Este resumo descreve um documento que analisa um texto de Marc Bloch sobre a observação histórica e a importância dos vestígios e documentos para a pesquisa histórica. Bloch argumenta que os historiadores dependem de testemunhos e relatos de outras pessoas para compreender o passado, já que nunca podem observar diretamente os eventos estudados. Ele também discute a necessidade de arquivos acessíveis e o tratamento negligente dado a documentos históricos.
Este resumo descreve um documento que analisa um texto de Marc Bloch sobre a observação histórica e a importância dos vestígios e documentos para a pesquisa histórica. Bloch argumenta que os historiadores dependem de testemunhos e relatos de outras pessoas para compreender o passado, já que nunca podem observar diretamente os eventos estudados. Ele também discute a necessidade de arquivos acessíveis e o tratamento negligente dado a documentos históricos.
Este resumo descreve um documento que analisa um texto de Marc Bloch sobre a observação histórica e a importância dos vestígios e documentos para a pesquisa histórica. Bloch argumenta que os historiadores dependem de testemunhos e relatos de outras pessoas para compreender o passado, já que nunca podem observar diretamente os eventos estudados. Ele também discute a necessidade de arquivos acessíveis e o tratamento negligente dado a documentos históricos.
Graduação em História Disciplina: Introdução aos Estudos Históricos Professor: Elias Ferreira Veras
Elaborado por Rafael da Silva Oliveira. Novembro/2021
FICHAMENTO
Pg. BLOCH, Marc. “A observação histórica”. In: Apologia da História ou o Ofício do
Historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. 69/70 No início do parágrafo, Bloch afirma ser impossível, ao historiador, constatar os fatos de sua própria pesquisa e complementa ao dizer que apenas relatos de testemunhas poderia ser usado como fonte. Em seguida, há uma excelente analogia ao dizer que os historiadores estão “na situação do investigador que se esforça para reconstruir um crime ao qual não assistiu”. A história, diferentemente das áreas que abordam a atualidade, parte de um conhecimento indereto, no qual jamais poderemos experenciar. No entanto, é necessário ser cauteloso ao fazer tal afirmação. Citando um exemplo de um comandante do exército que escreve seu relato da vitória de uma batalha, o autor diz que o comandante conseguira observar boa parte do evento, todavia foi preciso buscar fontes alternativas de demais presentes para incluir momentos-chave. Bloch questiona, portanto, a “observação direta” do comandante na escrita de um relato presente. 70 Assim sendo, segundo Bloch: “[...] no imenso tecido de acontecimentos, gestos e palavras de que se compõem o destino de um grupo humano, o indivíduo percebe apenas um cantinho, estreitamente limitado por seus sentidos e sua faculdade de atenção; porque, além disso, ele nunca possui a consciência imediata senão de seus próprios estados mentais: todo conhecimento da humanidade, qualquer que seja, no tempo, seu ponto de aplicação, irá beber sempre nos testemunhos dos outros uma grande parte de sua substância. O investigador do presente não é, quanto a isso, melhor aquinhoado que o historiador do passado.”(p.70). 71/72 Em uma região onde hoje se encontra a Síria, arqueólogos descobriram esqueletos de crianças em jarros de cerâmica. A suposição mais coerente é de se tratar de restos mortais de sacrifícios humanos. Bloch assume que em casos de crenças e ritos religiosos, o único caminho para buscar informações é através de testemunhas ou comparando a culturas parecidas que habitavam a mesma localidade no espaço e tempo. Em contrapartida, nega quanto ao fato do sacrifício ser um conhecimento indireto. Considerar tal afirmação — que seja um conhecimento indireto — implicaria na negação da importância da interpretação a partir da percepção do historiador, que busca entre as possibilidades a real substância do objeto. Mais a frente é dito: “Os especialistas do método geralmente entenderam como conhecimento indireto aquele que não atinge o espírito do historiador senão pelo canal de espíritos humanos diferentes.”(p.72). Ou seja, a dependência de um intermediário, por meio de um documento (escrituras, pinturas, etc.) ou relatos pessoais. 73 “O conhecimento de todos os fatos humanos no passado, da maior parte deles no presente, deve ser, um conhecimento através de vestígios.”(p.73). A palavra “vestígio” é introduzida neste momento do texto para indicar a relação do mesmo com o objeto da pesquisa como um todo através do tempo. Um vestígio é a marca deixada pelos que nos antecederam, podendo ser qualquer expressão artística ou objeto que defina a bagagem cultural de um determinado povo ou civilização. 75/76 A nossa compreensão do passado está a todo momento em processo de transformação, mesmo que o passado, em si, seja o mesmo. Há todo momento descobre-se novas informações do já conhecido, mas também, civilizações e culturas nunca antes conhecidas pela contemporaneidade, como no exemplo citado por Bloch: “Imensos contingentes da humanidade saíram das brumas. O Egito e a Caldéia sacudiram suas mortalhas. As cidades da Ásia central revelaram suas línguas, que ninguém mais sabia falar, e suas religiões, há muito extintas. Uma civilização inteirinha ignorada acaba de se levantar do túmulo, nas margens do Indo.”(p.75). Apesar da persistência do pesquisador, “o passado é seu tirano”. Há campos das ciências do passado humano onde uma mísera fonte histórica é luxo. Mesmos depois de vários longos anos de pesquisa, surgem momentos onde o mais o honesto a fazer é confessar a própria ignorância. 78/79 Seria papel do historiador reunir documentos, depois averiguar a autenticidade e veracidade de seu conteúdo? De acordo com o autor: não. Não existe uma pesquisa histórica na qual o historiador não tenha em mente, desde o início, o que busca e seu objetivo com a mesma. “Nunca, em nenhuma ciência, a observação passiva gerou algo de fecundo. Supondo, aliás, que ela seja possível.”(p.79). O historiador deve fazer questionamentos ao documento procurando por respostas, mas nem sempre são feitas as melhores perguntas. É recorrente, ao pesquisador, fazer perguntas baseadas no senso comum, de maneira até imperceptível a si próprio, apresentando preconceitos culturalmente internalizados. Bloch recomenda ter um objetivo, um caminho a seguir durante a pesquisa. Possivelmente esse caminho não permanecerá o mesmo ao decorrer dela, porém, sem ele, implicaria num grande erro metodológico. 80/81 Cada situação pede uma análise metódica diferente das demais. Todo o campo da história é repleto de especificidades que diverge uma era histórica de outra, que estabele uma ruptura entre, por exemplo, Idade Antiga e Idade Medieval. Mesmo que falemos de momentos históricos dentro de uma mesma era, ainda sim, essas especificidades se farão presentes. A pesquisa não é apenas feita através de escrituras velhas, chatas, em idiomas antigos e caindo aos pedaços. É fundamental observar a história no todo, afinal, “que historiador das religiões se contentaria em compilar tratados de teologia e coletâneas de hinos? Ele sabe muito bem que as imagens pintadas ou esculpidas nas paredes dos santuários, a disposição e os mobiliários dos túmulos têm tanto a lhe dizer sobre as crenças e as sensibilidades mortas quanto muitos escritos.”(p.80). 81 É exigido do pesquisador uma sensibilidade investigativa que vá além do óbvio, do que parece ser. Pouquíssimas pessoas estão preparadas para extrair de um vestígio ou documento algo que corrobore um campo de pesquisa historiográfica. O conselho de Bloch é que o historiador deva conhecer, ao menos um pouco, todas a principais técnicas da profissão e saber escolher em qual momento utilizar uma ou outra. Todavia rejeita a multiplicidade de competências em um só homem, defendendo que pesquisadores de diversas áreas diferentes coperem entre si. 82 O historiador, que se propõe realizar uma pesquisa, é dependente de locais que armazenam arquivos e documentos. Sem isso, seu trabalho seria dificultado em níveis tão absurdos que seria melhor procurar uma agulha no palheiro. Bloch lamenta, então, o descaso no qual esse trabalho de armazenamento é submetido. Ele fala sobre o primeiro tomo das Fontes da História da França, de Émile Molinier, que desde sua primeira edição em 1901, jamais fora editado. E assim prossegue: “A ferramenta, decerto, não faz ciência. Mas uma sociedade que pretende respeitar as ciências não deveria se desinteressar de sua ferramentas.”(p.82) 83 “Os documentos não surgem, aqui ou ali, por efeito de, não se sabe, qual misterioso decreto dos deuses. Sua presença ou ausência em tais arquivos, em tal biblioteca, em tal solo deriva de causas humanas que não escapam de modo algum à análise, e os problemas que sua transmissão coloca, longe de terem apenas o alcance de exercícios técnicos, tocam eles mesmo no mais íntimo da vida do passado, pois o que se encontra assim posto em jogo é nada menos que a passagem da lembrança através das gerações.”(p.83). Bloch sugere que os autores da historiografia não apenas liste, no final do livro, todos os arquivos no qual baseia suas informações, mas sim, que dedique, ao menos, um capítulo específico para responder uma pergunta: “Como posso saber o que vou lhes dizer?”. De acordo com Bloch, isso acarretaria numa melhor experiência literária tanto ao leitor pesquisador, quanto ao leitor leigo. 85 Catástrofes naturais, revoluções e guerras são muitas vezes motores de grande perda de vasta documentação historiográfica. Contudo, elas também trazem consigo documentos que jamais seriam abertos ao público se não forçosamente. “São as revoluções que forçam as portas dos armários de ferro e obrigam os ministros à fuga, antes que tenham achado tempo para queimar suas notas secretas. Nos antigos arquivos judiciários, os fundos de falências têm disponíveis atualmente os papéis de empresas que, se lhes houvesse sido dada a oportunidade de levar a cabo uma existência frutífera e honroda, acabariam por destinar a destruição o conteúdo de suas papelarias. [...]. Mas é nos Arquivos Nacionais que os lemos hoje. Se a comunidade dos monges dionisianos tivesse sobrevivido à revolução, seria certo que nos permitiria vasculhar em seus cofres?”(p.85). Para Bloch, a negligência com que são tratados os documentos e a “paixão pelo sigilo” são as responsáveis pelo esquecimento e pela ignorância no saber histórico.
Fichamento Igor Amorim-BLOCH, Marc. "A Observação Histórica". in A Apologia Da História Ou o Ofício Do Historiador. Rio de Janeiro Zahar, 2001.cap. II PP 69-87
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