, a prisão injusta não aconteceu.
semanalmente em Heliópolis: “No wifi é o Maria, no terceiro encontro do
inferno, tem tropa de choque, bala de projeto, lançou a pergunta: “será que o
borracha. Primeira vez que fui nem único lugar que tem para a juventude é a
consegui dormir. Eles preferem chegar e Febem?”, e descreveu a história de um
dar tiro”. Ou seja, no espaço das ruas em primo que foi morto com mais de 30 tiros
que se vive o lazer semanal dos jovens da na porta de sua casa. Já Lucas, nos
comunidade, a ação recorrente é de encontros finais do projeto, acabou
violência extrema. revelando que seu melhor amigo foi
Luis, outro jovem pesquisador do assassinado pela polícia em um bairro
projeto, relatou no mesmo encontro a próximo. Descreveu que muitas famílias
abordagem policial que viveu com um vizinhas foram abandonando Heliópolis
amigo apenas por estar escutando funk nas conforme viam seus jovens sendo
ruas de Heliópolis: “Meu primeiro assassinados; outras ficavam, mas
enquadro, eu ainda não tava acostumado. deixavam de falar sobre o assunto;
Eu aprendi depois. Chutou as duas, quase esquecer parecia condição para seguir em
abri um espacate [ri]. Sim, Sr. Não, Sr. frente. Ainda naquele momento, o jovem
Tinha sangue nos olhos, disse que ia me afirmou não saber o que realmente havia
ensinar a posição certa” (Oliveira, 2019, p. acontecido com o amigo, pois a história
71). dada pela polícia e reproduzida em casa era
Tal relato revela que há um de que ele havia tentado roubar um carro
aprendizado envolvido na vivência de polícia e por isso havia sido morto.
cotidiana da violência; uma adaptação No estudo de Ansara (2014a),
necessária do jovem a essa realidade. As também emergiram uma série de relatos
narrativas que emergiram no início do sobre a manipulação das informações
projeto evidenciavam que essa adaptação acerca dos assassinatos cometidos pela
deveria vir da parte do jovem periférico, Política Militar. No diálogo do grupo focal,
pois não se apresentava dúvidas em relação uma das mães relata um assassinato
à coerência da ação policial. A brutalidade ocorrido no bairro:
não gerava mais surpresa ou espanto. Isso
se revelou, por exemplo, na risada de Luis M6: Essa história contaram errado. Disseram
ao descrever a cena da abordagem policial. que ele saiu com as mãos pra cima e o
policial atirou nele na porta do carro. O
Esse mesmo jovem, já nos primeiros carro tava parado. Ele abriu pra entrar, e tava
encontros, relatou um episódio em que foi ele e mais outro. Ele não fugiu. Ergueu a
abordado por policiais durante o trabalho mão.
de um técnico de telefones em sua casa. Na porta da Igreja mataram esse menino.
Ele, jovem negro, foi violentamente
S: Ele tinha respondido abordagem.
revistado na busca de alguma droga,
enquanto o técnico, de raça branca, foi M: E era um menino tão bom, mas andava
apenas interrogado. Quando o técnico com gente errada.
M: Mas ele não roubou o carro.
8
Conforme descrito por Oliveira (2019, 2020), a M6: O policial tava de campanha. Tava
pesquisa da qual extraímos as narrativas não esperando a pessoa que ia pegar o carro.
revela as identidades dos jovens, sendo utilizados
nomes fictícios e seguidos os procedimentos
éticos de pesquisa.

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Besen, B. O., & Ansara, S. Violência estrutural e marcas ditatoriais: análise psicossocial a partir de narrativas
periféricas
M4: Quase tudo, tendo muito assassinato de nossa sociedade, principal fonte do
no bairro. Ele ergueu a mão e o policial discriminatório recrutamento militar.
atirou nele. (Martín-Baró, 1984, p. 509, tradução nossa).
M6: Teve uma senhora que gravou, tirou
foto. A desagregação do tecido social se
M3: Isso mesmo, na internet essas
reflete nas diferenças existentes em relação
imagens. (Ansara, 2014a, p. 57). ao corpo e à privacidade daqueles que
moram nas periferias. A invasão e a
intencionalidade da ação policial são
Os relatos retratam a legitimação dos marcas constantes no cotidiano desses
assassinatos cometidos pela polícia (que se jovens e de suas famílias. Chama atenção a
constitui legalmente como homicídio por necessidade dos policiais militares de agir
auto de resistência),9 a qual se consolida e discursar de modo violento em todos os
também por meio das barreiras para o tipos de abordagens realizadas nas
acesso às informações. As narrativas de periferias urbanas. Os relatos reforçam que
vítimas e familiares são colocadas em um os pobres e negros são as vítimas
lugar de suspeita, diante da intenção de potenciais da violência.
esquecimento e apagamento dos crimes.
Tal mecanismo opera de modo semelhante [...] habitam predominantemente áreas de
nos crimes de Estado antes e depois de múltiplas carências sociais nas quais são
1985. elevados os conflitos que resultam com
As marcas ditatoriais persistem, muita frequência em desfechos fatais e
compreendem majoritariamente pessoas
principalmente, em relação à manutenção pertencentes aos grupos desprovidos de
da formação e comportamento da Polícia proteção e de direitos humanos, sobretudo
Militar, que viola os direitos individuais de dos direitos econômico-sociais; são objetos
milhares de moradores da periferia. As de múltiplas formas de discriminação –
ações violentas tomam outra proporção em social, religiosa, étnica, cultural etc. – o que
os torna alvo preferencial das agências de
diferentes espaços e corpos da cidade. Isso contenção dos crimes e da violência.
tem conexão direta com o que Martín-Baró (Adorno, 1994, p. 6).
(1984) apresenta em relação aos efeitos da
guerra e a quem são as principais vítimas: Não por acaso, como assinala
Adorno (1994, p. 6), vários estudos no
[...] A guerra não afeta, direta ou Brasil confirmam que os pobres pertencem
indiretamente, da mesma maneira os
diversos setores que compõem nossa às “classes criminalizáveis”, sobre as quais
sociedade. Aqueles que, dia após dia, “recaem as suspeitas dos crimes e os
morrem nas frentes de batalha pertencem, rigores do controle social e das agências
em sua maioria, aos setores mais humildes encarregadas de reprimir a violência”.
Mesmo os diálogos e ações do cotidiano
9
“Homicídio por auto de resistência” é a que não acabam em prisão, morte ou
classificação, nos registros policiais, dada às agressão, funcionam de modo a estabelecer
mortes de civis em confronto com as forças lugares de opressão. O uso ostensivo da
policiais. Essa categorização implica entender que força, da coerção e da intimidação tem
aquela morte teria ocorrido porque o sujeito morto relação com a estrutura e a formação da
teria entrado em confronto com os policiais e que,
assim, os policiais teriam agido em legítima Polícia Militar brasileira (Caldeira, 2000).
defesa. Trata-se, portanto, da classificação que é Os estudos destacam a entrada de
aplicada nos Registros de Ocorrência nas ideologias como a guerra ao crime e às
Delegacias da Polícia Judiciária, tendo por drogas, além da militarização como
informantes e testemunhas os próprios policiais agravadoras da violência ilegal.
que participaram do confronto (Relatório Final da
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) As consequências dessas ideologias
presidida por Lindbergh Farias sobre o foram muito bem analisadas por Martín-
Assassinato de Jovens em 2016). Baró (1988): a polarização social, a

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periféricas
institucionalização da mentira e a dividem entre “eles” e “nós” e entre os
generalização da violência. “A violência é, “bons” e “maus”. O mesmo se dá com
pois, uma modalidade de relação entre relação às distintas classes sociais. A
homens ou grupos de homens, na qual uma população pobre e periférica é
das partes nega à outra algum aspecto de caracterizada negativamente como “classe
sua realidade humana (de seus direitos perigosa”, violenta e suspeita. Outro
como ser humano), criando com isso uma diálogo retrata o tratamento nas delegacias.
situação de injustiça” (Martín-Baró
1968/2015, p. 418, tradução nossa). É [...] o caso do meu filho, eu não fui atendida
possível apontar que a violência policial na delegacia como um ser humano, como
uma pessoa honesta. Porque o meu filho
tem origem em sua estrutura institucional, errou eu sou tratada como ele foi tratado,
no entanto, incide de forma a desumanizar o que eles falam, seu filho bandido,
aqueles que são da mesma raça e classe, de bandido. Eu acho que isso não
esgarçando de maneira brutal o tecido coisa pra eles chegar e falar. Eu como mãe
social, do qual os mesmos policiais fazem eu não vou falar pro meu filho roubar, eu
ensino o que certo, o que direito, que
parte. com honestidade, trabalhando que a gente
No diálogo a seguir, entre mães que consegue as coisas da gente, tem que ter
participaram dos grupos focais, vemos paciência! [...] a gente chega na delegacia
como a violência extrapola os adolescentes e a gente tratada como lixo! [...] Do jeito
e atinge a família como um todo. que ela falou pra mim parece que foi, assim
que eu entendi, ? Não tem educação pra
falar com a gente, não respeita, fala cada
M4: Na minha casa aconteceu um caso. A coisa assim que fica, Nossa!. E a gente
gente não correu atrás porque a gente não tem que ficar calada, esperar a boa vontade
sabia o número da viatura. Eu, ele [filho] deles. Nossa! Eu fui perguntar pra, acho que
tava no portão de casa, a polícia chegou, era carcereira, uma senhora que tava , [...]
abordou ele e entrou dentro de casa. Tava o que que tinha acontecido, ela mandou eu
tudo revirado. A polícia revirou tudo. calar a boca porque ela não fala com
Também não achou nada. [...] mas eles [os família de ladrão. Como se eu fosse também
policiais] não tinham o direito de entrar na (M3) (Ansara, 2014a, p. 54, grifos nossos).
minha casa. [...]
M3: Pegam os meninos e jogam na parede. A população da periferia, os pobres e
“Senhora uma abordagem”. Ah, e
negros são estigmatizados e colocados no
abordagem assim? Chega chutando,
metendo o e jogando na parede? [...] Aqui lugar de “perigosos”, “bandidos” e
ninguém bandido! Ele [o filho] acorda 4 “inimigos”, o que acentua e justifica as
horas da porque trabalha na padaria. ações violentas e abusos de autoridade.
Ah, faça o favor! Vocês estão em lugar Segundo Martín-Baró (2003), o estereótipo
errado! (Ansara, 2014a, p. 58). do “inimigo” pode desempenhar um papel
significativo no desenvolvimento do
Percebe-se, no diálogo, a invasão, a conflito, na medida em que contribui para
violação dos espaços privados e a suspeita. justificar aquelas ações que, de outra
Do lugar de suspeita vem a necessidade, maneira, seriam consideradas ética e
daqueles que são ameaçados e invadidos, politicamente inaceitáveis.
de se defenderem utilizando significantes Os profissionais que atendem os
como “pai de família”, “trabalhador”, entre adolescentes denunciam as violações
outros, para se oporem ao “bandido”, que sofridas e as dificuldades que os jovens em
seria aquele que pode e deve ser violado. medidas socioeducativas enfrentam,
Isso coincide com o que Martín-Baró sobretudo em função do preconceito que
(2003) aponta como um dos efeitos existe por parte da sociedade, da escola e
psicossociais da violência; a polarização da polícia. O serviço, que tem como
social que se caracteriza como uma ruptura finalidade romper com a espiral da
e oposição entre grupos rivais que se violência e reintegrar o jovem na

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periféricas
participação em sociedade, acaba sendo desacreditado, o corpo (e a pessoa) em geral
prejudicado por outros atores estatais que não é protegido por um conjunto de direitos
que o circunscreveriam, no sentido de
estigmatizam os meninos e destroem estabelecer barreiras e limites à interferência
alguns de seus documentos. Essa violência ou abuso de outros. (Caldeira, 2000, p. 370).
tem aspecto também simbólico: os
documentos são uma das poucas E nesse apagamento de limites se
comprovações de pertencimento instaura uma ambiguidade notável em
institucional. Uma das técnicas diz: relação à visibilidade e à invisibilidade
desses jovens. Se, por um lado, suas
[...] O que os meninos relatam existências e seus corpos são marcados
constantemente é que eles são abordados
sempre de uma maneira muito constante,
pela invisibilidade diante de certas
não é uma coisa que acontece, uma vez por instituições estatais e de grupos das elites;
ano, uma vez por mês, é constante, por outro, a visibilidade em alguns espaços
praticamente diariamente. [...] Os meninos e instituições parece apenas garantir que
se queixam muito [...] A gente tem uma seus corpos possam ser violados. O que
carteirinha de frequência para conseguir
manter os meninos minimamente
seria melhor: passar continuamente
organizados, então eles (os policiais) rasgam despercebido ou ser continuamente
a carteirinha, tem relatos que rasgaram o percebido como ameaça e como corpo
RG, documento pessoal, rasgaram, violável?
quebraram o vale-transporte. [...] Ontem
fizeram ele engolir a carteirinha, mastigar e
engolir! (Melissa – profissional – nome Considerações finais
fictício) (Ansara, 2014a, p. 67).
Os estudos realizados em Heliópolis,
As ações policiais são marcadas por apoiados nas análises sobre violência
uma extrema brutalidade e uma constante apresentadas, nos revelam que nos
violação dos corpos. Caldeira (2000) territórios periféricos a violência e a
aponta como alguns corpos se tornam violação dos direitos são cotidianas e não
incircunscritos: corpos violáveis, para os cessam, mesmo em contextos
quais não existe o privado e nem a democráticos. As classes menos
proteção de direitos. As experiências de favorecidas e grupos minoritários
enquadro, revistas e a brutalidade dos continuam sujeitos à exclusão social, às
assassinatos (que envolvem dezenas de práticas autoritárias, bem como à
tiros) revelam o apagamento desse limite e insuficiência das políticas públicas e à
proteção ao corpo. própria negação de seus direitos sociais
(Santos & Chauí, 2013).
O corpo é concebido como um lócus de A memória de situações de violência
punição, justiça e exemplo no Brasil. Nos vivenciadas e narradas pelos jovens, mães
corpos dos dominados – crianças, mulheres, de adolescentes em medida socioeducativa
negros, pobres ou supostos criminosos –,
aqueles em posição de autoridade marcam
e técnicos expressam a permanência das
seu poder procurando, por meio da inflição marcas ditatoriais e denunciam a violação
da dor, purificar as almas de suas vítimas, aos direitos humanos praticada por agentes
corrigir seu caráter, melhorar seu do Estado. A narração e compartilhamento
comportamento e produzir submissão. [...] de tais memórias com o grupo se
Por um lado, o corpo incircunscrito não tem
barreiras claras de separação ou evitação, é
apresentou, para alguns dos jovens e mães,
um corpo permeável, aberto à intervenção, como um motor de engajamento nas ações
no qual as manipulações de outros não são de defesa dos direitos humanos e da
consideradas problemáticas. Por outro lado, promoção de cultura de paz já previamente
o corpo incircunscrito é desprotegido por articuladas no bairro.
direitos individuais e, na verdade, resulta
historicamente da sua ausência. No Brasil,
A perspectiva crítica de Ignacio
onde o sistema é publicamente Martín-Baró, que fundamentou esta

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la Psicología Comunitaria: la tensión Dissertação de mestrado, Universidade
de São Paulo, São Paulo.

Recebido em: 14/7/2020


Aprovado em: 12/5/2021

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Internacional.

Pesquisas e Práticas Psicossociais, 16(2), São João del-Rei, abril-junho de 2021. e-3909

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