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Uma das definições de vida que tem sido muito empregada pelos cientistas é “um sistema químico

autorreplicativo que evolui como consequência da sua interação com o meio”.

Diferenças conceituais à parte, o fato é que todo ser vivo deve possuir algumas características. A
primeira é ser formado por uma ou mais células, que são a unidade basal da vida. Ele também tem
que manter a sua integridade física e química relativamente constante, com pouca variação, o que é
conhecido como princípio da homeostase.

Desde o nascimento até a morte, o ser vivo passa por etapas que podem ser bem distintas,
sobretudo em relação à sua forma externa. O seu desenvolvimento se dá com a absorção e
consequente excreção de matéria. Durante sua vida, todo ser vivo responde a estímulos que são
ocasionados pelo meio em que vive. Ele também tem a capacidade de se reproduzir, gerando outros
indivíduos com características muito semelhantes às suas, sendo possível (até mesmo provável) o
surgimento de mutações. Por último, o ser vivo tem capacidade de evoluir e de se adaptar.

Mas como surge um ser vivo? Durante mais de 2 mil anos, a explicação para essa pergunta se
baseou na chamada teoria da geração espontânea, que dizia que os seres vivos poderiam ser
gerados a partir de matéria não-viva. Baseado em observações, Aristóteles acreditava (sem poder
provar) na existência de um princípio ativo gerador da vida. Assim, organismos poderiam surgir a
partir de uma matéria inanimada, sendo importante que fosse orgânica e, de preferência, em
estágio de decomposição. O exemplo mais famoso das observações de Aristóteles são as larvas que
‘surgiram’ na carne apodrecida.

A geração espontânea foi posta em xeque pelo biólogo italiano Francesco Redi, que, em 1668,
colocou carne decomposta em três conjuntos de frascos distintos: abertos, fechados com gaze e
hermeticamente selados. Apesar de ter observado a formação de larvas nos dois primeiros
conjuntos, não houve a geração espontânea nos frascos hermeticamente fechados.

A pá de cal na teoria da geração espontânea só foi colocada em 1861, pelo microbiólogo francês
Louis Pasteur. Naquele tempo, já se sabia da existência de microrganismos, inclusive no ar. Então,
utilizando uma vidraria especial criada por ele e chamada de ‘pescoço de cisne’, Pasteur ferveu
soluções orgânicas, eliminando todos os microrganismos delas. Ao esfriarem, apenas aquelas que
tiveram contato com o ar desenvolveram novos microrganismos. Ficou provado que os organismos
vivos eram derivados de outros organismos e não podiam ser gerados espontaneamente.

Depois dos experimentos de Pasteur, não houve nenhuma proposta relevante para explicar a origem
da vida até 1924, quando o bioquímico soviético Alexander Oparin apresentou a ideia da ‘sopa
primordial’.

Oparin sugeriu que, após o surgimento do nosso planeta, há 4,57 bilhões de anos, a ação de
descargas elétricas, raios solares e o calor gerado por vulcões sobre a atmosfera primordial –
composta por vapor d’água (H2O), hidrogênio (H2), metano (CH4) e amônia (NH3) – deram origem a
compostos orgânicos simples (monômeros), que gradualmente se agruparam em alguns pontos do
oceano.

Como o passar do tempo, teria surgido uma ‘sopa orgânica’, onde esses compostos mais simples
puderam se agrupar e formar compostos orgânicos mais complexos (polímeros). Em seguida, alguns
desses compostos se juntaram e foram separados dos demais por uma membrana, formando
aglomerados de moléculas chamados coacervados, que terminaram por gerar as primeiras formas
de vida. O biólogo britânico John B. S. Haldane chegou a conclusões semelhantes; por isso, esse
conjunto de ideias ficou conhecido como hipótese Oparin-Haldane.
Em 1953, dois químicos americanos, Stanley L. Miller e Harold C. Urey, reproduziram em laboratório
a atmosfera primordial de Oparin-Heldane e, com descargas elétricas, conseguiram gerar
aminoácidos, que são moléculas orgânicas simples.

Apesar do experimento promissor, os cientistas não conseguiram dar o passo seguinte: gerar um
organismo vivo a partir do acúmulo de moléculas orgânicas. Qual seria então o mistério da origem
da vida? Na próxima coluna, serão apresentadas ideias formuladas pelos pesquisadores sobre as
etapas necessárias para o surgimento da primeira forma de vida.

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