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Quem teria surgido primeiro: os organismos autótrofos ou heterótrofos?

Atualmente, temos mais facilidade para aceitar a idéia de que os seres vivos se
originaram e evoluíram a partir de outros seres vivos. Essa visão fundamenta teoria
da biogênese. Mas, houve época em que a principal crença era a de que os seres
vivos nasciam espontaneamente de materiais orgânicos em decomposição ou de
materiais não-orgânicos. Essa visão totalmente oposta fundamenta a teoria da
abiogênese. O cientista francês Louis Pasteur derrubou definitivamente, a teoria da
geração espontânea, em seu clássico experimento com o pescoço de cisne. Ao lado de
Pasteur, um dos principais defensores da teoria biogenética foi Oparin, um eminente
biólogo e bioquímico russo.

Para imaginarmos como a vida surgiu em nosso Planeta precisamos recuar muito no
tempo. A idade da Terra é estimada em cerca de 4,5 bilhões de anos sendo que os
primeiros ensaios sobre a origem da vida teria começado a 3,5 bilhões, quando uma
crosta terrestre começou a se formar com o esfriamento do nosso Planeta.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Oparin http://pt.wikipedia.org/wiki/Pasteur
http://pt.wikipedia.org/wiki/Stanley_Miller

Em 1935, Oparin lançou a idéia de que as moléculas orgânicas dos seres vivos teriam
evoluído a partir de organizações moleculares mais simples e ele acreditava na
hipótese da evolução gradual dos sistema químicos (também conhecida como Teoria
heterotrófica). Segundo essa teoria, na atmosfera da Terra primitiva não havia
oxigênio (O2) e nitrogênio (N2), sendo o ar composto de gases como metano (CH4),
amônia (NH3), hidrogênio (H2) e vapores de água (H2O). Não havendo oxigênio, não
havia uma camada protetora de ozônio (O3) e, isso significava que além da luz
visível, a superfície do Planeta era bombardeada por raios ultra-violeta e a
temperatura, bastante elevada. Sob o efeito adicional de tempestades elétricas
constantes, as moléculas mais simples teriam sofrido reações químicas e alcançado
níveis de organização mais complexas produzindo uma "sopa nutritiva" repleta de
açucares simples, aminoácidos, ácidos graxos e nucleotídeos. Veja uma ilustração.

O oceano primitivo, era enfim, um grande balão de ensaio natural para realização de
várias combinações bioquímicas possíveis num longo e longo período de tempo: uns 2
bilhões de anos para que tivessem surgido as primeiras organizações de estruturas
coacervadas. Os coacervados não podem ser considerados organismos vivos.
Entretanto, a sua organização esférica era feita de proteínas e dupla camada de
lipídios que separava um meio interno de um meio externo, ou seja, lembrava uma
membrana citoplasmática. Essas estruturas artificiais foram denominadas de
"protobiontes" ou ainda, microsferas, protocélulas, micelas, lipossomos e
coacervados.
Finalmente, em algum momento, ainda num ambiente sem oxigênio, os primeiros
organismos teriam surgido na forma de seres unicelulares heterótrofos, nutrindo-se
de matéria orgânica simples e produzindo gás carbônico (CO2) e álcool (C2H5OH), ou
seja, os primeiros organismos vivos eram fermentadores. Nesse cenário primitivo
dominados pelos organismos fermentadores, a atmosfera foi ficando rica em CO2. Esse
ambiente teria favorecido um outro tipo de organismo: organismos utilizadores de
CO2 mais a energia radiante do sol para a produção das próprias moléculas
nutritivas: tinha chegado a vez dos seres unicelulares autótrofos, os primeiros
organismos fotossintetizantes. Esses organismos aproveitavam a energia luminosa do
sol e a partir de moléculas simples compostas de carbono e oxigênio (CO2)
sintetizaram moléculas mais complexas, com o consumo de energia química. Sobrava
como subproduto da fotossíntese, o gás oxigênio(O2). O surgimento de organismos
fotossintetizantes enriqueceu o teor de oxigênio da atmosfera terrestre. Esse novo
cenário favoreceu a seleção de organismos que, além da fermentação com a presença
de oxigênio, podiam também degradar moléculas orgânicas complexas até os resíduos
mais simples: CO2 e H2O. Em outras palavras, estava inaugurado o surgimento de
organismos eucariontes com suas usinas de energia altamente especializadas chamadas
mitocôndrias. Tinha finalmente, chegado a hora e a vez dos organismos heterótrofos,
com respiração aeróbia e produtores de CO2.

Evidências para o fortalecimento da teoria heterotrófica

Nos idos de 1950 os cientistas Harold Urey e Stanley Miller conseguiram produzir
artificialmente várias moléculas de aminoácidos a partir de um ambiente com uma
atmosfera primitiva cheio de gases desprendidos das erupções vulcânicas (vapores de
água (H2O), gás metano (CH4), gás carbônico (CO2), Hidrogênio (H2), amônia (NH3)
submetido a descargas elétricas e elevadas temperaturas.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Experi%C3%AAncia_de_Urey-Miller

Como teriam surgido os primeiros procariontes?

Mas será que algum organismo poderia sobreviver num ambiente tão empobrecido e tão
quente em relação ao que conhecemos hoje? Se pensarmos no ambiente mais hostil da
Terra contemporânea , seguramente encontraremos as bactérias! Elas possuem o design
corporal mais simples entre os seres vivos, reproduzem-se numa taxa incrivelmente
elevada e são os organismos mais antigos da Terra. As bactérias e as algas azuis
(ou cianobactérias) pertencem ao Reino Monera que reúne todos os organismos
procariontes. São organismos minúsculos que só podemos enxergá-los através do
microscópio óptico. A grande maioria é heterótrofa e se alimentam obtendo os
nutrientes diretamente do meio, por absorção. Há bactérias autótrofas que produzem
os seus próprios nutrientes por quimiossíntese ou por fotossíntese (fotossíntese
bacteriana). Essas bactérias fotossintéticas possuem um fotopigmento chamado
bacterioclorofila. Os outros seres fotossintetizantes, inclusive as cianobactérias,
possuem a clorofila a. As bactérias que usam a bacterioclorofila não produzem O2,
ao contrário da fotossíntese vegetal e das cianobactérias.

Resumindo, na Terra primitiva, tudo o que chamamos de vida antes da atmosfera ficar
abundante de O2 era povoado por bactérias heterótrofas e bactérias autótrofas
fotossintetizantes não-produtoras de O2. Finalmente, o grande salto evolutivo
aconteceu quando uma das bactérias fotossintetizantes passou a captar a luz visível
por meio de um fotopigmento, utilizar o CO2 como fonte de carbono e a H2O como
fonte de hidrogênio. Por essa condição favorável, a atmosfera terrestre, agora rica
em oxigênio possibilitou a diversificação dos organismos utilizadores de oxigênio
que hoje representa a grande maioria dos seres vivos desse planeta.

CIANOBACTÉRIAS

Essas bactérias sobrevivem a temperaturas altíssimas e, ainda hoje, são encontradas


vivendo em condições extremas como nas águas de fontes termais, cuja temperatura é
de aproximadamente 74ºC e lagos antárticos com temperatura próximas de 0ºC,
resistindo a alta salinidade e períodos de seca. Foram os primeiros produtores
primários do planeta, enchendo a atmosfera de O2. Essas bactérias verdadeiramente
fotossintetizantes (anteriormente conhecidas como algas azuis ou cianofíceas)
possuem características celulares típicas dos procariontes (bactérias sem membrana
nuclear), porém apresentam um sistema fotossintetizante semelhante ao das algas,
vegetais eucariontes. Além de propiciar o acúmulo O2 na atmosfera primitiva, foi
responsável pelo aparecimento da camada de ozônio (O3) que impede a penetração de
boa parte da radiação solar ultravioleta.

Como teriam surgido as primeiras células eucarióticas?

Antes, comparemos as células procarionte e eucarionte:

Célula procarionte

Célula eucarionte

Supõe-se que a origem das células eucariontes a partir de organismos ancestrais


procariontes anaeróbios, deva ter ocorrido, há cerca de 1,7 bilhões de anos. A
célula eucarionte unicelular (de protozoários como a ameba) ou pluricelulares (das
plantas e animais) fundamenta-se no desenvolvimento de dobras membranosas que
invaginaram formando compartimentos intracelulares com formas e funções
diferenciadas, além de possibilitar e proteção do material genético, pela
carioteca. Assim, as diversas organelas: os lisossomos, os retículos endoplamáticos
liso e rugoso, os peroxissomos, o complexo de Golgi, os plastos (reserva ou de
pigmentação) e as mitocôndrias, dinamizaram o metabolismo celular.
A teoria teoria endossimbiótica, com suporte nas relações mutualísticas propõe que
os primeiros eucariontes eram organismos anaeróbios heterotróficos que se
alimentavam de arqueobactérias fagocitadas. Quando algumas bactérias primitivas
passaram a converter substâncias inorgânicas em orgânicas, evoluindo para a
capacidade fotossintetizante e tornando-se autotróficos, outras tornaram-se
heterótrofas com capacidade aeróbia.

Teoria endossimbiótica para surgimento das mitocôndrias e dos cloroplastos.

www.prokariotae.tripod.com

As bactérias aeróbias e as bactérias fotossintéticas fagocitadas por eucariotos


simples, teriam mantido relações simbióticas harmoniosas (com benefício para ambas
as partes). As bactérias recebiam proteção e nutrientes, enquanto os eucariotos de
estrutura celular rudimentar passavam então a aproveitar o processo aeróbico e
fotossintético realizado por essas bactérias. Dessa forma, teriam surgido as
mitocôndrias e cloroplastos no interior das células eucariontes atuais.

A teoria endossimbiótica foi criada pela bióloga americana Lynn Margulis (1981) e
baseia-se em várias evidências:

• Tanto as mitocôndrias como os cloroplastos possuem DNA próprio e bastante


diferente do que existe no núcleo celular;

• As mitocôndrias utilizam um código genético diferente do da célula eucariótica


hospedeira e semelhante ao das bactérias e Arqueobactérias;

• Ambos estas organelas se encontram rodeados por duas ou mais membranas e a mais
interna tem diferenças na composição em relação às outras membranas da célula e
semelhanças com a dos procariontes;

• Ambas se formam por fissão binária, como é comum nas bactérias.

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