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Os Primeiros Termoscópios
A versão da invenção do
termoscópio, por Galileu,
em 1592, pertence a
Viviani (1622-1703), outro
de seus discípulos e primeiro
biógrafo do grande mestre
italiano. Por outro lado, a
célebre descrição do
termoscópio dada por
Castelli (1578-1643) está contida numa carta que este
discípulo de Galileu escreveu a Cesarini em 1638 na qual
afirmava ter visto seu mestre usar o instrumento nas suas
aulas em 1603.
Segundo Castelli, "Galileu
tomou um vaso de vidro
aproximadamente do
tamanho de um ovo de
galinha e ajustou-o a um
tubo da largura de um
canudo com cerca de 18
polegadas de
comprimento; ele
aqueceu o bulbo de vidro
em suas mãos e inverteu o tubo mergulhando-o num
outro vaso com água. Tão logo o vaso resfriou-se a água
subiu no tubo até a altura de 9 polegadas acima do
nível do segundo vaso. Ele usou este instrumento para
investigar os graus de calor e frio”. Note-se que os
deslocamentos da coluna líquida eram causados, no
termoscópio de Galileu, não pela dilatação do líquido, mas pela
dilatação do ar contido na ampola de vidro.
Deste modo, o ar era a verdadeira substância indicadora da
temperatura, ou substância termométrica, como
denominamos atualmente, e a dilatação do ar servia como
propriedade indicadora da temperatura, ou propriedade
termométrica.
Esta contribuição conceitual era de grande importância, mas
Galileu não apenas não deu grande valor ao seu instrumento
como não parece, sobretudo, ter tido a clareza do salto genial
que havia dado ao usar tal instrumento para medir
temperaturas. Apesar disso, a genialidade de Galileu está em
ter interpretado, intencionalmente, as alturas da coluna líquida
como possíveis medidas das temperaturas que a elas pareciam
associadas. Assumiu Galileu, portanto, o pressuposto de que
a cada valor de temperatura corresponderia um e apenas um
comprimento da coluna de água.
Esta ideia brilhante não era de todo verdadeira, no caso do seu
instrumento, pois sendo o mesmo aberto, as variações da
pressão atmosférica faziam com que para uma mesma
temperatura fosse possível, em diferentes ocasiões,
observarem-se diferentes alturas da coluna líquida. Galileu não
parece ter-se dado conta deste detalhe, apontado
posteriormente por Robert Boyle após os trabalhos de
Torricelli, Pascal e Guericke sobre a pressão atmosférica. De
todo modo, esse seria um problema que viria a ser superado,
de formas variadas, ao longo dos desenvolvimentos posteriores
da termometria.
Mesmo desconhecendo a falha do seu instrumento, e
conseqüentemente sua possível solução, Galileu assumiu a
conjectura arrojada de que haveria uma e apenas uma
altura da coluna de água para cada valor de temperatura. Tal
conjectura, que hoje pode parecer simples à primeira vista,
corresponde, na verdade, a um enorme salto conceitual. Ela
equivale ao reconhecimento tácito de que a temperatura é um
tipo de propriedade da natureza diferente, por exemplo, do
comprimento.
Tomemos um exemplo para esclarecer a questão. Suponhamos
que temos dois bastões de madeira, um com dois metros de
comprimento e o outro com três. Se colocarmos um no
prolongamento do outro, poderemos formar um novo bastão de
cinco metros, ou seja, o novo comprimento será o resultado da
adição das extensões anteriores. O mesmo dá-se com a massa.
Se colocarmos cem gramas de água numa panela e em
seguida mais duzentos gramas, teremos no total trezentos
gramas de água na panela. Esse caráter aditivo faz com que
possamos medir os valores de tais grandezas por
comparação direta com um valor padrão daquela
mesma grandeza.
Podemos, deste modo, imaginar um comprimento de cinco
metros como resultado da adição de cinco comprimentos de
um metro, o mesmo raciocínio valendo para a massa. Isso
pode, atualmente, parecer-nos óbvio, pois estamos tão
acostumados com esses fatos, que a familiaridade faz com que
não reflitamos sobre eles. Tomamos como naturais idéias que
nos vêm apenas da tradição de pensar de um certo modo. Mas
será que todas as grandezas físicas podem ser medidas do
mesmo modo que massas e comprimentos, ou seja, por
comparação direta com um valor padrão? Em outras palavras,
será que todas as grandezas físicas, podem ter esse caráter
aditivo de seus valores, característico dos comprimentos, das
extensões?
Vejamos um outro exemplo. Se colocarmos um copo com água
a 10oC numa panela e logo após outro copo d'água, também a
10oC, será que teremos como resultado que a água da panela
atingirá os 20o? A experiência mostra-nos que não. Ou seja, a
temperatura não é uma grandeza do mesmo tipo que o
comprimento ou a massa. Ela não possui esse caráter aditivo
direto, característico das massas e dos comprimentos. Assim
sendo, as medições de temperatura não podem ser feitas por
comparações diretas, como no caso das extensões.
Daí a importância de enfatizarmos a interpretação da
temperatura como algo semelhante a uma intensidade de
calor, diferentemente da conceituação mais antiga de simples
graus de calor, que não fazia distinção entre calor e
temperatura. Tal conceituação, no entanto, como dissemos
anteriormente, viria a ser construída apenas nos tempos de
Black, mais de cento e cinqüenta anos após a invenção de
Galileu.
Ainda, no entanto, que esse caráter intensivo da
temperatura só tenha vindo a ser revelado explicitamente
por Black, ele já estava contido de forma implícita e
embrionária na intenção de Galileu de medir as temperaturas
de uma forma indireta, fazendo recurso ao tipo de associação
acima discutido: para cada valor de comprimento da coluna
líquida do termoscópio deveria existir, a princípio, um e
apenas um valor da temperatura.
PARA CITAR ESTA FONTE: Medeiros, Alexandre. Os
Primeiros Termoscópios. BLOG Física e
Astronomia_Alexandre Medeiros, BLOG.
http://alexandremedeirosfisicaastronomia.blogspot.com/
2011/10/alexandre-medeiros-phd-university-of_19.html.
Acessado em 19 de Outubro de 2011. (atualizar a data).